sábado, 1 de novembro de 2014

Do medo de amar e suas origens

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Bloqueios sexuais e amores regredidos estão frequentemente relacionados à frustração da sexualidade infantil. Sociedades sadias não deveriam reprimi-la, mas compreendê-la
Por Katia Marko | Imagem: Pablo PicassoMãe e Criança (1921)
O medo de amar é o medo de ser livre para o que der e vier”.
Beto Guedes e Fernando Brant
Na última coluna comecei a falar sobre o sexo tântrico. Finalizei frisando que para vivenciarmos tal experiência necessitamos ter consciência de nossos bloqueios e buscar ultrapassá-los. Mas onde se originam estes limites? Para descobrir precisamos vasculhar profundamente os nossos primeiros relacionamentos, ou seja, com nossos pais.
Talvez seja muito difícil para nós voltarmos no tempo e sentir o frescor daquele amor que tínhamos com nossos pais. Para a criança, os pais são tudo. O problema é na vida adulta tentarmos fazer do outro tudo para nós. Caímos num amor regredido. O que sentimos é um anseio por amar, o que não é o mesmo que a capacidade de amar. E quando encontramos uma pessoa que corresponde a esse anseio, ficamos obcecados por ela.
O médico norte-americano Alexander Lowen, salienta que relacionamentos adultos saudáveis baseiam-se em liberdade e igualdade. Liberdade denota o direito de expressar livremente os próprios desejos e necessidades. Igualdade significa que cada pessoa está no relacionamento por si mesma e não para servir ao outro.
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Segundo ele, a pessoa que foi ferida em suas primeiras relações com seus pais ergueu um conjunto de defesas contra ser ferida novamente, cuja ameaça ela percebe como risco de vida. “Essas defesas não estão apenas em sua mente consciente, pois se estivessem poderia renunciar a elas quando quisesse. Tendo vivido com elas desde a infância, elas tornaram-se parte de sua personalidade, estruturadas na dinâmica energética de seu corpo.”
Muitas dessas defesas são decorrentes de uma etapa significativa do crescimento – entre três e seis anos – quando a criança começa a se tornar consciente de sua sexualidade. “As sensações sexuais são despertadas naturalmente e focalizadas no genitor do sexo oposto. E aí começa um grande problema, porque os pais, muitas vezes por não estarem preenchidos afetivamente, não sabem como lidar com a sexualidade infantil”, salienta o terapeuta Prem Milan. idealizador da Comunidade Osho Rachana.
Os pais ficam envolvidos com os sentimentos dos filhos e em vez de agirem como adultos entram nas suas próprias viagens. A criança sente esta divisão, mesmo sem compreendê-la. Isto depois vai se refletir seriamente na vida adulta – principalmente em seus relacionamentos, ao projetar os pais em seus parceiros.
Lowen explica que geralmente o genitor do sexo oposto reage muito positivamente, ao passo que o genitor do mesmo sexo reage negativamente. O pai reage ao amor de sua filha não só como pai, mas como homem. Seu ego fica inflado pela adoração dela e seu corpo excitado com o calor e a vivacidade dela. Já a mãe fica enciumada e considera a pequena menina como uma rival. Esse ciúme pode ser tão violento que a criança fica amedrontada por sua própria existência. Em autodefesa, ela gostaria de destruir a mãe, mas é impotente. Seu pai poderia ser seu protetor, mas ele ousaria enfrentar a raiva da mãe, sendo consciente de que está emocionalmente envolvido nesse triângulo? Como é incapaz de proteger sua filha, esta sente-se desprotegida e vítima. Para sobreviver, deve eliminar suas sensações sexuais, retrair-se do relacionamento com seu pai e submeter-se à mãe. Com o menino não é diferente. Ele fica preso na situação edipiana e é transformado em um rival do pai.
Milan acredita que muitos pais têm medo de si mesmos, do que pode acontecer. Não é por acaso que existem tantos casos familiares de abusos sexuais. “Por não conseguir lidar com estes sentimentos, o pai deixa, a partir de certa idade, de abraçar a filha, pegar no colo. A criança fica com uma sensação que tem algo errado e começa a condenar seus instintos amorosos e sexuais.”
Existem pais também que ficam atraídos pela energia pura e fresca da criança e se sentem culpados. Para dirimir sua culpa, punem e ficam agressivos. Segundo Milan, muito da violência física tem um componente sexual que, na vida adulta, pode associar a sexualidade a estímulos agressivos. “Quantas mulheres têm fantasias de agressão e quantos homens adoram isto também? Está muito relacionado a como viveram seu complexo de édipo com sua mãe. Quando chegam à adolescência, o conflito com o pai vira raiva. É a mesma raiva que foi contida na infância, quando se sentiram traídos em seu amor.”
Se olharmos corajosamente para nós mesmos, veremos que de alguma maneira um desses kits aconteceu conosco. Talvez aqui estejam as grandes razões das dificuldades que temos na vida amorosa. Porque os nossos relacionamentos começam calorosos e vão esfriando, restando somente brigas, conflitos, regressões. Porque fugimos tanto do prazer sexual.
Será que se começarmos a ter uma vida sexual mais amorosa, mais intensa não vamos despertar as dores deste passado? Por isso, penso que o complexo de édipo acaba sendo uma grande traição ao amor. Talvez você fique chocado e pergunte como os pais deveriam agir. Acho que eles devem simplesmente aceitar a sexualidade infantil. Permitir que a criança a expresse, não reprimi-la e também não estimulá-la, pois a criança não está ali para querer transar com o seu pai ou sua mãe e sim para ter essa validação. Mas para os pais terem naturalidade, eles precisam de satisfação sexual própria, de uma vida amorosa vinculada ao sexo”, explica Milan.
Este é um assunto que normalmente não queremos abordar. Pensamos que são coisas de livros, filmes ou que aconteceram com outros; mas conosco também ocorreu, apenas não temos a memória. Porém, inconscientemente, isto vai sabotar as nossas relações.
Segundo Milan, existem dois níveis para mexermos com isto profundamente: a compreensão e o resgate da memória e a expressão emocional da dor e da raiva que tivemos que conter na época. Isto abre espaço para transcendermos e vivermos um amor mais profundo. “Enquanto ficarmos tendo preconceitos, moralismos e não encararmos estas situações, viveremos amores condicionados pelas distorções morais e neuróticas da fase edipiana.”

