sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Os ataques do Governador de Brasília aos Serviços Públicos, Foram Entendidos pela Maioria dos Trabalhadores?

por José Gilbert Arruda Martins

Lutar por melhores salários, sempre foi, é, e será muito importante. Quantos de nós estamos preparados (as) para Lutar por qualidade dos serviços públicos, por humanização dos serviços públicos, por Liberdade e Democracia e contra um sistema perverso, que abandona, exclui e mata a auto-estima do Povo?


Prof. Gilbert na paralisação dos servidores do GDF, dia 24/09

A Praça estava maravilhosamente lotada de trabalhadores e trabalhadoras. Mas quantos de nós estaríamos ali se fosse para lutar contra o estupro, contra a onda conservadora do Congresso Nacional, o desrespeito à democracia, contra o discurso anti-civilizatório de ódio que se espalha fortemente por Brasília e pelo Brasil?

A preocupação, parece ser apenas, pelo urgente, pelo bolso vazio, não que não devemos nos preocupar com o bolso vazio, mas não pode ser apenas isso.

Quando reuniremos tanta gente para lutar por nossos sonhos de uma sociedade mais justa e igualitária? Ou isso é coisa da utopia esquerdista?

Quantos de nós, que fomos ontem à Praça do Buriti, estamos enxergando o quanto o sistema é falido e perverso para a Classe Trabalhadora e a sociedade pobre como um todo?

Repito, lutar por salário é lutar por dignidade, sei disso, por isso luto também. Mas é só isso? Nossa luta é apenas por salário?

Cadê a luta por Democracia?

Cadê a luta por liberdade?

Cadê a luta contra o Sistema Econômico, que todos nós, que lemos um pouco, que enxergamos um pouco, que refletimos um pouco, sabemos que não funciona mais, que é completamente selvagem, violento, anti-civilizatório?

Concordo em lutar contra o governo Rolemberg contra o "calote", contra os atrasos nos pagamentos etc., mas não posso acreditar que a Classe Trabalhadora não esteja vendo o que o véu esconde.

Em conversas com um e com outro durante a manifestação de ontem, observando as falas dos companheiros e companheiras no carro de som, percebemos, dentro da minha imensa limitação, que a preocupação que predominou no evento e, na maioria das manifestações das quais participei, e, eu participei de quase 100%, a preocupação predominante é apenas com salário.

Inclusive, muitos e muitas ao redor, das diversas categorias de trabalhadores, defenderam abertamente golpe, intervenção militar, e, o pior, o discurso do ódio.

Onde fica a Liberdade?

Onde fica a Democracia?

Vamos ficar a vida inteira apenas preocupados em "encher o saco para que ele fique em pé?" enquanto, se perde entre nossos dedos a capacidade de luta por uma vida diferente e melhor para todos e todas?

A luta por salário tem que vir recheada de luta, energia e reflexões e ações pela vida, pela vida de todos, pela vida das pessoas mais pobres.

Reclamamos das elites que nos exploram.

Reclamamos das elites que são míopes.

Reclamamos das elites que sempre viraram as costas para o Brasil e têm como horizonte Miami.

Mas, a meu ver, quando pensamos apenas em salário, fazemos, conscientes ou não, a política do patrão, a política das elites.

Sou a favor da greve.

Sou a favor da paralisação.

Sou a favor da luta da Classe Trabalhadora.

Luto desde quando me entendo por gente, portanto, posso até estar sendo ingênuo, mas o que ouvi na Praça ontem, me deixou preocupado e, não foi a primeira vez que sai agoniado.




Novo clipe de Lady Gaga tira a cultura do estupro de debaixo do tapete; assista

na Revista Fórum
O vídeo conta a história de quatro jovens que são abusadas sexualmente e mostra as dificuldades de superação desse tipo de violência. A própria cantora já revelou, em entrevista, ter sido estuprada quando tinha 19 anos. Agora, ela irá doar parte da renda arrecadada com as vendas da canção Till It Happens To You para organizações de apoio a vítimas

Reprodução

Por Andréa Martinelli, do Brasil Post
Lady Gaga lançar um single novo parece não ser algo tão ‘cheio’ de novidade — ou emocionante. Mas, desta vez, ele é isso e mais um pouco. Em Till It Happens To You, Gaga faz algo necessário e urgente: expõe a cultura do estupro e traz à luz todas as etapas pelas quais as vítimas deste tipo de crime passam.
O clipe e a música foram disponibilizados para download no iTunes e Youtube nesta sexta-feira (19). O vídeo conta a história de quatro jovens que são abusadas sexualmente e mostra as dificuldades da superação e esquecimento da cena.
Co-autora da letra com Diane Warren, Lady Gaga vai doar parte da renda arrecadada com as vendas da canção para organizações de apoio a vítimas de abuso sexual.
O lançamento do vídeo coincide com o aniversário de um ano da campanha da Casa Branca, It’s on us (Está com a gente, em tradução livre) — que busca conscientizar e incentivar a não silenciar casos de violência sexual.
Segundo uma pesquisa publicada no periódico Journal of Adolescent Health, a agressão sexual em universidades alcançou ‘níveis epidêmicos’. Mais de 18% das estudantes de uma universidade dos Estados Unidos relataram incidentes de estupro ou tentativas de estupro durante seu primeiro ano na instituição.
Til It Happens To You faz parte da trilha sonora do documentário The Hunting Ground, de Kirby Dick, que estreou no Festival de Sundance deste ano. O documentário faz um recorte dos casos de abusos sexuais ocorridos em campus de universidades nos Estados Unidos.
Ano passado, Lady Gaga revelou ter sido vítima de estupro quando tinha 19 anos. Durante entrevista ao programa de rádio The Howard Stern Show, a cantora afirmou que foi violentada por um produtor vinte anos mais velho do que ela.
“Atravessei por fases tão terríveis que hoje me sinto capaz de sorrir, graças às sessões de terapia que me ajudaram ao longo dos anos a superar o trauma sofrido. Minha música me ajuda como um maravilhoso apoio terapêutico. Mas, você sabe, eu era fechada como uma concha dentro de mim mesma”, disse.
E continuou: “Não era eu mesma. Para relatar com fidelidade, na época eu tinha 19 anos de idade. Eu fui para a escola católica e, de repente, quando aconteceu toda essa coisa louca, continuei o meu caminho. Pensava: será que todos os adultos agem dessa forma? Eu era muito ingênua”.
Obrigada por não silenciar, Gaga.


