sexta-feira, 22 de agosto de 2014

“Éticos” da direita paulista pagaram cartazes anônimos para ter vaia a Dilma no Itaquerão - Autor: Fernando Brito

Retirado do site Tijolaço dia 22/08/2014
Existe Política e política, existem Políticos e políticos, existem Empresários e empresários. O que aconteceu em Itaquera n abertura da copa é próprio de um país que precisa debater sua democracia, precisa conhecer a democracia, parte dos médios e grandes empresários paulistas não conhecem e não se importam em conhecer o que seja um país democrático de verdade, ainda estão alinhados ao que aprenderam de Atenas Antiga quando uma minoria de "cidadãos" detinham todos os privilégios.
Mas até lá, por volta de 3 mil anos atrás, a Ágora era o espaço do debate, como não possuíam jornais tipo o globo, folha e a TV globo, tinham que se entender no gogó, os debates eram intensos e, os "cidadãos", ao final, decidiam o que era melhor para eles, e nisso se igualam às elites daqui e de São Paulo.
Democracia se constrói, a nossa vem sendo construída pós Constituição Federal de 1988, mas principalmente pós 2002 com a ascensão ao poder do primeiro político de origem popular. A Constituição deu as diretrizes e os governos que vieram a seguir não conseguiram criar políticas públicas de alcance popular, isso só foi efetivamente feito a partir de 2002, o país criou uma infinidade de Políticas Públicas , fez, talvez, a maior política de inclusão social do planeta, mesmo que a direita diga o contrário, mesmo que o ódio vazio, pobre, de alguns diga o contrário, isso é democracia.
Não tem nada de democrático, empresários, na surdina, pagarem para alguns irresponsáveis de classe média alta, xingarem a presidenta, além de profundo desrespeito, mostra ao país e ao mundo como precisamos avançar no debate político e no respeito ao outro. Esse fato coroa a política de São Paulo, governos que estão há mais de 20 anos no poder, envolvidos em dezenas de atos de corrupção, sem punição nenhuma e que não conseguiram solucionar o problema da falta de água para mais de 2 milhões de pessoas.
Os paulista sérios, entre eles, milhares de irmãos do Nordeste, precisam colocar a mão na consciência e pensar que precisam aproveitar esta próxima eleição e mudar. O PSDB precisa ser apeado do poder, São Paulo merece experimentar um tipo de governo mais democrático e responsável.
por José Gilbert A. Martins (Professor)

“Éticos” da direita paulista pagaram cartazes anônimos para ter vaia a Dilma no Itaquerão

21 de agosto de 2014 | 09:02 Autor: Fernando Brito
Depois de quase três meses em sigilo, ficamos sabendo, pelo Estadão, que 20 mil  cartazes foram distribuídos à entrada do Itaquerão, na abertura da Copa, atacando e pedindo manifestações contra Dilma Rousseff.
O apelo era explícito: “Na hora do Hino Nacional abra este cartaz e mostre para todos que está na hora do Brasil  vencer de verdade”.
Foram pagos pela empresa Multilaser, pertencente a Alexandre Ostrowiecki e Renato Feder.
Dois yuppies que, imaginem só, mantêm um site em que avaliam a eficiência e a ética dos políticos.
É claro que  quase só entram ali os parlamentares de direita ou os que se dizem de esquerda mas, na prática, acompanham as políticas da direita.
Então foi assim que se preparou a “manifestação espontânea” de grosseria no jogo inaugural da Copa?
É assim que dois empresários que, inclusive, gozam de incentivos fiscais, gastam o dinheiro que a União deixa de recolher em impostos?
Porque quem pagou não foram eles, do bolso próprio, mas a empresa.
Com direito a abater nos impostos que ambos maldizem.
A empresa, aliás, não deve ter do que reclamar dos impostos, pois diz o Estadão que “segundo balanço de demonstrações financeiras da Multilaser publicado no Diário Oficial de 27 de março, o item “reserva de lucros” aumentou de R$ 51 milhões em 2012 para R$ 128 milhões em 2013″.
Um crescimento nada mau de 151% nos ganhos dos pobres coitados que dizem estão carregando o Estado brasileiro nas costas.
Mais cara de pau, só a da nossa imprensa, que  tinha um esquadrão de repórteres pronto para encontrar qualquer montinho de terra que ajudasse a dizer que a festa era um desastre, mas não foi capaz de ver a distribuição de milhares de cartazes que, é só olhar, não tinham nada de espontâneos.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

William Bonner, “duro diante de todos”?

Entrevistas com candidatos à Presidência revelam: além de interromper incessantemente Dilma, “JN” tenta apresentar como “natural” agenda econômica desejada pelos mercados financeiros 
Aos que gostam de ler sobre Política.
O texto abaixo faz uma análise interessante sobre as entrevistas que vêm sendo feitas no jornal nacional da rede globo com os candidatos a presidente.
Mais uma vez a rede globo faz o seu papel. E qual é esse papel?
O de ser o porta voz dos interesses da direita conservadora representada nessa eleição principalmente pelo candidato do PSDB.
O mais assistido telejornal do país não faz jornalismo sério, responsável, ao contrário, aliena, deseduca.
O que o país necessita é de leis que protejam a sociedade desse tipo de imprensa.

por José Gilbert A. Martins (Professor)

William Bonner, “duro diante de todos”?
Por Glauco Faria e Maíra Streit, na Revista Fórum
O diabo mora nos detalhes, diz um famoso provérbio. No entanto, às vezes não é preciso descer tanto a eles para verificar a validade de uma determinada situação. No caso das entrevistas feitas com os presidenciáveis no Jornal Nacional até ontem (18), rever os programas e verificar quais perguntas foram feitas a cada um e como se comportaram os entrevistadores pode revelar muito sobre o direcionamento do programa e da Rede Globo.
A postura e a forma incisiva como são feitas as questões, muitas vezes beirando a falta de educação ou simples pirraça, como nas ocasiões em que o entrevistador aparenta não gostar da resposta dada, pode passar a impressão de que William Bonner e Patrícia Poeta são “imparciais” e “apertam” os entrevistados de forma indistinta. No entanto, os temas e até mesmo as palavras mostram que a igualdade de tratamento passou longe.
Na entrevista de ontem [com Dilma Roussef], o tema central que ocupou quase metade da entrevista (7 minutos e 16 segundos dos 15 minutos e 58 totais) foi corrupção. Desde a pergunta inicial de Bonner, que enumerou sete ministérios e uma estatal onde teria havido “escândalos”, durante um minuto e sete segundos, até a pergunta de Patrícia Poeta sobre saúde, que se iniciou com um “Corrupção não é o único problema”, o termo foi dito dez vezes pela dupla do telejornal, sete somente na primeira questão. Na entrevista com Aécio, a palavra apareceu somente em três oportunidades em uma pergunta de Poeta – em uma das vezes, relacionada ao PT –, e nenhuma na participação de Eduardo Campos.
Uma resposta dada por Aécio na primeira entrevista, aliás, parece ter “pautado” uma das perguntas feitas por Bonner ontem a Dilma. Veja a semelhança de conceitos entre ambos:
Patrícia Poeta: Candidato, o seu partido é crítico ferrenho de casos de corrupção que envolvem o PT. Mas o seu partido também é acusado de envolvimento em escândalos graves de corrupção. (…) Por que o eleitor iria acreditar que exista diferença entre os dois partidos quando o assunto é esse: corrupção?
Aécio Neves: Patrícia, eu acho que a diferença é enorme. Porque no caso do PT houve uma condenação pela mais alta corte brasileira. Estão presos líderes do partido, tesoureiros do partido, pessoas que tinham postos de destaque na administração federal, por denúncia de corrupção. (…) O que eu posso garantir é que, no caso do PSDB, se eventualmente alguém for condenado, não será, como foi no PT, tratado como herói nacional. Porque isso deseduca.
Nos grifos nossos da resposta acima estão os mesmos conceitos de “grupo de elite”, corrupto do PT e “tratamento de herói” dado pela legenda, embutidos na questão de Bonner sobre o tema feita ontem:
William Bonner: Então, me deixa agora perguntar à senhora. E em relação a seu partido? O seu partido teve um grupo de elite de pessoas corruptas, comprovadamente corruptas, eu digo isso porque foram julgadas, condenadas e mandadas para a prisão pela mais alta corte do Judiciário brasileiro. Eram corruptos. E o seu partido tratou esses condenados por corrupção como guerreiros, como vítimas, como pessoas que não mereciam esse tratamento, vítimas de injustiça. A pergunta que eu lhe faço: isso não é ser condescendente com a corrupção, candidata?
Para não haver dúvidas, o âncora do JN chama o que ele considera um grupo de elite petista de corrupto três vezes, para o telespectador, que um dia ele julgou ser Homer Simpson, entender bem. Um comportamento similar ao de qualquer apresentador de telejornal policial.
O consenso dos “economistas” do JN

