quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O BRASIL ALIMENTA UMA ARGENTINA, 2 DUAS VEZES POR DIA - País reduziu a pobreza extrema em 75% entre 2001 e 2012.


Há uma conexão muito forte entre a diminuição da fome no Brasil e o Bolsa Família

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Qual o tipo de Desenvolvimento Econômico você acredita que seja importante para o Brasil?
Ao longo dos últimos 50 anos, economistas, mídia, governos daqui dos Estados Unidos e Europa, defenderam que a economia tem que crescer.
Crescer como?
Crescer para quem?
Nesse tempo o Brasil já teve momentos de decréscimos e momentos de grande crescimento.
Leia sobre os governos de Dutra (1946) à Ditadura Militar (1964-1985), nesse tempo crescemos, diminuímos. Os militares defendiam, inclusive, que os trabalhadores e trabalhadoras (trabalhadoras por minha conta e risco), deveriam ter paciência que o bolo estava crescendo e que seria dividido para todos.
Isso não aconteceu, as elites e o grande capital daqui e de fora comeram o bolo inteiro, é tanto que nesse período vimos a pobreza e miséria crescer no país.
Que tipo de Desenvolvimento Econômico você conhece?
Que tipo de Desenvolvimento Econômico deve ser instalado?
O dos banqueiros e já ricos?
Ou um tipo de Desenvolvimento Econômico que crie renda ao Povo, à sociedade?
Um tipo de Desenvolvimento que DISTRIBUA RENDA?
Somos um país rico.
Somos a sétima economia do mundo.
Somos um país com imensas riquezas naturais.
Isso já foi dito por muitos, eu sei.
Mas a questão é: Por que essa riqueza não é compartilhada por todos?
Por que só alguns abocanham mais de 75% dela?
Nos últimos 12 anos o Brasil distribuiu renda como jamais aconteceu.
Tente enxergar, tente ver, tente...
O tipo de Desenvolvimento Econômico melhor a TODOS é aquele que se preocupa primeiro em distribuir riqueza/renda.
Não podemos achar que o bom é aquele que chega primeiro aos banqueiros e grandes conglomerados de empresas.
Pense.
por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Leia o texto abaixo compartilhado a partir do Conversa Afiada.

Em coletiva no Palácio da Alvorada, a Presidenta Dilma Rousseff enalteceu o programa Bolsa Família como instrumento de combate à desigualdade social. “Há uma conexão muito forte entre a diminuição da fome no Brasil e o Bolsa Família. Nós alimentamos 42 milhões de crianças, uma população da Argentina, duas vezes por dia”, ressaltou a petista na tarde desta terça-feira (16).

Pela manhã, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) divulgou que o Brasil reduziu a pobreza extrema em 75% entre 2001 e 2012.

“Diante da crise internacional, mantivemos o emprego, o salário e a renda no Brasil”, disse Dilma para completar: “Nós achamos que tem gente que não sabe que tem direito ao Bolsa Família. Precisamos e achamos aquela população que de tão pobre, não sabe que tem esse direito”.

Por fim, a Presidenta comentou a decisão do Ministro do TSE que determina que o site Muda Mais seja tirado do ar. “Pode ser que as pessoas não gostem do que nós falamos, mas é uma opinião. Crime de opinião no Brasil é algo ultrapassado – eu fui pra cadeia por crime de opinião. Na democracia, a opinião é algo que deve ser repeitado. Cada um tem o direito de fazer o que quiser, mas nós estamos externando uma opinião, e essa opinião tem que ser respeitada”.

(Clique aqui para ler “Bláblá quer censurar. Como Aécio)



Antes, o Conversa Afiada tinha publicado:


O Conversa Afiada reproduz texto do UOL, com informações do Estadão:



BRASIL REDUZ A POBREZA EXTREMA EM 75%, DIZ FAO

São Paulo – O Mapa da Fome 2013, apresentado na manhã desta terça-feira, 16, em Roma pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), mostra que o Brasil conseguiu reduzir a pobreza extrema – classificada com o número de pessoas que vivem com menos de US$ 1 ao dia – em 75% entre 2001 e 2012. No mesmo período, a pobreza foi reduzida em 65%. Apresentado como um dos casos mundiais de sucesso na redução da fome, o Brasil, no entanto, ainda tem mais de 16 milhões vivendo na pobreza: 8,4% da população brasileira vive com menos de US$ 2 por dia.


O relatório da FAO mostra que o Brasil segue sendo um dos países com maior progresso no combate à fome e cita a criação do programa Fome Zero, em 2003, como uma das razões para o progresso do País nessa área. Não por acaso, criado pelo então ministro do governo Lula, José Graziano, hoje diretor-geral da FAO.


De acordo com o documento, a prioridade dada pelo governo Lula ao combate à fome – citando a fala do ex-presidente de que esperava fazer com que todos os brasileiros fizessem três refeições por dia – no Fome Zero é a responsável pelos avanços.


Inicialmente concebido dentro do Ministério de Segurança Alimentar, o programa era um conjunto de ações nessa área que tinha como estrela um cartão alimentação, que permitia aos usuários apenas a compra de comida. Logo substituído pelo Bolsa Família, o Fome Zero foi transformado em um slogan de marketing englobando todas as ações do governo nessa área.


“O resultado desses esforços são demonstrados pelo sucesso do Brasil em alcançar as metas estabelecidas internacionalmente”, diz o relatório, ressaltando que o Brasil investiu aproximadamente US$ 35 bilhões em ações de redução da pobreza em 2013.


A América Latina é a região onde houve maior avanço na redução da pobreza e da fome entre 1990 e 1992, especialmente na América do Sul, com os países do Caribe ainda um pouco mais lentos. O relatório mostra que o número de pessoas subnutridas na região passou de 14,4% da população para cerca de 5%. Além do Brasil, a Bolívia é citada como exemplo. Apesar de ainda ter quase 20% da população abaixo da linha da pobreza, saiu de um porcentual próximo a 40%.


No mundo todo, 805 milhões de pessoas ainda passam fome. São 100 milhões a menos do que há uma década, e 200 milhões a menos do que há 20 anos, mas ainda muito abaixo da velocidade que permitiria ao mundo cumprir a primeira meta dos objetivos do milênio, de reduzir a pobreza extrema à metade até 2015. Atualmente, apenas 63 países cumpriram a meta. Outros 15 estão no caminho e devem alcançá-la.


