quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O professor aecista que fica feliz com desemprego e salário baixo…Assista

POR  no Tijolaço
desumano

O professor Samuel Pessoa, da Fundação Getulio Vargas, pode ter todos os méritos acadêmicos.

Tem  também o direito de ter atuado como um dos principais assessores econômicos de Aécio Neves, um dos “cabeças” aecistas.

Mas o professor Pessoa há de nos dar o direito de considerar monstruoso o que ele diz em um debate do Instituto Insper, baluarte do pensamento conservador.

Mas dizer que “está feliz” com a queda do nível de emprego e com a redução dos valores dos salários, num país pobre como o Brasil é algo completamente desumano.

Muito mais em alguém comprometido com o conhecimento, com a ciência que, quando não se importa com o sofrimento humano, torna-se abominável.

Reproduzo  ao fim do post  a cena deplorável  num trecho editado do vídeo, que pode ser conferido aqui, na íntegra, com mais de uma hora de duração.

Por sorte, o economista Luiz Gonzaga Beluzzo, presente ao debate, não deixou que isso passasse em branco.

Mas é deprimente ver o ponto a que o credo neoliberal, “mercadista”, é capaz de levar pessoas que têm toda a capacidade de compreender o que venham a ser humanidade ou, pelo menos, compaixão com os que sofrem.

Modestamente, lembro ao professor que Economia é uma ciência humana e, portanto, não um fenômeno natural, previamente determinado.

É bom que todos, porém, vejam o que a adoração do bezerro de ouro do mercado é capaz de fazer até com uma mente preparada e com todas as condições de não se tornar cínica.

O pior é que o Professor Pessoa tem consciência do mal.

E fica feliz com ele.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Amostra Grátis para Quem Defende Intervenção Militar

por José Gilbert Arruda Martins

O indivíduo que vai para as ruas ou para as redes sociais, com discurso de ódio defender um monte de tolices e arbitrariedades, entre elas, a intervenção militar, ou age com irrefreável irresponsabilidade, é tolo mesmo, ou ignorante da história recente do seu próprio País.


O irresponsável age por que não tem nenhuma ligação com os problemas reais do Povo e do País como um todo. É denominado direita coxinha sem ideologia, "um Maria vai com as outras", não passa disso.

O tolo, o dicionário me ajuda: "Desprovido de inteligência.
Que tende a ser ingênuo; simplório.
Ausência de nexo; falta de significação: discurso tolo.
Que não possui razão de ser; falso: argumentos tolos.
Diz-se daquilo que não é agradável; que tende a ser ridículo: uma obrigação tola."

E, o ignorante da História, que não são poucos, esse sim atrapalha bastante.

Em meio a esses, temos até os ditos "sabichões", estão em sala de aula, muitos são médicos (alguns chamam de doutores, sem o rapaz ou a moça ter feito doutorado) e em muitos outros ofícios.

Os ignorantes da História, não se enquadram nos irresponsáveis, nem nos tolos, apesar de podermos chamá-los também assim.

Os ignorantes são desconhecedores mesmo do que aconteceu no Brasil quando, infelizmente, experimentamos por mais de 20 anos um regime de exceção.

Num regime de exceção, por exemplo, aquele acampamento golpista da esplanada já não estaria mais ali, talvez, nem os seus participantes estivessem vivos.

A linha dura da ditadura não perdoava ninguém, todos e todas eram inimigos do Regime, até, muitos tolos, "sabichões", irresponsáveis e ignorantes da história, colaboradores ou não, golpistas ou não, e tolos ou não, tiveram suas vidas transformadas pelo sistema.

É claro que o regime não perdoava mesmo eram os trabalhadores e trabalhadoras, não perdoava os gays, os negros, e, muito menos aqueles que discordassem ideologicamente.

Centenas de pessoas foram presas ilegalmente, torturadas e mortas.

Famílias, ainda hoje, buscam por seus entes queridos.

Brasileiros e brasileiras que não aceitaram viver um regime autoritário e que foram para a luta em favor da Democracia.

Centenas de companheiros e companheiras, entregaram suas vidas na luta e na conquista do retorno ao regime democrático, que até os tolos, aproveitam hoje em dia.

Se um irresponsável, tolo ou ignorante da História recente do Brasil, pode ir às ruas pedir intervenção militar ou impeachment, é por que tiveram lá nos anos de chumbo, pessoas de carne e osso que lutaram para que o país voltasse a respirar um regime democrático onde todos e todas possam falar, reclamar, até os coxinhas.






MPE ataca a democracia e processa jovens que doaram R$20,00 na última eleição

na Carta Maior

Em uma cruzada inédita, Ministério Público Eleitoral processa militantes que contribuíram com valores como R$20 e R$50 para seus candidatos em 2014

Najla Passos
Wilson Dias / Agência Brasil e perfis pessoais dos candidatos
Morador de Nova Iguaçu, membro de uma típica família da chamada “nova classe média”, Luiz Alberto Santos, 20 anos, é um daqueles jovens que acredita que só a ampla participação popular poderá mudar o quadro político atual e garantir um país mais democrático e mais justo para todos. Militante do PSOL desde 2012, decidiu contribuir para a candidatura de Tarcísio Motta, candidato ao governo do Rio pela legenda nas últimas eleições, com uma doação de R$ 25.

Agora, responde a um processo movido pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), que o acusa de ter desrespeitado a legislação que impede o cidadão brasileiro de doar mais de 10% dos seus rendimentos a candidatos ou partidos políticos. Ciente da doação do jovem ao partido, o MPE pediu à Justiça a quebra do seu sigilo fiscal e descobriu que, em 2013, Luiz Alberto não apresentou declaração de Imposto de Renda à Receita Federal e nem sequer possuía conta bancária. Erroneamente, concluiu que ele não tinha renda compatível com a modesta doação de R$ 25.

De fato, em 2013, Luiz Alberto ainda cursava o ensino médio e não trabalhava. Mas em 2014, no ano em que fez a doação, já havia conquistado seu primeiro emprego como assistente administrativo em uma operadora de telefonia celular e quis contribuir com o projeto político que julgou mais adequado. A notificação sobre a ação foi entregue a sua mãe, que não entendeu bem os termos jurídicos empolados e achou que o filho já estava condenado a pagar R$ 50 mil à Justiça. Os desgastes familiares foram inevitáveis.

“Para quem sofre todos os dias para convencer a família de vale a pena fazer política, um fato desses gera um desgaste imenso. Se a pessoa não tiver muita convicção de projeto político que defende, desiste na hora de voltar se envolver”, desabafa Luiz Alberto, que teve que se virar para conseguir assessoria jurídica gratuita. “Na própria notificação já dizia que eu teria que apresentar minha defesa por meio de advogado. Ora, quem doa R$ 25 não tem necessariamente condições de arcar com um custo desses”, reclama.

