sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Aldo Fornazieri: 'Aécio Neves é um elemento perigoso para a democracia brasileira'


Helder Lima - Rede Brasil Atual

Lula Marques
São Paulo – Para o diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), Aldo Fornazieri, a tentativa de impeachment da presidenta Dilma Rousseff é alimentada pelo candidato da oposição nas eleições de 2014. “É um inconformismo de Aécio Neves (PSDB-MG), que é uma pessoa aparentemente dotada do sentimento de egoísmo, do poder pelo poder, de uma ambição absurda, e uma pessoa que não se conforma pelos resultados ditados pelo povo. É um elemento perigoso para a democracia brasileira”, afirmou Fornazieri nesta quarta-feira (14), em entrevista à RBA.

Fornazieri destaca as duas frentes que sustentam a perspectiva de golpe: no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde os tucanos querem cassar a chapa Dilma-Temer, e na Câmara, com o processo de impeachment propriamente dito. Mas, para Fornazieri, esses questionamentos são superficiais. “Decorrem de uma luta pelo poder sem escrúpulos, na medida em que não existe um fundamento legal para ter um impeachment, e na medida em que o próprio TSE havia aprovado as contas da Dilma”.

Nesta entrevista, o acadêmico analisa também a fragilidade do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cujas provas de corrupção são contundentes, e fala do papel do Superior Tribunal Federal (STF), que proibiu a doação de empresas para campanhas política. “O STF passou a legislar, embora de forma indesejável, porque quem deveria fazer uma reforma política é o Congresso, mas na medida em que o Congresso não funciona, virou uma casa de negociatas políticas e de tráfico político, o STF passa a legislar de certa forma ferindo o próprio principio republicano de separação de poderes. Infelizmente essa é a situação.”

Confira a íntegra da entrevista:

Quanto dessa crise pode estar vindo de uma manipulação midiática?

A crise atual tem alguns aspectos complexos. Em primeiro lugar, existe uma crise ética no Brasil por conta dos escândalos na Petrobras. Aprofundou-se na sociedade a ideia de que toda estrutura política é corrupta e de que os partidos não têm legitimidade, nem as instituições. Existe também uma crise política, que tem muito de artificial, porque é evidente que o governo Dilma cometeu erros, porém, a partir desses erros, a oposição, particularmente Aécio Neves (PSDB-MG), inconformado com a derrota, quer a presidência a qualquer custo. Ele está insuflando uma crise artificial.

Essa crise envolve dois movimentos. O primeiro é a ação do PSDB no TSE querendo cassar a chapa Dilma-Temer para ter uma nova eleição. O segundo é o processo de impeachment na Câmara dos Deputados. Essas questões são artificiais. E elas decorrem de uma luta pelo poder sem escrúpulos, na medida em que não existe um fundamento legal para ter um impeachment, e na medida em que o próprio TSE havia aprovado as contas da Dilma.

Junto de Aécio estão outros líderes da oposição, está o próprio Gilmar Mendes, que se tornou um conspirador, e aparentemente o próprio Augusto Nardes, do TCU, porque entendo que as questões das pedaladas fiscais são um problema que tem de ser corrigido, mas na medida em que FHC e Lula as praticaram, o TCU deveria ter feito um termo de ajustamento de conduta dizendo 'Olha, até agora vínhamos tolerando as pedaladas fiscais, mas de agora em diante não vamos mais tolerar'. E fazer com que o governo assumisse o compromisso de não praticar mais. Senão, você comete uma injustiça.

Então, por isso, há esses atores que estão criando uma crise artificial, que provoca instabilidade política e incertezas quanto ao futuro, com consequências graves na economia: empresas se endividam mais por conta da elevação da taxa de câmbio e têm de fechar diante de toda a incerteza. Isso vai criando desemprego.

Entendo que esses atores aí, Aécio Neves à frente da oposição, ministro Gilmar Mendes e Augusto Nardes estão provocando um desserviço ao Brasil. Estão conspirando não apenas contra o governo, mas contra o país, porque as consequências dessa crise política artificial na economia são graves, e quem mais perde é o povo, os trabalhadores.

Como o sr. vê a questão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que vinha como paladino da moralidade, agora está em uma situação ruim, com as provas contra ele que surgiram na operação Lava Jato. Ele tem condição moral de continuar o processo de impeachment?

Condições morais ele não tem, mas existe uma cruzada moral imoralista. Lideres corruptos querem se apresentar como paladinos da moralidade, e o Eduardo Cunha é um desses. No entanto, ele tem a prerrogativa constitucional de dar encaminhamento a um pedido de impeachment.

E ali há setores da oposição e setores do governo que não se pronunciam a favor da retirada dele. Por exemplo, a própria bancada do PT, mais de 20 deputados assinaram o pedido de abertura de processo na comissão de ética, mas o líder do PT, Sibá Machado, disse que não vai se pronunciar pela saída do Cunha. Então, tem todo um jogo de negociatas, e Eduardo Cunha se aproveita disso para fazer barganhas junto ao governo e barganhas junto à oposição. Porque, no fundo, a única coisa que Cunha quer é salvar sua pele e seu mandato de presidente e parlamentar, que correm riscos porque houve uma flagrante violação do decoro parlamentar na medida em que ele mentiu na CPI da Petrobras. Declarou que não tinha contas no exterior e agora foi comprovado. Isso não é mais denúncia, isso é comprovação. O MP da Suíça comprovou que ele tinha contas naquele país.

Nesse cenário, as elites jogam contra os interesses do país; por exemplo, estão interessadas em mudar a lei de partilha do pré-sal, querendo entregar as riquezas para as multinacionais. Como o sr. vê isso?

Há um jogo de interesses. A política no Brasil, e com esses partidos que estão aí, tornou-se um grande negócio. Os partidos dependem de financiamento de campanha e os políticos ganham dinheiro, como se mostrou nessas negociatas da Petrobras. Isso vale tanto para os partidos do governo, como para a oposição.

Na medida em que a política se tornou um grande mercado de corrupção, esses interesses trafegam pela política. No impeachment, há interesses econômicos por trás. O fato é que a política brasileira precisa ter uma renovação radical, porque ela está em uma descrença completa. As instituições não estão legitimadas.

A presidência tem uma avaliação positiva de 10% e o Congresso também. Os partidos, 10%. Você vê que há uma deslegitimação das instituições. O dramático de tudo isso é que diante dessa crise artificial não se vê um movimento no sentido de fazer uma reforma política séria, de separar as negociatas. Quem é amigo hoje vira inimigo amanhã e vice-versa. A população fica sem referências políticas e morais diante da política que virou um sistema de degradação moral.

Mas o STF se manifestou contra o financiamento de campanha por empresas. Já em 2016, não será possível esse tipo de recurso para os candidatos. Como o sr. vê isso?

