sexta-feira, 3 de abril de 2015

Salão do Estudante chega à sua 20ª edição em sete capitais brasileiras

no Catraca Livre
divulgação
Dúvidas sobre intercâmbios? Aproveite a 20ª edição do Salão do Estudante em 7 capitais

Em 2014, cerca de 300 mil brasileiros viajaram para o exterior a fim de aprender ou aprimorar o idioma que estudavam. E o grande número de intercâmbios deve aumentar cada vez mais, tamanha a importância de uma segunda língua no mundo globalizado. Uma alternativa para ter contato com essa experiência e se aproximar do sonho de viajar para fora é o Salão do Estudante, evento que chega à sua 20ª edição em 2015.
Desta vez, sete capitais brasileiras serão contempladas com a feira, cada qual com datas e horários diferentes para acontecer (confira abaixo). São elas: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e Recife. Em todas as cidades a entrada é Catraca Livre,mas antes deve ser feita uma inscrição pelo site do Salão do Estudante para participar.
Os brasileiros interessados em estudar no exterior terão a oportunidade de conversar diretamente com agências de intercâmbio e representantes de instituições de ensino de mais de 20 países, entre eles: África do Sul, Argentina, Austrália, Canadá, Colômbia, China, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Irlanda, Lituânia, Malásia, Malta, Peru, Polônia, Portugal e Reino Unido.
O visitante que for ao Salão do Estudante poderá se informar sobre todos os cursos que existem fora do Brasil, que inclui cursos de idiomas, Au Pair, Programas de Estudo e Trabalho, High School, acampamentos de verão, graduação, pós-graduação, mestrado, PhD, MBA, cursos técnicos, entre outros. Para saber sobre a programação completa, acesse o site do São do Estudante.
Confira abaixo o cronograma em todas as cidades:
Data: 14 e 15 de março
Horário: 12h às 19h (sábado) e 11h às 19h (domingo)
Local: Centro de Eventos do Colégio São Luís (R. Luis Coelho, 323)

USP oferece 10 cursos online e gratuitos pela Univesp TV

no Catraca Livre
Foto: Marcos Santos/USP Imagens
USP (Universidade de São Paulo) disponibiliza, por meio de vídeo-aulas na plataforma da Univesp TV, 10 cursos que passeiam pelas áreas da política, economia, matemática, astronomia e muito mais.
Trata-se de um canal da Universidade Virtual do Estado de São Paulo, que oferece cursos online gratuitos livres, sem necessidade de inscrição ou vestibular. A plataforma não emite certificados.
Confira as opções:

Zelotes: só coitado paga imposto no Brasil, diz conversa interceptada pela PF

no Diário do Centro do Mundo
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por José Gilbert Arruda Martins

É importante que se diga, se o país não tivesse instrumentos, Polícia Federal aparelhada e bem remunerada, uma legislação moderna, uma Procuradoria Geral da República independente, nada disso estaria hoje exposto na grande mídia.

E, a maior parte, se não toda, dessa reestruturação, inclusive com independência do PGR, foi e criação dos governos trabalhistas do PT e seus aliados. Isso é fato que muita gente quer esconder e poucas querem ganhar, ainda mais.

O clã marinho, está entre os "grandes" que não pagam seus impostos.

A Receita Federal e a justiça precisa cumprir com suas obrigações, se pega os coitados, precisa pegar os grandes.