O relatório completo está disponível no site da FAO.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Eleições: a atualidade esquecida da Reforma Agrária

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Novo projeto agrícola daria autonomia a milhões de produtores, reduziria preço dos alimentos e reduziria poder das elites. Mas agronegócio financia campanhas, para comprar silêncios…
Por Gustavo Souto de Noronha, no Brasil Debate
Desenvolvimento e democracia não são compatíveis com a miséria. O Brasil, de acordo com dados do Banco Mundial, é a sétima economia do mundo pelo PIB total calculado segundo a paridade de poder de compra. Entretanto essa riqueza é mal distribuída.
É comum associar o combate à pobreza extrema unicamente às políticas de transferência de renda. Entretanto, faz-se necessário contrapor esta visão com políticas que gerem um fluxo de renda, como a reforma agrária.
Tanto que uma das dimensões do Plano Brasil Sem Miséria do Governo Federal contempla a inclusão produtiva. A reforma agrária é uma das melhores alternativas de geração de emprego e renda, incluindo-se aí as políticas – de crédito e assistência técnica – necessárias à efetiva estruturação econômica e social das famílias assentadas.
Alguns teóricos do desenvolvimento econômico, inclusive no campo político da direita, como Rostow, advogam sobre a necessidade de ruptura com as elites tradicionais. Observando a sobre-representação da chamada bancada ruralista no Congresso Nacional, percebemos a atrasada atualidade desta agenda no Brasil.
Outro ponto importante,  é o viés anti-inflacionário da reforma agrária. As causas de um processo inflacionário podem ser diversas: aquecimento da economia; choques de oferta; conflito distributivo entre capital e trabalho; ou resultado das projeções dos agentes. Raramente os processos inflacionários têm causa única e o mais ordinário é que, pelo menos, três destes quatro fatores estejam associados nos surtos de aumento de preços.
Impactos da oferta
Em uma análise simplificada, os processos inflacionários decorrentes de excesso de demanda ou de choques de oferta, em realidade traduzem desequilíbrios entre oferta e procura em diversos setores da economia.
Nos desajustes de oferta não podemos falar de um choque homogêneo que afete todos os mercados, isto seria uma recessão e não um choque de oferta a provocar alguma inflação. Os impactos da oferta em processos inflacionários normalmente estão associados a fatores exógenos aos modelos econômicos usuais e que afetam mercados importantes: quebras de safras agrícolas, guerras, movimentação conjunta dos produtores de determinado bem.
Olhando o mercado de alimentos, recorrente vilão da inflação. A demanda por alimentos é relativamente inelástica, pode variar entre a natureza do bem, mas pouco provável que alguém deixe de comer para consumir qualquer outro bem, mais crível é o movimento contrário.
A variação nos preços deste mercado explica-se, em parte, por um problema de oferta insuficiente para atender à demanda, mas também pela vinculação de determinados produtos aos mercados internacionais de commodities. Logo, um primeiro passo é buscar desvincular os preços dos alimentos dos mercados externo e interno.

A grande propriedade produz principalmente para o mercado externo, não afeta de sobremaneira a curva de oferta interna de alimentos. O consumo interno destes itens também não afeta seu preço, mas sim as variações no mercado internacional. Devemos, portanto, preliminarmente verificar se a inflação observada decorre do aumento de preços nestes produtos, o que não parece ser o caso.
Fica patente, como no caso alegórico do tomate, que um choque de oferta em um produto cuja demanda é bastante inelástica, se observa um aumento extraordinário de preço. É preciso, portanto, construir uma alternativa que garanta um aumento da oferta de comida. O Censo Agropecuário do IBGE mostra que a agricultura familiar é responsável pela maior parte do alimento na mesa do brasileiro.
Ineficiente
Ademais, diversos estudos econômicos, inclusive por teóricos neoclássicos, demonstram que a grande propriedade é ineficiente em razão de custos crescentes de escala. Os custos de gerenciamento, logística e mão de obra, a imprevisibilidade meteorológica e a volatilidade dos preços internacionais são alguns fatores que fazem alguns analistas afirmar que o setor agrícola sequer seria uma atividade capitalista em senso estrito.
Desta forma, ousamos afirmar que é preciso mudar o paradigma da produção agropecuária brasileira. Deve-se entender que entre todas as funções clássicas da agricultura na economia, a mais primordial é prover a economia de uma oferta crescente de alimentos.
Isto não ocorrerá numa economia cuja produção agrícola está voltada para o mercado externo. O preço do tomate só cai quando há mais agricultores produzindo tomate, isto só é possível com a democratização do acesso à terra. Para reduzir a inflação, particularmente quando sua causa primordial é um choque de oferta de alimentos, é preciso ampliar o número de agricultores familiares, é preciso fazer reforma agrária.
Não se pode ainda esquecer que diversas análises históricas apontam que os países considerados desenvolvidos todos passaram, em algum momento por um processo de democratização do ativo terra. Ou seja, é preciso, no mínimo, destravar o debate da questão agrária para avançarmos no processo de desenvolvimento brasileiro.
Perspectiva geopolítica
Avançando para uma perspectiva geopolítica, a reforma agrária ganha importância. Qualquer nação que se pretenda soberana deve ter mecanismos de assegurar à sua população a soberania alimentar. Num raciocínio trivial, um país cuja alimentação venha do setor externo, num caso extremo de guerra, pode com um simples cerco naval ver sua população condenada à fome.
A combinação entre o crescimento contínuo da população mundial e os processos de erosão do solo, a escassez hídrica cada vez maior e o aquecimento global, produzem um quadro em que a demanda se amplia sem ser acompanhada pela oferta. Não se pode minimizar o risco de que guerras venham a ser travadas por alimentos e água.
A distribuição do ativo terra busca responder a estes dois pontos. Se por um lado a produção da agricultura familiar e reforma agrária garante a maioria dos alimentos que a população brasileira consome, por outro promove uma efetiva ocupação dos interiores assegurando que estes recursos permaneçam em poder da população do país e não em grandes grupos sujeitos a controle internacional.
De uma forma ou de outra, a reforma agrária precisa ser colocada em evidência neste processo eleitoral. Diante da força e avanço da bancada ruralista, cuja postura e aliança com a bancada evangélica não permite um maior avanço das pautas progressistas, a política deve ser debatida sob a perspectiva do poeta alemão Bertolt Brecht: Pergunta sempre a cada ideia: serves a quem?