Acho positivo. O STF passou a legislar, embora de forma indesejável, porque quem deveria fazer uma reforma política é o Congresso, mas na medida em que o Congresso não funciona, virou uma casa de negociatas políticas e de tráfico político, o STF passa a legislar de certa forma ferindo o próprio princípio republicano de separação de poderes. Infelizmente, essa é a situação.

O STF, em grande medida, esta substituindo o Congresso no que diz respeito à legislação, particularmente a política e eleitoral. Infelizmente, o país está mergulhado nessa crise de não funcionalidade de suas instituições republicanas.

Por que o sr. acha que o país chegou a essa crise institucional?

Os motivos são variados e profundos. Desde o fato de que os partidos se acomodaram em um sistema de benefícios econômicos próprios, de administração de seus interesses, eles são financiados pelo setor empresarial, capturados pelo poder econômico e, por outro lado, também tem recursos do Estado. Então, os partidos viraram um sistema de negócios, pois capturam dinheiro do setor privado e capturam dinheiro do setor público.

Pelas denúncias você vê parentes de políticos financiados e assim por diante. A política virou um grande negócio. Enquanto não se fizer uma reforma política que bloqueie a mercantilização da política, vamos continuar nesse sistema.

E que medidas o sr. defenderia para complementar a proibição pelo STF do dinheiro de empresas nas campanhas?

Bom, vejo que o fato de se estabelecer a proibição do financiamento privado não necessariamente indica que não haverá caixa dois. Tudo indica que vai. Então, o que tem de fazer é punir. Aparentemente, começamos um mínimo sistema de punição das elites por meio da Lava Jato. Tem vários empresários na cadeia e alguns políticos também. É preciso abrir as portas das cadeias para os políticos corruptos entrarem. Assim, você vai acabar com a corrupção alimentada pela impunidade.

Tem um artigo seu no portal GGN no qual o sr. fala que a crise se estende até 2018...

Não tem perspectiva. Continuando a Dilma, ela será um governo fraco e substituindo, aparentemente a crise se agrava. Então, digo que a Dilma é um mal menor. Tirá-la agravaria a crise. Acho que os setores democráticos não aceitariam um golpe, pois o impeachment, no meu ponto de vista, agora é um golpe.

Na época da UDN, ela era chamada de vivandeira dos quartéis, pois ela vivia chorando na frente dos quartéis pedindo para que os militares interviessem. E agora temos as vivandeiras dos tribunais. Aécio e sua turma são isso. Querem que os tribunais substituam a vontade do povo que foi sacramentada nas urnas.

O sr. concorda que estamos vivendo o terceiro turno há um ano?

Nem é terceiro turno, pois é um golpe. É um inconformismo de Aécio Neves que é uma pessoa aparentemente dotada do sentimento de egoísmo, do poder pelo poder, de uma ambição absurda, e de uma pessoa que não se conforma pelos resultados ditados pelo povo. É um elemento perigoso para a democracia brasileira.

Nessa crise institucional, não estaríamos vivendo uma falta de liderança?

Com certeza, um dos aspectos da crise atual é a completa falta de liderança. Por que existe essa falta de liderança? Em primeiro lugar porque os partidos estão degradados. Eles brigam não por interesses do povo, mas por interesses próprios. O interesse particular dos partidos e dos políticos foi posto acima do interesse do bem público. Só há lideranças autênticas quando elas lutam pelo bem público.

Então, esse é o elemento base. A corrupção de princípios, a corrupção financeira e moral, elas degradam o sistema e impedem o surgimento de novas lideranças.

Existe um divórcio entre a sociedade e a representação política?

Com certeza, a sociedade não se reconhece nesse sistema político que está aí. A sociedade não se reconhece nos partidos, nos governantes, no Congresso e, portanto, essa crise de legitimidade é uma crise de longo prazo, cuja solução é difícil. Difícil, também, pois não vemos o surgimento de um político virtuoso que saiba conduzir o povo em outra direção, que saiba dar um rumo para a situação política brasileira degradada pela crise moral.

Com o Congresso discutindo retrocessos como o projeto de terceirização, entre outros, o Brasil deixa de fazer as reformas necessárias, como por exemplo a regulação da mídia e a reforma tributária. Essas reformas estruturais estão descartadas para os próximos anos?

Acho que sim. Esse Congresso é conservador e ele não se dispõe. Nem quando tinha o peso da liderança de Lula se fizeram reformas profundas, com um Congresso até mais progressista do que o que está aí. Faltou iniciativa política. Nesse sentido, vejo que o PT tem bastante culpa no cartório, pois não fez a batalha pelas reformas que são estruturantes para a redução da desigualdade no país.

Isso mostra que não é possível governar para todos?

Você tem de governar para todos, mas guiado pelo princípio da Justiça. O governante é do país, da nação, mas ele tem de guiar suas ações pelo princípio da Justiça. O erro que o governo Dilma cometeu foi a tentativa de criar um governo de um projeto, de uma parte. Não se diz isso, o governante é de toda a nação. No entanto, o que tem de guiar é o princípio da Justiça.

Então, há uma confusão completa do que significa governar, ou governar com justiça e assim por diante. Do meu ponto de vista, a condução que o governo vem tendo do ponto de vista político é medíocre, tanto que o país está mergulhado em uma situação ruim.

O sr. vê semelhanças no que se passa hoje e na crise política enfrentada por Getúlio Vargas, que o levou ao suicídio?

Nenhuma. As circunstâncias são completamente diferentes. A crise que está aí foi criada por fatores diferentes, e nesse sentido não dá para fazer uma comparação. Naquela época tinha guerra fria, hoje não tem, existiam determinados fatores conjunturais do país diferentes do que há agora. A esquerda ainda tinha moral, e hoje ela esta enfrentando uma profunda crise. Está na defensiva, então vivemos uma situação diferente.

Você tem alguma proposta para recuperar a legitimidade do sistema político?

Em primeiro lugar, teríamos de ter partidos verdadeiros, vinculados aos interesses sociais. Não temos esses partidos. A reestruturação partidária e política não é a saída. Então estamos quase em um beco sem saída, pois a crise é a longo prazo e não vejo capacidade nos partidos e líderes que aí estão para fazer uma mudança dessa envergadura.

Mas enquanto a crise política é artificial, a econômica é real?

É real, pois pessoas estão perdendo empregos, a inflação está alta, empresas estão fechando, se endividando. O consumo cai. Esta é uma crise real, mas ela vem sendo potencializada pela crise política.

Do ponto de vista da economia, o ajuste fiscal poderia ter sido evitado?

Não, ele é necessário. É preciso entender isso, e parte da esquerda não o faz. É preciso, pois a dívida pública está aumentando muito. Se o país não contornar esse crescimento, vamos entrar em uma situação de descontrole e a situação vai ficar pior. Culpar Levy por essa situação me parece um absurdo. O que tem de se discutir no ajuste é quem paga o ajuste fiscal. No entanto, houve uma degradação fiscal do país no mandato de Dilma.

