segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Paulo Roberto Costa: Globo atirou no “basso”?


Não sou especialista em comunicação, estou aprendendo, não sou jornalista formado, sou professor de História e cidadão.
Cidadão que, preocupado em estar informado, leio jornais e assisto TVs.
Aprendi, no entanto, que assistir TV no Brasil, país com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, com uma população de mais de 200 milhões de habitantes é temerário.
A "maior" TV do país, com um alcance assustador de, em alguns programas, de mais de 70% de audiência, que tem a obrigação de informar, é exatamente a parte principal de um conjunto de mídias que aliena, que deseduca; tudo em defesa de interesse de uma minoria, não tenha ilusões, a Globo se esconde atrás de programas supostamente honestos como o "Criança Esperança" para se passar por boazinha, na realidade é uma empresa defensora do status quo vigente na sociedade brasileira.
E que status é esse?
Manutenção de uma sociedade desigual, excludente, mas que vem mudando nos últimos anos com governos mais progressistas comprometidos com a maioria.
Leia o texto abaixo em sua íntegra e entenderá.
por José Gilbert A. Martins (Professor)
Fonte: Blog Tijolaço - retirado dia 25/08/2014
Dias atrás, Carlos Alberto Sardenberg, um dos âncoras mais fiéis da Globo, publicou artigo no jornal tentando justificar um recente (e alarmante) sinal de incompetência da empresa. A Globo foi uma das últimas mídias a confirmar a morte de Eduardo Campos. Me pareceu um recado indireto ao Brasil 247, que se vangloriou de ter sido o primeiro veículo a dar o “furo”.
Segundo ele, a Globo não “atira no basso”. Sardenberg tenta provar que a Globo é séria e por isso não publica nenhuma notícia cuja autenticidade não tenha sido intensamente checada antes. O colunista narra um “causo” antigo, de uma notícia escrita com grafia errada (fulano recebeu tiro no “basso”; o certo é “baço”) que havia sido publicada e republicada por vários jornais.
Pois é. A notícia sobre a “delação premiada” de Paulo Roberto Costa está me cheirando exatamente a um “tiro no basso”.
Na sexta-feira, o jornal tascou um manchetão cheio de certeza.
“Ex-diretor da Petrobrás aceita delação premiada”.
Notícia bombástica, não? Naturalmente, foi republicada em centenas de sites na internet.
Eu já escrevi sobre isso ontem, dizendo que a notícia tinha cheiro de factóide, visto que, poucas horas depois de ser publicada, a nova advogada de Costa, Beatriz Catta Preta aparece na mídia negando peremptoriamente qualquer decisão de Costa a respeito. PF e Ministério Público também negaram qualquer acordo.
Ué, então temos aqui uma contradição. Os jornais asseveram que Costa aceitou fazer delação premiada, o advogado Nélio Costa inclusive teria abandonado o caso por discordar da estratégia, e depois a advogada nega que haja qualquer decisão a respeito?
Afinal, ele vai delatar ou não?
Pois bem, abro os jornais hoje, à procura de atualização sobre o assunto, curioso como cidadão e blogueiro.
Na Folha e no Estadão, nada. No Globo, há uma notícia na página 11 dizendo que “Delação premiada de Costa deixa base de Dilma aflita”, mas sem entrar no mérito principal da notícia, ou seja, se Costa realmente fará um acordo de delação premiada.
Ainda na página 11, sem destaque, outra notícia sobre o caso. O título é “Advogada diz que ex-diretor vive momento difícil”.
Tadinho.
Vamos ler a notícia, e descobrimos, escondida no meio da matéria, a informação que buscávamos:
“Na última sexta-feira, ela teve um encontro de aproximadamente 30 minutos com seu cliente, mas nega que já tenha iniciado tratativas sobre delação com o Ministério Público Federal (MPF), primeiro passo de uma eventual opção pelo recurso. Segundo ela, ainda caberá ao seu cliente “bater o martelo” pela delação.
- Ele ainda não está decidido. Esta é uma escolha muito pessoal, muito subjetiva.”
Ué, o jornal não havia asseverado que ele o faria, com certeza, na segunda-feira? A certeza não era tanta que se usou uma manchete garrafal na primeira página? Agora o mesmo jornal, na maior cara de pau, diz que Costa “ainda não está decidido”?
A notícia cheira a um tiro no escuro. Se Costa realmente decidir fazer a delação premiada, beleza, está tudo bem. Se não, esquece e muda de assunto. Para que se importar com detalhes insignificantes, não é? O leitor não irá se lembrar. Logo veremos, porém, que a “não-notícia” serve a um propósito político e eleitoral.
Na capa do site da Globo, por exemplo, aparece a Dilma, associada aos “escândalos da Petrobrás”, com o subtítulo: “Presidenta (…) não comenta sobre Paulo Roberto Costa fazer delação premiada”.
Como é que é? A troco de quê ela falaria de uma coisa que ainda não existe? Não se sabe se ele vai falar ou não, não se sabe o que vai falar, não se sabe se vai falar alguma coisa de consistente. Enfim, qual o sentido em cobrar um comentário de Dilma a esse respeito? É como noticiar que Dilma não comentou nada sobre Zé da Silva se separar de sua esposa, omitindo os seguintes fatos: 1) Zé da Silva ainda não tomou nenhuma decisão; 2) Zé da Silva não é casado; 3) Dilma não conhece nenhum Zé da Silva; 4) Zé da Silva não existe.
Isso é jornalismo?
Ao final de seu artigo, Sardenberg, no afã de agradar seus patrões, encerra com uma frase gloriosa:
“Tudo isso para dizer que aqui no sistema Globo a gente não atira no basso de ninguém, não faz nada escondido e, sobretudo, não usa anônimos para mexer no perfil dos outros.”
Pausa para rir durante algumas semanas.
A Globo vive publicando denúncias não-confirmadas. A história de Costa é apenas o exemplo mais recente. A certeza sobre um fato não parece ter mais tanta importância para o jornalismo da Globo. Basso ou baço, tanto faz, o importante é dar o tiro.
Quanto a “não fazer nada escondido”, bem, a sonegação fiscal flagrada pela Receita foi uma ação bem escondida, não? E continua escondida até hoje. Tanto é que os jornais do grupo nunca informaram seus leitores sobre a estrepolia da empresa nas Ilhas Virgens Britânicas.
Resta saber se a Globo “usa anônimos para mexer no pefil dos outros”. Pois bem, Sardenberg errou de novo. Bastou-me uma pesquisa rápida para descobrir que um dos IPs da TV Globo, o 200.208.25.68, andou remexendo e corrigindo centenas de páginas da Wikipédia.
O IP da TV Globo mexeu no perfil dos jornalistas Fernando Morais eFausto Wolff. E fez acréscimos e correções nos perfis de inúmeros artistas, inclusive não-globais, como Renato Russo. Zico, Rui Castro, Fernando Meirelles, Tim Maia, etc, também tiveram seus perfis no Wikipédia modificados por alguém usando o IP da TV Globo.
A alteração mais interessante é a tentativa de minimizar críticas presentes na página do Beyound Citizen Kane (Muito além do Cidadão Kane), um importante documentário da BBC, a TV pública do Reino Unido, que conta a história de Roberto Marinho e suas alianças com a ditadura.
Sardenberg, Sardenberg. O “basso” da Globo está cheio de tiros.

Dilma com 70% de aprovação no Ceará

Fonte: Tijolaço - 25/08/;2014

A pesquisa foi realizada entre os dias 18 a 20 de julho. Mas o Ibope só liberou o relatório na última sexta-feira.

domingo, 24 de agosto de 2014

PROJETO CLICK HUMANO - "Moradores" de rua, um fenômeno de exclusão capitalista mundial

Entre os arranha-céus de Seul, uma favela não deixa a 

Coreia esquecer o passado

Barracos feitos de madeira, placas de metal e cobertores de lã sintética abrigam milhares de pessoas que não conseguiram se beneficiar do desenvolvimento econômico do país.