Como o pós-consumismo floresce na Alemanha

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Multiplicam-se, em Berlim e outras cidades, sites e comunidades para doar ou compartilhar — de comida a eletrodomésticos, livros e caronas
Um dia qualquer no Facebook. Em meio a uma avalanche de selfies, fotos do Instagram com pratos de dar inveja e sequências de bebês bochechudos, um post chama a atenção: “Doação: scanner, impressora, dois computadores, monitor.” O anúncio vem acompanhado de uma imagem dos equipamentos – tudo aparentemente em perfeito estado.
Posts como esse são cada vez mais comuns entre internautas na Alemanha. Eles costumam aparecer em diversos grupos da rede social e refletem algo maior: um notável espírito de comunidade que circula no país, e que permite se obter de graça praticamente todo o básico de sobrevivência – e até um pouco mais.
Uma das comunidades de maior sucesso leva o nome genérico Free Your Stuff (FYS, literalmente: “liberte as suas coisas”), acrescido do nome da cidade onde é feita a oferta. Em Berlim, o grupo já tem mais de 19 mil membros. Lá se encontra de tudo: televisores, geladeiras, camas, sofás, celulares, leitores de e-book e até pianos.
Ou mesmo: “Acredito que ninguém quer uma porta…? Mede uns 93 por 215 cm”, dizia um post publicado na FYS Berlim. No dia seguinte, a porta já fora levada. “Estou tão surpreso quanto vocês”, comentou o ex-proprietário.
Senso de comunidade contra o desperdício
Mas nem sempre as ofertas são tão extravagantes. A brasileira Carolina Nehring, que vive em Bonn, por exemplo, já usou uma dessas comunidades para doar livros, sapatos e bolsas. E foi lá que também conseguiu uma série de coisas interessantes, como um violão, uma escrivaninha e uma bicicleta, sua maior aquisição.
O alemão Matthieu Classen também já doou uma bicicleta, porque estava de mudança para a Holanda e não tinha como levá-la consigo. “Isso cria um certo senso de comunidade, onde é possível doar as coisas de que não precisamos mais, em vez de alimentar uma cultura do desperdício”, defende o jovem de 21 anos.
Essa atitude coincide com a filosofia simples por trás do FYS. “O grupo é dedicado a todos nós que tendemos a acumular, acumular e a preencher espaços que poderiam ser usados para algo mais interessante do que um depósito ou um coletor de poeira”, diz uma descrição na página da comunidade.
O casal de brasileiros Karin Hueck e Fred Di Giacomo Rocha, idealizadores do projeto Glück Project, também recorreu à plataforma para se desfazer de seus pertences, ao voltarem para o Brasil após um ano de Berlim. “Foi um misto de comodidade e também de querer ajudar”, justifica Karin. Ao total, eles doaram um sofá-cama, duas araras, cabides, almofadas, ferro de passar e cobertores.
A brasileira lembra que uma das formas mais comuns de doar as coisas em Berlim era apenas deixá-las na calçada. “Todo dia, trombava com colchões, sofás, televisões e até uma geladeira em bom estado, que alguém havia deixado na rua para quem quisesse levar. Deixei a minha horta [portátil] na rua no dia em que fomos embora, e em cinco minutos alguém já havia levado para casa.”
Fenômeno em expansão
O fenômeno não é uma exclusividade alemã: já existem grupos de Free Your Stuff em cidades como Nova Iorque e Barcelona. Mas, na Alemanha, observa-se uma verdadeira febre: Berlim, Bonn, Colônia, Hamburgo, Munique, Stuttgart, Leipzig, Nurembergue, Dresden, Frankfurt, Düsseldorf… É rara a cidade alemã que não tenha o seu FYS.
Karin Hueck acredita que o fenômeno tenha ligação com uma cultura, observada sobretudo em Berlim, de valorização de coisas mais baratas e usadas. E compara: “No Brasil, talvez por causa da grande pobreza da população, não existe esse fetiche. Pelo contrário, as pessoas sentem a necessidade de se afastar da aparência mais simples, valoriza-se o novo, o ‘diferenciado’, o caro e as coisas em bom estado de conservação”, avalia.
Karin dá um palpite por que iniciativas como o FYS ainda são escassas no Brasil: “Acho que algo parecido acontece de forma mais espontânea. Sempre doei muita coisa que tinha em casa, mas geralmente oferecia primeiro para a faxineira ou para os porteiros do prédio. Sinto que, por causa da desigualdade social, há sempre muita gente próxima que precisa do que estamos doando. Então não é preciso divulgar na internet ou marcar um horário para entrega.”
Para disseminar a prática, o FYS encoraja internautas do mundo todo a abrirem comunidades do gênero em sua própria cidade, tendo o cuidado, é claro, de se aterem às regras. Segundo as diretrizes, fica proibido oferecer qualquer coisa em troca de dinheiro, e posts nessa linha costumam ser deletados sem aviso prévio. A doação de animais também é vetada, justamente porque não se enquadram em “stuff“.
Escambo e compartilhamento
Numa linha semelhante, surgiram na Alemanha comunidades Change your Stuff (Troque suas coisas). Foi lá que o londrinense Guilherme Santana conseguiu uma barganha. “Eu troquei a cafeteira por um quilo de banana – saiu, literalmente, a preço de banana! Gosto de pensar que é uma cafeteira que funciona a menos no lixo. Pronto, outro ponto positivo: menos lixo também”, reflete.
Sua noiva, a curitibana Camila Collita, também já participou do escambo, levando para casa um programa Photoshop, de edição de imagens, em troca de legumes. Guilherme só chama a atenção para a “logística do movimento”: “Quando alguém anuncia alguma coisa, você precisa ser bem rápido para responder que está interessado e também ter a disponibilidade de buscar o objeto dentro da data pedida. Já perdi alguns itens por não ter tempo ou não ter como ir buscá-los.”
Outro movimento que ganha cada vez mais adeptos no país é o Foodsharing.de, uma plataforma criada no final de 2012 para o compartilhamento de alimentos entre indivíduos. “O grande sucesso do Foodsharing levou cada vez mais pessoas a se engajarem contra o desperdício e a coletarem em mercados e lojas o excedente de alimentos para redistribuição”, explica André Piotrowski, embaixador da plataforma em Bonn.
Ele comenta que a cada ano é desperdiçado cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos ainda em bom estado, sobretudo frutas e legumes, ou seja, “de 30% a 50% da produção total de alimentos”. Só na Alemanha, em 2013 a iniciativa salvou da lata do lixo 400 mil quilos de comida. “De um punhado de ativistas no início do movimento, a plataforma hoje tem cerca de 6 mil foodsavers e mais de 600 empresas doadoras”, conta André.
Livros, caronas e outros
Uma dessas “salvadoras” é Johanna Nolte. “Passo nos mercados duas vezes por semana para coletar legumes que não foram vendidos, sempre tudo em bom estado. Uma padaria também me liga para me avisar quando tem excesso de pão”, relata a jovem de 23 anos. “Separo uma parte para mim e depois ofereço a vizinhos e amigos. O restante, eu anuncio pelo Facebook.”
Esse senso de comunidade pode ser observado numa série de outras iniciativas pelo país. Para quem quer alimentar também o espírito, surgiram os Offene Bücherschränke (Estantes de livros abertas), uma ideia posta em prática em 2003, em Bonn, pela então estudante de arquitetura Trixy Royeck. A cidade hoje já conta com nove dessas pequenas bibliotecas livres, onde é possível deixar e pegar livros sem burocracia ou custo algum.
Já na área dos transportes, por exemplo, é possível economizar com caronas ofertadas na internet através de sites como o Mitfahrgelegenheit.de ou Blablacar.de. Quem anda de metrô pode até viajar de graça no Ticketteilen.org, que estimula usuários do transporte público de Berlim a compartilharem seus passes que dão direito a levar mais passageiros, fora dos horários de pico.

