quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Estados Unidos - Balanço de uma presidência negra

por Desmond King - no site do Le Monde Diplomatique Brasil

por José Gilbert Arruda Martins

O imobilismo de Obama frente a questões sociais, do aumento da pobreza, do aumento dos "moradores" de rua, do aumento da população carcerária - a maior do planeta com mais de 2,2 milhões de presos -, e, principalmente, da questão negra nos EUA,  é um exemplo claro sobre quem realmente detém o poder naquele país.

Os detentores reais do poder são grupos brancos, na sua maioria super-ricos, descendentes de forma direta ou indireta dos grupos de anglo-saxões que atravessaram o atlântico no século XVII.

Grupos, além de muito ricos, defensores da violência e da manutenção de seus poderes a qualquer custo.

O cenário político criado pela eleição de Obama, que não avançou em quase nada nas questões negra e sociais em geral, era mais ou menos esperado. Todos sabiam que, mesmo sendo de origem negra, o presidente não poderia ousar mudar.

Se analisarmos as questões da política externa, quase nada foi feito de diferente dos presidentes brancos - unilateralismo, defesa do uso da força, "nossos interesses primeiro, doa a quem doer" etc.

Talvez seja uma lição aos Movimentos Negros do Brasil. Nosso país é profundamente racista, conservador e possui uma das elites mais ricas e atrasadas em questões raciais, de gênero, de distribuição de renda do mundo, não tenhamos ilusões, o que acontece nos Estados Unidos da América pode e deve ser aplicado aqui.

"às armas", como defendeu a capa de uma revista ultra-conservadora aqui no país. Com que armas atacar uma estrutura que dura mais de 500 anos e que mantém privilégios dignos da Casa Grande Colonial? Que se coloca contra a lei dos trabalhadores domésticos, contra as cotas raciais, contra o Programa Bolsa Família, e, que nunca aceitou a "Lei Áurea"?


Estados Unidos
Balanço de uma presidência negra

Duas ondas de violentos protestos sacudiram Ferguson, no estado de Missouri, durante os cinco últimos meses. A primeira em agosto, quando Michael Brown, um afro-americano de 18 anos, foi morto por um policial, branco como a esmagadora maioria dos policiais da cidade, fato que ateou fogo nessa periferia majoritariamente negra. A segunda em novembro, depois da decisão de um júri popular de não perseguir o autor dos tiros, Darren Wilson. O movimento se estendeu então ao conjunto do país, de São Francisco a Nova York, passando por Chicago, Seattle, Los Angeles e um monte de pequenas cidades. Carros em chamas, pilhagens noturnas, policiais brancos em veículos blindados enfrentando manifestantes negros desarmados: as imagens dessa revolta urbana percorreram o mundo, esfolando o mito da “América pós-racial” que teria decorrido da chegada de Barack Obama à Casa Branca em 2008.
O assassinato de um jovem negro por um policial branco, no entanto, não tem nada de extraordinário nos Estados Unidos. Em 2013, segundo o FBI, dos 461 “homicídios justificados” cometidos pela polícia, um quarto teve por vítima um afro-americano, ou seja, um morto a cada três dias. Os negros, porém, só representam 12% da população total norte-americana. A desproporção é ainda mais flagrante na prisão, onde eles constituem 38% dos 2,2 milhões de detentos. Essa cifra traduz ao mesmo tempo sua fragilização socioeconômica e a propensão dos policiais a controlar prioritariamente os afro-americanos.
Apesar da igualdade de direitos entre os cidadãos, estabelecida nos anos 1960, seguida da emergência de uma classe média negra e da eleição de um presidente afro-americano, nada mudou em relação ao fato de que os Estados Unidos continuam atravessados por divisões raciais. Todos os indicadores confirmam isso. A grande recessão de 2008-2009 teve como efeito aprofundar as desigualdades raciais. Como eram mais visados que os brancos pelos vendedores de créditos subprimes, os afro-americanos e os hispânicos foram mais atingidos pelos confiscos imobiliários. Vivendo em situação mais precária, eles ficaram também mais expostos ao aumento do desemprego. Assim, segundo dados do Bureau of Labor Statistics [Escritório de Estatísticas do Trabalho], 5,4% dos brancos estavam sem emprego em agosto de 2014, contra 11,4% dos afro-americanos. Em 2012, a renda média dos lares brancos se elevava a US$ 57.009, enquanto a dos lares negros chegava a US$ 33.321.
A segregação residencial também não diminuiu. Ao longo dos últimos quarenta anos, explica o sociólogo Robert Sampson falando de Chicago, “nenhum bairro majoritariamente negro se tornou majoritariamente branco”, ao contrário de um terço dos bairros brancos, que se tornou majoritariamente negro.1 Essa constatação se verifica em todo o país. Entre 1990 e 2000, “milhares de bairros com predominância branca passaram a ser habitados principalmente por afro-americanos. No entanto, de cerca de 65 mil bairros com predominância negra, só uma dezena passou a ser habitada por uma população majoritariamente branca. Assim, de maneira geral, a estratificação racial é profundamente estável”, explica o sociólogo. Essa estratificação repercute nas relações sociais, já que a maior parte dos norte-americanos brancos declara não ter nenhum amigo negro, diferentemente dos afro-americanos, que, por sua vez, declaram ter amigos brancos.2