Katia Marko é jornalista, terapeuta bioenergética e uma pessoa em busca de si mesma. Para ler todos os seus textos publicados em Outras Palavras, clique aqui

A viabilidade comprovada de Outra Agricultura

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No Rio, projeto inovador reconduz agricultores à terra, abastece escolas, estimula educação ambiental e 
demonstra: é perfeitamente possível substituir modelo do agronegócio
Por Juliana Dias, editora do site Malagueta
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) elegeu 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar. Sua finalidade é contribuir para reposicionar esse modelo de produção no centro das políticas públicas agrícolas, ambientais e sociais das agendas nacionais. Também se propõe a identificar lacunas e oportunidades para “promover uma mudança mais equitativa e equilibrada”. No dia 16 de outubro é comemorado o Dia Mundial da Alimentação, promovido pela mesma entidade, com o tema “Alimentar o mundo, cuidar do planeta”. Essas duas datas comemorativas são oportunas para colocar em pauta a relação intrínseca entre o modo de produção agrícola e a Segurança e Soberania Alimentar.
A agricultura moderna posiciona-se no centro do cenário da crise ecológica mundial, num duplo papel de algoz e vítima . De acordo com Paulo Petersen, coordenador-executivo da AS-PTA, organização que atua no fortalecimento da agricultura familiar e agroecologia há 30 anos, essa dualidade explica-se pela fato de que a monocultura industrializada e os mercados agroalimentares estão entre as principais atividades geradoras da degradação ambiental e das mudanças climáticas mas, ao mesmo tempo, são vulneráveis aos efeitos do uso indiscriminado dos recursos naturais.
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A ambiguidade do sistema industrial de produção também pode ser observada nos resultados sociais e econômicos da crise em curso. O relatório O Estado de Insegurança Alimentar no Mundo (SOFI, sigla em inglês), divulgado pela FAO em setembro, informa que existem 805 milhões de pessoas com fome no planeta. Petersen salienta que o número de famintos e subnutridos iguala-se ao de pessoas sujeitas à epidemia de sobrepeso e obesidade – que muito frequentemente acompanha a subnutrição. A insegurança alimentar é o elo mais evidente na articulação entre a crise econômico-social e a crise ecológico-climática.
Essa análise do coordenador da AS-PTA soma-se aos dados do sociólogo Jean Ziegler ao informar que a produção alimentar atual já é suficiente para alimentar cerca de 20 bilhões de pessoas num planeta com sete bilhões de habitantes. Para Petersen, o paradoxo da fome e da abundância indica “a existência de uma única crise, de caráter sistêmico complexo e multidimensional”.
A produção agrícola local, de base familiar, é o elo vital na conexão campo-cidade devido à capacidade de ampliar o acesso ao alimento de qualidade e em quantidade; preservar a cultura; e promover o desenvolvimento ambiental, social e econômico. O documento SOFI demonstra qual modelo tem sido mais eficiente no enfrentamento dos desafios contemporâneos. O Brasil é apontado como referência no combate à fome e se destaca a importante contribuição da Agricultura Familiar para essa realidade. O diretor do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Daniel Balaban, ressalta que 70% do consumo interno do país é proveniente dos pequenos agricultores. Ele afirma que esses trabalhadores largavam suas terras em busca de emprego na cidade. Hoje, por meio de políticas de incentivo, permanecem no campo, recebem capacitação técnica e têm garantia de venda dos seus produtos.
Francisco Caldeira, de 56 anos, é agricultor familiar em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro e vem participando do Projeto Alimentos Saudáveis nos Mercados Locais, realizado pela AS-PTA, com o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Francisco acompanha de perto a efetivação dessas políticas, entre elas, a Lei Federal de Alimentação Escolar (11.497/2009) para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que abriu novos caminhos ao determinar que 30% da compra para as refeições escolares seja adquirida da agricultura familiar local. Existem ainda muitos desafios para efetivar essa legislação num município como Rio de Janeiro. Entretanto, após cinco anos de aprovação da referida lei, os esforços para ampliar a oferta de alimentos locais e saudáveis na escola – uma articulação da Rede Carioca de Agroecologia (RCAU), composta por mais de 30 entidades e grupos – são uma das principais motivações dos agricultores da Zona Oeste da cidade que já acessam essa política.
Francisco foi um dos primeiros agricultores participantes dessa Rede a obter a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), espécie de carteira de identidade do agricultor familiar que permite efetuar a venda para o governo, e garante outros direitos. Além de incrementar a renda, comercializar para uma escola do próprio bairro, estimula um circuito mais curto de comercialização e qualifica o agricultor como um agente de educação importante para abordar as questões alimentares, do refeitório à sala de aula. Com isso, amplia as possibilidades da função social da terra. Não se trata apenas de vender alimentos, mas de estabelecer uma relação em que os alunos têm a oportunidade de conhecer a origem de seus alimentos e ter o direito de escolha. Francisco tem recebido estudantes em seu sítio para conhecer de perto a agroecologia; aprender sobre plantas medicinais e ter a oportunidade de participar do plantio e da colheita. Aprendizados que criam laços entre agricultor e consumidor, os cidadãos que plantam e os que dependem desse alimento.
Um “caminhar lentamente”
Compreender a Agricultura Familiar é “um caminhar lentamente”. Foi assim que Francisco, hoje presidente do Consea-Rio (Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do município) definiu sua trajetória, enquanto subíamos o Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB), em direção ao seu sítio. Durante a caminhada, desviando de obstáculos, apreciando paisagem e os pequenos frutos espalhados pela trilha, (como cambucá, camboatá e grumixama), acenando para a vizinhança, dando passagem a cavalos e motos e identificando os frutos mais apreciados pelos pássaros da região, ouvimos sua experiência e vivenciamos, em parte, a intimidade que tem com a floresta onde vive.
De família de agricultores em Santa Maria Madalena, município do Estado do Rio, e casado com Angélica Caldeira há 34 anos, cuja família está há cinco gerações cultivando alimentos no Maciço da Pedra Branca, ele diz que já nasceu agricultor. Mas a dureza da caminhada o fez desistir da lavoura. “Não conseguia trabalhar, não tinha assistência técnica, a terra não correspondia devido aos usos indevidos do solo. Era uma atividade muito rudimentar. Não tinha reconhecimento”, lembra. Saiu, então, em busca de melhores oportunidades na cidade, mas continuou insatisfeito. Trabalhou por oito anos em feiras livres na Zona Oeste, entretanto, permanecia inquieto. “Quando você tem um umbigo enterrado nessa história, às vezes, você sai dela, mas ela não sai de você”, concluiu o seu desconforto em desistir de seu ofício.
O retorno ao campo foi em 2008, por meio de resgate de seus saberes e sua participação em momentos de formação sobre plantas medicinais, oferecidos pelo Profito – desenvolvido pela Plataforma Agroecológica de Fitomedicamentos (PAF/ Farmanguinhos/ Fiocruz). Durante dois anos, os agricultores locais – distanciados pela árdua rotina – foram se achegando, se inteirando sobre seus direitos e, assim, reuniram forças para continuar semeando. “Tinha gente que há 10 anos não se via, vivendo na mesma região. A história da discussão política começou a fazer sentido. Assim, como conhecer outras realidades que não eram diferentes das nossas, foram se somando às experiências de agricultura aqui e ali. Voltei a cuidar do sítio e fui caminhando mais para o lado da discussão política”, comenta.
O debate iniciado durante as oficinas do Profito deu origem à Associação de Agricultores Orgânicos de Vargem Grande (Agrovargem), com a proposta de contribuir com a formação cidadã dos agricultores, que conta com mais de 20 participantes, entre associados e entidades colaboradoras. Hoje, Francisco divide seu tempo entre o Consea, o sítio e a Feira Agroecológica da Freguesia aos sábados. Futuramente, pretende desenvolver produtos aromáticos e terapêuticos com as ervas medicinais que cultiva.
