sábado, 24 de janeiro de 2015

A Educação Pública e seus grandes desafios - ARO pode ser votada a qualquer momento da próxima semana

no site do Sinpro-DF

Dirigentes da CUT Brasília, do Sinpro/DF e de demais sindicatos de servidores se reunirão na Câmara Legislativa com deputados distritais, na manhã da segunda-feira (26). O objetivo é acertar o dia...
Assembléia Distrital Brasília-DF

por José Gilbert Arruda Martins

"O pensamento age quando pensa"
                             Martin Heidegguer

A CUT, o Sinpro e demais sindicatos devem aproveitar o acampamento e a mobilização da Classe Trabalhadora para, além de buscar salários e demais pendências financeiras, debater e refletir os porquês de a Educação Pública de Brasília e do Brasil se encontrar nessa situação.

Pensar os porquês de chegarmos a esse momento lamentável agora e refletir ações coletivas de construção de uma política de Estado que leve concretamente a educação dos filhos e filhas dos trabalhadores com seriedade, talvez seja a melhor coisa a fazer agora. Salário em dia é consequência.

Sem hipocrisia, salário é consequência desde que os trabalhadores e trabalhadoras não estivessem passando literalmente fome e grandes necessidades nesse momento.

Dito isto, vamos às reflexões.

Existe no país uma política deliberada de sucatear a educação pública para poder justificar sua privatização e entrega ao capital rentista.

Quem da Classe de Trabalhadores da educação pública conhece realmente essa política?

Quem da classe de professores e professoras já leu e conhece a importância do Estado como indutor do desenvolvimento econômico e social?

O professor Vladimir Safatle em seu livro "A esquerda que não teme dizer seu nome" defende o papel do Estado como instrumento indutor do desenvolvimento e da distribuição de bens e riqueza aos que constroem o país: 

 "(...) Não há outra instituição capaz de desempenhar papel semelhante. Por isso, em nome do combate à desigualdade econômica, a esquerda não pode abrir mão do fortalecimento da capacidade de intervenção do Estado."

Somos capazes de enxergar esse debate? de pensar essa questão e aprofundá-la, ao ponto de usá-la para fortalecer a luta da Classe de educadores e educadoras?

Em outra passagem, Safatle, continua a reflexão sobre o papel do Estado:

"Os últimos trinta anos demonstraram claramente como dinâmicas de redistribuição e de luta contra fraturas sociais não se realizam sem a força de intervenção do Estado."

Vivemos um impasse nas questões sobre a Educação Pública no Distrito Federal e no país.

O discurso corrente diz que educação é prioridade.

Quem faz o discurso, no caso específico do Distrito Federal,  deixa os professores e professoras sem receber salários e ameaça retirar direitos duramente conquistados.

Mas, será que o impasse é apenas esse? Não está passando da hora de aprofundarmos o debate da educação nas escolas, nas salas de aula?

Será que os desafios da Classe de Professores não passa pela formação?

Os educadores (as) quando da formação, estão aprendendo o quê? Que tipo de temas são debatidos? Que tipo de textos e livros são lidos?

Quais são os verdadeiros desafios que os professores têm diante de si e que podem nos impulsionar ou nos imobilizar?

"Quem ignora, efetivamente, que os lobos andam em matilha?"

Quem ignora que exista a luta entre capital e trabalho?

Quem ignora a concentração cada vez maior da riqueza ino Brasil e no mundo? Que problemas esse fato trás para meu desempenho de professor (a) em sala de aula e na vida?

Quem ignora, que o Estado Neoliberal é um estado militante, atuante?

Eu, como professor e professora, ignoro o que seja Estado Neoliberal? Quais são seus princípios? O que defende?

E, Estado do Bem-Estar Social? Já ouvi falar?

Eu professor e professora, ignoro que sou trabalhador e trabalhadora, que tenho apenas minha força de trabalho para vender e ganhar o pão para alimentar a família?

O que defendo em sala de aula?

Conheço e debato as questões sociais, econômicas e políticas que envolvam a mim, a minha comunidade e a minha classe?

Se, como professor e professora, ignoro completamente as questões levantadas acima, tenho condições reais de ensinar?

O acampamento e as mobilizações precisam de reflexões mais profundas, do contrário, resolveremos o problema do recebimento salarial agora mas a Educação Pública continuará carecendo de qualidade.

A boa qualidade não se resume apenas a boas salas e materiais didáticos. Mas a Qualidade de aula, de debate, de reflexão sobre as questões que envolvam nossos estudantes, principalmente os mais pobres.

Referência: SAFATLE, Vladimir. A esquerda que não teme dizer seu nome. São Paulo: Três estrelas, 2012.



Por André Barreto

ARO pode ser votada a qualquer momento da próxima semana.

