terça-feira, 2 de junho de 2015

ENTREVISTA - No Brasil, intolerância religiosa nega e tenta inibir cultura mestiça

na Rede Brasil Atual
Discriminação e ataques recaem, principalmente, sobre religiões de ancestralidade africana. Doutor em Ciências Sociais discorre sobre pluralidade e os preconceitos movidos a interpretações da fé
por Marcela Belchior, da Adital 
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Para analista, falta ao Estado admitir, oficialmente, dialogar e estabelecer relações formais com religiões de ancestralidade africana
Formalmente, o Brasil é visto como um país de paz religiosa. Este consenso ideológico, no entanto, é desafiado quando observamos religiões sendo, cotidianamente, discriminadas por adeptos de outros grupos religiosos e excluídas das políticas públicas do Estado. Neste contexto, religiões de ancestralidades africanas são os mais frequentes alvos, indicando que a intolerância religiosa é, sim, uma questão a enfrentar grandes desafios na sociedade brasileira.
País mestiço de partida, o Brasil abriga religiões cujas fronteiras se tocam e avançam umas sobre as outras, num notório sincretismo entre doutrinas, tradições e ritos. Neste caldo cultural e religioso, diversos conflitos de poder se instalam, cujos principais agentes ativos de ataques e enfrentamentos são religiosos de referências neopentecostais, aderindo a práticas de exorcismo e tipificações do mal como demoníacas.
Para discutir o assunto, a Adital entrevistou, com exclusividade, o psicólogo Rafael Oliveira Soares, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), pesquisador das populações afro-brasileiras. Ele é também diretor-executivo da Koinonia, entidade ecumênica que presta serviços aos movimentos sociais e é composta por pessoas de diferentes tradições religiosas.
O cientista social destaca que é um movimento comum no convívio entre culturas as migrações de pessoas entre grupos, religiosos ou não, gerando novas visões e expressões de sua fé. Porém, práticas religiosas fundamentalistas imporiam, pelo medo ou pela lógica de resultados, que há migrações incompatíveis, negando a cultura. Isto deságua, primordialmente, em religiões nascidas da mescla com elementos da África. De acordo com Rafael, aos embates de contexto religioso, associam-se o racismo e o preconceito, que figurariam como "instrumentos sociais de segregação de toda a sorte, especialmente da contínua redução das religiosidades dos negros e de suas herdeiras em ações do mal, 'negras' na magia, nas intenções e na fé”.
Nesse cenário, o Estado reconhece, de fato, a diversidade religiosa do país, mas não de direito. Uma discrepância no respeito às religiões prossegue em espaços e instituições que, ao contrário, deveriam zelar pela pluralidade de religiões e garantir sua proteção por meio de políticas públicas de diversos aspectos. Para Rafael, o Estado não admite, oficialmente, dialogar e estabelecer relações formais com religiões de ancestralidade africana.
O Brasil é composto por uma grande diversidade de expressões religiosas, que são todas partes da nossa cultura. Podemos dizer que essa pluralidade é reconhecida pela população?
Há diversas abordagens para essa questão. Em geral, pessoas da população, se perguntadas sobre a aceitação de todas as religiões, tendem a responder positivamente, haja vista o consenso ideológico de que somos um país de paz religiosa. Mas a realidade diverge disso. Em geral, esse mito de paz se reproduz como verdade, quando vemos promoções de eventos inter-religiosos. Ninguém gosta, diria eu, jocosamente, de sair mal na foto, nem mesmo os fundamentalistas mais arraigados. Mas esse é outro capítulo.
No entanto, a questão muda completamente de figura quando se pensa a convivência da diversidade a partir dos conflitos existentes no Brasil. Notoriamente, entram em cena em diversos conflitos, como agentes ativos, os religiosos de matriz neopentecostal — e digo assim porque, depois de mais de 30 anos, quase 40, de neopentecostalismo no Brasil, este já ganhou ares de uma matriz religiosa repetida em muitas vertentes eclesiais, tradicionais protestantes e evangélicas ou não.
A nosso ver, o neopentecostalismo começa como uma reforma dentro dos adeptos da Umbanda e não dentro do mundo evangélico. Que assim, ligeiramente, poderíamos explicar como uma religiosidade que, e a partir de um certo ponto, decidiu aderir ao exorcismo e à tipificação de toda aparência do mal como demoníaca — para isso, as fontes bíblicas e da cultura evangélicas estavam à mão para este fim. Reforma dentro da Umbanda, nesse sentido de que a Umbanda aceita que manifestações do mal podem ser acolhidas, tratadas, curadas e encaminhadas para uma vida melhor.
E um neopentecostal, acreditando nas mesmas coisas que um umbandista, rejeita a busca do equilíbrio entre o bem e o mal e cria sua versão de caricatura de demônios e eleva o exorcismo ao status de focal do seu fundamentalismo. Não é por acaso, então, que a negação das religiões de matriz afro-brasileira passe a ser a generalização e a própria identificação do mal por parte dos neopentecostais — saindo de um momento inicial da demonização de alguns seres encantados (orixás, inquices, voduncis, caboclos, entidades, conforme a tradição ou a nação) para a identificação de todas as manifestações de matriz africana como seres do mal.
Mutação esta esperada de um processo fundamentalista que se expande, mas também consequência de um crescimento das igrejas no mercado de fiéis, prioritariamente devotos que admitem, em sua visão de mundo, que o universo está habitado por encantados, os devotos de uma religiosidade de matriz africana principalmente ou simplesmente um brasileiro comum, formado em uma cultura que admite a existência de todas essas manifestações religiosas.
Essas reflexões colocam em perspectiva o que é cultural e o que não é.
Os instrumentos acessados pelos neopentecostais para a dinâmica do conflito estão presentes no mundo evangélico, mas não só. Estão presentes na cultura e não foram inventados pelos evangélicos. Trata-se de uma herança colonial, derivada da dominação de Estado feita pelo catolicismo. As formas de dominação latino-ibéricas, ao contrário das colonizações anglo-saxãs, não negaram nem os deuses nem a religiosidade dos colonizados, a lógica sempre foi da apresentação de um deus maior e vitorioso sobre todas as religiosidades e entidadesque habitam a colônia. Enfim: nada de novo em relação ao modo de guerra que estabelecem os neopentecostais.
Por último, e mais importante, na mesma cultura nasceu e sobrevive o racismo e o preconceito, instrumentos sociais de segregação de toda a sorte, especialmente da contínua redução das religiosidades dos negros e de suas herdeiras em ações do mal, "negras” na magia, nas intenções e na fé.
O sincretismo religioso do nosso país também desafia as fronteiras entre as religiões. De que maneira isso se expressa na convivência entre os grupos religiosos?
Há dois tipos de sincretismo. Aquele que a convivência entre as pessoas produz, como forma de compartilhar crenças, e aquele que se expressa nas relações de poder. O Brasil está mais eivado do segundo tipo, herdeiro de jogos de poder. Mas há uma tradição não planejada, de fazer o sincretismo refletido — ainda que a força tenha sido sua origem. Exemplo de sincretismo refletido é a própria constituição do Candomblé. Trata-se de uma religião de fontes africanas reinventadas aqui, na convivência com indígenas e com uma diversidade de africanos de diferentes nações, incorporando, inclusive, alguns elementos dos africanos muçulmanos trazidos para cá.
Outro exemplo é a tradução das características de santos católicos para as de entidades africanas — ressalto o tema das qualidades de cada um, pois isso é mais do que simplesmente ocultar a entidade africana e seus fundamentos em um santo do pau oco qualquer, para evitar a repressão, o santo católico foi escolhido, de forma refletida, para representar por similaridade o panteão africano.