O relato de Francisco se alinha com as ideias de Jan Douwe van der Ploeg professor de sociologia rural na Universidade de Wageningen, na Holanda, e na Universidade Agrícola da China. Essas novas estratégias, que buscam fortalecer o estabelecimento familiar no campo, são definidas como formas de recampezinização. Ou seja, o emprego de princípios agroecológicos, a participação em novas atividades econômicas ou com a geração de novos produtos e a prestação de serviços em novos mercados socialmente construídos. Petersen esclarece que a recampezinização do mundo rural cria condições objetivas para desenvolver as qualidades da Agricultura Familiar, ao colocar em prática e aprimorar continuamente, – a tal caminhada do Francisco – o modo camponês de produção de vida, inscrito nas memórias bioculturais de suas comunidades. Em sua avaliação, trata-se de um projeto de cunho social, cultural, econômico, ambiental e político, com dimensões quantitativas e qualitativas.
Que modelo é esse?
No Consea, Francisco comemora o fato de ter levado as questões da Agricultura Familiar Agroecológica para a pauta. Em sua opinião, o desafio é contribuir para elaboração de políticas públicas que contemplem o modo de produção local como fundamental para combater a insegurança alimentar. “Temos péssimos hábitos alimentares, com o pensamento de que tudo é produzido na gôndola do supermercado. Tudo vem das caixinhas. Até as sementes tradicionais estão sendo substituídas pelas transgênicas. Precisamos descontruir esse modelo de produção agrícola que não respeita o meio ambiente e as pessoas. É um modelo que produz commodities para exportar. Temos que descontruir esse modelo que é bom para alguns e que tem empobrecido o agricultor, que é aquele que produz comida”, declara.
E que modelo é esse? Jean Ziegler informa que esse modelo agrícola está concentrado em apenas dez corporações – entre as quais Aventis, Monsanto, Pioneer e Syngenta – que controlam um terço do mercado global de sementes, estimado em 23 bilhões de dólares por ano; e 80% do mercado de pesticidas, em torno de 28 bilhões de dólares. Dez outras empresas, entre as quais a Cargill, controlam 57% das vendas dos 30 maiores varejistas do mundo e representam 37% das receitas das 100 maiores fabricantes de produtos alimentícios e de bebidas (p. 152). É um grupo reduzido que controla a produção, o processamento e a comercialização de bens no mercado e hoje detém a maior parte do aparato produtivo vinculado à alimentação, que inclui terra, maquinário, produtos químicos, sementes, conhecimento científico. Também dirigem a pesquisa e as novas aplicações tecnológicas (Contreras, 2011, p. 344).
A Agricultura Familiar é um desses fenômenos que as sociedades ocidentais têm cada vez mais dificuldade de compreender, afirma o professor Van der Ploeg. Isso porque se contrapõe à lógica industrial, mas ao mesmo tempo emerge como algo atrativo e sedutor. Ele considera esse modo produtivo como uma forma de vida, que não é somente o lugar onde a família é proprietária da terra e o trabalho é realizado pelos seus membros. O sociólogo define dez qualidades da Agricultura Familiar que nem sempre estão presentes ao mesmo tempo em todas as situações, mas indicam como é rica e diversa essa realidade que promove igualdade e justiça.
Quando a agricultura faz sentido
Francisco conta que quando passou a conhecer a Rede Carioca de Agricultura Urbana (Rede CAU), a Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ) e a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), compreendeu o sentido de sua lavoura. “Eu já praticava agroecologia e não sabia”, conta. No Parque da Pedra Branca, as mais de 150 famílias de agricultores são responsáveis por preservar a floresta, mantendo frutas e animais nativos da Mata Atlântica, num manejo sustentável, sem uso de agrotóxicos e com cultivos diversos. “As ideias fizeram sentido ao conhecer outras referências agroecológicas. Passamos a pensar o sistema agroflorestal como viável economicamente sendo de preservação”, destaca.
A história de Francisco se soma a muitas outras de agricultores que resistem às dificuldades dessa caminhada, que não é solitária nem sem sentido. Essa teia de relacionamentos que encontra novos caminhos em meio aos espinhos é explicada pelo sociólogo espanhol Manuel Castells como uma nova utopia no cerne da cultura da solidariedade em rede: a utopia da autonomia do sujeito em relação às instituições da sociedade. Segundo ele, a mudança só pode ocorrer fora do sistema, mediante a transformação das relações de poder, que começa na mente das pessoas e se desenvolve em forma de redes construídas pelos projetos dos novos atores que constituem a si mesmos como sujeitos da nova história do processo (2012, p.166).
A questão agrária se mundializou
A Agricultura Familiar liga o cidadão ao seu alimento local, sua origem, identidade e memória. Exercer um novo olhar sobre essa atividade é essencial para o desenvolvimento da cidade, com sua complexidade e multidimensionalidade. Há a necessidade de preservar os recursos hídricos para prover água de boa qualidade; proteger a fauna e a flora, servindo como atrativos para educação ambiental e o lazer. Francisco considera que investir no turismo rural é fundamental para mobilizar a população quanto à importância desse modo de produção agrícola.
O geógrafo Porto-Gonçalves (2006) destaca que o mais interessante de todo esse debate é que a questão agrária/agrícola se urbanizou. A relação cidade-campo é que está em questão. Por isso, nota-se a crescente importância das lutas camponesas, indígenas e de tantas populações que reivindicam o direito ao território, à sua cultura, aos direitos coletivos e comunitários sobre o conhecimento acerca de cultivares, que hoje se unificam diante da ameaça de ter sua biotecnologia ancestral sendo poluída geneticamente por grandes corporações, que antes de tudo visam seus próprios interesses e não os da humanidade.
Essas populações, vistas por muitos como atrasadas e condenadas à extinção, têm hoje importantes aliados na cidade. A Agricultura Familiar está tentando descobrir novas alternativas para situações difíceis. Por isso, afirma o professor Van der Ploeg, cada passo, não importa o quão pequeno, será sempre útil. Daí a importância de fortalecer as organizações civis e movimentos rurais, e compartilhar as experiências bem sucedidas, como é o caso da história do Francisco e seu engajamento às redes (Agrovargem, Rede CAU, Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro/AARJ e Consea). São passos de uma caminhada que inspira, lentamente. Afinal, estamos falando de comida na mesa não só para hoje, mas para as próximas gerações.
Esta matéria foi publicada originalmente no site da AS-PTA (http://aspta.org.br/)
Notas
[1] Documento Despertar antes que seja tarde – conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento.
[2] http://www.fao.org/3/a-i4030e.pdf
[3] http://cutrj.org.br/2013/index.php/noticias/8724-agricultura-familiar-e-a-grande-responsavel-pelo-processo-de-erradicacao-da-fome-no-brasil-diz-onu
[4] O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) é uma política pública federal destinada a estimular a geração de renda e melhorar o uso da mão de obra familiar, por meio do financiamento de atividades e serviços rurais agropecuários e não agropecuários desenvolvidos em estabelecimento rural ou em áreas comunitárias próximas.
[5] A Feira Agroecológica da Freguesia faz parte do Circuito Carioca de Feiras Orgânicas, instituída por Decreto Municipal da Secretaria de Desenvolvimento da Economia Solidária (SEDES) e gerida por um Conselho Gestor, do qual a Rede Carioca de Agricultura Urbana faz parte. A Feira recebe o apoio da AS-PTA, por meio dos Projetos Árvores na Agricultura Familiar e Alimentos Saudáveis nos Mercados Locais, que conta com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Referências bibliográficas
CASTELLS, M. Redes de Indignação e Esperança. Rio de Janeiro – Brasil: Jorge Zahar, 2012.
CONTRERAS, J; GRACIA, M. Alimentação, sociedade e Cultura. Trad.: Mayra Fonseca e Bárbara Atie Guidalli. Rio de Janeiro: Fundação Oswald Cruz, 2011.
PLOEG, D. V. D. J. Dez qualidades da Agricultura Familiar. Ver. Agriculturas: experiências em agroecologia. Nº extra.
PORTO GONÇALVES, C.W. A globalização da natureza e a natureza da globalização. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2006.
ZIEGLER, J. Destruição em massa. Geopolítica da fome. Trad.: José Paulo Netto. 1ª ed. São Paulo: Editora Cortez, 2013.