Dirigentes da CUT Brasília, do Sinpro/DF e de demais sindicatos de servidores se reunirão na Câmara Legislativa com deputados distritais, na manhã da segunda-feira (26). O objetivo é acertar o dia de votação do Projeto de Lei da Antecipação de Receita Orçamentária – ARO, que permitirá ao GDF pagar na integralidade os salários atrasados e demais direitos trabalhistas dos servidores das áreas de Educação e Saúde.
Caso a proposta do Poder Executivo seja enviada ainda em janeiro, os deputados distritais se comprometeram a receber o projeto e votá-lo, a fim de que os servidores recebam seus salários o mais rápido possível.
Tão logo a data de votação seja definida, o Sinpro/DF fará uma convocação geral da categoria para acompanhar a tramitação do PL.
Diferentemente do que afirmou o governador Rodrigo Rollemberg, que enviaria a solicitação de ARO somente no dia 3 de fevereiro, quando as atividades legislativas oficialmente começam em 2015, a Câmara Legislativa se colocou à disposição para votar o projeto o quanto antes.
A Antecipação de Receita Orçamentária nada mais é do que um empréstimo que o GDF pode fazer, junto ao sistema bancário, para resolver uma momentânea insuficiência de caixa.
Ao longo das negociações com o governo, a comissão do Sinpro/DF alertou várias vezes a bancada governista sobre a possibilidade de se usar esse mecanismo, regulado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Porém, sempre se deparou com a resistência do governo, que insistia no parcelamento dos débitos.
Por fim, GDF cedeu aos argumentos da bancada sindical e anunciou, em mesa de negociação na terça-feira passada (20), que iria apresentar à Câmara Legislativa o pedido de Antecipação de Receita Orçamentária para quitar todos os débitos com a Educação e a Saúde.
Tramitação – Para acelerar o trâmite do projeto, a presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão, pretende publicar no Diário da Câmara Legislativa a abertura de prazo para que os líderes de blocos e partidos indiquem os membros das comissões de Economia, Orçamento e Finanças (CEOF) e de Constituição e Justiça (CCJ), de acordo com os critérios de proporcionalidade previstos no Regimento da Casa.
São essas as comissões pelas quais o projeto precisa passar para ser analisado e votado. Os pareceres podem ser dados no plenário, com a proposição tramitando em regime de urgência, o que reduz os prazos para análise e deliberação.

Imagem da semana - A inventividade não consegue distribuir riqueza (?)

no http://www.msn.com/
O chinês Su Daocheng monta seu cavalo mecânico em uma rua em Shiyan, na província de Hubei. Su passou dois meses produzindo o cavalo de 1,5 metro de altura, 2 metros de comprimento e 250 kg, que se sustenta em 4 pernas e 2 rodas de apoio
O chinês Su Daocheng monta seu cavalo mecânico em uma rua em Shiyan, na província de Hubei. Su passou dois meses produzindo o cavalo de 1,5 metro de altura, 2 metros de comprimento e 250 kg, que se sustenta em 4 pernas e 2 rodas de apoio.

por José Gilbert Arruda Martins

Quais os limites para a Humanidade?

A inventividade humana assombra no bom sentido.

Somos capazes de criar alternativas que nos alimentam, nos protegem.

Por que não conseguimos acabar com a Fome no mundo?

Somos mais de 1,5 bilhões de famintos no planeta.

Uma resposta possível: A desigualdade na distribuição da riqueza.

Apesar de todo desenvolvimento tecnológico e exploração dos bens naturais que deveria ser todos, um grupo muito pequeno de pessoas detém parcela de mais de 50% da riqueza.

Somos inventivos, criativos, mas precisamos ser Políticos, organizados, participar da vida coletiva em nossas comunidades. Debater, conhecer, Lutar enfim.


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Porque a comemoração do dia 25 de Janeiro esconde uma história de genocídio