Fonte: http://economia.ig.com.br/2012-06-05/guryong-uma-favela-no-coracao-de-seul.html


Uma das áreas mais nobres de Seul, o distrito de Gangnam une duas facetas do fabuloso desenvolvimento econômico pelo qual a Coreia do Sul passou nas últimas três décadas. Nas congestionadas ruas desse bairro repleto de arranha céus, lojas de grifes internacionais e bares com cara de pubs ingleses, jovens coreanos caminham apressados com os olhos colados em smartphones e tablets, sem, sabe-se lá como, esbarrar uns nos outros. As luzes coloridas dos luminosos em neon, as gigantescas telas em alta definição presas nos altos edifícios, os faróis dos carros quase futuristas, tudo reforça a imagem de um país moderno, que caminha no limite do desenvolvimento tecnológico e da pujança econômica.
Mas a menos de cinco quilômetros desse típico cenário asiático do século 21, persistem inalterados os resquícios de um país que até 50 anos atrás era um dos mais pobres do mundo. Escondidos por trás de compridos ciprestes e um longo muro de pedra que margeia uma movimentada avenida, centenas de barracos feitos de placas de metal, pedaços de madeira, papelão e, curiosamente, cobertores de lã, abrigam uma parcela da população coreana que não conseguiu se beneficiar dessa recente expansão econômica. Ao todo moram 2,2 mil pessoas em Guryong , uma típica favela, na melhor acepção da palavra, mesmo para especialistas no assunto, como os brasileiros.
A favela de Guryong ocupa uma área de 58 mil metros quadrados na região mais rica de Seul, onde a cada ano novos empreendimentos bilionários são erguidos para servir de lar para a camada mais alta do país. No complexo de edifícios que faz às vezes de horizonte para os moradores de lá, cada apartamento é avaliado em cerca de US$ 3 milhões. Apesar da proximidade com a opulência sul-coreana  em Guryong há pouco luxo.
Quase todos os barracos são desprovidos de banheiros, poucos têm um sistema de aquecimento eficaz – algo primordial em uma cidade onde a temperatura cai abaixo de zero no inverno – e há pouca urbanização. Os barracos são geminados e as vielas tão estreitas que em muitos casos duas pessoas não conseguem caminhar lado a lado. “É uma vida difícil, muita gente fica doente com facilidade no inverno, não é o que gostaríamos para nossas vidas”, diz Kim-Won Sim, uma das poucas pessoas a quem a reportagem do iG teve acesso para conversar.
Guryong é resultado direto do processo de expansão econômica da Coreia do Sul. Nos meses que antecederam a abertura dos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, o governo deu início a um processo de “limpeza” estética de sua capital. A intenção era mostrar ao mundo como o país saíra da miséria de 30 anos antes para se transformar em um tigre asiático que despontava na esteira do desenvolvimento japonês. Havia também um componente político. Com a guerra fria ainda em curso, era importante fazer propaganda do sucesso da experiência capitalista, em contraste ao fechado comunismo da Coreia do Norte, apoiada pela então União Soviética. Quem era pobre e morava perto dos estádios e ginásios dos Jogos foi desalojado.
Assim, Guryong nasceu como nascem quase todas as favelas do mundo. Sem ter para onde ir, os desalojados invadiram uma área privada no que era então o cinturão verde de Seul. Estão lá há 24 anos e a maior parte dos moradores trabalha catando papelão nas ruas de Seul para abastecer uma usina de reciclagem instalada ao lado da favela. Outros atuam na construção civil e muitos fazem, simplesmente, bicos. A média salarial por família é estimada em cerca de US$ 500 por mês, muito abaixo dos US$ 2,5 mil médio de cada coreano.
Construída sobre fortes pilares liberais, a Coreia do Sul que emergiu nas últimas décadas não lida bem com locais como Guryong. Em uma sociedade onde o sucesso profissional e financeiro tornou-se uma obsessão tão grande ao ponto de a maior parte dos coreanos abdicar das férias a que tem direito para produzir mais, viver em uma favela é sinônimo de fracasso absoluto.
“Isso aqui é uma vergonha para a Coreia e as pessoas que moram aqui sabem disso”, diz Lee Hyun-Moon, um oficial da polícia que controla a entrada e saída de não moradores de Guryong. É difícil encontrar alguém disposto a conversar ali. Quando surge uma câmera as pessoas escondem os rostos ou simplesmente apressam o passo para não serem retratadas. “Não é orgulho para ninguém viver aqui, é vergonhoso”, KimWon-Sim, que também trabalha no centro comunitário da favela.
A pressão por ser bem sucedido nessa Coreia moderna e ocidentalizada faz do país o campeão absoluto de suicídios entre as nações desenvolvidas. Por ano, 28,4 pessoas em cada grupo de 100 mil habitantes tira a própria vida. Entre apenas os homens, esse índice sobe para impressionantes 39 suicídios para cada grupo de 100 mil habitantes. Com 50 milhões de habitantes, a Coréia do Sul vê, anualmente, 14,2 mil pessoas cometerem suicídio. E esse número vem subindo ano a ano, na mesma proporção do desenvolvimento econômico do país.
De acordo com dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE, o índice de suicídios na Coreia do Sul cresceu impressionantes 153% entre 1995 e 2009. Entre os 35 países analisados, só a Coreia e outras quatro nações registraram crescimento no período. No Brasil a taxa de suicídio é de 4,9 mortes por 100 mil habitantes, enquanto a taxa de homicídios está em 26 crimes por 100 mil habitantes. Na prática, é possível afirmar que, proporcionalmente, mais pessoas tiram a própria vida na Coreia do Sul do que são assassinadas no Brasil, ainda um dos países mais violentos do mundo.
Não há levantamento estatístico que mostre o número de suicídios nas favelas coreanas. Mas por conta do passado recente de abusos contra as populações mais pobres na disputa por áreas nobres, especialmente em Seul, há um permanente clima de tensão. A Coreia do Sul vem implantando um controverso programa de reurbanização nas grandes cidades que consiste, basicamente, em desalojar populações de menor renda para dar lugar a empreendimentos de alto padrão.
Recentemente, a Comissão Asiática de Direitos Humanos  fez duras críticas ao governo da Coreia do Sul por conta dessa política. O caso mais célebre é conhecido como “A Tragédia de Yongsan”, quando seis pessoas que protestavam por serem desalojadas de uma espécie de cortiço na região central de Seul, em 2009, foram mortas pelas forças policiais sul coreanas.
Guryong, de certa forma, terá o mesmo destino de Yongsan – sem os casos de violência, espera-se. Os donos dos terrenos onde as duas mil pessoas vivem estão requerendo a área na Justiça. A ideia é construir um empreendimento imobiliário avaliado em US$ 1 bilhão.
A prefeitura de Seul já deixou claro que não há a menor possibilidade de os moradores continuarem ali e vem trabalhando para retirá-los. Instalou no local um posto policial para impedir novas invasões e destruir as casas que forem desocupadas. Dessa vez, garantem as autoridades, os moradores serão realocados de forma digna. Só não está claro para onde elas serão levadas dessa vez.
* O repórter viajou à Coreia do Sul a convite da empresa Hankook Pneus
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Crise aumenta número de moradores de rua na França


Moradores de rua em Paris. Segundo a Fundação Abbé Pierre, 133 mil pessoas estão nessa situação na França.
AFP/Thomas Coex.

A pobreza não para de crescer na França. Um relatório divulgado hoje pela Fundação Abbé Pierre revela sérios problemas no setor da habitação. Pelos cálculos da fundação, 8 milhões de pessoas vivem em condições precárias.