Uma questão individual ou coletiva?
Os anos 1960, porém, levavam a prever um cenário diferente. Após várias décadas de protesto, o movimento dos direitos civis conquistou a adoção de uma série de medidas decisivas. A lei dos direitos civis de 1964 (Civil Rights Act) instaurou a mistura racial em todos os lugares públicos e permitiu a adoção de medidas chamadas de “ação afirmativa” (affirmative action). Em 1965, a lei sobre o direito de voto (Voting Rights Act) dotou o Departamento de Justiça de um poder de controle ampliado sobre os procedimentos de voto e inscrição nas listas eleitorais em cinquenta estados do país. Qualquer mudança devia ser aprovada pelo governo federal, fiador da igualdade. A lei sobre a educação de 1965 (Higher Education Act) permitiu a concessão das subvenções excepcionais nos distritos escolares mais pobres, majoritariamente habitados por afro-americanos, enquanto o sistema de transporte foi reformado para permitir às crianças negras serem escolarizadas longe da escola para a qual estariam naturalmente designadas, favorecendo a miscigenação racial. Essas medidas de discriminação positiva não eram concebidas como uma forma de esmola em relação às minorias, mas como um sistema de reparação das injustiças históricas que elas haviam sofrido.
Essas reformas só puderam vingar ao preço de uma longa batalha política entre os defensores dos direitos civis e seus opositores. Se o primeiro grupo era composto principalmente de democratas, e o segundo, de republicanos, a fronteira, no entanto, estava longe de ser hermética: cada coalizão incluía membros dos dois partidos. Assim, à imagem do senador Strom Thurmond, da Carolina do Sul, democratas conservadores, eleitos sobretudo no sul do país, viram-se aliados a republicanos para defender a segregação. Inversamente, republicanos progressistas, como o governador do estado de Nova York, Nelson Rockefeller, enfrentavam seu próprio partido para promover uma maior igualdade racial.
Desde a adoção das leis sobre os direitos civis, as linhas de ruptura da política norte-americana foram deslocadas. A questão das desigualdades raciais foi objeto de duas abordagens antagonistas, que recortam exatamente os contornos dos partidos políticos. Aos olhos dos democratas, apenas políticos voluntaristas, que levam em conta especificamente a dimensão racial, podem preencher essas disparidades. Essa ideia é partilhada por uma grande quantidade de associações de defesa das minorias, de sindicatos, mas também de grandes empresas que valorizam a miscigenação de seus funcionários. Na Suprema Corte, a juíza Sonia Sotomayor (indicada por Obama) pleiteia, por exemplo, “políticas sensíveis à raça” em matéria de emprego, educação, habitação etc.

Sem negar as discriminações que atingem os negros, os republicanos consideram que as leis sobre direitos civis tornaram inútil qualquer intervenção específica do Estado em direção das minorias. Estando a igualdade de oportunidades assegurada, tratar-se-ia agora de um combate individual, e não coletivo. Enquanto assinava, em novembro de 1983, uma lei instituindo um novo feriado em homenagem a Martin Luther King – lei que ele havia rudemente combatido –, o presidente Ronald Reagan parafraseou o célebre pastor: é preciso “julgar um homem com base em sua personalidade, não na cor da sua pele”. Esse princípio, que faz do indivíduo a fonte do sucesso e nega a pesada herança das décadas de segregação, encontra-se na base da coalizão dos partidários de políticas “indiferentes à cor da pele”.
Há 30 anos essa coalizão vem ganhando terreno incessantemente, em particular no seio da Suprema Corte, na qual ela reúne agora cinco dos nove juízes. As decisões tomadas nos últimos anos são afetadas por isso. Em junho de 2009, o acórdão Ricci versusDeStefano deu razão aos dezenove bombeiros (dezessete brancos e dois hispânicos) que reclamavam de não terem sido promovidos por causa das medidas de discriminação positiva em favor dos negros. Em junho de 2009, o acórdão Shelby County (Alabama)versus Holder invalidou o artigo 5o da lei sobre o direito de voto de 1965, que obrigava os estados a conseguir a aprovação do governo federal antes de modificar seu código eleitoral.3 A discriminação positiva nas universidades também foi objeto de um ataque generalizado. Em junho de 2013, a Suprema Corte decidiu a favor de Abigail Fisher, uma estudante branca que se queixava de ter sido recusada pela Universidade do Texas, enquanto candidatos menos qualificados que ela, mas pertencentes a uma minoria, tinham sido contratados. O declínio da affirmative action4 teve um efeito negativo sobre a condição dos afro-americanos. Em 2010, 74% das crianças negras estavam inscritas numa escola frequentada na maioria por alunos negros. Uma taxa comparável à de 1968 (77%) e largamente superior à de 1980 (62%).

