Hoje em nossa aula finalizando o Projeto "Ecos da Ditadura", algumas alunas me solicitaram dicas de livros sobre a ditadura militar brasileira. Segue aí, espero que contemple a todas e a todos.

O golpe civil-militar de 1964 vai se
tornar cinquentão entre os dias 31 de março e 1º de abril. A direita afirma que
o golpe se deu em março. A esquerda, para conectar com o dia da mentira,
sustenta que ocorreu em 1º de abril. Há vários livros sobre o golpe e os
governos ditatoriais. Listei 25, mas poderia ter arrolado mais de 50. Algum
livro de alta qualidade ficou fora da lista? É provável. Mas listas são sempre
lacunares. O Jornal Opção poderia ter arrolado, por exemplo, livros de Octávio
Ianni (“O Colapso do Populismo no Brasil”), Francisco de Oliveira (“Crítica à
Razão Dualista”), Maria da Conceição Tavares (“Da Substituição de Importações
ao Capitalismo Financeiro”), Carlos Lessa (“15 Anos de Economia Brasileira”),
Carlos Castello Branco (“Introdução à Revolução de 1964”) e Francisco Weffort
(“O Populismo na Política Brasileira”). Poderia ter citado um livro básico,
como “O Governo Goulart e o Golpe de 64” (Brasiliense, 144 páginas), de Caio
Navarro de Toledo, ou o terceiro tomo de “O Brasil Republicano”.
1 – Ilusões Armadas, de Elio Gaspari
A história geral mais ampla do golpe de 1964 e sobre os governos da
ditadura civil-militar, além da reação da guerrilha, pode ser encontrada nos
quatro volumes escritos por Elio Gaspari: “A Ditadura Envergonhada”, “A
Ditadura Escancarada”, “A Ditadura Encurralada” e “A Ditadura Derrotada”. Quem
não conhece nada a respeito do regime instalado há quase 50 anos, ou conhece
pouco, pode consultar, com grande proveito, os quatro livros do jornalista (ele
está escrevendo o quinto volume). A Editora Intrínseca está lançando uma edição
revista.
2 – 1964: A Conquista do Estado, de
René Armand Dreifuss
O uruguaio René Armand Dreifuss, no livro “1964: A Conquista do Estado —
Ação Política, Poder e Golpe de Classe” (Vozes, 814 páginas, tradução de Ayeska
Branca, Ceres Ribeiro, Else Ribeiro e Glória de Mello), escreveu o clássico
sobre o golpe. A obra foi publicada em 1981, mas, 32 anos depois, sua pesquisa
resiste — tal a sua qualidade. Claro que novos documentos foram divulgados, o
que, de certo modo, desatualiza parte da pesquisa anterior. Dreifuss documenta
bem a conexão militares e civis, o que prova que o golpe, além de militar,
também foi civil. Documenta as ações do Ipes e do Ibad na articulação e
financiamento da derrubada do presidente João Goulart.
3 – Os Senhores das Gerais, de
Heloisa Starling
“Os Senhores das Gerais — Os Novos Inconfidentes e o Golpe de 1964”
(Vozes, 378 páginas), de Heloisa Maria Murgel Starling, é uma espécie de “1964:
A Conquista do Estado” de Minas Gerais (René Armand Dreifuss foi orientador da
dissertação de mestrado da autora) . Com farta documentação e uma bibliografia
vasta — por exemplo, as memórias dos generais Carlos Guedes e Olímpio Mourão
Filho—, Starling rastreia a ação do Ipes em Minas Gerais. Minas, como se sabe,
“começou” o golpe, com Olímpio Mourão e Magalhães Pinto, civil.
4 – Além do Golpe, de Carlos Fico
“Além do Golpe — Versões e Controvérsias Sobre 1964 e a Ditadura
Militar” (Record, 391 páginas), do historiador Carlos Fico, examina
criticamente as principais obras sobre o golpe e a ditadura. Examina, com
rigor, as virtudes e os problemas das obras de outros pesquisadores, como René
Armand Dreifuss e Elio Gaspari (talvez seja a crítica mais consistente à
pesquisa de Gaspari). Pesquisadores ganham um amplo e fundamental guia
bibliográfico. No final da obra, Fico arrola documentos importantes, como a
íntegra do AI-5.