*Colaboração de Lucas Besse para a RFI
A crise econômica que atinge a Europa desde 2008 continua inquietante e quem mais sofre são as famílias mais modestas, que foram atingidas fortemente pelo desemprego e a pobreza. Segundo a fundação Abbé Pierre, 685 mil pessoas não possuem habitação fixa na França. Desse total, 133 mil moram na rua.
As principais vítimas são as mulheres chefes de família, com um emprego de meio período, crianças para cuidar e muitas despesas. Elas ganham um salário na média de 500 euros por mês (R$ 1.400). O aluguel é pago com uma ajuda financeira do governo, mas não é suficiente para cobrir todas as despesas. Prova disso é que a inadimplência de aluguel aumentou e o número de despejos bateu recorde no último ano.
O relatório da fundação estipula duas categorias. Na primeira, com 3,6 milhões de pessoas, estão os “mal instalados” em moradias precárias ou insalubres. Numa segunda categoria, estão pessoas em “situação de fragilidade”. Ou seja, que moram em locais com número excessivo de habitantes e com pagamentos de aluguel atrasados, por exemplo. Pelo menos 91 mil pessoas estão ameaçadas de despejo.
No caso das pessoas que já estão vivendo na rua, a Fundação Abbé Pierre revela que até mesmo nas zonas rurais, que até então haviam sido poupadas desse tipo de problema, crescem as ocorrências de sem-teto. "Os mais frágeis do nosso país têù que estar no centro das políticas públicas", diz comunicado que pede um "choque solidariedade".

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Thomas Piketty e a aposta em um capitalismo humanizado - A DENÚNCIA DAS DESIGUALDADES: NECESSÁRIA, MAS INSUFICIENTE

           Protesto em Nova Iorque, Occupy Wall Street
Me parece que a questão da desigualdade passa obrigatoriamente pela não aceitação do tipo de divisão da riqueza que possuímos. E essa não aceitação passa pela criação de mecanismos efetivos de inserção do Povo nas escolas, não no tipo de escola que perpetue o status quo, mas que quebre de vez com ele, mostrando aos alunos e alunas do Povo como funciona a sociedade e como acontece a produção e a distribuição da riqueza.
É notório que a implantação de um sistema de ensino diferente, voltado à construção de uma sociedade diferente nesse tipo de organização econômica e social que possuímos terá grandes dificuldades de implementação; vivemos numa sociedade de classes com interesses muito diferentes, onde, entre outras coisas, temos uma rede de mídias grandes e pequenas envolvidas seriamente em um esquema para manter a sociedade como está, além de igrejas, pastores, padres, religiosos, associações, ONGs...a maioria atrapalha mais que ajuda.
Grande parte de professores e professoras já trabalham em suas aulas e disciplinas formatos de aulas e metodologias libertadoras, mas a grande maioria ainda não ou nem conhece, ou sabem que existem.
Os professores e professoras que trabalham com as metologias libertadoras o fazem por convicção própria, as escolas, principalmente as particulares ou mesmo públicas com direção à direita ou conservadora, nem chegam a discutir tal tema em suas coordenações e as secretarias ficam, muitas vezes, apenas no debate de textos e autores.
A entrada de milhões de brasileiros e brasileiras do Povo em escolas e universidades com a ascensão de um governo mais a esquerda no Brasil de 2002 para cá significou muito e é preciso continuar, mas, infelizmente não responde o formato mais agudo e imprescindível que precisamos implantar. Esse modelo passa por um aprofundamento da participação mais consciente de trabalhadores e trabalhadoras no processo de escolha e de decisão política e administrativa do Brasil.
Afinal somos maioria, as elites, o próprio nome já diz, são minoria. Esse modelo de desenvolvimento que vem desde a Revolução Francesa (1789) não funcionou para as maiorias, ao contrário vem produzindo milhões de miseráveis e excluídos. Não funcionou também, no sentido de dar estabilidade e futuro ao Planeta Terra. As riquezas estão sendo exploradas cada dia mais para enriquecer os já ricos. Enquanto isso forma-se uma classe de consumidores que vivem como gado, consomem, mas não sabem quem produziu, como produziu e, muitos não sabem nem por que comprou/consumiu. Somos bois e vacas atrás de uma ilusão...não sei nem qual ilusão, me digam.

por José Gilbert A. Martins (Professor)

Extraído de Le Monde Diplomatique Brasil dia 24/08/2014

A julgar pelo imenso sucesso nos Estados Unidos, o último livro de Thomas Piketty caiu como uma luva. Tomando de empréstimo o título de Marx, ele detalha o avanço das desigualdades no Ocidente. Contudo, enquanto Marx esperava uma revolução para transformar o mundo, Piketty sugere imposto global para reformar o capital
por Russell Jacoby

A obra Le capital au XXIe siècle [O capital no século XXI], de Thomas Piketty, é um fenômeno tanto sociológico como intelectual. Ela cristaliza o espírito de nossa época, assim como, em seu tempo, The closing of the American mind [O fechamento da mente norte-americana], de Allan Bloom.1 Este livro, que denunciava os estudos sobre as mulheres, os gêneros e as minorias nas universidades norte-americanas, opunha a “mediocridade” do relativismo cultural à “busca pela excelência”, associada, na mente de Bloom, aos clássicos gregos e romanos. Ainda que tenha tido poucos leitores (era particularmente pomposo), ele alimentou o sentimento de uma destruição do sistema educacional norte-americano, até da própria América, na falta dos progressistas e da esquerda. Esse sentimento não perdeu nada de sua força, e O capital no século XXIinscreve-se no mesmo campo de forças, exceto pelos fatos de que Piketty vem da esquerda e que o enfrentamento deslocou-se da educação para o campo econômico. Dentro do sistema educacional, porém, o debate centra-se agora, em grande parte, sobre questões econômicas e barreiras capazes de explicar a desigualdade.
A obra traduz um mal-estar palpável: a sociedade norte-americana, assim como as outras pelo mundo inteiro, é cada vez mais iníqua. As desigualdades agravam-se e pressagiam um futuro sombrio. O capital no século XXIdeveria chamar A desigualdade no século XXI.
É inútil criticar Piketty por não cumprir objetivos que não eram os seus, mas também não podemos nos contentar em lhe render louros. Muitos comentaristas têm se concentrado em sua relação com Karl Marx, ao que ele lhe deve ao pensador alemão, a suas infidelidades; quando seria preciso, antes de mais nada, questionar de que modo o livro lança luz sobre nossa miséria atual. Ao mesmo tempo, no que diz respeito à preocupação com a igualdade, não é inútil voltar a Marx. Aproximando-se os dois autores, há de fato uma divergência: ambos contestam as disparidades econômicas, mas em direções opostas. Piketty inscreveu suas observações no campo dos salários, da renda e da riqueza: ele deseja erradicar as desigualdades extremas oferecendo – para pastichar o lema da funesta Primavera de Praga – um “capitalismo de rosto humano”. Já Marx se coloca no campo da mercadoria, do trabalho e da alienação: ele pretende abolir essas relações e transformar a sociedade.
Piketty tece uma acusação implacável contra a desigualdade: “Já é tempo”, escreve em sua introdução, “de recolocar a questão da desigualdade no centro da análise econômica” (p.38). Ele adota como epígrafe a segunda frase da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789: “As distinções sociais só podem fundar-se no bem comum”. (Poderíamos nos perguntar por que um livro tão prolixo deixa de lado a primeira frase: “Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”.) Apoiando-se numa profusão de números e tabelas, ele demonstra que as desigualdades econômicas aumentam e que os mais afortunados concentram uma parte cada vez maior da riqueza. Houve quem tentasse contestar suas estatísticas, mas ele reduziu a pó as acusações.2
O autor bate forte e justo quando trata da exacerbação das desigualdades que desfiguram a sociedade, em particular a norte-americana. Ele observa, por exemplo, que a educação deveria ser igualmente acessível a todos e promover a mobilidade social. No entanto, “o rendimento médio dos pais de alunos de Harvard é de cerca de US$ 450 mil” ao ano, o que os coloca entre os 2% das famílias norte-americanas mais ricas. E conclui seu argumento com este eufemismo característico: “O contraste entre o discurso meritocrático oficial e a realidade parece aqui particularmente extremo” (p.778).
Para alguns, à esquerda, não há nada de novo. Para outros, cansados de ouvir o tempo todo que é impossível aumentar o salário mínimo, que não se devem taxar os “criadores de empregos” e que a sociedade norte-americana continua sendo a mais aberta do mundo, Piketty representa um aliado providencial. Segundo um relatório (não citado no livro), os 25 gestores de fundos de investimentos mais bem pagos ganharam, em 2013, US$ 21 bilhões, mais que o dobro da soma dos rendimentos de cerca de 150 mil professores primários nos Estados Unidos. Se a compensação financeira corresponde ao valor social, então um gestor de hedge funddeve valer bem uns 17 mil professores... Nem todos os pais (e professores) devem concordar com isso.
Contudo, a fixação exclusiva de Piketty na desigualdade apresenta limites teóricos e políticos. Da Revolução Francesa ao movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, passando pelo cartismo,3 pela abolição da escravatura e pelo sufrágio universal, a aspiração à igualdade já suscitou inúmeros movimentos políticos. Em uma enciclopédia das contestações, o artigo dedicado a ela certamente ocuparia centenas de páginas, remetendo a todas as outras entradas. Ela teve, e continua tendo, um papel positivo essencial. Em tempos recentes, o movimento Occupy Wall Street e a mobilização pelo casamento gay são prova disso. Longe de desaparecer, a reivindicação ganhou novo fôlego.
O igualitarismo, porém, também implica uma parte de resignação: ele aceita a sociedade tal como é, visando apenas a reequilibrar a distribuição de bens e privilégios. Os gays querem o direito de se casar assim como os heterossexuais. Muito bem, mas isso não afeta em nada a instituição imperfeita do matrimônio, que a sociedade não pode abandonar nem melhorar. Em 1931, o historiador britânico de esquerda Richard Henry Tawney já destacava esses limites, em um livro que, aliás, também defendia o igualitarismo.4 O movimento operário, escreveu, acredita na possibilidade de uma sociedade que dá mais valor às pessoas e menos ao dinheiro, mas essa abordagem tem seus limites: “Ao mesmo tempo, ela não aspira a uma ordem social diferente, na qual o dinheiro e o poder econômico não sejam mais o critério do sucesso, mas a uma ordem social do mesmo tipo, na qual o dinheiro e o poder econômico sejam distribuídos de modo um pouco diferente”. Aí está o centro do problema. Dar a todos o direito de poluir é um avanço para a igualdade, mas não para o planeta.