O fator Obama
Em 2008, durante a campanha à Casa Branca, Obama se expressou várias vezes sobre os problemas raciais. Na Filadélfia, em um discurso muito difundido pela imprensa, ele pediu sobretudo um “sistema de justiça penal equitativa”. Ele conclamou os negros a basear suas reivindicações nas “aspirações maiores de todos os norte-americanos” e os brancos a levar em conta a “herança da segregação e suas persistências, menos manifestas que no passado, mas ainda assim reais”. Muitos acreditaram que, se fosse eleito, Obama colocaria em prática medidas para melhorar a sorte das minorias.
No entanto, passados seis anos no Salão Oval, o presidente evita cuidadosamente abordar essa questão, com medo de ser acusado por seus detratores de favorecer sua própria comunidade. Uma das raras exceções a esse silêncio foi a “cúpula da cerveja”, que aconteceu na Casa Branca em julho de 2009. Obama convidou o universitário afro-americano Henry Louis Gates e o sargento branco James Crowley para ter uma conversa sobre as discriminações raciais. Suspeito de cometer um assalto quando na verdade apenas voltava para casa, o primeiro havia sido detido sem nenhuma precaução pelo segundo...
Em fevereiro de 2012, a morte de Trayvon Martin, um afro-americano de 17 anos, por um latino-americano que organizava rondas de vigilância em seu bairro levou Obama a se manifestar mais uma vez. “Quando Trayvon Martin foi morto, eu disse que ele podia ser meu filho. Em outras palavras, Trayvon Martin podia ter sido eu há 35 anos. [...] Muito poucos afro-americanos não passaram pela experiência de serem seguidos quando faziam compras numa grande loja. Também já passei por isso. Muito poucos afro-americanos não viveram a experiência de tomar o elevador e ver uma mulher apertar a carteira nervosamente e prender a respiração até poder sair”, explicou com emoção.
O presidente se mostrou nitidamente menos lírico após a morte de Brown em agosto último. Ele se recusou a ir até o local, ainda que os manifestantes o convidassem, e se contentou em fazer declarações prudentes, dizendo que esperava as conclusões do Departamento de Justiça. Após a decisão do júri popular, ele chegou a condenar a violência dos que protestavam. “Queimar prédios, pôr fogo em carros, destruir bens, colocar pessoas em perigo: não há nenhuma desculpa para isso, são atos criminosos. Não tenho nenhuma simpatia por aqueles que destroem sua própria comunidade”, declarou sem propor uma resposta política à crise que atingia o país.
Longe de ter acalmado ou apaziguado as divisões raciais, o presidente Obama talvez tenha contribuído para exacerbá-las. O especialista em política Michael Tesler estuda a evolução das pesquisas de opinião desde 2008. Ele mostrou que, sobre vários assuntos (reforma da saúde, indicação de Sotomayor para a Suprema Corte, impostos...), a opinião dos norte-americanos é determinada por sua percepção de Obama, ela mesma moldada pela cor da pele.5 Por exemplo, em março de 2012, uma pesquisa realizada em Maryland mostrava que 56% dos afro-americanos do estado se opunham à adoção de uma lei autorizando o casamento homossexual, contra 39% que a apoiavam. No mês seguinte, o presidente se pronunciou em favor dessa lei e, em maio, uma nova pesquisa foi realizada. Os resultados tinham se invertido: 55% dos afro-americanos de Maryland declaravam apoiar o casamento gay e 36% se opunham a ele. Paralelamente, as taxas de aprovação entre os brancos haviam diminuído.6 Assim, afirma o estudioso, a eleição de Obama contribuiu para dar uma conotação racial a temas que até então estavam desprovidos dela.
A polarização dos partidos políticos e do eleitorado torna altamente improvável o retorno a um programa ambicioso de luta contra a segregação e a discriminação raciais. Os avanços dos anos 1965-1975 se apoiavam numa certa colaboração entre os dois grandes partidos políticos e repousavam sobre o voluntarismo público. Os republicanos, que hoje rejeitam qualquer intervenção do Estado, ocupam a maioria das cadeiras de governador (28 em 50) e dominam a maior parte das assembleias estaduais, assim como as duas câmaras do Congresso federal. Eles podem bloquear qualquer medida suscetível de favorecer especificamente as minorias. Nesse contexto, apenas medidas locais, adotadas de forma fragmentada, parecem possíveis hoje. Em Nova York, o prefeito Bill de Blasio lançou-se na construção de habitações sociais cuja atribuição deveria favorecer a integração racial. Em Minneapolis, uma astuciosa redistribuição dos distritos escolares permitiu diminuir a segregação nas escolas. As manifestações provocadas pela morte de Brown mostram que esse tipo de medida não é suficiente, mas também que existem as bases de um movimento político favorável a uma reforma radical da ordem racial norte-americana.

Desmond King
Desmond King é professor da Universidade de Oxford. Autor, com Roger M. Smith, de Still a house divided: race and politics in Obama’s America [Uma casa ainda dividida: raça e política nos Estados Unidos de Obama], Princeton University Press, 2013


Ilustração: Reuters/ Andrew Kelly

1  Robert J. Sampson, Great American city: Chicago and the enduring neighborhood effect[Grande cidade norte-americana: Chicago e o duradouro efeito da vizinhança], University of Chicago Press, 2012.
2  Robert P. Jones, “Self-segregation: why it is so hard for whites to understand Ferguson” [Autossegregação: por que é tão difícil para os brancos entender Ferguson], The Atlantic, Boston, 21 ago. 2014.
3  Ler Brentin Mock, “Retour feutré de la discrimination électorale” [Retorno silencioso da discriminação eleitoral], Le Monde Diplomatique, out. 2014.
4  Ler John D. Skrentny, “L’‘affirmative action’ américaine en déclin” [A affirmative actionnorte-americana em declínio], Le Monde Diplomatique, maio 2007.
5  Michael Tesler, “The spillover of racialization into health care: how president Obama polarized public opinion by racial attitudes and race” [O transbordamento da racialização nos cuidados de saúde: como o presidente Obama polarizou a opinião pública por meio de atitudes raciais e raça], American Journal of Political Science, n.56, Malden (Massachusetts), 2012.
6          Sasha Issenberg, “It all comes down to race” [Tudo se resume na raça], 1o jun. 2012. Disponível em: www.slate.com
06 de Janeiro de 2015
Palavras chave: ObamaEuamovimento negromanifestaçõesEricGarnerMichaelBrownNova Yorque