Da saia escocesa à reinvenção da democracia

Milhares de escoceses manifestam-se pela independência, que será decidida em plebiscito. Últimas pesquisas apontam enorme avanço do "sim", que pode encerrar união do país à Inglaterra, em vigor desde 1707


Milhares de escoceses manifestam-se pela independência, a ser decidida em plebiscito. Últimas pesquisas apontam enorme avanço do “sim”, que pode encerrar união do país à Inglaterra, em vigor desde 1707

Se a Escócia separar-se da Grã-Bretanha, em 18/11, não chame de “nacionalismo”. Veja como reação, saudável e necessária, à ditadura dos mercados
Por Nuno Ramos de Almeida
A eventual vitória dos independentistas na Escócia, o referendo marcado pelo governo autônomo da Catalunha para Novembro, para não falar do conflito na Ucrânia, demonstram que as fronteiras políticas no mundo não estão escritas nas estrelas e dependem da variação das questões políticas que estão em discussão e de múltiplas correlações de forças em presença.
O recrudescimento das nações, e até de um certo nacionalismo na Europa, mais que um regresso ao passado é uma reação ao presente.
Há muito que é sabido que as nações e as tradições são construções ideológicas, mas nem por isso são menos reais na vida dos homens que as supostas determinações biológicas para os animais. Os trabalhos de Eric Hobsbawm e Trevor-Roper sobre o papel da invenção das tradições na legitimação do nacionalismo é a esse respeito exemplar: mostra, por exemplo, que a reputada como antiga “parafernália nacionalista”, através da qual os escoceses celebram sua identidade nacional, é na verdade bastante moderna e a própria ideia de que existe uma cultura e uma tradição específicas das Terras Altas não passa de uma invenção retrospectiva. A parte mais divertida das conclusões de Trevor-Roper é a demonstração de que o famoso kilt escocês é uma invenção de um industrial inglês e não a recuperação de uma tradição ancestral: “o kilt é uma vestimenta absolutamente moderna, idealizada e vestida pela primeira vez por um industrial quaker inglês, que não o impôs aos montanheses para preservar o modo de vida tradicional deles, mas para facilitar a transformação deste mesmo modo de vida: para os trazer das urzes para a fábrica”. A sua recuperação pelo nacionalismo foi feita em reação à repressão britânica após os acontecimentos de 1745, que passa a proibir a utilização dos trajes montanheses, que, após 35 anos, pareciam ter-se extinguido.
Tanto o nacionalismo escocês como o basco ou o catalão, mais que uma recuperação de velhas tradições milenares são a afirmação da crescente insatisfação das populações com um modelo político que lhes retirou soberania e capacidade de decisão. Antes de ser nacional, a crise é democrática: o processo de globalização econômica e da construção europeia roubou aos povos da Europa a capacidade de discutir o seu próprio futuro. Hoje as decisões fundamentais da vida das pessoas são tomadas pelos mitológicos “mercados”, que mais não são que a expressão disfarçada dos interesses do grande capital financeiro, e a gestão política do poder é entregue de fato a uma burocracia europeia não eleita.
No atual quadro da União Europeia, tanto as eleições para os parlamentos nacionais como as do parlamento da UE não passam de espetáculos em que as luzes da ribalta e a agitação escondem que as principais decisões estão tomadas independentemente da vontade dos cidadãos. Os parlamentos e os governos nacionais ficaram sobretudo com o poder de tocar o hino e hastear as respectivas bandeiras. E o parlamento de Estrasburgo é apenas uma máquina de produzir fumaça.

Mais que os nacionalismos, aquilo que hoje está em causa na Europa é uma reação soberanista. As pessoas querem espaços políticos em que possam decidir a sua vida e não instrumentos de ilusionismo político que servem para disfarçar que são sempre os mesmos a decidir.
O poder da casta dos negócios sobre a generalidade da população baseia-se também na continuação desta mentira. Cortar com ela é devolver às pessoas a possibilidade de decidirem no seu bairro, no seu trabalho, na sua localidade e no país em que vivem: não é nacionalismo, é simples democracia contra a ditadura dos mercados.