Sobre fronteiras e o sincretismo que se produz sem conflitos, é bom lembrar que é necessária uma ampla aceitação da cultura brasileira, o que não é o caso dos missionários evangélicos que vieram para o Brasil. Sua tradição é a de negar a cultura, converter e não conviver, "a la colônias anglo-saxãs”. Isto é o que nos faz dizer que o neopentecostalismo não é herdeiro dessa tradição evangélica, porque ele não nega a cultura, apenas elenca aspectos que devem ser demonizados.
Já a Umbanda nasce de anos de sincretismo entre origens afros, religiosidades indígenas, kardecistas e outras a depender, com a vocação de ser a religião brasileira, conformada nos anos de 1930, no calor do nacionalismo vigente à época.
Nesses contextos, é natural que haja migrações de pessoas entre grupos que compartilham a mesma visão de mundo e isso ocorre muito, inclusive, entre expressões afro-brasileiras e ibérico-católicas, de certo modo isolando os evangélicos que ainda insistem em negar a cultura — o que não é o caso dos neopentecostais. O fundamentalismo não é barreira para a busca de migrações, mas impõe, pelo medo ou pela lógica de resultados, que há migrações incompatíveis e, é claro, falamos das religiões de matriz africana.
E pelo Estado? A diversidade religiosa é reconhecida de fato e de direito?
O Estado reconhece de fato, mas não de direito. Há uma discrepância original oriunda do século XIX, pelo menos, que deixou para a Igreja Católica (Icat) ares ou o status de religião oficial. Além disso, uma naturalização do Cristianismo como religião nacional e oficial em todos os espaços de função pública do Estado. Mas o pior está na falta de reconhecimento do mesmo direito para todas as religiões. Apenas para dar um exemplo, a imunidade fiscal, em geral, é aplicada à Icat, com alguns casos evangélicos oriundos de lobbies políticos, e uma grande ausência de tal reconhecimento para outras religiões — na maioria dos municípios, cobra-se Imposto Territorial Urbano de casas de religiões de matriz africana, o que não ocorre para a Icat e outros cristãos.
Há hierarquias/favorecimento/discriminação no trato com cada religião? Como isso se dá?
Além do já exposto acima, há os empecilhos ao atendimento religioso em hospitais, a falta de proteção a rituais funerários, também com impedimentos em cemitérios, fora o fato de que o Estado não admite, oficialmente, dialogar e estabelecer relações formais com religiões de matriz africana, exigindo que se constituam em associações civis.
O que pode ser considerado "intolerância religiosa”?
Desrespeito à liberdade de expressão, proibições de uso de vestimentas rituais em público, agressões físicas a pessoas e a monumentos religiosos, além do uso indevido de símbolos de outra religião com o fim de desmerecer, condenar ou mesmo demonizar a mesma.
Que diferenças há entre a intolerância religiosa no âmbito ideológico e no âmbito político?
No âmbito ideológico, estão a conformações do universo de compreensão do outro sobre o divino, sobre o sagrado, como em si erradas e passíveis de condenação, segundo os critérios de outras religiões. Em nível político, as questões se colocam basicamente no aspecto da igualdade de direitos, reconhecida e protegida pelo Estado (vide questão anterior), nos três poderes — fato raro no Brasil, haja vista, por exemplo, as bancadas no Congresso Nacional.
Há práticas de perseguição religiosa hoje no Brasil? Como ela pode se manifestar na contemporaneidade?
Infelizmente, já iniciamos esta entrevista apontando para o olhar sobre os conflitos, como necessário. Assim sendo, as diferentes formas de estruturas de conflito têm em foco, principalmente, os neopentecostais como autores. Avançando fortemente contra as religiões de matriz africana e também aumentando os casos de agressão a católicos e suas igrejas locais.
Não se pode imaginar que o foco da perseguição ou agressão seja diretamente ordenado pelos pastores em suas pregações, mas as consequências são quase que inevitáveis. Um pastor não manda que se quebrem os templos e os símbolos de outrem, mas a reiterada identificação dos outros como demônios leva a que membros mais exaltados tomem em suas próprias mãos a extirpação da fonte dos demônios.
Some-se a esse quadro outro, de caráter mais geral, quando se assimila exemplos relacionados com direitos sexuais, que acabam por gerar violência dupla, por intolerância religiosa e por, por exemplo, homofobia. O estado contemporâneo das religiosidades passa por essa fronteira crítica, dos fundamentalismos, que negam o outro. Se não buscarmos formas de superá-lo, podemos chegar à barbárie religiosa ou a um câncer social sem volta.
Quais tipos de religião mais sofrem de intolerância e perseguição no Brasil?
As religiões de matriz africana são as que mais sofrem perseguição e intolerância, com os casos recentes aumentados de agressões contra muçulmanos em janeiro (motivados pela questão do assassinato de profissionais da revista Charlie Hebdo, em Paris) e imagens e templos da Igreja Católica. Se tomarmos mais o ponto de vista ideológico, aí devemos ampliar para judeus, Fé’Bah’aí e Hare Krishna, todos estigmatizados pela história, com destaque para os judeus.
Ainda há falta de informação/preconceito entre a população sobre as inúmeras religiões que estão presentes no país? Esse desconhecimento sobre as variadas religiões seria uma questão ideológica?
Há pouca formação e não produção de informação. Digo que, no plano educacional, tanto informal-popular como no âmbito formal-escolar, temos uma grande lacuna. Há problemas ideológicos, sim, mas de caráter de representação a fé de cada, deixadas à mercê da maioria ideológica que se impõe à minoria. Nesse sentido, a intervenção do Estado no plano educacional é fundamental, focando-se nos ditames da Constituição e garantindo o pleno exercício e visibilidade das minorias numéricas. Infelizmente, a Constituição não foi respeitada nos Estados do Rio de Janeiro e Bahia, que adotaram o ensino confessional nas escolas.
Como avalia a atuação do Estado brasileiro hoje com relação à intolerância religiosa?
Muito lento e burocratizado. Há melhoras com o Disque 100, da Secretaria Nacional de Direitos humanos, e há o caso ímpar do Estatuto da Igualdade Racial e contra a Intolerância Religiosa na Bahia. O Estado deveria configurar e desenvolver um Plano Nacional de Superação da Intolerância Religiosa, envolvendo, além da educação, saúde, direitos humanos e os setores fiscais e de formação de todos os quadros do Estado sobre o tema, no mínimo, em todos os níveis federal, estadual e municipal.
Há políticas públicas no país que contribuam para avançar na questão? Quais?
Muito pouco, como já citamos, e referências à Política Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, que atentam para as religiões de matriz africana.
Quais são as lacunas dessas políticas?
A nosso ver, é o amplo despreparo dos quadros do Estado para aplicá-las, além, é claro, da presença do preconceito nessas pessoas que, ainda que saibam, não aderem ao respeito ao outro.
Por um longo período da história brasileira, as religiões e práticas religiosas que contêm elementos africanos foram perseguidas e criminalizadas no país — pelo Estado e por outros grupos religiosos. Como está essa realidade hoje?
Comentamos esse tema acima, e acrescentamos aqui que há casos de morte por agressão por intolerância no Brasil. Veja aqui.
Quais os avanços nessa questão? Que problemas ainda temos de superar no respeito esses religiões em específico?
Não há muitos avanços se não considerarmos os movimentos sociais de combate à intolerância, que vêm reproduzindo diferentes mobilizações por direitos em níveis municipais e estaduais, com caminhadas, seminários, participações em outras movimentações da sociedade civil. Esse movimento social tem conseguido algumas conquistas. Por exemplo: no Rio Grande do Sul, com um Conselho da Diversidade Religiosa, e no Estado do Rio de Janeiro, com uma Política Estadual de Combate à Intolerância Religiosa já elaborada, aguardando sanção governamental, e também as políticas setoriais na área de saúde no Estado de São Paulo, com o GT [Grupo de Trabalho] Religiões.