 Willians Santos
A lógica de distribuição dos bens da cidade se perfaz utilizando resquícios da escravidão e das relações de trabalho.A segregação social está relacionada à exclusão por origem populacional, alimentando e fortificando a hierarquia social, produto das relações de trabalho e consumo
Castigo de Escravo de Jean-Baptiste Debret
Castigo de Escravo de Jean-Baptiste Debret
“Militantes sangram denunciando a justiça seletiva
Que criminaliza, condena, dizima a população empobrecida.
A síria se assustaria com 8 carros funerários
Saindo do mesmo bairro no mesmo horário.
Em uma semana os protetores dos lordes brancos
Matam mais que a ditadura em 20 anos
No hit estamos no Challenger magnífico
Na real enchemos macas, baús, frigoríficos
(….)
Minha rima se junta ao clamor de justiça na cartolina
Pra ser outro ato de repúdio a Era das Chacinas.”
(A era das Chacinas – Eduardo Teodoro)
Em 25 de janeiro de 2015, o poder público, as instituições de educação e cultura e a imprensa irão promover a comemoração de aniversário da maior cidade da América Latina. Uma cidade cuja história política é manchada pelo genocídio histórico em desenvolvimento.
Como alternativa à comemoração oficial, o Comitê Contra o Genocídio da Juventude, Preta, Pobre e Periféricapromoverá o ato 461 anos de Genocídio, no mesmo dia, a fim de debater e denunciar esta história. A concentração e as atividades ocorrerão na praça da Sé a partir das 9h da manhã com apresentação cultural (RAP), poesias, falas de conscientização – microfone aberto para quem quiser falar algo sobre o tema. Este ato ocorre pelo terceiro ano consecutivo, e o comitê propõe ainda comemorar os 180 anos da revolução malê– uma importante rebelião ocorrida em janeiro de 1835, em Salvador, promovida por negros escravos ou libertos das mais variadas culturas e procedências africanas, dentre as quais haussás e nagôs, de origem islâmica. Essa revolta, contra a escravidão e a imposição do catolicismo, significou uma mudança nas formas de resistência, substituindo as estratégias de fugas, crimes contra feitores ou suicídio pela tomada do poder.
Castigo de Escravo de Jean-Baptiste Debret
Castigo de Escravo de Jean-Baptiste Debret
Por que a comemoração do dia 25 de Janeiro esconde uma história de genocídio?
A palavra genocídio é hoje falada por muitas pessoas em vários locais: jornais, revistas, movimentos sociais, universidades etc. Mas o que é genocídio?
A palavra genocídio vem de “genos”, do grego,e significa “raça”, “tribo”, “nação”, e da raiz latina “cida”, que significa matar.O conceito do genocídio explica o extermínio sistemático de pessoas por algum motivo justificado por seus agentes. Historicamente, genocídios justificaram-se sob o lema da defesa da identidade nacional, da raça, da religião, ou em razão de diferenças étnicas, políticas e sociais, como o genocídio cambojano (1975 e 1979), o genocídio em Ruanda (1994), o genocídio na Bósnia (1995), o genocídio na Guerra do Paraguai e o Holocausto Judeu (II Guerra Mundial).
O genocídio é um plano coordenado com ações de vários tipos objetivando a destruição dos alicerces fundamentais da vida de grupos nacionais, com o fim de aniquilar uma população, segundo o judeu polonês Lemkin (1959), considerada inimigo do Estado ou da nação. Não há dados nem relatos que demonstrem práticas de extermínio sistemáticas de descendentes de italianos, alemães, judeus e outros, no Brasil, por exemplo. Mas há, sim, uma realidade de constantes mortes de jovens nas periferias da cidade motivadas pelas ações da polícia (de farda ou em grupos de extermínio), e do crescente encarceramento dessa população, em razão, muitas vezes, de flagrantes forjados e da conduta arbitrária do Poder Judiciário, que decide quem é ou não é traficante.
E porque é possível dizer que há um genocídio no Brasil? Há relatos, acontecimentos, estudos e fatos históricos que mostram como as vidas das populações indígena e negra foram e ainda são alvo do Estado. Como sabemos, houve processos de extermínio de índios e africanos escravizados promovidos por bandeirantes. E ainda hoje o racismo e a violência institucional são promovidos contra a população indígena e preta. O foco atual da ação do Estado é contra a população periférica e pobre e o resultado mais evidente é a letalidade policial e o encarceramento em massa, principalmente.
1ª Período – A eugenia no Brasil e o racismo brasileiro
O primeiro período do genocídio no Brasil ocorreu no fim do século XIX e início do século XX, em meio a um debate sobre a origem e o futuro do Brasil. O futuro do país dependia da superação de um certo problema racial na constituição de sua nação. A busca por introduzir valores modernos europeus superando a influência do pensamento escravagista e católico, hegemônicos no período, coincidia com o fim da escravidão e, em seguida, com o ciclo do café e o início da industrialização, principalmente em São Paulo. Para a elite branca da época, o Brasil era um país atrasado economicamente porque possuía uma população geneticamente inferior em relação às nações desenvolvidas europeias.
A eugenia era um dos pensamentos que disputavam a mente e o coração de industriais e técnicos administrativos do poder público. Esse pensamento, é preciso compreender, trata-se de uma ideologia racista de origem europeia, que buscava ler a realidade das condições de vida sob o prisma da hereditariedade racial.
Uma forma de pensar que havia (e ainda permanece) se refere à pobreza: pessoas inferiores estão predestinadas à miséria porque a priori são de uma raça inferior. Os intelectuais ligados a esta corrente buscavam apontar que a melhoria econômica, social e cultural do país dependia de políticas que interviessem no determinismo racial da nação. As condições de vida de certas pessoas eram justificadas por sua condição biológica, ou seja, a desigualdade social era justificada pela desigualdade racial.
Os eugenistas não eram um grupo homogêneo. Dentre eles havia intelectuais que acreditavam na necessidade de miscigenação das populações nativas e pretas com europeus arianos, a fim de que num futuro toda população local fosse branca, já que em sua concepção o gene branco era o mais forte. Foi esta proposta que influenciou no início do século XX o desenvolvido pelo Governo das políticas seletivas de populações de imigrantes – como alemães e italianos –, enquanto japoneses e árabes eram vistos como ameaças ao plano de miscigenação que se baseava na imigração ariana.
Ao passar do tempo a população negra descendente de africanos é expulsa dos centros urbanos para as periferias das cidades. No espaço rural, da mesma forma que vai sendo deixada à miséria e sem posse de terras os quilombolas e indígenas também vão sendo isolados. Os imigrantes europeus são os escolhidos pelo Estado, que institui políticas públicas – na área de saúde, moradia e emprego – para receber essa população. No período da industrialização, serão eles que ocuparão majoritariamente os postos de trabalho, regidos pela CLT.