Zelotes: só coitado paga imposto no Brasil, diz conversa interceptada pela PF

Do estadão:
Em conversa interceptada pela Polícia Federal, um dos integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), espécie de “tribunal” que avalia recursos de contribuintes em débito com a Receita, afirma que o órgão se tornou um “balcão de negócios” e, no cotidiano de julgamentos, quem não faz “negociata” leva a pior.
Na escuta, o conselheiro Paulo Roberto Cortez, um dos investigados por participação no esquema para favorecer grandes empresas, afirma ainda que só “coitadinhos” têm de pagar impostos. “O Carf tem de acabar, não pode. Quem paga imposto é só os coitadinhos”, constata ele em um telefonema. “Quem não pode fazer acordo, acerto – não é acordo, é negociata – se fode”, continua ele.
A conversa foi interceptada pela Polícia Federal em 25 de agosto do ano passado. Do outro lado da linha, estava o sócio de Cortez no escritório de assessoria contábil Cortez & Mallmann, que atua no Carf, Nelson Mallmann. No diálogo, os dois mencionam casos de suborno envolvendo conselheiros do Carf e grandes empresas investigadas na Operação Zelotes. Há ao menos 74 pessoas físicas e jurídicas sob suspeita, entre eles gigantes do setor privado, como revelou o jornal “O Estado de S. Paulo” no último sábado.
Num dos trechos, o conselheiro afirma, referindo-se aos recursos de contribuintes que apelam ao “tribunal” da Receita: “Eles estão mantendo absurdos contra os pequenininhos e esses grandões estão passando tudo livre, isento de imposto. É só pagar taxa”, continua Cortez.
Na conversa, ele diz que o Carf tem de fechar para que os casos a ele levados passem a ser discutidos no Judiciário. “Não pode isso aí. Virou balcão de negócios”, comenta, acrescentando: “Dá vergonha, cara”.
Na Operação Zelotes, a Polícia Federal e a Procuradoria da República no DF pediram a prisão temporária de Cortez por supostas práticas de associação criminosa, tráfico de influência e lavagem de dinheiro. A Justiça, no entanto, não considerou a medida necessária. Segundo o inquérito, as empresas de Cortez foram usadas para “branquear” pagamentos de clientes que buscavam alterar os julgamentos do Carf.
O Estado telefonou para o escritório de Cortez e Mallmann, mas as ligações foram interrompidas quando a reportagem se apresentou. “Não temos interesse”, disse o atendente, que não se identificou. O Estado telefonou para Cortez e o sócio em seus celulares, mas não foi atendido. Também enviou e-mail para ambos, mas, por ora, não houve resposta.

A alma do consumo

no Le Monde Diplomatique Brasil
A era hipermoderna se dá sob o signo do excesso e do extremo: não sabemos ao certo onde termina a necessidade e onde começa o supérfluo. A vontade de saber, a vontade de se relacionar, a vontade de viver e a vontade de lazer foram absorvidas pela lógica do consumo
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Um artigo para guardar e ler pelo uma vez por semana.
Leitura, a meu ver, obrigatória para todas as idades.
Afinal somos todos, ou quase todos, consumistas ou consumidores?
Pena, que nem todos têm tempo para "perder", - pois precisamos do tempo para produzir dinheiro para consumir -, lendo um texto, que alguns dirão "longo demais".

Eu digo, longo e grande é a sede do consumo que nem todos têm como alcançar.



A alma do consumo

*por Gustavo Barcellos
Todos os dias, em algum nível, o consumo atinge nossa vida, modifica nossas relações, gera e rege sentimentos, engendra fantasias, aciona comportamentos, faz sofrer, faz gozar. Às vezes constrangendo-nos em nossas ações no mundo, humilhando e aprisionando, às vezes ampliando nossa imaginação e nossa capacidade de desejar, consumimos e somos consumidos.

Numa época toda codificada como a nossa, o código da alma (o código do ser) virou código do consumidor! Fascínio pelo consumo, fascínio do consumo. Felicidade, luxo, bem-estar, boa forma, lazer, elevação espiritual, saúde, turismo, sexo, família e corpo são hoje commodities reféns da engrenagem do consumo. Podemos falar, como os filósofos e sociólogos contemporâneos, de um hiperconsumo?

O consumo não pertence a todas as épocas nem a todas as civilizações. Somente há pouco tempo histórico é que falamos e entendemos viver numa sociedade de consumo, onde tudo parece adaptar-se à lógica dessa racionalidade, ou seja, à esfera do lucro e do ganho, à ética e à estética das trocas pagas. É uma singularidade histórica. Tornamo-nosHomo consumericus.

Num plano mais profundamente psicológico, que racionalidade é esta, a do hiperconsumo? Que deuses estão ali abatidos? Que arquétipos? Para ecoarmos os receios de Jung sobre deuses e doenças1, que doença é esta, a paixão consumista, tão absorvente, tão aparente, tão definidora?

