quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Em defesa do povo brasileiro

na Carta Maior

A organização do Estado Brasileiro apresenta um caráter esquizofrênico, com a dissociação entre aparência e realidade.

Fábio Konder Comparato*
Agência Brasil
A situação de nítida morbidez em que se encontra atualmente o nosso país deve ser analisada segundo os parâmetros estabelecidos por Hipócrates para o tratamento de todas as doenças. Não podemos, com efeito, cuidar simplesmente dos sintomas, sem antes procurar eliminar suas causas, ou seja, a fonte primária da moléstia.

Empregamos todo tempo a palavra crise para caracterizar o lamentável estado de nossa política e de nossa economia no presente. Ora, justamente, no tratado Dos Ares, das Águas e dos Lugares, o Pai da Medicina denominou krisis, palavra que na língua helênica significa julgamento, o momento preciso em que é possível discernir a doença e desvendar a sorte do doente. É nesse momento que o olhar crítico do médico observa uma mudança súbita no estado do paciente, para o bem ou para o mal; o instante em que se declaram nitidamente os sintomas da moléstia, permitindo o diagnóstico e o prognóstico.

Lamento dizer que, em minha modesta opinião, a crise atual, que não afeta aliás apenas o Brasil, mas o mundo inteiro, aponta, infelizmente para a probabilidade cada vez mais forte de um desfecho sombrio.

Examinemos, pois, antes de mais nada, segundo a lição de Hipócrates, a verdadeira causa da moléstia.

A Oligarquia Brasileira

Uma esquizofrenia política 

A nenhum observador atento escapa o fato de que a organização do Estado Brasileiro apresenta um caráter nitidamente esquizofrênico, com a dissociação permanente entre aparência e realidade.

A Constituição Federal em vigor abre-se com a declaração solene de que “a República Federativa do Brasil [...] constitui-se em Estado Democrático de Direito”. Na crua realidade política, porém, nenhum dos três princípios fundamentais aí enunciados vigora na prática.

A Constituição Federal de 1988 declara que constitui objetivo fundamental do Estado Brasileiro “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, com a promoção do bem de todos, sem discriminação de qualquer espécie (art. 3º). Acontece que a realização desse objetivo esbarra no espírito de individualismo privatista, que desde sempre representou um obstáculo insuperável à realização do bem comum do povo brasileiro; ou seja, aquilo que na Roma clássica denominava-se justamente res publica. Não me canso de relembrar a advertência formulada por Frei Vicente do Salvador, em sua obra clássica, editada em 1627: “Nem um homem nesta terra é repúblico, nem zela e trata do bem comum, senão do bem particular”.

Nosso país não é tampouco uma Democracia autêntica, porque o povo brasileiro nunca dispôs de poder, não se podendo olvidar que a etimologia grega do vocábulo é exatamente a de poder popular (demos, povo; kratos, poder).

Desde 1934, vimos declarando, em todas as Constituições, que “todo poder emana do povo” (Constituição Federal de 1988, art. 1º, parágrafo único). Mas a única prerrogativa política efetiva do nosso conjunto de cidadãos é de eleger representantes no Executivo e no Legislativo; sendo que tais eleições (ou escolhas) são feitas, como ninguém ignora, sob forte influência do poder econômico privado e dos políticos profissionais.

Em seu art. 14, a mesma Constituição declara, como formas de exercício da soberania do povo, o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. Mas no art. 49, inciso XV, ela mesma estabelece que “é da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar referendo e convocar plebiscito”. Ou seja, nessa curiosa forma de mandato político, o povo mandante só tem o direito de se manifestar diretamente, quando seus mandatários lhe derem permissão para tanto... Quanto à iniciativa popular – só admitida em matéria legislativa, não de emendas constitucionais – ela se tornou impraticável, em razão da exigência absurdamente criada pela Câmara dos Deputados de conferência de todas as assinaturas do 1% do eleitorado, estabelecido na Constituição (um milhão e meio de eleitores atualmente!).

Ainda no campo da Democracia, o Brasil é um dos países em que a Constituição e suas emendas – ápice do ordenamento jurídico – são votadas unicamente pelo órgão legislativo, sem a menor participação do povo.

Finalmente, em matéria de Estado de Direito, ou seja, de controle institucional de poderes em todos os níveis, continuamos deixando muito a desejar. Basta dizer, a esse respeito, que os Ministros do Supremo Tribunal Federal, no exercício de suas elevadas funções, não estão praticamente sujeitos a controle algum, podendo impunemente deixar de cumprir, não só a Constituição (da qual aquela Corte é declarada guardiã precípua pelo seu art. 102) e as leis, como até mesmo as próprias normas do Regimento Interno da Corte, por eles aprovadas. O Supremo Tribunal Federal é o único órgão do Judiciário não sujeito ao controle do Conselho Nacional de Justiça.

Causa da moléstia esquizofrênica

Em toda organização política, os principais fatores estruturantes sempre foram a relação de poder e a mentalidade coletiva, isto é, o conjunto de valores e costumes enraizados no seio do povo. Durante milênios, até o dealbar da idade moderna, ambos esses fatores foram estritamente moldados pela fé religiosa. Com o advento, porém, da sociedade massas, no final do século XIX, iniciou-se uma fase verdadeiramente revolucionária, na qual a mentalidade coletiva passou a ser formada pelo sistema de poder político, de caráter não religioso na maior parte do mundo. 

Ao se consolidar mundialmente a civilização capitalista em fins do século passado, a relação íntima entre esses dois fatores estruturantes da organização política foi radicalmente alterada. Desde então, foi o poder político que passou a plasmar a mentalidade coletiva, utilizando-se, para tanto, do controle dos meios de comunicação de massa, exercido atualmente, na quase totalidade dos países do globo, por oligopólios empresariais.

 Pois bem, entre nós, desde os primórdios da colonização portuguesa, o poder político efetivo – diferentemente do poder oficial – tem sido exercido, sem descontinuar, por dois grupos associados: os potentados econômicos privados e os grandes agentes estatais. Nossa oligarquia sempre teve, assim, um caráter binário: quem manda, em última instância, não é apenas a burguesia empresarial, como pretendeu a análise marxista, nem tampouco tão-só o estamento burocrático estatal, como sustentaram os seguidores de Max Weber, a exemplo de Raymundo Faoro. O poder supremo pertence a ambos. É esta a principal causa da corrupção endêmica que vigora no Brasil no plano estatal.

Essa oligarquia binária não é, na verdade, uma originalidade brasileira, mas sim um traço essencial do sistema capitalista. Como salientou Fernand Braudel, que lecionou na Universidade de São Paulo logo após a sua fundação, o capitalismo só triunfa quando se une ao Estado, quando é o Estado.

No curso de nossa História, tivemos uma sucessão de potentados econômicos privados, aliados aos agentes do Estado; a começar pelos senhores de engenho no século XVI, passando pelos traficantes de escravos, os grandes fazendeiros, os industriais, até chegar aos atuais controladores das grandes instituições financeiras.

Verificamos, por aí, como o nosso país sempre acompanhou a evolução do sistema capitalista. Surgimos na História, graças à expansão mundial do capitalismo mercantil europeu, na passagem do século XV ao século XVI. Entramos tardiamente na fase do capitalismo industrial, após a Grande Depressão de 1929. Vemo-nos, hoje, inteiramente mergulhados no capitalismo financeiro, cuja dominação é mundial.

Vale a pena salientar esse ponto, pois ele explica a natureza e as perspectivas de solução da atual crise política e econômica brasileira, como reflexo da crise mundial.

Em obra recente, o grande economista francês, François Morin, salientou que, atualmente, um conglomerado de 28 bancos internacionais, detém o controle mundial dos mercados de câmbio, de juros e de capitais; mercados esses de tal forma interligados, que a derrocada de um deles provoca o imediato colapso de todos os outros. Um conglomerado dessa ordem, além de não se submeter a nenhum Estado no plano internacional, exerce uma influência preponderante sobre o poder interno de todos eles.