Abrace - Apoio a Crianças com Câncer






Ontem estivemos, num projeto da professora Regina de Química, com alunos e alunas e as professoras Rosana de Arte  e Márcia, na Abrace, fomos levar um pouco de nosso carinho e amor às crianças com câncer.

Quem somos

01Missão

Prestar assistência social a crianças e adolescentes com câncer e hemopatias, e suas famílias, visando à qualidade de vida e garantir o acesso a melhores condições de tratamento.

Valores

Ética – realização do trabalho com honestidade e respeito ao que lhe foi confiado.
Respeito às diferenças – Respeitar a individualidade independente de credo, crença, raça e sexo.
Solidariedade – Fazer pelo outro.
Transparência – Cumprir seus compromissos, atos e decisões, com honestidade e clareza.
Voluntariado – A força que impulsiona as ações sociais em prol do bem comum.

O que fazemos

O trabalho da Abrace é oferecer assistência social para crianças e adolescentes com câncer e doenças do sangue, com dificuldades socioeconômicas, promovendo assim qualidade de vida e colaborando para a promoção de condições ideais de tratamento.
A instituição oferece subsídios necessários como, instalações adequadas na Casa de Apoio para crianças que não residem no DF e pequenas reformas na casa das que moram na cidade, mas vivem em condições precárias que colocam em risco a saúde do paciente. A instituição fornece ainda alimentação, medicamentos, transporte, assistência odontológica e palestras sobre a doença.
Outra importante atuação da Abrace foi a construção do Hospital da Criança de Brasília José Alencar-HCB, centro de tratamento construído em 2 fases, sendo que a primeira fase da obra, o Bloco I,  foi inaugurado no dia 23 de novembro de 2011.