Jovens criam projeto para contar histórias de moradores de rua

no iG Por Beatriz Atihe - iG São Paulo |


Página tem mais de 50 mil seguidores e já contou mais de 70 histórias de pessoas que vivem nas ruas da capital paulista.


Com jeito ressabiado e voz baixa, os moradores de rua de São Paulo estão sempre dispostos a conversar com quem se mostra disponível para escutá-los. Para contar as histórias dessas pessoas, Vinícius Lima, 18 anos, e André Soler, 21 anos, montaram a SP Invisível, uma página criada nas redes sociais para mostrar a vida por trás dos cobertores.
Amigos de infância, os jovens sempre tiveram interesse por quem morava na rua. “Um dia, parei para conversar com um rapaz e ele me contou sobre a vida dele e eu achei muito interessante. Foi então que comecei a reparar nessas pessoas que são consideradas invisíveis por muitos”, afirma Vinícius, que está no primeiro ano da faculdade de jornalismo.
Criada em março deste ano, a página já contou sobre a vida de aproximadamente 70 moradores de rua. “Eles, geralmente, falam bastante, porque são poucas as pessoas que param para escutá-los. Acho que isso é uma das coisas que mais me incomoda, as pessoas reparam muito mais nas coisas do que nas pessoas e publicando isso, a gente consegue mostrar como a vida realmente é”, conta o estudante.
Responsável pelos textos que compõem as imagens, Vinícius conta que a meta é ter uma história por dia e que a abordagem é feita de maneira mais simples possível. “Tudo começa com uma conversa informal. Quando nós percebemos que eles começam a ficar mais soltos, explicamos sobre o projeto”. O desafio maior para os estudantes é conseguir a foto, pois as histórias só são publicadas com as imagens. “É muito compreensível esse medo deles em aparecer, eles já têm tão pouco que acham que as pessoas podem se aproveitar deles”.
Depois de ter conversado com mais de 120 moradores de rua, Vinícius conta que a maioria dos entrevistados é homem e está na rua por causa do álcool. “Depois do álcool, tem o crack, mas também é muito impressionante a quantidade de homem que está na rua por causa de mulher”.
De todas as histórias sobre as quais Vinícius escreveu, as que mais despertaram curiosidade no jovem foram as das pessoas que vão morar na rua por opção. “ Conversei com um cara que discutia muito com a mulher e, para tentar manter de alguma forma uma boa relação com a família, ele saiu de casa e foi para a rua”. Outros casos que também rendem muito na página são os de pessoas que querem continuar na rua. “Alguns falam que ali conseguem comida, bebida e vão vivendo assim”.
A página conta com mais de 50 mil seguidores e já serviu de inspiração para pessoas de outras cidades, como Rio de Janeiro, Curitiba, Campo Grande e Fortaleza. “Nós recebemos recados de pessoas de outros lugares pedindo permissão para ter o nome da página e acompanhar o projeto feito em São Paulo. Geralmente, nós mandamos um modelo e uma das principais dicas que damos é da foto não ser preta e branca, para não deixar a história ainda mais triste”, conta o estudante.
“Eu apanhei tanto da minha madrasta que fiquei com a cabeça ruim”
Uma das histórias contadas pelos estudantes é a da Elisângela. Ela mora em um barraco com seu marido e outra mulher que ela conheceu e abrigou. Apesar de não lembrar a idade, ela sabe bem o que precisa fazer todos os dias no mesmo horário: pegar comida, enquanto seu marido cata latinha. “É assim que a gente vai sobrevivendo”. Quando era pequena, Elisângela, que é mineira, apanhava muito da madrasta e, por isso, veio para São Paulo com o pai e a irmã.
Chegando à capital paulista, o pai delas faleceu. O trauma deixou muitas sequelas em Elisângela, que perdeu parte da memória e ainda tem muitas cicatrizes. Na rua conheceu um rapaz com quem teve dois filhos. O menino morreu ainda bebê e o marido foi morto por traficantes.
Hoje, Elisângela diz não ter sonhos, apenas vontade de conversar com sua filha. “Sinto falta dela, de conversar com ela”.
“Eu preciso de água, porque tenho pedra no rim, mas muitas vezes, as pessoas não dão”.
Wesley, 30 anos, veio de Natal há seis meses, acreditando que conseguiria um emprego e uma vida melhor. “Chegando aqui foi só ilusão, consegui nada”. Sem ter onde ficar, Wesley acha que o mais difícil na cidade é conseguir comida. Com pedra no rim, ele precisa sempre estar tomando água “Tem gente que ajuda, mas alguns não dão nem água”.
Seu maior desejo é voltar para Natal e reencontrar sua filha de 10 anos. O problema é que ele não tem dinheiro para comprar a passagem. “Minha família me aceita de volta, mas exige que eu volte por minha conta. Do mesmo jeito que eu vim, tenho que dar um jeito de voltar”.
Dormindo nas calçadas do centro de São Paulo, Wesley afirma que não confia em ninguém: “apenas nas minhas pernas e em Deus. Agradeço todos os dias por acordar”. Ele sempre liga para a filha, mas se chateia com a pergunta que sempre ouve: “Ela fala: por que você fez isso, papai? Volta logo”.