Há uma diversidade de problemas a superar ainda, e já citamos a formação e educação do Estado. Os mais críticos são de caráter cultural, são muito graves, porque levaram séculos de elaboração, em um caldo de preconceitos, dominação cristã e racismo. A superação desse quadro exige um esforço de diálogos a longo prazo, convivências entre diferentes e ações para fazer o Estado cumprir seu papel, nem que seja às expensas de atos do Ministério Público.

Recentemente, um caso que chamou a atenção no Estado do Ceará foi a formação de grupos de jovens em programa intitulado "Gladiadores do Altar”. Eles marcham, batem continência e gritam estarem "prontos para a batalha” durante culto na Igreja Universal do Reino de Deus. O caso foi interpretado por alguns como a formação de "milícias” pelo "fundamentalismo religioso”. Como lidar com isso?

A mobilização de religiosos e religiosas junto à sociedade civil teve como acolhida, no Rio de Janeiro e na Bahia, uma ação do Ministério Público para investigar e acompanhar esse movimento no interior da Igreja Universal do Reino de Deus - Iurd. O receio das religiões de matriz africana baseia-se nos diversos atos sofridos de agressões por neopentecostais, cuja Igreja Universal do Reino de Deus é uma das maiores, senão a maior.
Fala-se de investigar, pelos mesmos motivos que apresentamos, de que a oficialidade de uma igreja vai negar que tenha promovido atos de violência e que tais possíveis atos seriam individuais ou de grupos não autorizados. Mas as imagens dos tais guardiões e um futuro próximo de possíveis agressões não podem ser descartados. Outrossim, é a primeira vez que o belicismo de aparência fascista toma corpo em uma igreja, a Iurd, com forte potencial para a guerra religiosa. Isso só facilitará a responsabilização da instituição caso haja casos..
Moções e ações do Ministério Público não são suficientes, mas devem ser buscadas, pois, afinal, as religiões de matriz africana não têm sido contadas entre as maiorias religiosas, mas não se pode negar que são parte da maioria que construiu nossa cultura brasileira.