Quem somos

Em 1986, um grupo de pais, cujos filhos faziam tratamento de câncer no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), se uniu para ajudar outros pais de crianças que estavam passando pelas mesmas dificuldades com um agravante: a exclusão social que lhes roubava a esperança de combater a doença. Assim nasceu a Abrace, Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias. Instituição filantrópica, declarada de Utilidade Pública, a Abrace, por meio do reconhecimento e do apoio da comunidade, tem conseguido cumprir seu principal objetivo: garantir o apoio necessário para as crianças e adolescentes com câncer e hemopatias, visando à qualidade de vida desses pacientes.
O grande orgulho da Abrace é o fato de ter contribuído para que o índice de cura aumentasse de 50% para 70%, e de ter revertido o índice de abandono do tratamento de 28% para ZERO com a criação de sua Casa de Apoio, que hospeda pacientes, com seus acompanhantes, provenientes de outros estados em busca do tratamento no Distrito Federal. Mais de 40% das crianças são das regiões, Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Benefícios como, alimentação, medicamentos, transporte, assistência odontológica e palestras sobre a doença são oferecidos pela instituição, que realiza ainda diversos programas que contribuem para a recuperação da saúde desses pacientes e oferece assistência total a suas famílias:
  • Programa Acolhimento: Após encaminhamento da rede pública de saúde do DF, o paciente é atendido por uma equipe técnica da Abrace para identificação das necessidades psicossociais e informações sobre a doença.
  • Programa Encontro: Reuniões mensais para orientações sobre o diagnóstico e prognóstico, com informações que proporcionam melhor qualidade de vida e desenvolvimento social.
  • Programa Moradia: Reformas em residências que apresentam condições precárias de moradia, de saneamento básico e que apresentam riscos para a saúde das crianças assistidas. O Programa tem por objetivo contribuir para qualidade de vida e saúde do assistido oferecendo um ambiente saudável que colabore positivamente no processo de tratamento e expectativa de vida.
  • Programa Willian: Acompanhamento intensivo do paciente fora de possibilidade de cura terapêutica e apoio à sua família, oferecendo os recursos necessários para proporcionar qualidade de vida e preparação para enfrentamento do processo de morte. O programa ainda realiza sonhos dos pacientes.
* Willian é o nome do primeiro paciente que recebeu essa modalidade diferenciada de atendimento após o prognóstico como fora de possibilidade de cura terapêutica.
Cura e qualidade de vida. Conhecedora da dura realidade de tratamento, a Abrace viu a necessidade de expandir suas ações e, além de oferecer assistência social, intervir diretamente na qualidade do tratamento contra o câncer e outras doenças infantojuvenis. Foi assim que surgiu o projeto do Hospital da Criança de Brasília José Alencar - HCB, construído pela Abrace com doações da comunidade. Inaugurado em 23 de novembro de 2011, O HCB integra a rede da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e disponibiliza atendimento público. Porém é gerido pelo ICIPE– Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada, associação sem fins lucrativos, criada por iniciativa da Abrace especialmente para esse fim.
Atualmente o HCB oferece atendimento humanizado e de alta qualidade em todas as especialidades pediátricas, além de novos serviços como diálise, cirurgias e procedimentos ambulatoriais sob sedação em ambientes próprios para o público infantojuvenil.

Brincando com fogo, excelências?

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Sei que não esqueceram Junho de 2013 e estão com raiva. Mas tentar barrar a Política de 
Participação Social pode ser insanidade
por José Gilbert Arruda Martins (Professor)
É meus amigos e amigas, a Democracia tem dessas coisas, quando falo de Democracia vejam que estou usando o "d" maiúsculo, isso quer dizer que existe "Democracias", ou seja, a Democracia das ruas, do Povo, da juventude e a democracia do parlamento, dos políticos que fizeram do Congresso Nacional uma casa de trocas de favores.
Quanta democracia hem?
Infelizmente não as temos em todos os lugares, em todos os cantos desse imenso e rico país. A votação que derrotou o Decreto Presidencial N° 8.243 esta semana na Câmara dos Deputados, que cria a Política Nacional de Participação Social (PNPS), não é uma derrota da presidenta é sim, derrota da Democracia.
Os senhores deputados esqueceram 2013 quando milhões de brasileiros e brasileiras foram às ruas, parte das excelências, trocaram a raiva e o ódio da derrota nas urnas pelo voto contra a PNPS.
Nem sempre, ou quase nunca, a democracia é Democracia. O Brasil consegue ser denominado de a maior democracia eleitoral do mundo e, ao mesmo tempo, por conta da estrutura anacrônica de escolha política, conseguimos eleger uma maioria de conservadores e atrasados parlamentares, que, no fundo, representam apenas os interesses de uma minoria.
Viva as ruas!

Por Alessandra Nilo - no Outras Palavras
Srs. Deputados, por favor parem com esse mimimi sobre a inconstitucionalidade do Decreto Presidencial Nº 8.243 . Afinal, qual foi a surpresa, por que tanto espanto? Essa não foi a primeira (e nem última vez) que recebem um decreto presidencial, e é fato notório que o executivo quase governa por Decretos e Medidas Provisórias. Há quanto tempo e por quantas vezes vocês os receberam e os aprovaram calmamente?
O tamanho desse incômodo parece mais um preciosismo para esconder podridões. E, afinal, o que a participação social tem de “insana” ou a ver com a “existência de 40 ministérios” ou com a escolha do staff governamental? Que argumentação é essa? Os simulacros não se sustentam mais tão facilmente.

