sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Exposição de Frida no instituto Tomie Ohtake peca por esconder comunismo da pintora

no Socialista Morena
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                            (Frida e a foice e o martelo pintados                            em seu colete ortopédico; esta foto                               NÃO integra a exposição em São Paulo
“Estou cada vez mais convencida de que o único caminho para chegar a ser um homem, isto é, um ser humano e não um animal, é ser comunista”
(Frida Kahlo)
Em termos estritamente artísticos, a exposição Frida Kahlo: Conexões entre Mulheres Surrealistas no México, em cartaz no instituto Tomie Ohtake em São Paulo, é irretocável. Alguns dos mais icônicos trabalhos da pintora mexicana estão lá, além de peças menos conhecidas, como as aquarelas. As mulheres surrealistas que a acompanham também estão representadas lindamente.
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(Diego em Meu Pensamento , 1943. Foto: Gerardo Suter/divulgação)
O único senão para a mostra é a tentativa de apagar ou minimizar a militância comunista que permeou toda a vida de Frida, sobretudo com a escolha do vídeoThe Life and Times of Frida Kahlo pela curadora Teresa Arcq para contar a biografia da pintora mexicana.
O documentário, dirigido pela norte-americana Amy Stechler para a TV PBS com patrocínio da Elma Chips (!!!), dilui o comunismo de Frida, afirmando que ela “só foi comunista ferrenha” nos seus últimos anos e que “confundiu comunismo com comunidade”. Para referendar a opinião, a diretora convoca o escritor Carlos Fuentes, ex-esquerdista que se tornou liberal, que diz que Frida “não era comunista, era panteísta”, sem ninguém que lhe sirva de contraponto.
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(O abraço do amor do Universo, a Terra, Diego e eu e o senhor Xólotl, 1949. Foto: divulgação)
Me parece um desrespeito à memória da pintora e à sua inteligência dizer que ela “confundiu comunismo com comunidade”, seja lá o que isso signifique. Ora, Frida Kahlo ingressou nas Juventudes Comunistas aos 17 anos e, aos 20, se filiou ao Partido Comunista Mexicano. Com Diego Rivera, deixou o Partido em 1929 em solidariedade ao marido, que havia sido expulso por divergências com os dirigentes locais. Em 1937, o casal receberia Natalia e Leon Trotsky em seu exílio mexicano. Em 1948, Frida volta a ser aceita pelo PC mexicano, seis anos antes de Diego. Em seu colete ortopédico, trazia pintado o símbolo da foice e do martelo no meio do peito, próximo ao coração.
Dias antes de morrer, já em estado grave, Frida insistiu em participar de uma manifestação contra o golpe de Estado organizado pela CIA que derrubou Jacobo Arbenz na Guatemala, acusado de comunismo por defender a realização da reforma agrária no país. Em seu funeral, o caixão de Frida Kahlo foi coberto pela bandeira comunista, causando a demissão do diretor do Palácio de Belas Artes por ter permitido que fosse desfraldada ali.
Muitos especialistas e fãs de Frida Kahlo vêm denunciando a transformação da artista por seus herdeiros em objeto de consumo, a metamorfose de uma comunista em um produto capitalista, a exploração de sua imagem para vender jóias, roupas, bonecas, tequila, tênis, cosméticos, aplicativos e jogos para celular e até – blasfêmia das blasfêmias –um cartão de banco com o rosto e a assinatura dela estampados.
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Tudo pelas mãos da sobrinha da pintora, Isolda Kahlo (1929-2007), que fundou aFrida Kahlo Corporation (oh, tragédia) com sede em Miami (onde mais?). Hoje obusiness Kahlo é controlado por Mara Romeo-Kahlo, sobrinha-neta de Frida, e um investidor venezuelano, Carlos Dorado, que detêm a maioria das ações. Entre os planos da empresa estão a construção de hotéis e spas com o nome da pintora, além de uma cerveja e um restaurante. “Se Frida visse o que estão fazendo com o nome dela, suas cinzas estariam se revolvendo na urna”, disse a historiadora de arte Teresa del Conde na época do lançamento da tequila. A crítica de arte Raquel Tibol ficou indignada. “É uma vergonha, uma total falta de respeito.”
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(Três Mulheres com Corvos, Leonora Carrington, 1951. Foto: divulgação)
Obviamente que o interesse em diminuir ou esconder que Frida era comunista é uma prioridade para os que manejam o negócio milionário da Fridamania. Esta omissão não poupa as pintoras surrealistas cujas obras integram a exposição no Tomie Ohtake. Algumas delas foram para o México justamente para fugir ao regime fascista de Franco na Espanha, como aconteceu, por exemplo, com Remedios Varo. A fotógrafa Kati Horna era anarquista; Leonora Carrington era feminista militante; Lucienne Bloch foi sindicalista e ativista dos direitos trabalhistas.

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(A Carruagem, Remedios Varo, 1955. Foto: divulgação)
O título da exposição fala em “conexões”, mas os estudantes que se acotovelam diante das obras de Frida Kahlo fazendo selfies vão sair de lá desconhecendo por completo algo que unia profundamente estas mulheres: eram mulheres de esquerda, engajadas politicamente. De fato, orna melhor com o mercantilismo com que os herdeiros tratam o legado de Frida deixá-los pensar que sua militância nunca existiu.
O QUÊ: exposição Frida Kahlo: Conexões entre Mulheres Surrealistas no México
ONDE: Instituto Tomie Ohtake (rua Coropés, 88 – Pinheiros)
QUANDO: até 10/01/2016. De terça a domingo, das 10h às 19h. Ingressos a R$10 e R$5 (meia)

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

É possível recuperar o poluído e quase morto Rio Grajaú?

por José Gilbert Arruda Martins

"Atualmente, os 500 maiores rios do planeta enfrentam problemas com a poluição, segundo dados da Comissão Mundial de Águas. Contudo, diversas cidades conseguiram transformar seus rios mortos em belos retratos de cartão-postal, como Paris e Londres, integrando-os à sua vida econômica e social."