Evitar que se pague muito aos universitários
Marx não dá nenhum espaço à igualdade. Não apenas ele jamais considerou que os salários dos trabalhadores pudessem aumentar de maneira significativa, mas também, ainda que isso acontecesse, em sua opinião, a questão não era essa. O capital impõe os parâmetros, o ritmo e a própria definição do trabalho, do que é rentável e do que não é. Mesmo em um sistema capitalista revestido por formas “confortáveis e liberais”, no qual o trabalhador possa viver melhor e consumir mais porque recebe um salário maior, a situação não é fundamentalmente diferente. O fato de o trabalhador ser mais bem remunerado não muda em nada sua dependência; “melhorar o vestuário, a alimentação, o tratamento e aumentar seu peculiumnão abole a relação de dependência e a exploração do escravo”. Um aumento de salário significa, no máximo, que “o tamanho e o peso dos grilhões de ouro que o empregado forjou para si permitem que eles o apertem um pouco menos”.5
Sempre se pode objetar que essas críticas datam do século XIX, mas Marx teve pelo menos o mérito de se concentrar na estrutura do trabalho, enquanto Piketty não disse uma palavra a esse respeito. Não se trata de saber qual deles está certo sobre o funcionamento do capitalismo, mas de apreender o vetor de suas respectivas análises: a distribuição para Piketty, a produção para Marx. O primeiro quer redistribuir os frutos do capitalismo, a fim de reduzir o fosso entre os rendimentos mais altos e os mais baixos, enquanto o segundo quer transformar o capitalismo e colocar um fim em seu domínio.
Desde a juventude, Marx documentou a miséria dos trabalhadores; ele dedicou centenas de páginas de O capital à jornada de trabalho padrão e às críticas que ela despertou. Também sobre isso Piketty não tem nada a dizer, embora evoque uma greve no início de seu primeiro capítulo. No índice da edição inglesa, na entrada “Trabalho”, lemos: “Ver ‘divisão capital-trabalho’”. Isso é compreensível, já que o autor não está interessado no trabalho propriamente dito, mas nas desigualdades resultantes dessa divisão.
Em Piketty, o trabalho resume-se principalmente ao montante de rendimento. Os surtos de cólera que afloram de vez em quando sob sua pena concernem aos ricos. Ele observa, por exemplo, que a fortuna de Liliane Bettencourt, herdeira da L’Oréal, passou de US$ 4 bilhões para US$ 30 bilhões entre 1990 e 2010: “Liliane Bettencourt nunca trabalhou, mas isso não impediu que sua fortuna aumentasse exatamente com a mesma rapidez da de Bill Gates”. Esse enfoque sobre os mais ricos corresponde bem à sensibilidade do nosso tempo, enquanto Marx, com suas descrições do trabalho de padeiros, lavadeiras e tintureiros pagos por dia, pertence ao passado. A manufatura e a montagem desapareceram dos países capitalistas avançados e prosperam nos países em desenvolvimento, de Bangladesh à República Dominicana. Entretanto, não é porque um argumento é antigo que ele é obsoleto, e Marx, concentrando-se no trabalho, destacava uma dimensão quase ausente de O capital no século XXI.
Piketty documenta a “explosão” da desigualdade, especialmente nos Estados Unidos, e denuncia os economistas ortodoxos, que justificam as enormes diferenças de remuneração pelas forças racionais do mercado. Ele zomba de seus colegas norte-americanos, que “tendem frequentemente a considerar que a economia dos Estados Unidos funciona muito bem e, particularmente, que ela recompensa o talento e o mérito com justiça e precisão” (p.468). Isso, porém, não é de espantar, acrescenta, uma vez que tais economistas estão entre os 10% mais ricos. Como o mundo das finanças, ao qual lhes ocorre oferecer seus serviços, puxa seus salários para cima, eles manifestam uma “vergonhosa tendência a defender seus interesses particulares, dissimulando-os atrás de uma improvável defesa do interesse geral” (p.834).
Para dar um exemplo que não está no trabalho de Piketty, um artigo recente publicado na revista da Associação Americana de Economia6 pretende demonstrar, apoiado em números, que as grandes desigualdades decorrem de realidades econômicas. “Os maiores rendimentos têm talentos raros e únicos que lhes permitem negociar a preço alto o valor crescente de seu talento”, conclui um dos autores, Steven N. Kaplan, professor de Empreendedorismo e Finanças da Escola de Negócios da Universidade de Chicago. Visivelmente, Kaplan tenta puxar a sardinha para seu lado: uma nota de rodapé nos informa que ele “participa do conselho de administração de diversos fundos comuns de investimento” e que foi “consultor de empresas de private equity e capital de risco”. Eis o ensino humanista do século XXI! Piketty explica no início de seu livro que perdeu as ilusões sobre os economistas norte-americanos do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e que os economistas das universidades francesas têm a “grande vantagem” de não serem nem altamente considerados nem muito bem pagos: o que lhes permite manter os pés no chão.
A contraexplicação que ele oferece, no entanto, é no mínimo banal: as enormes diferenças salariais decorrem de tecnologia, educação e costumes. As remunerações “extravagantes” dos “superexecutivos”, “poderoso mecanismo” de aumento da desigualdade econômica, particularmente nos Estados Unidos, não podem ser explicadas pela “lógica racional da produtividade” (p.530-531). Elas refletem as normas sociais atuais, que por sua vez revelam políticas conservadoras que reduziram a tributação sobre os mais ricos. Os chefes de grandes empresas concedem-se salários enormes porque têm a oportunidade e porque a sociedade julga essa prática aceitável, pelo menos nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Marx oferece uma análise muito diferente. Ele se preocupa menos em provar as desigualdades econômicas abissais do que em descobrir as raízes da acumulação capitalista. Piketty explica que essas desigualdades devem-se à “contradição central do capitalismo”: a disjunção entre a taxa de rendimento do capital e a taxa de crescimento econômico. Como a primeira tem necessariamente precedência sobre a segunda, favorecendo a riqueza existente em detrimento do trabalho existente, isso conduz a “terríveis” desigualdades na distribuição da riqueza. Marx talvez concordasse sobre esse ponto, mas, novamente, ele está interessado no trabalho, que considera o local de origem e desenvolvimento da desigualdade. Segundo ele, a acumulação de capital produz, necessariamente, o desemprego, parcial, ocasional ou permanente. Todavia, essas questões, cuja importância dificilmente se poderia negar no mundo de hoje, estão ausentes do trabalho de Piketty.
Marx parte de uma proposta totalmente diferente: é o trabalho que cria riqueza. A ideia pode parecer fora de moda, no entanto, ela assinala uma tensão não resolvida do capitalismo: este precisa da força de trabalho e, ao mesmo tempo, tenta livrar-se dela. Quanto mais os trabalhadores são necessários à sua expansão, mais ele se livra deles a fim de reduzir os custos, por exemplo, automatizando a produção. Marx estudou longamente o modo como o capitalismo gera uma “população trabalhadora excedente relativa”.7 Esse processo assume duas formas fundamentais: ou se demitem trabalhadores, ou se deixa de incorporar novos. Em consequência, o capitalismo fabrica trabalhadores “descartáveis” ou um exército de reserva de desempregados. Quanto mais o capital e a riqueza aumentam, mais o subemprego e o desemprego avançam.
Centenas de economistas tentaram corrigir ou refutar essas análises, mas a ideia de um aumento da força de trabalho excedente parece verdadeira: do Egito a El Salvador e da Europa aos Estados Unidos, a maioria dos países passa por níveis elevados ou críticos de subemprego ou desemprego. Em outras palavras, a produtividade capitalista eclipsa o consumo capitalista. Não importa quão perdulários sejam, os 25 gestores de hedge fundsjamais poderão consumir seus US$ 21 bilhões de remuneração. O capitalismo sobrecarrega-se com aquilo que Marx chama de os “monstros” da “superprodução, superpopulação e superconsumo”. Sozinha, a China certamente é capaz de produzir mercadorias suficientes para abastecer os mercados da Europa, África e América. Mas o que será da força de trabalho no resto do mundo? As exportações chinesas de têxteis e móveis para a África subsaariana resultam numa redução no número de postos de trabalho para os africanos.8 Do ponto de vista do capitalismo, temos um exército em expansão, composto por trabalhadores subempregados e desempregados permanentes, encarnações das desigualdades contemporâneas.
Como Marx e Piketty vão em direções diferentes, é lógico que proponham soluções diferentes. Piketty, ansioso em reduzir as desigualdades e melhorar a distribuição, propõe um imposto global e progressivo sobre o capital, a fim de “evitar uma divergência ilimitada da desigualdade patrimonial”. Embora, como reconhece, essa ideia seja “utópica”, ele a considera útil e necessária: “Muitos rejeitarão o imposto sobre o capital como uma perigosa ilusão, da mesma forma como o imposto sobre a renda foi rejeitado há pouco mais de um século” (p.840). Já Marx não propõe realmente nenhuma solução: o penúltimo capítulo de O capital refere-se às “forças” e “paixões” que nascem para transformar o capitalismo. A classe trabalhadora inauguraria uma nova era, na qual reinariam “a cooperação e a propriedade comum da terra e dos meios de produção”.9 Em 2014, essa proposta também é utópica – ou até redibitória, dependendo de como se interpreta a experiência soviética.
Não é preciso escolher entre Piketty e Marx. Para falar como o primeiro, trata-se de esclarecer suas diferenças. O utopismo de Piketty – e esse é um de seus pontos fortes – consiste numa dimensão prática, na medida em que ele fala a linguagem familiar dos impostos e da regulação. Ele espera uma cooperação mundial, e até um governo mundial, para pôr em prática um imposto também mundial que evitaria uma “espiral infinita de desigualdade” (p.835). Ele propõe uma solução concreta: um capitalismo à sueca, que enfrentou seus desafios eliminando as disparidades econômicas extremas. Ele não trata da força de trabalho excedente, do trabalho alienado e da sociedade movida pelo dinheiro e pelo lucro; ao contrário, aceita-os e quer que façamos o mesmo. Em troca, dá-nos algo que já conhecemos: o capitalismo, com todas as suas vantagens e menos inconvenientes.