Ressalte-se que 14 dos bancos integrantes desse oligopólio internacional produzem os chamados “produtos derivados tóxicos”; isto é, os valores mobiliários oriundos da superposição de papéis financeiros de pouco lastro, cuja súbita desvalorização desencadeou, como sabido, a crise de 2008, da qual o mundo ainda não se livrou. O montante atualmente em negociação desses falsos valores mobiliários atinge a soma astronômica de 710 trilhões de dólares, ou seja, o equivalente a dez vezes o Produto Bruto mundial.

No Brasil de hoje, os cinco maiores bancos (Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander) controlam 86% do total dos ativos financeiros; quando em 1995 o montante desses ativos por eles controlados era de 56%. No primeiro semestre de 2015, enquanto o Produto Nacional Bruto entrava em clara recessão, o lucro líquido contábil dos quatro maiores bancos privados do país cresceu 46% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Desde o término da Segunda Guerra Mundial até o início dos anos 80 do século passado, o Brasil foi um dos países de maior crescimento econômico do mundo. E isto se deveu ao dinamismo industrial, fortemente impulsionado pelo Estado, durante a era Vargas e sob o governo de Juscelino Kubitschek.

A partir do último quartel do século XX, no entanto, a dominação mundial crescente do capitalismo financeiro, associada à difusão igualmente global do neoliberalismo econômico, que procurou limitar, senão suprimir, toda interferência estatal na economia, provocou uma mudança radical nesse quadro econômico. A indústria brasileira iniciou um processo de debilitação, que persiste até hoje. Para se ter uma ideia aproximada disso, basta dizer que enquanto em 1984 a participação da indústria no PIB de nosso país era de 35,84%, ela é hoje de praticamente um quarto dessa cifra: 9%.

Como sabido, a partir da Revolução Industrial em meados do século XVIII, a riqueza mundial cresceu em ritmo e intensidade jamais vistos na História. Esse crescimento, porém, recuou nitidamente e tende hoje a ser sucedido pela geral estagnação, justamente devido à implantação mundial do capitalismo financeiro. E a razão é óbvia: a essência da atividade industrial é a produção de bens ou a prestação empresarial de serviços, a qual gera o aumento constante da riqueza material. Já a atividade financeira não produz nenhuma riqueza material de base, mas limita-se a criar valores econômicos artificiais, por meio da especulação, ou, na mais favorável das hipóteses, a auxiliar a atividade industrial ou o comércio de bens, pelo serviço de crédito. Ora, exatamente pelo fato de a indústria e o comércio terem se enfraquecido globalmente nas últimas décadas, os bancos – privados ou estatais – passaram a concentrar suas atividades nos negócios puramente especulativos, cujo risco de súbito colapso é enorme.

Como se vê, a celebrada eficiência do sistema capitalista na produção de riqueza vê-se hoje totalmente desmentida. Com isso, a fantástica desigualdade social, por ele criada no mundo inteiro, já não tem a menor condição de ser reduzida, menos ainda eliminada. No início da Revolução Industrial, estimou-se que entre o povo mais rico e o mais pobre do planeta a diferença em termos econômicos era de 2 para 1; atualmente, ela é estimada em 80 para 1! Levando-se em conta o crescimento inexorável da população mundial e a estagnação geral da produção de bens, notadamente de alimentos, não é difícil visualizar o prognóstico sombrio de Malthus, feito no final do século XVIII. E as vítimas serão, como sempre, as camadas mais pobres do mundo todo.

O Brasil, aliás, como ninguém ignora, continua a ser um dos países de maior desigualdade social do mundo, e de maior benefício fiscal para a classe abastada. Segundo dados extraídos da Receita Federal, 30% da riqueza hoje tributada em nosso país está nas mãos de 0,8% dos contribuintes do imposto de renda. Ora, por efeito da isenção fiscal de pagamento desse imposto ao receberem lucros e dividendos de sociedades, calculou-se em 2013 que quase 200 bilhões de reais foram recebidos pelos contribuintes mais ricos sem pagar um centavo ao Fisco. Em suma, neste país os pobres são muito mais tributados que os ricos.

Ora, para agravar essa situação de escandalosa injustiça, o Estado Brasileiro tem-se revelado radicalmente incapaz de levantar o nível socioeconômico da enorme maioria pobre, mediante adequadas políticas de educação e saúde.

Segundo relatório internacional da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em maio de 2015, o nosso país ocupa a 60ª posição em matéria de educação, num conjunto de 78 países. O número de nossos analfabetos funcionais é de 27% da população.

Quanto ao nível percentual dos gastos públicos com o serviço fundamental de saúde, em relação ao total da despesa pública, ele é o mais baixo da América Latina: 6,93%, contra 31,76% na Argentina. Pois bem, para cúmulo do absurdo, o governo federal no final do primeiro semestre de 2015, operou cortes de um bilhão de reais no orçamento da educação e mais de um bilhão no orçamento da saúde.

Ora, essa situação de profunda e permanente desigualdade social representa um grave obstáculo à instauração de uma verdadeira democracia em nosso país. É que no regime democrático, diversamente das autocracias ou oligarquias, o poder político não é concentrado, mas difuso por todo o povo. A democracia, por conseguinte, para poder funcionar, pressupõe um nível mínimo de igualdade socioeconômica entre os cidadãos, sem a qual não se estabelece uma comunhão de propósitos e atitudes no seio do povo, ou seja, uma mentalidade coletiva coerente. Foi por isso, como assinalou Aristóteles, que o regime democrático funda-se na existência de uma robusta classe média.

No Brasil, além da tradicional debilidade dessa classe, a mentalidade social foi profundamente marcada por quase quatro séculos de escravidão legal, gerando a difusa convicção de que, ao contrário do que proclama a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, os seres humanos são naturalmente desiguais, em dignidade e direitos.

Com a análise deste triste quadro, não podemos deixar de concluir que o regime oligárquico, desde sempre em vigor entre nós, revela-se totalmente incapaz de enfrentar o grave estado mórbido que tomou conta do país.


Como Evitar a Letalidade da Moléstia?

Comecemos por reconhecer o fato de que a solução revolucionária, entendida como a mudança súbita e radical do poder na sociedade, modelo ao mesmo tempo tão louvado e temido no mundo todo até há pouco, já não convence ninguém. É que esse tipo de ruptura brusca da ordem social só atinge a relação de poder, deixando de lado o outro fator estruturante das sociedades: a mentalidade coletiva. Foi o que se viu, de maneira dramática, com as revoluções bolchevique e maoísta, as quais deram origem aos regimes comunistas na Rússia e na China no século XX. Com a derrocada de ambos no último quartel do século, voltaram à tona, nos dois países, as velhas tradições de autocracia burocrática, doravante ligadas à integral adoção do sistema capitalista, contra o qual foram feitas as revoluções.

Se quisermos, pois, mudar, de modo substancial e permanente, as instituições políticas, precisamos reformar a mentalidade coletiva, com base em novos valores que a elas se adequem. E tais valores são o oposto do individualismo privatista, próprio do sistema capitalista.

Ora, isto não se faz e nunca se fez da noite para o dia. Em geral, tem-se em matéria de revoluções, o modelo clássico, que é o da França no século XVIII. Mas o que se deixa na sombra, ao assim considerar, é o fato de que a preparação da Revolução Francesa principiou pelo menos dois séculos antes, com a mudança na visão de mundo, provocada pela Reforma Calvinista e a chamada Revolução Científica de Copérnico, Tycho Brahe e Kepler, seguidos por Galileu e Isaac Newton.

Por outro lado, importa não perder de vista que nada se resolverá, simplesmente atuando no nível político superficial, pela troca de governo ou a modificação de pontos particulares do sistema eleitoral, por exemplo.

O fundamental é iniciar, desde logo, o longo processo de mudança política no nível mais profundo; isto é, no que diz respeito aos detentores efetivos do poder supremo e ao caráter da mentalidade coletiva dominante. Sem essas mudanças de base, jamais estaremos em condições de fazer vigorar entre nós os princípios políticos fundamentais da República, da Democracia e do Estado de Direito.