Rio Grajaú, na época da cheia

Exemplos que podem inspirar as autoridades brasileiras e maranhenses, para que alcancemos os mesmos resultados.

Na década de 1980, criamos um projeto denominado "Verde", que arregimentou dezenas de pessoas, entre elas muitos estudantes. O projeto incluía palestras e conversas nas escolas com os jovens e professores, divulgação na rádio da cidade, conscientização dos moradores através de encontros mensais nas igrejas e escolas e, retirada do lixo e entulho do Rio Grajaú com a exposição do lixo em diversos pontos da cidade.

Na época, fazíamos essa campanha apenas durante as férias, não tinha um projeto de continuidade, isso inviabilizava em grande parte o sucesso da empreitada.

Mas, dentro de limitações de toda ordem, fizemos nossa parte.

Recuperar o Rio Grajaú é tarefa hercúlea, tanto no projeto em si, quanto nos valores financeiros que devem ser empregados, portanto, dificilmente, será despoluído e salvo, o rio que tanta vida forneceu a grande parte do povo do Maranhão.

O que, poderia ser feito de concreto hoje, seria um trabalho de conscientização da população, trabalhando a partir das escolas e Universidades, e, de forma paliativa, obras que pudessem evitar que os dejetos de esgotos continuassem a ser jogados no leito do rio. Para, mais tarde, quando for possível, implantar um grande projeto de recuperação e preservação.

Com autoridades que não enxergam a importância real do rio e com uma comunidade ignorante em relação às questões básicas de preservação, fica muito complicado, isso não acontece apenas em Grajaú, infelizmente, é um problema mundial.

"O crescimento desordenado das cidades, somado ao descaso do poder público e à falta de consciência da população, fazem com que boa parte dos rios urbanos do Brasil mais pareçam a extensão das lixeiras. A falta de tratamento de esgoto e o descarte de poluentes industriais são os grandes vilões para esse quadro."

São Paulo, uma das maiores e mais importantes metrópoles do mundo, destruiu o Rio Tietê e não consegue recuperá-lo.

Paris, recuperou o Rio Reno que atravessa a "cidade luz", para que desse certo o projeto, envolveu praticamente todos e todas franceses, num trabalho de conscientização jamais feito no país, além claro, do investimento de milhares de euros.

Vejam alguns rios importantes pelo mundo, que foram despoluídos e entregues à população, extraído do portal Outras Palavras: 

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Sena pode estar 100% despoluído em 2015 (Foto: Danielle Meira dos Reis)

1. Rio Sena, Paris (França)
"O Sena, em Paris, foi degradado por conta da poluição industrial, situação comum a outros rios europeus. Neste caso, porém houve um agravante: o recebimento de esgoto doméstico.
Por conta de seu estado lastimável, desde a década de 1920 o Sena é alvo de preocupações ambientais. Mas foi apenas em 1960 que os franceses passaram a investir na revitalização do local construindo estações de tratamento de esgoto. Hoje já existem 30 espécies de peixes no rio, mas o processo para que isso acontecesse foi lento.
No começo, havia apenas 11 estações em funcionamento. Em 2008 já eram duas mil, mas a meta é que em 2015 o rio já esteja 100% despoluído. Como parte do processo de tratamento de esgoto, o governo criou leis que multam fábricas e empresas que despejarem substâncias nas águas. Além disso, há um incentivo entre 100 e 150 euros por hectare para que agricultores que vivem às margens do rio não o poluam."
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Tâmisa era conhecido antes como o “Grande fedor” (Foto: Wikimedia Commons)
2. Rio Tâmisa, Londres (Reino Unido)
"O Tâmisa tem quase 350 km de extensão e um longo histórico de poluição. As águas deixaram de ser consideradas potáveis ainda em 1610, por conta da falta de saneamento básico da Inglaterra. Ocorriam até mesmo mortes por cólera. Em 1858, no entanto, reuniões parlamentares precisaram ser suspensas por conta do mau cheiro das águas, o que levou os governantes a resgatar a vida do rio apelidado como “Grande fedor”.
Na época foi colocado em prática uma alternativa sem êxito, já que o sistema que coletava o esgoto despejava os dejetos recolhidos no rio a certa distância abaixo da cidade. Apenas entre 1964 e 1984 novas ações de revitalização surtiram efeito. Foram criadas duas estações de tratamento de esgoto com investimentos de 200 milhões de libras. Quinze anos depois, um incinerador passou a dar destino aos sedimentos vindos do tratamento das águas, gerando energia para as duas estações. Fora isso, hoje dois barcos percorrem o Tâmisa de segunda a sexta e retiram 30 toneladas de lixo por dia."
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Os 5,8 km do rio que corta metrópole foram revitalizados em apenas quatro anos (Foto: longzijun)

4. Rio Cheonggyecheon, Seul (Coreia do Sul)
"Pode parecer mentira, mas os 5,8 km do rio que corta a grande metrópole de Seul foram totalmente revitalizados em apenas quatro anos. Hoje ele conta com cascatas, fontes, peixes e é ponto de encontro de crianças e jovens.