Os grilhões de ouro e as flores vivas
No fundo, Piketty é um economista muito mais convencional do que ele mesmo pensa. Seu elemento natural são as estatísticas sobre níveis de rendimentos, os projetos de tributação, as comissões encarregadas desses assuntos. Suas recomendações para reduzir as desigualdades resumem-se a políticas fiscais impostas de cima para baixo. Ele mostra-se perfeitamente indiferente aos movimentos sociais, que já foram capazes de questionar a desigualdade e poderiam voltar a fazê-lo. Ele parece, aliás, mais preocupado com o fracasso do Estado em reduzir a desigualdade do que com a desigualdade propriamente dita. E, embora convoque com frequência e com pertinência, romancistas do século XIX, como Honoré de Balzac e Jane Austen, sua definição do capital permanece demasiado econômica e redutora. Ele não leva em conta o capital social, os recursos culturais e o know-how acumulado com os quais podem contar os mais afortunados e que facilitam o sucesso de sua prole. Um capital social limitado condena tanto à exclusão como uma conta bancária vazia, mas sobre esse assunto Piketty também não tem nada a dizer.
Marx nos dá ao mesmo tempo mais e menos do que isso. Seu questionamento, embora mais profundo e amplo, não oferece nenhuma solução prática. Poderíamos qualificá-lo de utópico antiutópico. No posfácio à segunda edição alemã de O capital, ele zomba daqueles que tentam escrever “receitas para as cozinhas do futuro”.10 E, ainda que uma certa visão a respeito possa ser apreendida de seus escritos econômicos, ela não tem grandes relações com o igualitarismo. Marx sempre combateu a igualdade primitivista, que decreta a pobreza para todos e a “mediocridade geral”.11 Embora reconheça a capacidade do capitalismo para produzir riqueza, ele rejeita seu caráter antagônico, que subordina o conjunto do trabalho – e da sociedade – à busca pelo lucro. Mais igualitarismo só faria democratizar esse mal.
Marx sabia da força dos “grilhões de ouro”, mas considerava possível quebrá-los. O que aconteceria se chegássemos a isso? Impossível dizer. A melhor resposta que Marx nos ofereceu talvez esteja em um texto de juventude no qual ele ataca a religião e, já então, os grilhões cobertos por “flores imaginárias”: “A crítica destrói as flores imaginárias que adornam os grilhões não para que o homem carregue seus grilhões sem sonhos e sem consolo, mas para que se livre dos grilhões e colha as flores vivas”.12 

Russell Jacoby
Russell Jacoby é professor de História da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Autor de The last intellectuals [Os últimos intelectuais] (1987), The end of utopia [O fim da utopia] (1999) e, mais recentemente, Les ressorts de la violence. Peur de l’autre ou peur du semblable?[As molas da violência. Medo do outro ou medo do semelhante?], Belfond, Paris, 2014.