“No Brasil, ainda é normal homem pisar em mulher, branco em preto e rico em pobre”, diz Anna Muylaert

Revista Fórum
Diretora de Que horas ela volta? conta como se deu o processo de elaboração do filme que está colocando o dedo na ferida das relações entre empregadas domésticas e patrões no Brasil
Por Claudia Rocha e Guilherme Weimann, do Brasil de Fato
(Foto: Guilherme Weimann)
(Foto: Guilherme Weimann)
Que horas ela volta? é rotulado pela crítica como um filme de arte. Para a diretora Anna Muylaert, entretanto, o longa precisa ser assistido também nas periferias do país. Nada mais justo, já que o roteiro conta a história de Val (Regina Casé), uma empregada doméstica que passou anos trabalhando na casa de uma família rica do Morumbi e tem sua vida alterada com a chegada de Jéssica (Camila Márdila), sua filha que foi deixada no Nordeste e está em São Paulo para prestar vestibular.
Ganhador do Festival de Berlim e com premiação também em Sundance, o filme é a representação brasileira na disputa pelo Oscar. A escolha rompeu uma hegemonia masculina de 30 anos de indicações de diretores homens e acendeu um debate sobre o machismo no cinema.
Mesmo com a agenda lotada, a diretora recebeu o Brasil de Fato SP em sua casa, no último sábado (12) à tarde, e falou sobre a repercussão do filme, que já ultrapassou 150 mil espectadores. Confira a entrevista:
Brasil de Fato SP – Quando você teve a ideia do filme, o objetivo era ter o foco no retrato das relações humanas ou a ideia já era debater questões políticas?
Anna Muylaert - Eu não pensei em política enquanto estava construindo o roteiro. Queria dar um destino melhor para a filha da empregada. Na minha cabeça de dramaturga, eu queria tirar o clichê da maldição da repetição. Durante muitos anos o caminho era igual, a filha vinha para cá ser cabeleireira e acabava como doméstica, assim como a mãe. Eu determinei a mudar isso. A partir do primeiro dia em que apresentei a ideia, a associação com o retrato do período pós-Lula foi imediata. O filme estava mais enraizado na realidade do que eu achava.
Falando um pouco sobre essa nova realidade, que foi alterada devido aos diversos programas sociais implantados na última década, você acredita que houve uma mudança na autoestima do brasileiro?
A partir do Lula, sem dúvida, houve um trabalho de melhoria da autoestima tanto pelo Bolsa Família e pelas cotas raciais nas universidades, como também pela Copa do Mundo e Olimpíadas. Acho que se há algo que o Lula fez foi subir a autoestima das classes menos favorecidas. Mas isso é um pequeno começo, a questão da educação ainda está muito atrasada em relação aos países europeus, por exemplo, que são socialmente mais democráticos. Aqui demos um pequeno passo para o direito à cidadania.
Sobre a personagem Jéssica, como você encara o fato de algumas pessoas a interpretarem como uma pessoa “metida”, quando na verdade ela só quer ser tratada como os outros hóspedes da casa? Como você pensou na personalidade dela?
Ela foi uma menina que teve educação, apesar de não ter dinheiro. Além disso, ela não teve empregada, portanto nem conhecia essas rígidas regras separatistas. A minha ideia é que ela chegaria com uma inocência. Mas, claro que ao perceber aquelas relações, ela simplesmente não acredita. Na cabeça dela, aquelas regras não significam nada. Há quem ache ela arrogante e há quem ache ela maravilhosa. Dependendo do que você acha da Jéssica fica claro em quem você vota.
Foram realizadas cabines [sessões de teste com o público] só com empregadas domésticas. Como foi a reação delas? E os patrões? Você chegou a ser vítima de algum discurso de ódio por causa do filme?
Eu soube que, após a sessão, rolou um desabafo de um grupo [das domésticas] com coisas que estavam presas por muito tempo na garganta. Mas, muitas ficaram bastante travadas. Esse jogo de regras é um jogo invisível. O filme mexe muito com os dois lados. Tanto com o patrão, que sai de lá e diz que vai aumentar o salário da empregada, quanto com elas que se enxergam no filme e ficam motivadas a deixar de aceitar humilhações. Eu esperava que eu fosse vítima [de discurso de ódio], mas estranhamente ainda não houve. Os patrões usam o filme como um momento de revisão de atitudes e valores. Mas já fiquei sabendo de duas mulheres que levantaram e saíram da sala revoltadas em uma das cenas da Val, o que eu achei bem chocante.
Você costuma brincar que o seu filme é um filme de “nadas”, porque os principais pontos estão relacionados a situações do cotidiano, que só têm importância pelo contexto, como é o caso da problemática em relação às personagens com a piscina da casa. Como foi essa construção do roteiro?
Eu estava girando atrás de uma solução quando, em agosto de 2013, seis meses antes da filmagem, minha fotógrafa, a uruguaia Bárbara Alvarez, me deu um livro do Cortázar com o conto Casa Tomada. Assim, achei uma solução para a Jéssica. Ela viria inocente das regras, e iria quebrando essas regras, até ser expulsa de volta. Quando a patroa entra na cozinha e a Jéssica está tomando sorvete, a cena é quase de um filme de terror. Mas a tensão está justamente na percepção das pessoas. Não há nada demais no fato de uma adolescente estar tomando sorvete.
Você optou por retratar uma família onde a mulher é protagonista e tem um papel mais autoritário. Teve algum motivo específico para a escolha?
Não foi uma opção consciente. Isso foi baseado na minha visão. Eu acho que os homens estão muito fragilizados perante as mulheres atualmente. Acho que as mulheres estão muito fortes. Eu, por exemplo, sou cineasta e criei dois filhos sozinha. Trabalhei com os meus dois braços, enquanto boa parte dos homens trabalha com um braço só, já que chegam em casa e dormem. Acho que na América Latina é muito forte esse conceito do homem não ajudar em casa. Apesar de estarmos poderosas, a gente ainda não quebrou o tênue fio dessa regra machista. Nós, mulheres, precisamos dizer “estamos fazendo o serviço, então não manda em mim”. Porque os homens não fazem, aí as mulheres fazem, e no final eles chegam e tiram a foto ao lado do prefeito. Isso acontece em todas as classes e em todos os países. Eu acho que a nova onda feminista é a missão da mulher dizer para o homem que ele está agindo de maneira ridícula.
Você deu uma declaração em que diz que está incomodando os homens por ter atingido a ‘esfera do dinheiro’ dentro do universo do cinema. Não só nesta área, mas em praticamente todas, observamos essa situação. Como foi sua trajetória, você esbarrou muitas vezes no machismo?
Tenho quase 25 anos de carreira. No começo, eu podia fazer o serviço, mas não podia receber o crédito. E eu não exigia. Acho que a mulher tem um excesso de humildade, enquanto o homem um excesso de arrogância. Isso precisa ser equilibrado. As mulheres acabam errando também porque há um conjunto de regras que dizem que o homem deve estar à frente e a mulher atrás. Depois passei para uma condição onde eu levava o crédito, mas ainda ganhava menos do que o homem, e achava normal. Há sempre uma valorização do masculino e desvalorização do feminino. Foram muitos anos para eu perder esse excesso de humildade, que na verdade é uma subserviência. Humildade é bom, subserviência não. Autoestima é bom, mas arrogância não. Quando meu filme começou a ter visibilidade, comecei a sofrer um bullying que nunca tinha sofrido antes, de parceiros meus dizendo que se eu cheguei lá era por responsabilidade deles. Hoje, com esse filme, eu alcancei um patamar do cinema onde só há homens como Walter Salles, Fernando Meirelles, Padilha e Hector Babenco.
Como foi a relação com a Regina Casé? Você havia pensado nela desde o início do projeto?
Eu decidi que a Regina [Casé] interpretaria a protagonista quando assisti o filme Eu, tu, eles. Depois disso, não pensei mais em outra pessoa para o papel da Val. Nosso processo de aproximação foi longo até chegar à filmagem que, por sinal, foi bastante complicada em decorrência do bebê que ela havia acabado de adotar. Tiveram momentos difíceis, principalmente pelo calor do verão. Mas o importante é que, artisticamente, a gente se deu maravilhosamente bem. Acho que é, talvez, a parceira mais incrível que eu já tive.