Seu renascimento começou em julho de 2003, quando o governo da cidade implodiu um enorme viaduto (com cerca de 620 mil toneladas de concreto) que ficava sobre o rio e começou, em paralelo, um grande projeto de nova política de transporte público e construiu diversos parques lineares, ampliando a quantidade de áreas verdes nas ruas para uma cidade sustentável. Todo o processo teve um investimento de 370 milhões de dólares.
Com as melhorias ambientais, a temperatura em Seul diminuiu 3,6°C, além de haver melhorias econômicas para a cidade. O rio sul-coreano era responsável pela drenagem das águas da metrópole com mais de 10 milhões de habitantes quando seu leito se tornou poluído. Hoje, as águas que correm por lá são bombeadas do Rio Han, outro que passou pelo processo de despoluição."
E o Rio Grajaú?

O que fazer?

Você já pensou nisso?

Com informações de:

http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/oito-cidades-mostram-que-e-possivel-despoluir-rios-urbanos/

INCLUSÃO - Indígenas enfrentam desafios para conquistar diploma de curso superior

na Rede Brasil Atual
Preconceito, barreira linguística e adaptação ao ambiente universitário são problemas frequentes, além das dificuldades financeiras
por Cibele Tenório, da EBC


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De acordo com o Inep, são 13.691 universitários indígenas em todo o país


Palmas – Teve festa na aldeia da etnia Gavião Parkatêjê no Pará quando Japupramti Parketge obteve nota suficiente para ingressar no curso de direito da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) em 2012.
A alegria de ter conseguido uma boa nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi substituída pelo medo ao chegar a Marabá (PA), onde fica o campus da universidade. “No começo foi muito difícil porque eu sempre estudei na escola da aldeia e foi como um choque. Eu nunca tinha morado na cidade. Eu ia todos os dias da aldeia para aula e percorria uma distância de 100 quilômetros. Não entendia muita coisa que os professores falavam. Pensei em desistir”.
O relato de Japupramti não é um caso isolado. O ingresso de indígenas no ensino superior é difícil e, mesmo aqueles que conseguem entrar na universidade, enfrentam desafios que tornam o caminho em busca do diploma bem tortuoso.
“Ainda existe muito preconceito entre os  colegas da turma e até mesmo por parte dos próprios professores que colocam os alunos indígenas na condição de menos capazes , como se eles não tivessem condições de estarem ali. Justamente no ambiente da universidade que deveria ser um lugar de criticismo, de reflexão, isso ainda acontece”, relata a pesquisadora Juliana Saneto, que faz doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre educação indígena.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em todo o país, são 13.691 universitários indígenas. Só na Amazônia, eles são 4.415. Esse número cresceu nos últimos anos devido à Lei 12.711, a Lei de Cotas, instituída pelo governo federal em 2012, e também às ações afirmativas de algumas universidades que, mesmo antes da lei, abriram vagas em seus cursos para os indígenas, como é o caso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que oferece vestibular específico e atrai indígenas de todo o país.
Porém, para os especialistas da área, a política de cotas é incipiente porque a questão vai além do ingresso. “Não existe uma política pública de educação indígena em âmbito nacional. Existe sim, essa discussão em torno de cotas, de ingresso diferenciado, mas isso ainda não acontece como deveria acontecer. Existe uma discussão junto ao Ministério da Educação para a criação de uma Universidade Indígena no país porém ainda está tudo no campo da discussão”.

Barreiras linguísticas

Além do preconceito, outro desafio enfrentado pelos indígenas é a  barreira linguística. “Não se pode ignorar a diversidade linguística do país. Para o indíviduo ingressar numa universidade ele tem que falar o português. Eles falam mas a maioria não tem um português para ler livros específicos, muitos técnicos”, explica Juliana Saneto.
A adaptação na universidade também passa pela dificuldade de viver no ambiente urbano. Para não desistir do curso, Japupramti se mudou para Marabá. “Eu aluguei uma quitinete perto da universidade e me vi tendo gastos que eu nunca tive. Na aldeia, a gente não paga luz, não paga água e eu tive que fazer uma contenção de gastos pra me manter.”
Atualmente, Japupramti conta com a ajuda da Bolsa Permanência, um auxílio financeiro dado pelo governo federal a estudantes matriculados em instituições federais de ensino superior em situação de vulnerabilidade socioeconômica e para estudantes indígenas e quilombolas. O auxílio é pago diretamente ao estudante de graduação por meio de um cartão de benefício. Mas, segundo o estudante, o valor que recebe de R$ 900 é insuficiente para as despesas. “Os livros no curso de direito são muito caros e o aluguel também”, conta.

A despeito dos desafios, Japupramti segue firme na universidade. Duas questões o motivam a seguir em frente. “Meu pai tinha um sonho de ver um dos filhos formados e eu vou dar esse orgulho para ele. Também quero me formar para ajudar a minha etnia porque eu vejo a dificuldade que nosso povo sofre hoje no Brasil. Nós temos o direito garantido na Constituição, mas esses direitos são violados. Eu quero auxiliar meus parentes, lutar pelo meu povo.”

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Texto Para Quem Ama o Rio Grajaú (E quer fazer alguma coisa)

por José Gilbert Arruda Martins

Ao longo da História, as grandes civilizações, procuraram os rios para se desenvolverem. Foi assim com a Mesopotâmia, com a China Antiga, com o Egito Antigo e, claro, com Grajaú, município que fica na região Centro Sul do Estado do Maranhão.



Rio Grajaú, próximo à cidade de Aratauí-Ma.

A água, fonte de vida, atraiu e atrai, além da beleza e diversão, povos, ricos e pobres em busca de suas dádivas para, infelizmente, o acúmulo desenfreado de riqueza mas também sobrevivência de milhares.


Na China Antiga, as águas dos Rios Yang - Tsé - Kiang e o Huang-Ho, também conhecido como Rio Amarelo, promoveu o desenvolvimento da agricultura e das grandes cidades nas regiões próximas.