Ilustração: David Shankbone/CC

1  Allan Bloom, The closing of the American mind, Simon & Schuster, Nova York, 1987. Essa obsessão conservadora de uma decadência da educação foi sistematizada na França pelo ensaísta Alain Finkielkraut.
2  Chris Giles, “Data problems with Capital in the 21st century” [Problemas nos dados de O capital no século XXI], Financial Times, Londres, 23 maio 2014, e a resposta de Thomas Piketty, “Technical appendix of the book – Response to FT” [Apêndice técnico do livro – Resposta ao FT], 28 maio 2014. Disponível em: .
3  Movimento político operário do meio do século XIX, no Reino Unido.
4  Richard Henry Tawney, Equality[Igualdade], Allen & Unwin, Londres, 1952.
5  Karl Marx, Le capital. Livre I [O capital. Livro I], tradução francesa dirigida por Jean-Pierre Lefebvre, Presses Universitaires de France, Paris, 1993, p.693.
6  Steven N. Kaplan e Joshua Rauh, “It’s the market: the broad-based rise in the return to top talent” [É o mercado: o crescimento de base ampla no retorno dos melhores talentos], Journal of Economic Perspectives, v.27, n.3, Nashville, 2013.
7  Ibidem.
8  Raphael Kaplinsky “What does the rise of China do for industrialization in Sub-Saharan Africa?” [O que o crescimento da China faz com a industrialização da África subsaariana?],Review of African Political Economy, v.35, n.115, Swine (Reino Unido), 2008.
9  Karl Marx, op. cit., p.855-857.

10  Ibidem, p.15.

11  Ibidem, p.854.
04 de Agosto de 2014
Palavras chave: ThomasPikettydesigualdadecapitalismoO Capital no século XXIO Capital no século 21,KarlMarxmarxismoeconomia