Entendo que estejam irritados porque as pessoas comuns foram às ruas, disputaram discursos, ideias. Entendo que Henrique Alves está chateado por ter perdido as eleições, que metade do PMDB não gostou do resultado; que o PSB está em crise de identidade e que PSDB e DEM, juntinhos, decidiram apertar o governo. Entendo, mas não adianta mandar recados, faremos valer nossos direitos.
Entendo também que a prática dos que rechaçaram o Decreto tem a ver com interesses partidários pouco republicanos de muitos dos senhores, e apenas corrobora com uma já generalizada desconfiança, partilhada por todas as classes e meios, sobre os que legislam para poucos e ignoram a maioria.
Sim, a realidade não está fácil e o descontentamento paira sobre muitas cabeças.
Entendo também que os que barraram a Política Nacional de Participação Social (PNPS)devem estar mesmo com raiva. Saíram de alguma forma derrotados pelas urnas e sabem o que acontece quando a sociedade ocupa as ruas. Ruas sempre tão sedutoras… Sei que não esqueceram tão rápido de Junho de 2013. Lembro bem como os senhores voltaram correndo de seus estados, trabalharam de segunda a sexta em turnos regulares de trabalho, fazendo por pressão e no grito o que sempre deveriam ter feito, e o que são mais do que bem-pagos para fazer. Óbvio, estamos conscientes que fizeram muita fita, mas nós não somos meras plateias, estamos ativas no processo.
Realmente detesto ter que concordar com os comentários recentes sobre alguns partidos e parlamentares toscos e anacrônicos que temos, cujas composturas indicam total desrespeito à democracia. Que feio, senhores. Brincando com fogo?
Não vai ser tão difícil conseguir aliados. Seja de direitas, de esquerdas, de centros ou independentes, ainda tem muita gente cujo voto não tem preço. Pela PNPS, em todas as regiões e partidos será possível conseguir aliados/as.
Desenhando: 40 milhões de pessoas que votaram em branco, mais oito milhões que defendem o plebiscito sobre a Reforma Política não irão divergir num tentativa tão óbvia de retrocesso democrático. Qualquer pessoa sabe como funcionam as redes, o quanto as articulações sociais se multiplicam e como as informações circulam entre bytes e bits rapidamente. Existem organizações e movimentos, a sociedade é múltipla e nem sempre tem donos.
Finalmente, registro que refiro-me apenas aos “Senhores Deputados” porque, de fato, essa maioria masculina na política deixa muito a desejar. Tenho certeza de que se fossemos metade + 1 no Congresso, nós, mulheres, iríamos aprovar sem grandes dramas esse Decreto, uma demanda de anos de uma parte bem significativa da população brasileira. A situação é, pois, muito grave: além de terem uma noção limitada e limitante de Democracia, ao que parece, muitos dos Senhores sequer sabem fazer contas.
Sem meu voto e sem afeto, despeço-me.







sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Filme: Dívida Pública Brasileira - A soberania na corda bamba.

O que é Dívida Pública?
Você Já Parou Para Conhecer Como Funciona a Estrutura Política e Econômica do Brasil?
Como essa Estrutura foi Montada? Por Quem? e Como?
Você precisa entender, assim você ficará sabendo por que o país não tem recursos suficientes para a Educação Pública, Saúde Pública, Transporte Público, Alimentação Pública, Emprego, Salário do Trabalhador.
Assista, Entenda...

Qual são as origens dessa endividamento?
Quando isso começou?
Quais governos deram todo apoio irrestrito a esse mecanismo.
A saia justa que os governos Lula e Dilma Roussef entraram em relação à Dívida Pública brasileira.
O que pode ser feito?

O conhecimento e a reflexão sobre essa estrutura criada pelo endividamento público brasileiro é fundamental.

Grande parte de todos os problemas de falta de Educação Pública de qualidade, Falta de vagas nas Universidades Públicas - mesmo com as mais de 3 dezenas de Universidade Federais criadas do governo Lula para cá, serão melhor entendido com esse filme.



por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

A última tacada de Fábio Barbosa e da Abril

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Os antecedentes da capa-suicida de Veja: declínio acelerado da editora, incapacidade de enxergar internet e decisões erradas em sequência, até tudo-ou-nada por Aécio.


Por Luis Nassif, no GGN - extraido do Outras Palavras
O amigo liga em pânico: “A imprensa vai acabar com a democracia no Brasil”. Respondo: “É a democracia que vai acabar com a imprensa e implantar o jornalismo”.
A aventura irresponsável de Veja – recorrendo a uma matéria provavelmente falsa para pedir o impeachment de um presidente da República – não se deve a receios de bolivarianos armados invadindo a Esplanada. Ela está sendo derrotada pelo mercado, pelo fato de que, pela primeira vez na história, a Internet trouxe o mercado para o setor fechado, derrubando as barreiras de entrada que permitiram a sobrevida de um jornalismo anacrônico, subdesenvolvido, a parte do país que mais se assemelha a uma republiqueta latino-americana.
É um caso único, de uma publicação que se aliou a uma organização criminosa – de Carlinhos Cachoeira – e continuou impune, fora do alcance do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.
A capa de Veja não surpreende. Há muito a revista abandonou qualquer veleidade de jornalismo.
Acusa a presidente da República Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula de conhecerem os esquemas Petrobras com base no seguinte trecho, de uma suposta confissão do doleiro Alberto Yousseff:
- O Planalto sabia de tudo – disse Youssef.
- Mas quem no Planalto? – perguntou o delegado.
- Lula e Dilma – respondeu o doleiro.
Era blefe.
Na sequência, a reportagem diz:
“O doleiro não apresentou – e nem lhe foram pedidas – provas do que disse. Por enquanto, nesta fase do processo, o que mais interessa aos delegados é ter certeza de que o depoente atuou diretamente ou pelo menos presenciou ilegalidades”.
Na primeira fase da delação premiada tem-se o criminoso falando o que quer. Enquanto não apresentar provas, a declaração não terá o menor valor. E Veja tem a fama de colocar o que quer nas declarações de fontes.
Ligado ao PSDB do Paraná, o advogado de Yousseff desmentiu as informações. Mas não se sabe ainda qual é o seu jogo.