Problema semelhante ocorreu com o advogado carioca Lucas Mourão, 26 anos, que doou R$ 40 para a campanha do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) e R$ 20 para a de Tarcísio no ano passado. “Em 2013 eu ainda era estagiário e ganhava cerca de R$ 1 mil por mês e, portanto, estava isento do imposto de renda. O MPE, porém, fez o seguinte cálculo: se eu era isento, então não recebia absolutamente nada. É um raciocínio estúpido e um erro jurídico crasso”, afirma.

Antes de ser notificado pela Justiça, Mourão também teve seu sigilo fiscal quebrado. Apresentou uma defesa robusta, à qual anexou seus extratos bancários comprovando a renda compatível com a doação. Também argumentou que a jurisprudência sobre o tema atesta que pessoas isentas do pagamento de IR podem doar até 10% do limite do teto de isenção que, em 2013, era de R$ 20,7 mil.

Mesmo assim, o MPE devolveu o processo à Justiça ratificando o pedido de condenação.  Se o órgão conseguir convencer o juiz da sua tese, Mourão terá que pagar multa de 5 a 10 vezes o valor da doação. Ele, porém, não acredita que o processo prospere. “Os argumentos são tão frágeis que, se não for derrubada agora, a ação não sobreviverá ao julgamento pela instância superior”, afirma.

Jovens, pobres e de esquerda

O advogado, agora, vem reunindo relatos de outros doadores que também estão sendo processados e, em vários casos, assumindo suas defesas. Segundo ele, já são cerca de cem registros com perfil bastante semelhante:  jovens isentos do pagamento do imposto de renda que doaram quantias ínfimas a pequenos partidos de esquerda, em sua maior parte no Rio de Janeiro. “Eu diria que 95% dos processados doaram para o PSOL, entre filiados e não filiados, mas também há registro de ações contra pessoas que doaram para o PSTU e até mesmo o de uma que doou para o PT”, relata.

Presidente nacional do PSOL, Luiz Araújo atesta que nas eleições anteriores nunca ocorreu fato semelhante com os apoiadores do partido. E acrescenta que, mesmo que o número de doadores processados não seja grande, é uma ação que preocupa porque se insere na tendência de criminalização dos pequenos partidos mais ideológicos. “É todo o rigor da lei sendo usado contra um estilo diferente de fazer política, que dispensa as contribuições das grandes empresas e sustenta suas campanhas com as pequenas doações de amigos, vizinhos e colegas de trabalho. É a criminalização das candidaturas que optam por não fazer como os poderosos”, afirma.

O dirigente observa que a maior parte das ações está concentrada no Rio de Janeiro, onde de fato está ocorrendo uma perseguição aos doadores do partido, mas destaca também a ocorrência de casos mais isolados em outros estados. “Nós temos orientado nosso diretórios regionais a prestarem toda a assistência aos doadores que estão sendo processados”, afirmou. No Piauí, por exemplo, o diretório se responsabilizou pela defesa dos dois doadores processados.

A reportagem de Carta Maior também apurou ocorrências semelhantes em São Paulo, Paraná, Bahia, Espírito Santo, Pernambuco e no Distrito Federal,

Criminalização do trabalho voluntário

Dentre os casos mais graves de militantes processados, estão os dos que prestaram trabalhos voluntários para os partidos e podem ser condenados a pagarem multas pesadíssimas à Justiça. É o caso do contador Joilson Santos, do DF, filiado ao PSOL, que assinou a prestação de contas de 48 candidatos pelo partido. O MPE considerou que cada prestação tem o valor referência de um salário mínimo, o que fez com que a doação da força de trabalho do militante ultrapassasse a sua capacidade de renda.

Joilson foi notificado da ação no último sábado e, nesta sexta, já apresentará sua defesa, construída pela assessoria jurídica do PSOL. Se condenado, Joilson terá que arcar uma multa de quase R$ 300 mil. “É um valor que eu não tenho como pagar. Esse tipo de ação da justiça desestimula muito a militância. Fiquei muito chateado porque a gente vê tanta corrupção no país, candidatos se elegendo com propina de empresas, e o MPE investe contra os militantes comuns que fazem doações pequenas ou trabalho voluntários para os partidos em que acreditam por ideologia”, afirma.

Lucas Mourão conta que, no Rio de janeiro, o MPE também está acuando os trabalhadores voluntários. Segundo ele, um dos casos mais emblemáticos é o de um compositor que fez um jingle de campanha e o doou para o PSOL. O MPE estimou o valor do jingle em R$ 1 mil, o que era incompatível com a renda do músico.  “Há também uma advogada que trabalhou como voluntária na assessoria jurídica do partido. Agora, o MPE estimou a doação do trabalho dela em R$ 40 mil e, como isso não é compatível com seus rendimentos, ela corre o risco de ter que pagar até dez vezes esse valor em multa”, relata.

Na contramão da conjuntura

Para Mourão, a maior preocupação é que a nova diretriz do MPE intimide as pessoas comuns que desejam contribuir com os pequenos partidos ideológicos de esquerda.  “Minha maior preocupação é que isso afete o ativismo político das pessoas que não são advogados, não são militantes, não sabem qual é o funcionamento da Justiça e ficam completamente acuadas quando se vêm frente a uma investigação do MPE por conta de terem doado R$ 10, R$ 15 para uma campanha política”, destaca.

Segundo ele, a simples existência do processo provoca grandes transtornos eleitorais profundos. “Imagina um jovem da periferia que nunca se envolveu com política, mas se encanta com determinada campanha, decide participar, doa R$ 10 para ajudar um partido que não aceita doações de empresas privadas e, depois, esse sujeito tem que contratar um advogado e, se não tiver dinheiro para isso, enfrentar a fila da defensoria pública”

Visão semelhante tem o estudante carioca Rodrigo Aragão Dantas, 27 anos, que também está sendo processado por contribuir com R$ 50 para a campanha do candidato à deputado federal pelo PSOL Babá, que não conseguiu se eleger. Como seu único rendimento é a bolsa da Capes que recebe para cursar o doutorado, também é isento de declarar imposto de renda. E, por isso, caiu na mira do MPE.

“É preocupante sim, porque é uma forma de intimidar o doador, principalmente o peixe pequeno, o jovem sem renda e sem experiência com essas coisas. A pessoa fica desestimulada e isso é muito preocupante porque essas pequenos doações de pessoas físicas  são a principal fonte de arrecadação que esses partidos mais ideológicos tem na época eleitoral, já que o fundo partidário é pouco e eles não aceitam doações de empresas”

Por problemas em relação ao seu endereço, só recebeu no mês passado a notificação do processo aberto em julho. “Eu fui aprovado no concurso público para professor do Estado do Rio e, caso eu não fosse localizado e o processo corresse à revelia, eu poderia ter complicações para assumir o cargo”, ressalta.