Inscrições para o Sisu começam nesta segunda-feira (19)

Por Tomaz - no site do Sinpro-DF

Nesta segunda-feira (19), começam as inscrições para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Podem participar aqueles que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014 e não tiraram nota zero na redação. As inscrições serão feitas online na página do Sisu até o dia 22.
A lista de cursos que serão ofertados neste processo seletivo está disponível na página do Sisu. Ao todo serão 205.514 vagas no ensino superior público em 5.631 cursos de 128 instituições.
Neste ano, o número de vagas aumentou 20% em relação ao processo seletivo do primeiro semestre de 2014. Houve um acréscimo de vagas no curso de medicina que passou de 2.925 na primeira edição de 2014, para 3.758 no mesmo período de 2015.
Os cursos de engenharia também tiveram ampliação na oferta de vagas de um ano para o outro, passando de 25.128 em 2014 para 30.749 em 2015.
As instituições deverão reservar, no mínimo, 37,5% das vagas para os estudantes de escolas públicas, cumprindo a Lei de Cotas (Lei 12.711/2012).
De acordo com o MEC, do total de 99 instituições federais participantes do sistema (59 universidades e 40 instituições de educação profissional), 68 já reservam 50% ou mais vagas para candidatos provenientes de escolas públicas.
Esta edição do Sisu terá apenas uma chamada. O resultado será divulgado no dia 26. Também a partir do dia 26 serão abertas as inscrições para o Programa Universidade para Todos (ProUni), que oferece bolsas integrais e parciais em instituições particulares. Os estudantes podem fazer suas inscrições no Sisu e ProUni.
A nota individual no Enem está disponível no site do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Consulta pública
A consulta pública às vagas da primeira edição de 2015 do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) já estão disponíveis na internet. Ao todo, são ofertadas 205.514 vagas, em 5.631 cursos de 128 instituições públicas de educação superior.
Das 63 universidades federais, 59 participam do Sisu neste primeiro semestre. Além delas, todos os 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia e os dois centros federais de educação tecnológica (Cefet) oferecem vagas pelo sistema.
Se comparado à edição de janeiro de 2014, houve crescimento de 11% no número de instituições participantes, de 20% no número de vagas ofertadas e de 19% no total de cursos com oferta de vagas.
Na primeira edição de 2014, foram ofertadas 171.401 vagas em 4.723 cursos de 115 instituições, conforme a tabela:
(do Portal Brasil)

SINTE-SC reivindica a aplicação do reajuste do Piso Nacional do Magistério

Por Luis Ricardo - no site do Sinpro-DF

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Disponível em: https://www.google.com.br/search?newwindow=1&site=&source=hp&q=imagem+manifestação+de+professores

No último dia 6 de janeiro, o  Ministério da Educação anunciou o percentual de 13,01% para o reajuste do piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica. Assim, o valor passa de R$ 1.697,00 para R$ 1.917,78, sendo esta a referência mínima para o vencimento das carreiras de professores com formação de nível médio.
De acordo com o Coordenador Estadual do SINTE, Luiz Carlos Vieira, logo após a definição do percentual, já iniciaram as conversas com o Governo do Estado de Santa Catarina. Vieira disse que em contato telefônico com representantes da Secretaria de Educação, os sindicalistas foram informados de que o governo está recalculando os valores para o pagamento do Magistério Catarinense e devem, em breve, apresentar  os novos cálculos ao Grupo Gestor.
A expectativa, segundo Vieira, é de que após os estudos do Grupo Gestor, a proposta seja enfim trazida ao sindicato para ser  apresentada e discutida com a categoria. Ele afirma ainda que o SINTE mantém sua posição do reajuste no mês de janeiro, data base do magistério conforme a lei 11.738/08 e para toda a categoria, com a aplicação do reajuste do Piso na carreira.
O Sindicato se mantém alerta, realizando seu trabalho de negociação com o Governo do Estado e informará a categoria sobre qualquer novidade com relação ao reajuste de 2015.