O movimento eugenista também propunha a melhora da nação por meio de uma política que sanasse a sociedade de pessoas que representassem características “indesejáveis” como “impulsos criminosos”. É daí a gênese da ideia da existência de certo perfil social suspeito, perigoso, que merece ser policiado ou punido. Contribuíram para isso as ideias da escola positivista italiana, que tem dentre seus principais expoentes Cesare Lombroso, em sua obra O homem delinquente relaciona as causas do comportamento do criminoso com suas características físicas.
Os debates eugenistas e as políticas promovidas pelo Estado brasileiro são um processo histórico que pode ser chamado de “branqueamento” da população. A mestiçagem anterior à imigração – vista como a fonte do atraso do país –poderia ser solucionada desde que o país fosse ocupado e constituído pela população branca ariana europeia. Além disso, as populações nativas e negras deveriam ser esterilizadas em nome de regras de higiene e saúde.Na prática, esta estratégia, se exitosa, garantiria a inexistência de uma nova geração de negros no país. A imigração selecionada era, por sua vez, a estratégia para que um dia europeus embranquecessem a nação e levassem o país para a modernidade capitalista.
O branqueamento, como forma ideológica, ainda permanece no país e é um elemento importante para a sujeição social, uma vez que vai se constituindo como um valor, mesmo entre as populações mais pobres. Ele abafa, omite contradições, impedindo a organização por direitos em torno de uma identidade comum, como é o caso de negros, pobres e periféricos. A ideologia do branqueamento é responsável no cotidiano por fazer com que pretos e pardos procurem retratar-se como brancos, ou mais brancos possível.
É sob este prisma político que a comemoração de 461 anos da cidade deve ser vista. A cidade de São Paulo é constantemente representada por seus gestores, moradores e empresários como uma cidade “multirracial” – outra forma da ideologia da “democracia racial” –,quando na verdade parte de sua população continua excluída política e economicamente, sendo enxergada como um perigo. São os indesejáveis, pessoas afeitas ao crime etc. A população branca, constituída pelos católicos, bandeirantes e imigrantes europeus, que são representados como as “raças”originárias da cidade, responsáveis por conduzir acidade mais rica do país.
Muitos dos discursos baseados na ideia de democracia racial e de assimilação de diferentes povos são uma estratégia de a elite local não permitir o debate sobre as condições de vida, a hierarquia social, a opressão cultural e, principalmente, a manutenção da exploração sistemática dessa população que estará sempre à margem nessa sociedade.
O aniversário da cidade de São Paulo é o aniversário de uma estratégia genocida. Ocorre que em tal estratégia o povo preto é subjugado não para ser aculturado, mas para ser destruído. Abdias Nascimento preconizava que em tal processo a aculturação dos negros por imposição da cultura eurocêntrica e o extermínio físico via miscigenação são duas principais formas de genocídio do povo negro no Brasil, e em São Paulo em especial. Abdias, no entanto, está lendo justamente faces e consequências do processo eugênico e racista brasileiro. Contudo, hoje convivemos em uma etapa posterior.
Se por um lado a eugenia teve pouco sucesso no Brasil, certamente a ideologia da democracia racial repercute até hoje. Basicamente esta ideologia induz a naturalização de que todos os privilégios (branquitude) e toda autonegação (embranquecimento) são parte constitutiva das relações raciais/sociais no país. A proposição do convívio pacífico e ordeiro de raças esconde a desigualdade na distribuição do poder, dos bens econômicos, das oportunidades de trabalho, saúde, educação, e fortalece a representação do ideário europeu como valor máximo a ser alçado por todos.
Embora se acredite na convivência pacífica entre as raças no Brasil, a realidade é bem diferente, uma vez que sabemos que morrem proporcionalmente 2,5 jovens negros para cada jovem branco vítima de homicídio no país. O último dado que temos é de que, entre janeiro e novembro de 2014, foram mortas 816 pessoas por PMs no Estado de São Paulo. Nesta realidade, o direito à vida tem sido sistematicamente suprimido, e a pobreza, como sempre, é criminalizada pelo sistema penal, que existe justamente para excluir os indesejáveis, tudo isso somado a políticas públicas ineficientes de habitação, transporte, educação, saúde e lazer.
2º Período–Democracia racial e violência Estatal
A segregação e a exclusão social
Apesar de já terem sido questionados por vários estudiosos, grupos de rap, filmes, setores da sociedade ainda insistem em promover um discurso, veiculado pela mídia, novelas e filmes, de que o Brasil é um país mestiço, de muitas cores, de muitas culturas e raças, e que, portanto,não haveria racismo aqui. Mas, se não há racismo, porque a população negra continua sendo a mais alvejada pela política criminal? E, paradoxalmente, é a que tem menos acesso às universidades?
Portanto, o mito da democracia racial e da cidade multirracial e de muitos povos são uma estratégia ideológica, para além do fato histórico, utilizado para apaziguar e omitira violência que se configura e estrutura a exclusão política, social e cultural de negros. O mito da democracia racial é um discurso que faz uso de dados específicos da realidade social para lhe conferir outra representação. Porém, não se adequa ao fato de uma grande parte da população possuir direitos constitucionais, que, entretanto, não são garantidos pelas instituições que deveriam promovê-los.
A gestão da cidade de São Paulo é um caso típico. O seu planejamento histórico, político e jurídico delineia-se desde há muito tempo segundo a lógica de divisão entre os “bolsões de exclusão”–as áreas que receberão menos recursos e, consequentemente, terão pouco saneamento básico, transporte coletivo de qualidade, iluminação pública adequada, hospitais e postos de saúde com especialidade médica, espaços de produção cultural, escolas modelo. Ao contrário, são os locais em que a segurança pública executará o policiamento ostensivo, onde mora o inimigo interno– negros, pobres e periféricos –, enquanto nas “bolhas de segurança” há a garantia de direitos sociais, de estrutura urbana, lugares regidos pelo predomínio da segurança privada.
A lógica de distribuição dos bens da cidade se perfaz utilizando resquícios da escravidão e das relações de trabalho.A segregação social está relacionada à exclusão por origem populacional, alimentando e fortificando a hierarquia social, produto das relações de trabalho e consumo. Há os bairros onde se encontram as indústrias e as prestadoras de serviços, que recebem durante o dia os trabalhadores que residem nos bairros dormitórios localizados nas periferias. Essas pessoas são negras ou nordestinas – atualmente recebem também imigrantes latino-americanos, africanos e haitianos. Já na região central e nos grandes condomínios suburbanos (como Alphaville) estão as classes média e alta, predominantemente brancas.
O investimento público também reproduz tal lógica, uma vez que seus administradores e idealizadores estão também ligados aos interesses particulares de cada espaço e população.