Segundo ele, esta é uma orientação nova do MPE. “Em 2012, quando eu recebia a bolsa do mestrado, doei para a campanha do Marcelo Freixo, candidato do PSOL à Prefeitura do Rio, e não tive nenhum problema”, recorda-se.

MPE: ordens superiores


Em resposta aos questionamentos da reportagem, o Assessoria de Comunicação do Ministério Público Eleitoral do Rio de Janeiro não informou quantos jovens sem renda declarada que fizeram pequenas doações em 2014 estão sendo processados pelo estado. Mas esclareceu que a listagem com os doadores em situação irregular foi elaborada pela Receita Federal, a partir do cruzamento das informações disponibilizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e encaminhada ao órgão pelo procurador regional eleitoral, Paulo Roberto Berenger, com “expressa recomendação aos promotores eleitorais para oferecimento de representações”.


No ofício encaminhado ao órgão, o procurador regional ressaltou “o trabalho árduo do Ministério Público Federal para obtenção das supracitadas informações” e solicitou “empenho dos promotores eleitorais no ajuizamento das representações”, afim de reprimir as “indevidas doações aos candidatos e partidos. No documento, Berenger informou também que recebeu as informações sobre pessoas físicas e jurídicas que efetuaram doações para a campanha de 2014 acima dos limites permitidos pela Lei 9.504/97 da Vice-Procuradoria Geral Eleitoral.

'A Igreja deve dar um basta aos preconceitos contra os gays'

na Carta Maior

A declaração foi do cardeal brasileiro Cláudio Hummes, que é um caro amigo e o primeiro aliado do Papa Francisco.

Carlo Tecce - il Fatto Quotidiano (tradução do IHU)
wikimedia commons
Últimos instantes do Conclave, 13 de março de 2013. Ao lado do argentino Jorge Mario Bergoglio, estava o brasileiro Cláudio Hummes: “Não tinha preparado nada. A frase “não se esqueça dos pobres” ao novo Papa me veio espontaneamente. O efeito provocado, obviamente não o esperava. Alguns minutos depois, Bergoglio comunicava que o seu novo nome seria Francisco, recordando São Francisco de Assis, o homem dos pobres, da paz, do cuidado, da criação. Creio que toda a assembleia ficou surpresa e feliz por esta escolha, que depois se demonstrou um farol do pontificado”, responde do Brasil o ex-prefeito da Congregação para o Clero, que em menos de dois meses estará em Roma para o Jubileu. Hummes é um caro amigo e o primeiro aliado de Bergoglio. O brasileiro foi arcebispo de São Paulo, o argentino de Buenos Aires: os cardeais sul-americanos mais admirados no Vaticano. Ambos papáveis em 2005. No segundo Conclave, Bergoglio foi eleito.

A entrevista é de Carlo Tecce, publicada por il Fatto Quotidiano, 18-10-2015. A tradução é de IHU On-Line.

Eis a entrevista.

A fumaça branca está longe. Agora acontece o Sínodo sobre a Família e Bergoglio se confronta com os conservadores. Além da carta, há os protestos. Há alguns que querem obstaculizar Francisco?

A Igreja é uma comunhão, não uma massa uniforme. Mais. Ela se constitui uma unidade na diversidade.  Certamente, a diversidade não pode resultar numa divisão. Isto seria destrutivo. Mas uma adequada diversidade enriquece a Igreja. Podemos compará-la com uma estrada sinodal. Trata-se de caminhar juntos, para o futuro, com todas as nossas legítimas diferenças, mas sempre na unidade de fé, esperança e amor, para o Pai nos céus, por meio de Jesus Cristo. A diferença de visões e de experiências, no momento do debate sinodal, ajuda a aprofundar as coisas. Mas no fim deve prevalecer a comunhão presidida  pelo Papa, que é o Pastor de toda a Igreja. Todos somos corresponsáveis pela Igreja, mas o Papa é o que foi querido por Jesus como aquele que guia.

Voltará a estação dos corvos como nos últimos meses de Ratzinger?

Não acredito. Para mim, aquele clima em que aconteceu o Vatileaks, não existe mais. O caso desta carta não significa um retorno daquele clima.

Outra notícia recente: para o padre gay Charamsa, a Igreja é homofóbica.

Sem entrar no caso citado, não diria que a Igreja é homofóbica. Quando o papa Francisco, no caso do homossexual que busca a Deus, disse “quem sou eu para julgar?”, deu um sinal: a Igreja deve vencer uma atitude preconceituosa neste tema e, sobretudo, deve respeitar estas pessoas.

O que a Igreja pode fazer para acolher os divorciados recasados e os casais homossexuais e por que muitos recusam qualquer abertura?

Não se trará de negar a indissolubilidade do vínculo matrimonial, mas de buscar um caminho penitencial para os divorciados recasados. Digo: buscar.

Existe uma tal possibilidade?

É o que a Igreja, no momento, está procurando. Se existe, não se deve refutá-la. Além disso, a Igreja propõe que os casais divorciados apelem ao tribunal eclesiástico para verificar se o casamento foi válido ou não.

Quais são os desafios para o pontificado de Bergoglio?

Para o pontífice, a relação entre ambiente e desenvolvimento é um ponto fundamental. Este é, seguramente, um dos desafios mais difíceis não somente para a Igreja, mas para a humanidade. A questão não se reduz a um argumento ecologista, mas se apresenta como uma tarefa social, que diz respeito sobretudo à transformação do atual sistema econômico-produtivo-financeiro global. Trata-se de colocar a pessoa humana no centro, e não o dinheiro e o lucro a qualquer custo, inclusive de vidas humanas. O atual sistema devasta o planeta e sacrifica milhões de pessoas.

Outro desafio do Papa é reformar a Igreja no sentido de transformá-la numa Igreja missionária, “em saída”, que demole os muros e constrói pontes para andar ao encontro de todos, mas prioritariamente “nas periferias” humanas e sociais e ali anuncia Jesus Cristo e pratica a misericórdia. A misericórdia fará a diferença numa sociedade egoísta, individualista, fascinada pelo dinheiro.

Uma misericórdia baseada na justiça social, que defende e promove os direitos de todos aos bens materiais, culturais e espirituais da humanidade. O Papa tem falado dos três ‘t” (terra, teto e trabalho): são direitos dos pobres.

O Papa convocou um Jubileu extraordinário. O próximo será em dez anos. Bergoglio ficará até o fim do pontificado ou também poderá renunciar?

Espero e rezo a Deus para que o nosso amado Papa tenha um longo pontificado. Todo o resto são especulações. Em geral, considero que a renúncia de um Papa sempre é possível. Mas não vejo o Papa preocupado com o seu futuro.

Em defesa do povo brasileiro

na Carta Maior

A organização do Estado Brasileiro apresenta um caráter esquizofrênico, com a dissociação entre aparência e realidade.