No Egito Antigo, o grande e majestoso Rio Nilo, ajudou a criar gente, a manter pessoas com o trigo e outros diversos produtos, plantados ao longo de suas margens.

No Nordeste do Brasil, ao longo dos últimos 200 anos, dois séculos portanto, o outrora majestoso Rio Grajaú, também desempenhou seu papel, ajudou a manter alimentado milhares de pessoas, ricas e pobres, com plantios e água para consumo ao longo desse tempo todo.

Em minhas buscas na internet, encontrei na Wikipedia algumas boas informações, que fortalecem a ideia da presença marcante do Rio, para que fosse possível a criação da cidade. Vejam:


"Quando descoberta a navegação do Rio Grajaú e consequentemente, a ligação do sertão com a metrópole, várias sesmarias foram compradas e logo começou a povoação daquelas paragens, implantando-se fazendas para a pastagem dos rebanhos de gado e cavalo, atividade esta que se tornaria a principal fonte geradora de economia do Porto da Chapada, sendo que até hoje tem papel importante na economia, gerando empregos e movimentando recursos."

E o texto da Wikipedia segue:


"Era visível a importância daquele Porto no contexto sócio econômico no Sul do Maranhão, sendo que fora destinado para este porto fluvial, diante de sua privilegiada posição geográfica, o empório comercial dos nossos e de outros sertões."

O Grande Rio Grajaú é um dos mais importantes rios do Maranhão, nasce em São Pedro dos Crentes, Sudoeste do Estado, corre por cerca de 620 quilômetros, banhando e produzindo vida por onde passa.

A cidade de Grajaú, tem hoje, cerca de 67 mil habitantes, boa parte desse número de pessoas, é abastecido pelas águas do rio.


Não é fácil encontrar material sobre o Rio Grajaú; em minhas pesquisas para fazer esse texto, me deparei com um artigo de excelente qualidade, escrito pelo grande Alan Kardec Filho "Vareiros do Rio Grajaú", o citado artigo trás muitas e importantes informações, mostrando de forma clara e inequívoca a importância do Rio Grajaú para o surgimento e desenvolvimento da cidade homônima:

"(...)sinto que se deve prestar justa e merecida homenagem aos heroicos pioneiros da comunicação grajauense: o inesquecível e bravo vareiro. Nunca será tarde dizer-se alto e a bom som: o desenvolvimento do Porto da Chapada (fundado em 1811), deveu-se à navegação do seu rio. Através deste pôde Grajaú transformar-se no principal empório comercial da região centro-sul do estado. Houve época em que Caxias e Grajaú no Império foram as duas maiores cidades do interior maranhense"

A cidade deve tudo ao Rio, o povo deve tudo ao Rio, mas, o que tem sido feito, pela população para preservá-lo?

Lembro, dos meus idos tempos de criança, a pesca que fazíamos com garrafas, cada vez que mergulhávamos, voltávamos com a garrafa cheia de "piabas", o rio era cheio de vida; lembro que, ao final da tarde, sentávamos nas pedras às margens para apreciarmos a travessia de jacarés.

O artigo, em outro ponto, destaca novamente, a importância do velho Rio Grajaú:

"(...)Nesse sentido, é por meio da memória que se chega à história dos Vareiros que desciam e subiam o rio Grajaú no centro sul do Maranhão, com suas canoas cheias de mercadorias em direção ao norte, mais exatamente ao município de Vitória do Mearim, localizada na baixada maranhense, há oitocentos quilômetros de distancia de onde partiam. Os registros escritos desse périplo são ainda escassos se comparados à memória coletiva ainda existente. Daí porque o recurso da História oral torna-se fundamental na elaboração dessa história"

O trecho acima extraído do citado artigo, é outro fragmento fragmento que demonstra com clareza, que o Rio era completamente navegável.

Na cidade de Grajaú, existe uma rua onde nasci, denominada "São Paulo do Norte", segundo a história, foi um dos nomes do lugarejo, outrora chamado Porto da Chapada,São Paulo do Norte era uma alusão aos tempos que a cidade possuía um forte comércio, grande parte dele feito pelo rio.

O Rio Grajaú, nos seus 620 quilômetros de extensão, abençoa com suas águas, cerca de 10 municípios.

No município de Aratauí, outrora grande produtor de melancia, hoje, com a seca do Rio, tem que importar melancia de outros estados.

O Grajaú está morrendo. Junto com ele, milhares de pessoas sentirão na pele e na alma o que é ficar sem as águas desse importante rio.

Na década de 1980, quando era estudante universitário em Fortaleza CE, passava minhas férias lutando em favor do Rio Grajaú.

Ao longo de mais de 10 anos, com a ajuda e colaboração de dezenas de amigos e estudantes do município, fizemos grandes eventos em escolas e nas ruas da cidade, chamando a atenção da população para os problemas que o rio, já naquela época passava, muita gente viu, ouviu e não fez muita coisa.

Hoje, depois de mais de duas décadas da nossa tentativa em salvar o rio, presenciamos, infelizmente, o seu final.

Por que as autoridades - prefeitos, vereadores, bispo, padres, promotores, juízes, nunca fizeram nada?

Por que as direções das escolas, juntamente com seus professores e professoras e estudantes não fazem nada?

Por que o Ministério Público, nunca foi acionado para evitar a colocação de areia no "Canecão" que vem matando o rio há décadas?

Com o fim do Rio Grajaú, não perdem apenas as pessoas que se divertem nas suas águas, mas, principalmente, milhares de comunidades que vivem e se sustentam ao longo dos seus 620 quilômetros de extensão.