Os empresários que tiveram grandes desonerações?

Sim, mas foram dadas pelo governo. O governo errou no trato da energia, errou nas desonerações, errou na concessão de bilhões em empréstimos através do BNDES e quem está pagando essa conta é o povo. Isso não foi feito pelo Levy.

Como o sr. vê a campanha da Fiesp contra impostos e contra a CPMF?

O fato é que em parte, os empresários foram beneficiados, e agora a sociedade sempre é contra o aumento de impostos. Os trabalhadores também são. Só que o peso maior desse ajuste está sendo pago pelos trabalhadores, agora esse não é um problema do Levy.


Créditos da foto: Lula Marques




Janot e Lula acabam com plano de Cunha para salvar-se

POR  · 15/10/2015

trinca

Ninguém duvida que o Ministro Teori Zavascki vai acolher o pedido, confirmado hoje,  do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot,  determinar que Eduardo Cunha, se puder, apresente defesa contra a acusação de manter, com a mulher e filha, contas secretas no exterior, abastecida com dinheiro de corrupção.

Cunha está acabado e, repito o que tenho escrito, tudo o que vai se definir é o quando.

Nem mais o “como”.

Cunha não tem mais armas para jogar o jogo da chantagem e não durou 24 horas a tentativa de intrigar a opinião pública com um suposto acordo de Lula para retirá-lo do quinto círculo do Inferno onde se encontra, do qual tratamos hoje, aqui, bem cedo.

Lula repeliu, em nota, qualquer possibilidade disso e disse claramente quem deu colo a Cunha:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não participa nem estimula qualquer articulação para supostamente “proteger” o presidente da Câmara em procedimento do Conselho de Ética.(…)O Brasil sabe que é a oposição, e não o PT, que há um ano vem promovendo articulações espúrias e barganhas, dentro e fora do Congresso, na desesperada tentativa de derrubar um governo democraticamente eleito.
 Cunha é agora um estigma na testa da oposição.
Não serve para nada mais, e máquina de moer gente da mídia vai acabar de moer seu ex-herói, certo que não sem merecimento.
Cunha tem seu rosto indelevelmente gravado no impeachment.
Deu ao golpismo a sua cara.
E o PSDB terá muita dificuldade em tirar seu nariz adunco, porque a máscara aderiu a sua face.

Os eleitos passam, os eurocratas ficam

no Le Monde Diplomatique Brasil
As instituições europeias reservam um espaço exorbitante para a burocracia em detrimento do poder político. Intervindo em todos os estágios do processo de decisão, esses funcionários concentram a atenção dos lobbies
por Sylvain Laurens


Para que perder tempo com um deputado quando podemos nos dirigir diretamente àqueles que, de fato, detêm o poder? Num restaurante chique de Bruxelas, o lobista Erik Polnius1 não tem papas na língua: “Para mim, há dois tipos de lobista: os que, quando querem apresentar uma proposta, procuram um membro do Parlamento...”. Um ar de desdém revela o que ele pensa dessa atitude, provocando a pergunta: e quem são os poderosos aos quais a segunda categoria de lobistas prefere se dirigir? O ar de desdém se transforma em sorriso satisfeito: “Os burocratas da Comissão Europeia, é claro”.
Não se trata de gracejo. Os documentos constitutivos da União Europeia conferem aos 21 mil funcionários da Comissão, e notadamente a seus 11 mil administradores (AD, como se diz em Bruxelas), um poder legislativo sem paralelo.
Polnius não é o único lobista que descobriu sua importância. Muitos outros assediam as escrivaninhas dessa gente. Entretanto, tecer vínculos com tais interlocutores leva tempo – é uma forma de investimento. “Há funcionários que vêm e vão, isso é verdade”, admite, dando de ombros, um lobista da poderosa Federação Patronal dos Fabricantes de Máquinas e Equipamentos (Orgalime). “Mas, se você conhece um que foi chefe de departamento e se tornou diretor-geral, ótimo: as boas relações de trabalho não se perdem.”
Os burocratas da Comissão são escolhidos por concurso e vitalícios. Os novos recebem 4.359 euros por mês (imposto de renda já deduzido na fonte) e podem chegar a 14.953 euros em fim de carreira. Estão no centro do processo decisório da organização. Chefes de seção redigem os rascunhos das futuras diretivas; chefes de setor ou diretores-gerais arbitram os conflitos suscitados pelos textos em discussão. Graças a eles, é possível intervir duas vezes: a montante, orientando diretamente os fundamentos e a formulação dos futuros regulamentos; e a jusante, influindo sobre as arbitragens efetuadas entre o Parlamento e o Conselho (o chamado “trílogo informal”).2 Um bom lobista pode ainda intervir durante o processo chamado “comitologia”, que consiste em confiar a grupos de trabalho compostos de funcionários europeus e especialistas nacionais a redação dos atos de aplicação concreta dos textos já votados.
Para os mercadores de influência, o Parlamento aparece como um lugar bem mais incerto. Os empresários nunca podem ter certeza de que sua posição não será ameaçada por esta ou aquela ONG aliada aos Verdes ou à Esquerda Unitária Europeia. A discussão com os burocratas, mais frutífera porque discreta, garante melhores resultados. “Percebemos que era mais fácil influenciar o processo decisório no nível da Comissão Europeia, antes que os projetos de diretivas se tornassem públicos. Assim, concentramo-nos nesse trabalho”, explica Paulina Draga, da associação que representa o setor de gás (Eurogas). Citando as próximas discussões em torno do problema das infraestruturas na União Europeia, ela deixa escapar: “Lá, por exemplo, obtemos documentos de trabalho mais cedo, quando ainda são confidenciais”.
Não é preciso insistir para que Polnius explique em detalhe seu sucesso. Ele conseguiu que a diretiva “resíduos”, introduzida em 2008, incluísse um dispositivo sobre reciclagem favorável a seus empregadores. Isso lhe permitiu, em seguida, sugerir que a Comissão Europeia financiasse em parte, para o papel, o aprimoramento dos modos de produção ditos inovadores: as biorrefinarias de seus clientes, fora do alcance da concorrência asiática. É uma operação clássica, que ilustra o modo de funcionamento desse tipo de lobby. Ela ocorre em dois tempos: primeiro, convence os funcionários da Comissão Europeia a endurecer certas normas ambientais ou sanitárias; em seguida, obtém subvenções para projetar as tecnologias necessárias, a cargo de parcerias público-privadas (PPPs). Assim, defendem-se o ambiente, os assalariados e os consumidores... para o bem das grandes empresas europeias. Em 17 de dezembro de 2013, a Comissão Europeia anunciou o lançamento de oito PPPs consideradas “de importância estratégica para a indústria”. Montante: 6 bilhões de euros em seis anos.
Nos setores mais empenhados na concorrência internacional, as somas consagradas ao trabalho de “representação” constituem, pois, um investimento bastante proveitoso: 25 das quarenta empresas com maiores subvenções da Comissão Europeia figuram igualmente entre as cinquenta que mais gastam com lobby junto às instituições da UE.
Os lobistas têm na mira principalmente os burocratas com acesso aos créditos de pesquisa e às decisões das agências técnicas. Aos poucos, as federações patronais europeias vão se transformando em centros de pesquisa, com estatutos de organismos científicos industriais sob jurisdição belga, a fim de remodelar as orientações do campo científico mais ligado a seu ramo de atividade. Nem é preciso dizer: essas evoluções acarretam uma modificação no perfil dos lobistas.
O recrutamento de doutores em ciências exatas foi sistematizado, sobretudo nas federações de química. Assim, Barrie Gilliat, diretor executivo da Eurochlor, o lobby do cloro, citou numa conferência organizada pela Ernst & Young o que ele chama de “uma virada nos anos 1990, após um começo difícil do produto”.3 O cloro era até então denunciado por provocar asma e alergias, mas o recrutamento de cinco doutores em toxicologia permitiu uma aproximação das direções-gerais de Energia (DGE) e Pesquisa (DGR) da Comissão Europeia. Além disso, foi possível identificar os pesquisadores dispostos a levar adiante a ideia de que o cloro utilizado nas piscinas provocaria asma em algumas crianças.
Como bem mostrou o cientista norte-americano Robert Neel Proctor, com base em sua pesquisa sobre os lobbies do tabaco, o financiamento de especialistas por parte das empresas não visa sistematicamente obter “maus resultados científicos”.4 Ao contrário, pode ser muito útil subvencionar um grande nome da pesquisa toxicológica para dar crédito a um instituto privado que, depois, será bem-vindo nos cenáculos onde se esboça o futuro da pesquisa. Não se trata apenas de aliciar alguns especialistas; é a própria estrutura da burocracia da pesquisa que constitui, hoje, uma aposta para os representantes de interesses econômicos.
Desse modo, explica um funcionário da DGR, a definição dos futuros Programas-Quadros para a Pesquisa e o Desenvolvimento (PQPD) ocorre em comitês opacos, “sem obrigação de representatividade”, nacionalidade ou especialidade científica. São convidados primeiro os representantes dos ramos de pesquisa mais próximos da indústria, aqueles que serão ouvidos ao mesmo tempo pelos empresários e pelos colegas. O ideal? “Um grande cientista que fez também carreira na indústria, pois assim não correremos o risco de ser atacados.”
A conjunção da burocracia da Comissão Europeia com a pesquisa e a representação patronal é tão forte que, em muitos setores, é difícil saber quem trabalha para a instituição europeia, para a universidade ou para a indústria. Das 32 personalidades que a DGR convidou para seu grupo de especialistas em nanotecnologias, encarregado de preparar o “horizonte 2020”, quinze trabalham diretamente para a indústria e dezessete estão na área da pesquisa.5 Mas, entre estes últimos, oito dirigem sua própria empresa ou um consórcio onde se misturam interesses privados e investimentos públicos. Eleições são suficientes para regular tantas disfunções?