Isso também ocorre com a execução da segurança pública.A população branca – numericamente inferior no país, mas com mais poder político e econômico – ocupa os bairros que funcionam como bolhas de segurança. Neles predominam os condomínios fechados, escolas privadas com seguranças nas portas, e que fazem uso de áreas públicas bem localizadas ou áreas de lazer privado etc. Por sua vez, os bairros precarizados quase não possuem áreas de lazer e serviços públicos, tampouco culturais.
O que mais se vê são locais para consumo de álcool e de venda de entorpecentes. São nas periferias que estão o perigo, os suspeitos, os inimigos da nação, o problema do país. Logo, é neste espaço que ocorre a disputa pelo monopólio da violência e do mercado de drogas entre o crime organizado, o Estado, incluindo a polícia, e grupos paramilitares relacionados às forças de segurança pública.
Letalidade policial
A segurança pública é a estratégia mais efetiva e em que o Estado mais investe seus recursos para controlar estes inimigos internos – os pobres, pretos e periféricos. O discurso da “Guerra ao Tráfico” promove e justifica execuções, práticas violentas e desumanas no trato com as populações que residem nas periferias. A “guerra contra o crime organizado” é hoje o principal promotor do genocídio e é alimentada por um sistema jurídico que opera e reforça este processo.
O sistema jurídico, por sua vez, participa desse processo, na medida em que não reconhece os abusos de autoridade e as mortes promovidas pela polícia. Esses crimes quase sempre não são investigados e acabam sendo engavetados e, por consequência, as famílias lesadas não recebem esclarecimentos e, muito menos, são indenizadas. Parte dessa realidade são os “autos de resistência” (ou “resistência seguida de morte”), forma pela qual são denominadas as lesões corporais e os homicídios cometidos pela polícia. Dessa forma, pretende-se camuflar a violência policial, justificada pela associação das vítimas com o crime, que teriam reagido à ação policial.
Esta atuação da polícia tem que ser vista sob a ótica histórica. É preciso lembrar que a Polícia Militar é fruto da ditadura,que difundia a lógica de haver um inimigo interno. E os grupos de extermínio – policiais não fardados justiceiros – são resquícios dos esquadrões de extermínio daquele período.
Alimentada pela ideologia da guerra às drogas, a concepção de segurança pública no Brasil, logo, está totalmente relacionada à ideia de uma segurança nacional, que irá combater um inimigo padrão. Pretende-se, dessa forma, salvaguardar os privilégios, sufocando tensões sociais e potencializando a violência contra essa população, estigmatizada como suspeita e inimiga.
Jovens de todas as classes sociais crescem e vivem num mundo em que o valor máximo é o do consumo. Porém, aos jovens da periferia é limitado o acesso aos bens que essa sociedade produz e faz crer que são essenciais. A aquisição desses bens – roupas de marca, carros, smartphones etc. – acaba se tornando mais importante que outros valores, como educação e cultura, uma vez que também lhe são negados direitos sociais.
Por viver segregada física e socialmente, poucas são as perspectivas dessa juventude de cursarem um curso superior e de obter um trabalho mais qualificado e melhor remunerado. Dessa forma, o mundo do crime, especialmente do tráfico de drogas, muitas vezes, acaba sendo a forma mais rápida e lucrativa de ascensão econômica, preferível à sujeição às condições precárias que eles encontrariam no mercado de trabalho formal.
Embora os homicídios cometidos nas favelas não se dirijam somente contra os jovens, as ocorrências envolvendo Polícia Militar e grupos de extermínio paramilitares em supostos conflitos são predominantemente contra eles.Por isso, falamos em genocídio da juventude preta, pobre e periférica. A violência da instituição e dos grupos de extermínio reproduz a lógica de uma sociedade e de um poder público racista e segregacionista, em que não há espaço para essa população exercer e exigir os direitos que deveriam lhe ser garantidos em um Estado Democrático de Direito.
Encarceramento em Massa
O Brasil possui hoje a terceira maior população carcerária do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Agora com 711.463 de presos (dados de 2014 apresentados pelo CNJ) – incluindo os presos em regime domiciliar – e mais de 1 milhão de mandados de prisão para ser cumpridos, o País tem assistido a um processo de encarceramento vertiginoso nos últimos 20 anos.
O aumento da população carcerária, nos anos 1990, ocorre ao mesmo tempo em que são reduzidas políticas sociais, especialmente as voltadas para a juventude. Esse fenômeno é consequência de um sistema penal que funciona de forma seletiva e dirige-se a pessoas com baixa escolaridade, pobres, negros e pardos, que constituem quase a totalidade da população encarcerada. Portanto, a clientela do sistema prisional tem cor e endereço.
Dentre um universo de mais de 1.600 crimes que integram a legislação penal nacional, são os crimes patrimoniais, como furto, roubo e estelionato, e o tráfico de drogas os tipos penais que mais levam ao encarceramento. Isso porque o sistema penal vigente protege em primeiro lugar o patrimônio das classes dominantes, e nossa política criminal fecha os olhos para o aumento da violência provocado pela guerra às drogas.
Interesses econômicos e políticos da elite dominante são determinantes para entender o processo de encarceramento, caracterizado especialmente pela criminalização da pobreza. No sistema penal, eliminam-se os indivíduos indesejáveis, os excluídos dentro da sociedade de consumo, que são despejados em nossas prisões, locais de tortura conhecidos por violações constantes aos direitos humanos.
O Brasil, contrariando sua própria Constituição, adotou uma política criminal punitiva, em desacordo com o Estado Democrático, em que se deveriam priorizar os direitos e as garantias individuais. Essa política é alimentada pelo discurso do medo, veiculado especialmente pela mídia, criado para provocar o sentimento de insegurança generalizado.
A população com medo cobra leis mais duras e mais punição por parte do Estado, legitimando dessa forma o sistema penal, na crença de que a prisão é eficiente, em seu caráter retributivo. Um exemplo recente disso é a disputa pela redução da maioridade penal. A população, grande parte favorável à medida, acredita que essa seria uma das formas de reduzir a criminalidade. Entretanto, essa medida, traz, em primeiro lugar, a ostentação da punitividade de nosso sistema, que se dirige à dominação e repressão da juventude pobre.
Respondendo aos interesses do mercado financeiro e adotando a prática do populismo penal, os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário atuam em conjunto para a ampliação do encarceramento, apostando em medidas repressivas para efetivar o controle da população selecionada para ficar atrás das grades.
* Willians Santos é sociólogo e integrante do Comitê Contra o Genocídio da Juventude, Preta, Pobre e Periférica.