Veja o vídeo:






Fontes:

Artigo de Alan Kardec Filho "Vareiros do Rio Grajaú"

https://pt.wikipedia.org/wiki/Graja%C3%BA_(Maranh%C3%A3o)


Estrutura e prática do “coxismo” no Brasil*

no Cafezinho
coxinha

Por Rogerio Dultra dos Santos, no Democracia e Conjuntura
Este texto objetiva examinar o que é, como vive, como se reproduz e quais os antídotos para enfrentar o “coxismo” no Brasil. Após as manifestações contra o governo Dilma e contra a corrupção do PT, depois de que ameaças violentas transformaram-se em reações físicas contra militantes de partidos da coalizão governista e de movimentos sociais, o fenômeno tomou uma dimensão política e social sensível. A ponto de que, em seguida, lideranças políticas como o candidato derrotado à Presidência da República Aécio Neves resolveram aderir, estimulando, inclusive, o golpe, o impeachment, a criminalização de lideranças de esquerda e a judicialização seletiva de investigações sobre corrupção. Apesar de contar com objetivos bem determinados, a organização, as características gerais e a dimensão do coxismo têm desafiado os analistas.
Muitos, a partir de reflexões qualificadas que permitiriam a devida reação ou mesmo no afã das classificações tranquilizadoras, têm denominado os movimentos pró-golpe, pró-impeachment, pró-renúncia da Presidente (?), pró volta da Ditadura Militar (??) e pró intervenção das Forças Armadas (???) como fascismo.
Na tentativa de compreender as especificidades do fenômeno, é possível considerar “coxismo” uma denominação adequada ao movimento que tem encontrado amplificação significativa, porém artificial, através de financiamento internacional e de sua exposição reiterada na grande mídia. O coxismo, como se verá, está longe de ser um movimento social da envergadura dos fascismos ocidentais do século passado. Compreender as suas limitações é o primeiro passo para o seu combate.
O coxismo é, assim – numa primeira e obviamente parcial e precária tentativa de conceituação –, uma generalização da corrupleta “coxinha”, atribuída aos militantes ocasionais das várias cepas da direita brasileira, representadas nas ruas pelas classes médias. Estas, por sua vez, podem ser compreendidas como uma pequena-burguesia com necessidade de identificação social e econômica com os verdadeiros detentores do capital. Desejam, desesperadamente, uma distinção de status das classes médias emergentes que têm, inclusive e de forma paradoxal, demonstrado simpatia pelo coxismo.
Acabei de descobrir que o termo coxismo já foi utilizado numa paródia do wikipedia, a desciclopédia. O presente texto foi escrito sem tomar conhecimento do conteúdo deste “verbete” que, entretanto, pode ser acessado aqui.
Mas, voltando ao ponto, por que o coxismo não seria uma simples manifestação do fascismo? São claros os elementos que podem confundir os dois fenômenos e torna-se mesmo relevante, ao falar das discrepâncias estruturais entre fascismo e coxismo, identificar suas proximidades mais óbvias.
democracia_coxinha

O coxismo é anti-democrático e anti-popular

O coxismo, como o fascismo, é um movimento antes de tudo reacionário. Ele reage à modernidade política, isto é, ao processo de igualdade jurídica inaugurado pelas revoluções capitalistas. Portanto, o coxismo é, antes de tudo, antidemocrático.
Ele não reconhece a forma constitucional como mecanismo de organização da vida social e propugna pela liderança iluminada de um guia, na tentativa de restabelecer uma hierarquia social e eventualmente racial que subjugue as classes operárias.
O coxismo brasileiro nasce e se desenvolve, portanto,  contra o processo de igualização das condições sociais e contra o predomínio democrático dos representantes políticos das classes subalternas no poder.
Como o fascismo, o coxismo não reconhece o devido processo legal, e ignora a Constituição como orientadora das disputas políticas. Rechaça o processo eleitoral como instrumento de medição da vontade popular, da qual se arvora legítimo portador e intérprete.
Para ambos os movimentos, o parlamento representa o marco da corrupção e deveria até ser extinto.
Um primeiro elemento de diferenciação é que o coxismo deseja, no fundo, o retorno de uma hierarquia social que normalize a relação Casa Grande & Senzala. A sua vinculação com o capitalismo financeiro se otimiza, por exemplo, na radicalização da terceirização do trabalho, na eliminação dos direitos sociais e na consequente escravidão contemporânea para os trabalhadores. O fascismo caminharia, em tese, no sentido contrário, isto é, no de identificar nos trabalhadores o público alvo para cooptação e ampliação do movimento. Voltarei a este ponto a seguir.
De qualquer forma, a partir destes elementos políticos e sociais, é possível perceber – tanto no fascismo como no coxismo brasileiro – que ambos flertam com uma forma de resolução política estabelecida pela violência contra as classes populares e que se consuma na ditadura. O coxismo é, assim, além de antidemocrático, profundamente antipopular.
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O coxismo é um movimento pendular entre ignorância e má-fé

Outro elemento importante que permite confundir fascismo com coxismo é a forte presença da ignorância sobre fatos políticos, aliada ao fundamentalismo e à má consciência ou má-fé.
Tanto fascistas quanto coxinhas não conhecem as histórias de seus países, eram alienados políticos até a eclosão dos respectivos movimentos e passam a reproduzir preconceitos e palavras de ordem destituídas de fundamentação, acreditando piamente que o seu movimento purificará e libertará o país da podridão e da corrupção da “velha política”.
O mesmo não acontece com as lideranças que tentam se aproximar e cooptar o movimento. Estas têm o pragmatismo político e a consciência plena de que as reivindicações e desejos da multidão ignorante são pretextos convenientes para os seus intentos de domínio político.
Assim, a crítica ao comunismo, a ocultação da própria corrupção e a escolha de um bode expiatório na forma de um indivíduo, grupo partidário, religião, raça ou classe social são elementos que denunciam a má-fé daqueles que intentam conduzir o movimento.
Na eclosão do coxismo brasileiro, em especial nos eventos políticos ocorridos desde 2013, nomes de políticos(as) conhecidos(as) vêm à mente de imediato com esta descrição. Diferentemente do fascismo, entretanto, o coxismo não conseguiu identificar uma liderança que unifique as forças políticas descontentes. Este é outro ponto desenvolvido a seguir.