A certa altura da entrevista de ontem, Bonner reclamou com a presidenta: “Nós vamos falar de economia”, cortando a fala da petista e mesmo sua colega de bancada para fazer seu questionamento a respeito. Embora parecesse estar preocupado com a falta de tempo que restaria ao assunto, economia foi prioridade de fato nas duas entrevista anteriores do JN. Diferentemente do que ocorreu com Dilma, este foi o assunto que abriu as conversas com os presidenciáveis tucano e pessebista.
Sempre com diagnósticos sombrios sobre o panorama econômico do país, os jornalistas da Globo quase exigiram dos outros dois candidatos compromissos com o corte de gastos públicos, adiantando a quem assistia que “medidas impopulares” teriam que ser tomadas. Para Aécio, a pergunta incluiu o trecho:
(…) economistas que concordam com o seu diagnóstico para a economia brasileira dizem que essas medidas que o senhor tem anunciado não bastam, elas não seriam suficientes para resolver. Que seria necessário que o governo fizesse um corte profundo de gastos. Que seria necessário que o governo também eliminasse a defasagem de tarifas públicas como preço da gasolina e energia elétrica. A questão é a seguinte: o senhor não vai fazer essas medidas que os economistas defendem? Ou o senhor está procurando não mencionar essas medidas, porque elas são impopulares?”
Para Eduardo Campos, Patrícia Poeta não citou os “economistas que concordam com o senhor”, mas o termo “economistas” foi colocado de forma genérica, como se todos concordassem com a retração de gastos públicos:
Candidato, vamos começar a entrevista com a lista de algumas promessas que o senhor já fez, eu anotei algumas delas: escola em tempo integral, passe livre para estudantes do ensino público, aumento dos investimentos em saúde para 10% das receitas da União, manutenção do poder de compra do salário mínimo e multiplicar por 10 o orçamento da segurança. Tudo isso significa aumento dos gastos públicos. Mas o senhor também promete baixar a inflação atual para 4% em 2016, chegando até 3% até 2019. E isso, segundo economistas, exige cortar pesadamente gastos públicos. Ou seja, essas promessas se chocam, se batem. Qual delas o senhor não vai cumprir?
Quando falou com Dilma a respeito de economia, Bonner citou “analistas”, de novo de forma genérica, para justificar sua avaliação embutida na questão:
(…) os analistas dizem que 2015, ano que vem, vai ser um ano difícil, um ano de acertos de casa, que é preciso arrumar a economia brasileira e portanto isso vai impor algum sacrifício, vai ser um ano duro”.
Não há problema em um jornal ou veículo ter determinadas posições a respeito de temas diversos, como a condução da política econômica por parte de um governo. Seria ótimo, aliás, que todas as posturas fossem transparentes. No entanto, em uma série de entrevistas na qual se pretende dar condições de igualdade para todos, tocar logo de início em um assunto no qual o diagnóstico do entrevistador e do entrevistado parece ser similar, além de um conceito preestabelecido, dá vantagem óbvia a quem concorda com a tese. E deixa o telespectador sem margem para julgar que aquilo está longe de ser verdade inconteste, como a postura do perguntador sugere.
Tempo e intervenções
Mas o que talvez tenha saltado aos olhos na entrevista de ontem, comparando-se com as outras duas, foi a postura de William Bonner. Ele realizou pelo menos 21 intervenções em respostas de Dilma, ou interrompendo a fala da candidata ou voltando à questão, insatisfeito com a resposta dada. Na entrevista com Campos, o âncora fez isso cinco vezes, mesmo número de ocorrências na conversa com Aécio.
Também impressionou o ímpeto em acuar Dilma, se sobrepondo muitas vezes a Poeta. Bonner tomou ou tentou tomar a palavra durante 3 minutos e 53 segundos, reservando meros 47 segundos a sua colega de trabalho (números aproximados). Na participação de Aécio no JN, Bonner falou durante 3 minutos e 9 segundos, e Patrícia Poeta durante um minuto e 46, mais que o dobro de ontem. Com Eduardo Campos, a distorção foi ainda maior: o âncora ocupou 2 minutos e 16 segundos, enquanto a jornalista ocupou 2 minutos e 8, quase o mesmo tempo que o companheiro de bancada. Na entrevista, Bonner deixou de ser entrevistador para se investir de sua outra função, a de editor-chefe. No caso específico, mais chefe que editor.
O modelo de entrevista
Millôr Fernandes dizia que “o xadrez é um jogo chinês que aumenta a capacidade de jogar xadrez”O modelo de entrevistas do Jornal Nacional é quase isso. Na prática, testa a capacidade do candidato de se portar em uma entrevista do programa. Pode ser útil sim, já que um candidato pode cometer um ato falho, se trair em alguma resposta, passar uma insegurança estranha ao eleitor etc. Mas está longe de elevar o nível do debate político.
E em geral são os jornalistas, justamente, que reclamam do vazio das propostas, dos programas, de posições pouca convictas dos candidatos. Mas entrevistas como estas, nas quais o entrevistador se traveste de inquisidor e desfila cobranças como a de que um candidato “se cerque de gente honesta”, como se este fosse o problema central da corrupção, contribuem muito pouco para que o embate político saia do raso.

Acre: estão chegando os índios isolados


O Brasil jogou no lixo parte da cultura indígena ?
Nossas escolas tanto de Ensino Fundamental ou Ensino Médio não possuem material didático oficial que debata as questões mais fundamentais dos nativos aqui da região Sul Americana.
Os livros e materiais em geral trazem, pelo que tenho conhecimento, pequenos recortes que, me parece não aprofundam o conteúdo e o conhecimento sobre os indígenas do Brasil, levando, consequentemente, ao desconhecimento, que por sua vez leva ao preconceito.
Portanto, jogamos fora, desprezamos, uma gama enorme de conhecimentos e maneiras de viver, de se relacionar que poderiam nos ajudar na construção de uma sociedade melhor, solidária, justa...
Esses grupos agora localizados serão mais homens, mulheres e crianças americanos (do Sul) jogados nas periferias do sistema? doentes, bêbados, maltratados?
Os verdadeiros donos da terra foram ao longo desses cinco séculos, em grande parte, concretamente alijados da "proteção" da sociedade e do Estado.
Muitos, lendo esse texto poderão dizer que os índios não precisam de proteção, concordo, não estou falando da proteção do estilo paternal, doação...falo de proteção no sentido do respeito, do enxergar essas populações como humanos que têm direitos à terra, à sua cultura, à sua maneira de viver.