Comissão da Câmara discute maioridade penal nesta terça-feira

na Rede Brasil Atual
Colegiado ouvirá consultora independente do Unicef e secretário de Defesa Social de Minas Gerais para debater a PEC 171/93, que o presidente da casa, Eduardo Cunha, promete levar a plenário ainda este mês
Eduardo Cunha_J.Batista/Câmara dos Deputados
"Comissão deve concluir seu trabalho até o dia 15 de junho, e levaremos imediatamente ao plenário", promete deputado

São Paulo – A comissão especial que analisa a proposta de redução da maioridade penal de 18 para 16 anos (PEC 171/93) promove na manhã desta terça-feira (2), a partir das 9 horas, nova audiência pública sobre o tema. O debate foi proposto pelo relator da matéria, deputado Laerte Bessa (PR-DF), e pelas deputadas Maria do Rosário (PT-RS) e Margarida Salomão (PT-MG).
A audiência ouvirá a advogada especialista na área de violência Karyna Sposato, consultora independente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e o secretário de Defesa Social de Minas Gerais e presidente do Colégio Nacional dos Secretários de Segurança Pública (Consesp), Bernardo Santana de Vasconcellos.
"A prática de atos infracionais por adolescentes tem colocado em questão as diretrizes de proteção à criança e ao adolescente, adotada pelo Estado brasileiro. Contudo, exige-se uma reflexão maior dos impactos almejados pela redução da maioridade penal, no sentido de averiguar sua eficácia para o controle da criminalidade e reinserção social dos infratores", argumentam as deputadas no requerimento que pediu a audiência.
A redução da maioridade penal está há mais de duas décadas em tramitação na Câmara. Ontem (31), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse em seu perfil no Twitter que pretende votar a proposta no plenário da Casa até o fim de junho. "A comissão especial da redução da maioridade penal deve concluir seu trabalho até o dia 15 de junho, e levaremos imediatamente ao plenário. Além dessa polêmica teremos ainda muitas outras, já que não vamos deixar de levar à votação qualquer matéria apenas porque um grupo do PT não quer", atacou.
Com informações da Agência Câmara

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Governar Como Esquerda é Preciso

por José Gilbert Arruda Martins

Temos, todos que lidam com educação e política nesse país, a consciência das dificuldades e grandes desafios que os governos trabalhistas de Lula e Dilma tiveram e ainda têm para governar concretamente como um governo de esquerda.

Professores de preto em defesa da Escola Pública de Qualidade e de Valorização dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação.

E é bom lembrar, governo de esquerda é para ser, pelo menos teoricamente, para todos e todas.

Se analisarmos os últimos dose anos, veremos que para fazermos e implantarmos as poucos e mansas Políticas Públicas de alcance popular, entre elas o Bolsa Família, tivemos que ouvir um de asneiras.

Pois bem, mesmo com os governos trabalhistas, a classe média alta ganhou, os bancos ganharam e os ricos e rentistas idem.

Está na hora de fazer por todos e todas, fazer um governo voltado também para os trabalhadores e trabalhadoras.

Em recente matéria divulgada pelo portal da Carta Maior, a professora Cecí Juruá, economista e doutora, defendeu o seguinte:

(...) redução da taxa de juros para níveis civilizados, tributação dos dividendos, fim do benefício fiscal a juros sobre capital próprio e adoção da CMF-Contribuição sobre Movimentações Financeiras - não eliminariam entre nós o problema financeiro.  Certamente não.  Mas reduziriam bastante seus efeitos perversos sobre a economia e sobre a grande maioria da população que sobrevive a custa do próprio trabalho.
Fica muito difícil para o governo Dilma Roussef, governar levando em conta e tentando implementar essas sugestões da professora por que a equipe que ela escolheu é uma equipe, em grande parte, voltada para o capital rentista e os ricos do que voltado para o Povo e os Trabalhadores.

Veja bem, como um governo de esquerda irá fazer, por exemplo, Reforma Agrária Popular tendo à frente do ministério da Agricultura uma Kátia Abreu, a principal líder dos latifundiários e do agronegócio no Brasil?

Como fazer as reformas propostas pela professora Cecí, que concretamente, fariam justiça e democracia tributária, taxando o capital especulativo e os mais ricos, se o governo escolhe um Levy para dirigir a economia?

Definitivamente, é impossível governar como esquerda se os cargos mais importantes do alto escalão estão com a direita.

Aliás, não deveria ter ninguém da direita no atual governo, se a direita quer governar, precisa ganhar as eleições de forma democrática.

Reforma financeira dispensaria o ajuste fiscal

na Carta Maior

A redução da taxa de juros para níveis civilizados e a tributação dos dividendos reduziriam os efeitos perversos do financismo.

Ceci Juruá*
PublicDomainPictures / Pixabay
Em recente entrevista publicada em CARTA MAIOR, o professor Ladislau Dowbor reafirma o que pensam muitos e bons economistas brasileiros: o principal problema da economia brasileira situa-se no setor financeiro, e não nas finanças públicas.   

Traduzindo, diríamos que os entraves ao crescimento, na atual conjuntura, decorrem de dívidas elevadas e de padrões desatualizados no crédito bancário, desatualizados porque orientados para a maximização das taxas de juros e das tarifas aplicadas a serviços financeiros.  Além das empresas, as famílias e o Governo são particularmente atingidos por taxas bancárias extorsivas.  No mês de abril calculava-se em aproximadamente R$ 4 trilhões os créditos direcionados a famílias e ao Governo (sendo R$ 1,5 trilhão para famílias e R$ 2,5 trilhões para o Governo),  segundo as estatísticas do Banco Central compiladas pelo prof. Bergamini (www.ricardobergamini.com.br).   Com as taxas de juros em vigor, pode-se estimar que esses atores - familias e Governo - pagam anualmente aos bancos um montante próximo ou maior do que R$ 500 bilhões. É muito dinheiro, mais do que o dobro do volume nacional alocado à Formação Bruta de Capital Fixo, em série anualizada. Se metade desse valor, os R$ 500 bilhões, fosse direcionada para o binômio poupança/investimento, sem dúvida poderíamos no mínimo dobrar a taxa de formação de capital fixo no curto espaço de dois anos.  Deixaria igualmente de existir o problema fiscal, pois a moderação da taxa Selic, para níveis civilizados reduziria os juros pagos pelo Governo (que extrapolam atualmente os R$ 100 bilhões, mais do que 10% da receita corrente líquida anual).  
São beneficiários da distorsão financeira acima apontada os bancos, em primeiro lugar, mas também os aplicadores individuais em fundos financeiros. Por isto, nada mais justo em matéria de tributação, com vistas ao "Ajuste Levy", do que exigir dos rentistas contribuição adicional que venha minimizar o problema por eles criado nas finanças públicas. O ideal seria reintroduzir a C(P)MF, Contribuição sobre a Movimentação Financeira, tornando-a permanente em lugar de provisória, um tributo que onera os mais ricos e que, além disso, pode ser arrecadado sem dificuldades e com baixo custo de arrecadação.    