O coxismo se alimenta do caos político e econômico

Assim como o fascismo, o coxismo tenta transformar a ordem institucional existente no caos.
Nos dois casos, as normas jurídicas, os direitos individuais e o funcionamento das instituições atrapalham o desenvolvimento do movimento. O fascismo, tanto na Itália, quanto na Alemanha, levou seus países ao caos.
O coxismo brasileiro, ao não se importar com a operacionalidade da ordem econômica e financeira, com o funcionamento das indústrias e com a regularidade institucional, também parece apontar para a guerra civil e para o caos como horizonte de sentido de suas ações.
No caos, o oportunismo dos medíocres e dos homens de má-fé, também conhecidos como homens de bem, poderá emergir.
Um homem de bem – FHC, o avô dos coxinhas –, escreveu artigo no Estadão neste último feriadão, exortando a necessidade de reformar a legislação de partilha do pré-sal, por exemplo.
Oportunismo semelhante, fervorosamente desejado pelo coxismo, é o das multinacionais que, na mesma direção de FHC, estão interessadas em saquear as riquezas do país, especialmente o petróleo.
Entretanto, no caso do coxismo brasileiro, o caos não colabora para unir as oposições de direita. Alguns representantes do capital industrial produtivo, outros tantos representantes do capitalismo financeiro se ressentem do imobilismo que pode submergir a economia do país. Este elemento – a incapacidade de unificação dos interesses do capitalismo pelo movimento – distingue o fascismo do coxismo.
Como se vê, as semelhanças com o fascismo – que fazem do coxismo um fenômeno social relevante no país –, não são tantas e tão profundas. Embora o descrito até agora seja capaz de gerar preocupação, existem elementos que afastam o fenômeno de alcançar pujança suficiente para realmente ameaçar a ordem democrática. Senão, vejamos.
lobao-latuff

O coxismo é um movimento anti-carismático

Apesar dos oportunistas e homens de bem, como dito acima o coxismo se ressente da ausência de um líder. Na verdade, nos encontramos num período de disputa acerca de quem verdadeiramente representaria os anseios dos coxinhas, transformando-se em um líder carismático dos mesmos. Aécio Neves e Marina Silva não alcançaram o intento, apesar dos contínuos esforços de ambos.
A principal dificuldade neste quesito é que uma liderança carismática que represente os interesses do coxismo teria que, necessariamente, atuar como um demagogo. Esta aproximação com as práticas tidas como da “velha política” pelos coxinhas, poderia afastar a liderança carismática do núcleo “ideativo” do movimento.
Dificilmente um séquito sincero e não financiado seguiria cegamente alguém que representasse – ao menos no discurso – os anseios e necessidades de uma maioria da população, fortemente odiada pelo coxismo. Este paradoxo, que pode ser denominado de necessário “impopulismo” da liderança dos coxinhas impede, na prática, a sua ascensão. O líder coxinha deve ser necessariamente hipócrita e a hipocrisia não é capaz de galvanizar uma liderança.
Mesmo fortemente desejado e até ensaiado, um líder do coxismo dificilmente pode ser produzido. É um oximoro.

O coxismo não se orienta por um projeto de país

Embora o ódio dirigido às classes subalternas, ao operariado e aos movimentos sociais organizados em geral seja um fator de identidade entre fascismo e coxismo, este sentimento não é – no coxismo – dirigido a objetivos estratégicos.
Assim, os coxinhas, alimentados pelo ódio de classe e pelo ódio à política, não desenvolveram discursivamente uma compreensão específica sobre a nação e a nacionalidade, elementos de coesão social clássico nos movimentos fascistas.
O coxismo tem uma noção vaga e difusa de símbolos nacionais e de amor ao país, resquício da educação moral e cívica da ditadura civil-militar. Ufanismo vazio e requentado, que é expresso na frase “Brasil: ame-o ou deixe-o” ou na utilização de camisas verde-amarelas da CBF – Confederação Brasileira de Futebol (instituição envolvida em uma série de escândalos de corrupção).
Estes símbolos de um projeto nacional inexistente representam ausência de estratégia política e espontaneísmo. No máximo se agregam ao movimento explicações econômicas de caráter neo-liberal, que mais significam reações ao desenvolvimentismo do lulo-dilmo-petismo do que propriamente um projeto conscientemente assentado em suas fileiras.
Como conseqüência da ausência de um projeto político, o coxismo tupiniquim não se ajusta a um programa de expansão internacional das fronteiras, a se alcançar através da diplomacia ou da guerra, nem mesmo a um desejo de hegemonia imperial, como ocorreu com os fascismos mais variados.
O coxismo, ao contrário, sofre fortemente do “complexo de vira-latas”. Se há um projeto, este é o da subalternização dependente às potências econômicas estabelecidas – em especial, aos EUA –, como se o Brasil já não o fosse ou não tivesse condições de se tornar uma potência independente por si só.
kayser_honestidade