O filme retrata essa cultura escravista herdada do período colonial. Foram realizadas pesquisas sobre isso?
Fizemos uma pesquisa para encontrar a personagem principal, que é inspirada na Edna. Ela foi babá do meu filho por aproximadamente dois anos e acabou se tornando minha amiga. Quando era criança, foi deixada na Bahia pela mãe e buscada apenas dez anos depois. Sobre essa arquitetura colonial e os espaços de poder dentro da casa, não foi preciso praticamente nenhuma pesquisa, já que esses valores estão presentes em qualquer casa da classe alta brasileira.
Além do seu filme, vários outros abordaram essa mesma temática nos últimos anos. Domésticas, do Gabriel Mascaro, talvez seja o mais evidente. Mas também podemos citar O Som ao Redor, do Kleber Mendonça Filho, e Casa Grande, do Fellipe Barbosa. Algum deles te influenciou?
Eu tive uma influência muito grande do filme O Som ao Redor. Eu me conecto a ele porque eu realmente amei, saí do cinema tremendo. Apesar de completamente diferentes, ambos estão tirando diversas pessoas da invisibilidade. Já o documentárioDomésticas, que foi exibido para a nossa equipe durante a preparação, serviu de inspiração para o figurino da Val. O Casa Grande, entretantofoi diferente. No início da sua exibição no Festival de Cinema de Paulínia, achei que alguém tivesse feito o mesmo filme que eu. Mas, passados os primeiros trinta minutos, o filme abandona o caráter crítico e assume o papel do herói adolescente que termina trepando com a empregada, o que eu considero retrógrado e machista. Na Europa, os espectadores perguntam se isto realmente existe ou se é pura ficção. Em suma, todo mundo está abordando um tema que urge porque o Brasil ainda está no século XIX. Essa é uma cultura gerada nos primórdios da colonização, quando os portugueses vieram para o Brasil explorar o ouro e comer as mulheres. A lógica era o ócio ao invés do negócio. Isso não dá mais, é 7 a 1 em todo o canto. É urgente profissionalizar, legislar e respeitar essas mulheres. No Brasil, ainda é normal homem pisar em mulher, branco em preto e rico em pobre. Os cineastas estão no cinema para isso e é ótimo que estes filmes estão dando certo, porque faz o mundo pensar e repensar estas atitudes.
Uma jovem, que também se chama Jéssica, publicou um artigo no blog Nós, Mulheres da Periferia relatando as semelhanças da sua história com a Jéssica do filme. Como está sendo a recepção do público?
Está incrível. Estou recebendo uma mensagem a cada cinco minutos. Ontem, um menino me escreveu relatando um episódio que ocorreu após a publicação de uma crítica muito bonita que fez sobre o filme. A patroa da sua mãe, que é empregada, achou seu texto em um blog, se reconheceu lá, e afirmou que mudaria completamente a sua postura. Isso, pra mim, já é um Oscar. Além disso, um pessoal da periferia me convidou para participar de um debate e, no final da mensagem, afirmou que ‘somos todas Val’. Enviei como resposta que também ‘somos todas Jéssica’. No geral, a periferia também quer ver o filme, mas ele ainda não chegou lá. No início, eu tinha a intenção de oferecer desconto para domésticas que apresentassem o cartão de trabalho. Mas, na primeira reunião, meu distribuidor descartou a ideia porque a patroa se sentiria mal em sentar ao lado da empregada. No mercado capitalista, Que horas ela volta? é um filme de arte. Apesar disso, estamos provando o contrário.
Você afirmou em algumas entrevistas que o roteiro começou a ser elaborado logo após o nascimento do seu segundo filho. Como foi esse processo?
O roteiro nasceu do amor pelo meu filho. Eu já tinha feito Castelo Rá-Tim-Bum e vários outros trabalhos, mas quando eu tive o bebê surgiu uma força que me fez decidir que não iria mais trabalhar por um tempo. Eu fiquei dois anos sem trabalhar, mas felizmente vieram os livros do Castelo Rá-Tim-Bum, que me renderam quatro ou cinco vezes mais do que o salário na TV Cultura, e me possibilitaram continuar trabalhando em casa. Eu senti que o processo da maternidade me faria crescer e me entreguei completamente. Somente depois de muita insistência decidi contratar uma babá para me ajudar uma vez por semana. Logo no primeiro dia, a menina veio toda de branco, pegou o bebê, entrou no quarto e fechou a porta. Nessa hora, eu deitei na minha cama e comecei a passar mal. No dia seguinte, eu abri o jogo e assumi que não daria para continuar. Eu não conseguia dar o meu bebê na mão de um desconhecido. Pelo menos nos dois primeiros anos é essencial o contato entre mãe e filho. Depois menos, porque é necessário aprender a se separar, desprender-se do filho. Mas por que a maternidade não é valorizada? Justamente porque a nossa sociedade exalta apenas o masculino. Muita mulher, e acho que eu não tive isso porque havia acabado de fazer sucesso, fica agoniada em casa enquanto o mundo lá fora está girando. Porque o sinônimo do mundo é sucesso, poder e riqueza, enquanto o da maternidade é amor, carinho e espiritualidade. Senti que isso é um tema muito forte, porque o mundo inteiro é regrado pelas leis masculinas, que são machistas. Na verdade, o filme não é baseado em ninguém, mas em uma vontade de expor tudo isso. Foram vinte anos de pesquisa, laboratório e contribuição de muitas pessoas.
Assim como o personagem Fabinho, as memórias da primeira infância de muitas crianças brasileiras são das babás. Existe uma solução para isso?
O Brasil é isso. A minha babá, a Dagmar, veio para casa quando eu tinha sete anos. Mas, mesmo assim, eu consegui criar um vínculo forte com a minha mãe porque ela não trabalhava. Já a minha irmã menor, que tinha três anos, tem uma conexão muito mais forte com a Dagmar. Meu pai, por exemplo, não me deixava assistir televisão e, por isso, até hoje eu não tenho esse hábito. Em compensação, a minha irmã senta com o marido e os quatro filhos na frente do aparelho, em decorrência de uma herança que não veio dos meus pais. Eu já vi vários filhos de amigas minhas descer do quarto para dormir com a empregada. Esse é um debate que temos que abrir, mas não tem uma saída pronta. Outro dia, uma jornalista inglesa me perguntou no meio da entrevista o que eu achava que ela deveria fazer em relação à filha de sete meses. Obviamente, eu falei que não tinha uma fórmula. Mas se os pais, os homens, pegassem metade da responsabilidade não precisaria de nenhuma babá. O pai dos meus filhos ajudou no máximo 2%. Eu aguentei a responsabilidade dos outros 98%, além de continuar minha carreira no cinema. Nos países nórdicos, por exemplo, os homens ganham seis meses de licença paternidade. Se um homem limpa a bunda de uma criança é claro que ele se transforma, amadurece e cria uma relação de intimidade com o filho. Além disso, na Europa existem mais creches disponíveis. Aqui no Brasil, ou a mulher deixa o filho na casa da mãe ou doa para alguém. Essa é uma discussão muito importante porque a mulher nunca mais vai parar de trabalhar, “somos todas Jéssica”.
Existe uma grande dificuldade de se fazer cinema independente no Brasil e, consequentemente, de pautar questões mais complexas. Nesse caso, apesar da crítica social, ele foi distribuído pela Globo Filmes. Como se construiu essa relação?
Toda a cadeia do cinema entende que ele é um filme de arte. Até a própria Regina Casé já deu entrevista afirmando que não sabia se ele ia chegar ao grande público. O que caracteriza o blockbuster brasileiro é ser televiso. Um filme de sucesso não pode ter apenas a Regina, mas deve ser filmado com enquadramento, luz e superficialidade das novelas. A indústria, por entender que as pessoas procuram produtos com uma linguagem familiarizada, coloca dinheiro apenas nessas produções. O meu filme não tem nada disso. Em relação à Globo Filmes, o filme chegou pronto por lá. O chefe, Edson Pimentel, é apaixonado pelo filme e acreditou na sua potência. Não houve um grande dinheiro investido em publicidade, não estamos em ônibus, outdoor, etc. Estamos apenas no facebook e no boca a boca. A Globo Filmes está abrindo portas dentro da sua programação, mas, no fundo, este é um filme de guerrilha. Apesar de ter sido tratado como um filme de arte, a bilheteria está provando exatamente o contrário.