Mas qual a melhor estratégia para tanto?

Creio que ela consiste em principiar pela criação de um grupo coeso e dinâmico, composto de um lado por agentes políticos e de outro por atores da sociedade civil, dispostos a dar início a esse processo de mudança.

Quanto aos agentes políticos, penso sobretudo na formação de um núcleo suprapartidário de parlamentares federais, pois as grandes reformas institucionais hão de ser feitas no nível constitucional e legislativo.

No campo da sociedade civil, parece-me indispensável, por tudo o que ficou dito acima, obter o apoio da classe industrial brasileira, particularmente prejudicada pela atual supremacia incontrastável do capital financeiro. O revigoramento da indústria nacional dará, incontestavelmente, novo alento à nossa economia e poderá iniciar a retomada do processo de crescimento econômico. Poder-se-ia começar, por exemplo, nesse setor, pela proposta legislativa de conteúdo local mínimo para todo o setor industrial instalado em nosso país.

Ainda no campo da sociedade civil, é indispensável que o núcleo de parlamentares federais, acima referido, tenha o apoio constante e criativo de especialistas nas principais áreas: direito, economia, finanças públicas, educação, saúde etc.

As propostas pontuais de mudança deveriam, a meu ver, visar à abertura de fendas na muralha oligárquica, tanto no nível da relação de poder, quanto no da mentalidade coletiva.

Poder-se-ia, assim, pensar prioritariamente em projetos de lei – ou, se possível, em emendas constitucionais –, tendo por objetivo criar instrumentos de democracia direta ou participativa.

Ainda prioritariamente, deve-se iniciar a correção da profunda desigualdade tributária vigorante entre nós, principiando, por exemplo, pelo imposto sobre grandes fortunas, instituído pela Constituição e que aguarda regulação legal desde 1988. Na mesma linha de combate à desigualdade social, é de primordial importância preservar as políticas de educação e saúde de cortes orçamentários, em todas as unidades da federação.

Já no que diz respeito à formação cívica da mentalidade coletiva, cuidado especial deve ser dirigido ao setor de comunicação social, notadamente ao rádio e à televisão. No Brasil, como apontado até mesmo pela UNESCO em relatório de 2010, o setor acha-se submetido há dezenas de anos ao controle oligopolístico de empresas privadas e políticos profissionais, de acordo com o nosso tradicional modelo de oligarquia binária.

Em razão disso, desde a promulgação da Carta Constitucional em vigor, ou seja, há mais de um quarto de século, normas fundamentais que regem a matéria aguardam regulamentação legal para serem aplicadas. Assim é com a proibição do monopólio e do oligopólio, direto ou indireto de todos os meios de comunicação social (art. 220, § 5º). Assim é, da mesma forma, com a norma de preferência, na produção e programação das emissoras de rádio e televisão, a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas (art. 221, inciso I). Em 2011, um partido político e uma confederação nacional de trabalhadores ingressaram, a esse respeito, com ações de inconstitucionalidade por omissão perante o Supremo Tribunal Federal. Acontece que, encerrada a instrução desses processos e já com parecer parcialmente favorável da Procuradoria-Geral da República, os autos permanecem conclusos com a Ministra Relatora desde maio de 2012, numa clara ilustração da vacuidade, entre nós, do princípio do Estado de Direito.

Estas são as ideias e as propostas que me parece urgente e indispensável examinar, neste momento de grande perigo para o futuro do Povo Brasileiro e do nosso País.

* Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.



Créditos da foto: Agência Brasil

DESORGANIZAÇÃO ESCOLAR - MTST pretende ocupar e manter abertas as escolas que Alckmin fechar

na Rede Brasil Atual
Quarta manifestação contra a "reorganização escolar", que pode levar ao fechamento de centenas de escolas, reúne estudantes, professores, movimentos sociais e sindicatos no centro de São Paulo
por Rodrigo Gomes, da RBA
educação
Estudantes não aceitam a proposta de Alckmin por temer salas lotadas e transferência para locais distantes


São Paulo – A coordenadora estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Natália Szermeta afirmou na tarde de hoje (20), durante a quarta manifestação contra o fechamento de escolas proposto pelo governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), que o movimento pretende ocupar as escolas fechadas e mantê-las funcionando. “Estamos juntos na luta contra a reorganização. Vamos parar escolas, estradas, o que for preciso para barrar a medida. Mas se o governador fechar alguma unidade, vamos ocupar e pôr para funcionar”, afirmou a militante.
Os sem-teto estão organizando um fórum com organizações relacionadas à educação, estudantes e familiares que vivem nas ocupações e bairros da periferia da cidade. “Estamos apoiando o ato de hoje e vamos integrar todas as lutas contra essa medida, que vai devastar ainda mais a já péssima educação no estado”, afirmou Natália.
Estudantes de várias regiões da capital paulista participaram do ato que começou na Praça da República, onde fica a Secretaria Estadual da Educação, depois marcharam pelas ruas do centro de São Paulo até a Praça da Sé. O ato foi pacífico e acompanhado por poucos policiais militares. Os manifestantes levaram bonecos infláveis de Alckmin e do secretário Estadual da Educação, Herman Voorwwald.
Desde que a medida foi anunciada uma onda de manifestações vem ocorrendo em várias cidades, organizada por professores e alunos. Tanto organizações estudantis, quanto movimentos sociais e sindicatos, além de estudantes e seus familiares estão participando de mobilizações para impedir o fechamento de escolas, a superlotação de salas, a demissão de professores temporários e a transferência de cerca de 1 milhão de alunos, segundo avaliação do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
A mudança foi anunciada pelo secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, em entrevista ao telejornal Bom Dia São Paulo, da Rede Globo, no dia 22 de setembro. A ideia é separar totalmente os alunos das escolas estaduais por ciclo – fundamental I, fundamental II e médio –, o que vai levar ao fechamento de, pelo menos, 163 escolas, segundo levantamento da Apeoesp.
“O movimento é para que escolas de três ciclos não existam mais e se aumentem as de ciclo único. A mãe que tem um filho de sete, oito anos tenha tranquilidade para que ele esteja em escola com crianças da idade dele”, afirmou Voorwald. O secretário também justificou que com esse modelo “o aprendizado ocorre melhor, a formação do professor ocorre melhor”.
Os docentes consideram que a medida não trará benefício para estudantes, professores ou famílias, ao contrário. “Não há nesta reorganização nenhuma preocupação pedagógica. Ela é uma mudança física, descolada de um verdadeiro projeto educacional. Vai desorganizar a rede pública. A secretaria devia valorizar os professores, resolver os problemas estruturais das escolas, reduzir o número de alunos por sala, o que asseguraria melhor condição de trabalho aos professores e de aprendizagem aos estudantes”, defendeu a presidenta da Apeoesp, Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel.
O aluno L.N., de 15 anos, da Escola Estadual Fernão Dias, em Pinheiros, zona oeste da capital paulista, acredita que as salas de aula vão virar “latas de sardinha” com a reorganização. “Hoje a minha sala já tem 40 alunos. Minha escola vai receber várias turmas de ensino médio de outras da região. Vai ficar um inferno. Não estamos brincando. Se não parar a reorganização não vamos sair das ruas”, afirmou.
Alguns alunos não terão a mesma sorte de permanecer na escola que estão. P.R.L., de 12 anos, estudante da Escola Estadual Professor Eurico Figueiredo, no Jaçanã, zona norte, ainda não sabe onde vai estudar no próximo ano e considera um absurdo o que está sendo feito. “Ele vai fechar uma escola boa. Nós gostamos de estudar lá. O governador devia parar com isso, porque senão esse protesto de hoje só vai piorar”, garantiu.
“O maior problema é que ninguém sabe exatamente o que significa a reorganização”, destacou a presidenta da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), Ângela Meyer. Ela acredita que a mobilização tende a crescer conforme mais alunos forem notificados das mudanças e que os estudantes vão conseguir “barrar a desorganização”. “Este seria o momento de reduzir o número de estudantes por sala, por exemplo, melhorando as condições de professores e alunos”, disse.
O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) abriu um inquérito civil para cobrar explicações do governo Alckmin sobre a iniciativa. Também a Defensoria Pública solicitou informações à Secretaria de Estado da Educação sobre a reestruturação. Os processos estão em andamento.
Os educadores temem também que ocorra um novo processo de fechamento de classes, desempregando ainda mais professores. No início deste ano foram fechadas pelo menos 3.390 salas de aula no estado. E muitas escolas iniciaram o ano letivo com até 60 estudantes por classe, em turmas do ensino regular, e até cem estudantes por classe em turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA), segundo o sindicato.
Apesar dessa crise de superlotação no início do ano, o secretário Voorwald afirmou ao telejornal global que o estado de São Paulo tem 2 milhões de vagas ociosas. “O momento é absolutamente apropriado para isso porque houve redução de dois milhões de alunos na rede, a estrutura física que foi preparada há mais de 20 anos para receber 6 milhões de alunos em um processo de universalização, hoje, por conta da queda na taxa de natalidade viabiliza que eu tenha escolas ociosas. A rede foi desenvolvida para absorver até 6 milhões de alunos, hoje tem 4 milhões.”
São Paulo tem hoje 5.108 escolas, das quais 1.443 são de ciclo único, outras 3186 mantêm dois ciclos e 479 escolas têm três ciclos. Essas últimas devem ser transformadas em escolas de ciclo único, assim como grande parte das de dois ciclos.
Porém, os professores reivindicam que essa estrutura seja otimizada para propiciar a redução do número de alunos por sala. Eles defendem que o número máximo de alunos por classe seja de 20, em qualquer dos ciclos. Os docentes reclamam ainda que, da mesma forma que a proposta para o Plano Estadual da Educação apresentada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) à Assembleia Legislativa, esta medida foi anunciada sem nenhuma discussão prévia com a comunidade escolar, com a Apeoesp e demais entidades ou com outros setores sociais.
A proposta pode estar relacionada a dois pontos propostos no Plano Estadual da Educação: a transferência do ensino fundamental para os municípios (meta 21) e a reformulação do ensino médio para um sistema em que os estudantes possam escolher as matérias que vão estudar. Com as escolas tendo somente um tipo de ciclo, a implementação dessas medidas seria facilitada.
Em nota distribuída pela assessoria de imprensa no final da tarde, a Secretaria Estadual de Educação afirma que "as manifestações, embora legítimas, não podem desinformar e alimentar em pais e alunos falsos temores". E que "também não podem sobrepor o direito dos estudantes paulistas por uma educação de mais qualidade".
Ainda segundo a nota, "São Paulo tem atuado para a entrega de escolas melhores, com ambientes mais preparados para cada faixa etária e com profissionais capacitados para atender às necessidades destes estudantes. Manter os alunos da mesma idade juntos é prática comum de alguns dos melhores colégios do País e de países referência em educação".
"As informações, ainda não oficiais, propagadas por um sindicato com claras pretensões políticas tenta mais uma vez inviabilizar melhores condições aos alunos e também aos profissionais da rede estadual. A Secretaria lamenta e garante que permanecerá atuando por meio do diálogo com os educadores e compromisso com o ensino."
Saiba mais:

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Ciro: FHC vendeu o país e a alma E quebrou o Brasil por causa da reeleição (que comprou)

por José Gilbert Arruda Martins

Em vídeo, Ciro Gomes (PDT - CE), fala sobre como FHC vendeu o Brasil e comprou a reeleição na década de 1990. Veja:



Para especialistas brasileiros, o desmonte do Estado feito na década de 90 por FHC do PSDB-SP, fou o segundo maior desmonte de uma Estado na História. Só perdeu para o desmonte da Ex- URSS.

o Filme, Privatizações: A distopia do Capital, mostra de forma clara e explicativa o desmonte.

Você precisa ver.

Mesmo que seja um coxinha, você precisa parar um pouco com o ódio e assistir.

Talvez, agora entendendo melhor quem você defende, fique mais consciente de que está do lado errado, pelo menos os coxinhas de origem pobre.

Que é isso professor, coxinha de origem pobre?

É isso mesmo, uma parte dos "cabeças de vento" que pedem intervenção militar e impeachment é formada por pessoas pobres, negros e da periferia.

O que é isso professor?

É isso, pesquisar que verás!!!

REVOLUÇÃO - Haddad desapropria edifício Prestes Maia e vai destiná-lo à moradia popular

na Rede Brasil Atual
Após quase 30 anos abandonado, imóvel será reformado e abrigará famílias que ocupam o local desde 2010


prestes maia
Edifício Prestes Maia abriga aproximadamente 1.500 pessoas e vai se tornar a moradia definitiva delas



São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), anunciou sábado (17) que a prefeitura desapropriou o edifício Prestes Maia, no centro de São Paulo, e vai destiná-lo à moradia das famílias que já ocupam o local. O prédio de 22 andares é considerado a segunda maior ocupação vertical da América Latina, menor apenas que a Torre de David, na Venezuela. “Fechamos na sexta-feira (16) o acordo com os antigos proprietários e agora vamos fazer um acordo com os ocupantes para que ele possa servir ao Minha Casa,Minha Vida”, afirmou Haddad. O custo da negociação foi de R$ 22 milhões.
O prédio deverá ser desocupado para passar por uma reforma e ser entregue de volta às 378 famílias que ocupam o local. Para adquirir os apartamentos, elas deverão ser incluídas na faixa do Minha Casa, Minha Vida que atende a famílias com renda de zero a três salários mínimos, cujas prestações são no valor de até 10% da renda, durante dez anos, com prestação mínima de R$ 50. O registro do imóvel fica em nome da mulher e os beneficiários não podem ter participado de outros programas de habitação social do governo.
Os moradores do Prestes Mais estiveram próximos de sofrer uma reintegração de posse no último dia 3, mas a Justiça suspendeu a ação considerando que estavam avançadas as negociações para desapropriá-lo. O Decreto de Interesse Social da prefeitura data de agosto de 2013.
O edifício foi construído nos anos 1960 e está abandonado há cerca de 30 anosO Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) não é pago desde 1986, acumulando uma dívida de aproximadamente R$ 9,1 milhões. O valor venal do imóvel, utilizado para cálculo do imposto, está estimado em R$ 6,5 milhões, mas o proprietário, Jorge Nacle Hamuche, queria R$ 26 milhões pela desapropriação.
A primeira ocupação do Prestes Maia ocorreu em 2002 e durou cinco anos, porém, os moradores foramdespejadosDesde então, foram várias ocupações e reintegrações de posse. A atual se iniciou em 2010 e é coordenada pelo Movimento Sem Teto do Centro (MSTC). 
A coordenadora do MSTC Ivaneti Araújo comemorou a notícia. “Obrigado meu Deus. Quero expor minha alegria, depois de tantas lutas, tantas lágrimas derramadas, estamos aqui com essa vitória linda em nossas mãos. Demos um passo historicamente significativo. Enfim, o Prestes Maia foi comprado”, desabafou nas redes sociais. O edifício fica no número 911 da Avenida Prestes Maia, próximo da estação da Luz e da Pinacoteca do Estado.
Saiba mais:

Vladimir Herzog e a sanha do mal no combate à liberdade

na Rede Brasil Atual
Quem matou Vlado naquela manhã infame de 25 de outubro de 1975, nos porões do DOI-Codi, em São Paulo, queria matar suas ideias, sua crença na liberdade e na prevalência do ideal de justiça
por Mauro Santayana, em seu blog 


VLADO
Seu assassino recolheu-se, na história, ao submundo dos psicopatas sádicos e doentes, sabujos do autoritarismo