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Pressionados por madeireiros, crime organizado e doenças, cinco grupos que escolheram viver distantes da civilização aproximam-se. Mas como será seu contato?
Por Renato Santana, no Le Monde Diplomatique
O barulho do batelão reverbera no interior da floresta. Sobre o teto do barco, no horizonte de pálpebras cerradas pelo sol do meio-dia, a zoada mais parece uma revoada de pássaros com asas de ferro invisíveis. A estridência metálica, dentro da mata, espanta araras, macacos e demais bichos no sincopado tu-tu-tu-tu do motor, som reconhecido pelos indígenas em situação voluntária de isolamento na Amazônia como sinal aliterado da sociedade que os envolve. É inverno nesta porção extrema do país.As águas correm abundantes e a embarcação singra, sem muitos percalços, as entrelinhas da lâmina de água, lidas atentamente pelo barqueiro que desvia de troncos, na maioria das vezes submersos, e evita trechos mais rasos ou de intenso rebojo. No verão o rio seca e apenas cascos pequenos conseguem passagem entre as praias naturais, cujas areias oferecem aos isolados ovos de tracajá. O calor e a umidade perpassam as estações, assim como os piuns e carapanãs. O batelão navega contra a corrente vazante, e sete dias depois da saída do porto movediço de Feijó (AC) chegamos à Terra Indígena Kampa/Isolados, demarcada no paralelo 10°S, Alto Rio Envira, já na fronteira do Brasil com o Peru, onde as águas tingidas pelos sedimentos e barro passam a dar vida ao Rio Xinane. Esse vasto mundo se reduz, a cada dia, para os isolados, ainda que tenha o mesmo tamanho.
A região é uma das últimas no mundo a ter grupos de povos livres. Com a Constituição de 1988 e mais protegidos pelas demarcações, todavia vulneráveis às invasões dos territórios, eles conseguiram resistir aos massacres e dobraram suas populações nas últimas décadas. Exercem o pleno direito de resistência às vontades integracionistas da “civilização” e preservam suas próprias instituições sob a memória de uma vida de correrias. Chamadas na região de bravos, essas populações se negam ao contato com as sociedades que as envolvem – sejam as indígenas ou mesmo as ribeirinhas, cujas origens naquelas matas estão em famílias de seringueiros instaladas por ali desde o final do século XIX e decorrer do XX pelas frentes de colonização. Os ashaninka, tal como eles se autodenominam, dividem a Terra Indígena Kampa/Isolados com os bravos e os chamam de maxiriantsé, os valentes. A semântica oferece outro significado para o aparente tom pejorativo da palavra bravo, mas delimita a complexa noção de alteridade presente entre essas nações e seus convívios autodeterminados. No entanto, em terras onde grupos indígenas insistem contra a capitulação de suas formas livres de vida e outros lutam diariamente pela sobrevivência em interface com a sociedade branca, ser bravo, no sentido dado pela língua ashaninka, tornou-se um traço marcante entre esses povos. As relações culturais críticas dessas experiências, no reforço das alteridades tanto dos isolados como dos demais povos, geram um dos contextos mais complexos entre isolados e índios contatados do Brasil.
Entre o final de junho e durante todo o mês de julho essa história ganhou mais um episódio. Um grupo de indígenas livres causou alvoroço ao entrar na aldeia Simpatia, onde vivem os últimos ashaninka antes da fronteira com o Peru. Durante o primeiro semestre deste ano, os ashaninka relataram acontecimentos similares, todos encaminhados ao Ministério Público Federal (MPF) e à Fundação Nacional do Índio (Funai) pelos indígenas por intermédio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Não se trata, portanto, de um contato inédito. Dessa vez, porém, a Funai decidiu agir e montou na aldeia, em parceria com o governo do Acre, a Operação Simpatia. Os indígenas ficaram impedidos de sair da comunidade. No dia 26 de junho, servidores do órgão indigenista e os ashaninka estabeleceram novo contato com alguns desses livres que, conforme a equipe de sertanistas, estavam com gripe. A Funai divulgou foto com três deles. Durante o tratamento realizado por profissionais da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), os indigenistas identificaram que esses livres falam um idioma do tronco linguístico pano, o mesmo de outros povos do Acre e Peru. Os isolados então puderam ser entendidos, de forma precária, sobre os ataques que vêm sofrendo, possivelmente de madeireiros e narcotraficantes peruanos. Em seguida voltaram para o interior da floresta no caminho das malocas de seu povo. Desativada há pouco mais de três anos, a Base do Xinane da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira retomará os trabalhos.
Frente da borracha… Frente Etnoambiental
Na Terra Indígena Kampa/Isolados está instalada também a Base do Xinane, a três horas de barco da aldeia Simpatia no rumo da fronteira com o Peru. A estrutura foi abandonada depois de ataque de narcotraficantes, em junho de 2011[1]. Antes, porém, de entender essa história que impactou a vida tanto dos ashaninka quanto dos bravos nos últimos anos, além do povo madja, também presente naquelas terras, precisamos fazer uma retrospectiva que remonta a cerca de cem anos atrás. No início do século XX, sobretudo depois da Primeira Guerra Mundial, as mobilizações voltadas à ocupação territorial da região Norte do Brasil se acentuaram. Nas décadas de 1930 e 1940, com ênfase no governo de Getúlio Vargas e nos acordos firmados com os Estados Unidos ante os esforços da guerra travada na Europa, frentes de colonização foram organizadas e seguiram rumo aos confins da Amazônia. Se por um lado a exploração das seringas entraria em seus ciclos econômicos, por outro o Norte passaria a ser parcialmente povoado, e o “espaço vazio” brasileiro, assim considerado pelo governo central, preenchido. Todavia, aquelas florestas tinham dono. Não estavam vazias. Nelas viviam povos indígenas ainda sem contato, que também fugiam. Entrecortado por rios com nascentes nos Andes e correntes às águas do Amazonas, a grande serpente, o Acre foi um dos estados que teve suas seringas e nações indígenas rasgadas por inúmeras frentes de colonização da borracha.
As varações e os igarapés entre os principais rios do estado foram as principais rotas de fuga dos povos indígenas. Os mais velhos chamam esse período de “tempo das correrias”. As mortes eram hediondas aos indígenas que resistissem à escravidão e às vontades dos senhores no poder. Caçadores de índios em nada perdiam aos seus antepassados que ilustraram em tintas de terror a história da invasão europeia à Ameríndia. No Rio Envira, onde, no Médio, viviam os huni kui e, no Alto, os madja, os grupos isolados, para fugir da violência das frentes de colonização, seguiram para mais perto da fronteira com o Peru e para além dela, numa área de circulação que lhes possibilitava resistir. Ao Envira, no entanto, as frentes de colonização não levaram apenas a própria sanha, mas também outros indígenas, que entre outros trabalhos atuavam como mateiros, além de intermediários ao contato agressivo com os povos livres. Afinal, se naquelas terras não viviam, ao menos circulavam. Os isolados, desde então, associam os ashaninka ao tempo dos massacres, contatos violentos, mortes e fugas. Com o fim dos ciclos da borracha, tais frentes de colonização desfizeram-se. Aos ashaninka e povos livres restou a herança do trauma coletivo, que segue pautando as relações entre essas sociedades. Nos últimos anos, com o retorno cada vez mais acentuado dos isolados a antigos territórios hoje ocupados pelos ashaninka, as excursões de livres às aldeias têm sido constantes. Levam terçados, roupas, redes, utensílios domésticos, tudo o que se pode colher nas roças e até mesmo crianças. Os ashaninka aprenderam a lidar com tais “delitos” sem violência, mas temem que em algum momento algo de mais grave aconteça – como antigamente. Caciques e demais lideranças tramam os fios tênues dessa história, elásticos como uma linha de borracha.
