Por José Gilbert Arruda Martins (professor)
Por que não uso a revista Veja na minha preparação de aulas?
Por que defendo que a revista não seja usada pelas escolas e
colegas professores e professoras?
Um pouco da história da
revista pode ajudar no entendimento do que estou defendendo nesse texto:
E,
apesar do Mino negar, a revista chegou sim a dar apoio à ditadura militar
brasileira, leia o que diz o juiz aposentado Carlos Alberto Saraiva em seu
blog:
“Capas da Veja comprovam apoio da
revista à Ditadura
Por que será que hoje a Revista Veja evita, até nos
momentos mais marcantes, falar de certos temas que vão contra os seus
interesses?
Essa prática é recorrente com temas de âmbito político e social, entretanto,
não é o mais sombrio de seus recursos.
Desde sua fundação em 1968, a Veja
abusou do verbo para demonizar seus inimigos ante a opinião pública.
Isso fica evidente quando observamos
as edições mais distantes do presente, uma simples leitura das capas da revista
durante a Ditadura Militar pode se absurdamente reveladora.
Por que parte da classe média brasileira ainda ler
essa revista? Será que é por simples falta de alternativas? Ou, por que a
classe média é mesmo conservadora e ideologicamente alinhada com o que o
periódico defende? Falta de alternativa não pode ser, pois temos dezenas de
outras revistas.
Mas, voltando às questões inicias do texto.
Acredito que professor e professora não pode ser mal informado. Acredito também
que professor e professora precisa não ser alienado ao ponto de não querer
enxergar o que a revista divulga, o que ela faz contra pessoas, grupos,
instituições e, praticamente todos os governos progressistas daqui, da América
Latina e do mundo.
A história da revista mostra claramente o que a
mesma defende. É impossível, até mesmos aos mais desavisados, não enxergar o
direcionamento ideológico à direita e ultraconservador da revista, a defesa dos
interesses dos plutocratas, no Brasil e no exterior.
No livro “Segredos, mentiras e democracia” Noam
Chomsk, falando sobre os meios de comunicação, diz:
“...gostaríamos de ver uma tendência para a
igualdade. Não só a igualdade de oportunidades, mas a verdadeira igualdade – a capacidade,
em todas as fases da existência, de acessar a informação e tomar decisões com
base nessa informação. Assim, um sistema de comunicação social verdadeiramente
democrático envolveria a participação do povo em larga escala, refletindo tanto
os interesses públicos como valores autênticos: a verdade, a integridade, a
descoberta” (Chomsk, 56).
Eu questiono, a história da revista veja faz dela
um instrumento de informação ao cidadão? Me parece que não. Por isso mesmo
parte da própria imprensa chama a esse tipo de jornalismo de PIG (Partido da
Imprensa Golpista), e, ao meu ver com razão.
O texto O
caso de Veja por Luís Nassif
Estilo neocon,
política e negócios, é esclarecedor, todo professor e toda professora deveria
ler e comentar, segue...
O maior fenômeno de anti-jornalismo dos últimos anos foi o que
ocorreu com a revista Veja.Gradativamente, o maior semanário
brasileiro foi se transformando em um pasquim sem compromisso com o jornalismo,
recorrendo a ataques desqualificadores contra quem atravessasse seu caminho,
envolvendo-se em guerras comerciais e aceitando que suas páginas e sites
abrigassem matérias e colunas do mais puro esgoto jornalístico.
Para entender o que
se passou com a revista nesse período, é necessário juntar um conjunto de peças.
O primeiro conjunto
são as mudanças estruturais que a mídia vem atravessando em todo mundo.
O segundo, a maneira
como esses processos se refletiram na crise política brasileira e nas grandes
disputas empresariais, a partir do advento dos banqueiros de negócio que sobem
à cena política e econômica na última década..
A terceira, as
características específicas da revista Veja, e as mudanças pelas
quais passou nos últimos anos.
O estilo neocon
De um lado há
fenômenos gerais que modificaram profundamente a imprensa mundial nos últimos
anos. A linguagem ofensiva, herança dos “neocons” americanos, foi adotada por
parte da imprensa brasileira como se fosse a última moda.