Amanhã, terça-feira, 20 de outubro, às 20h, no Teatro da Universidade Católica, o Tuca, será realizada, em São Paulo, a cerimônia de entrega do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Jornalismo, do qual tenho a honra de ser um dos agraciados. A história da origem de Vladimir Herzog e de sua morte está registrada no livro do meu amigo e companheiro de profissão Audálio Dantas, AsDuas Guerras de Vlado Herzog – da perseguição nazista à morte sob tortura no Brasil.
Judeu, socialista, nascido na Croácia, com o mesmo prenome de Lênin – embora brasileiro como poucos, a ponto de deixar a segurança do exílio em Londres para voltar para o Brasil em plena ditadura – intelectual e não um brutamontes, aparentemente frágil em sua compleição física, mas fortíssimo – principalmente em seus derradeiros instantes – em seu caráter e suas convicções, Vlado reunia em sua pessoa tudo o que os seus torturadores odiavam mais caninamente.
Por isso, a intenção era expô-lo publicamente, depois de extrair-lhe uma suposta “confissão”, fazendo com que assumisse coisas que não havia feito, delatasse amigos, acusando-os de terem feito coisas que não haviam feito, que renegasse suas convicções – como outros judeus faziam antes, quebrados, destruídos, a caminho de serem queimados na fogueira, diante de seus algozes da Santa Inquisição – reforçando, como “arrependido”, a tese da existência de uma conspiração comunista e antinacional no Brasil, o que justificaria ainda mais prisões, mais assassinatos, mais torturas.
Quem matou Vlado, naquela manhã infame 25 de outubro de 1975, nos porões do DOI-Codi, em São Paulo – forjando a absurda tese de seu suicídio, pendurado, pelo pescoço, quase que de joelhos, pelo cinto, a uma altura de pouco mais de um metro da janela da cela em que o colocaram, queria matar as suas ideias, o seu passado, a sua visão de mundo: sua crença na liberdade, na prevalência do ideal de justiça e do direito de opinião, mesmo quando mergulhado na mais absurda situação de barbárie, nas mãos de quem podia espancá-lo e matá-lo, caso não se dobrasse à sua vontade, como com ele fizeram.
Como outros covardes daquela época, extremamente machos diante de presos desarmados e indefesos (muitos, como Vlado, ali tinham comparecido de moto próprio, por intimação, sem nunca ter pegado em armas), seu assassino escondeu-se depois no anonimato, reunindo-se, na história, ao submundo sombrio dos psicopatas sádicos e doentes que servem como reserva de sabujos para o autoritarismo.
Enquanto o menino croata que escapou do nazismo aos 6 anos, para morrer nas mãos dos carrascos do país para o qual veio em busca de dignidade e liberdade, continuará, agora, e no futuro, como um símbolo e um poderoso marco do que existe de melhor no ser humano.

Ruralistas tentam aprovar sementes estéreis

no Portal do MST
"A bancada ruralista avalia que chegou o momento de enfiar goela abaixo da população os pontos mais nocivos da pauta dos capitais do agronegócio para os quais militam diuturnamente", escreve Gerson Teixeira.
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Por Gerson Teixeira
Do Outras Palavras

Tirando proveito da perda de influência do PT no governo e, em contrapartida, da crescente hegemonia do PMDB num governo fragilizado na opinião pública, e do controle absoluto do mesmo PMDB sobre as duas casas do Congresso, a bancada ruralista avalia que chegou o momento de enfiar goela abaixo da população os pontos mais nocivos da pauta dos capitais do agronegócio para os quais militam diuturnamente.

Há pouco, aprovaram a ratificação de ofício dos títulos das grandes extensões de terras na faixa de fronteira. Pautaram para votação em regime de urgência, no plenário da Câmara, o projeto de lei (PL) que subscrevem, propondo a plena liberalização do acesso à terra no Brasil por estrangeiros. Por meio de Comissão Especial recentemente criada pelo deputado Eduardo Cunha, iniciaram o processo de alteração da legislação sobre proteção de cultivares, de modo a adequar a legislação vigente ao padrão UPOV 1991. Com a eficácia dessa iniciativa, a proteção intelectual não se dará mais sobre as sementes, e sim, sobre os grãos. Também estão conseguindo celeridade à proposta de emenda constitucional (PEC) 215, entre outras ações do gênero.

Neste momento, pautaram para votação na Comissão de Agricultura, o projeto de lei (PL) 1117, de 2015, do deputado Alceu Moreira, do PMDB do Rio Grande do Sul, propondo alterações na Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105, de 2005) e na lei que liberou os transgênicos, para aprovar a as tecnologias genéticas de restrição de uso na agricultura (GURT).

Trata-se da terceira tentativa dos ruralistas, afora iniciativa similar do ex-deputado Cândido Vacarezza, de introduzir, no Brasil, a semente “terminator”. Consta que, em todos os casos, as proposições foram formuladas por funcionários da Monsanto.

Vale frisar que, neste momento, como ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que foi a autora do primeiro PL sobre o tema em 2005. Com a poderosa influência da ministra no governo, mais a presidência da Comissão de Agricultura nas mãos do seu filho, somado, ainda, às presidências da Câmara dos Deputados e do Senado por seus correligionários, temos, na atualidade, um cenário de “céu de brigadeiro” para o processo legislativo da matéria.

Conforme dito, em 2005 a atual ministra da Agricultura, então deputada, apresentou o Projeto de Lei nº 5.964, propondo a liberação da utilização das tecnologias genéticas de restrição de uso no Brasil. O PL foi aprovado na Comissão de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural e rejeitado na Comissão de Meio Ambiente, sendo arquivado em 2007. Naquele ano, o então deputado Eduardo Sciarra (PSD-PR) reapresentou o PL, que só não foi aprovado em 2009 graças às atuações dos movimentos sociais e de vários parlamentares na Comissão de Constituição e Justiça, tendo à frente o PT.

Com a combinação das mudanças na legislação sobre cultivares com o terminator entraremos no “estágio armagedon” da modernização conservadora da agricultura iniciada na década de 1970. Daí em diante será utopia a soberania alimentar do país, bem como a preservação da biodiversidade. Tampouco teremos a perspectiva de um padrão diferenciado de agricultura.

O projeto do deputado Alceu Moreira, ao reeditar os termos dos PLs anteriores, impede a utilização, a comercialização, o registro, o patenteamento e licenciamento de sementes que contenham tecnologias genéticas de restrição de uso, salvo nos casos de “plantas biorreatoras” e plantas que possam ser multiplicadas vegetativamente. Exceto, também, quando o uso da tecnologia comprovadamente constituir uma medida de biossegurança benéfica à realização da atividade. Bem, neste último caso, tudo passará a ser “benéfico para a atividade”. Até porque, uma das providências do PL é a de deslocar para a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) o poder disciplinador sobre o assunto, que na atualidade é regido pelo Regulamento da Lei de Biossegurança.

Assim, a suposta manutenção da proibição da semente terminator para alimentos é puro engodo, pois na prática estarão espalhadas várias culturas contaminando inteiramente as demais plantas. A este respeito vale informar que em 2005, a Federação de Cientistas alemães apresentou à Convenção de Diversidade Biológica um parecer concluindo que: “que plantas com tecnologias genéticas de restrição de uso (GURTs, em inglês) produzem pólen genéticamente modificado capaz de fertilizar cultivos próximos e plantas silvestres ou invasoras aparentadas.

Os transgenes contidos no pólen geneticamente modificado e (potencialmente) qualquer proteína expressada por esses genes estarão, assim, presentes na semente da polinização cruzada, independentemente se essa semente se tornou estéril”.

Na realidade, as pressões das multinacionais pela liberação de sementes terminator, visaram, visam e visarão, sempre, o impedimento da reprodução das sementes por terceiros, incluindo os próprios agricultores. Isto estaria assegurado via imposição de uma espécie de “patente biológica”, mais difícil de “piratear” do que no caso da patente jurídica.