Pimp My Carroça e SP Invisível unidos no aniversário de São Paulo

na Revista Brasileiros
O ‘Aniversário Invisível’ procura dar uma força para três catadores de lixo
 Juliano Mineiro é um dos catadores que terá sua carroça reformada no evento - Foto: SP Invisível
              Juliano Mineiro é um dos catadores que terá sua carroça reformada no evento – Foto: SP Invisível

No aniversário da cidade de São Paulo, dia 25 de janeiro, duas iniciativas se unem para reformar e “pimpar” as carroças de três catadores. O Aniversário Invisível é uma iniciativa conjunta do SP Invisível com o Pimp My Carroça, começa às 10h, no Largo da Batata, e todos estão convidados para comparecer, colaborar, conhecer e ajudar o evento.
A história dos três catadores estão relatadas na página do facebook do evento.
Programação completa:
10h - Início da reforma das carroças.
12h - Início dos grafites nas carroças.
14h - Roda de conversa com o grafiteiro e ativista, Mundano, com os idealizadores do SP Invisível, e convidados a confirmar.

Ato “461 anos de genocídio” vai protestar contra assassinatos de negros e pobres

Por Ponte Jornalismo no Linha Direta PT São Paulo
Ato será no próximo domingo, quando a cidade de São Paulo comemora 461 anos, em protesto contra a morte sistemática de jovens negros e pobres.
Disponível em: https://www.google.com.br/search?newwindow
O evento não está na programação oficial do aniversário de 461 anos da cidade São Paulo ( 25/01), mas foi marcado justamente em função da efeméride. O ato “461 anos de genocídio”, que acontece no próximo domingo, na Praça da Sé, centro da capital, pretende debater e protestar contra a morte sistemática de jovens negros (pretos e pardos) e pobres em São Paulo e no Brasil. Vai também questionar o conceito de que existe uma democracia racial no País e denunciar dois pontos do genocídio: a letalidade policial e o encarceramento em massa.

Os homicídios, de acordo com o Mapa da Violência 2014 (veja gráfico no final do texto), são a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no Brasil, a maioria negros (pretos e pardos), do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos.

Apenas em 2012 (dados mais recentes), dos 56.337 assassinados no País, 53,37% eram jovens, sendo 77% negros e 93,3% do sexo masculino.

“Existe uma atuação do Estado sistemática de precarização da periferia, onde moram majoritariamente os negros, nordestinos e pobres e você tem também uma atuação da polícia de assassinato contra essa população. É uma política de extermínio que vem desde a época dos bandeirantes”, afirma Willians Santos, sociólogo e um dos organizadores do ato. E completa: “o encarceramento em massa é uma forma moderna da escravidão, é muito mais interessante encarcerar, porque para o Estado custa menos do que garantir os direitos a esses jovens”.

Em artigo publicado recentemente aqui na Ponte , César S. Pereira, articulador do Plano Juventude Viva (SP), vai na mesma linha. Segundo ele o culpado dessa situação é o Estado Brasileiro que “tem submetido o jovem negro, desde a Lei do Ventre Livre, a situações de vulnerabilidade e de extrema violência”.

As condições às quais a população negra é submetida no Brasil se encaixam na resolução da ONU de 1948, que define genocídio como: o assassinato de membros do grupo; dano grave à integridade física ou mental de membros do grupo; submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial; medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo e transferência forçada de menores do grupo para outro grupo.

O ato também vai celebrar os 180 anos da revolução malê. A rebelião, ocorrida em janeiro de 1835, em Salvador, foi promovida por negros escravos ou libertos contra a escravidão e a imposição do catolicismo.

A concentração e as atividades do ato ocorrerão na praça da Sé a partir das 9h, com apresentação de rappers, poesias e falas de conscientização – o microfone estará aberto para quem quiser falar.

Luis Nassif: A marcha da insensatez da mídia com Eduardo Cunha

no Viomundo
eduardo cunha e mídia

por José Gilbert Arruda Martins

A "grande" mídia faz seu papel, que é defender os interesses das classes abastadas, não o país.

Eduardo Cunha, representa essa mídia e as classes dos super-ricos. Grupos que, como urubus na carniça, querem de qualquer forma desestabilizar e acuar o governo.

Dilma Roussef, se quiser ficar para a história como a presidenta que governou para o país, precisa fazer mais para impedir politicamente a ascensão do Eduardo Cunha.

O Partido dos Trabalhadores, e PMDB sério (?), precisam ir além do planejado para impedir que esse senhor assuma presidência da Câmara dos Deputados.

A "grande" mídia quer ver "o circo pegar fogo", não se importa com políticas públicas ou qualquer projeto que beneficie a maioria da sociedade.