sábado, 13 de setembro de 2014

Nobel de Economia alerta sobre Banco Central independente

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Joseph Stiglitz diz que um Banco Central independente é “desnecessário”. O economista explicou ainda que países com BCs mais independentes tiveram muito mais dificuldades diante da crise financeira global
Por Pragmatismo Político - Compartilhado a partir da Revista Fórum
O debate econômico do momento nas eleições presidenciais brasileiras ganhou nesta quinta-feira 11 uma opinião de peso. Em palestra na sede do Banco Central da Índia, o economista americano Joseph Stiglitz – agraciado com Prêmio Nobel de Economia, em 2001, e economista-chefe do Banco Mundial, entre 1997 e 2000, afirmou que a discussão sobre a independência dos bancos centrais é superestimada:
“A crise mostrou que um dos princípios centrais defendidos pelos banqueiros do Centro-Oeste (Europa e Estados Unidos) é o desejo de independência do banco central”, disse ele, para em seguida se opor à iniciativa:
“Mas na melhor das hipóteses, essa posição é questionável. Na crise, os países com bancos centrais menos independentes como China, Índia e Brasil fizeram muito, mas muito melhor mesmo do que os países com bancos centrais mais independentes, caso da Europa e dos Estados Unidos”, completou.
No Brasil, a candidata Marina Silva, do PSB, tem defendido com ênfase a necessidade de dar autonomia ao Banco Central. Essa posição também está sendo vocalizada pela coordenadora de seu programa de governo, Neca Setubal, herdeira do banco Itaú, a maior instituição privada do País.
A presidente Dilma Rousseff fez da promessa de Marina um cavalo de batalha. Na propaganda eleitoral na televisão, o PT de Dilma comparou o BC independente à entrega de um poder semelhante ao de presidente do Congresso a alguém sem mandato e com grande risco de ligação com os interesses do mercado financeiro.
Podendo decidir sobre as taxas de juros e câmbio, estabelecer e executar metas de inflação e baixar a mais variada legislação de regulação de mercado, um presidente de BC autônomo em relação ao Poder Executivo pode operar a macroeconomia na direção que julgar mais conveniente.
Stiglitz manifestou uma opinião em linha com a de Dilma.
“As instituições públicas são responsáveis, este não é o problema. A questão é quem vai estar lá e qual política ele vai praticar”, frisou Stiglitz.
Modelo de BC independente, o Federal Reserve dos Estados Unidos foi criticado por Stiglitz, que se ateve ao papel desempenhado, antes da eclosão da crise financeira, pelo presidente do Fed de Nova York, William Dudley.
“Dudley executou um modelo de má governança em razão de seu conflito de interesses: ele salvou os mesmos bancos que ele deveria regular – os mesmos bancos que lhe permitiram ganhar a sua posição de mando”, sentenciou.
Ao seu feito sem meias palavras e polêmico, o prêmio Nobel passou a dizer que um presidente de BC escolhido pelo mercado, como anunciam Marina e Neca, tende a atender os interesses desse mesmo mercado, ainda que estes sejam contrários ao do grande público

Maranhão: clã Sarney/Lobão apela para anticomunismo e antijornalismo

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Afiliada da SBT no Maranhão de propriedade da família de candidato Lobão Filho (PMDB) tenta disseminar o medo e impedir a vitória de Flávio Dino (PCdB), resgatando a Guerra Fria  e manipulando notícias
Por Renata Mielli, em seu blog
A grande mídia brasileira está cada vez mais despudorada na sua cruzada para derrotar as forças políticas que assumiram o governo do país desde 2003. Ficção e jornalismo flertam cada vez mais, ao ponto de ser difícil distinguir um do outro. Seja no papel, no rádio, televisão e até na internet, os grupos econômicos que dominam a comunicação no Brasil estão empenhados em derrubar o governo federal e também garantir seus interesses locais. Em alguns lugares, ainda há um cuidado mínimo no tratamento das informações, pelo menos uma tentativa de dar uma roupagem mais crível ao que é veiculado. Mas em outros, como no Maranhão….
Vendo que o candidato do Clã Sarney, Lobão Filho (PMDB), vai perder a eleição para Flávio Dino (PCdoB), a maior parte da mídia maranhense está apelando para o anticomunismo, num discurso que beira a insensatez. Já circulou bastante na internet, a entrevista que Flávio Dino concedeu ao jornal da TV Mirante (de propriedade da família Sarney), na qual o âncora do jornal pergunta se, caso eleito, Dino pretende implantar o comunismo no Maranhão. Mas isso foi fichinha.
Até para quem pensa imaginar do que a mídia é capaz, o que está sendo feito pela TV Difusora de Imperatriz (afiliada da SBT no Maranhão de propriedade da família Lobão) é escandaloso, de deixar qualquer um pasmo, pela desfaçatez e cara de pau.
A Difusora de Imperatriz veiculou no final de agosto uma série de cinco reportagens sobre o comunismo, (assista aqui a quarta) para tentar disseminar o medo e impedir a vitória de Dino, resgatando a guerra fria e o discurso que em 1989 a direita usou para derrotar Lula.
Mas se a série pode ser considerada uma abordagem “indireta”, a reportagem que foi veiculada na semana passada não é nem um pouco.
Numa peça de “jornalismo-ficcional” ou quem sabe realismo fantástico, o jornal da Difusora noticia uma agressão feita contra um grupo de evangélicos por extremistas de esquerda. Usa um trecho da série sobre o comunismo para ressaltar o perigo do fundamentalismo político e sustentar a denúncia, feita por uma fonte preservada, que diz ter sido atacada e, como introduz o jornalista “ela narra os momentos de horror e medo”.
A “vítima” relata a agressão e em seguida entra um repórter que vai narrando o ocorrido em um off, coberto por imagens de um carro aberto e depois da praia, local do atentado. As imagens não mostram nada, mas o texto do narrador vai induzindo o telespectador dizendo que na praia ainda há sinais de que crianças e adultos saíram as pressas e, que o que era para ser uma noite de busca espiritual se tornou uma noite de fuga. Os autores da noite de terror não roubaram nada “usaram uma das principais características do comunismo, a coação”. Na praia, os “sinais” de que os evangélicos saíram correndo são uma garrafa de água e camisetas na areia. Depois, a matéria relaciona o ataque aos evangélicos à depredação da faixada do comitê de campanha de Lobão Filho, mostrando no chão cartazes rasgados. Para sustentar a denúncia, diz que as câmeras de uma lanchonete flagaram o agressor, mas a imagem que a reportagem mostra é de um homem comendo e não de vandalismo. O repórter encerra a peça de ficç… opa, reportagem, dizendo que a destruição dos cartazes é “uma demonstração de ódio e fúria, típicas de regimes antidemocráticos.

Este é apenas um exemplo de como a mídia maranhense tem feito a cobertura eleitoral e mostra como é necessário uma denúncia veemente dessa manipulação, que fere os mais variados direitos sociais e humanos. O que a TV Difusora está praticando não é jornalismo, é crime. 
Diante do desespero de perder a eleição, a família Sarney/Lobão usa todos os recursos. Além de controlar a mídia, controla também aparatos administrativos do estado e, como foi divulgado recentemente, até a empresa responsável pela distribuição das urnas e transmissão dos dados de votação é de Luiz Carlos Cantanhede Fernandes, aliado dos Sarney e amigo do candidato Lobão Filho.
Na última quarta-feira, um ato por eleições limpas no Maranhão reuniu representantes da OAB nacional, o presidente da OAB-MA, Associação dos Magistrados do Maranhão, UNE, centrais sindicais, Barão de Itararé e outras entidades do movimentos social para conclamar a sociedade a fiscalizar o processo eleitoral e impedir qualquer tipo de alteração na vontade popular sobre os rumos do Maranhão.