Definição de família é aprovada por comissão como “união entre homem e mulher”

Revista Fórum
Após discussões que duraram quase cinco horas, deputados aprovam o Estatuto da Família (PL 6583-13), que exclui uniões homoafetivas e fortalece o preconceito
Por Redação
Foi aprovado, com 17 votos favoráveis e cinco contrários, o projeto de lei que define a família como a união entre um homem e uma mulher. Nesta quinta-feira (24), a comissão especial do Estatuto da Família (PL 6583-13) discutiu o texto por quase cinco horas. Deputados do PT, PCdoB, PTN e PSol – contrários à proposta – ainda apresentaram requerimentos para tentar adiar a votação, sem sucesso.
Entre os argumentos daqueles que criticam a ideia, está o fato de que o Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu favoravelmente à união homoafetiva e que ela tem direito a uma proteção especial do Estado. Além disso, parlamentares afirmam que esse tipo de decisão seria uma atitude preconceituosa, baseada em preceitos religiosos. A comissão precisa, ainda, aprovar quatro destaques do texto hoje para encerrar a sessão.
Foto de capa: Arquivo/Agência Brasil

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Com a aprovação do "Estatuto da Família", definindo o conceito de família como "união entre homem e mulher", quem perde é a Cidadania, quem perde é a Democracia.