Negociação desta terça (20) encaminha ARO para quitação dos pagamentos atrasados em fevereiro

O Governo do Distrito Federal (GDF) cedeu aos argumentos da bancada sindical  e anunciou, na mesa de negociação dos pagamentos atrasados, realizada na tarde desta terça-feira (20), que vai apresentar...
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extraído do site do Sinpro-DF
O Governo do Distrito Federal (GDF) cedeu aos argumentos da bancada sindical  e anunciou, na mesa de negociação dos pagamentos atrasados, realizada na tarde desta terça-feira (20), que vai apresentar à Câmara Legislativa, a partir do dia 3 de fevereiro, o pedido de Antecipação de Receita Orçamentária (ARO) para quitar todos os débitos com a Educação e a Saúde.
A proposta de viabilizar a ARO para quitação de débitos com os(as) servidores(as) públicos(as) de uma única vez foi apresentada em várias reuniões com o GDF e com o próprio governador Rodrigo Rollemberg pela comissão de negociação da Educação, porém, sempre se deparou com a resistência da bancada do governo.  Na rodada de negociação dessa segunda-feira (19), os representantes do GDF ainda resistiram à proposta de antecipação de receita, todavia, diante da rejeição e da posição firme da comissão de negociação contra qualquer tipo de parcelamento de salário e de direitos trabalhistas, o governo aceitou encaminhar o pedido aos deputados distritais.
“Caso a ARO seja aprovada, pagaremos tudo e todos de uma vez só, em fevereiro: tanto a Educação como a Saúde. Todavia, independentemente de ela ser ou não aprovada, vamos pagar a primeira parcela daquelas seis que propusemos no último dia útil de janeiro. É que se a ARO não for aprovada, iremos manter nossa última proposta de parcelamento em seis meses”, anunciou Hélio Doyle, secretário-chefe da Casa Civil do GDF.
Ele disse que sem a ARO não tem muito o que fazer fora da proposta governamental apresentada na reunião de negociação dessa segunda-feira. Doyle afirmou também que, em não sendo aprovada a ARO, mas o governo tendo boas arrecadações ou entrando antecipações de recursos, como, por exemplo, do Fundo Constitucional, poderá antecipar algumas parcelas e aproximar pagamentos.
A bancada sindical, por sua vez, comprometeu-se a discutir e a cobrar dos(as) deputados(as) distritais, ainda durante o período de férias, a parcela de contribuição deles no processo de solução desse problema. Durante esse percurso, a Central Única dos Trabalhadores de Brasília (CUT-Brasília) irá intermediar e acompanhar o Sinpro-DF e o SAE. O Sinpro poderá convocar, a qualquer momento, a categoria para atividades na Câmara Legislativa a fim de acelerar a aprovação da ARO.
A assembleia da categoria docente está mantida e vai ocorrer no primeiro dia do ano letivo. Nessa assembleia, os(as) professores(as) vão analisar a situação e, caso os pagamentos não tenham sido efetuados, o início do ano letivo estará comprometido.
Não é a primeira vez que o movimento sindical busca os parlamentares da Câmara Legislativa para cobrar a responsabilidade deles no pagamento dos salários atrasados. No entendimento das lideranças sindicais, os deputados distritais representam a sociedade e, portanto, têm uma cota de responsabilidade na resolução desse problema.
A ARO é um mecanismo já utilizado pelos governos Arruda e Agnelo para ajustar contas. Em 2013, uma emenda de segundo turno apresentada em Plenário autorizou o governo a remanejar até 25% do Orçamento, aproximadamente R$ 6 bilhões, sem a necessidade de autorização legislativa.
Direitos atrasados – O que os sindicalistas querem é que o Poder Legislativo agilize o pedido a ser encaminhado pelo Poder Executivo, uma vez que as categorias da Educação estão, hoje, 20 de janeiro, com 30 dias de atraso do 13º dos efetivos e servidores(as) em regime de contrato temporário.
Os(as) professores(as) que nasceram entre janeiro e agosto não receberam as diferenças oriundas do reajuste salarial efetivado durante o cumprimento das terceira e quarta parcelas do Plano de Carreira (Lei nº 5.105/13) em curso.
Até hoje não receberam a antecipação de férias, que deveria ter sido paga até 48 horas antes do seu início, as quais, de acordo com o novo calendário escolar imposto pelo governo, começaram nessa segunda-feira (19). O GDF não pagou também a rescisão e outros direitos dos(as) professores(as) em regime de contrato temporário.
Formada por lideranças sindicais da CUT-Brasília, Sinpro-DF e SAE, a comissão de negociação rejeitou as duas propostas de parcelamento dos atrasados apresentada pela bancada do governo. A primeira, previa oito parcelas, finalizando os pagamentos atrasados em outubro de 2015. Após rejeição da bancada sindical, o governo apresentou a segunda, com seis parcelas, finalizando em junho.
A comissão de negociação repeliu as duas e insistiu no pagamento único imediatamente. Todavia, em razão da situação exposta pelos representantes do governo, apresentou um cronograma-limite de três meses, com início do pagamento dos atrasados ainda em janeiro e a finalização dele em março.
Remanejamento de recursos – Na reunião desta terça, a comissão de negociação alertou para a existência de outra possibilidade legal de o governo captar recursos para o pagamento dos atrasados de uma só vez e propôs que o governador utilize a prerrogativa do Poder Executivo de remanejar 25% do Orçamento do GDF sem intervenção da Câmara Legislativa.
A Lei Orçamentária Anual (LOA) prevê a possibilidade, em caráter de emergência, de o governador, por meio de decreto e sem a necessidade de autorização legislativa, executar um remanejamento de até 25% do Orçamento do Distrito Federal. Esse recurso foi usado no Orçamento de 2013.
Doyle, por sua vez, avisou que todas essas alternativas em debate são onerosas para o GDF e que irá repercutir nos pagamentos do fim deste ano. Avisou ainda que a ARO só é possível se o GDF não estiver no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. Ele apresentou ainda uma terceira proposta que é a correção das parcelas atrasadas dos salários pelos índices da poupança para quem receber após o quinto dia útil.
“Nós vamos fazer uma correção pela poupança. Não vai virar o mês. Vamos fazer uma correção das parcelas atrasadas do salário. Assim, quem não receber na primeira parcela, já vai ter um índice na segunda, na terceira terá outro índice, sempre de acordo com os dias de atraso. Isso, naturalmente, vai valer para quem tiver fora da primeira faixa. Essa proposta foi sugerida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Território (MPDFT) para resolver o problema dos atrasos de pagamentos da Saúde.
Histórico da luta – Desde dezembro de 2014, o Sinpro tem lutado pelo pagamento dos atrasados. Realizou manifestações contra o governo Agnelo Queiroz e ingressou com processos na Justiça para obrigá-lo a pagar as contas atrasadas. Em reunião com a equipe de transição do governo Rollemberg, conseguiu que o novo governo assumisse a dívida e, com isso, impediu que os atrasados fossem declarados como exercício findo.
Além da movimentação de ações judiciais e mobilizações políticas, durante duas semanas, participou, em janeiro, do acampamento promovido pela CUT-Brasília, na Praça do Buriti, cujo objetivo era forçar a negociação e o pagamento dos atrasados. Nessa segunda-feira, contou com a solidariedade de classe. Os rodoviários e mais de 300 integrantes da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL) paralisaram as duas vias do Eixo Monumental, num ato público em defesa dos pagamentos atrasados. Após a manifestação na Rodoviária do Plano Piloto, os integrantes da FNL seguiram para a Praça do Buriti, onde também estabeleceram um acampamento.
A unificação das lutas fez com que o setor da Educação conseguisse avanços durante as negociações dessa segunda e terça-feiras. Contudo, em razão de um acordo firmado com a Saúde , o governo não cedeu à pressão dos(as) professores(as) e servidores(as) da Educação e recusou o cronograma-limite.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Cidade dos Mortos do Cairo: necrópole transformada em metrópole.

Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=cidade+dos+mortos+egito

por José Gilbert Arruda martins

Onde tem dinheiro os rentistas vão. Não importam as pessoas, quem são, como vivem, se têm sonhos, o fundamental aqui é o lucro acima de qualquer coisa.

O cemitério de El Harafa no Cairo, capital do Egito, é um dos maiores símbolos mundiais do tipo de sistema econômico que a maior parte das pessoas e do mundo é obrigado a conviver.

É, o que especialistas chamam de hipercapitalismo. Um sistema cada vez mais excludente que enriquece uma minoria de 1% da população mundial.

Nunca se viu, na história do sistema capitalista, tantas pessoas excluídas, as grande e médias cidades do mundo estão aparecendo aos milhares pelas ruas.

É um problema para s pessoas, para a cidade, para o prefeito, para os comerciantes.

E, como solucionar tão grande problema?

Medidas paliativas como, centro de atendimento, albergues, distribuição de sopa etc. não são capazes de resolver, mesmo por que o sistema produz mais a cada minuto.

Então como resolver?

Mudando, invertendo o sistema econômico. Criando um sistema de desenvolvimento diferente. Talvez o que os especialistas chama de pós-capitalismo.

Cidade dos Mortos do Cairo: necrópole transformada em metrópole.

Fonte: http://pt.euronews.com/2013/03/04/cidade-dos-mortos-do-cairo-necropole-transformada-em-metropole


Egito é um país cheio de contrastes, repleto de caras ocultas que às vezes espreitam o mundo da fresta de uma porta tumular.
A falta de casas é um mal endêmico até ao ponto de segundo os dados oficiais dois milhões de pessoas habitarem nos cemitérios. Quando Sergio Tréfault fez o filme “A Cidade dos Mortos”, com que ganhou o Grande Prêmio Documenta Madri em 2010, os números rondavam o milhão de residentes na maior necrópole do mundo, El Harafa.
Hatem Hosni é um dos jovens egípcios que fez um lar num velho nicho num dos cemitérios do Cairo – espécie de bairro da lata dos que afluíram à capital egípcia nos anos 60.
Um quarto e uma pequena cozinha constituem todo o espaço do que dispõem os cinco membros da família.
Os filhos brincam entre os mortos que exalam um cheiro que ninguém pode ignorar nos picos de calor.
Hatem Hosni
“A situação econômica, a falta de postos de trabalho e os arrendamentos caros obrigam-nos a viver aqui. Ter um apartamento novo custa imenso dinheiro e não tenho emprego, de modo que não podemos sair daqui. O governo esqueceu-nos. Não nos têm em conta. É como se estivéssemos mortos porque vivemos nos cemitérios”.
Na capital egípcia, visitamos o conhecido cemitério Aisha. Al Haj Ahmed reside, há 43 anos, num diminuto jazigo, em péssimas condições, sem eletricidade, nem água potável.
Vive da esmola dos familiares dos mortos, que rondam o equivalente a um euro, em total ignorância do que se passa no centro da cidade. A Primavera Árabe esqueceu-o no inverno dos tempos.
Al Haj Ahmed:
“Sou analfabeto, não sou capaz de ler nem de saber que se passa no Egito, as únicas notícias que me chegam são das pessoas que vêm aqui e me explicam que houve incidentes num bairro qualquer, mesmo que isso nada me importe, porque vivo aqui, não tenho ninguém e não me vou meter em política”.
No meio destes cidadãos anônimos, ignorados, vivem ocultos muitos criminosos, delinquentes fugidos à justiça, traficantes de armas e de drogas, que também encontram espaço nas ruelas da Cidade dos Mortos. Mas também há vendedores ambulantes, padarias, tudo o que é necessário para o quotidiano dos vivos.
Uma mulher de idade queixa-se:
“Há quatro anos que minha filha solicitou um apartamento às autoridades, vive num pequeno quarto com o marido, incapacitado, e com a sogra.”
Os egípcios fazem pequenos mausoléus para os mortos desde o tempo dos faraós, porque era costume aí ficarem a viver com os defuntos durante 40 dias. Assim, tanto se pode ver a roupa a secar ao vento, como um homem a escavar na terra, uma carrinha a distribuir botijas de gás…
MOHAMMED SHAIKHIBRAHIM, correspondente da euronews no Cairo:
“As pessoas que vivem nos cemitérios são conhecidas por “mortos-vivos”. São cidadãos que não entendem a linguagem dos confrontos políticos nem o que se passa no país. Sobreviver nestas ruelas é, alias, o único problema existencial de quem apenas quer viver o dia a dia”.
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A lógica e a ética da Tarifa Zero