Facebook: um mapa das redes de ódio

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Pesquisa vasculha território obscuro da internet: as comunidades que clamam por violência policial, linchamentos, mortes dos “esquerdistas” e novo golpe militar

Por Patrícia Cornils, entrevistando Fábio Malini | Imagem: Vitor Teixeira
No dia 5 de março o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo, publicou um mapa de redes de admiradores das Polícias Militares no Facebook. São páginas dedicadas a defender o uso de violência contra o que chamam de “bandidos”, “vagabundos”, “assaltantes”, fazer apologia a linchamentos e ao assassinato, defender policiais, publicar fotos de pessoas “justiçadas” ou mortas violentamente, vender equipamentos bélicos e combater os direitos humanos.
Para centenas de milhares de seguidores dessas páginas, a violência é a única mediadora das relações sociais, a paz só existe se a sociedade se armar e fizer justiça com as próprias mãos, a obediência seria o valor supremo da democracia. Dentro dessa lógica, a relação com os movimentos populares só poderia ser feita através da força policial. Qualquer ato que escape à ordem ou qualquer luta por direitos é lido como um desacato à sociedade disciplinada. Um exemplo: no sábado, dia 8 de março, a página “Faca na Caveira” publicou um texto sobre o Dia Internacional das Mulheres no qual manda as feministas “se foderem”. Em uma hora, recebeu 300 likes. Até a tarde de domingo, 1473 pessoas haviam curtido o texto.
Abaixo o professor Fábio Malini explica como fez a pesquisa e analisa o discurso compartilhado por esses internautas. “O que estamos vendo é só a cultura do medo midiático passando a ter os seus próprios veículos”, diz ele.
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Como você chegou a esse desenho das redes? O que ele representa?
É um procedimento simples em termos de pesquisa. O pesquisador cria uma fanpage no Facebook e passa a dar “like” num conjunto de fanpages ligada à propagação da violência. Em seguida, usamos uma ferramenta que identifica quais os sites que essas fanpages curtem. E, entre elas, quais estão conectadas entre si. Se há conexão entre uma página com outra, haverá uma linha. Se “Faca na Caveira” curte “Fardado e Armados˜há um laço, uma linha que as interliga. Quando fazemos isso para todas as fanpages, conseguimos identificar quais são as fanpages da violência (bolinhas, nós) mais conectadas e populares. Isso gera um grafo, que é uma representação gráfica de uma rede interativa. Quanto maior é o nó, mais seguida é a página para aquela turma. No grafo, “Polícia Unida Jamais será vencida” é a página mais seguida pela rede. Não significa que ela tem mais fãs. Significa que ela é mais relevante para essa rede da violência. Mas a ferramenta de análise me permite ver mais: quem são as páginas mais populares no Facebook, o que elas publicam, o universo vocabular dos comentários, a tipologia de imagens que circula etc.
O que você queria ver quando pesquisou esse tema? E o que achou de mais interessante?
Pesquisei durante apenas uma semana para testar o método de extração de dados. Descobri que o Labic, laboratório que coordeno, pode ajudar na construção da cultura de paz nesse país, desvelando os ditos dessas redes, que estão aí, lotadas de fãs e públicas no Facebook. Assustei-me em saber a ecologia midiática da repressão no Facebook, em função da agenda que esses sites estabelecem.
Primeiro há um horror ao pensamento de esquerda no país. Isso aparece com inúmeros textos e imagens que satirizam qualquer política de direitos humanos ou ligadas aos movimentos sociais. Essas páginas funcionam como revides à popularização de temas como a desmilitarização da Polícia Militar ou textos de valorização dos direitos humanos. Atualmente, muitas dessas páginas se articulam em função da “Marcha pela Intervenção Militar”. Um de seus maiores ídolos é o deputado Jair Bolsonaro.
Após os protestos no Brasil, a estrutura de atenção dos veículos de comunicação de massa se pulverizou, muito tráfego da televisão está escoando para a internet, o que faz a internet brasileira se tornar ainda mais “multicanal”, com a valorização de experiências como Mídia Ninja, Rio na Rua, A Nova Democracia, Outras Palavras, Revista Fórum, Anonymous, Black Blocs. São páginas muito populares. Mas não estão sozinhas. Há uma guerra em rede. E o pensamento do “bandido bom, bandido morto” hoje se conformou em votos. Esse pensamento foi capaz de construir redes sociais em torno dele.
A despolitização, a corrupção, os abusos de poder, a impunidade, estão na raiz da força alcançada por essas redes da violência e da justiça com as próprias mãos. E não tenho dúvida: essas redes, fortes, vão conseguir ampliar seu lastro eleitoral. Vão ajudar na eleição de vários políticos “linha dura”. Em parte, o crescimento dessas redes se explica também em função de forças da esquerda que passaram a criminalizar os movimentos de rua e ficaram omissas a um conjunto de violações de direitos humanos. O silêncio, nas redes, é resignação. O que estamos vendo é só a cultura do medo midiática passando a ter os seus próprios veículos de comunicação na rede.