Propostas do Professor Gilbert para Conselho Tutelar da Asa Sul

O que é o Conselho Tutelar?
É um órgão público, permanente e autônomo, com a missão de zelar pelo cumprimento dos Direitos da Criança e do Adolescente. É composto por 5 membros, eleitos pela Comunidade para acompanhar Crianças e Adolescentes e decidir em conjunto, sobre qual medida de proteção adotar para cada caso.
Eleição dia 04 de Outubro - Prof. Gilbert n° 012267

Algumas Propostas do Professor Gilbert

* Com o apoio da sociedade lutar pela implantação em todo o DF do projeto "Conselho Tutelar Modelo - Meu Lugar na Cidade" da SDH;

* Cobrar do GDF a efetivação de Políticas Públicas para Crianças e Adolescentes;

* Lutar com a sociedade e junto ao GDF para a ampliação do número de creches públicas no DF;

* Orientar a Comunidade sobre o que é o Conselho Tutelar e a respeito dos Direitos da Criança e do Adolescente;

* Apoiar a Luta da Comunidade e Sociedade, em prol dos Direitos Sociais, em especial dos Direitos da Criança e do Adolescente;

* Fiscalizar entidades e serviços de atendimento à Criança  e Adolescente.

Estas são algumas das minhas propostas para o Conselho Tutelar da Asa Sul.

Vamos debatê-las.

Escreva aqui ou nas redes sociais, sua opinião, sua crítica, sugestão e vamos aproveitar a eleição desse órgão fundamental para a sociedade, que é o Conselho Tutelar, para colocar em discussão temas relativos às crianças e adolescentes.

Jovens parados pela polícia sem justa causa têm direito de resistir

no GGN

Do Justificando
Brenno Tardelli
Pessoas que sofrem injusta atuação por parte do Estado têm o direito de resistir e, assim fazendo, não praticam crime de desacato ou desobediência. É o que afirmam diversos especialistas consultados pelo Justificando, que procurou saber os direitos dos jovens parados, apreendidos e agredidos no Estado do Rio de Janeiro.
Isso porque adolescentes pobres cariocas têm sido alvo de vigilância e agressão por parte da polícia militar e de jovens moradores de Copacabana. A ação, que quase culminou em um linchamento no último final de semana, começou com a decisão da Secretaria de Segurança Pública do Estado de barrar e apreender jovens que se deslocavam de favelas até os cartões postais da cidade. Quando a Defensoria Pública ingressou com ação e o Judiciário proibiu que prisões sem motivação continuassem, entraram em cena jovens vigilantes para depredaram um ônibus e quase alcançarem os alvos da punição.
A justificativa por parte do Estado para apreender - expressão usada para designar prisão de crianças e adolescentes - é a de reduzir o número de crimes contra o patrimônio nas praias cariocas. Por isso, jovens que estavam no ônibus e "sem dinheiro para voltar" eram consequentemente retirados do transporte e levados para as delegacias. O caso espantou ativistas pelos direitos humanos, uma vez que pessoas estavam sendo presas sem motivo legal, com base em suposições e classe social desfavorecida.

Policiais podem parar quem bem entenderem?

Jovens que estão no ônibus podem ser abordados por policiais, ainda que não apresentam nenhuma justa causa para isso? No Brasil reina a cultura de que a polícia pode parar quem ela quiser, afinal, quem não deve, não teme. Para o Advogado Criminalista Marcelo Feller, essa cultura da Polícia achar que pode parar quem quer precisa mudar.
A polícia pode parar quem ela quiser. A gente deveria mudar esse entendimento. Os EUA, por exemplo, é um país que o policial só pode parar e revistar alguém se tiver uma justa causa para isso. O policial aqui nunca será punido e responsabilizado por essa atitude. E se a pessoa negar a revista, ainda pode ser conduzida e presa em flagrante por desacatar uma ordem policial. E no Tribunal de Justiça (TJ) de SP, certamente um dos tribunais mais conservadores do Brasil, a pessoa seria condenada por isso.
Para o Juiz do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) João Batista Damasceno, a cultura autoritária esconde a realidade de que uma pessoa somente pode ser abordada e revistada ser houve suspeita fundamentada e não basta a mera suspeita decorrente de preconceito de raça, de classe social ou de local de moradia. Segundo ele, essa naturalização dos abusos perpretados pela polícia é tão forte que, embora os policiais tenham cometido abuso de autoridade, nada acontecerá com eles. Para Damasceno, tanto o Secretário de Segurança, quanto o Governador poderiam ser diretamente responsabilizados pela conivência com o abuso no caso.
Se houvesse regular funcionamento das instituições do Estado, a esta altura tais policiais já estariam sendo processados. Mas, não apenas eles, pois toda a cadeia de comando tem responsabilidade penal pelas ocorrências. Não existe momento mais adequado que este para a aplicação da Teoria do Domínio do Fato e o próprio Governador Pezão poderia ser incriminado. Ele tem o poder de determinar que a Constituição seja cumprida, mas se mantém conivente enquanto o Secretário Beltrame incentiva tais práticas policiais e chega a ameaçar descumprir ordem judicial. A conduta do governador Pezão é de aprovação à violação da Constituição da República e ele tem o domínio absoluto do fato, pois é o chefe do Executivo estadual.

Jovens têm o direito de resistir à abordagem sem justa causa?