“No Rio Envira, os ashaninka sempre andaram, mas nascer aqui só os mais novos. Os mais velhos foram trazidos de outros lugares pelo kairu (branco), de aldeias do Peru. Acontece que estamos aqui e enterramos nossos mortos, fazemos nosso ritual. Nossos filhos nasceram aqui. Nossas aldeias cresceram. Ashaninka não quer brigar com bravo, mas quem aguenta ter suas coisas levadas? Se eles matarem um ashaninka, como faremos?”, indaga Txate Ashaninka, que não sabe ao certo a própria idade, mas aparenta ter por volta de 75 anos. Os olhos vão de um lado a outro em movimentos curtos, num rosto magro, queimado de sol. O cuzmã, espécie de batina e vestimenta tradicional do povo, cobre do pescoço aos pés a baixa estatura de seu corpo de pássaro. As mãos ossudas de Txate alternam entre segurar o próprio queixo, numa postura de reflexão, e apontar a mata enquanto a cabeça mergulha nas memórias encravadas nas árvores que ladeiam o Envira. “Naquela ali eu subia com as outras crianças. Alta, né? Os macacos vinham para perto”, aponta da janela do barco. “Era aldeia antiga nossa. Mais para trás tem kamarambi (ayahuasca) e onde era a roça do meu tio. Saímos daqui por causa dos bravos, mas nunca ninguém morreu. Teve flechado, mas sem mortes”, recorda Txate.
Tal como as árvores carregadas pelo Envira, cujas sementes germinam novas plantas em outras margens, as aldeias ashaninka desfeitas por conta da relação conflituosa com os povos livres reflorestaram o povo em outros pontos do rio, mais longe dos locais de aparição dos bravos. Na década de 1980, a aldeia Xinane foi um desses casos. Bem próxima da fronteira com o Peru, era constantemente alvo dos isolados. Os ashaninka que nela viviam a desativaram e se espalharam em outras aldeias ou fundaram novas. A elas os isolados também chegavam, e assim outras aldeias foram descendo o rio até quase o Médio. Com o aumento das tensões, e já sob uma nova política com relação aos povos em situação de isolamento voluntário, que previa o direito desses grupos de ter uma vida preservada da indesejada companhia das demais sociedades, a Funai construiu uma base no local da antiga aldeia Xinane. O objetivo era identificar quem eram esses livres, demarcar o território e impedir conflitos entre eles e os ashaninka. Mais tarde, a estrutura passou a integrar a Frente de Proteção Etnoambiental do Xinane.
“Sou o passado falando”
O sertanista José Carlos Meirelles fundou a base e nela viveu durante 22 anos, entre 1988 e 2010. Criou filhos, que com o tempo passaram a trabalhar em frentes de proteção, manteve uma família e a ela agregou os peões que sobre os pisos de madeira da pequena vila também moravam. As histórias de Meirelles são despudoradas quanto a finais felizes e tampouco o transformam em herói defensor dos povos indígenas. “Sou o passado falando”, diz. Prefere a prosa ao discurso e não se priva de relatar, com seu sotaque de homem do interior, episódios de que não se orgulha, como quando se viu diante de isolados e, para defender parentes, precisou atirar.O indígena atingido acabou morto [2]. Ou quando foi atacado pelos isolados num igarapé próximo da base, enquanto pescava. Uma flecha atravessou seu rosto e ele precisou ser levado de helicóptero para um hospital de Rio Branco (AC). “Andávamos na mata, coisa hoje esquecida. Parece que hoje se monitora índio isolado e protege-se o território via notebook”, afirma. Não há indigenista atuante na temática dos isolados que não tenha ouvido as histórias de Meirelles, seja para criticá-lo ou para tê-lo como referência. Entender, porém, as problemáticas dos isolados do Envira e a política para os isolados da Funai passa necessariamente por um pouco de prosa com Meirelles.
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Quando chegou ao Xinane, o sertanista trabalhava com a informação de que apenas um povo isolado vivia na região. “Localizamos. Depois descobrimos que havia outro nas cabeceiras do Riozinho. Localizamos. Depois descobrimos mais um em 2008, além dos mascho piro que andam pelo Envira sazonalmente e com mais frequência de 2006 para cá. E muito provavelmente um quinto grupo que anda nas cabeceiras do Rio Jordão, oriundo da reserva Murunaua, no Peru”, explica Meirelles. O tempo e a perseverança, conta o sertanista, fiaram a metodologia de trabalho. As informações inicialmente eram de outros indígenas do Envira ou de ribeirinhos, mateiros. Com a consolidação da Frente do Xinane aperfeiçoou-se a captação de informações, com longas estadias no meio da floresta e monitoramentos por sobrevoos. Descobriu-se então que alguns desses povos são caçadores e coletores, caso dos mascho, que circulam na fronteira do Brasil com o Peru, nômades, e outros agricultores, com possível associação ao tronco linguístico pano. “Quando chegamos, ocorriam muitos conflitos entre os ashaninka e huni kui e os isolados. Em 1989 sobrevoamos suas pequenas malocas, que hoje já devem ser o dobro”, lembra Meirelles. O sertanista observa que esses povos tiveram um aumento populacional nos últimos anos e isso também provoca mudanças no comportamento. No Brasil, existem 94 povos em isolamento voluntário.
Narcotraficantes atacam
Se por um lado registram-se, desde os anos 1980, conflitos entre isolados e os demais povos das margens do Envira, por outro, a partir de 2005, data Meirelles, as cabeceiras do Envira no Peru, até então desabitadas pelo homem branco, foram invadidas por madeireiras e depois pela coca. Os empreendimentos, no geral, são de mesmo dono e a madeira é usada para lavar a coca. O avanço das fronteiras do crime organizado internacional para cima do território gerou o episódio de junho de 2011, quando a Base do Xinane foi cercada por narcotraficantes e a equipe de servidores da Funai retirada do local por helicópteros da Polícia Federal. Meses antes, em março, o traficante português Joaquim Antônio Custódio Fadista, condenado por tráfico de drogas no Brasil, Luxemburgo e Peru, foi detido na Base do Xinane depois de aparecer no local sozinho, portando uma mala com drogas e dólares e pedindo passagem. Levado para Rio Branco, foi extraditado para o Peru. Logo conseguiu liberdade e em junho regressou ao Xinane com capangas para se vingar de quem o havia detido e supostamente localizar a mochila recheada com drogas e dinheiro. Meses depois, em agosto, Fadista foi mais uma vez detido. Informados pelos ashaninka, a Polícia Federal e servidores da Funai chegaram ao Xinane para averiguar a circulação de supostos narcotraficantes. Durante a operação, a equipe localizou Fadista no meio da mata, nos arredores da Base do Xinane. O governo federal tem informações de que o narcotráfico, sediado do outro lado da fronteira, estuda a região com o intuito de utilizá-la.
A ação de madeireiras, portanto, estaria atrelada ao narcotráfico e a intensidade da ação delas na região está submetida ao avanço do negócio da droga no território compartilhado pelos ashaninka e pelos isolados. Sobrevoos realizados pela equipe do Xinane, do final dos anos 1980 até sua desativação em 2011 sob fogo cerrado dos traficantes, comprovam a ação de madeireiros. No entanto, tais investidas diminuíram depois da demarcação e da consequente proteção do território. No lado brasileiro registra-se a incidência de pequenos madeireiros, além da utilização da área dos isolados “como supermercado de carne, peixe e madeira por parte dos brancos. Os ashaninka e os madja também pescam nessas áreas para vender em Feijó”, diz Meirelles. A tendência é de que a Funai retome os trabalhos da Base do Xinane. Mas como impedir que o território deixe de ser acossado pelo narcotráfico? No último dia 24 de março, a presidente do órgão indigenista, Maria Augusta Assirati, reuniu-se em Lima com representantes do Ministério da Cultura peruano para a formalização interinstitucional de protocolos para a proteção e promoção dos direitos dos povos isolados e de recente contato, que vivem nas regiões de fronteira entre os países. Aos indígenas, porém, fica a relação com os isolados.
“Sofreram muitas violências”
O cacique Ominá Madja tem uma pequena coleção de objetos dos isolados recolhidos na mata. Um de seus filhos aprendeu a tocar uma pequena flauta tingida de urucum e musgo. As janelas da casa do cacique miram a floresta chuvosa. Naquele mesmo dia pela manhã, um isolado foi avistado espreitando dependurado numa árvore. Por trás do manto de água nada se esconde. “Eles sofreram muitas violências. Como a gente também. Toda vida que índio morre por um pedacinho de terra, seja querendo ou defendendo ela. Só que os bravos não sabem tudo o que a gente sabe de vocês [brancos]”, analisa. Cacique da aldeia Igarapé do Anjo, homônimo de um dos igarapés onde os isolados mantêm aldeias, o indígena afirma que a relação dos madja com os livres não é pautada pela violência, mas que alimentam desconfianças mútuas. “Tentamos falar com eles, apesar de a língua ser diferente. Como a gente não ataca, eles chegam perto cada vez mais. Achamos cerâmica deles, panelas, flechas e flautas. Estão perto da gente”, diz Ominá. O cacique aponta para a ação de madeireiros na região, o que justificaria a aproximação cada vez mais constante desses povos às aldeias madja. Como no decorrer do processo histórico os madja e os ashaninka passaram a casar entre si, algumas aldeias são compartilhadas. “Aqui a gente é madjaninka”, riem. Se por um lado as fronteiras impostas pelos Estados nacionais não existem para as populações em isolamento voluntário, que circulam entre alguns países num grande território ancestral, aos ashaninka e aos madja a demarcação da Terra Indígena Kampa/Isolados é apenas uma formalidade importante. A comunidade Igarapé do Anjo está dentro dessa terra indígena, assim como a aldeia Terra Nova, onde o cacique Isanami Madja é casado com uma ashaninka.