Sobre o assunto, vale registrar que grande parte dos 1,45 bilhão de agricultores, em todo o mundo — principalmente agricultores de pequena escala — dependem da semente colhida como principal fonte de sementes para o novo ciclo agrícola. Calcula-se que cerca de 60% das sementes utilizadas pelos agricultores brasileiros são guardadas de uma safra para a outra.

Com o ‘terminator’ estes agricultores estarão na dependência total de fontes externas de suprimento desse insumo, pondo fim, assim, à prática milenar de seleção, melhoramento e troca de sementes entre agricultores de pequena escala, comunidades indígenas e tradicionais, que constituem um verdadeiro seguro de países como Brasil para a segurança alimentar e para a preservação da biodiversidade.

A alegação de supostas vantagens para a biossegurança, com a utilização de plantas estéreis, não passa de ardiloso recurso adicional de marketing das multinacionais em seu lobby contra a moratória dessas tecnologias na Convenção da Biodiversidade. Na verdade, tais vantagens não se confirmam na prática, pois, como afirmamos, antes, existe sim polinização cruzada com outras variedades da espécie, cujas sementes poderão não ser estéreis. Como a característica de restrição ao uso envolve um complexo de muitos genes, ela dificilmente será transmitida por completo (junto com o gene “de interesse” tipo inseticida) no cruzamento fortuito ou aleatório com outras plantas na natureza. A transmissão vai acontecer de maneira imprevisível e incontrolável, fazendo com que a presença do complexo genético terminator no campo (inclusive dos tais “biorreatores”) seja muito mais um risco do que uma garantia para a biossegurança.

Corroborando a avaliação acima, o “Grupo Ad Hoc de Especialistas Técnicos sobre Tecnologias de Restrição de Uso Genético”, formado para assessorar a Convenção sobre Diversidade Biológica apontou em seu relatório que: “…as plantas GURTs produzem pólen geneticamente modificado capaz de fertilizar cultivos próximos e plantas silvestres ou invasoras aparentadas. Os transgenes contidos no Pólen geneticamente modificado e (potencialmente) qualquer proteína expressa por esses genes estarão, assim, presentes na semente de polinização cruzada, independentemente se essa semente tornou-se estéril”.

Portanto, as tecnologias de restrição de uso impedem que a semente germine, mas não impedem a produção e dispersão de pólen. Dessa forma, a característica da esterilidade pode ser transmitida para outras plantas, inclusive para plantas silvestres.

Cumpre assinalar que a Conferência das Partes (COP-8) da Convenção da Biodiversidade, de 2006, em Curitiba, reafirmou a proibição ao plantio de sementes GURT adotada na COP-5. Apesar de as decisões dos países membros de uma convenção já em vigor não serem “vinculantes”, os países que as violam perdem respeito e credibilidade em futuras negociações, podendo ser cobrado pela “falha” por interlocutores inclusive em negociações sobre outros temas, sejam militares, comerciais, etc. Assim, no mínimo, é do interesse nacional que o Congresso não exponha o país a vexames ou se desmoralize internacionalmente, sendo aconselhável, neste caso, como em outros, que o Brasil mantenha a coerência entre compromissos assumidos junto a outras nações e sua própria legislação nacional.

As conseqüências da proposição em referência, na ampliação do monopólio transnacional das sementes seriam desastrosas para economia, para os agricultores e para a soberania nacional. Em um cenário onde 100% das sementes precisassem ser compradas pelos agricultores, no Brasil, somente no caso do milho, por exemplo, o gasto anual com sementes aumentaria de R$ 162 milhões para R$ 1,17 bilhão.

No caso do milho, a região mais penalizada com a obrigatoriedade de compra de sementes a cada safra seria o Nordeste. Desta forma, além de onerar significativamente a agricultura brasileira, a tecnologia terminator teria um impacto catastrófico nos segmentos mais pobres da população rural, conforme dito, antes.

Portanto, a modificação genética de plantas para produzir sementes estéreis tem sido objeto de ampla condenação pela sociedade civil, por organismos científicos e pelos governo s de numerosos países, por considerá-la, no mínimo, uma forma imoral e antiética de aplicação da biotecnologia. Não bastassem tais implicações para os interesses coletivos e da soberania nacional, a iniciativa mostra-se absolutamente inoportuna. Ocorre às vésperas da Convenção do Clima de Paris, onde a temática ambiental, em geral, será objeto das discussões e negociações pelos países membros da “COP do Clima”.

Nesses termos, recomenda-se, em primeiro lugar a luta pela distribuição do PL para a Comissão de Meio Ambiente. Alguém pode achar que foi descuido ou ignorância a não distribuição do PL para o Meio Ambiente? Também devemos lutar pela distribuição da matéria para a Comissão de Relações Exteriores pelas razões postas no texto.

De resto, cumpre aos paridos políticos e organizações de trabalhadores e da sociedade civil, em geral, comprometidos com os valores da soberania nacional e os demais interesses maiores da sociedade brasileira a mobilização contra mais esse ato de lesa pátria da bancada ruralista.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

“As 80 pessoas mais ricas do mundo têm mais dinheiro do que 3,5 bilhões de pessoas”, diz pesquisadora

no Portal do MST
Em entrevista ao Brasil de Fato, Silvia Ribeiro mostra que, ao contrário do que se pensa, a riqueza mundial cresceu 68% nos últimos dez anos, mas apenas 1% da população acumulou 95% da riqueza gerada.
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or Luiz Felipe Albuquerque
Do Brasil de Fato​

Nos últimos anos, notícias diárias retratam a grave crise econômica pela qual passa todo o mundo. Ao mesmo tempo, nos chegam notícias sobre recordes de lucratividade de alguns setores. O que explicaria algo que a princípio parece ser contraditório?

Para a pesquisadora Silvia Ribeiro, do Grupo ETC, não há nada paradoxal nesse processo. Ribeiro traz um cenário assustador ao demonstrar que nos últimos dez anos, apenas 1% da sociedade abocanharam 95% da riqueza gerada em todo o mundo.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Silvia Ribeiro explica quem são estes 1%, e afirma que estes mesmos setores são os principais responsáveis por uma das mais graves crises mundial: a mudança climática. O campeão dessa crise climática? Toda a cadeia produtiva do agronegócio.

Confira:

Muitos falam que estamos vivendo uma enorme crise econômica mundial, mas ao mesmo tempo vemos lucros cada vez maiores de determinadas empresas. O que explicaria esse paradoxo?

Temos muitas crises. A crise econômica de 2008, a crise ambiental, social e climática. Em relação à crise financeira, alguns grandes grupos econômicos perderam e instituições desaparecem, mas outras se fizeram mais fortes e poderosas comprando estas e outras empresas.

O resgate bancário que se faz com a crise favorece enormemente os bancos muito poderosos, que recebem cifras bilionárias de dinheiro público. Vivemos na maior desigualdade que se conhece na história.

1% da população mais rica do mundo tem 50% da riqueza mundial. Por outro lado, e mais impactante, é que as 80 pessoas mais ricas do planeta tem a mesma quantidade de dinheiro que as 3,5 bilhões de pessoas mais pobres, ou seja, a metade do mundo. 80% de toda humanidade só tem 5,5% da riqueza.

A crise foi manejada pelos Estados para salvar os ricos. Além de dar dinheiro, as empresas tem tudo a seu favor para manipular e capitar novas formas de lucro que são geradas depois da crise.

Ao contrário do que as pessoas pensam, a riqueza mundial cresceu 68% nos últimos 10 anos, mas 95% da riqueza gerada foram apropriadas por apenas 1% da sociedade. O resto da população ficou mais pobre, com trabalho mais precarizado e desempregados. As “pessoas comuns” vivem a crise, mas paradoxalmente a crise foi uma oportunidade para os mais ricos se apropriarem de mais dinheiro e de mais recursos, eliminando concorrências.

E quem são estes 1% mais ricos?

Dados da Revista Fortune mostram que das 100 maiores economias do planeta, 40 são empresas e 60 são países. Ou seja, 40 empresas tem mais dinheiro do que a maioria dos países.