Sylvain Laurens
Sylvain Laurens é sociólogo. Acaba de publicar Les Courtiers du capitalisme. Bureaucrates et milieux d’affaires à Bruxelles [Os cortesãos do capitalismo. Burocratas e comunidade empresarial em Bruxelas], Agone, Marselha, 2015


Ilustração: Michael Coghlan/cc

1             O nome dos lobbies é real, mas o dos lobistas foi mudado.
2             Ver Pierre Souchon, “Une directive trop crucial pour être débattue publiquement” [Uma diretiva importante demais para ser debatida publicamente], Le Monde diplomatique, abr. 2014.
3             Barrie Gilliat, “Operating in contested environments: the experience of the chlorine industry” [Operando em ambientes contestados: a experiência da indústria do cloro]. In: Justin Greenwood (org.), The Challenge of Change in EU Business Associations [O desafio da mudança nas associações empresariais da UE], Palgrave Macmillan, Basingstoke, 2013.
4             Robert Proctor e Londa Schiebinger, Agnotology: The Making and Unmaking of Ignorance [Agnotologia: a construção e a desconstrução da ignorância], Stanford University Press, 2008.
5             “HORIZON 2020 ADVISORY GROUP FOR NANOTECHNOLOGIES, ADVANCED MATERIALS, BIOTECHNOLOGY AND ADVANCED MANUFACTURING AND PROCESSING” [HORIZONTE 2020, GRUPO CONSULTIVO PARA NANOTECNOLOGIAS, MATERIAIS AVANÇADOS, BIOTECNOLOGIA, MANUFATURA E PROCESSOS AVANÇADOS], REGISTER OF COMMISSION EXPERTS GROUPS. DISPONÍVEL EM: HTTP://EC.EUROPA.EU.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Infeliz Dia do Professor e da Professora em Brasília

por José Gilbert Arruda Martins

Brasília terá o "dia de professor" mais triste da história da cidade nesse 15 de outubro. A categoria iniciará uma greve por tempo indeterminado exatamente nesta data.


Quem pensou que a vida de professor seria tão difícil?

Quem imaginou, quando estava cursando a Universidade, que a profissão exigiria uma luta diária e anual por salário e por qualidade na educação?

Quem imaginou, que esse novo governo fosse tão autoritário?

Pois é isso.

A greve começa hoje dia 15 de outubro.

Dia que a categoria de professores e professoras, deveria estar comemorando, descansando ou simplesmente, dando aula.

Não, não estaremos em sala de aula pelos próximos dias, talvez semanas.

E a culpa é de quem?

Dos professores e professoras é que não é.

O governo do Distrito Federal, impôs um calendário à categoria no início do ano. Retirou direitos garantidos em lei, atrasou pagamentos, e, se recusa a pagar aumento salarial já votado na Câmara Distrital.

Professor e professora, Greve também é aula.

Aula de Cidadania e de Luta na construção da Educação Pública.

ENEM 2015 - Procedimentos de segurança são aprimorados para impedir fraudes

por José Gilbert Arruda Martins

Governo divulga regras de segurança para o ENEM 2015. O Exame Nacional do Ensino Médio, é um dos maiores e mais importantes processo de entrada de estudantes no Ensino Superior do Brasil e do mundo.


Nos dias 23 e 24 de outubro, estudantes do país todo, disputaram uma vaga nas principais Universidades Públicas do Brasil.

Leia aqui informações importantes sobre o certame.