Enquanto a esposa prepara caiçuma de mandioca, Isanami mostra a identidade puída. Levado junto com roupas e panelas, o documento foi encontrado tempos depois, num buraco, junto a outros objetos saqueados pelos isolados. Silenciosos e sem violência, os livres chegaram a levar o mosquiteiro de Isanami enquanto ele e a mulher dormiam. O episódio é lembrado com risos, mas nem sempre as histórias são irreverentes. Certa vez uma mulher madja estava na roça quando foi abordada por dois isolados. Primeiro tomaram o terçado das mãos da indígena e depois insistiram para que ela fosse embora com eles. Os homens da aldeia, tão logo ouviram os gritos da mulher, correram para a roça e lá chegando precisaram afugentar os livres. Tanto a Funai quanto os madja sabem que poucos quilômetros separam as aldeias das malocas dos isolados. Conforme Isanami, tal aproximação tem se intensificado nos últimos cinco anos, mas de uns três anos para cá deixou de ser sazonal e ocorre todas as semanas. “Já os vi muitas vezes, perto da aldeia e no meio da mata. São cabeludos e têm o corpo pintado de urucum e jenipapo. Já vi caçando macaco. Olham a gente e correm. Não ficam, não”, conta Isanami. Para o cacique, o mais difícil é ter roupas e utensílios sempre levados pelos isolados. “Olha, vou te dizer meu pensamento: não que tem de amansar ou fazer violência contra eles, madeireiro é quem faz assim, mas imagina ter suas roupas levadas toda hora por outras pessoas; ou a sua roça? Perder tudo. Isso deixa a gente triste”, conclui.
Proposta diplomática
Enquanto esteve na Base do Xinane, Meirelles realizou algumas oficinas com os ashaninka e os madja para tratar da relação com os isolados. “Creio que os isolados, pela nossa atitude de respeito, durante anos, com aquele território só para eles, consideram sua área de ocupação aquele pedaço. E é. Os ashaninka chegaram ao Envira na década de 1940, os isolados já estavam lá. Então quem invadiu a terra de quem?”, questiona o sertanista. A principal reclamação dos ashaninka é de que Meirelles não os deixava participar das ações da frente, e agora eles reivindicam mais protagonismo. Querem entender quem tem se movimentado pelo território, além dos isolados. Pretendem desenvolver uma nova diplomacia. “Para a gente, tem peruano no meio e até outros indígenas do Peru juntos. Como vai dizer diferente? A gente quer ir ver mesmo, porque tem ashaninka no Peru que diz isso dos madeireiros e traficantes andando por aqui. Tanto os parentes bravos quanto nossas aldeias estão sem proteção”, conclui Txate Ashaninka.
Na Base do Xinane, Txate e os ashaninka encontram razão para o argumento: pegadas de pés descalços e botas se misturam riscando o limo que cobre a madeira quebradiça das pontes que ligam as casas da estrutura. Antigo funcionário da base, Francisco das Chagas recorda que Meirelles temia a presença dos ashaninka na base por conta do histórico de conflitos entre eles e os isolados. “Seu Meirelles queria os bravos perto da base”, diz Chagas. O experiente mateiro lembra que muitos funcionários da frente foram alvo de flechadas, inclusive o próprio Meirelles, e que “só não morreram porque Deus foi camarada”. Os isolados costumavam andar perto das casas da base arremedando animais. E confirma: “Não sei bem a razão, mas os bravos estão cada vez mais em cima dos ashaninka. É de uns três anos pra cá, daqui acolá [gesticula com os braços] a gente vê eles atravessando o rio. Na aldeia Simpatia [última aldeia ashaninka antes da base] não faltam”. Chagas também não confirma a presença de peruanos não indígenas, mas salienta movimentações diferentes de isolados na região. O mateiro está há quase duas décadas no Envira, onde casou com uma ashaninka e hoje já cuida dos netos.
Crianças levadas pelos bravos
Outras histórias envolvendo os isolados dão conta de crianças levadas por eles. José Poshe e Bibiana Ashaninka nunca se esqueceram de uma festa ocorrida na aldeia há dezoito anos, quando a pequena Sawatxo foi carregada. Na época com 5 anos, a jovem dormia com os irmãos. Ao ouvir choros e gritos das crianças, Poshe correu para casa e, ao chegar, os mais velhos relataram que um bravo havia entrado na casa e levado Sawatxo.Foram muitos dias procurando pela menina na floresta. Em vão. “Deve estar grande. Já deve ter tido filhos. Ela deve ter se acostumado sem a gente. Todo mundo se acostuma a tudo”, diz Poshe olhando para o rio.
Dezenas de outras tentativas foram relatadas pelos ashaninka. Do lado peruano, uma das histórias terminou em massacre. Entre os ashaninka do Envira, o ocorrido na comunidade Doce Glória, Departamento de Ucayali, Peru, em 2003, próximo à cabeceira do Rio Juruá, mesmo que não tenha tido a participação de indígenas do Brasil, é um fantasma que assombra as florestas do território que compartilham com os isolados. Enquanto preparava a comida para o marido e outros ashaninka que estavam pescando, uma mulher foi morta por um grupo de livres do povo mascho piro. Imediatamente os ashaninka arregimentaram um grupo e, na mata, deram o mesmo fim da mulher para cerca de trezentos isolados. O relato vem dos ashaninka do Envira, que têm parentes entre os ashaninka do Peru. “Então eu não sei se, caso um parente bravo mate um ashaninka, isso não pode acontecer [um episódio semelhante ao de Doce Glória] no Envira. Eu, como mais velho, digo aos mais novos para não fazerem nada. Para não irem à mata quando se sabe que eles estão lá, mas a gente não controla tudo”, afirma Txate Ashaninka.
O fantasma dessa história, porém, tem razão de assombrar um povo tomado pelo mágico. Os indígenas afirmam que a movimentação dos mascho foi provocada pela ação de madeireiros ilegais vindos do Departamento de Madre de Dios, chegando às cabeceiras do Rio Juruá, perpassando territórios dos isolados, na Zona Reservada do Alto Rio Purus, uma unidade de conservação na Amazônia peruana criada ainda no governo Alberto Fujimori (1990-2000). “Eu penso que se não for retomado um trabalho aqui no Envira pode acontecer algo como lá no Peru. Isso dá mais medo em mim que as flechas dos parentes bravos. Mas a gente não quer que a Funai volte como era antes. Ashaninka e madja precisam estar juntos. Precisamos ser parte”, diz Txate.
No último mês, lideranças ashaninka relataram a aparição de isolados na aldeia Simpatia. Na mesma comunidade, um indígena caiu em uma armadilha dos livres, no interior da floresta, mas não se feriu. No Igarapé do Anjo, aldeia do povo madja, a inserção dos livres acontece toda semana. A Base do Xinane, devorada pela fome úmida da floresta amazônica no paralelo 10°S, segue como símbolo do desafio da política indigenista aos isolados. Num paradoxo, como assegurar e garantir a liberdade desses povos? Enquanto isso, os livres exercem o direito de resistência e demonstram diplomaticamente que não irão aceitar as mortes de antigamente. As histórias circulam, e eles seguem o caminho de volta entrecortado por trilhas de outros povos. Por essas picadas, os livres também seguem, onde muitos deles tiveram a carne morta devorada pela terra. Um jardim de ossos na paisagem da memória. Num mundo brevemente grande, que já teve seu apocalipse de fogo para esses povos, tais encontros ocorrem entre as ruínas de raízes que insistem em tecer novos convívios e relações.
1 A Funai divulgou o episódio no dia 7 de agosto de 2011, tendo ampla cobertura da imprensa. Ver mais em: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2011/08/grupo-armado-peruando-invade-terra-de-indios-isolados-no-ac-diz-funai.html.
2 Depoimento do sertanista José Carlos Meirelles ao cineasta Silvio DaRin para o documentário Paralelo 10(2012).