As apostas erradas da Abril

Golbery do Couto e Silva dizia que a mentira tem mais valor que a verdade. A verdade é monótona, tem uma só leitura. Já a mentira traz um enorme conjunto de informações a serem pesquisadas, as intenções do mentiroso, a maneira como a mentira foi montada.
Daí a importância da capa de Vejapermitir desvendar o que está por trás da mentira.
A primeira peça do jogo é entender a posição atual do Grupo Abril.
Apostas de altíssimo risco só são bancadas em momentos de altíssimo desespero. A tacada da Veja torna quase irresistível a proposta de regulação da mídia e de repor as defesas do cidadão que foram suprimidas pelo ex-Ministrio Ayres Britto, ao revogar a Lei de Imprensa.
Qual a razão de tanto desespero nessa aposta furada?
A explicação começa alguns anos atrás.
No mercado de mídia, o futuro acenava para o advento da Internet e da TV a cabo e para o fim das revistas e do papel. As apostas da Abril foram sempre na direção errada.
Ela montou um dos primeiros portais brasileiros, o BOL, que posteriormente fundiu-se com a UOL. Graças à sua influência política, conseguiu frequências de UHF e canais de TV a cabo.
A editora endividou-se e, para tapar buracos, Civita foi se desfazendo de todas as joias da coroa. Passou os 50% que detinha na UOL para a Folha – por um valor insignificante; vendeu a TV A para a Telefonica.  Associou-se ao grupo sul-africano Naspers, em uma operação confusa, visando burlar o limite de 30% para capital estrangeiro em grupos de mídia, previstos na lei.
Não parou por aí.
Adquiriu duas editoras – a Atica e a Scipionne –, que dependem fundamentalmente de compras públicas, confiando no poder de persuasão dos seus vendedores junto à rede escolar. A decisão do MEC (Ministério da Educação) de colocar todos os livros em uma publicação única, para escolha dos professores, eliminou sua vantagem comparativa.
Aí decidiu investir em cursos apostilados para prefeituras, um território pantanoso. Finalmente, “descobriu” o caminho das pedras, passando a direcionar todas suas energias para a área de educação.
Para tanto, criou uma nova empresa, a Abril Educação, colocou debaixo dela as editoras e os cursos e contratou um executivo ambicioso, Manoel Amorim,  que aumentou exponencialmente o endividamento do grupo, para adquirir cursos e escolas. Foi uma sucessão de compras extremamente onerosas, que deixaram o grupo em má situação financeira. A solução foi vender parte do capital para um grupo estrangeiro. Nem isso resolveu sua situação.
No ano passado, em conversa com especialistas do setor de mídia, Gianca Civita, o primogênito, já antecipava que a editora iria ser reduzida a meia dúzia de revistas e à Veja. Colocara à venda suas concessões de UHF e esperava que algum pastor eletrônico se habilitasse.

O cartel da jabuticaba

A editora viu-se depauperada em duas frentes. Uma, a própria decadência do mercado de revistas; outra, a descapitalização ainda maior para financiar a aventura educacional da Abril.
Além disso, foi vítima do maior tiro no pé da história da mídia brasileira: o “cartel da jabuticaba”.
Um cartel tradicional consiste em um pacto comercial entre competidores visando aumentar os preços e os ganhos de todos. O “cartel da jabuticaba” brasileiro foi uma peça genial (da Globo) em que todos se uniram contra a distribuição de parte ínfima da publicidade pública para a imprensa regional e para a Internet.
Alcançaram seu intento, mas não levaram o butim. A Internet não cresceu mas o resultado foi uma enorme concentração de verbas na TV aberta — e, dentro dela, na TV Globo.
Poucos meses atrás, o próprio João Roberto Marinho – um dos herdeiros da Globo – manifestava a interlocutores sua preocupação com a concentração da mídia. A Globo jogou em seu favor, óbvio; mas não contava com o despreparo das demais empresas sequer para entender onde estavam seus interesses.
Quando o faturamento do papel minguou, todos pularam para a Internet. Mas a piscina estava vazia graças às pressões que eles próprios fizeram sobre a Secom e as agências.
Hoje em dia, o mercado de TV a cabo passou a disputar acirradamente as verbas publicitárias. Se indagar de um executivo do setor se a disputa é com as revistas e jornais, ele dará de ombros: a imprensa escrita não tem mais a menor relevância; a disputa é com a TV aberta.

A bala de prata de Fábio Barbosa

É esse quadro de crise nas duas frentes que explica a bala de prata de Fábio Barbosa.
Nos últimos meses, Fábio Barbosa contratou o INDG, de Vicente Falconi, para um trabalho de redução de custos da Abril, paralelamente à própria redução da Abril..
Falconi constatou o que o Blog já levantara alguns anos atrás: a estrutura de Veja era superdimensionada para o conteúdo semanal.
Na época, montei um quadro com todas as reportagens de uma edição, estimei o tempo-hora de cada repórter e editor e, no final, mostrava que seria possível entregar o mesmo conteúdo com um terço da redação.
Com metodologia muito mais gerencial, Falconi chegou às mesmas conclusões, resultando daí a demissão de várias pessoas em cargos-chave – inclusive Otávio Cabral, repórter das missões sensíveis da revista, que acabou indo trabalhar na campanha de Aécio.
Apenas amenizou um pouco a queda. Com as duas frentes comprometidas, a Abril entrou em uma sinuca de bico.
Com a morte de Roberto Civita, começou a enfrentar dificuldades crescentes para renovar os financiamentos. Desde o início do ano, os herdeiros de Roberto Civita estão buscando compradores para a outra metade da Abril Educação.
Antes disso, desde o ano passado, decidiram sair definitivamente da área editorial. Mas a legislação não permite à Naspers ampliar sua participação na editora. E, se não teve nenhum corte de verba oficial para suas publicações, por outro lado a Abril jamais encontrou espaço no governo Dilma para acertos e grandes negócios, como uma mudança na legislação sobre capital estrangeiro na mídia..
É nesse quadro dramático, que o presidente do grupo, Fábio Barbosa, tenta a última tacada, apostando todas as fichas em Aécio.

A última chance

A carreira anterior de Barbosa foi no mercado bancário. Foi sucessivamente presidente do ABN Amro, depois do ABN-Real, quando o banco holandês adquiriu o Real; depois do Santander, quando o banco espanhol adquiriu os dois.
No ABN e no Santander foi responsável por uma das maiores operações imobiliárias do mercado. No ABN participou do empréstimo de R$ 380 milhões para a WTorre adquirir o esqueleto da Eletropaulo, na marginal Pinheiros. Seis meses depois, a companhia não tinha mais recursos para quitar o financiamento. Entregou parte do capital aos credores.
Em 2008, ainda na condição de presidente indicado para o Santander, Fábio anunciou a aquisição da torre pelo banco por R$ 1 bilhão. “A aquisição desse imóvel é um marco e demonstra a determinação do Santander em investir para que tenhamos um Banco cada vez mais forte e competitivo”, afirma ele.
Atuou no início e no final da operação, assessorado por seu homem de confiança, José Berenguer Neto.
Em pouco tempo começaram a pipocar os problemas da WTorre. Atrasou a entrega da sede do Santander, que ingressou em juízo com pedido de indenização de R$ 135 milhões. A dívida fez com que a WTorre desistisse de lançar ações na Bolsa de São Paulo.
Em outubro de 2010, a obra continuava causando transtorno, sem ser entregue.
Em agosto de 2011, Fabio saiu do Santander. O clima azedou quando a direção se deu conta dos problemas criados. O presidente mundial Emilio Botin colocou um homem de confiança como espécie de interventor, levando Fabio a se demitir. Junto com ele saiu José Berenguer Neto, que assumiu um cargo na Gávea Investimentos, para atuar na área imobiliária.
Na época, executivos do banco ouvidos pela imprensa disseram que no ABN Fabio tinha plena liberdade; no Santander, não mais. Fabio deixou o banco sendo elogiado pelo sucessor.
O episódio não causou tanto estardalhaço quanto a tentativa de Barbosa, no comando da Veja, de tentar um golpe de Estado armado com um 3 de paus.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Lula: só o que queremos socializar é a felicidade