5 – O Grande Irmão, de Carlos Fico
“O Grande Irmão: Da Operação Brother Sam aos Anos de Chumbo — O Governo
dos Estados Unidos e a Ditadura Militar Brasileira” (Civilização Brasileira,
334 páginas), de Carlos Fico, é um livro muito documentado sobre o golpe de
1964 e o regime civil-militar. A história de um “contragolpe preventivo”, a ser
dado por João Goulart, é contestada pelo historiador: “Trata-se de especulação
inconsistente não apenas porque é anacrônica. (...) não há nenhuma evidência
empírica de que Goulart planejasse um golpe e todos sabemos que um golpe era
planejado contra ele”. Fico nota que civis foram mais presentes na campanha de
estabilização do governo de Jango. A participação americana “foi decisiva” para
o golpe. “A Operação Brother Sam não foi pouca coisa.” Fico publica vários
documentos.
6 – Brasil: de Getúlio a Castello,
de Thomas Skidmore
O brasilianista Thomas Skidmore é autor de duas histórias gerais de
qualidade sobre o Brasil: “Brasil: de Getúlio a Castello — 1930-64” (Companhia
das Letras, 496 páginas, tradução de Berillo Vargas) e “Brasil: De Castello a
Tancredo: 1964-1985” (Paz e Terra, 608 páginas, tradução de Mário Salviano
Silva). Novos livros, como os de Gaspari e Fico, ampliaram a história do
período. Mas as obras de Skidmore permanecem — com erros aqui e ali — como uma
narrativa de qualidade de 55 anos de história do Brasil.
7 - 1964 — História do Regime
Militar Brasileiro, de Marcos Napolitano
Marcos Napolitano, professor da USP, escreveu uma síntese em “1964 —
História do Regime Militar Brasileiro” (Contexto, 368 páginas). O doutor em
história assinala que civis e militares atuaram unidos para derrubar João
Goulart — portanto, o golpe foi civil-militar —, mas discorda da tese de que
houve uma ditadura civil-militar. “Os militares sempre se mantiveram no centro
decisório do poder”, frisa. Outros historiadores, como Daniel Aarão Reis Filho,
defendem a tese de que o regime foi, sim, civil-militar. Os civis, além de
governarem os Estados, foram responsáveis, em larga escala, pela política de
planejamento e fazendária e pela formulação do arcabouço institucional do
regime.
8 - 1964 — O Verão do Golpe, de Roberto
Sander
O jornalista Roberto Sander teve uma boa ideia (que pode ser ampliada).
No livro “1964 — O Verão do Golpe” (Maquinária, 269 páginas), o jornalista
construiu uma boa síntese do golpe, com uma leitura atenta da bibliografia,
paralelamente faz a uma história cultural do período. Em suas páginas desfilam
desde João Goulart, Castello Branco até a atriz francesa Brigitte Bardot, a
cantora Nara Leão (estrela da Bossa Nova), o músico Jorge Ben e o cineasta
Glauber Rocha (o Cinema Novo). Mesmo na crise, o brasileiro estava de bem com a
vida.
9 - João Goulart — Uma Biografia, de
Jorge Ferreira
Uma biografia pode ser uma grata história de um período. É o que mostra
o historiador Jorge Ferreira no livro “João Goulart — Uma Biografia”
(Civilização Brasileira), de longe, o melhor estudo sobre o presidente deposto
em 1964. Ferreira não pretende criar um novo mito. Pelo contrário, tira a roupa
do mito criado pelo esquerda e pela direita e vai além da imagem do herói e do
vilão. Jango ressurge com cores novas, um político mais articulado do que se
tem mostrado e pelo menos pusilânime.
10 – Visões do Golpe — A Memória
Militar Sobre 1964, de Maria Celina D’Araújo
Aos militares são dadas poucas chances de se manifestarem de forma isenta.
O livro “Visões do Golpe — A Memória Militar Sobre 1964” (, organizado por
Maria Celina D’Araújo, Celso Castro e Gláucio Ary Dillon Soares, contém
entrevistas de vários militares que contribuíram para derrubar João Goulart e
participaram dos governos ditatoriais. Há depoimentos moderados e radicais,
apresentados de maneira integral, sem cortes. É um documento histórico valioso,
um maná para pesquisadores. Porque os militares não falam com facilidade.