A segurança do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma das prioridades do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Este ano, a prova traz novidades referentes aos procedimentos de segurança, como o intervalo de 30 minutos após o fechamento dos portões, às 13 horas no horário de Brasília, para que todos estejam em sala e sejam feitas as verificações de documentos e a passagem por detectores de metal. Somente às 13h30, com todos os estudantes presentes e acomodados, é que o malote com as provas deve ser aberto.
Para o diretor de Gestão e Planejamento do Inep, Dênio Meneses da Silva, os procedimentos de segurança do Enem estão sendo aprimorados a cada ano. “O Inep vem se estruturando com uma logística bastante arrojada, que passa desde a contratação específica para a elaboração de itens, como também para o processo de impressão das provas e a aplicação da prova e processamento de dados”, afirmou.
Este ano mais de 7 milhões de pessoas estão inscritas para realizar a prova, nos dias 23 e 24 de outubro. Para garantir oportunidade igual para todos, o monitoramento do Inep também acontecerá nas redes sociais para que não haja nenhum tipo de fraude. “A gente exerce uma série de tratamentos de dados para monitorar a situação. Desde um tratamento nos locais de aplicação com alguns instrumentos que nós chamamos de detectores de metais, ao centro de monitoramento e controle e uma sala de situação, durante a semana e nos dias de aplicação. A partir desses instrumentos a gente vai abordar aqueles que eventualmente estão cometendo um procedimento que possa colocar em risco a operação”, explicou o diretor.
Durante as provas é proibido fazer registros fotográficos, usar calculadoras, agendas eletrônicas e celulares ou qualquer outro dispositivo eletrônico. O uso desses equipamentos acarretará na eliminação do candidato. Os estudantes que levarem esses equipamentos deverão deixá-los desligados e guardados no porta-objetos fornecido antes do início da prova.
Provas — Os participantes farão quatro provas objetivas, cada uma com 45 questões de múltipla escolha e uma prova de redação. No sábado, 24 de outubro, serão realizadas as provas de ciências humanas e suas tecnologias e de ciências da natureza e suas tecnologias, com duração de 4 horas e 30 minutos, contadas a partir da autorização do aplicador. No domingo, 25, será a vez de linguagens, códigos e suas tecnologias, redação e matemática e suas tecnologias, com duração de 5 horas e 30 minutos.
Considerado, sempre, o horário oficial de Brasília, a aplicação das provas começará às 13h30. Os candidatos terão acesso aos locais de prova a partir das 12h. Os portões serão fechados às 13h, em todas as unidades da Federação. Assim, quem mora em Manaus, por exemplo, terá de chegar ao local de prova até as 12h locais; em Rio Branco, às 11h.
Este ano, o cartão de confirmação do Enem terá formato digital. Com isso, os participantes devem buscar o acesso ao sistema de inscrição do exame pela internet — nas edições anteriores, o comprovante era enviado pelos Correios.
Acesso — O Enem é um mecanismo de democratização do acesso às políticas públicas de educação. Com a nota obtida no Enem, o estudante pode tentar uma vaga na educação superior por meio do programa Universidade para Todos (ProUni), que permite a estudantes brasileiros de baixa renda obter bolsas de estudos integrais e parciais (50% da mensalidade) em instituições particulares de educação superior. O resultado também é requisito para receber o benefício do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), participar do programa Ciência sem Fronteiras e ingressar em vagas gratuitas dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica (Sisutec). Estudantes maiores de 18 anos podem também obter a certificação do ensino médio por meio do Enem.
Assessoria de Comunicação Social

Contra o golpismo, assista a uma aula serena de Dalmo Dallari

POR   no Tijolaço
dallari

Na hora em que o impeachment vira artigo de fim de feira, uma espécie de xêpa da passagem de Eduardo Cunha pela presidência da Câmara e pasto de ocasião de uma oposição que não consegue vencer nas urnas, nada melhor que a serena e técnica aula que deu, ontem, o jurista Dalmo Dallari , no programa  programa Espaço Público, da TV Brasil.

Em entrevista a Paulo Moreira Leite e a Florestan Fernandes Júnior, Dallari, do alto de seus 83 anos e 60 de carreira, que o tornaram uma das maiores referências do Direito brasileiro, professor emérito da USP e catedrático da UNESCO na cadeira de Educação para a Paz, Direitos Humanos e Democracia e Tolerância, explica que, embora seja um julgamento político, um processo de impeachment não pode se iniciar sem fundamentos jurídicos sólidos, sem que isso caracterize um golpe.

O programa dura uma hora e pode ser visto aqui, mas separei um trecho de seis minutos com as suas explicações, que posto abaixo.

Mujica: “A única luta que se perde é a que se abandona. Não se pode viver sem esperança”

no Viomundo
RSLULAMUJHAD

Lula, Mujica e Haddad participam 12º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores-CUT (Concut), em São Paulo. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula, via Fotos Públicas
Mujica: ‘A única luta que se perde é a que se abandona. Não se pode viver sem esperança’
“O capital financeiro não tem Pátria, não tem bandeira e nem se senta nas ONU, precisamos que os que têm Pátria defendam a vida e a liberdade.”
“Nunca vimos tanta acumulação de riqueza e de injustiça, numa globalização manipulada por interesses poderosos que necessita ser enfrentada com unidade pelos trabalhadores. Se o capital financeiro não tem Pátria, não tem bandeira e nem se senta nas Nações Unidas, precisamos que os que têm Pátria defendam a vida, defendam o mundo da liberdade e da esperança. A única luta que se perde é a que se abandona. Não se pode viver sem esperança”.
A afirmação de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, arrancou um turbilhão de aplausos dos cerca de 200 delegados presentes ao conselho geral da Confederação Sindical Internacional (CSI), encerrado nesta segunda-feira, em São Paulo. Representando 180 milhões de trabalhadores de 161 países, a CSI realizou pela primeira vez seu encontro na América Latina.
Mujica lembrou que muitas vezes o capital fala em “competitividade”, “sem levar o quanto se trabalha em um lugar ou no outro”, “sem abrir a contabilidade real, que mantém como um segredo de Estado”. Afinal, o objetivo é simplesmente ampliar a exploração da mão de obra neste ou naquele país. “Sem deixar de ser daqui ou dali, os trabalhadores têm que se dar conta de que pertencem a uma classe com a responsabilidade de mudar essa realidade”, acrescentou.
O líder uruguaio conclamou os presentes a agirem como “lideranças sociais” junto aos seus povos, pois esta não é só uma “luta em defesa dos trabalhadores, mas de toda espécie humana. Tem a ver com o nosso destino”. “Estamos em um barquinho comum. Não pode haver africano pobre, latino pobre, temos de pensar em todos. E não apenas nesta, mas nas futuras gerações”, frisou.
Além dos lucros parasitários do sistema financeiro, há o gasto absurdo com a indústria armamentista, lembrou Mujica. Com armas, assinalou, alcança “dois milhões de dólares por minuto”. Portanto seria “mentir a nós mesmos” dizer que não existem recursos para enfrentar os grandes problemas da Humanidade. “Precisamos ter compromisso, opinião, não sermos expectadores. Porque os trabalhadores são poder, ainda que não se deem conta”, enfatizou.
Agradecendo as palavras do líder uruguaio, o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felicio, reiterou que elas ecoam contra “uma distribuição de renda pornográfica”. Lembrando as contribuições de Mujica para a altivez e soberania do povo uruguaio e latino-americano, João Felicio asseverou que devem servir como referência para os que lutam pela construção da democracia. “Não conseguimos entender democracia sem sindicalismo livre e altamente representativo, sem direito de negociação coletiva, sem valorização do trabalho”, destacou.
Para o secretário-geral da Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA), Victor Báez, Mujica deu e segue dando uma valorosa contribuição para todos os nossos povos ao enfrentar 12 anos de prisão e sair combatendo para distribuir o que o capital tratou de acumular com base na exploração e na injustiça. “Como diz Mujica, consumamos menos porcaria e façamos mais amor. Hoje o consumismo é a fase superior do capitalismo”, concluiu.
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GOVERNO ALCKMIN - Contra fechamento de escolas, alunos recusam-se a ficar calados e cobram direitos