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ESPAÇO ÁFRICA

Estamos iniciando os estudos sobre África na escola. Criamos aqui um espaço exclusivo para debatermos o Continente Berço da Humanidade.
Dê sua sugestão. Indique materiais, vídeos, artigos, fotografias sobre o mais importante Povo, depois do nosso, para nós brasileiros e americanos em geral. Não existe América sem a África. Não tem como estudar a História do Brasil ou da América sem conhecermos a História da África.
Estudar a "Mama África" é talvez, a forma mais importante e fundamental, além do estudos dos nossos índios, de conhecermos a nós mesmos.
                                                                                                              Acervo Museu Afro Brasil
                                                       Angola, África / 1910
Vamos disponibilizar aqui muito material de pesquisa produzido e organizado por nós e, artigos e demais materiais disponíveis ao público em geral na internet. Vamos iniciar com um artigo do Le Monde Diplomatique Brasil. Aproveitem!!!

Professor Gilbert

África: desafios da democracia e do desenvolvimento
Desde meados de dezembro de 2010, quando as mobilizações populares ganharam as ruas da Tunísia, estamos assistindo, surpresos, a um crescente número de revoltas populares no Norte da África. Elas atingiram o Egito, a Líbia, o Marrocos, e estenderam-se para a Costa do Marfim... Há sinais de que essas manifestações se propagam para outros países sem que se saiba até onde irão, seja em profundidade, seja no território. Em dois casos, da Tunísia e do Egito, elas derrubaram ditaduras. Na Líbia converteu-se em guerra civil e campo de intervenção da Otan. É uma crise sem precedentes na qual a população desses países sai às ruas e questiona a legitimidade e a permanência de governos autoritários. E as manifestações persistem, apesar da repressão dos governos já ter produzido milhares de vítimas fatais.
Uma das características mais inusitadas desses conflitos é o papel que cumprem o telefone celular, a internet, as redes sociais. Mas para além dessas novas ferramentas de comunicação existe um cenário, um pano de fundo, um contexto que precisa ser compreendido.
Buscar entender essas profundas mudanças em curso no continente africano requer recuperarmos, em uma dimensão histórica, a análise de como a África veio evoluindo, ou melhor dizendo, se precarizando, ao longo das últimas décadas. Pobreza extrema, aids, exploração predatória dos recursos naturais, conflitos étnicos, corrupção e ausência de políticas públicas são decorrentes de processos onde teve grande peso, por exemplo, o passado de colonização do território por parte de potências europeias.
Por outro lado, há toda uma riqueza cultural, uma expressão artística, uma diversidade, experiências na solução de problemas que passam por outros padrões de convivência, mais solidários e cooperativos, que não estão visíveis para nós. 
Os laços do Brasil com a África se estreitam cada vez mais nos dias de hoje, com a construção de um mundo multipolar onde tanto a América Latina quanto a África estão desafiadas a se articular em organizações regionais e alianças de novo tipo para superar a produção das desigualdades e assegurar padrões de desenvolvimento que busquem a efetivação de direitos.
A importante presença do negro na composição da população brasileira, os sincretismos religiosos profundos, com a forte influência da umbanda e do candomblé em nossa cultura; as múltiplas manifestações de arte; a importância da vida comunitária que se abre como alternativa ao nosso padrão individualista, tudo isso nos leva a crer que precisamos conhecer muito mais da vida, da cultura e da política do continente africano. É com essa disposição que DOSSIÊ Le Monde Diplomatique Brasil escolheu abordar o tema da“África: desafios da democracia e do desenvolvimento”.
Ao lançarmos esta revista bimestral, que abordará em suas próximas edições outros temas em profundidade, estamos buscando principalmente o público jovem, que expressa seu interesse e sua curiosidade sobre temas como essas importantes manifestações populares que se passam do outro lado do Oceano Atlântico, em um continente com o qual temos laços profundos de identidade e, cada vez mais, o empenho na busca de um futuro comum.
Procuramos produzir uma revista com grande qualidade, apresentando nesta edição a visão mais completa possível da realidade africana. Para isso contamos com a colaboração, como organizadores, dos professores Kabengele Munanga e Carlos Serrano, coordenadores do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo. Agradecemos a eles o trabalho de escolher os textos dentre os disponíveis em nosso acervo do jornal Le Monde Diplomatique e organizá-los de maneira a apresentar uma visão de conjunto da realidade africana.
Também queremos agradecer ao MUSEU AFRO BRASIL – especialmente ao diretor curador, Emanoel Araújo, e ao diretor executivo, Luiz Henrique Marcon Neves – pela cessão das imagens que ilustram nossa revista e que tanto contribuem para termos uma idéia da produção artística relacionada a esse continente.
Desejamos uma boa leitura e que você desfrute dos artigos e das imagens que trazem para perto de nós uma África muito pouco conhecida
Silvio Caccia Bava
Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil



Cicatrizando a memória do terrorismo de Estado na Argentina

                                A RECUPERAÇÃO DE UM NOVO NETO DESAPARECIDO
“Às vezes, eu pensava: ‘não quero morrer sem abraçá-lo, sem conhecê-lo’, mas nunca imaginei este dia em particular”. Por sua vez, Ignacio não imaginava ser, justamente, neto da avó mais reconhecida pela sua luta e resistência

E no Brasil?
Em que vai dar a Comissão da Verdade?
Por que no Brasil ninguém é punido?
Torturadores, mandantes, todos impunis, por que?
Não está passando da hora de uma revisão na lei de anistia?
Os caras, civis e militares que ainda pensam em "soluções" autoritárias devem imaginar que, no Brasil, ainda cabe golpes...
Por que pensam assim?
Por que não somos capazes de, como na Argentina, levar à justiça todos aqueles que cometeram crimes durante a ditadura militar?
Você fica aí impassível por que não foi com a sua família ou, não sabe a importância para a democracia brasileira, a investigação e a punição dos culpados.
No Brasil, centenas de famílias aguardam há anos por uma solução, nem os corpos de seus entes queridos foram encontrados.
O que nosso vizinho tem a nos ensinar?

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

por Victoria Darling

Em 6 de agosto, foi restituída a identidade de Ignacio Hurban, músico e professor de escola na Província de Buenos Aires. Após uma análise de DNA, Ignacio descobriu que suas dúvidas tinham bom fundamento. As análises comparativas demonstraram que ele é filho de Laura Carlotto e Walmir Óscar Montoya, dois jovens militantes de esquerda, sequestrados e desaparecidos durante a última ditadura militar argentina.
A sua mãe o chamou de Guido durante as poucas horas que teve contato com ele, após o parto; logo, ela seria assassinada. Durante 36 anos, foi procurado insistentemente pela sua avô, Estela de Carlotto, a reconhecida presidenta da Asociación Abuelas de Plaza de Mayo.
“Há dois dias que já sei quem sou ou quem não era”, afirmou Ignacio/Guido na coletiva de imprensa oferecida junto com a sua avô na cidade de Buenos Aires.
Ignacio – que ainda prefer ser chamado desse modo – foi criado no interior, na cidade de Olavarría, por um casal de agricultores, sem irmãos nem primos.
“Vivi uma vida feliz”, afirma, pois até há poucos meses, suas dúvidas não tinham o fundamento necessário para ir atrás de respostas em relação à sua identidade. Foi apenas no mês de julho que ele começou a suspeitar seriamente que não era filho legítimo dos seus pais, como consequência de alguns comentários feitos por familiares e amigos no seu (até então) aniversário. A partir desse momento, as suspeitas foram aumentando e ele começou imaginar com claridade, pela primeira vez, que ele poderia ser filho de pais desaparecidos durante a última ditadura militar (1976-1983).
Perante as dúvidas, Ignacio foi encaminhado à Comisión Nacional por el Derecho a la Identidad (Conadi). Lá, foi realizada a extração do sangue e as diversas amostras foram comparadas no Banco Nacional de Datos Genéticos, para, transcorridos quinze dias, serem obtidos os dados necessários, levados ao Tribunal e encaminhados, finalmente, ao solicitante.
No entanto, a comoção surgida por causa da trajetória de luta pela recuperação da memória e, particularmente, pela procura incansável de Estela, foi tão importante que os dados do processo foram filtrados e a juíza Servini de Cubrián informou a avó do surpreendente achado.
“A primeira coisa que eu fiz foi ligar para as Abuelas e contar para a Raquel, a avó que normalmente está na sede”. Eu disse: “primeiro, solto a bomba: ‘acharam o Guido’; depois, liguei para a minha filha Claudia, de quem eu tenho o telefone mais direto e estamos sempre juntas, trabalhando esses temas. Começamos as duas a gritar de alegria”, disse Estela, exultante, ao receber a notícia.
“Às vezes, eu pensava: ‘não quero morrer sem abraçá-lo, sem conhecê-lo’, mas nunca imaginei este dia em particular”.
Por sua vez, Ignacio não imaginava ser, justamente, neto da avó mais reconhecida pela sua luta e resistência. De fato, toda a mídia se interessou por ele, sem distinções de coloração política, comemorando a sua recuperação.
“Em relação à pergunta de como eu cheguei a questionar, acho que é como acontece com todos ou quiçá esteja acontecendo com algumas pessoas: há ruídos que você tem na cabeça, como borboletinhas de dúvidas e perguntas que ficam aí, fora do campo de visão. E há coisas que você não sabe, mas você sabe, começa a pensar e perceber. E, como aconteceu no meu caso, chega algum indício sério e, a partir daí, começa a busca”, falou Ignacio.
No seu caso, o processo de busca foi breve, mas não o da sua avó. Estela de Carlotto é titular de Abuelas de Plaza de Mayo e participante ativa da Associação, criada em outubro de 1977.
No início, em plena ditadura civil-militar, “depois de iniciar sua busca sozinha, pois o medo inserido na sociedade condicionava a atitude perante as famílias diretamente atingidas na etapa mais dura da repressão ilegal [...], uma mulher se afastou da concentração que faziam as Madres de Plaza de Mayo e perguntou: ‘quem está procurando seu neto ou tem sua filha ou nora grávida?’. Uma por uma foram saindo. Naquele momento, doze mães compreenderam que deviam se organizar para procurar os filhos dos seus filhos sequestrados pela ditadura”.
Inicialmente, foram batizadas como Abuelas Argentinas con Nietitos Desaparecidos e, mais tarde, adotaram o nome pelo qual o jornalismo internacional as chamava: Abuelas de Plaza de Mayo, relata o político e sociólogo Daniel Filmus. Daí em diante, a Associação Abuelas começaria o trabalho de criação de documentos, denúncias, apresentação de chamados na mídia, organizações nacionais e internacionais, organizando redes e campanhas pela identidade que conseguiriam a restituição da verdadeira identidade de 114 netos até hoje.
Além de exigir justiça em marchas e encontros, acompanhando as Madres de Plaza de Mayo, elas criaram, junto com um grupo de especialistas, um Banco de Dados Genéticos com os dados de todas as famílias com menores desaparecidos. Foi justamente essa iniciativa que as fez ter a certeza de que se elas não achassem os netos, um dia, quando a informação sobre o ocorrido for inteiramente conhecida pelo povo, os netos, então, procurariam suas próprias avós, como aconteceu no caso de Ignacio/Guido. Embora o passado não possa ser restituído de maneira íntegra, subsistem sempre rastros, materiais, objetos, marcas do que um dia foi.
No presente, existem ainda quatrocentos casos de filhos de desaparecidos, netos procurados, nascidos no cativeiro sob o último governo militar, que não conhecem sua verdadeira identidade. O caso de Guido constitui uma peça a mais que, junto com outras, conforma um mosaico de reconstrução.
Não consiste somente em reconstruir famílias, trajetórias e relações baseadas no amor, mas muito mais do que isso: a reedificação da memória de um povo inteiro que, após anos de terror, tem a coragem de se olhar de novo através do cristal da verdade.
“Eu estou respondendo uma pergunta. Sou músico e sempre me perguntaram de onde é que veio a minha paixão pela música e eu, na verdade, não sabia realmente, porque no meio ambiente onde fui criado, por um casal que me criou com o maior dos amores, o ambiente me predestinava a outra coisa”.
O verdadeiro pai de Ignacio era músico. História espiralada de desejos, gostos e preferências que, às vezes, não precisam de maiores explicações.