Quando vemos quais são as maiores empresas do mundo, percebemos que a maioria são empresas de energia, sobretudo as petroleiras, de transporte e algumas exceções, como poucas empresas de tecnologia e alguns bancos.

As 12 principais empresas coincidem exatamente com os dados que tem provocado o maior desequilíbrio ambiental global, que é a mudança climática. Trata-se do sistema agroalimentar industrial, da geração e extração de energia e transporte. Esses três setores são os principais causadores da mudança climática.

Porém, das 12 principais empresas, a maior de todas é o supermercado Walmart. Isso nunca havia acontecido. É a primeira vez que o Walmart está em primeiro lugar. É uma empresa de serviços e o maior empregador privado do mundo. E isso tem uma série de significados.

Leia mais:

E quais seriam?

O capitalismo tende a concentrar, e um dos setores que mais tiveram concentração foram as empresas agroalimentar. Desapareceram as empresas de sementes, de processamento, e hoje em dia temos 20 empresas que controlam a maior parte do mercado de alimentos, desde a produção de sementes aos supermercados.

Desde 2009, o maior mercado do mundo é o agroalimentar industrial, passando o mercado de energia, que foi o maior durante todo o século 20.

Isso tem a ver com a industrialização da comida, o processo agro alimentar e a expulsão das pessoas do campo. Esse tipo de empreendimento só pode se concentrar em locais com grandes concentrações urbanas.

Além disso, o Walmart significa “Walmartização” do mercado de trabalho. O Walmart proibiu a sindicalização, e as pessoas que trabalham na empresa são sócias, e não empregadas. É uma das empresas que tem maior quantidade de demandas por motivos de discriminação trabalhista, físico, sexual, etc. Nos EUA, por exemplo, a empresa conseguiu baixar o salário de seus funcionários em quase 30%.

Porém, o Walmart tem a imagem do que se pretende o modelo capitalista de consumo, em que nada é fresco e tudo passa por um processamento, de embalagem, refrigeração, etc.

Entretanto, é muito significativo que o Walmart seja a primeira empresa do mundo, porque ele trabalha com algo de que não poderíamos abrir mão na nossa vida: a comida. Não é somente o maior mercado do mundo, mas é essencial por ser um mercado que não pode deixar de existir. Ele se apropria de um setor chave da sociedade, e está na ponta da cadeia agro alimentar.

Hoje em dia temos dois grandes paradigmas do modelo. Um é a Monsanto, e do outro lado está o Walmart. A Monsanto se apropria de todo o início da cadeia, como as sementes - e que agora está tentando comprar a Syngenta, a maior fabricante de agrotóxicos do mundo, o que daria a ela um controle quase total do início da cadeia -, e do outro está o Walmart, que é tão grande que pode colocar condições a todo o resto da cadeia.


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Por ser um dos maiores setores do mundo, esse sistema agro alimentar também seria um dos maiores causadores dos problemas ambientais?

A mudança climática é um dos mais graves problemas ambientais do mundo. No último século, já aumentamos 1°C a temperatura média da terra, e a projeção é que aumente de 4°C a 5°C.

Isso é devastador do ponto de vista ambiental e dos impactos que terão sobre o ecossistema e na forma de subsistência da vida humana. Já há dezenas de milhares de migrantes climáticos no mundo, e a Organização Mundial da Migração já disse que a mudança climática será um dos fatores que fará crescer muito o número de migrantes.

A Terra levou bilhões de anos para equilibrar o clima para que existisse vida. Mas nosso sistema econômico e político desequilibrou o clima em apenas 100 anos, a um ponto difícil de controlar. E isso tem a ver, sobretudo, com a emissão de gases de efeito estufa.

Essas emissões são o ponto 1 para entender porque o clima é um paradigma tão importante. Conhece perfeitamente as causas das mudanças climáticas. O IPCC identifica três grandes setores que são os principais: 25% é a extração e produção de energia; o segundo, com 24%, é a agricultura industrial e toda a mudança do uso do solo e o desmatamento, e 14% o transporte.

Porém, a Via Campesina e Grupo ETC, fizemos um trabalho de analisar esses dados de outra maneira. Nos perguntamos: quem usa a energia, quem usa os transportes e porque se produz o desmatamento?

Quase 85% do desmatamento é para a expansão da fronteira agrícola. Ou seja, não se trata apenas de um problema de desmatamento, mas um problema que está vinculado à expansão da fronteira agrícola.

A maioria da emissão de metano, por exemplo, tem a ver com a comida agroindustrial. Na comida dos mercados locais não há embalagens como nos convencionais, ela não vai parar no lixo, mas num composto, se recicla, etc. 75% do corte de árvores no mundo se transforma em embalagens.

Quando começa a identificar quem usa os transportes, as embalagens, quem provoca a deflorestação, vemos que o que está por trás é o sistema alimentar agroindustrial. Da Monsanto ao Walmart. Este sistema provoca entre 44% a 57% dos gases de efeito estufa.


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Mas ele não é essencial à vida humana?

O sistema alimentar agroindustrial alimenta apenas 30% da população mundial, mas se utiliza de 75% a 80% das terras agrícolas do mundo, de 70 a 80% da água e dos combustíveis de uso agrícola. Além disso, todas as sementes que se utilizam neste sistema são patenteadas e pertencem a uma empresa. Não há nenhum agrotóxico no planeta que não seja de uma empresa transnacional. As dez maiores empresas tem 95% de todo mercado mundial.

Do outro lado temos um dos melhores exemplos que são as redes de alimentação camponesa, que incluem pescadores, ribeirinhos, hortas urbanas, etc. Este sistema tem apenas 25% da terra agrícola no mundo e alimenta 70% da população mundial, com apenas 30% dos recursos hídricos e 20% dos combustíveis.

Ele não apenas oferece mais alimento, mas se tivesse mais terra - por isso a reforma agrária segue sendo um problema fundamental -, apoios mínimos, poderiam produzir muito mais, já que com as condições tão desfavoráveis, num processo quase de guerra contra os camponeses, se produz tanto.

E o que estas grandes corporações tem dito frente a estas questões?

A única propostas das grandes corporações para a saída da crise climática é o que chamamos de falsas soluções. São soluções tecnológicas muito negativas, como os transgênicos e os agrotóxicos, que eles chamam de “intensificação sustentável”.

São medidas tecnológicas extremamente perigosas e completamente falsas. Um exemplo é o mercado de carbono. Dizem que diminuirão as emissões, mas seguem aumentando o tempo todo. São apenas novos fatores especulativos, que permitem com que os capitalistas privatizem até mesmo o ar.

Ainda que pareça loucura, em lugar de ir às causas do problema, as empresas estão apresentando propostas sobre a manipulação do clima. O efeito estufa, por exemplo, é uma relação entre os gases que formam uma capa e não deixa os raios solares saírem. Para isso há a proposta de se criar nuvens vulcânicas artificiais para tapar os raios de sol para que não cheguem tanto no solo; fazer cultivos transgênicos brilhantes para que reflita o sol, ou branquear as nuvens para refletir o sol.

Se estas propostas forem efetivadas, mudaria os padrões de chuva e vento e a temperatura baixaria, mas as monções na Ásia, por exemplo, perderiam sua intensidade, e mudaria todo o sistema agrícola da região, e ao mudar a precipitação, mudaria os ventos na África.

Outra proposta é como sacar os gases que estão em excesso com meios tecnológicos. A indústria petroleira está propondo em retirar o dióxido de carbono e enterrá-lo a mais de 1.500 metros de profundidade em poços de petróleo e em minas esgotadas. Esse é um dos métodos que irão propor na Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP21), que irá acontecer em dezembro, em Paris.

Isso serve à indústria porque já é uma técnica petroleira. Os poços de petróleo têm 20% a 25% de reservas que não pode ser retirada por estarem tão profundas. Mas com o dióxido de carbono seria possível injetar e empurrar essa reserva para que ela saísse. Apenas não a usavam porque é muito cara.