Fábio Konder Comparato*
Agência Brasil
A situação de nítida morbidez em que se encontra atualmente o nosso país deve ser analisada segundo os parâmetros estabelecidos por Hipócrates para o tratamento de todas as doenças. Não podemos, com efeito, cuidar simplesmente dos sintomas, sem antes procurar eliminar suas causas, ou seja, a fonte primária da moléstia.

Empregamos todo tempo a palavra crise para caracterizar o lamentável estado de nossa política e de nossa economia no presente. Ora, justamente, no tratado Dos Ares, das Águas e dos Lugares, o Pai da Medicina denominou krisis, palavra que na língua helênica significa julgamento, o momento preciso em que é possível discernir a doença e desvendar a sorte do doente. É nesse momento que o olhar crítico do médico observa uma mudança súbita no estado do paciente, para o bem ou para o mal; o instante em que se declaram nitidamente os sintomas da moléstia, permitindo o diagnóstico e o prognóstico.

Lamento dizer que, em minha modesta opinião, a crise atual, que não afeta aliás apenas o Brasil, mas o mundo inteiro, aponta, infelizmente para a probabilidade cada vez mais forte de um desfecho sombrio.

Examinemos, pois, antes de mais nada, segundo a lição de Hipócrates, a verdadeira causa da moléstia.

A Oligarquia Brasileira

Uma esquizofrenia política 

A nenhum observador atento escapa o fato de que a organização do Estado Brasileiro apresenta um caráter nitidamente esquizofrênico, com a dissociação permanente entre aparência e realidade.

A Constituição Federal em vigor abre-se com a declaração solene de que “a República Federativa do Brasil [...] constitui-se em Estado Democrático de Direito”. Na crua realidade política, porém, nenhum dos três princípios fundamentais aí enunciados vigora na prática.

A Constituição Federal de 1988 declara que constitui objetivo fundamental do Estado Brasileiro “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, com a promoção do bem de todos, sem discriminação de qualquer espécie (art. 3º). Acontece que a realização desse objetivo esbarra no espírito de individualismo privatista, que desde sempre representou um obstáculo insuperável à realização do bem comum do povo brasileiro; ou seja, aquilo que na Roma clássica denominava-se justamente res publica. Não me canso de relembrar a advertência formulada por Frei Vicente do Salvador, em sua obra clássica, editada em 1627: “Nem um homem nesta terra é repúblico, nem zela e trata do bem comum, senão do bem particular”.

Nosso país não é tampouco uma Democracia autêntica, porque o povo brasileiro nunca dispôs de poder, não se podendo olvidar que a etimologia grega do vocábulo é exatamente a de poder popular (demos, povo; kratos, poder).

Desde 1934, vimos declarando, em todas as Constituições, que “todo poder emana do povo” (Constituição Federal de 1988, art. 1º, parágrafo único). Mas a única prerrogativa política efetiva do nosso conjunto de cidadãos é de eleger representantes no Executivo e no Legislativo; sendo que tais eleições (ou escolhas) são feitas, como ninguém ignora, sob forte influência do poder econômico privado e dos políticos profissionais.

Em seu art. 14, a mesma Constituição declara, como formas de exercício da soberania do povo, o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. Mas no art. 49, inciso XV, ela mesma estabelece que “é da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar referendo e convocar plebiscito”. Ou seja, nessa curiosa forma de mandato político, o povo mandante só tem o direito de se manifestar diretamente, quando seus mandatários lhe derem permissão para tanto... Quanto à iniciativa popular – só admitida em matéria legislativa, não de emendas constitucionais – ela se tornou impraticável, em razão da exigência absurdamente criada pela Câmara dos Deputados de conferência de todas as assinaturas do 1% do eleitorado, estabelecido na Constituição (um milhão e meio de eleitores atualmente!).

Ainda no campo da Democracia, o Brasil é um dos países em que a Constituição e suas emendas – ápice do ordenamento jurídico – são votadas unicamente pelo órgão legislativo, sem a menor participação do povo.

Finalmente, em matéria de Estado de Direito, ou seja, de controle institucional de poderes em todos os níveis, continuamos deixando muito a desejar. Basta dizer, a esse respeito, que os Ministros do Supremo Tribunal Federal, no exercício de suas elevadas funções, não estão praticamente sujeitos a controle algum, podendo impunemente deixar de cumprir, não só a Constituição (da qual aquela Corte é declarada guardiã precípua pelo seu art. 102) e as leis, como até mesmo as próprias normas do Regimento Interno da Corte, por eles aprovadas. O Supremo Tribunal Federal é o único órgão do Judiciário não sujeito ao controle do Conselho Nacional de Justiça.

Causa da moléstia esquizofrênica

Em toda organização política, os principais fatores estruturantes sempre foram a relação de poder e a mentalidade coletiva, isto é, o conjunto de valores e costumes enraizados no seio do povo. Durante milênios, até o dealbar da idade moderna, ambos esses fatores foram estritamente moldados pela fé religiosa. Com o advento, porém, da sociedade massas, no final do século XIX, iniciou-se uma fase verdadeiramente revolucionária, na qual a mentalidade coletiva passou a ser formada pelo sistema de poder político, de caráter não religioso na maior parte do mundo. 

Ao se consolidar mundialmente a civilização capitalista em fins do século passado, a relação íntima entre esses dois fatores estruturantes da organização política foi radicalmente alterada. Desde então, foi o poder político que passou a plasmar a mentalidade coletiva, utilizando-se, para tanto, do controle dos meios de comunicação de massa, exercido atualmente, na quase totalidade dos países do globo, por oligopólios empresariais.

 Pois bem, entre nós, desde os primórdios da colonização portuguesa, o poder político efetivo – diferentemente do poder oficial – tem sido exercido, sem descontinuar, por dois grupos associados: os potentados econômicos privados e os grandes agentes estatais. Nossa oligarquia sempre teve, assim, um caráter binário: quem manda, em última instância, não é apenas a burguesia empresarial, como pretendeu a análise marxista, nem tampouco tão-só o estamento burocrático estatal, como sustentaram os seguidores de Max Weber, a exemplo de Raymundo Faoro. O poder supremo pertence a ambos. É esta a principal causa da corrupção endêmica que vigora no Brasil no plano estatal.

Essa oligarquia binária não é, na verdade, uma originalidade brasileira, mas sim um traço essencial do sistema capitalista. Como salientou Fernand Braudel, que lecionou na Universidade de São Paulo logo após a sua fundação, o capitalismo só triunfa quando se une ao Estado, quando é o Estado.

No curso de nossa História, tivemos uma sucessão de potentados econômicos privados, aliados aos agentes do Estado; a começar pelos senhores de engenho no século XVI, passando pelos traficantes de escravos, os grandes fazendeiros, os industriais, até chegar aos atuais controladores das grandes instituições financeiras.