Para o Presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais - IBCCRIM - e Advogado Criminalista, André Kehdi, todas as pessoas, jovens ou adultas, têm o direito natural de se defenderem da prática de crimes. Para ele, o caso dos jovens no Rio de Janeiro está previsto como crime no Estatuto da Criança e do Adolescente.
A atuação policial nesses moldes - em que se escolhe quem vai ser "pego" - o termo é esse mesmo, pois a legislação não prevê o que foi feito - pela cor da pele, pelo bairro de residência ou pela condição social é crime. No caso de serem adolescentes, como ocorreu no Rio, é aquele previsto no art. 230, do ECA: "Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente".
No mesmo sentido, para o Professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), João Paulo Martinelli, o direito de resistir dos jovens nasce da prisão ilegal. De outra forma, ainda que estivessem em situação flagrante, a resistência ainda é vista como um desdobramento do fato - "Se o sujeito não está em flagrante de delito, não há resistência, porque a pessoa tem direito de resistir porque é uma prisão ilegal. E mesmo quando está em flagrante, e tenta fugir, eu vejo como um desdobramento de quem está em flagrante", afirma.
Tecnicamente os jovens que desobedecerem comandos policiais nesta situação sequer cometem crime, uma vez que a ordem precisa ter fundamento legal, além do dolo (intenção) específico para o crime. "A desobediência só vale em casos em que se parte de uma ordem legal. Se a ordem é ilegal, não há crime de desobediência. E mais: precisa de um dolo específico e ter a intenção de descumprir aquela ordem. Se eu não concordo com a atuação, e portanto não me submeto a ela, jamais poderia ser considerado como um crime de desobediência", diz Feller.
A desobediência à ordem ilegal já evoluiu para o que a doutrina chama de "direito de resistência", isto é, o direito que o particular tem de resistir ao arbítrio do Estado. Alguns casos mundiais de resistência se tornaram símbolo na luta por direitos civis, como nos EUA, quandoRosa Parks, negra, se recusou formalmente a dar seu lugar no ônibus a um branco, dando início a uma revolta na cidade que seria o grande estopim para a pauta antissegracionista. 
Para o Defensor Público e Colunista no Justificando, Eduardo Newton, o direito de resistência, talvez, seja a única forma de o adolescente gritar para a sociedade de que, quer seja ele oriundo da Maré, quer seja vindo do Leblon, ele deve ser respeitado. "Mais do que nunca, eu te diria resistir é preciso", afirma.

Como, então, resistir ao arbítrio?

Falar em Direito de Resistência na teoria é uma coisa. Na prática, é uma realidade muito diferente: ninguém que conheça o nível de letalidade da nossa polícia pode dizer que é possível - especialmente aos jovens negros e pobres - resistir a uma abordagem policial, por mais ilegal que seja, sem correr risco, afirma Kehdi. 
Por isso, segundo Damasceno, para exercer o direito de resistência, paciência é fundamental ante a possível provocação verbal e física dos policiais; além disso, a inteligência para coletar dados para denunciar posteriormente o abuso é necessária. "Não adianta tentar questionar o porquê da abordagem ou dos abusos, pois quem o comete não vai justificar o que fez. Há poucos modos de opor resistência á força policial quando as instituições estão mancomunadas. A documentação, a mais farta possível e de preferência por meio de filmagem, é o melhor meio para se buscar a responsabilidade posteriormente", diz.
Além disso, Damasceno explica que é a Defensoria Pública do Rio de Janeiro é um canal útil no momento da delegacia, por ter atuação neste tipo de caso. O Justificando apurou a existência de outros grupos de advogados ativistas no Estado, como o DDH - Defensores dos Direitos Humanos. 
"O melhor é manter a calma, não aceitar provocações dos agentes do Estado que estejam cometendo a arbitrariedade, filmar ou documentar a ocorrência e posteriormente buscar a responsabilização dos policiais, dos seus comandantes, do Secretário do Estado que autoriza a truculência e até do Governador", completou Damasceno, em entrevista.

A Bienal é dos jovens, diz organizador

na Agência Jovem de Notícias
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De Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil  |  Edição:Beto Coura Fonte: Agência Brasil  | Imagem: Marcelo Camargo - Agência Brasil
Os jovens são os responsáveis por um recorde da Bienal do Livro no Rio. Os visitantes entre 15 e 29 anos somaram 56% do público, ante 51% da edição anterior, em 2013. Para os organizadores da feira, o mercado editorial direcionado a este segmento mostra força com variedade de livros e presença de autores em contato direto com os leitores. A diretora da Bienal, Tatiana Zaccaro, considera que essa é uma garantia de manutenção do leitor no futuro. “Espero que sim”, disse.
Na avaliação do historiador João Alegria, curador do espaço infantil Bamboleio e do CuboVoxes, atividade destinada à integração dos jovens na feira, os estandes das editoras se transformaram em lugar de encontro e de troca de informações deste público. “A Bienal é dos jovens”, afirmou.
No último dia da Bienal de 2015, a feira mostrou que é possível associar futebol com livros. Um grupo de jogadores da categoria de base do Flamengo, alguns com até 14 anos, foi levado pelo pedagogo José Nogueira, que trabalha com os atletas no Centro de Treinamento.
Ele contou que o clube tem uma estrutura diferente e o acompanhamento dos jovens não se restringe ao futebol, mas se estende ao desenvolvimento intelectual, até a chegada deles à categoria profissional. “Muitos nem sabiam qual é o conceito de uma bienal e nem sonhavam em ver uma nas cidades deles”, contou, acrescentando que a maioria dos atletas saiu de outras regiões, entre elas do Nordeste e do Centro-Oeste.
O lateral esquerdo Jean Cristian de Oliveira Ferraz, que nasceu em Barra do Garças, no Mato Grosso, gostou do que viu pela primeira vez. Ele tem o hábito de ler e disse que prefere o livro ao videogame, nas concentrações antes dos jogos. “A gente aprende coisas novas. Os livros têm muita coisa interessante que a gente pode levar para a nossa vida”, disse destacando que prefere os romances.
O zagueiro da categoria sub-17 Michael Simplício de Souza mora há oito meses no Centro de Treinamento e, por causa do estado onde nasceu, é chamado de Ceará. Ele contou que adorou a Bienal e que tem costume de ler, hábito reforçado pela exigência do clube. “Se não tiver estudo, não fica. O Flamengo é isso”, revelou.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

2a. Edição da Feira de Livros, Arte e Cultura do Setor Leste 2015

por José Gilbert Arruda Martins

Ano passado, 2014, eu, a professora de arte Rosana, Professor de Filosofia Alexandre, resolvemos criar um projeto que envolvesse os educadores e todo o corpo discente do CEM Setor Leste, era o início de uma ideia que realmente deu certo.
Espaço Cultural do Cem Setor Leste, dia 22/09

Cada estudante, para participar, escolhia um livro ou revista de sua predileção e, emprestava, doava ou apenas, expunha nos dois dias do evento.