POR LUCIO GREGORI - no Outras Palavras
150116-TarifaZero
É justa, democrática, viável, racional. Custa pequena parte do que cidades gastam com automóveis. Só preconceito e privilégios ainda atrasam sua adoção 
Por Lucio Gregori, especial para o Piseagrama*, parceira de Outras Palavras
Einstein dizia que é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito. Eu não sabia disso quando propus, em 1990, a tarifa zero para os transportes coletivos urbanos no município de São Paulo. Era secretário dos transportes no governo da então prefeita Luiza Erundina.
Por ter sido anteriormente secretário de serviços e obras (responsável, portanto, pelos contratos de coleta e destino final do lixo), pensei que o pagamento do transporte no ato de sua utilização era  injusto e pouco racional em termos de eficiência. Injusto porque os que pagam são os que menos têm condições de arcar com esse custo. Era, e continua sendo, enorme o número dos que andam a pé por não terem condições de pagar a tarifa. E é pouco eficiente uma vez que o sistema de cobrança, à época, consumia quase 28% do arrecadado, além de ocupar cerca de quatro lugares por ônibus. A catraca não é somente grande e feia, ela pode se constituir também em um símbolo de humilhação.
TEXTO-MEIO
O sistema proposto era de pagamento indireto do serviço de transporte coletivo, através de impostos e taxas do município, como no caso dos serviços de educação, saúde, segurança pública, coleta e destinação final do lixo. O nome Tarifa Zero é, na verdade, de fantasia.
A previsão era de que, com a adoção da tarifa zero, o número de passageiros transportados aumentasse muito, seja por conta daqueles que não podem pagar várias tarifas por dia, seja pela migração de parte dos usuários de transportes individuais.
A frota deveria aumentar em 4.000 ônibus. Com a proposta, separava-se radicalmente o custo do serviço da tarifa paga pelo usuário. Cairia por terra o sistema de concessões de serviço para empresas em que a tarifa é a garantia do equilíbrio econômico-financeiro  do contrato. Os serviços seriam contratados conforme todos os demais serviços públicos municipais, como construção de vias e viadutos, aquisição de remédios, equipamentos hospitalares, equipamentos para educação. Seria algo como fretar veículos pagando ao fretador e cobrindo os custos através dos impostos e taxas municipais, sem nada cobrar do usuário no ato de utilização. Essa modalidade de contratação, no caso dos ônibus, seria denominada “municipalização”.
Com o necessário aumento da frota e a tarifa zero, tornavam-se necessárias novas fontes de recursos através de impostos e taxas. A prefeita propunha à Câmara uma reforma tributária fortemente progressiva – dentro da qual pagaria mais quem tem mais, menos quem tem menos e não pagaria quem não tem – e a constituição de um fundo para financiar a gratuidade. Grandes estabelecimentos, bancos, residências de luxo pagariam mais, e assim por diante. Afinal, a cidade só funciona porque as pessoas nela se deslocam.
Nos debates e reuniões de que participei, pude perceber a resistência em se propiciar um sistema mais racional e justo para a mobilidade de todos, independentemente de classe social. A pouca mobilidade física dos usuários de transporte coletivo se traduz, também, em menor mobilidade social. O preconceito aparecia sob a forma de ditos como: “se é ruim pagando, pior se for de graça”, ou “os ônibus vão estar lotados de bêbados e desocupados” ou ainda, “se for de graça haverá vandalismo, etc, etc”.
O projeto não pôde ser implantado. A Câmara Municipal sequer votou a necessária reforma tributária e o projeto como um todo. Esse conjunto de preconceitos esconde uma questão política e social muito mais profunda, que se constitui como um paradigma.
Como se dá, exposta de forma simples, sua construção histórica e social?
O início ocorre com a necessidade do não transporte, quando o ideal para o capital era ter o trabalhador junto ao local do trabalho – caso das vilas industriais ou mesmo das colônias nas fazendas. Com a complexidade decorrente do desenvolvimento, o transporte dos consumidores e da mão de obra para os locais de trabalho passa a ser indispensável. A responsabilidade desse serviço é transferida ao poder público, enquanto ele se transforma, ao mesmo tempo, em novo “negócio”.
A concessão de serviço público é solução de “negócio” para um mercado em que não há como haver concorrência, característico do transporte coletivo. E a tarifa é a garantia do “negócio”.
Como responsabilidade do governo, os transportes coletivos têm na tarifa um preço público. Isso confere ao sistema possibilidades de barganha política. A fixação do preço público da tarifa serve como elemento de manipulação política, para o bem e para o mal. A tarifa se torna, na prática, um “fetiche”. A história dos reajustes de tarifas de transportes urbanos mostra isso claramente, através de variadas manipulações. Ora a depressão do preço, ora os aumentos, sempre em função do momento político, de eleições, etc.