Luis Nassif: A marcha da insensatez da mídia com Eduardo Cunha

por Luis Nassif, no GGN
O ano não promete ser fácil.Na política econômica, o pacote de maldades do Ministro da Fazenda Joaquim Levy impactará a atividade econômica e o emprego. O realinhamento de tarifas afetará os preços. Quando vier para valer, a falta de água em São Paulo, criará um clima insuportável. A Lava Jato manterá elevada a temperatura política e afetará a produção industrial e as obras de infraestrutura.*****
Por tudo isso, só pode se entender como marcha da insensatez o apoio incondicional dado pelos grupos de mídia à candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara. Para a mídia, Cunha tornou-se um novo sir Galahad, em substituição ao pio ex-senador Demóstenes Torres.
Por várias razões, é uma jogada de alto risco.
Do lado político, por ser um fator a mais de ingovernabilidade.
Do lado ético, por desnudar de forma implacável os chamados princípios morais da mídia. Veja aliou-se ao bicheiro Carlinhos Cachoeira; alçou o ex-senador Demóstenes Torres à condição de paladino da moral e dos bons costumes; blindou todas as estripulias do Ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal); escondeu todos os malfeitos de José Serra.
Mas todos esses episódios foram cometidos nos bastidores.
*****
Mas, Eduardo Cunha?! Cunha começou sua vida pública aliado de PC Farias, e foi processado como tal. Depois, assumiu um cargo na companhia habitacional do Rio, no governo Garotinho, e foi acusado de desvios. Teve envolvimento direto com uma quadrilha que fraudava ICMS em distribuidoras de gasolina.
Na Câmara, seu trabalho diuturno foi articular lobbies de grandes grupos. Nas últimas eleições, financiou a candidatura de dezenas de deputados, com recursos repassados por grupos econômicos com a finalidade única de fazer negócios.
Cunha é a definição impura e acabada do parlamentar negocista – aquele contra quem o moralismo da mídia deblatera dia e noite.
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E o que se pretende com esse apoio? Apenas o desgaste do governo. O governo Dilma não precisa de ajuda para se desgastar: sabe se desgastar sem a ajuda de ninguém.
No campo dos negócios, os grupos de mídia nada conseguirão, apenas piorar mais ainda o mercado publicitário.
O governo Dilma já mostrou que não retalia críticos com cortes de publicidade; mas também não cede a chantagens nem entra em negociatas.
Pode ser que pretendam, através do Congresso, barrar a entrada dos grandes competidores estrangeiros, aprovar leis que reduzam a obrigatoriedade de capital nacional na mídia, conquistar outra anistia fiscal para suas dívidas.
Não conseguirão. De um lado, porque a Câmara não faz política econômica. De outro, porque acumularam tal quantidade de inimigos com o estilo metralhadora giratória que jamais conseguirão montar uma frente pró-mídia.
Frente anti-PT e anti-governo é simples de montar. Pró-mídia, ainda mais em uma fase de crise econômica, impossível.
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O que e conseguirá com o fator Eduardo Cunha será uma pitada a mais de desmoralização da mídia, mais insegurança econômica – revertendo em menos publicidade – e a confirmação de que jornais não foram feitos para pensar estrategicamente: eles sabem apenas “causar”.

Valter Pomar: A entrevista de Marta e a visão personalista da política

no Viomundo
Marta
Marta Suplicy
É muito importante ler a entrevista que Marta Suplicy concedeu a Eliane Cantanhêde no dia 10 de janeiro de 2015. 
Para os que conhecem os bastidores do Partido e do governo, há na entrevista tanto fatos sabidos, quanto “versões martistas” que mereceriam correções factuais ou de interpretação.
Contudo, embora a discussão sobre tais fatos e versões seja seguramente o mais saboroso, não é nem de longe o mais importante na entrevista de Marta.
O mais importante está contido no bordão que finaliza a entrevista: “ou o PT muda ou acaba”.
Ideia similar está na boca e mente de muita gente. Gente de direita, de centro e de esquerda. Amigos do PT e inimigos do PT.
Tanta gente e tão diversa falando coisa parecida demonstra basicamente: 1) o papel central que o PT ocupa na vida política nacional; e 2) a total divergência existente acerca do conteúdo da tal mudança, que tanto uns quanto outros consideram essencial para a sobrevivência do PT.
Vejam o caso desta entrevista de Marta: sua crítica à Dilma e sua crítica ao PT estão diretamente relacionadas com o elogio à “equipe econômica” encabeçada por Joaquim Levy e às preocupações do grande empresariado (os “30 PIBs” paulistas, Lázaro Brandão inclusive!!!).
Sendo generoso, está implícito que para Marta mudar o PT é mudar em direção aos interesses e preocupações do grande empresariado.
Isto posto, derivo três outras conclusões desta entrevista de Marta Suplicy.
A primeira delas: todas as mudanças que o PT já fez, todas as moderações, todas as concessões, todo o pragmatismo, não são suficientes para as pessoas que pensam como Marta Suplicy.
A verdade é que, para tal fração política e social, a mudança só seria plenamente satisfatória se e quando.. acabar com o PT enquanto partido dos trabalhadores.
A segunda conclusão é: mudando ou não, seja em que direção for, seja com que velocidade for, o PT certamente perderá uma parcela de seus atuais filiados, militantes e eleitores.
Assim, deste ângulo do problema. a questão é: quem estamos perdendo e podemos vir a perder e por quais motivos?
Gente fazendo críticas pela direita (ou seja, questionando os conflitos do PT com o empresariado e com setores da direita)?
Ou gente fazendo críticas pela esquerda (ou seja, questionando as concessões do PT e de seus governos ao empresariado e a setores da direita)?
Visto deste ângulo, Marta não é a regra: a maior parte das pessoas que saíram do PT nos últimos anos e meses, saiu fazendo críticas pela esquerda.
Sempre lembrando que — como vimos no caso de Luíza Erundina, Heloísa Helena e Marina Silva — há pessoas que saem criticando as alianças do PT com a direita, mas terminam fazendo alianças com a direita contra o PT,
A terceira conclusão é a seguinte: embora sejamos o Partido dos Trabalhadores, entre nossos dirigentes há gente muito importante que adota o modo de pensar de outra classe social.
No caso de Marta, não se trata apenas do conteúdo político-econômico de suas preocupações, mas da forma “principesca” como ela enxerga a política, tanto no país quanto no partido.
Vejamos alguns exemplos deste modo de pensar, que faz tudo girar em torno da ação de determinadas personalidades.
Os erros e acertos da presidenta Dilma ao tratar com os gravíssimos problemas da economia nacional e internacional são resumidos da seguinte forma: “Era preciso mudar a equipe econômica e o rumo da economia, e sabe por que ela não mudou? Porque isso fortaleceria a candidatura do Lula, o ‘Volta, Lula’.”
As divergências internas do PT acerca da tática nas eleições de 2014 e 2018 são resumidas assim: “Mercadante mente quando diz que Lula será o candidato. Ele é candidatíssimo e está operando nessa direção desde a campanha, quando houve um complô dele com Rui e João Santana (marqueteiro de Dilma) para barrar Lula”.
E o próprio papel de Marta no PT é tratado da seguinte forma: “Cada vez que abro um jornal, fico mais estarrecida com os desmandos do que no dia anterior. É esse o partido que ajudei a criar e fundar? Hoje, é um partido que sinto que não tenho mais nada a ver com suas estruturas. É um partido cada vez mais isolado, que luta pela manutenção no poder. E, se for analisar friamente, é um partido no qual estou há muito tempo alijada e cerceada, impossibilitada de disputar e exercer cargos para os quais estou habilitada”.
Como nos antigos livros de história, toda a análise política feita nesta entrevista de Marta Suplicy gira ao redor dos “príncipes”, das pessoas importantes. O papel do povo, das massas, das classes, das bases, da militância aparece no máximo como acessório.
Aliás, quem a “impossibilitou” de disputar e exercer algum cargo no PT? Que culpa o Partido como um todo tem, por ela ter aceito um determinado método decisório?? Foi “o partido” que “se acovardou” ao “recusar um debate sobre quem era melhor”???
É verdade, como alguém já me explicou, que não se trata apenas de um “erro de método” cometido por Marta e outras pessoas como ela.
Existem dezenas de milhões de pessoas que acreditam que a política resume-se a luta entre os pares da nobreza. Estes milhões agem de acordo com esta crença. E, ao fazerem isto, efetivamente tendem a transformar a luta política num espécie de conflito entre “carreiras pessoais”.
Nestes termos, não é contraditório que Marta critique a “luta pela manutenção do poder”. Pois, como todos sabem, para um determinado setor é mesmo deplorável que a classe trabalhadora lute pelo poder, ao mesmo tempo que é considerado louvável que uma pessoa lute por cargos.
Acontece que uma das razões pelas quais foi fundado o PT –e uma das razões pelas quais quais existe todo o movimento socialista desde o século XIX — é fazer com que a emancipação da classe trabalhadora seja obra da própria classe trabalhadora.
O que inclui, entre outras coisas, fazer com que a política seja ato cotidiano de centenas de milhões de pessoas e não um ofício restrito a uns poucos milhares.
Um dos subprodutos da aristocratização da política é fortalecer, em algumas camadas do povo, o sentimento anti-política, sentimento que ao fim e ao cabo ajuda na manutenção do status quo econômico e social.
O “interessante” é que o crescimento da influência do modo de pensar e do modo de agir burguês na cúpula do Partido está criando situações difíceis não apenas para o PT como um todo, mas também para os que compartilham aquele ponto de vista.
Pode ser necessário sair de um partido, por exemplo devido a divergências programáticas ou estratégicas. Mas quando se participa da luta política em defesa de um projeto de poder para a classe trabalhadora, em defesa de uma democracia popular, em defesa de reformas estruturais democrático-populares, em defesa do socialismo, há muito mais “espaço” para todos e todas contribuírem.
O mesmo não acontece quando — dada a premissa da defesa dos interesses do grande empresariado– a luta política é organizada com base nos projetos pessoais e nas “carreiras”. Neste caso, não há mesmo “espaço” suficiente. E uma eventual ruptura com o Partido não decorre principalmente de divergências programáticas e estratégicas; ainda que possam existir, tais divergências são acentuadas artificialmente, para tentar dar respeitabilidade a motivações de outro tipo.
Por isto, não me comovo nem um pouco ao saber que Marta passou dois meses “chorando, com uma tristeza profunda, uma decepção enorme”, se “sentindo uma idiota”, ao mesmo tempo que declara ter “portas abertas e convites de praticamente todos” os partidos.
O que me provoca uma preocupação realmente profunda é saber que Marta está longe de ser a única, na cúpula do Partido, a encarar desta forma a luta política.
Como já dissemos noutro texto, se quisermos não apenas seguir governando, mas principalmente seguir transformando o Brasil. é essencial que a esquerda, especialmente o PT, construa não apenas uma nova estratégia mas também um novo padrão de organização e atuação.
PS do Viomundo: E o dedaço de Lula na escolha de candidatos, não teria contribuído para o fenômeno de a militância do PT só opinar durante as campanhas eleitorais, tendo de engolir Kátia Abreu em seguida?