11 - Cães de Guarda — Jornalistas e
Censores, de Beatriz Kushnir
Há um livro que as redações de alguns jornais não podem resenhar — nem
contra. “Cães de Guarda — Jornalistas e Censores, do AI-5 à Constituição de
1988” (Boitempo, 408 páginas), da historiadora Beatriz Kushnir. A pesquisadora,
num estudo alentado, mostra que, além de apoiar o golpe de 1964, a chamada
grande imprensa coonestou os atos da ditadura. A relação com a censura foi bem
menos tensa do que dizem alguns editores e donos de jornais e redes de
televisão. Alguns veículos colaboraram, de boa vontade, com a ditadura
civil-militar. O dono de uma revista teria enviado um profissional para treinar
censores. Agora, quando todo mundo se apresenta “contra” o regime militar, o
livro se tornou “maldito”.
12 - Carlos Lacerda — A Vida de Um
Lutador
O brasilianista John W. F. Dulles escreveu uma biografia ampla de Carlos
Lacerda, o civil que mais trabalhou para derrubar o presidente João Goulart, em
“Carlos Lacerda — A Vida de um Lutador” (Nova Fronteira, dois volumes, 1263
páginas, tradução de Vanda Mena Barreto de Andrade e Daphne F. Rodger). Nada
escapa do meticuloso Dulles, desde a história do golpista profissional e do
governador eficiente da Guanabara até os casos amorosos com as atrizes Shirley
MacLaine e Maria Fernanda Correia Dias (filha da poeta Cecília Meirelles). “Não
praticava o homossexualismo, como alegaram no final da sua vida alguns detratores”,
relata o pesquisador.
13 – Os Militares na Política: As
Mudanças de Padrões na Vida Brasileira, de Alfred Stepan
O brasilianista Alfred Stepan é autor de alguns livros sobre o Brasil,
como “Os Militares na Política: as Mudanças de Padrões na Vida Brasileira”
(Artenova, de 1975) e “Os Militares. Da Abertura à Nova República (Paz e Terra,
115 páginas, de 1986). Mesmo fazendo críticas ao primeiro livro, Carlos Fico
diz que o cientista político “apontou, corretamente, a necessidade de se
estudar os militares considerando-se tanto suas interações com a sociedade
quanto suas características específicas de grupo especializado”.
14 – El Caudilho — Leonel Brizola, de
F. C. Leite Filho
Leonel Brizola, que foi governador do Rio Grande do Sul e do Rio de
Janeiro, merece uma biografia tão alentada quanto a que Jorge Ferreira escreveu
sobre João Goulart. Não um “ataque” ou uma “apologia”, e sim uma interpretação
detida do político gaúcho, uma espécie de Carlos Lacerda do nacionalismo de
esquerda. Na falta de um estudo mais abalizado, vale a pena ler “El Caudilho —
Leonel Brizola: Um Perfil Biográfico” (Aquariana, 544 páginas), do jornalista
F. C. Leite Filho. O capitão José Wilson da Silva, no livro “O Tenente
Vermelho” (Tchê!, 272 páginas), conta que Brizola recebeu (mas não desviou)
dinheiro de Cuba.
15 – Brasil: Nunca Mais, “organizado”
por Paulo Evaristo Arns e Jaime Wright
Um livro fundamental na historiografia do regime militar é “Brasil:
Nunca Mais” (Vozes, 312 páginas), patrocinado por d. Paulo Evaristo Arns e pelo
reverendo Jaime Wright. A obra relatou como atuava o aparelho repressivo e
listou os principais torturadores dos porões da ditadura. Trata-se de uma obra
rigorosa. Setores da direita atacam o levantamento, sugerindo que há falhas,
mas, no geral, trata-se de uma pesquisa rigorosa e desapaixonada. Honestino
Guimarães e a uruguaia Maria Cristina Uslenghi Rizzi, que foi casada com Tarzan
de Castro, são citados. Honestino foi torturado e morto pelos militares.
Cristina escapou.