por Tiago Pereira na Rede Brasil Atual
Em vídeo que vem repercutindo nas redes sociais, estudantes vendados entoam Chico Buarque: 'Como é difícil acordar calado'
E.E. Antônio Viana de Souza
Já sem as vendas, alunos da rede estadual prometem resistir ao fechamento de escolas

São Paulo – Para marcar posição contra a chamada 'reestruturação' das escolas proposta pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que prevê a separação das unidades por ciclos, os alunos da rede estadual de ensino estão se mobilizando. Além do protesto de sexta-feira (8), que reuniu milhares de estudantes na Avenida Paulista e terminou com dura repressão policial, a todo momento, em diversas regiões da capital e do estado, surgem novas manifestações espontâneas contra o fechamento das escolas. Nas redes sociais, cresce a mobilização: #naofecheminhaescola.
Temendo que sua escola fosse incluída na lista das unidades que devem ser reorganizadas, alunos do ensino médio da Escola Estadual Antônio Viana de Souza, em Guarulhos, na Grande São Paulo, optaram por protestar de forma ainda mais criativa e impactante. Eles fizeram uma versão da música 'Cálice', de Chico Buarque, e gravaram o vídeo que vem repercutindo nas redes sociais.

"Onde é que está nosso futuro e nossa paz, que só promete, mas só faz tirar do povo, onde é que estão nossos direitos de viver, nosso direito pra fazer um mundo novo", entoam os estudantes. Segundo eles, a intenção é conscientizar e alertar. "Mesmo que nossa escola não esteja na lista, pensamos em todas as outras", diz a aluna Kathleen Silva, de 16 anos. Os alunos contam que a ideia partiu de uma atividade, realizada no ano passado, sobre a ditadura civil-militar. Agora, de olhos vendados, os alunos lançam o grito e querem passar essa história a limpo. "O que mais tememos é que, no último segundo, eles coloquem nossa escola na lista."
"Não é exatamente medo de ser transferido e, sim, as consequências", diz Maisa Fernandes, da mesma turma. Ela conta que os estudantes temem ser mandados para mais longe, além da fragilização dos laços com os amigos e com a comunidade escolar, como professores e diretores. A venda preta nos olhos, segundo ela, é um alerta contra a passividade. "É como se todos não vissem a verdade, até que alguém abre nossos olhos e, assim, vamos para a luta."
David Menezes, que também participou da gravação do vídeo, diz que a reorganização "veio para desorganizar", e vai além: "O objetivo é a privatização das escolas. Eles já entregaram o ciclo 1 para os municípios. Eles querem fazer isso (a dita reestruturação) para depois entregar o ciclo 2, ficar só com o ensino médio, e privatizar."
Os alunos contam que até mesmo os professores não sabiam da gravação do vídeo, receberam com emoção, e apoiaram a manifestação dos alunos. Já a Secretaria Estadual parece não ter gostado. Após a divulgação do vídeo, os alunos contam que receberam a visita de um supervisor de ensino que os desestimulou a seguir protestando, alegando que de nada adiantaria.
Segundo David, que também integra o grêmio da E.E. Antônio Viana de Souza, a repressão por parte da direção e de representantes da Secretaria Estadual vem aumentando, por conta da repercussão do vídeo, e que chegaram, até mesmo, a ameaçar com destituição do grêmio, caso os alunos continuem se mobilizando. "É o modo deles, não deixar os alunos se organizarem dentro das escolas."

Pouca presença de negros na TV brasileira leva a racismo na infância, dizem especialistas

no Opera Mundi Agência Brasil 
“Em um país de maioria negra, não se justifica uma televisão totalmente branca, como nós temos [no Brasil]", afirma escritora

Apesar de pouco discutido, o racismo na infância e nas escolas existe e precisa ser enfrentado, na opinião de professores e especialistas ouvidos pela Agência Brasil. Eles destacam a pouca representação de crianças negras nos meios de comunicação como uma das causas do problema.

Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da instituição, Renísia Garcia Filice acredita que o racismo existe dentro das escolas e ocorre de forma cruel, efetiva e naturalizada. Para ela, essa atitude na infância é fruto do que a criança viu ou vivenciou fora do ambiente escolar.

“A criança pode ter vivenciado isso numa postura dos pais, em algum comentário ou até em algo que os professores fizeram ou deixaram de fazer”, diz Renísia. Segundo ela, alguns professores se omitem em situações de racismo pela falta de informação, por naturalizar os casos ou achar que não é um problema. “Por isso, são necessárias práticas pedagógicas para que as crianças se percebam iguais e com iguais direitos”, acrescenta.

Ildete Batista dá aula para crianças de 5 anos em uma escola no Distrito Federal. Ela afirma que as questões raciais aparecem principalmente no momento de disputa e durante as brincadeiras. Professora há mais de 20 anos, Ildete afirma que faltam referências para as crianças. “O que fica como belo é o que aparece na TV, nos livros – inclusive nos materiais didáticos. A gente vê muitas propagandas, livros de histórias infantis em que os personagens são brancos.”
Desde cedo, crianças têm problemas de auto-representatividade com modelo midiático atual
Desde cedo, crianças têm problemas de auto-representatividade com modelo midiático atual

A professora desenvolve, na escola, um trabalho contra o racismo e para colocar mais referências africanas na educação. Isso, segundo Ildente, vem dando resultados. “No início do ano, uma menina me disse que não gostava do cabelo dela, por ser crespo. Em um desenho, por exemplo, ela se fez loira do olho azul. Agora, no final do ano, ela se desenha uma criança negra com cabelo enrolado. Isso mostra que o trabalho tem que ser feito e, se ele é feito com respeito, a gente consegue vencer esses problemas”, acredita.