O consumo é uma forma modificada e moderna de estabelecer relações com o mundo dos objetos e dos seres, e também com o mundo da interioridade. A vontade de saber, a vontade de se relacionar, a vontade de viver, a vontade de lazer, foram absorvidas por essa lógica.

Para uma psicologia arquetípica, há deuses em nosso consumo: Afrodite da sedução e do encantamento pela beleza e pelo prazer, Hermes do comércio e da troca intensa, Cronos do devoramento, Plutão da riqueza e da abundância, Criança Divina da novidade, Dioniso do arrebatamento, Narciso ensimesmado, Herói furioso, Eros apaixonado, Pan, Príapo, Puer, quem mais? Que pessoas arquetípicas estão na alma do consumo?

Ao buscarmos pela alma do consumo, lançamo-nos, sempre mais desconfortavelmente, no jogo entre necessidade e supérfluo, entre frívolo e essencial. Não sabemos ao certo onde termina a necessidade, onde começa o supérfluo, onde estão as fronteiras entre consumo de necessidade e consumo de gosto, consumo consciente e consumo de compulsão.

A era hipermoderna se dá sob o signo do excesso e do extremo, que realiza uma “pulsão neofílica”, um prazer pela novidade que se volta constantemente para o presente2. O consumo acontece ao lado de outros fenômenos importantes que marcam e que estão no centro do novo tempo histórico: o espetáculo midiático, a comunicação de massa, a individualização extremada, o hipermercado globalizado, a poderosíssima revolução informática, a internet. O consumo cria seus próprios templos: os shopping centers, as novas catedrais das novas e velhas igrejas, e também, a seu modo, a própria rede mundial de computadores.

O hiperconsumo e sua doença (o consumismo) penetram insidiosamente em áreas da existência que, ainda numa idade moderna, são estranhas a ela: o amor, a amizade, a religião, a saúde, a política, a sabedoria, a espiritualidade, a educação. O consumo e suas relações de trocas pagas, lucro, rentabilidade, constante renovação, reciclagem e imediatismo ocupam terrenos que não pertencem a esta lógica arquetípica.

Consumo: tantos são seus deuses que é preciso evocá-los com cuidado, sem voracidade, para sentirmos sua interioridade, sua alma, sem sermos pegos em sua malha fina.

Consumo da velocidade, consumo da informação. Consumo do turismo: turismo da memória, turismo de aventura, turismo de reabilitação da saúde, turismo recreativo, turismo esportivo, ecoturismo. Consumo da moda, consumo do luxo, consumo gastronômico. Consumo do divertimento. Consumo cultural. Consumo emocional.

Consumo de móveis, de imóveis e de automóveis: a indústria automobilística internacional sabe produzir ícones de altíssima voltagem simbólica para a era da autonomia. Consumo da mobilidade, das viagens e dos deslocamentos geográficos rápidos. Ou permanentes: aqui, a fantasia de renascer em outro lugar, outra cidade, outro país, outra identidade – consumo de uma nova vida. Consumo identitário.

Consumo de utensílios domésticos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos que liquidificam, batem, moem, trituram, misturam, assam, limpam, fervem, fritam, amassam, amolecem, passam e enceram para nós –sem nossas mãos, sem contato manual. Tocam sons, reproduzem imagens, processam informações. Excesso e profusão de automatismos também funcionando para a era da autonomia.

A moda, a morte, a saúde, a cosmética, a higiene e a limpeza são principalmente imaginadas hoje em dia também dentro da fantasia e das práticas do consumo. Nessas práticas, podemos entrever sua alma.

No capítulo da limpeza (pessoal e doméstica), por exemplo – que hoje se confunde ou tem seus caminhos imaginais entrelaçados com aqueles da saúde – percebemos toda uma cultura dos antibióticos, dos germicidas, dos antibacterianos, dos inseticidas, de tudo aquilo que “mata bem morto”, os antivirais, os antiretrovirais, os bactericidas, cultura dentro da qual estão também os saponáceos, os sabonetes, os sabões, os xampus, os detergentes, as águas sanitárias, os desinfetantes, os limpadores multiuso, o cloro: todos matadores. O hiperconsumidor mostra, na alma de seu consumo, a flechada de uma onda apolínea de assepsia, de controle total, de segurança total, de branco total. Nota-se na vida moderna uma preocupação obsessiva por inseguranças de várias naturezas: biológica, médica, patrimonial, moral, ética, familiar. A autonomia trouxe insegurança.