16 – Os Anos do Condor, de John
Dinges
O livro “Os Anos do Condor — Uma Década de Terrorismo Internacional no
Cone Sul” (Companhia das Letras, 445 páginas, tradução de Rosaura Eichenberg),
de John Dinges, mostra a conexão da ditadura brasileira com as ditaduras de
outros países sul-americanos, como a chilena de Augusto Pinochet. Dinges conta,
detalhadamente, como foi formatada a Operação Condor. Na página 215, relata que
a brasileira Regina Marcondes foi sequestrada na Argentina, ao lado de Edgardo
Enríquez, líder do MIR. As mortes de Juscelino Kubitschek, João Goulart e
Carlos Lacerda são mencionadas na página 336.
17 – Castello — A Marcha Para a
Ditadura, de Lira Neto
O general-presidente Castello Branco permanecia um homem enigmático. O
jornalista Lira Neto contribui para iluminá-lo na biografia “Castello — A
Marcha Para a Ditadura” (Contexto, 428 páginas). Ele era uma espécie de Fouché,
um homem das sombras, articulado e inteligente. E, sim, queria mesmo devolver o
poder aos civis — desde que a um aliado, como Bilac Pinto. Mas, sob pressão da
linha dura, aceitou a candidatura de Costa e Silva a presidente. “O que está em
jogo é a sagrada unidade das Forças Armadas”, disse Castello aos aliados.
“Vamos vender o futuro por uma solução precipitada do presidente”, contestou o
general Ernesto Geisel. Ao exonerar Sylvio Frota do Ministério do Exército,
anos depois, Geisel não quis ser o Castello Branco 2.
18 – Ernesto Geisel, organizado por
Maria Celina D’Araújo e Celso Castro
O livro “Ernesto Geisel” (Fundação Getúlio Vargas, 494 páginas),
organizado pelos historiadores Marina Celina D’Araújo e Celso Castro, contém
uma longa entrevista do general-presidente que, com o apoio de Golbery do Couto
e Silva, matou a ditadura. Geisel mostra-se de uma sinceridade impressionante:
“Acho que a tortura em certos casos torna-se necessária, para obter
confissões”. Garante que o comandante do Exército de São Paulo, Ednardo d’Ávila
Melo, era omisso e seus subordinados faziam o que queriam — daí as mortes do
jornalista Vladmir Herzog e do operário Manuel Fiel Filho. Admite que Juscelino
Kubitschek não era corrupto. E relata como evitou o golpe militar do general
Sylvio Frota.
19 – Combate nas Trevas, de Jacob
Gorender
“Combate nas Trevas” (Ática, 294 páginas), do historiador Jacob
Gorender, publicado há quase três décadas, permanece o mais importante relato
sobre as ações da esquerda contra os governos militares. Embora crítico da
ditadura, mostrando os abusos de militares e delegados de polícia, Gorender não
faz uma defesa desbragada da esquerda. Faz críticas, aponta insuficiências de
interpretação da realidade brasileira e revela justiçamentos feitos pelos
esquerdistas. “A Revolução Impossível — A Esquerda e a Luta Armada no Brasil ”
(Best Seller, 755 páginas), de Luís Mir, é um bom livro, embora seja criticado
por acadêmicos. Ele antecipou, por exemplo, uma história relatada por Gorender:
o encontro de Carlos Marighella com o general Albuquerque Lima. Em plena
ditadura.
20 – Ministério do Silêncio — A
História do Serviço Secreto Brasileiro, de Lucas Figueiredo
“Como Eles Agiam — Os Subterrâneos da Ditadura Militar: Espionagem e
Polícia Política” (Record, 269 páginas), do historiador Carlos Fico, é
excelente. Fico talvez seja o principal historiador do período ditatorial. Sua
história pode ser complementada pelo livro “Ministério do Silêncio — A História
do Serviço Secreto Brasileiro de Washington Luís a Lula: 1927-2005” (Record,
591 páginas), de Lucas Figueiredo. “O modelo do SNI era mais parecido com o
adotado pela ditadura comunista da União Soviética”, escreve Figueiredo.