Segundo o professor do curso de direito da UnB Johnatan Razen, quando há ofensas entre crianças, no colégio, os pais devem relatar o caso à escola, para a que a instituição promova ações educativas. “Se o caso envolver um professor ou a ofensa vier da instituição – como obrigar uma aluna a alisar o cabelo –, cabe acionar a Justiça”, orienta. Se tiver conhecimento de atitudes racistas dentro do espaço e se omitir, a escola também pode ser responsabilizada penalmente, de acordo com Razen.

Representação

Para a professora do curso de comunicação social da Universidade Católica de Brasília (UCB) Isabel Clavelin, há uma tendência de aumento na representação de crianças negras nos meios de comunicação, nos últimos anos. "Mas elas figuram em papéis de coadjuvantes, e a representação está aquém da proporção de negros no Brasil", diz a pesquisadora.

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“Isso tem um efeito devastador, porque a criança se vê ausente ou não se vê como ela realmente é. Ela está sempre atrás. A interpretação dessas mensagens tem um efeito muito danoso, que é a recusa, de se retirar do espaço da centralidade”, afirma Isabel. “Enfrentar o racismo na infância é crucial e deve mobilizar toda a sociedade brasileira, porque ali estão sendo moldadas todas as possibilidades de identidade das pessoas”, acrescenta.
Estudantes sofrem bullying nas escolas por conta de injúrias raciais
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A escritora Kiussam de Oliviera, que trabalha com a literatura infantil com o objetivo de fortalecer a identidade das crianças negras, afirma que falta representação positiva. “Em um país de maioria negra, não se justifica uma televisão totalmente branca, como nós temos. A partir do momento que as emissoras entenderem que o público negro é grande, nós viveremos uma fase diferente desta que estamos passando, onde há violência por conta da cor da pele, agressões focadas na raça – cada vez mais banalizada."

O estudante João Gabriel, de 11 anos, sente falta de mais crianças negras na televisão. “Nos desenhos e nos programas de TV, quem é gordo e negro está sempre sendo xingado, é sempre tímido e os outros zoam dele. Aí a gente vê isso e acha que é sempre assim. Os colegas acham que todos precisam ser iguais e ser diferente é ruim.”

Novo Programa

Com a maioria dos personagens negros, começa hoje a ser exibido na TV Brasil o desenho colombiano "Guilhermina e Candelário". Para marcar a passagem do Dia da Criança, a emissora exibirá quatro episódios em sequência, às 9h45 e às 13h. A partir daí, o desenho será transmitido de segunda a sábado, na Hora da Criança, faixa de programação de segunda a sexta das 8h15 às 12h e das 12h30 às 17h; e no sábado, das 8h15 às 12h.

A série mostra o cotidiano dos dois irmãos, cuja capacidade de sonhar transforma cada dia em aventura. A cada dia, eles esperam ansiosamente a chegada do Vô Faustino, a quem contam suas aventuras. O avô desfruta das histórias narradas pelos netos e compartilha sua experiência de vida e sabedoria.

Coproduzida pelo Señal Colombia e pela Fosfenos Media, a animação "Guilhermina e Candelário" é um dos primeiros desenhos do gênero com protagonistas negros a ser exibido na TV aberta brasileira.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Credit Suisse: 8% têm 85% da riqueza; 71% de miseráveis, só 3%

POR  no Tijolaço

O El País publica hoje que, pela primeira vez, o 1% mais rico da população do mundo concentra mais riqueza que todos os outros 99% dos habitantes do planeta.
ricosepobres
Não é mais retórico, é estatístico e não vem de comunistas, mas do ortodoxo banco Credit Suisse.

Vou traduzir o gráfico aí de cima de um jeitinho que até aquele amigo do  Rodrigo Constantino poderia entender.

Temos 100 biscoitos para dividir entre 100 pessoas.

Oito pessoas vão ficar com 85 biscoitos.

Vinte e uma pessoas ficarão com 12 biscoitos.

E setenta e uma pessoas vão se digladiar pelas migalhas de três biscoitos.

Se este é o melhor sistema econômico que a humanidade pode alcançar, Alckmin pode relaxar, porque virá um novo dilúvio por aí, sem direito à arca de Noé.

Não se conhece nenhuma sociedade animal onde haja tamanha desigualdade.

É este o modelo que os “sábios” querem nos fazer seguir, dizendo que as bolachas vão ser maiores e aquelas três...hummm… vão nos dar migalhas melhores.

Carta de militante do PT a Dilma bomba no Viomundo e vira petição pública para todos que quiserem assinar: “Por um aceno teu”

no Viomundo
Dilma_Roussef_grafite

Por Conceição Lemes
Frequentemente, eu, Conceição Lemes, e o jornalista Artur Scavone conversamos sobre política. Nas últimas semanas, o tema foi a crise política e a angústia que anda corroendo todos nós.
Na última sexta-feira 9, ele me enviou um e-mail, cujo texto era uma carta aberta à presidenta Dilma Rousseff, que ele começa carinhosamente com “Querida companheira Dilma”.
— Não é muito piegas? — perguntou-me.
Sinceramente, não achei. Gostei do conteúdo e do tom. Um desabafo franco de um militante de 66 anos de idade e 35 de PT —  ele é um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores.
Na hora, identifiquei na carta os sentimentos que muitos leitores do Viomundo têm manifestado aqui nos seus comentários.
— Vamos publicá-la? — propus. Ele topou.
Postamos na própria sexta. Neste momento, domingo 11, 20h20, já somam no Viomundo 46 mil curtidas no Facebook, quase 425 tuítes e 166 comentários de leitores.
Como eu imaginava, a carta de Scavone  teve grande repercussão junto a quem entende ser necessária uma mudança de rumos do governo em defesa dos seus objetivos originais e em defesa da própria Dilma, ameaçada por uma articulação golpista.
A carta atingiu em cheio  coração e mentes dos nossos leitores. Tanto que boa parte dos comentários foi na mesma linha: eu assino embaixoé o que eu gostaria de ter dito, eu quero assinar, você me representa.
Muita gente quis saber se não havia como subscrever a carta. Chegou-se então à conclusão de que seria interessante colocar na “nuvem” da crise uma posição de apoio e cobrança da presidenta Dilma.
Daí nasceu a petição Por um aceno teu, que está aberta a adesões. Pode assinar, quem quiser.
O texto é o mesmo da carta de Scavone. Apenas o eu deu lugar ao nós.
Para quem quiser assinar, é só clicar aqui.
Como a Petição Pública não exibe uma lista de quem assinou, nós publicaremos os nomes. Atualizaremos a lista duas vezes por dia.
A Petição, porém, dá acesso aos comentários dos signatários.  Quem tiver curiosidade em ler os recados deixados para a presidenta Dilma, é só clicar aqui