Outra frente de arrecadação que sinalizaria maior justiça fiscal, é a tributação dos dividendos, hoje totalmente isentos da arrecadação do Imposto de Renda. Não há razão plausível que justifique recolher IR de assalariados e de beneficiários da Previdência Social, e não cobrar o mesmo imposto das pessoas que recebem polpudos dividendos.   Esta isenção, injusta, é também uma das principais alavancas da concentração de renda no Brasil, deprecia o conteúdo ético/moral do Trabalho e do trabalhador e valoriza os que se dedicam ao ócio pois vivem de rendas fáceis e não tributáveis.   

Enfim, mais uma medida de redução de injustiças, na frente tributária,  seria o fim do benefício fiscal concedido sobre a parcela de lucros distribuídos na forma de juros sobre capital próprio.  Segundo noticias veiculadas pela imprensa, "estimativas sobre a tributação de juros sobre capital próprio mostram um potencial de arrecadação de R$ 14 bilhões, com base em dados de 2014"  (jornal Valor, A-3, de 21 de maio de 2015).  Trata-se de um benefício criado em 1995 com o propósito, acredito, de favorecer o auto-financiamento do investimento nas grandes empresas.  Mas uma decisão desse porte e dessa natureza, em conglomerados e grandes grupos, dispensa favores e subsídios,  deve ser tomada a partir de cálculos primários, como por exemplo as técnicas de custo-benefício.  

As medidas aqui defendidas - redução da taxa de juros para níveis civilizados, tributação dos dividendos, fim do benefício fiscal a juros sobre capital próprio e adoção da CMF-Contribuição sobre Movimentações Financeiras - não eliminariam entre nós o problema financeiro.  Certamente não.  Mas reduziriam bastante seus efeitos perversos sobre a economia e sobre a grande maioria da população que sobrevive a custa do próprio trabalho.
__________   (www.desenvolvimentistas.com.br/caleidoscópio-brasileiro ) Rio de Janeiro, 31 de maio de 2015. 

*Economista, doutora em Políticas Públicas

domingo, 31 de maio de 2015

Nísia Floresta Brasileira Augusta: o feminismo revolucionário no século XIX

na Carta Maior

Nísia lutou, em especial, pela educação para as mulheres. Participou das campanhas abolicionista e republicana ao longo de praticamente toda a sua vida.

João Telésforo, do brasilem5.org
Reprodução/Wikimedia Commons
Um dos traços evidentes da herança colonial brasileira é o quanto desconhecemos ou menosprezamos intelectuais do Brasil, da América Latina e do “Sul” global. Como consequência, o vício eurocêntrico de reproduzir acriticamente modelos, projetos e discursos pouco enraizados na história do nosso país.  

Sem consciência do sangue negro, indígena e feminino que escorre do "moinho de gastar gentes" que formou o capitalismo e o Estado no Brasil, nos perderemos enfrentando moinhos de vento. Sem conhecimento das lutas e dos pensamentos que se articularam para enfrentar esse “moinho” real, dificilmente teremos capacidade de formular um projeto alternativo, de caráter libertador.

O governo fala em "Pátria Educadora", mas qual é o conteúdo de sua noção de Pátria e de seu projeto de Educação? Para nos armarmos de referenciais da nossa história para refletir sobre essa questão, convido o/a leitor/a a conhecer, então, uma grande intelectual nordestina do século XIX, que pensou o Brasil a partir das lutas de mulheres, abolicionistas e indígenas, e pôs em prática uma pedagogia feminista libertadora. Causas que permanecem, hoje, no centro de qualquer projeto revolucionário que mereça esse nome.

No litoral do Rio Grande do Norte, uma "fértil e charmosa" terra tropical, que nos acolhe com sua quentura úmida, abriga hoje o município de Nísia Floresta. As aspas são do relato de Dionísia Pinto Lisboa, escritora que nasceu ali em 1809 e se tornaria conhecida pelo nome que adotou para si: Nísia Floresta Brasileira Augusta. A exuberância natural do lugar, na região metropolitana de Natal, contrasta com a sua paisagem social. Para citar somente um dado, perversa ironia para a cidade que leva o nome de uma paladina Brasileira da educação: quase um quarto da população do município com mais de 15 anos de idade não é alfabetizada (Censo 2010 do IBGE). Nísia Floresta compreendia as razões para isso. NoOpúsculo Humanitário (1853), explica que sem uma “educação esclarecida”, “mais facilmente os homens se submetem ao absolutismo de seus governantes”.