Verificamos, por aí, como o nosso país sempre acompanhou a evolução do sistema capitalista. Surgimos na História, graças à expansão mundial do capitalismo mercantil europeu, na passagem do século XV ao século XVI. Entramos tardiamente na fase do capitalismo industrial, após a Grande Depressão de 1929. Vemo-nos, hoje, inteiramente mergulhados no capitalismo financeiro, cuja dominação é mundial.

Vale a pena salientar esse ponto, pois ele explica a natureza e as perspectivas de solução da atual crise política e econômica brasileira, como reflexo da crise mundial.

Em obra recente, o grande economista francês, François Morin, salientou que, atualmente, um conglomerado de 28 bancos internacionais, detém o controle mundial dos mercados de câmbio, de juros e de capitais; mercados esses de tal forma interligados, que a derrocada de um deles provoca o imediato colapso de todos os outros. Um conglomerado dessa ordem, além de não se submeter a nenhum Estado no plano internacional, exerce uma influência preponderante sobre o poder interno de todos eles.

Ressalte-se que 14 dos bancos integrantes desse oligopólio internacional produzem os chamados “produtos derivados tóxicos”; isto é, os valores mobiliários oriundos da superposição de papéis financeiros de pouco lastro, cuja súbita desvalorização desencadeou, como sabido, a crise de 2008, da qual o mundo ainda não se livrou. O montante atualmente em negociação desses falsos valores mobiliários atinge a soma astronômica de 710 trilhões de dólares, ou seja, o equivalente a dez vezes o Produto Bruto mundial.

No Brasil de hoje, os cinco maiores bancos (Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander) controlam 86% do total dos ativos financeiros; quando em 1995 o montante desses ativos por eles controlados era de 56%. No primeiro semestre de 2015, enquanto o Produto Nacional Bruto entrava em clara recessão, o lucro líquido contábil dos quatro maiores bancos privados do país cresceu 46% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Desde o término da Segunda Guerra Mundial até o início dos anos 80 do século passado, o Brasil foi um dos países de maior crescimento econômico do mundo. E isto se deveu ao dinamismo industrial, fortemente impulsionado pelo Estado, durante a era Vargas e sob o governo de Juscelino Kubitschek.

A partir do último quartel do século XX, no entanto, a dominação mundial crescente do capitalismo financeiro, associada à difusão igualmente global do neoliberalismo econômico, que procurou limitar, senão suprimir, toda interferência estatal na economia, provocou uma mudança radical nesse quadro econômico. A indústria brasileira iniciou um processo de debilitação, que persiste até hoje. Para se ter uma ideia aproximada disso, basta dizer que enquanto em 1984 a participação da indústria no PIB de nosso país era de 35,84%, ela é hoje de praticamente um quarto dessa cifra: 9%.

Como sabido, a partir da Revolução Industrial em meados do século XVIII, a riqueza mundial cresceu em ritmo e intensidade jamais vistos na História. Esse crescimento, porém, recuou nitidamente e tende hoje a ser sucedido pela geral estagnação, justamente devido à implantação mundial do capitalismo financeiro. E a razão é óbvia: a essência da atividade industrial é a produção de bens ou a prestação empresarial de serviços, a qual gera o aumento constante da riqueza material. Já a atividade financeira não produz nenhuma riqueza material de base, mas limita-se a criar valores econômicos artificiais, por meio da especulação, ou, na mais favorável das hipóteses, a auxiliar a atividade industrial ou o comércio de bens, pelo serviço de crédito. Ora, exatamente pelo fato de a indústria e o comércio terem se enfraquecido globalmente nas últimas décadas, os bancos – privados ou estatais – passaram a concentrar suas atividades nos negócios puramente especulativos, cujo risco de súbito colapso é enorme.

Como se vê, a celebrada eficiência do sistema capitalista na produção de riqueza vê-se hoje totalmente desmentida. Com isso, a fantástica desigualdade social, por ele criada no mundo inteiro, já não tem a menor condição de ser reduzida, menos ainda eliminada. No início da Revolução Industrial, estimou-se que entre o povo mais rico e o mais pobre do planeta a diferença em termos econômicos era de 2 para 1; atualmente, ela é estimada em 80 para 1! Levando-se em conta o crescimento inexorável da população mundial e a estagnação geral da produção de bens, notadamente de alimentos, não é difícil visualizar o prognóstico sombrio de Malthus, feito no final do século XVIII. E as vítimas serão, como sempre, as camadas mais pobres do mundo todo.

O Brasil, aliás, como ninguém ignora, continua a ser um dos países de maior desigualdade social do mundo, e de maior benefício fiscal para a classe abastada. Segundo dados extraídos da Receita Federal, 30% da riqueza hoje tributada em nosso país está nas mãos de 0,8% dos contribuintes do imposto de renda. Ora, por efeito da isenção fiscal de pagamento desse imposto ao receberem lucros e dividendos de sociedades, calculou-se em 2013 que quase 200 bilhões de reais foram recebidos pelos contribuintes mais ricos sem pagar um centavo ao Fisco. Em suma, neste país os pobres são muito mais tributados que os ricos.

Ora, para agravar essa situação de escandalosa injustiça, o Estado Brasileiro tem-se revelado radicalmente incapaz de levantar o nível socioeconômico da enorme maioria pobre, mediante adequadas políticas de educação e saúde.

Segundo relatório internacional da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em maio de 2015, o nosso país ocupa a 60ª posição em matéria de educação, num conjunto de 78 países. O número de nossos analfabetos funcionais é de 27% da população.

Quanto ao nível percentual dos gastos públicos com o serviço fundamental de saúde, em relação ao total da despesa pública, ele é o mais baixo da América Latina: 6,93%, contra 31,76% na Argentina. Pois bem, para cúmulo do absurdo, o governo federal no final do primeiro semestre de 2015, operou cortes de um bilhão de reais no orçamento da educação e mais de um bilhão no orçamento da saúde.

Ora, essa situação de profunda e permanente desigualdade social representa um grave obstáculo à instauração de uma verdadeira democracia em nosso país. É que no regime democrático, diversamente das autocracias ou oligarquias, o poder político não é concentrado, mas difuso por todo o povo. A democracia, por conseguinte, para poder funcionar, pressupõe um nível mínimo de igualdade socioeconômica entre os cidadãos, sem a qual não se estabelece uma comunhão de propósitos e atitudes no seio do povo, ou seja, uma mentalidade coletiva coerente. Foi por isso, como assinalou Aristóteles, que o regime democrático funda-se na existência de uma robusta classe média.

No Brasil, além da tradicional debilidade dessa classe, a mentalidade social foi profundamente marcada por quase quatro séculos de escravidão legal, gerando a difusa convicção de que, ao contrário do que proclama a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, os seres humanos são naturalmente desiguais, em dignidade e direitos.

Com a análise deste triste quadro, não podemos deixar de concluir que o regime oligárquico, desde sempre em vigor entre nós, revela-se totalmente incapaz de enfrentar o grave estado mórbido que tomou conta do país.