Essa lógica consumista se estende ao círculo dos protetores solares, dos preventivos de todas as linhas e atividades, preservativos, camisinhas, air bags, cintos de segurança, advertências sobre ingestão de alimentos, bebidas e fumo, bloqueadores solares, sensores, alarmes, detectores de metais, câmeras de vigilância, sistemas sofisticados de proteção patrimonial, de segurança residencial e seguros de vida, de saúde, de viagem.

À prova d’água, à prova de choque, resistente. Ética que nos prepara para “esperar o inesperado”: uma contradição em termos. Insegurança cotidiana, cotidiano da insegurança, coincidente com o fim dos referenciais estáveis tradicionais. Eis a era moderna na qual se insere a “sociedade de consumo”.

Mas o maior consumo talvez seja mesmo o consumo da autonomia, da faculdade de se governar por si mesmo, de instituir e reger as leis (nomos) pelas quais se governa a si mesmo. Autonomia é liberdade e aprisionamento ao mesmo tempo.

Autonomia: não preciso mais ir ao cinema e estar sujeito a horários, arranjos e endereços públicos e coletivos; eu possuo um home theater. Imprimo minhas fotos na impressora doméstica alinhada para isso. Faço meu jantar com o auxílio luxuoso de todos os eletrodomésticos que não param de reinventar-se, os processadores de comida aliados aos fornos de microondas; ou simplesmente compro o jantar pronto e congelado, estocado e prático, rápido. Faço meus filmes no computador pessoal.

Organizo e escolho as músicas que quero ouvir — a trilha sonora da minha vida — sem surpresas desagradáveis ou diferentes, simplesmente baixando arquivos de áudio da internet e armazenando-os em meu iPod. A telefonia está em minhas mãos, em qualquer lugar, é móvel, e com ela a impressão de contato por trás da fantasia de conectividade. A comunicação está toda em minhas mãos. Minha correspondência, agora por via eletrônica, está em minhas mãos (ou diante de meus olhos) na hora que desejo ou preciso, em qualquer lugar do planeta. E está em minhas mãos principalmente tudo aquilo que posso comprar pronto (ready-to-go): desde a comida – entregue em casa (delivery), ou então ao acesso rápido de uma corrida de carro (drive-through) – até medicamentos, entretenimento, companhia, sexo e roupas prêt-à-porter. Percebemos a enorme presença da fantasia de autonomia. E esta autonomia está a serviço da felicidade privada.

O nosso tempo é um tempo de escolhas. A “customização” cada vez mais intensa da maioria dos bens e dos serviços de consumo permite que eu diga como quero meu refrigerante, meu carro, meu jeans, meu computador.

A superindividualização também leva à autonomia, ou vice-versa, e impõe processos de escolha cada vez mais intensos e urgentes: “Os gostos não cessam de individualizar-se”3.

O senhor dos Portões (Mr. Gates) abriu as janelas (Windows) de um presente que requer, sim, definições (escolhas) cada vez mais “altas”, mais precisas, mais particularizadas, em quase tudo.

A própria identidade torna-se, no mundo hipermoderno, uma escolha que se dá num campo cada vez mais flexível e fluido de possibilidades: tribos, nações, culturas, subculturas, sexualidades, profissões, idades. Personas to-go. Autonomia: nomear-se a si mesmo.

O tema “pervasivo” da autonomia em nosso imaginário coletivo mais profundo engendra e produz nossa ligação com tudo que é automático, nossa paixão pelo automatizado, nos objetos e nas relações, nos serviços e na vida cotidiana, na alma e no corpo, na linguagem e na ação, e também nossa prisão nos automatismos — nossos padrões psicológicos automáticos.

Já se viu nisso um processo de distanciamento do mundo da matéria, onde quase tudo já trabalha por si, sem a intervenção de nossas mãos ou de nosso corpo. Às vezes, nem de nossos olhos. Mas é também possível ver nisso um mundo esquecido de coisas físicas que quer se animar, que deseja alma, e ver na alma um anseio compensatório ainda maior pela sedução física do mundo – pois a alma precisa do mundo.