lula

Autor: Fernando Britono Tijolaço

A fala  de Lula divulgada hoje só tem uma coisa errada.
Deveria estar na TV aberta, não no Youtube.
Seria absolutamente natural como jornalismo, pois se trata de um ex-Presidente, vencedor de eleições ele próprio por duas vezes, e que, por mais duas vezes, saiu vitorioso como principal referência da eleição de Dilma.
Aliás,  não seria apenas jornalismo com também um grande serviço público, pois se trata de um convite ao desarmamento de espíritos, à capacidade de convívio civilizado e ao bom funcionamento do país.
Infelizmente eu e você sabemos que é muito mais fácil que as tevês brasileiras veiculem a conversa de outros, mais interessados em proclamar como “venceram na derrota” e a dizer o que “exigem” que o governo faça ou deixe de fazer.
Quanto a Lula, o que os jornais se apressam em dizer, é que ele quer “interferir” no Governo Dilma.
E deixam de observar o obvio, que está expresso na camiseta inusual com que ele gravou o vídeo que reproduzo abaixo.
Lula vai assumir o comando não do Governo, mas de seu partido, o PT.
E tentar devolver a ele o discurso que faz, o do progresso social e da ampliação de oportunidades, sem exclusões.
A capacidade de falar às pessoas.
Lula percebeu que transferiram ao PT o ódio que não puderam dirigir a ele.
Por isso, ao mesmo tempo, adota o  discurso anti-divisão.
Que azeda e estraga a vida, inclusive seus momentos de festa democrática.
Lula resgata o verso de Tom Jobim – “é impossível ser feliz sozinho” – e cria um caminho para sua reentrada no mundo da política.
O da socialização da felicidade.



Requião: PiG quer dividir o Brasil ao meio O jornal dos Frias, com a presunção dos sabichões, nessa linha do preconceito e da discriminação …


no Conversa Afiada

O senador Roberto Requião (PMDB – PR) criticou a cobertura da imprensa brasileira após confirmada a vitória da Presidenta Dilma Rousseff no último domingo (26). Em discurso no plenário, Requião acusou a mídia de incitar a divisão do país.

“Esses mapas,  dividindo o Brasil em vermelho e azul, tão insistentemente divulgados por jornais, televisões e sítios de notícias,  esses mapas são uma fraude e apenas servem para reforçar o preconceito e realçar a estultícia de setores abduzidos pelo fascismo em sua formulação primária, bruta. É triste dizer, mas não vejo nenhuma inocência de parte de nossa empoderada mídia ao cindir o país dessa forma maniqueísta, dicotômica”, discursou Requião na terça-feira (28).

Para Requião, “ a mídia se une à oposição” para criar o que chama  de “fronteira mentirosa, digna de uma capa da revista Veja”, que opõe o “Brasil dito moderno, que produz , em oposição ao Brasil atrasado e  manemolente”.

“Os sete irmãos ideológicos que ainda pensam que dominam e moldam a opinião pública brasileira cutucam e despertam sentimentos e manifestações que julgávamos extirpados da humanidade com a evolução da espécie”, afirmou o senador.

E continuou: “Reafirmo: na há inocência em nossa mídia ao dividir o país entre o vermelho e o azul. Mesmo porque essa partição, essa rachadura é falaciosa, já que, no Sul -Sudeste, a presidente reeleita teve mais de dois milhões de votos que no Norte-Nordeste.O jornal dos Frias, com a presunção dos sabichões,  chega ao pedantismo,  ao charlatanismo de ter seções que denomina de “Folha  Explica”, “Folha Recomenda”, e,  nessa linha do preconceito e da discriminação,  tenta hoje “explicar” com o Bolsa Família e IDH afetaram, atenção para o verbo, afetaram as eleições. Enfim como se depreende, os pobres contaminaram, infectaram, infeccionaram as eleições, corrompendo seu caráter democrático”.

Para o senador, se o resultado da eleição tivesse sido outro, a grande imprensa noticiaria de outra forma. “Se os pobres, se as pessoas de menor renda votassem, como sempre votaram, segundo os interesses da classe média alta e dos mais ricos, segundo os interesses do mercado, renunciando os seus interesses, aí sim, que maravilha!, estaria tudo conforme a tradição, a família e a propriedade.
Requião, que perdeu a eleição para governador em seu estado, é autor de projeto de lei que garante o direito de resposta nos meios de comunicação,  quando vítimas de notícias falsas. O PL  141 foi aprovado no Senado em 2013 e tramita em regime de urgência na Câmara.  


Discurso completo:

http://www.robertorequiao.com.br/discurso-de-requiao-diz-que-reforma-politica-e-importante-mas-prioridade-e-a-economia/



Alisson Matos, editor do Conversa Afiada

Dilma à Globo: Regulação, sim! Censura, não! Se a atividade de enfermeiro é regulada, por que a dos filhos do Roberto Marinho não é?


no Conversa Afiada

Extraído do Muda Mais, que não pode acabar !

Dilma destacou (em entrevista ao Kennedy Alencar, do SBT, o único que perguntou a ela sobre a matéria …) que a regulação deve ser econômica, e não editorial:

“Não vou regulamentar a mídia no sentido de interferir na liberdade de expressão. Vivi sob a ditadura. Sei o imenso valor da  liberdade de imprensa. Agora, como qualquer setor econômico, ela [a mídia] tem que ter regulações econômicas”, considerou Dilma.



Paulo Henrique Amorim