21 – Os Advogados e a Ditadura de 1964,
organizado por Fernando Sá, Oswaldo Munteal e Paulo Martins
Ser advogado de presos políticos na ditadura não era fácil. Mesmo assim,
sob ameaças e pressões, alguns advogados trabalharam para encontrar (as prisões
não eram notificadas às famílias) e defender presos políticos. “Os Advogados e
a Ditadura de 1964 — A Defesa dos Perseguidos Políticos no Brasil” (PUC Rio e
Vozes, 279 páginas), organizado por Fernando Sá, Oswaldo Munteal e Paulo Emílio
Martins, com prefácio de d. Paulo Evaristo Arns, conta a história de Sobral
Pinto, Modesto da Silva, Mário de Passos Simas, Heleno Fragoso, Aírton Soares,
Marcello Alencar, Sigmaringa Seixas, George Tavares, Hélio Bicudo, Luiz Eduardo
Greenhalgh e, entre outros, Dalmo Dallari.
22 – Gracias a la Vida —
Memórias de um Militante, de Cid Benjamin
Cid Benjamin é autor de um dos melhores livros de memória da esquerda
(muito superior aos livros de Carlos Eugênio Paz, da ALN). “Gracias a la Vida —
Memórias de um Militante” (José Olympio, 292 páginas) relata a história de
jovens guerrilheiros, entre eles Benjamin e um irmão, Cesar, que combateram a
ditadura civil-militar. Porém, no lugar de euforia, ufanismo e grandiloquência,
o jornalista faz um relato sóbrio e extremamente sincero. Apesar das
autocríticas, sempre equilibradas, não rompeu com a esquerda, embora seja um
crítico contundente do PT de Lula da Silva. Sua crítica ao sindicalismo petista
(de resultados e pelego) é muito bem elaborada. Trata-se de uma denúncia séria,
fundamentada e grave. Mas quem quer discutir isto? Os sindicalistas só querem
dinheiro e mais dinheiro.
23 – Mata! — O Major Curió e as
Guerrilhas no Araguaia, de Leonencio Nossa
O jornalismo e, mesmo, a academia ainda não digeriram a qualidade do
livro “Mata! O Major Curió e as Guerrilhas no Araguaia” (Companhia das Letras,
443 páginas), do jornalista Leonencio Nossa. Como Curió é apresentado como uma
figura execrável, porque teria contribuído para matar pessoas a sangue frio, um
livro que apresenta sua versão acaba por ser mal visto. No entanto, ainda que
se mantenha reservas, é provável que a obra deva ser vista sobretudo como um
documento histórico. Mais: a pesquisa do repórter vai além das versões do
militar. O jornalista Hugo Studart é autor de “A Lei da Selva — Estratégias,
Imaginário e Discurso dos Militares Sobre a Guerrilha do Araguaia” (Geração Editorial,
383 páginas). A guerrilha deixou de ser “propriedade” da esquerda.
24 – Marighella — O
Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo, de Mário Magalhães
Falta um grande livro sobre a oposição democrática à ditadura. Ancorada
no MDB, enfrentou os militares e seus aliados civis. Enquanto o livro não é
publicado, vale a pena ler a biografia “Marighella — O Guerrilheiro Que
Incendiou o Mundo” (Companhia das Letras, 732 páginas), de Mário Magalhães. O
estudo consumiu nove anos e é excelente. É uma história do Brasil vista a
partir da perspectiva de um indivíduo. Como não se trata de obra de condenação
de Carlos Marighella (líder máximo da Ação Libertadora Nacional, ALN), que
evidentemente não era democrata, acabou criticada com aspereza em blogs e na
revista “Veja” (Augusto Nunes) Entretanto, embora empática, não se trata de
obra de exaltação. É rigorosa, precisa.
5 – História Indiscreta da
Ditadura e da Abertura, de Ronaldo Costa Couto
A tese de doutorado de Ronaldo Costa Couto, apresentada na Sorbonne, é
um dos melhores livros sobre a ditadura civil-militar. “História Indiscreta da
Ditadura e da Abertura — Brasil: 1964-1985” (Record, 518 páginas) mostra, de
maneira didática e analítica, como se deu a Abertura. É uma história minuciosa,
que valoriza os políticos democráticos, evidenciando como trabalharam pela
Abertura, atuando tanto no MDB quanto na Arena. Indica também a vocação de
alguns militares pela redemocratização, casos de Ernesto Geisel e Golbery do
Couto e Silva.