A Brasileira Augusta lutou, em especial, pela educação para as mulheres. Não se contentou com a tradução livre, aos 22 anos, do livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens“. Insatisfeita com a falta de acesso, a má qualidade e a perspectiva patriarcal do ensino para as meninas, criou em 1838 uma escola para elas. Enquanto outras escolas para mulheres preocupavam-se basicamente com costura e boas maneiras, a de Nísia ensinava línguas, ciências naturais e sociais, matemática e artes, além de desenvolver métodos pedagógicos inovadores. Uma afronta à ideologia dominante de que esses saberes caberiam somente aos homens, restando às mulheres aprenderem os cuidados do “lar” e as virtudes morais de uma boa mãe e esposa…

Tal insubordinação rendeu a Nísia não somente críticas pedagógicas, mas também ataques à sua vida pessoal. Artigos nos jornais tentaram desqualificá-la como promíscua nas relações com homens e até mesmo com suas alunas. Mas essa Brasileira não era de baixar a cabeça para as estratégias atávicas do patriarcado. Já no nome que adotou para si e deu à escola, um grito de autonomia contra a moral sexual machista: "Colégio Augusto", homenagem ao seu companheiro Manoel Augusto, com quem corajosamente viveu e teve dois filhos, enquanto era acusada de adúltera pelo ex-marido, com quem fora obrigada a se casar – tendo-se separado dele no primeiro ano de casamento, aos 13 anos de idade.

Nísia participou das campanhas abolicionista e republicana ao longo de praticamente toda a sua vida. Denunciou também a devastadora opressão colonial contra os povos indígenas, em livros como "A lágrima de um caeté”, de 1849, poema épico de 39 páginas que em sua segunda parte tem como pano de fundo a Revolução Praieira (Pernambuco, 1848-50).

Ao migrar para a Europa, onde morou por quase duas décadas, Nísia continuou escrevendo e publicando livros de literatura e de resistência política. Foi amiga, admiradora e correspondente do filósofo positivista Auguste Comte, mas não absorveu seu determinismo racista. Sempre ostentou o orgulho de sua origem – ressaltada no próprio nome que se deu – e nunca abandonou o compromisso de se somar às lutas pela libertação dos setores oprimidos que formam a maioria social do povo brasileiro.
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João Telésforo vive em Brasília desde 2005, quando iniciou o curso de Direito na UnB, onde também realiza mestrado. Militante de direitos humanos, pesquisa o novo constitucionalismo latino-americano.

Número de senadores contra a PEC 215 já chega a 48

no Portal do MST
A PEC transfere para o Congresso atribuição de oficializar Terras Indígenas e Unidades de Conservação.
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Do Instituto Socioambiental

Em recado à bancada ruralista na Câmara, quase 60% de todo Senado assina manifesto contra proposta que transfere para o Congresso atribuição de oficializar Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Adesão indica que a chance do projeto ser derrubado é grande.

O número de senadores contrários à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 já chega a 48, isto é, quase 60% do total de 81. Os 48 parlamentares assinaram o manifesto intitulado “Senadores apoiam sociedade civil contra a PEC 215”, divulgado na terça. De anteontem para hoje, mais seis assinaram o texto.

A adesão ao documento pode ser considerada um recado duro do Senado à bancada ruralista da Câmara, que tem na PEC uma de suas principais bandeiras. O projeto transfere do governo federal para o Congresso a atribuição de oficializar Terras Indígenas, Territórios Quilombolas e Unidades de Conservação (parques, reservas, estações ecológicas). Se aprovado, na prática vai paralisar de vez o processo de oficialização dessas áreas protegidas, além de abri-las ao agronegócio, à exploração hidrelétrica e minerária, entre outras atividades econômicas.

A PEC está hoje numa Comissão Especial na Câmara. Se for aprovada no colegiado, segue para o plenário, onde precisa ser aprovada por 2/3 dos 513 deputados, em dois turnos. Só depois de aprovada no plenário da Câmara, passaria ao plenário do Senado, onde, para ser aprovada, precisa também de 2/3 dos votos dos senadores, em dois turnos de votação. Se não alcançar esse número de votos, o projeto é arquivado. O manifesto, portanto, indica que a chance do projeto ser derrubado no Senado é grande.

O texto foi assinado por figuras de peso político, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL); alguns dos principais nomes do PSDB, como o presidente do partido e ex-candidato à Presidência, Aécio Neves (MG), Aloysio Nunes (SP) e Tasso Jereissati (CE); e também líderes do PMDB (tido como a principal base do ruralismo no Congresso), como Romero Jucá (RR), Jáder Barbalho (PA) e Eunício Oliveira (CE). O líder do governo, Delcídio Amaral (PT-MS), e do PT, Humberto Costa (PE), também subscreveram o manifesto.

A adesão dos parlamentares sugere que eles concordam que o processo demarcatório das Terras Indígenas é um ato meramente administrativo que reconhece os direitos originários dos povos indígenas à terra já consagrado pela Constituição. E que o Congresso não deveria intervir nele.

“A confirmação de direitos de minorias não pode ficar suscetível a maiorias temporárias. A demarcação é um ato técnico e declaratório. Não há sentido em introduzir o componente político neste ato. É incabível trazer essa matéria para o âmbito do Congresso, um equívoco político e jurídico, um atentado aos direitos dos povos indígenas”, afirma o manifesto.

Senado e Câmara

“É isso que queremos: que o Senado possa declarar o seu apoio em defesa dos povos indígenas e da democracia. Temos mais abertura no Senado do que na Câmara dos Deputados. O Senado nunca deu tanta atenção à causa indígena como está fazendo agora. Se a PEC 215 for aprovada na Câmara, quando chegar ao Senado acreditamos que perderá força”, declarou Sônia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

O manifesto foi elaborado e as assinaturas foram recolhidas pelo senador João Capiberibe (PSB-AP). “Os senadores que assinaram esse abaixo-assinado se mostraram constrangidos e contrários à PEC 215. A nossa expectativa é que a Câmara dos Deputados paralise a tramitação dessa PEC, que é recusada pela maioria dos senadores”, afirmou Capiberibe.

“O momento político sinaliza a necessidade da PEC ser imediatamente arquivada, já que a sua tramitação, por si só, é capaz de causar graves danos no campo, como temos percebido com o assassinato de indígenas nas últimas semanas", alerta Maurício Guetta, advogado do ISA.

O manifesto é apoiado por movimentos sociais e organizações da sociedade civil, como a Apib, o ISA, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o Greenpeace e o WWF-Brasil.