O coxismo não é capaz de produzir doutrina ou teoria

Embora se questione a originalidade das teses fascistas, não há dúvida que as mais capacitadas mentes ocidentais se esforçaram para constituir fundamentos doutrinários e teóricos para o fascismo. Gaetano Mosca, Mikhail Manoilesco, Giovani Gentille, Vilfredo Paretto dentre inúmeros intelectuais reconhecidos e estudados até hoje cerraram fileiras momentânea ou organicamente junto ao fascismo.
O fascismo alicerçou-se, conseqüentemente, num programa corporativista, numa filosofia da história e num projeto de civilização expressos de forma limitada, porém minimamente consistente – através de livros, discursos e projetos de Estado –, embora fossem (e sejam) ética, social e politicamente questionáveis.
O coxismo brasileiro não goza de intelectuais aptos a produzir uma teoria justificatória. Artistas, decadentes, colunistas e apresentadores de TV não foram capazes de desenvolver uma doutrina com alguma lógica que seja capaz, por exemplo, de dar conta do combate à corrupção e, ao mesmo tempo, da paradoxal adesão a Eduardo Cunha (“Somos milhares de Cunhas” diziam várias faixas nas manifestações).
O coxismo conta com apoiadores inconsistentes teoricamente, e em sua maioria financiados pela grande mídia. Ele se alimenta, portanto, da propaganda. Como o fascismo, pretende insistir monotonicamente em meias-verdades, mentiras e manipulações para angariar adesões. A mais expressiva delas é a criminalização seletiva: a corrupção é exclusiva do PT e, por exemplo, é a maior e nunca dantes vista.
Diferentemente do fascismo, entretanto, a propaganda do coxismo não é oficial. É oficiosa e não consegue penetrar de forma sistemática em todos os elementos da vida social, como escolas, fábricas e repartições públicas.
As concessões de rádio e TV, distribuídas de forma inconsequente pelos governos petistas, fazem um bom trabalho a favor do coxismo, mas contam com a resistência organizada e ainda renitente dos movimentos sociais e da intelectualidade que não foram cooptados pelo movimento coxista.

Racismo velado e impossibilidade social do desenvolvimento do coxismo no Brasil

O coxismo, como o fascismo, é profundamente xenófobo e racista. Mas, diferentemente, não pode fazer propaganda disto. Como as instituições jurídicas ainda estão operantes no país, os coxinhas não podem exercer o seu racismo de forma explícita e impunemente. O racismo e os preconceitos dele derivados contra a população LGBT, contra mulheres e estrangeiros não brancos precisam permanecer velados.
Talvez este seja o verdadeiro calcanhar de Aquiles do coxismo. A sua distinção em relação ao fascismo que atinge de morte o movimento e impede que ele se espalhe como um câncer social.
Diferentemente do fascismo, o coxismo não tem condições de se disseminar pela profunda ojeriza que têm das classes populares. Enquanto o fascismo se aproveitou de medidas de apoio às classes operárias para ampliar as suas bases, prometendo e, em geral, não cumprindo suas promessas, o coxismo brasileiro simplesmente não apresenta o menor pudor em externar o seu descontentamento com a ascensão social e de status das classes baixas.
Desta forma, uma última e importante distinção entre fascistas e coxinhas é que o fascismo assumiu uma dimensão política capaz de galvanizar massas hipnotizadas e garantir a tomada do poder político em alguns Estados nacionais. O movimento fascista, em suas várias formas, espalhou-se como uma onda na primeira metade do século XX, atingindo vários países da Europa. O coxismo brasileiro, como um arremedo mais ralo e tênue do fascismo, não tem encontrado condições de se desenvolver para além de uma militância financiada e de adesões eventuais de parcelas conservadoras das classes médias. Este agrupamento social difuso e desorganizado não conseguiu, até o momento, transformar o fanatismo e a violência em ação organizada e sistemática de massa.
Isto não elimina a necessidade de nos utilizarmos diligentemente das experiências das resistências aos fascismos pelo mundo para combater o coxismo tupiniquim.
O coxismo tem se mostrado cada vez mais violento e cada vez mais despudorado em sua violência. Os ataques eventuais e espontâneos a militantes de esquerda mais ou menos identificados transforma-se rapidamente em ataques coordenados e financiados contra lideranças sociais e representantes partidários.
Mesmo portando diferenças significativas com o fascismo, o coxismo padece do mesmo mal das manifestações de ódio e intolerância: a ausência de abertura para o diálogo.
E, como a luta contra o fascismo, a batalha contra o coxismo está longe de ser inútil ou infrutífera. E é uma batalha na qual se pode lutar com várias armas. Das mais toscas às mais sofisticadas.
No fundo, o coxismo expressa, antes de tudo, uma carência. Uma carência violenta e ignorante. Uma carência que nega a realidade e a reconstitui em sua imaginação coletiva segundo seus desejos compartilhados de igualdade singularista. Carente e ignorante, o coxismo precisa ser inundado de amor, educação e informação. Mas sem nunca descuidar da integridade dos nossos, porque a igualdade de condições é, para o diálogo acontecer, um elemento fundamental.
*O título deste post é plagiado respeitosamente do seminal livro Behemoth: estrutura e prática do nacional-socialismo(1942), do jurista e cientista político alemão Franz Neumann, integrante da Escola de Frankfurt e um dos mais aguerridos intelectuais na luta contra o nazismo no século XX.