sábado, 23 de agosto de 2014

Metrô-SP: a Grande Quadrilha

Como grandes empresas fraudaram licitações, elevando preços, redefinindo projetos e bloqueando tecnologia nacional. Por que governos paulistas foram cúmplices
por Téia Magalhães, do Retrato do Brasil
Os objetivos dos governos e dos cartéis são, em princípio, opostos: o poder público se esforça para comprar sempre pelo menor preço bens e serviços com determinadas especificações de qualidade e o cartel, ao contrário, quer vendê-los por preços superiores aos que cada empresa individualmente proporia se houvesse concorrência real. Para combater a ação dos cartéis, os governos criam órgãos de defesa da concorrência e criminalizam os conluios entre empresas independentes que se articulam com o objetivo de reduzir a concorrência em determinado setor. A cartelização é um fenômeno das economias capitalistas desde o final do século XIX e seu combate, apesar dos esforços dos Estados, é frequentemente frustrante.
Por aqui, o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, formado pela Secretaria de Direito Econômico e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ligados ao Ministério da Justiça, e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico, vinculada ao Ministério da Fazenda, é o encarregado desse combate. Em maio do ano passado, o Cade ganhou destaque no noticiário graças ao acordo de leniência firmado com a Siemens AG, alemã, a Siemens Ltda, sua subsidiária brasileira, e seis ex-diretores da empresa. Todos admitiram ter participado de um cartel e apresentaram evidências de acordos feitos entre as empresas da área de trens urbanos e metrôs para burlar a concorrência.
Acordo de leniência é um instrumento legal, equivalente à delação premiada, instituído na área criminal, por meio do qual o delator de um crime do qual participou tem sua pena atenuada por ter ajudado nas investigações. O acordo celebrado com o Cade é acompanhado de uma descrição dos fatos, modo de operação do cartel e seus participantes e de apensos, os quais detalham seis licitações: implantação da linha 5 do Metrô de São Paulo; manutenção de três séries de trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM); manutenção e assistência técnica ao Metrô do Distrito Federal (DF); ampliação da linha 2 do Metrô de São Paulo; implantação do Projeto Boa Viagem, de modernização de trens da CPTM; e aquisição de 320 carros para trens da CPTM. Os fatos narrados teriam ocorrido entre 1998 e 2008, envolvendo os governos de Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, em São Paulo, e de Joaquim Roriz, Maria Abadia e José Roberto Arruda, no DF.
Os indícios de formação do cartel são encontrados em negociações realizadas entre dezesseis companhias, nacionais e internacionais, para combinar resultados de licitações conduzidas por empresas públicas para fornecimento de trens ou serviços. Os contratos são divididos entre as empresas fornecedoras por meio da formação de consórcios e subcontratações e de ofertas de preços mais altos, chamados “de cobertura”, de maneira a elevar o valor do conjunto das ofertas além do que seria obtido se houvesse verdadeira concorrência entre os participantes. Nesses casos, as “perdedoras” acabam sendo recompensadas mais adiante com vitórias em outras licitações, quando empresas vitoriosas numa situação invertem suas posições e oferecem preços “de cobertura”.
Nas seis licitações mencionadas no acordo de leniência há conluios entre as empresas para elevar os preços de fornecimento de bens e serviços. Foi o que aconteceu, por exemplo, na implantação da linha 5 do Metrô paulistano, cuja licitação foi conduzida na época (entre 1999 e 2000) pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM): havia sete qualificados na fase inicial, a maioria dos quais agrupou-se no consórcio Sistrem, vencedor da licitação, que subcontratou duas das três empresas do consórcio derrotado.
Há diversas pistas das negociações entre as empresas numa espécie de diário com anotações sobre os acertos, entregue pela Siemens ao Cade, no qual há relatos da hipótese, depois abandonada, da entrega por dois consórcios formados na fase da pré-qualificação de “propostas perdedoras”. Essa licitação foi ganha por cerca de US$ 1,785 milhão por carro, conforme documento encontrado em computador da empresa alemã. “Deve-se lembrar que o preço foi resultado de diversas rodadas de coordenação e negociações. O preço dificilmente seria o mesmo em uma competição aberta”, diz o texto, de 2003. E numa apresentação, encontrada entre os documentos, há o comentário: “O projeto Linha 5 é o último de ganho certo. O fornecimento dos carros é organizado em um consórcio ‘político’, então o preço é muito alto”.
Outro exemplo está no e-mail de funcionário da Siemens enviado a dois funcionários da japonesa Mitsui, com simulações feitas sobre duas diferentes possibilidades de entrar na disputa da licitação da reforma de três séries de trens da CPTM. Uma das hipóteses prevê acordo e “preço (quase) cheio”, com desconto baixo sobre o preço estimado pelo edital. A outra não prevê acordo, “beirando o preço mínimo permitido”. A diferença entre as duas – uma com acerto entre as empresas e a outra, com concorrência entre elas – seria de 30%. O sobrepreço pago pelas empresas públicas devido à prática do cartel tem sido estimado em mais de 400 milhões de reais.
Outra prática comum revelada pelos documentos é a divisão dos contratos entre os integrantes do cartel. Como teria ocorrido em relação à manutenção dos trens da CPTM Séries 2000, 3000 e 2100: as empresas acertaram quais seriam as vencedoras em cada série e quais seriam as subcontratadas. Como o ganhador da primeira foi o Consórcio Cobraman (composto pela francesa Alstom, pela canadense Bombardier e pela espanhola CAF), a Siemens deveria vencer a Série 3000 e Alstom, CAF, Bombardier, a espanhola Temoinsa e Mitsui ficariam com a Série 2100. Quando o Cobraman pretendeu dividir a Série 3000 com a Siemens, a empresa alemã informou às demais companhias que apresentaria proposta competitiva para a Série 2100, o que provocou o recuo do consórcio. A Siemens acabou vencedora isolada da Série 3000, cuja licitação recebeu propostas “de cobertura” das demais empresas. A Série 2100 foi contratada com o consórcio Consmac (Alstom e CAF), que subcontratou as outras três – Bombardier, Temoinsa e Mitsui – como fornecedoras.
Foi objeto de repartição ainda maior o Projeto Boa Viagem, dividido em quatro licitações, duas das quais subdivididas em lotes, o que permitiu que todas as empresas que participaram das negociações fossem contempladas com um lote ou subcontratadas. Alstom, Bombardier, Siemens, Temoinsa, e as brasileiras Iesa MGE T’Trans, Tejofran e MPE, chamadas nos e-mails de “grupo”, iniciaram as negociações antes mesmo do início da etapa de pré-qualificação. Mensagens eletrônicas relatam providências para manter afastadas as empresas que não pertencem ao “grupo”.
Esse caso evidencia como a própria administração pública favorece a cartelização, ao contratar serviços e obras em lotes. A contratação de grandes obras em uma única licitação foi muito criticada no passado pelo fato de facilitar o direcionamento dos editais para uma ou pouquíssimas empresas com capacidades técnica, operacional e financeira de assumi-las. Passou-se a adotar, então, a divisão em lotes, para facilitar a participação de empresas menores e, dessa forma, aumentar a concorrência. Mas parece que o tiro saiu pela culatra e os lotes acabaram facilitando a acomodação dos cartéis, ao menos nos casos descritos pela documentação entregue pela Siemens.
A administração pública também pode influenciar as licitações para favorecer determinada empresa ou grupo de empresas por meio das especificações técnicas dos editais. É o que parecem indicar e-mails internos da Siemens sobre a futura licitação de extensão de uma linha da CPTM; um dos dirigentes da empresa afirma: “A CPTM gostaria muito se a Siemens participasse com seus veículos e/ou tecnologia de equipamentos. (…) Fomos convidados a manter conversas mais detalhadas com os especialistas da CPTM a fim de ‘melhorar’ [sic] as especificações técnicas com nossa tecnologia”. Ou ainda: “[Estamos] atuando junto à CPTM e ao Metrô de São Paulo para que tenha origem neste setor uma participação importante para a Siemens (por exemplo, equipamentos completos de tração)”.
As denúncias da Siemens revelam também que entre as empresas formadoras de um cartel há interesses divergentes. A última das licitações mencionadas pela companhia no acordo com o Cade, pela ordem cronológica, é para o fornecimento de três carros para a CPTM entre 2007 e 2009. Segundo relatos da Siemens, haveria uma segunda licitação em seguida, para fornecimento de 64 carros, levando a uma combinação entre Siemens e Alstom. A empresa francesa ficaria com o contrato inicial, associada à sul-coreana Hyundai-Rotem, e subcontrataria a companhia alemã, enquanto esta ficaria com o fornecimento dos 64 carros seguintes, associada à Mitsui, subcontratando a Alstom. As negociações, entretanto, foram comprometidas pela decisão da CAF de apresentar oferta com preços mais baixos.
A Siemens tentou negociar com a companhia espanhola no final de março de 2008, mas a CAF queria a entrega de trens completos, enquanto a empresa alemã queria fornecer apenas componentes (tração e chassis). Em contrapartida, a Hyundai-Rotem, que estava associada à Alstom, começou a negociar com a Siemens, para, juntas, tentarem desqualificar a CAF, que segundo a sul-coreana, não teria cumprido exigências do Banco Mundial, que financiou o projeto. A Siemens foi à Justiça e perdeu. E a CAF acabou contratada em 2009. E a segunda etapa, com os 64 carros, também foi ganha pela CAF.
Esses arranjos teriam sido facilitados pela fragilidade dos processos de licitação. Pelo menos é o que conclui o Grupo Externo de Acompanhamento (GEA), criado em agosto pelo governo paulista, composto por representantes de doze entidades da sociedade civil para supervisionar investigações sobre as denúncias que envolviam duas das empresas estatais do estado. Em dezembro, o GEA divulgou uma análise dos processos licitatórios adotados pela CPTM e pelo Metrô, a partir de informações solicitadas às duas companhias. De acordo com o grupo, o procedimento usado pela CPTM até 2008 incluía a aplicação de correção monetária sobre preços de aquisição atingidos em licitações anteriores. A partir de 2008, por recomendação do Tribunal de Contas do Estado (TCE), a empresa passou a fazer cotação de preços – mas por meio de consultas às companhias que participam desse mercado no Brasil, sem buscar informações no exterior, ficando dependente dos próprios interessados na licitação. O mesmo procedimento de consulta de preços foi informado pelo Metrô. O GEA concluiu, então, que essas práticas tornaram as duas empresas estatais paulistas vulneráveis.
A investigação sobre a existência de um cartel no setor metroferroviário feita pelo Cade não trata de corrupção, uma vez que não é esse o papel do órgão. Mas informações obtidas por outras denúncias estão sendo investigadas pela Polícia Federal (PF) em São Paulo, e se embaralharam com as informações fornecidas pela Siemens ao Cade. As fragilidades da administração pública diante do cartel metroferroviário e a persistente prática de fazer vista grossa dos sucessivos governos frente às evidências de que as empresas dividem os contratos entre si formam um caldo de cultura propício ao desenvolvimento da corrupção. Algo que, pelo menos as duas principais empresas que atuam no Brasil – Siemens e Alstom – admitiram praticar no exterior.
De acordo com informações publicadas pelo diário O Estado de S. Paulo no final de novembro, documento atribuído a Everton Rheinheimer – ex-diretor da Siemens e um dos que firmaram o acordo de leniência –, encaminhado à PF, menciona os nomes de secretários do governo Alckmin, de dirigentes do PSDB e do DEM, de um senador tucano e de um deputado federal do PPS como envolvidos com a Procint, empresa de consultoria suspeita de intermediar propinas pagas pelo cartel. Rheinheimer afirma dispor de documentos “que provam a existência de um forte esquema de corrupção no estado de São Paulo durante os governos Covas, Alckmin e Serra, e que tinha como objetivo principal o abastecimento do ‘Caixa 2′ do PSDB e do DEM”. A PF, que investiga o caso, encaminhou o inquérito à Justiça Federal, que o enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) ao se deparar com o suposto envolvimento de parlamentares, que têm foro privilegiado.
A atração pelas denúncias de corrupção trouxe para a cena outra investigação da PF sobre uma empresa que faria parte do cartel – a Alstom. Os pagamentos não se referem ao cartel dos trens, mas a negociações realizadas sob o abrigo do projeto Gisel II–Grupo Industrial para o Sistema Eletropaulo, realizado por meio de acordo de cooperação técnica entre Brasil e França, que teria sido assinado em 1983, mas originalmente sem o “II”. Tal tipo de acordo era comum entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980 e destinava-se a “rolar” a dívida externa, por meio de empréstimos externos destinados a centenas de projetos de infraestrutura. Parte dos recursos era destinada à fabricação de equipamentos no exterior e o restante às obras civis realizadas aqui, as quais não eram realizadas porque os recursos destinados a elas pagavam os juros e as amortizações de projetos anteriores. Foram centenas, que ficaram em grande parte inacabados por anos.
Em meados de 1994, discutiu-se o aditivo 10 ao acordo com a França, o qual, tudo indica, era uma segunda etapa destinada ao fornecimento de subestações elétricas para dar suporte à ampliação de linhas do Metrô paulistano. Essa pode ter sido a porta de entrada da Alstom no setor metroviário.
As denúncias sobre pagamento de propinas pela Alstom chegaram ao Brasil em 2008, por meio de informações enviadas pelo Ministério Público da Suíça, em consequência de investigações realizadas lá em contas que receberam depósitos da Alstom, o que levou a contas cujos titulares eram brasileiros. As investigações prosseguiram e a PF indiciou onze pessoas, entre elas um ex-secretário de Energia no governo Covas, ex-diretores da EPTE (empresa resultante do desmembramento da Eletropaulo para privatização, que atuava na distribuição de energia, com quem foi firmado o aditivo 10 do Gisel), diretores franceses da Alstom e lobistas brasileiros. Aparentemente, meses depois, a PF começou a investigar outra denúncia de propinas pagas pela Alstom e esbarrou em consultorias, que teriam feito pagamentos vultosos a outras empresas do ramo, as quais pertenceriam a dois ex-diretores e a um ex-presidente da CPTM. A Justiça Federal em São Paulo bloqueou diversas contas, num total de 57 milhões de reais. Em sua sentença, o juiz se refere ao fato de duas empresas de consultoria acusadas de fazerem a intermediação no pagamento das propinas terem recebido do consórcio Sistrem mais de 18 milhões reais.
Esses escândalos de corrupção envolvendo altos funcionários de governos, como em outros casos, desviam a atenção de questões de fundo reveladas pelas denúncias. Uma investigação sobre a dívida externa brasileira, por exemplo, que parece estar na origem do projeto Gisel, nunca chegou a ser realizada em profundidade. Tampouco se discute a dependência tecnológica que torna os governos reféns das empresas do cartel metroferroviário. Os acordos de cooperação técnica, como o Gisel, previam a transferência de tecnologia. Para quem? Para a Eletropaulo, primeiro, e depois para a EPTE, que resultou do desmembramento da empresa para sua privatização – vale lembrar que, segundo o diário Folha de S. Paulo, em 2008 ela era dirigida por um ex-executivo da Alstom.
Por que um país como o Brasil, uma das maiores economias do mundo, com graves problemas de mobilidade urbana, não tem uma estrutura própria para produção de seu sistema de trens urbanos e metrôs? Foram necessárias quatro décadas para construir 73 quilômetros de linhas em São Paulo, a cidade brasileira disparadamente mais bem servida nesse sentido. A China, que começou mais ou menos na mesma época, deve alcançar quase 3 mil quilômetros no ano que vem, e tem duas das cinco maiores empresas que atuam no setor – as quais, aliás, fornecem trens para o Metrô do Rio de Janeiro. Já o Brasil resume sua atuação na área a “ajeitar” os editais para atender aos interesses das empresas. Por isso, mesmo diante de evidências escancaradas de que há acordo entre as empresas, com o objetivo óbvio de superfaturar os contratos, os governos não cancelam as licitações. Vão fazer o que, diante das alternativas quase nulas?