Centrais e movimentos fazem Dia Nacional de Mobilização contra projeto da terceirização

no Portal do MST
Para Kelli Mafort, do MST, esse é o momento dos trabalhadores mostrarem que seguem em luta permanente diante da hegemonia do capital.
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Por Maura Silva
Da Página do MST

Essa sexta-feira (29) será marcada como o dia Nacional de Manifestações e Paralisações. Em todo o país a população está sendo convocada a participar de ações de paralisação e atividades contra a retirada de direitos da classe trabalhadora. 

As ações serão voltadas contra as Medidas Provisórias 664 (que muda as regras para a concessão do auxílio-doença e pensão por morte), 665 (que dificulta o acesso ao abono salarial e ao seguro-desemprego), e os ajustes fiscais promovidos pelo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Para Kelli Mafort, da coordenação nacional do MST, esse é o momento dos trabalhadores mostrarem que seguem em luta permanente diante da hegemonia do capital, que tem imposto uma avassaladora perda de direitos e um aumento profundo da desigualdade.

“Essa luta permanente de resistência e enfrentamento ocorre numa escala global. Mesmo com as contradições de um projeto político popular, de esquerda e de unidade. No Brasil não é diferente. Dia 29 vamos às ruas contra o ajuste fiscal, contra as medidas conservadoras adotadas pelo Congresso Nacional, denunciando o poder de defesa do capital pela mídia e pelo judiciário”, pontua.  

Com trancamentos de rodovias e ocupações de latifúndios, os Sem Terra se somam às lutas puxada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central, União Geral dos Trabalhadores (UGT), CSP-Conlutas e Força Sindical.

Outras organizações como o Movimento Mundo do Trabalho contra a Precarização, MAB e Levante Popular da Juventude também participarão dos protestos.

Mafort também ressalta que o objetivo do Movimento é seguir fazendo frente às pautas que ameaçam os direitos e aprofundam a precarização do trabalho e a exploração dos trabalhadores.

“Estamos nessa luta permanente, nos manifestando com outros setores e deixando nossa marca de luta nas rodovias do país. Para chamar atenção da sociedade diante da situação atual. Lutamos também contra os mais de 50% de cortes feitos ao Ministério da Agricultura por conta dos ajustes fiscais. Lutaremos para que os Sem Terra não paguem a conta de anos de privilégios, através de investimentos e financiamentos ao agronegócio”, pontua.  

Os sindicatos têm divulgado que a mobilização do dia 29 pode ser considerada também uma “etapa de preparação” para uma greve geral no país

Precarização

A classe trabalhadora vem sofrendo com derrotas sistemáticas diante do atual Congresso. O Projeto de Lei 4330 que, entre outras coisas, retira direitos dos trabalhadores ao permitir a terceirização sem limites, passou pela Câmara dos Deputados e agora tramita no Senado.

Ele vai passar por cinco comissões e, caso receba modificações, volta para a Câmara dos Deputados. De lá, segue para sanção ou veto presidencial.

sábado, 30 de maio de 2015

Marin, Aécio e os paneleiros com a camisa da CBF

por Kiko Nogueira no DCM
Eles
Eles

por José Gilbert Arruda Martins
Esses são os caras preocupados com o futebol e com o povo do Brasil. Um está bem preso em Zurique, o outro encastelado na "injustiça" brasileira.
Para o coxinha, que não tem salvação, esses são os paladinos da ética e anticorrupção, um está preso, outro debaixo da saia de uma justiça seletiva e, muitas vezes partidária.
Para o povo trabalhador, esses não enganam mais.
Ferraram com o futebol brasileiro, reduziram o esporte de domínio público em mais um lazer das elites e da classe média, quando ingressos são vendidos a R$ 120.
Reduziram o futebol, como diz um grande analista, a PÓ!!!

Marin, Aécio e os paneleiros com a camisa da CBF. Por Kiko Nogueira

Segundo a Justiça dos EUA, José Maria Marin recebeu propinas de 2 milhões de reais por ano de parceiros comerciais para a realização da Copa no Brasil quando presidente da CBF. Tentou ainda transferir para suas contas o dinheiro que era antes destinado a Ricardo Teixeira.
Na manhã de quarta, Marin era um dos detidos em Zurique, com outros seis cartolas da Fifa, a mando do FBI. O atual chefão da entidade, Marco Polo del Nero, tratou de atirar a bola no colo de outros. “Isso é algo antigo “, disse, corajoso. O secretário geral Walter Feldman, ex-coordenador de campanha de Marina Silva, conseguiu afirmar que as denúncias são “casos do passado” e que Marin tem hoje “papel decorativo”.
Compreensivelmente, em se tratando de gente desse tipo, os amigos de Marin sumiram todos, a empresa onde ele trabalhava tornou-se correta em dois meses e um pessoal quer que você acredite que ele operava sozinho diretamente de sua penteadeira nos Jardins.
Um companheiro fiel, particularmente, desapareceu e não dá pinta que de vai oferecer uma palavra de solidariedade: Aécio Neves. A relação de ambos é próxima, antiga e cheia de passagens edificantes.
Em 2013, Marin inaugurou uma placa em homenagem a Aécio no Mineirão do dia de um amistoso entre Brasil e Chile. Lembrou que o tucano foi dos primeiros a parabenizá-lo quando ele assumiu o cargo. Deu-lhe uma réplica de uma camisa da seleção de 58 e participou de um jantar em torno do senador.
Foi uma cortesia em retribuição a serviços prestados. Juntamente com o colega Zezé Perrella, o dono do Helicoca, ex-presidente do Cruzeiro, Aécio ajudou a enterrar a CPI da CBF, que visava investigar abusos de poder econômico na eleição de dirigentes, transferências irregulares de recursos, desvios de verbas, entre outras mumunhas.
Perrella e Aécio convenceram nove senadores a retirar suas assinaturas do pedido de abertura da comissão parlamentar de inquérito, inviabilizando-a (entre eles, Cássio Cunha Lima, paladino da moral e dos bons costumes). Na época, Perrella falou no plenário que “não achava motivo que fundamente uma CPI”.
Na campanha presidencial, Marin declarou voto no mineiro. Após a Copa, a ligação não esfriou. De acordo com um comunicado da CBF, Aécio ligou duas vezes para Marin na ocasião de um jogo com o time de Messi: “Antes da partida, Aécio Neves desejou boa sorte para a seleção brasileira que iria enfrentar a Argentina. Terminado o jogo, Aécio voltou a telefonar, dessa vez para parabenizar o presidente da CBF, jogadores e integrantes da comissão técnica pela bela vitória sobre a Argentina e pelo tricampeonato do Superclássico das Américas”.
A confederação ainda conta com um antigo aliado de Aécio, o lobista João Doria Jr, pessedebista de coração, empossado chefe da delegação. Galvão Bueno estranhou o fato de Doria não ter nada a ver com o esporte, como se esta fosse a especialidade da casa.
Os telefonemas devem estar fazendo falta a José Maria Marin, que pode pegar até 20 anos de cana. Numa das manifestações pelo impeachment, aquela em que chegou mais perto da rua, Aécio se deixou fotografar na janela do apartamento no Leblon com a camiseta da CBF, orgulhoso.
A mesma camiseta que milhares de coxinhas vestem para bater suas panelas e gritar pelo fim da corrupção, num tributo enviesado a brasileiros do bem como Marin, Teixeira, Del Nero e tantos outros que estão, neste momento, em pânico.
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Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Governador Rolemberg Mentiu para a Sociedade de Brasília