Lula: “A melhor escola de formação política dos movimentos sociais”

no Viomundo
Lula na Florestan Fernandes
Lula visita ENFF e defende atuação dos movimentos sociais no Brasil
Na manhã desta quarta (21/1), o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva conheceu a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), acompanhado do jornalista e ex-ministro Franklin Martins.
Durante a visita, Lula percorreu por todas as instalações da Escola e conversou com militantes do MST sobre o atual cenário político nacional e latinoamericano.
“Esta Escola é exemplar e o MST está de parabéns pelo sucesso alcançado. Continuem formando quadros para as mudanças que o país tanto precisa”, afirmou o ex-presidente.
Para Lula, a atuação dos movimentos sociais “fará a diferença” neste próximo período. Ele defendeu a imprescindibilidade da Reforma Política e a necessidade da unidade da esquerda para o avanço das conquistas para os trabalhadores brasileiros.
“O papel do movimento social é não ser subserviente ao Governo. Não se pode abrir mão de defender os interesses do movimento que representa”, completou.
De acordo com Rosana Fernandes, integrante da Direção Nacional do MST e da coordenação pedagógica da ENFF, a visita de Lula, na condição de amigo do Movimento, integra as comemorações dos 10 anos da Escola, fundada em janeiro de 2005, mas também é espaço para se debater a reforma agrária.
“A luta pela terra é o grande motor da nossa organização. Por isso, perguntas como o porquê que não se fez a reforma agrária e o porquê que nossa pauta de reivindicação não foi executada devem ser feitas. Não queremos que Lula fique contra a presidenta Dilma, mas que ele influencie para que a reforma agrária seja feita”, disse Rosana.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Vídeo: Assassino Econômico - John Perkins

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Trecho do documentário Zeitgeist Addendum. John Perkins, ex-agente da CIA e autor do livro "Confissões de um Assassino Econômico", fala de como funciona a tática de guerra econômica usada para subjugar nações.