Durante todos os anos
90, Veja havia desenvolvido um estilo jornalístico onde
campeavam alusões a defeitos físicos, agressões e manipulação de declarações de
fonte. Quando o estilo “neocon” ganhou espaço nos EUA, não foi difícil à
revista radicalizar seu próprio estilo.
Um segundo fenômeno
desse período foi a identificação de uma profunda antipatia da chamada classe
média mídiatica em relação ao governo Lula, fruto dos escândalos do “mensalão”,
do deslumbramento inicial dos petistas que ascenderam ao poder, agravado por um
forte preconceito de classe. Esse sentimento combinava com a catarse
proporcionada pelo estilo “neocon”. Outros colunistas utilizaram com talento –
como Arnaldo Jabor -, nenhum com a fúria grosseira com que Veja enveredou
pelos novos caminhos jornalísticos.
O
jornalismo e os negócios
Outro fenômeno
recorrente – esse ainda nos anos 90 -- foi o da terceirização das denúncias e o
uso de notas como ferramenta para disputas empresariais e jurídicas.
A marketinização da
notícia, a falta de estrutura e de talento para a reportagem tornaram muitos
jornalistas meros receptadores de dossiês preparados por lobistas.
Ao longo de toda a
década, esse tipo de jogo criou uma promiscuidade perigosa entre jornalistas e
lobistas. Havia um círculo férreo, que afetou em muitos as revistas semanais. E
um personagem que passou a cumprir, nas redações, o papel sujo antes
desempenhado pelos repórteres policiais: os chamados repórteres de dossiês.
Consistia no
seguinte:
O lobista procurava o
repórter com um dossiê que interessava para seus negócios.
O jornalista levava a
matéria à direção, e, com a repercussão da denúncia ganhava status
profissional.
Com esse status ele
ganhava liberdade para novas denúncias. E aí passava a entrar no mundo de
interesses do lobista.
O caso mais exemplar
ocorreu na própria Veja, com o lobista APS (Alexandre Paes Santos).
Durante muito tempo
abasteceu a revista com escândalos. Tempos depois, a Policia Federal deu uma
batida em seu escritório e apreendeu uma agenda com telefones de muitos
políticos. Resultou em uma capa escandalosa na própria Veja em 24
de janeiro de 2001 (clique
aqui) em que se acusavam desde assessores do Ministro da Saúde
José Serra de tentar achacar o presidente da Novartis, até o banqueiro Daniel
Dantas e o empresário Nelson Tanure de atuarem através do lobista.
Na edição seguinte,
todos os envolvidos na capa enviaram cartas negando os episódios mencionados.
Foram publicadas sem que fossem contestadas.
O que a matéria
deixou de relatar é que, na agenda do lobista, aparecia o nome de uma editora
da revista - a mesma que publicara as maiores denúncias fornecidas por ele. A
informação acabou vazando através do Correio Braziliense, em matéria dos
repórteres Ugo Brafa e Ricardo Leopoldo.
A editora foi
demitida no dia 9 de novembro, mas só após o escândalo ter se
tornado público.
Antes disso, em
27 de junho de 2001(clique aqui) Veja publicou uma capa com a
transcrição de grampos envolvendo Nelson Tanure. Um dos “grampeados” era o
jornalista Ricardo Boechat. O grampo chegou à revista através de lobistas e
custou o emprego de Boechat, apesar de não ter revelado nenhuma irregularidade de
sua parte.
Graças ao escândalo,
o editor responsável pela matéria ganhou prestígio profissional na editora e
foi nomeado diretor da revista Exame. Tempos depois foi afastado, após a Abril
ter descoberto que a revista passou a ser utilizada para notas que não seguiam
critérios estritamente jornalísticos.
Um dos boxes da
matéria falava sobre as relações entre jornalismo e judiciário.
O boxe refletia, com exatidão, as
relações que, anos depois, juntariam Dantas e a revista, sob nova direção:
notas plantadas servindo como ferramenta para guerras empresariais, policiais e
disputas jurídicas.