Victoria Darling
Darling é doutora em Ciências Políticas e Sociais pela Universidad Nacional Autónoma de México e professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).


18 de Agosto de 2014
Palavras chave: Arquivo Pessoal

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Outras Pautas debate reforma política e plebiscito popular dia 19 de agosto

Fonte: site Sinpro-DF - 19/08/2014

Entre os dias 1 e 7 de setembro, diversos movimentos sociais e populares estão organizando um plebiscito sobre a reforma política. Para falar sobre o tema, a quinta edição do Outras Pautas contará com a presença de Misa Boito e Andrea Butto. O evento será dia 19 de agosto, às 19h30 no teatro da Escola Parque da 308 Sul.
Misa é militante política, formada em ciências sociais e integrante da Secretaria Operativa Nacional do Plebiscito Popular pela Constituinte Soberana e Exclusiva do Sistema Político. Andrea Butto é mestre em antropologia, professora da UFRPE e diretora de Políticas para Mulheres Rurais da Secretaria-Executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
O debate será mediado por Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro, que ressalta a necessidade do encontro. “É um momento importantíssimo para a nossa democracia, esta edição do Outras Pautas certamente vai ajudar na reflexão sobre a reforma política”, diz.
O projeto
O Outras Pautas é idealizado e realizado pelo Sinpro com o objetivo de ampliar o debate com a categoria e com a sociedade sobre temas relevantes para o avanço da democracia. Esta será a quinta edição do projeto. Os 50 anos do golpe militar, a influência da mídia na política e no mundo, além de uma entrevista com o rapper MV Bill fizeram parte das edições anteriores. O próprio debate sobre a reforma política esteve presente em 2012 no Outras Pautas, que retorna agora, mais maduro e urgente.

Chegam à internet documentos sobre sonegação da Globo

Vaza processo sigiloso da Receita Federal, que aponta possíveis crimes financeiros, fiscais e lavagem de dinheiro. Estudo revela: só elites russas sonegam mais que as brasileiras.  
É essa elite conservadora, super rica que manda por exemplo em São Paulo, por isso também é difícil retirar o PSDB do poder no Estado.
É essa elite conservadora e super rica que patrocina a Veja com anúncios milionários reforçando a irresponsabilidade jornalística da revista.
É também essa elite irresponsável, rentista que paga anúncios milionários na Globo, colaborando para que o Brasil tenha uma TV gigantesca e poderosa e que exerce um fascínio assustador em grande parte da população, que domina a audiência nos horários "nobres" e que, principalmente em ano eleitoral, exerce uma forte e implacável manipulação.
É essa elite que deu apoio irrestrito ao candidato do PSDB e, agora com a morte do candidato Eduardo campos, deve migrar em parte para a candidata Marina Silva, pois o tucano deve evaporar.
É essa elite que propaga o ódio cego ao Partido dos Trabalhadores usando principalmente a Veja, o jornal Folha e a rede Globo.
É assustador o poder dessas elites, e quando se juntam à mídia conservadora, preocupa ainda mais. O país precisa de leis democráticas que exerçam papel fiscalizador, de monitoramento da programação...não de censura.
por José Gilbert A. Martins (professor)

Por Miguel Rosário, no Tijolaço
A trágica morte de Eduardo Campos fez passar despercebido o vazamento da íntegra do processo de sonegação da Rede Globo.
Os documentos chegaram simultaneamente a diversos blogs e sites no mundo inteiro, e estão disponíveis  para download nestes links: doc01.pdf e  doc02.pdf
São 1.200 a 1.500 páginas, que agora devem ser analisadas pela inteligência coletiva das redes sociais.
Há páginas com transferências ilegais de valores da Globo e suas laranjas para o exterior, o que pode se configurar crime financeiro, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
É uma mina de ouro!
E agora não tem nada a ver com o Cafezinho. O vazamento veio do exterior, por fonte não-identificada, e só não explodiu por causa da comoção nacional causada pela morte de um candidato a presidente da república.
Neste momento, em que a Globo se arrepia toda com a possibilidade de realizar uma grande manipulação emocional da população, com a morte de Eduardo Campos, seria interessante mostrar ao povo brasileiro que a emissora não tem condição moral de ser “árbitro” de nenhuma disputa eleitoral.
É preciso aproveitar o momento para se iniciar uma grande campanha contra a sonegação de impostos.
A democracia brasileira precisa, sim, de um choque moral. Isso implica em rever alguns valores. Para nossa elite, não há interesse em patrocinar campanhas contra a sonegação, porque ela é a que mais sonega no mundo inteiro.
Para se ter uma ideia, em novembro do ano passado, o Valor deu uma notícia que nenhum grande jornal mais popular repercutiu.



A Rússia só está em primeiro lugar em percentual do PIB, e mesmo assim, em “empate técnico” com o Brasil. A sonegação russa corresponde a 14,2% do PIB; a nossa, a 13,4%.
Mas a sonegação brasileira, em valores, é bem maior: US$ 280 bilhões. Em reais, portanto, a sonegação brasileira, em 2011, foi de R$ 636 bilhões! Em 2011, imagina em 2014!
A sonegação russa, em valores, está estimada em US$ 211 bilhões/ ano.
O único país cuja sonegação supera o Brasil em valores são os EUA. A sonegação nos EUA totaliza US$ 337 bilhões, mas isso correspondeu a um percentual de apenas 2,3% de seu PIB.
Agregando percentual de PIB e valor, portanto, pode-se afirmar que a sonegação brasileira é a maior do mundo!
Uma empresa que ganha dinheiro como concessão pública de TV deveria ser um exemplo, um modelo! E fazer campanha contra a sonegação!
É claro que o Brasil precisa passar por uma reforma tributária!
Os auditores fiscais estimam que, se a sonegação fosse reduzida, a carga tributária poderia ser brutalmente reduzida no país.
A campanha contra a sonegação deveria ser incorporada a todas as campanhas contra a corrupção, até porque envolve valores muito maiores, e as duas, sonegação e corrupção, estão ligadas organicamente. O dinheiro sonegado é o mesmo usado para corromper.