por José Gilbert Arruda Martins

Dormir numa barraca minúscula em praça pública não é o sonho de ninguém. Eu e milhares de professores e professoras de Brasília, dormimos na Praça do Buriti em janeiro passado, num acampamento que durou semanas.


O acampamento fazia parte de uma mobilização dos professores do DF para receber, salários, férias e 13° salário atrasados.

Serviços públicos fundamentais para a população foram paralisados, funcionários de limpeza de postos de saúde, hospitais, sem receber salários, pararam provocando um caos inédito na cidade, serviço de limpeza urbana abandonado, serviço de alimentação hospitalar sem funcionar, um desrespeito absurdo, greve de médicos.

Os professores e professoras, cerca de 30 mil educadores, ficaram sem suas merecidas férias, por causa do atraso salarial.

O governador e sua equipe tucana, com o apoio do sr. Alexandre Garcia - ex-assessor de imprensa do general/ditador João Batista de Oliveira Figueiredo, hoje funcionário de uma afiliada da Globo aqui na cidade -, afirmou que não poderia pagar salário pois o governo anterior teria deixado os cofres do GDF sem nenhum centavo.

Pois bem, o deputado distrital do Partido dos Trabalhadores, senhor Chico Vigilante, foi ao acampamento, produziu vídeos e desmentiu o governador e sua equipe. 

Mesmo desmentido, a mídia conservadora - Globo, Correio, radialistas fundamentalistas.. mantiveram a mentira que fez sofrer muitos servidores e, de quebra a população da cidade, pois o atendimento em hospitais, postos de saúde, limpeza urbana, distribuição de remédios, políticas públicas de atendimento social etc. etc., pararam quase que completamente, foi um transtorno sem tamanho.

E agora senhor governador?

O Tribunal de Contas, divulgou hoje 29/05, o resultado de uma auditoria que demonstra claramenteque o GDF tinha em janeiro mais de R$ 17 milhões em caixa. E agora?

Cabe crime de responsabilidade? Já que a cidade sofreu, os servidores sofreram, a sociedade penou?

O governador precisa responder na justiça.

Assista a um dos vídeos do dep. Chico Vigilante:




Hamlet de Shakespeare e o mundo como palco, com Leandro Karnal

YouTube


Essa aula genial, devemos à TV Cultura ao grande professor Leandro Karnal, me chamou a atenção devido a um recorte que um companheiro de partido e de luta me envio por WhatsApp, o recorte, retirado dessa aula maravilhosa, fala sobre corrupção.

prof. Gilbert

“hamlet é o anti-facebook”

o personagem de shakespeare, diz o historiador leandro karnal no café filosófico cpfl, não só não é feliz como não faz questão de parecer feliz. “hamlet é melancólico. tem uma consciência brutal. e quem tem consciência brutal não sorri nem compartilha sua vida medíocre o tempo todo”

o personagem fundador da modernidade é o príncipe hamlet. dono de seu destino, ele é o primeiro personagem que vive “o príncipe”, de maquiavel. tem a crença no poder do eu e na glória. é dele, e de mais ninguém, o poder de se proclamar e a decisão de não se matar.

hamlet é, sobretudo, um grande crítico da retórica da etiqueta, dos personagens que interpretam o tempo todo e que sempre dizem apenas o que deve ser dito. para o professor de história da unicamp leandro karnal, o personagem era um grande crítico da sociedade contemporânea.

“hamlet é o anti-facebook. ele não só não é feliz como não faz questão de parecer feliz. hamlet é melancólico. tem uma consciência brutal. e quem tem consciência brutal não sorri nem compartilha sua vida medíocre o tempo todo”, disse o historiador durante o café filosófico cpfl “hamlet de shakespeare e o mundo como palco”.

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“muitas pessoas acreditam que a corrupção está a cargo de um partido. essas pessoas são muito felizes. a corrupção que hamlet nota começa no leito da mãe na dinamarca. aqui, começa no acostamento e no atestado médico falso. se a corrupção fosse só de um partido, eu seria feliz. eu eliminaria hamlet e o mal e adotaria paulo coelho.”

segundo o palestrante, vivemos hoje um momento de pura burrice argumentativa. “a nossa capacidade de ouvir está muito baixa. quando não quero ouvir, a solução é a guerra civil. há quem defenda: ‘vamos dividir o país’. a primeira condição da política é o diálogo. o seu ódio do outro é o seu medo de si. o diálogo nos humaniza.”