Um texto para quem respeita o Direito no Brasil

no Cafezinho
Golpistas02

Algumas questões para quem respeita e quer ver respeitar o Direito no Brasil
Por Rogerio Dultra dos Santos, em seu blog.
Há muito parece que por aqui não existe mais a distinção entre o sentimento subjetivo de justiça e os parâmetros objetivos do processo judicial. Quem reclama da instituição “justiça” e de suas burocracias enviesadas é visto como alguém que não aceita que a sua concepção de verdade ou de certo/errado seja questionada. Examinar ou criticar decisões ou procedimentos do Poder Judiciário tem tomado usualmente a dimensão de um “chororô” de perdedores.
Há muito esta oposição entre a compreensão pessoal sobre o que é justo, por um lado, e o funcionamento institucional que sustenta as regras sociais de convivência, por outro, soçobrou ante os extremismos político no nosso quintal.
Assim, demandar o devido processo é hoje uma atitude considerada de desespero dos que se sentem injustiçados, e não uma necessidade básica que torna possível a convivência social das diferenças, ou uma garantia coletiva, racional e objetiva da liberdade, para ficar no âmbito da tradição do constitucionalismo liberal.
Nesse sentido, algumas perguntas sobre o que tem ocorrido nos últimos meses no país podem até parecer afirmações enviesadas ou convicções cegas, mas, pela sua simplicidade, trazem a possibilidade de se questionar as obviedades irrefletidas e as afirmações – estas sim, imperativas – a que somos submetidos diuturnamente.
Para além das simpatias ideológicas, olhar para como se realiza o direito pode ser um sinal de quão sadia ou enferma caminha a sociedade em que vivemos.
Seguem as perguntas sobre a relação óbvia e tradicional entre a política e o direito que, aglutinadas, podem revelar de que modo enxergamos o Estado de Direito que compreendemos possível.
É possível que juízes e promotores comentem processos sob sua jurisdição em público?
Juízes federais devem receber prêmios de empresários que são réus na Justiça Federal?
É lícito que o juiz da causa escreva um artigo em um jornal de grande circulação nacional afirmando que o processo sob sua responsabilidade trata do “maior esquema de corrupção do Brasil”, mesmo que não tenha sido proferida sentença?
São lícitos vazamentos seletivos de documentos pelo judiciário?
E partes de delações premiadas gravadas e divulgadas num jornal nacional?
O estatuto da magistratura está sendo respeitado quando isto acontece?
Juízes e procuradores devem combinar táticas de acusação em conjunto?
A confissão é a rainha das provas?
Bandidos que delatam devem figurar como a espinha dorsal probatória de um processo judicial?
É possível concordar com a abertura de inquéritos contra parlamentares com base apenas em delações premiadas, e com o arquivamento em relação a Aécio Neves, sendo que em relação a este a “prova” existente (testemunhal) era de mesma espécie?
Por outro lado, onde estão as provas da operação Zelotes?
Não está havendo diferença de tratamento?
FHC não recebeu dinheiro da Odebrecht?
Porque a acusação e o juiz Moro não aceitaram nas delações premiadas informações sobre contratos em outras esferas de governo, se as empresas que financiam o PT, o PMDB e o PP também financiaram outros partidos, como PSDB e PSB?
E qual seria mesmo o crime cometido por Lula?
Promover empresas no mercado global?
Ex-Presidentes dos EUA não fazem isso?
Estas questões, que podem ser vistas como partidárias, seriam consideradas talvez normais e preocupantes se se mudassem os personagens e o cenário. Talvez fossem entendidas como necessárias se o alvo não fosse o PT e o “maior escândalo de corrupção de todos os tempos” – como se a história não nos fornecesse, no próprio país, muito mais munição do que tem nos feito imaginar a nossa pobre imprensa. Ou se as “verdades” do processo não fossem a pauta quase exclusiva da mídia de massa, a martelar as nossas mentes de forma incessante.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

E quando o professor é Pelego? (ou Quem não luta por seus direitos não é digno deles)

por José Gilbert Arruda Martins

Uma das coisas mais tristes na carreira de professor e a convivência com colegas pelegos.
Mais o que é um "pelego"?

"... Pelego era o líder sindical de confiança do governo que garantia o atrelamento da entidade ao Estado. Décadas depois, o termo voltou à tona com a ditadura militar. "Pelego" passou a ser o dirigente sindical indicado pelos militares, sendo o representante máximo do chamado "sindicalismo marrom". A palavra que antigamente designava a pele ou o pano que amaciava o contato entre o cavaleiro e a sela virou sinônimo de traidor dos trabalhadores e aliado do governo e dos patrões."


É duro e deselegante chamar um colega - que deveria ser chamado de companheiro -, de traidor?

O que é mais deselegante?

Traidor ou pelego?

Pelego ou medroso?

Sinceramente, não sei, só sei que, todos os movimentos que saímos às ruas e fizemos greves juntos, fomos vitoriosos, quase sem exceção.

Portanto, a greve é um instrumento forte e eficaz.

Todo mundo sabe que uma greve pode atrapalhar.

Pode atrapalhar principalmente os estudantes.

Todo mundo sabe também que preparar e fazer uma greve é trabalhoso, penoso e envolve muita responsabilidade, nosso sindicato  - Sinpro - DF, tem uma história de lutas desde 1979.

O professor pelego, adora fazer críticas ao "seu" sindicato, alguns, enchem a boca, para dizer que não são sindicalizados, nunca se importaram com isso, que é sem sentido a sindicalização.

Não sabem, os tolos pelegos, que se o Distrito Federal tem um dos salários mais altos da Federação, deve a muita luta do Sindicato e de todas e todos que tiveram a honradez de parar e ir às ruas quando necessário.

Na maioria dos casos, a greve se fez necessária e, a médio ou longo prazo, ajudou a Educação Pública a melhorar a qualidade do ensino.

Nesse momento, centenas de companheiras e companheiros estão de greve, lutando por seus direitos e pela Educação Pública.

Ao mesmo tempo, dezenas de outros colegas, estão em sala de aula furando o movimento.

Se sairmos vitoriosos mais uma vez, quem será beneficiado?

Todos e todas, até os pelegos que não tiveram a coragem didática de lutar por seus próprios direitos e pelos direitos da categoria.

É ético?

É digno?