Você escreveu que “é bom conhecer e começar a minerar todos os conteúdos que são publicadas nelas.” Por que?
Porque é preciso compreender a política dessas redes e seus temas prioritários. Instituir um debate por lá e não apenas ficar no nosso mundo. É preciso dialogar afirmando que uma sociedade justa é a que produz a paz, e não uma sociedade que só obedece ordens. Estamos numa fase de mídia em que se calar para não dar mais “ibope” é uma estratégia que não funciona. É a fala franca, o dito corajoso, que é capaz de alterar (ou pelo menos chacoalhar) o discurso repressor.
É interessante, ao coletarmos e minerarmos os dados, notar que muitas dessas páginas articulam um discurso de Ode à Repressão com um outro pensamento: o religioso, cujo Deus perdoa os justiceiros. Isso se explica porque ambos são pensamentos em que o dogma, a obediência, constituem valores amplamente difundidos. Para essas redes, a defesa moral de uma paz, de um cuidado de si, viria da capacidade de os indivíduos manterem o estado das coisas sem qualquer questionamento, qualquer desobediência.
No lugar da Política enfrentar essas redes, para torná-las minoritárias e rechaçadas, o que vemos? Governantes que passam a construir seus discursos e práticas em função dessa cultura militarizada, dando vazão a projetos que associam movimentos sociais a terrorismo. Daí há uma inversão de valores: a obediência torna-se o valor supremo de uma democracia. E a política acaba constituindo-se naquilo que vemos nas ruas: o único agente do Estado em relação com os movimentos é a polícia.
O grafo mostra as relações entre os diversos nós dessa rede. Mas e se a gente quiser saber o que essas redes conversam? As PMs estão no centro de vários debates importantes hoje: o tema da desmilitarização. A repressão às manifestações. O assassinato de jovens pobres, pretos, periféricos. Esses nós conversam sobre essas coisas? Em que termos?
Sim, esses nós se republicam. Tal como páginas ativistas se republicam, tais como páginas de esporte se republicam. Todo ente na internet está constituindo numa rede para formar uma perspectiva comum. As ferramentas para coletar essas informaçoes públicas estão muito simplificadas e na mão de todos. Na tenho dúvida que as abordagens científicas das Humanidades serão cada vez mais centrais, pois a partir de agora o campo das Humanidades lidará com milhões de dados. É uma nova natureza que estamos vendo emergir com a circulação de tantos textos, imagens, comportamentos etc.
Você escreveu que “os posts das páginas, em geral, demonstram o processo de construção da identidade policial embasada no conceito de segurança, em que a paz se alcança não mediante a justiça, mas mediante a ordem, a louvação de armamentos e a morte do outro.” Pode dar exemplos de como isso aparece? E por que isso é grave? Afinal, na visão dos defensores e admiradores da polícia, as posições que defendem dariam mais “paz” à sociedade.
Sábado, 8 de março, foi o Dia Internacional da Mulher. Uma das páginas, a Faca na Caveira, deu parabéns às mulheres guerreiras. Mas mandaram as feministas se foderem. O post teve 300 likes em menos de meia hora e na tarde de domingo tinha 1473 likes. A paz só será alcançada com ordem e obediência, dizem. No fundo, essas redes revelam-se como repressoras de qualquer subjetividade inventiva. Por isso, são homofóbicas e profundamente etnocêntricas de classes. É uma espécie de decalque do que pensa a classe média conectada no Brasil, que postula que boné de “aba reta” em shopping é coisa da bandidagem.
Em Vitória, onde resido, em dezembro de 2013, centenas de jovens que curtiam uma roda de funk nas proximidade de um shopping tiveram que entrar nesse recinto para fugir da repressão da polícia, que criminaliza essa cultura musical. Imediatamente foi um “corre-corre” no centro comercial. Os jovens foram todos colocados sentados, sem camisa, no centro da Praça de Alimentação. Em seguida, foram expulsos em fila indiana pela polícia, sob os aplausos da população. Depois, ao se investigar o fato, nenhum deles tinha qualquer indício de estar cometendo crime. Essa cultura do aplauso está na rede e é forte. É um ódio à invenção, à diferença, à multiplicidade. É por isso que a morte é o elemento subjetivo que comove essa rede. Mostrar possíveis criminosos mortos, no chão, com face, tórax ou qualquer outro parte do corpo destruída pelos tiros, é um modo de reforçar a negação da vida.
Essas redes conversam com outras redes não dedicadas especificamente à questão das PMs? Vi, por exemplo, que tem um “Dilma Rousseff Não”, um “Caos na Saúde Pública” e um “Movimento Contra Corrupção”. Que ligações as pessoas ali estabelecem entre esses temas?
Sim, são páginas que se colocam no campo da direita mais reacionária do país. Mas isso também é um índice da transmutação do conservadorismo no Brasil. Infelizmente, o controle da corrupção se tornou um fracasso. Essa condição fracassada alimenta a despolitização. E a despolitização é o combustível para essas páginas. Mas a despolitização não é apenas um processo produzidos pelos “repressores”, mas por sucessivos governos mergulhados em escândalos e que são tecidos por relações políticas absolutamente cínicas em nome de alguma governabilidade.