Como Evitar a Letalidade da Moléstia?

Comecemos por reconhecer o fato de que a solução revolucionária, entendida como a mudança súbita e radical do poder na sociedade, modelo ao mesmo tempo tão louvado e temido no mundo todo até há pouco, já não convence ninguém. É que esse tipo de ruptura brusca da ordem social só atinge a relação de poder, deixando de lado o outro fator estruturante das sociedades: a mentalidade coletiva. Foi o que se viu, de maneira dramática, com as revoluções bolchevique e maoísta, as quais deram origem aos regimes comunistas na Rússia e na China no século XX. Com a derrocada de ambos no último quartel do século, voltaram à tona, nos dois países, as velhas tradições de autocracia burocrática, doravante ligadas à integral adoção do sistema capitalista, contra o qual foram feitas as revoluções.

Se quisermos, pois, mudar, de modo substancial e permanente, as instituições políticas, precisamos reformar a mentalidade coletiva, com base em novos valores que a elas se adequem. E tais valores são o oposto do individualismo privatista, próprio do sistema capitalista.

Ora, isto não se faz e nunca se fez da noite para o dia. Em geral, tem-se em matéria de revoluções, o modelo clássico, que é o da França no século XVIII. Mas o que se deixa na sombra, ao assim considerar, é o fato de que a preparação da Revolução Francesa principiou pelo menos dois séculos antes, com a mudança na visão de mundo, provocada pela Reforma Calvinista e a chamada Revolução Científica de Copérnico, Tycho Brahe e Kepler, seguidos por Galileu e Isaac Newton.

Por outro lado, importa não perder de vista que nada se resolverá, simplesmente atuando no nível político superficial, pela troca de governo ou a modificação de pontos particulares do sistema eleitoral, por exemplo.

O fundamental é iniciar, desde logo, o longo processo de mudança política no nível mais profundo; isto é, no que diz respeito aos detentores efetivos do poder supremo e ao caráter da mentalidade coletiva dominante. Sem essas mudanças de base, jamais estaremos em condições de fazer vigorar entre nós os princípios políticos fundamentais da República, da Democracia e do Estado de Direito.

Mas qual a melhor estratégia para tanto?

Creio que ela consiste em principiar pela criação de um grupo coeso e dinâmico, composto de um lado por agentes políticos e de outro por atores da sociedade civil, dispostos a dar início a esse processo de mudança.

Quanto aos agentes políticos, penso sobretudo na formação de um núcleo suprapartidário de parlamentares federais, pois as grandes reformas institucionais hão de ser feitas no nível constitucional e legislativo.

No campo da sociedade civil, parece-me indispensável, por tudo o que ficou dito acima, obter o apoio da classe industrial brasileira, particularmente prejudicada pela atual supremacia incontrastável do capital financeiro. O revigoramento da indústria nacional dará, incontestavelmente, novo alento à nossa economia e poderá iniciar a retomada do processo de crescimento econômico. Poder-se-ia começar, por exemplo, nesse setor, pela proposta legislativa de conteúdo local mínimo para todo o setor industrial instalado em nosso país.

Ainda no campo da sociedade civil, é indispensável que o núcleo de parlamentares federais, acima referido, tenha o apoio constante e criativo de especialistas nas principais áreas: direito, economia, finanças públicas, educação, saúde etc.

As propostas pontuais de mudança deveriam, a meu ver, visar à abertura de fendas na muralha oligárquica, tanto no nível da relação de poder, quanto no da mentalidade coletiva.

Poder-se-ia, assim, pensar prioritariamente em projetos de lei – ou, se possível, em emendas constitucionais –, tendo por objetivo criar instrumentos de democracia direta ou participativa.

Ainda prioritariamente, deve-se iniciar a correção da profunda desigualdade tributária vigorante entre nós, principiando, por exemplo, pelo imposto sobre grandes fortunas, instituído pela Constituição e que aguarda regulação legal desde 1988. Na mesma linha de combate à desigualdade social, é de primordial importância preservar as políticas de educação e saúde de cortes orçamentários, em todas as unidades da federação.

Já no que diz respeito à formação cívica da mentalidade coletiva, cuidado especial deve ser dirigido ao setor de comunicação social, notadamente ao rádio e à televisão. No Brasil, como apontado até mesmo pela UNESCO em relatório de 2010, o setor acha-se submetido há dezenas de anos ao controle oligopolístico de empresas privadas e políticos profissionais, de acordo com o nosso tradicional modelo de oligarquia binária.

Em razão disso, desde a promulgação da Carta Constitucional em vigor, ou seja, há mais de um quarto de século, normas fundamentais que regem a matéria aguardam regulamentação legal para serem aplicadas. Assim é com a proibição do monopólio e do oligopólio, direto ou indireto de todos os meios de comunicação social (art. 220, § 5º). Assim é, da mesma forma, com a norma de preferência, na produção e programação das emissoras de rádio e televisão, a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas (art. 221, inciso I). Em 2011, um partido político e uma confederação nacional de trabalhadores ingressaram, a esse respeito, com ações de inconstitucionalidade por omissão perante o Supremo Tribunal Federal. Acontece que, encerrada a instrução desses processos e já com parecer parcialmente favorável da Procuradoria-Geral da República, os autos permanecem conclusos com a Ministra Relatora desde maio de 2012, numa clara ilustração da vacuidade, entre nós, do princípio do Estado de Direito.

Estas são as ideias e as propostas que me parece urgente e indispensável examinar, neste momento de grande perigo para o futuro do Povo Brasileiro e do nosso País.

* Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.



Créditos da foto: Agência Brasil

DESORGANIZAÇÃO ESCOLAR - MTST pretende ocupar e manter abertas as escolas que Alckmin fechar

na Rede Brasil Atual
Quarta manifestação contra a "reorganização escolar", que pode levar ao fechamento de centenas de escolas, reúne estudantes, professores, movimentos sociais e sindicatos no centro de São Paulo
por Rodrigo Gomes, da RBA
educação
Estudantes não aceitam a proposta de Alckmin por temer salas lotadas e transferência para locais distantes