Se do lado do capital, o transporte coletivo é encarado como “negócio”, os usuários, através do aparato ideológico, também introjetam esse mesmo conceito. O usuário entende que o transporte é um serviço que deve ser pago, e que o seu deslocamento (mobilidade) é de sua inteira responsabilidade. Com isso, esfuma-se que o transporte é, primordialmente, de interesse do produtor, do prestador de serviço, do comércio – do empregador, de forma geral. O usuário não entende o transporte como direito social a ser pago indiretamente, como entende a saúde pública, a segurança pública, a educação pública. Para lembrá-lo permanentemente de seu “dever de pagar”, em muitos ônibus da cidade de São Paulo se encontram os seguintes dizeres:
CÓDIGO PENAL
Art. 176 – Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.
É fácil perceber essa introjeção nos momentos de crise dos transportes coletivos, como nos dias de greve. A mídia mostrará usuários se debatendo e disputando os pouco lugares ofertados, ansiosos para não perderem o dia de trabalho ou o acesso a serviços indispensáveis e inadiáveis. O usuário assume, assim, a plena responsabilidade por seus deslocamentos. Se a crise perdurar, em breve a mesma mídia dirá da impaciência das indústrias, comércio e serviços pela ausência de seus trabalhadores e consumidores. E, então, a crise dos transportes coletivos fica entendida como um grave problema social.
No entanto, a Constituição diz:
Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma dessa Constituição.
Os mesmos transportes coletivos, cuja ausência causa graves problemas sociais, não são, entretanto, um direito social.
O usuário do transporte coletivo vê no transporte individual, de preferência o automóvel, a “saída” para a mobilidade. O automóvel é um produto que preenche diversos requisitos em nossa sociedade: são milhares e milhares de pessoas que vivem na dependência desse produto. Ele é estratégico na produção nacional, sobretudo por seus “efeitos para trás”, na enorme cadeia de insumos necessários à sua produção. Acrescente-se a isso os serviços que gravitam em torno de seu consumo, tais como comercialização, manutenção, publicidade, propaganda, combustíveis, empreiteiras de obras públicas de ampliação e reforma de sistemas viários para acomodar mais e mais carros, asfaltamento, construção de viadutos, passagens de nível.
O automóvel também conforma as cidades de tal sorte que elas acabam dependendo cada vez mais de sua utilização. Diante de um sistema de transporte coletivo ruim, insuficiente e caro, o automóvel se torna um sonho de consumo libertador do pesadelo representado pelo ônibus. Mas o automóvel é um forte agressor do meio ambiente e devorador insaciável do espaço urbano. Sua frota polui dezenas de vezes mais que a frota de ônibus e ainda mais que outros modalidades como metrô ou VLTs.
Entendo que a tarifa zero produziria um efeito radical na questão da mobilidade, tornando-a mais racional, ambientalmente mais sustentável e socialmente mais justa. Sua implantação envolve, porém, uma enorme disputa política, tanto no campo ideológico, como no campo econômico-financeiro.
Sucessivos governos no Brasil, em todas as instâncias, têm adotado políticas públicas para o transporte individual por automóvel em detrimento do transporte coletivo. Bilhões e bilhões são gastos na ampliação de vias e na construção de viadutos, enquanto se alega falta de recursos para o subsídio às tarifas e investimentos  no transporte coletivo. Isso não se dá por acaso, mas por uma enorme disputa política que envolve diversos interesses.
Em Hasselt, na Bélgica, a “tarifa zero” existe desde 1997. A demanda por transporte coletivo cresceu cerca  de 1300% e houve considerável diminuição de investimentos no sistema viário. Por tudo que se disse nessa síntese da questão é que se afirmou o título deste texto. Comecemos por reivindicar que o citado artigo da Constituição inclua o transporte coletivo urbano como direito social.
* Criada em 2010, em Belo Horizonte, a revista Piseagrama dedica-se a temas relacionados ao Direito à Cidade. Foi uma das quatro vencedoras do edital Cultura e Penasmento do ministério da Cultura. Graças a apoio público, seis edições circularam gratuitamente, com tiragem de 10 mil exemlares, distribuídos gratuitamente em mais de trinta cidades. Em 2014, a publicação captou junto ao público, por meio de crowdfunding, os recursos necessários para retornar. Estará de volta ainda em 2015. Para celebrar esta volta, Outras Palavras publcia alguns de seus melhores textos.

Lucio Gregori

Lúcio Gregori, engenheiro que foi Secretário de Transportes de São Paulo no início dos anos 1990 e trabalhou, na época, na elaboração de um projeto de Tarifa Zero e municipalização dos ônibus da capital.