No hiperconsumo, como advertiam os alquimistas, literaliza-se o físico no material. Precisamos consumir cada vez mais, e cada vez mais intensamente, aparelhos, automóveis, dispositivos, engenhocas, gadgets e, com eles, seus fantasmas.

Tudo a alma consome, e tudo pode ser consumido pela alma em seu eterno trabalho. Ou, tudo pode virar um vaso para fazer alma, como já nos afirmou James Hillman: “O vaso do cozinhar da alma aceita tudo, tudo pode se tornar alma; e ao tomar em sua imaginação quaisquer e todos os eventos, cresce o espaço psíquico”4.

Precisamos enxergar no consumo um vaso de fazer alma. Para isso, precisamos libertar nossa visão das preconcepções filosóficas, morais e psicológicas, que nos levam a entender no consumo apenas um patologizar mais intenso.

A superindividualização reforça um sujeito que, ao encontrar-se agora numa condição mais flexível, vive no ego a ilusão de uma ação mais consciente e livre no mundo. Esse sujeito é frágil, e aqui está o seu paradoxo. Seu patologizar é imenso, é intenso, e cresce na proporção do consumo, da autonomia e da liberdade: depressão, paranóia, compulsão, baixa auto-estima, competitividade extremada, pânico, suicídio, solidão, medo, estresse, sintomas psicossomáticos, hiperatividade, hiperconsumismo. Vulnerabilidade psicológica, desestabilização emocional.

O consumo flexibiliza e amplia os limites da experiência e até mesmo o espaço psíquico da liberdade. O consumo faz parte da atração da alma pelo desejo, de seu envolvimento com o desejo. Faz parte do mito de Eros e Psiquê. E o desejo aqui é pelas coisas do mundo — desejo que, em última instância, deseja de verdade animar o mundo, torná-lo alma.

A lógica consumista parece ser a de um hipernarcisismo. Se existem deuses nas nossas doenças, quem são eles no consumismo?

Comecemos pela necessidade: temos necessidade de quê? De quanto? Quando? Não sabemos mais ao certo, é claro. As medidas enlouqueceram. Movemo-nos agora num mar de necessidades: pseudonecessidades, necessidades artificiais, necessidades básicas, necessidades estrategicamente plantadas pelo marketing, necessidades que não sei se tenho, necessidades futuras, até chegar ao desnecessário, o extraordinário que é demais. A necessidade delira.

Ananke

A necessidade é arquetípica e tem um lugar na alma, um nexo psíquico mais profundo. Ananke, a Necessidade, rege os movimentos da alma, é a personificação da força constrangedora dos poderes do destino — os decretos do destino físico e do destino psíquico. Longe ou separada da alma, torna-se escrava da ânsia, do desejo cego, a que chamamos ansiedade (que tem a mesma raiz etimológica que ananké). Ansiedade, em essência, é desejar profundamente… coisa nenhuma!

Afroditesedução é o terreno de Afrodite, e ela, banida da civilização secular, destituída de um lugar de honra dedicado à beleza e ao amor sensual, retorna no apelo ao consumismo puro. A sedução das coisas pelas coisas: literalismo, ânsia cega pelo mundo, a que chamamos… ansiedade. Sempre que somos seduzidos, sabemos que é seu o trabalho na alma, alinhando-a com o desejo, com Eros.
Já que hoje, como disse Hillman, o “shopping center e o catálogo de compras são os lugares onde Afrodite trabalha sua sedução”5, é lá, na embriaguez do consumo, na hiperescolha, que encontramos a fantasia da conquista do mundo, do deleite sensual pelo mundo.

Mas o jogo da sedução, na verdade, está em tudo, em todas as pontas da sociedade de consumo; não podemos dele escapar, e já nada fazemos sem sua presença. A ampliação das necessidades também tem a ver com ele, assim como a lógica do efêmero e da novidade na qual estamos mergulhados. E também a pornografia, a inflação erótica, o sexo serial: consumo sexual. Afrodite furiosa está conosco desde o amanhecer até quando nos deitamos, adentrando o mundo dos sonhos e a noite escura da alma. A sedução explode.