São Paulo – A coordenadora estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Natália Szermeta afirmou na tarde de hoje (20), durante a quarta manifestação contra o fechamento de escolas proposto pelo governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), que o movimento pretende ocupar as escolas fechadas e mantê-las funcionando. “Estamos juntos na luta contra a reorganização. Vamos parar escolas, estradas, o que for preciso para barrar a medida. Mas se o governador fechar alguma unidade, vamos ocupar e pôr para funcionar”, afirmou a militante.
Os sem-teto estão organizando um fórum com organizações relacionadas à educação, estudantes e familiares que vivem nas ocupações e bairros da periferia da cidade. “Estamos apoiando o ato de hoje e vamos integrar todas as lutas contra essa medida, que vai devastar ainda mais a já péssima educação no estado”, afirmou Natália.
Estudantes de várias regiões da capital paulista participaram do ato que começou na Praça da República, onde fica a Secretaria Estadual da Educação, depois marcharam pelas ruas do centro de São Paulo até a Praça da Sé. O ato foi pacífico e acompanhado por poucos policiais militares. Os manifestantes levaram bonecos infláveis de Alckmin e do secretário Estadual da Educação, Herman Voorwwald.
Desde que a medida foi anunciada uma onda de manifestações vem ocorrendo em várias cidades, organizada por professores e alunos. Tanto organizações estudantis, quanto movimentos sociais e sindicatos, além de estudantes e seus familiares estão participando de mobilizações para impedir o fechamento de escolas, a superlotação de salas, a demissão de professores temporários e a transferência de cerca de 1 milhão de alunos, segundo avaliação do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
A mudança foi anunciada pelo secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, em entrevista ao telejornal Bom Dia São Paulo, da Rede Globo, no dia 22 de setembro. A ideia é separar totalmente os alunos das escolas estaduais por ciclo – fundamental I, fundamental II e médio –, o que vai levar ao fechamento de, pelo menos, 163 escolas, segundo levantamento da Apeoesp.
“O movimento é para que escolas de três ciclos não existam mais e se aumentem as de ciclo único. A mãe que tem um filho de sete, oito anos tenha tranquilidade para que ele esteja em escola com crianças da idade dele”, afirmou Voorwald. O secretário também justificou que com esse modelo “o aprendizado ocorre melhor, a formação do professor ocorre melhor”.
Os docentes consideram que a medida não trará benefício para estudantes, professores ou famílias, ao contrário. “Não há nesta reorganização nenhuma preocupação pedagógica. Ela é uma mudança física, descolada de um verdadeiro projeto educacional. Vai desorganizar a rede pública. A secretaria devia valorizar os professores, resolver os problemas estruturais das escolas, reduzir o número de alunos por sala, o que asseguraria melhor condição de trabalho aos professores e de aprendizagem aos estudantes”, defendeu a presidenta da Apeoesp, Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel.
O aluno L.N., de 15 anos, da Escola Estadual Fernão Dias, em Pinheiros, zona oeste da capital paulista, acredita que as salas de aula vão virar “latas de sardinha” com a reorganização. “Hoje a minha sala já tem 40 alunos. Minha escola vai receber várias turmas de ensino médio de outras da região. Vai ficar um inferno. Não estamos brincando. Se não parar a reorganização não vamos sair das ruas”, afirmou.
Alguns alunos não terão a mesma sorte de permanecer na escola que estão. P.R.L., de 12 anos, estudante da Escola Estadual Professor Eurico Figueiredo, no Jaçanã, zona norte, ainda não sabe onde vai estudar no próximo ano e considera um absurdo o que está sendo feito. “Ele vai fechar uma escola boa. Nós gostamos de estudar lá. O governador devia parar com isso, porque senão esse protesto de hoje só vai piorar”, garantiu.
“O maior problema é que ninguém sabe exatamente o que significa a reorganização”, destacou a presidenta da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), Ângela Meyer. Ela acredita que a mobilização tende a crescer conforme mais alunos forem notificados das mudanças e que os estudantes vão conseguir “barrar a desorganização”. “Este seria o momento de reduzir o número de estudantes por sala, por exemplo, melhorando as condições de professores e alunos”, disse.
O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) abriu um inquérito civil para cobrar explicações do governo Alckmin sobre a iniciativa. Também a Defensoria Pública solicitou informações à Secretaria de Estado da Educação sobre a reestruturação. Os processos estão em andamento.
Os educadores temem também que ocorra um novo processo de fechamento de classes, desempregando ainda mais professores. No início deste ano foram fechadas pelo menos 3.390 salas de aula no estado. E muitas escolas iniciaram o ano letivo com até 60 estudantes por classe, em turmas do ensino regular, e até cem estudantes por classe em turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA), segundo o sindicato.
Apesar dessa crise de superlotação no início do ano, o secretário Voorwald afirmou ao telejornal global que o estado de São Paulo tem 2 milhões de vagas ociosas. “O momento é absolutamente apropriado para isso porque houve redução de dois milhões de alunos na rede, a estrutura física que foi preparada há mais de 20 anos para receber 6 milhões de alunos em um processo de universalização, hoje, por conta da queda na taxa de natalidade viabiliza que eu tenha escolas ociosas. A rede foi desenvolvida para absorver até 6 milhões de alunos, hoje tem 4 milhões.”
São Paulo tem hoje 5.108 escolas, das quais 1.443 são de ciclo único, outras 3186 mantêm dois ciclos e 479 escolas têm três ciclos. Essas últimas devem ser transformadas em escolas de ciclo único, assim como grande parte das de dois ciclos.
Porém, os professores reivindicam que essa estrutura seja otimizada para propiciar a redução do número de alunos por sala. Eles defendem que o número máximo de alunos por classe seja de 20, em qualquer dos ciclos. Os docentes reclamam ainda que, da mesma forma que a proposta para o Plano Estadual da Educação apresentada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) à Assembleia Legislativa, esta medida foi anunciada sem nenhuma discussão prévia com a comunidade escolar, com a Apeoesp e demais entidades ou com outros setores sociais.
A proposta pode estar relacionada a dois pontos propostos no Plano Estadual da Educação: a transferência do ensino fundamental para os municípios (meta 21) e a reformulação do ensino médio para um sistema em que os estudantes possam escolher as matérias que vão estudar. Com as escolas tendo somente um tipo de ciclo, a implementação dessas medidas seria facilitada.
Em nota distribuída pela assessoria de imprensa no final da tarde, a Secretaria Estadual de Educação afirma que "as manifestações, embora legítimas, não podem desinformar e alimentar em pais e alunos falsos temores". E que "também não podem sobrepor o direito dos estudantes paulistas por uma educação de mais qualidade".
Ainda segundo a nota, "São Paulo tem atuado para a entrega de escolas melhores, com ambientes mais preparados para cada faixa etária e com profissionais capacitados para atender às necessidades destes estudantes. Manter os alunos da mesma idade juntos é prática comum de alguns dos melhores colégios do País e de países referência em educação".
"As informações, ainda não oficiais, propagadas por um sindicato com claras pretensões políticas tenta mais uma vez inviabilizar melhores condições aos alunos e também aos profissionais da rede estadual. A Secretaria lamenta e garante que permanecerá atuando por meio do diálogo com os educadores e compromisso com o ensino."
Saiba mais:

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Ciro: FHC vendeu o país e a alma E quebrou o Brasil por causa da reeleição (que comprou)

por José Gilbert Arruda Martins

Em vídeo, Ciro Gomes (PDT - CE), fala sobre como FHC vendeu o Brasil e comprou a reeleição na década de 1990. Veja:



Para especialistas brasileiros, o desmonte do Estado feito na década de 90 por FHC do PSDB-SP, fou o segundo maior desmonte de uma Estado na História. Só perdeu para o desmonte da Ex- URSS.

o Filme, Privatizações: A distopia do Capital, mostra de forma clara e explicativa o desmonte.