Toca Raul! 25 anos sem o Maluco Beleza

                             (Raul Seixas. Foto: divulgação)
Estávamos todos no boteco mais conhecido de Grajaú-MA, "Bar do Chico Cantídio", o endereço, todos nós sabíamos com facilidade ensinar a um visitante desavisado...subindo a ladeira da Igreja Matriz...
Éramos vários garotos iniciando a vida de boêmios, hoje "baladeiros"; antes da festa no clube recreativo, o bar do Chico Cantídio era parada obrigatória...Batista do Carlos Neto, Valney Sarmento, Givalber, Betinho, Nilton, Clesiomar, Sérgio Limeira, Limeirinha, César, Joel Falcão, Raimundinho...todos devidamente sentados, apreciando a cachaça, as garotas que iam e viam na praça e a frase mais ouvida de todas: "...esse é sem procedência..." proferida a todo momento pelo inesquecível Chico Cantídio...deve estar vendendo cachaça no céu...ou...
De repente ouvíamos as baladas de um violão mal tocado, por trás dos acordes, uma voz cantava Raul Seixas...era o filho do seu Domingos, um cara que adorava Raul e fez todos nós também fãs do Maluco Beleza...quem era o cara? Zé Ângelo...o cara que mais ouvi e vi cantar Raul...todos os dias...todas as horas...
Quem não lembra?
por José Gilbert A. Martins (Professor)

Toca Raul! 25 anos sem o Maluco Beleza
Reproduzido dia 23/08/2014 do blog Socialista Morena
25 anos atrás, num dia 21 do aziago mês de agosto, acordei com uma notícia terrível: aos 44 anos, meu ídolo de infância, Raul Seixas, tinha morrido vítima de pancreatite. Nove dias antes, ele tinha vindo a Brasília fazer um dos seus últimos shows, ao lado de Marcelo Nova, e eu dormi e perdi… Nunca me perdoei.
Eu adorava Raul desde que ouvi pela primeira vez Ouro de Tolo, aos 7 anos de idade. Nas matinês do Cine Éden, em Ipiaú-BA, a cidade dos meus avós, onde nasci, tocava sempre Al Capone antes da sessão começar. E eu, pequenina, também adorava aquela história do moço do disco voador me levar, de S.O.S.,canção do álbum Gita (1974). Durante toda a minha infância Raul Seixas foi uma estrela e suas músicas não paravam de tocar no rádio e na TV.
Na época em que Raul morreu, eu dividia apê em Brasília com um amigo que era ainda mais fã dele e me apresentou algumas pérolas do cantor baiano que eu nunca tinha ouvido… E me dei conta de que há uma canção dele para cada momento da vida. Querem ver? Toca Raul!

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A abjeta pesquisa Datafolha sobre o espólio de Eduardo Campos. A Folha é um lixo moral. - Autor: Fernando Brito

Quando era estudante em Fortaleza-CE, passava as férias em Grajaú-MA minha terra natal. Aproveitávamos o tempo de férias para, além de se divertir no Rio, na praça Raimundo Simas ( que um prefeito fez o favor de destruir e construir uma outra parecendo uma espécie de cemitério), fazer um pouco de política, e nessa resolvemos então criar um jornal, olha o nome de capa "Folha de Grajaú" uma alusão à Folha de São Paulo, não sabíamos nós que o dito jornal da capital paulista era apoiador da ditadura militar e de assassinos torturadores além de imoral.
Por sorte ou por azar, o jornalzinho "Folha de Grajaú", lido até aqui em Brasília-DF, desapareceu, junto com ele a ilusão de que a folha de São Paulo fosse jornalismo sério e responsável.
Como diz um sério jornalista brasileiro PHA - a folha faz parte do PIG (Partido da Imprensa Golpista - e precisa ser combatido, denunciado e não lido, não comprado.
por José Gilbert A. Martins (Professor)

A abjeta pesquisa Datafolha sobre o espólio de Eduardo Campos. A Folha é um lixo moral.      -     Autor: Fernando Brito
O acidente que vitimou Eduardo Campos ocorreu por volta de dez horas. Sua morte foi, infelizmente, confirmada por volta do meio-dia.
Pouco depois, a alta direção do Datafolha, numa atitude abjeta e desprovida de qualquer valor moral e humano preparava, com esmero, as perguntas para registrar uma pesquisa, às pressas, para ver com quem ficaria o espólio eleitoral do morto, para ser colocada nas ruas amanhã.
Li sobre a pesquisa no blog da Maria Frô e fui conferir. O documento está lá, registrado no TSE, com suas perguntas cheias de morbidez.
Total abjeção moral e um estupidez científica, porque é óbvio que, no dia seguinte a uma tragédia que repercutiu todo o dia nos meios de comunicação, praticamente sem intervalos, nenhum resultado retrataria o cenário real, que os dias se encarregarão de trazer à normalidade, serenadas as compreensíveis e humanas comoções.
Humanas, claro, para quem é capaz de as ter, o que não parece ser o caso do board do Datafolha e da própria Folha, contratante da pesquisa por R$ 226 mil.
O objetivo deste gesto imundo, desqualificado do ponto de vista ético e do ponto de vista estatístico, é um só: tirar “cascas” da tragédia humana para mudar um processo eleitoral que as próprias pesquisas indicam como estável e relativamente sólido.
Paro, como prometi antes, por aqui com as considerações políticas.
Apenas externo minha perplexidade com esse desrespeito aos sentimentos da família, dos amigos e da sociedade brasileira, que se comoveu com a morte acidental de um homem em plena campanha presidencial.
Não esperaram sequer ser recuperado e sepultado o corpo do candidato morto.
A atitude do Datafolha, como a dos colunistas que imploram por uma candidatura Marina montada sobre a desgraça, é uma desonra para qualquer pessoa.
Não que Marina não possa ser candidata. Mas porque em tudo na vida há ritos e processos dignos para algo acontecer.
Ou não, como nos mostra a pesquisa-abutre do Datafolha.
É gente com este caráter que não admite contestação às “verdades” que diz.