Na troca, enxergamos a “inflação hermética” de que também fala Hillman, a cultura midiática de massa. Hiperconectividade, hipermercado, hiperconsumo: tudo se liga. Supertroca, super-comércio: de informação, de serviços, de produtos, de afetos, de imagens, de mensagens. Tudo pago. Devo manter-me informado, trocando o tempo todo, “estar ligado” – ligado/desligado, on/off: eis o dilema. Comércio de tudo, tudo se torna comercial.

O mercado se apossa do que não estava no mercado, e que talvez a ele mesmo não pertença; tudo é absorvido pelo modelo consumista: amor, relações, espiritualidade, direitos humanos etc. A hipertrofia mercurial da comunicação, da informação, reflete uma aceleração da troca. A troca dispara.

É nesse campo mercurial que vemos como a lógica do consumo nos apresenta hoje ao jogo entre desuso (tempo acelerado) e reuso (tempo lento). Use e abuse virou desuse (descarte) e reuse (recicle). Descartar ou reciclar? A tensão entre o descartável e o reciclável mostra-nos o delírio hermético na sociedade da hipertroca.

A prótese do prazerA face mais nervosa do consumo é seu sumo, o gesto consumista por excelência: acompra, propriamente dita.

Comprar é um impulso ascendente, de natureza espiritual, que nos joga no eixo entre elevação e mergulho. Mas é também um foco de fantasia, portanto um lugar de alma, nunca um gesto puro. Diga-me o que compras e te direi quem és! Direi também como patologizas e como imaginas a liberdade.

Assim, comprar, como qualquer ação arquetípica, também está cheia de deuses: a compra heróica e suada, a compra racional saturnina feita em vezes, a compra prazerosa e sensual, de impulso, a compra culpada ou martirizada, a compra que rejuvenesce, a compra festiva e de expansão da personalidade, a compra pornográfica, a compra generosa e a retensiva, a compra para o outro, a compra que é um presente, um modo de dizer algo.

A febre de comprar nos faz pensar, como sugeriu Lipovetsky, que “ela seja uma compensação, uma maneira de consolar-se das desventuras da existência, de preencher a vacuidade do presente e do futuro”6. O frenesi das compras então funciona para nossa longa solidão egóica como “simulacro de aventura”, o fantasma da obra, pequena loucura cotidiana, a prótese do prazer.

A compra é a magia do efêmero. É asa, é brasa. É futuro, promessa, desejo de mudar, intensificação, momento de morte. É o fim da produção, quando as coisas são finalmente absorvidas pela psique.

A compra, ao contrário do que se poderia pensar, dissolve o ego em alma, dissolve o ego heróico em sua fantasia de morte. Comprar é o que resta. Comprar é nosso modo de fazer o mundo virar alma.

*Gustavo Barcellos é psicólogo pela PUC-SP; mestre em psicologia clínica pela New School for Social Research de Nova York; membro analista da Associação Junguiana do Brasil (AJB) e da Associação Internacional de Psicologia Analítica (IAAP). Autor de Jung, Editora Ática e de Vôos e raízes: ensaios sobre imaginação, arte e psicologia arquetípica, Editora Ágora. Editor da revisto Cadernos Junguianos da AJB.


1          C. G. Jung, CW 13, §54: “Os deuses tornaram-se doenças”.
2          “Hipercapitalismo, hiperclasse, hiperpotência, hiperterrorismo, hiperindividualismo, hipermercado, hipertexto — o que mais não é hiper? O que mais não expõe uma modernidade elevada à potência superlativa? […] Tudo se passa como se tivéssemos ido da era do pós para a era do hiper.” Gilles Lipovetsky, Os tempos hipermodernos, Editora Bacarolla, 2004, p. 53, 54, 56.
3          Gilles Lipovetsky, O império do efêmero, São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 174.
4          James Hillman, Re-Visioning Psychology, Nova York: Harper & Row, Harper Colophon Edition, 1977, p. 69.
5          James Hillman, “Loucura cor de rosa ou por que Afrodite leva os homens à loucura com pornografia”, emCadernos Junguianos, Revista anual da Associação Junguiana do Brasil, São Paulo, nº 3, 2007, pp. 7-35.6          Gilles Lipovetsky, Os tempos hipermodernos, Editora Bacarolla, 2004, p. 79.