Você precisa ver.

Mesmo que seja um coxinha, você precisa parar um pouco com o ódio e assistir.

Talvez, agora entendendo melhor quem você defende, fique mais consciente de que está do lado errado, pelo menos os coxinhas de origem pobre.

Que é isso professor, coxinha de origem pobre?

É isso mesmo, uma parte dos "cabeças de vento" que pedem intervenção militar e impeachment é formada por pessoas pobres, negros e da periferia.

O que é isso professor?

É isso, pesquisar que verás!!!

REVOLUÇÃO - Haddad desapropria edifício Prestes Maia e vai destiná-lo à moradia popular

na Rede Brasil Atual
Após quase 30 anos abandonado, imóvel será reformado e abrigará famílias que ocupam o local desde 2010


prestes maia
Edifício Prestes Maia abriga aproximadamente 1.500 pessoas e vai se tornar a moradia definitiva delas



São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), anunciou sábado (17) que a prefeitura desapropriou o edifício Prestes Maia, no centro de São Paulo, e vai destiná-lo à moradia das famílias que já ocupam o local. O prédio de 22 andares é considerado a segunda maior ocupação vertical da América Latina, menor apenas que a Torre de David, na Venezuela. “Fechamos na sexta-feira (16) o acordo com os antigos proprietários e agora vamos fazer um acordo com os ocupantes para que ele possa servir ao Minha Casa,Minha Vida”, afirmou Haddad. O custo da negociação foi de R$ 22 milhões.
O prédio deverá ser desocupado para passar por uma reforma e ser entregue de volta às 378 famílias que ocupam o local. Para adquirir os apartamentos, elas deverão ser incluídas na faixa do Minha Casa, Minha Vida que atende a famílias com renda de zero a três salários mínimos, cujas prestações são no valor de até 10% da renda, durante dez anos, com prestação mínima de R$ 50. O registro do imóvel fica em nome da mulher e os beneficiários não podem ter participado de outros programas de habitação social do governo.
Os moradores do Prestes Mais estiveram próximos de sofrer uma reintegração de posse no último dia 3, mas a Justiça suspendeu a ação considerando que estavam avançadas as negociações para desapropriá-lo. O Decreto de Interesse Social da prefeitura data de agosto de 2013.
O edifício foi construído nos anos 1960 e está abandonado há cerca de 30 anosO Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) não é pago desde 1986, acumulando uma dívida de aproximadamente R$ 9,1 milhões. O valor venal do imóvel, utilizado para cálculo do imposto, está estimado em R$ 6,5 milhões, mas o proprietário, Jorge Nacle Hamuche, queria R$ 26 milhões pela desapropriação.
A primeira ocupação do Prestes Maia ocorreu em 2002 e durou cinco anos, porém, os moradores foramdespejadosDesde então, foram várias ocupações e reintegrações de posse. A atual se iniciou em 2010 e é coordenada pelo Movimento Sem Teto do Centro (MSTC). 
A coordenadora do MSTC Ivaneti Araújo comemorou a notícia. “Obrigado meu Deus. Quero expor minha alegria, depois de tantas lutas, tantas lágrimas derramadas, estamos aqui com essa vitória linda em nossas mãos. Demos um passo historicamente significativo. Enfim, o Prestes Maia foi comprado”, desabafou nas redes sociais. O edifício fica no número 911 da Avenida Prestes Maia, próximo da estação da Luz e da Pinacoteca do Estado.
Saiba mais:

Vladimir Herzog e a sanha do mal no combate à liberdade

na Rede Brasil Atual
Quem matou Vlado naquela manhã infame de 25 de outubro de 1975, nos porões do DOI-Codi, em São Paulo, queria matar suas ideias, sua crença na liberdade e na prevalência do ideal de justiça
por Mauro Santayana, em seu blog 


VLADO
Seu assassino recolheu-se, na história, ao submundo dos psicopatas sádicos e doentes, sabujos do autoritarismo

Amanhã, terça-feira, 20 de outubro, às 20h, no Teatro da Universidade Católica, o Tuca, será realizada, em São Paulo, a cerimônia de entrega do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Jornalismo, do qual tenho a honra de ser um dos agraciados. A história da origem de Vladimir Herzog e de sua morte está registrada no livro do meu amigo e companheiro de profissão Audálio Dantas, AsDuas Guerras de Vlado Herzog – da perseguição nazista à morte sob tortura no Brasil.
Judeu, socialista, nascido na Croácia, com o mesmo prenome de Lênin – embora brasileiro como poucos, a ponto de deixar a segurança do exílio em Londres para voltar para o Brasil em plena ditadura – intelectual e não um brutamontes, aparentemente frágil em sua compleição física, mas fortíssimo – principalmente em seus derradeiros instantes – em seu caráter e suas convicções, Vlado reunia em sua pessoa tudo o que os seus torturadores odiavam mais caninamente.
Por isso, a intenção era expô-lo publicamente, depois de extrair-lhe uma suposta “confissão”, fazendo com que assumisse coisas que não havia feito, delatasse amigos, acusando-os de terem feito coisas que não haviam feito, que renegasse suas convicções – como outros judeus faziam antes, quebrados, destruídos, a caminho de serem queimados na fogueira, diante de seus algozes da Santa Inquisição – reforçando, como “arrependido”, a tese da existência de uma conspiração comunista e antinacional no Brasil, o que justificaria ainda mais prisões, mais assassinatos, mais torturas.
Quem matou Vlado, naquela manhã infame 25 de outubro de 1975, nos porões do DOI-Codi, em São Paulo – forjando a absurda tese de seu suicídio, pendurado, pelo pescoço, quase que de joelhos, pelo cinto, a uma altura de pouco mais de um metro da janela da cela em que o colocaram, queria matar as suas ideias, o seu passado, a sua visão de mundo: sua crença na liberdade, na prevalência do ideal de justiça e do direito de opinião, mesmo quando mergulhado na mais absurda situação de barbárie, nas mãos de quem podia espancá-lo e matá-lo, caso não se dobrasse à sua vontade, como com ele fizeram.
Como outros covardes daquela época, extremamente machos diante de presos desarmados e indefesos (muitos, como Vlado, ali tinham comparecido de moto próprio, por intimação, sem nunca ter pegado em armas), seu assassino escondeu-se depois no anonimato, reunindo-se, na história, ao submundo sombrio dos psicopatas sádicos e doentes que servem como reserva de sabujos para o autoritarismo.
Enquanto o menino croata que escapou do nazismo aos 6 anos, para morrer nas mãos dos carrascos do país para o qual veio em busca de dignidade e liberdade, continuará, agora, e no futuro, como um símbolo e um poderoso marco do que existe de melhor no ser humano.