Existe fascismo em São Paulo

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Numa cidade de muros, arame farpado e rampas antimendigo, novo incêndio em favela demonstra: para afastar pobres, mercado imobiliário paulistano brinca com fogo… 
por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

O que acontece com o Estado de São Paulo, governado há mais de 20 anos pelo PSDB, me remonta ao filme Elysium, filme de ficção científica estadunidense, escrito e dirigido por Neill Blomkamp. O filme é estrelado por Matt Damon, Jodie Foster, Wagner Moura, Sharlto Copley, Carly Pope e Alice Braga. Não sou cinéfilo gostaria de sê-lo, mas sou fã, acompanho e leio o que posso.
Por que a situação de São Paulo me lembra o filme? Neil Blomkamp, explorou um cenário real que existe em vários lugares da terra. Destruição, falta de respeito aos limites do planeta etc. mas também explorou uma questão social que muitas vezes parece ser vista apenas por poucos; sociólogos, historiadores, especialistas infelizmente, que é o apartheid em que sobrevivemos na maioria das grandes cidades do mundo. Os ricos criaram bairros sofisticados, com tudo de "bom", guaritas de vigilância particulares, coleta de lixo diário, água boa, ruas arborizadas e largas...enquanto os pobres vivem em favelas sem proteção, vendo seus filhos e filhas assassinados por PMs bandidos, casas de madeira ou papelão, ruas estreitas, esgoto a céu aberto...
Elysium, a meu ver, é o rico fugindo da proximidade do pobre, criando um bairro no espaço, longe daqueles que só servem para trabalhar a vida toda ganhando salário mínimo, sobrevivendo dia após dia na labuta que parece sem fim. 
A elite de São Paulo cria guetos que lembram a ideia do filme. Pode ser um tiro no pé. Esses super ricos e super conservadores precisam dos trabalhadores e trabalhadoras. Muito do que é feito por exemplo nos bairros ricos é feito por trabalhadores pobres terceirizados, com trabalho precarizado, por que ganham muito pouco e trabalham muito sem tantas garantias de estabilidade.
O Povo, os Trabalhadores do estado de São Paulo precisam enxergar melhor o que está acontecendo. O governo de São Paulo não pode ser conivente com a especulação imobiliária, principalmente feita de forma desumana, desrespeitosa e com a "limpeza" social feita na surdina com incêndios a casebres miseráveis e a ocupação dos terrenos por grandes empresas ligadas ao setor imobiliário.
Leia o texto abaixo. Entenda melhor o que está acontecendo em São Paulo. Lembrando Paulo Haddad não tem nada a ver com essa violência. Pesquise.
por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Por Guilherme Boulos
Se existe amor em São Paulo eu não sei. Mas fascismo, esse existe. E a elite paulistana não faz nenhuma questão de escondê-lo.
Sabemos que não é de hoje. A história da segregação territorial em São Paulo vem dos anos 1940, quando se inicia de forma mais sistemática a demolição dos cortiços e das residências operárias nas regiões centrais. Pobre tem que vir ao centro para trabalhar e servir, mas morar ali? Não, aí já é vandalismo!
Foi assim que surgiram e se expandiram as periferias da cidade. Numa jogada de mestre e sempre com o apoio do Estado, os agentes imobiliários conseguiram, ao mesmo tempo, tirar os pobres do convívio nos bairros centrais, ganhar um bom dinheiro com loteamentos clandestinos na periferia e reservar áreas intermediárias para a especulação. Nessas áreas estabeleceram-se depois os verdadeiros nichos da elite paulistana.
O que estava em jogo era materializar no território a segregação social entre ricos e pobres.
Até hoje a dinâmica do mercado imobiliário reproduz esse fenômeno. Quando um bairro recebe investimentos ou passa a hospedar grandes empreendimentos privados – condomínios de alto padrão, shoppings, etc – sofre um processo intenso de valorização. Expulsa assim os moradores mais pobres, por vezes através de despejos coletivos e mais frequentemente pela hipervalorização dos aluguéis.
Esta dinâmica econômica sedimentou uma mentalidade higienista na elite e nas camadas médias. Veio junto com uma fobia, um nojo, uma recusa da convivência. Seu ideal seria que os pobres trabalhassem para servi-los, mas ao fim do expediente evaporassem, para retornar apenas no dia seguinte. Pobres podem até existir, desde que longe de seus olhos.
Há casos emblemáticos e recentes. Em 2010, os seletos moradores de Higienópolis iniciaram um movimento contra uma estação de metrô nas redondezas. Motivo: traria ao bairro “gente diferenciada”. Em 2011 foi a vez de uma turma de comerciantes e moradores de Pinheiros, que se organizaram contra um albergue para moradores de rua no bairro. “Ficaremos acuados em casa”, alegaram na ocasião. As rampas antimendigo, iniciadas na gestão de José Serra para impedir moradores de rua em certas partes da cidade, deram a chancela do poder público.
Mas o pior ainda estava por vir. A face mais perversa deste fenômeno foram os incêndios em favelas. O mercado imobiliário é mesmo muito criativo. Quando, por alguma eventualidade, o judiciário barra o despejo de uma favela localizada em zona de expansão imobiliária eles fazem a seu modo. Incendiar favelas tornou-se um recurso habitual para afastar pobres dos condomínios de alto padrão.
Em muitos casos é difícil provar, o que permitiu aos interessados atribuir os incêndios à baixa umidade do ar. Mas os indícios são avassaladores. O site Fogo no Barraco reuniu o mapa de todos os incêndios em favelas paulistanas de 2005 a 2014 e comparou as regiões incendiadas com o índice de valorização imobiliária. O mapa mostra como a enorme maioria dos incêndios ocorreu nas zonas de valorização. Mais inflamável que o clima seco é a especulação.
Os dados dizem ainda que metade dos incêndios dos últimos 20 anos ocorreram entre 2008 e 2012, isto é, durante a gestão de Gilberto Kassab (PSD) como prefeito, que foi marcada pela promiscuidade com o mercado imobiliário. A conivência do poder público também é inflamável.
No último domingo (7), o tema voltou com o incêndio em uma favela na região do Campo Belo. O bairro valorizou-se 130% nos últimos 5 anos, de acordo com o Índice Fipe/Zap. Tinha uma pedra no sapato do mercado imobiliário e da mentalidade fascista que foi novamente varrida com fogo. Os bombeiros que foram até o local afirmaram em reportagem que o incêndio foi mais uma vez criminoso.
Também nos últimos dias, a Folha noticiou que condomínios do Morumbi estão se mobilizando contra a ocupação Chico Mendes, organizada pelo MTST num terreno municipal com destinação prevista para habitação popular. Uma das ilustres moradoras disse tudo: “Atrapalhando eles estão, é desconfortável”. Atrapalhando a vista de sua sacada, pobres, ali, ao lado.
A realidade é mesmo desconfortável. A mentalidade fascista atua para negar, queimar, expulsar este desconforto para bem longe. Que os pobres existam, mas em algum lugar de Ferraz de Vasconcelos, bem longe da minha sacada.
São Paulo é uma das cidades mais desiguais do mundo. A cidade dos muros. Dos muros, incêndios criminosos, despejos, rampas antimendigo e dos condomínios exclusivos. O fascismo da elite só coloca mais combustível neste barril de pólvora.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

VOX: DILMA 8 PTS À FRENTE. BYE, BYE BLÁBLÁ - E o Arrocho ? Quem, Ataulfo Merval ?





Pesquisa mostra petista com 36% dos votos, contra 28% de Marina e 15% de Aécio Neves (PSDB)

A nova pesquisa  Vox Populi/CartaCapital mostra uma vantagem de oito pontos percentuais da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) sobre a adversária Marina Silva (PSB) no primeiro turno e um cenário de empate técnico no segundo. Na intenção de voto estimulada, Dilma aparece com 36%. Marina tem 28% e Aécio Neves, 15%. Este foi o primeiro levantamento da série após a morte de Eduardo Campos e a escolha de Marina Silva para substituí-lo, portanto não há base de comparação. Os demais candidatos somam 2%. Brancos e nulos seriam 7%. Outros 13% não souberam indicar um candidato ou não quiseram responder.

O Vox fez duas simulações de segundo turno. Marina Silva obteria 42% dos votos, contra 41% de Dilma Rousseff. Brancos e nulos somariam 10%, enquanto 7% estariam indecisos. Entre Dilma e Aécio, a petista venceria por 44% a 36%, com 12% de brancos e nulos e 8% de indecisos.

Apesar de Marina ainda estar numericamente à frente no segundo turno, 49% do eleitorado aposta na vitória de Dilma Rousseff. Para 31%, a ambientalista será a nova presidenta. Apenas 8% ainda acreditam nas possibilidades de Aécio Neves.

O tucano possui ainda o maior índice de rejeição (45%). Dilma alcança 42% e Marina, 40%.

O levantamento, com duas mil entrevistas em 147 cidades, foi realizado entre a segunda-feira 8 e a terça 9. Mostra, portanto, que o mais recente escândalo na praça, o vazamento de trechos da delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto da Costa, ainda não surtiu efeitos eleitorais. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o número de registro na Justiça Eleitoral é BR- 00588/2014.

Mais detalhes sobre a pesquisa na edição 817 de CartaCapital, que chega às bancas na sexta-feira 12.