*********
Por um aceno teu
Querida companheira Dilma:
Nós imaginamos como anda difícil sua vida aí no Planalto. Mas é possível que você não tenha ideia de como anda a nossa aqui na planície. Não, nós não falamos da carestia, do desemprego. Nós todos sabíamos que, quando o cobertor ficasse curto, a briga pela coberta ia ser feia. E eles, da elite, têm muita mais força que nós, apoiados pela grande mídia. Sabíamos, sim.
Nossa angústia aqui é outra. É ver que você tomou para si a bandeira da luta contra a corrupção e deixou todos eles, da elite, fulos de raiva. Eles não conseguem te associar à corrupção, por mais que façam. E olha que não fazem pouco. A martelação é todo dia, nos rádios, nas TVs, em todo canto. Chega a encher o saco.
Pois é. Mas esse é o problema. Nós estamos sentindo que você está achando que teu principal legado vai ser o combate à corrupção. “Duela a quién duela”. Daí que você não quer nem ver perto de você qualquer um que tenha respingos de Lava Jato. Tem razão, é complicado. Você chegou a se isolar por causa disso. E não fala com ninguém. “Meu governo não impedirá a apuração dos mal-feitos”, você tem repetido. E o teu ministro da Justiça segue nesse rumo.
O problema é que a justiça em nosso país tem olhos, ouvidos e enxerga bem demais por baixo daquele paninho nos olhos. Ela só apura o que interessa para seus patrões. Não, não, não estamos sendo exagerados. Ela só apura se for contra o PT. Com o resto, ela é complacente. Você, obviamente, já reparou isso.
Sabe aquele poema do Brecht, que a gente falava tanto nos nossos tempos de luta contra a ditadura? “Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso. Eu não era negro…” Lembra? Pois é. A agressão está crescendo cada vez mais, já estão hostilizando nossos companheiros nos bares e restaurantes.
Agora, companheira Dilma, um Presidente da Câmara, que está enrolado até os cabelos com corrupção, está à frente para te pegar por – é incrível – improbidade administrativa! E conta com os votos de ministros do TCU, que também estão enrolados com malfeitos.
Mas você não está. Incrível! E vai ser impedida por causa de quê?
Porque a elite quer, porque eles não aturam mais os investimentos sociais que tiram deles margens de lucro. E já está claro que não adianta ter um Levy para amansar essa gente. Você sabe disso, nós não precisamos dizer. Veja o desespero deles, hipócritas, com a decisão do STF sobre financiamento de campanha.
Mas o que nós queríamos falar, que dói no nosso peito, é que não dá pra ficar calada, aí, no Planalto. Nós não ficamos calados no tempo da ditadura. Você foi à luta. E agora?
Você vai deixar teu ministro da Justiça quieto enquanto eles vão tomando os espaços, um a um, acusando todo mundo de corrupção como se fossem todos eles vestais da honestidade?
Vai deixar que o cobertor descubra os mais humildes?
Nós sabemos a hipocrisia da política. Basta olhar o tratamento dado ao Cunha. Ou ao Nardes. É estarrecedor.
Mas, companheira Dilma, não se deixe abater em pleno voo. Vá às massas. Mostre que teu compromisso é com quem precisa. Na dúvida, opte pelos oprimidos e radicalize a disputa para deixar claro o que está em jogo.
Se for para cair, caia atirando. Mas diga aos quatro ventos a que você veio, pra que tua vida serviu. Vá à batalha defendendo o que acreditas. Essa é nossa angústia. Ver você quieta, sendo torturada no Planalto calada, amortecida, como se aí dentro não batesse mais um coração tão valente. Você não imagina a quantidade de gente que espera por um aceno teu, para ir junto, e te ajudar a enfrentar o inferno atual.
São Paulo, 11 de outubro de 2015
Assinam

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Por que os professores de Brasília precisam fazer a greve?

por José Gilbert Arruda Martins

O que é greve?
"De forma sintética a greve pode ser considerada como a suspensão coletiva e voluntaria do trabalho realizado pelos/as trabalhadores/as de determinada categoria a fim de obter benefícios para esta."
Greve é instrumento importante de luta.
Greve é instrumento fundamental de luta por uma Educação Pública de Qualidade.
Greve é instrumento de luta que, felizmente ou infelizmente, uma categoria é obrigada a usar por causa do desrespeito extremo de um governo autoritário.
Pode ter certeza caros estudantes, a greve que hoje bate às nossas portas, foi forjada pela inabilidade e arrogância de um governo que deseja sucatear a Educação Pública para privatizá-la no futuro.
Com sucateamento paulatino e a mídia justificando na cabeça e coração do povo a importância de entregar aos empresários, quando acordarmos, as escolas estarão sendo administradas pelo grande capital rentista.
Isso já acontece em vários Estados brasileiros governados pelo PSDB, é o caso do Pará, Goiás e Paraná.
Apoiar a greve hoje é lutar para manter Viva a Educação Pública no Distrito Federal.
Por quais motivos é deflagrada uma greve?
"Essa não é uma pergunta que carrega consigo apenas uma única resposta, uma vez que os motivos para que uma categoria de trabalhadores/as se organize é ampla, mas todas tem um pilar que sustenta a necessidade da realização de uma grave que é, basicamente, o propósito de sanar as necessidades que são convergentes nesta categoria."
Os professores e professoras do Distrito Federal farão a greve a partir do próximo dia 15/10, por vários motivos:
* O governo não pagou e se nega a pagar a tabela salarial vigente.
* Falta absurda de diálogo e negociação por parte do governo.
Estamos em greve porque não aceitamos ser responsabilizados pela má gestão do dinheiro público e nem pela inabilidade deste governo em gerir as contas do DF.
Não reconhecemos o clima de falta de recursos no DF porque já sabemos o que vem depois disso.
Mais do que reduzir, inconstitucionalmente, o valor do salário, o governo revela uma voracidade incomum para atacar direitos trabalhistas garantidos em lei.
Trabalhos para receber salário. E somo servidores públicos porque estudamos, investimos em um emprego digno, livre das injustiças trabalhistas cotidianas e impunes da iniciativa privada.
E toda essa luta é para garantirmos na capital de nosso país serviços públicos, gratuitos, de qualidade, afinal, são serviços caros que pagamos com nossos impostos, independentemente de estarmos empregados ou desempregados.
Com informações de:
http://www.sinprodf.org.br/editorial-orgulho-de-fazer-parte-de-uma-categoria-de-garra/
https://feab.wordpress.com/2015/05/25/entenda-a-greve-dos-professores-de-2015/