Porém, poderiam vendê-la como uma solução para o clima. Isso significa que eles estão pedindo aos governos para que paguem as instalações. Os governos não só pagariam as instalações, como as empresas retirariam mais reservas de petróleo e cobrariam créditos de carbono para enterrarem os gases.

Isso levaria a uma nova onda de concentração de terra, e mesmo que fizessem isso em todos os poços do mundo, não seria suficiente para retirar os gases da atmosfera. Além disso, o dióxido de carbono teria que ficar ali para sempre, mas para a empresa não importa se ele sairá dentro de um, dez ou vinte anos. Isso é uma manobra para que eles tenham subsídios, retirem mais petróleo e depois diriam: com isso não foi possível, agora precisamos da Neo Engenharia, que é a manipulação do clima.
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Diante desse quadro, quais seriam as alternativas?

Os movimentos sociais têm debatido soluções reais e possíveis a um dos problemas mais graves do planeta, que é a crise climática. Há dez anos a Via Campesina começou a dizer que os camponeses esfriam o planeta. Um dos maiores fatores de absorção do dióxido de carbono são os solos. Imediatamente, os empresários disseram: “vamos comprar solos para absorver o gás”.

Porém, para o que o solo absorva e retenha o dióxido de carbono é preciso que ele seja manejado, o que precisa de gente, e isso só os camponeses podem oferecer. Além do mais, são os camponeses que conhecem, literalmente, milhares variedades de sementes, espécies de plantas, árvores, etc, o que pode dar resposta às mudanças climáticas.

Os movimentos mais vivos da terra são os movimentos que tem a ver com a defesa da cultura, da comunidade, dos territórios e a luta pela terra. Não quero dizer sozinhos resolveriam tudo, claro que precisamos de uma articulação muito mais ampla.

A Via Campesina é o maior movimento da história do mundo, desde a quantidade de gente, números de países e que, ademais, tem um elemento fundamental: não tem apenas soluções, mas já a executam.

Um dos maiores desafios é derrubar mitos: o mito de que a agricultura industrial é quem nos alimenta, e que sem ela não seria possível alimentar o planeta. Não necessitamos de grandes desenvolvimentos industriais e fontes de energia para termos uma boa vida, inclusive a que temos agora, o problema é que não somos nós que estamos usando a maior parte dos recursos, mas sim uma minoria.

Professores dão dicas para última semana de estudo antes do Enem

no Portal Vermelho

A poucos dias das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), não é hora de aprender novos conteúdos, mas sim de revisar aquilo que já se domina. Essa é a dica do professor de química Paulo Santos. "Neste momento, o estudante tem que priorizar aquilo que tem algum tipo de domínio e fazer aquele ajuste final", orienta ele, que leciona num cursinho preparatório para o Enem e o Programa de Avaliação Seriada (PAS), em Brasília.

 


No próximo fim de semana, nos dias 24 e 25, estudantes de todo o país farão as provas do Enem. Mais de 7,7 milhões de candidatos se inscreveram. A Agência Brasil e o Portal EBC conversaram com professores para saber o que os alunos devem priorizar nos últimos dias de estudo e que temas têm mais chances de aparecer nas questões.

Além da revisão, a dica de Santos é que os alunos resolvam provas de anos anteriores como forma de treino, pois muitos temas são recorrentes. "É a melhor estratégia de todas. O aluno vai se habituando à linguagem e vai aprendendo os processos cognitivos que o Enem desenvolve dentro daquele assunto", disse. Ele lembra também outros aspectos que os estudantes podem encontrar na prova de química. “Em química, aparecem muitas questões sobre equilíbrio químico, reconhecimento de funções orgânicas”. Santos destaca também que as questões sociais são bastante abordadas. “Até na ciência da natureza esse aspecto nunca é deixado de lado. A relação do homem com o meio, como pode modificar o seu meio em prol econômico, ambiental e social.”

Refazer provas

Coordenador de um curso pré-vestibular em Brasília, Paulo Perez concorda com a estratégia. “Fazer provas anteriores é o melhor caminho para a preparação. O [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira] Inep disponibiliza todas as provas no site dele, com os gabaritos. O aluno pode fazer a prova e ver o que errou. [Pode] procurar, nesta última hora, caso um assunto se repita com frequência, ir atrás do assunto para treinar.”

Perez destaca também que a prova exige que os alunos coloquem em prática o conteúdo que aprenderam dentro de sala de aula e, por isso, as conhecidas “decorebas” acabam não ajudando tanto. “É uma prova de leitura, de saber ler e interpretar. É uma prova muito mais de saber resolver os problemas com as ferramentas que ele aprendeu no ensino médio do que de decoreba e conteudista”.

Outra dica importante dos professores é ter uma estratégia para responder às questões e ganhar tempo. “Uma dica que serve para qualquer prova: leia antes o enunciado. Primeiro comece pelo comando, pela situação problema. Depois de ler o enunciado você vai fazer uma leitura do texto com mais foco, mais objetivo. Tempo no Enem é crucial”, acrescenta Perez.

Ele lembra ainda que em português, questões que tratam de figuras de linguagem e gêneros textuais têm sido frequentes. Já em matemática o estudante deve deparar com porcentagens, probabilidade, conversão de medidas e leitura de gráficos, por exemplo. Em física, temas relacionados com energia estão entre as apostas. “Em história, com certeza [as questões vão abordar] história do Brasil, Era Vargas, escravidão, os direitos civis e políticos, as novas conquistas, as conquistas das mulheres. Na geografia, a geografia da agricultura, a estrutura fundiária, os conflitos sociais, fontes de energia, e água”, completa Perez.

Biologia

Mas quais são os temas que podem cair na prova e merecem a atenção dos candidatos? O professor de biologia Guga, também de Brasília, aposta que a ecologia será uma das temáticas. Ele destacou os problemas ambientais como possíveis temas.

“Sugiro que [o aluno] dê uma atenção especial à ecologia e sobretudo estude bastante os desequilíbrios ambientais”, disse ao ressaltar a eutrofização e as ilhas de calor. Segundo o professor, outros temas são recorrentes nas provas. “Depois vem biologia celular, fisiologia e genética. São as quatro frentes de biologia que você vai ter em maior número de questões na sua prova.”

Os professores lembram que a prova já está pronta há algum tempo e, por isso, temas que vêm sendo destaque somente nas últimas semanas provavelmente não serão abordados.

Para ajudar os candidatos a se preparar para o Enem, a EBC preparou o aplicativo Questões Enem que reúne todas as questões desde a edição de 2009. No sistema, é possível escolher as áreas do conhecimento que se quer estudar. O acesso é gratuito.
 

Fonte: Agência Brasil

TV Senado mostra a luta pela adoção do voto feminino no país

no Portal Vermelho

A TV Senado exibe, neste final de semana, o oitavo episódio da série Senado na História, que trata dos debates ocorridos durante a República Velha (1889-1930) sobre o direito das mulheres participarem da vida política do país. A pressão de mulheres como Bertha Lutz, criadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), e Leolinda Daltro, fundadora do Partido Republicano Feminino, transformou a política e trouxe para o Senado a discussão sobre a participação feminina. 


O documentário mostra a história da luta pela cidadania das mulheres brasileiras. 
O documentário mostra a história da luta pela cidadania das mulheres brasileiras. 


Agência Senado

O documentário, dirigido por José Geraldo Coêlho e produzido por Lorena Maria, mostra que a Proclamação da República não pôs fim às estruturas de controle e exclusão que prevaleceram no período imperial. Além das mulheres, os analfabetos, os ex-escravos e os pobres eram impedidos de votar.

Depoimentos das historiadoras Lucília de Almeida Neves e Ane Cajado e da feminista Schuma Schumaher, coautora do livro As Herdeiras das sufragistas, detalham a história da luta pela cidadania das mulheres brasileiras.

No programa, são exibidos documentos originais do Arquivo do Senado Federal — como o abaixo-assinado da FBPF, entregue em 1927 com mais de duas mil assinaturas — e cenas de filmes históricos.