Choveu livros e revistas. Foram milhares de exemplares para todos os gostos.

As "bancas" de exposição, que na verdade eram mesas comuns do refeitório no Espaço Cultural da escola, ficaram abarrotadas de livros e revistas.

Tanto professores (as) e estudantes, quase 100% da escola na parte da tarde, firmaram compromisso e participaram da 1a. Feira de Livro e Arte da escola, foi um sucesso de envolvimento e dedicação de todos e todas.

Este ano, professora Rosana e sua equipe, professora Jesuíta, professora Wilka...resolveram por conta e risco, repetir a Feira, hoje estive lá e, pela quantidade de estudantes envolvidos, me pareceu que o sucesso se repetiu.

Por que alunos e alunas amam esse tipo de atividade educativa e cultural?

Por que gostam e se envolvem tanto?

Será que é apenas para fugir das nossas aulas massantes?

Ou será por que adoram curtir um livro, uma boa leitura, uma boa arte?

Parabéns às professoras pelo evento.

Parabéns aos estudantes pelo envolvimento e participação.

Professora Rosana, Professora Jesuíta, professor Gilbert e estudantes que fizeram apresentação do dia.


No Brasil, crianças se afogam num mar de fuzis e ponto 40

no NegroBelchior
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Imagem emprestada da página de Facebook do Movimento Mães de Maio, uma importante rede nacional que articula Mães e familiares de vitimas do Estado, sobretudo das polícias. E como é triste a certeza de que esse movimento a cada dia cresce e se torna indispensável para a denúncia e a luta contra o genocídio negro e periférico que sofremos no Brasil. Cresce na dor e no luto, mas também no amor e na luta!

Há uma morte branca que tem como causa as doenças, as quais, embora de diferentes tipos, não são mais que doenças, essas coisas que se opõem à saúde até um dia sobrepujá-la num fim inexorável: a morte que encerra a vida. A morte branca é uma “morte morrida”. Há uma morte negra que não tem causa em doenças; decorre de infortúnio. É uma morte insensata, que bule com as coisas da vida, como a gravidez e o parto. É uma morte insana, que aliena a existência em transtornos mentais. É uma morte de vítima, em agressões de doenças infecciosas ou de violência de causas externas. É uma morte que não é morte, é mal definida. A morte negra não é um fim de vida, é uma vida desfeita, é uma Átropos ensandecida que corta o fio da vida sem que Cloto o teça ou que Láquesis o meça. A morte negra é uma morte desgraçada. (Batista; Escuder; Pereira, 2004, p.635)

Por Douglas Belchior


Em abril de 2015, como resposta ao assassinato de Eduardo de Jesus Ferreira, 10 anos de idade, atingido por com um tiro de fuzil a queima roupa dentro de casa, no Complexo do Alemão, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB) se comprometeu: “Vamos entrar mais forte, fazer uma reocupação com mais policiais”. O resultado da manutenção da política atual de ocupação surgiu na terça-feira 8: mais uma criança foi assassinada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Desta vez foi Cristian Soares da Silva, de 12 anos. Nasceu negro, favelado de Manguinhos, empobrecido pelo sistema econômico e estigmatizado pelo racismo estrutural. Resultado: O Estado, a polícia e a bala do fuzil o encontraram. Não fosse ele, seria outro. Não fosse agora, seria mais tarde. Fato é que, de tão naturalizado e “pré visto”, dificilmente este assunto será tema de comoção nacional.

Cristian jogava bola com os colegas, pouco antes. Ao ajudar uma senhora caída no chão, foi atingido pela famosa bala perdida que, acidental e coincidentemente, se encontrou no alvo de sempre. Cristian teria sido vítima de uma troca de tiros ocorrida durante uma operação policial, que buscava por quatro suspeitos de assassinar um PM, dias antes.

Podem questionar: “Mas não há provas de que foi a polícia!” O contexto em que a polícia atua mostra que a discussão é mais profunda do que isso. Ocupação territorial violenta; uso desproporcional da força; ação direcionada à vingança; despreparo; práticas próprias de atuação em periferias e favelas, bem diferente de como agem na nobre zona sul carioca. Um Estado que mata deixa morrer. Responsável em qualquer uma das hipóteses!

Em 2014, 15,6% dos 56 mil homicídios no Brasil foram cometidos pela polícia. No Rio, entre 2010 e 2013, 99,5% dos assassinados eram homens; 79% dos mortos eram negros e 3 entre 4 tinham entre 15 e 29 anos, segundo a Anistia Internacional. A polícia do Brasil é que mais mata no mundo.

Nos últimos dez anos, mais de 50 crianças foram mortas por policiais no Rio de Janeiro, o que equivale 60% de todos os casos no País. No Brasil, 82 crianças e adolescentes de até 14 anos foram mortas por policiais; destas, 73% eram negras.

Há pouco, vivemos uma justa comoção mundial, ante a imagem incomum, violenta e triste do corpo sem vida do menino sírio Aylan Kurdi. Todas as mortes são doídas, há sempre uma mãe, um familiar que chora.

No Brasil, crianças e adolescentes negros e pobres afogam-se num mar ardente de tiros de fuzil e ponto 40. Um naufrágio interminável que já dura 515 anos de genocídio negro-indígena-periférico. Pouco para a sensibilidade racista de nossas elites, nossa imprensa e nossos governantes.

Uma pergunta cristã, guardadas as raríssimas exceções: Comandantes de polícias, secretários de Segurança Pública, deputados, senadores, governadores, presidenta, como dormem? Como conseguem conviver com a culpa de tantas mortes?

Culpa, sim. Já que o Estado, genocida e opressor por sua própria natureza, não funciona sozinho. É dirigido e retroalimentado.

Seria a certeza do perdão ou da impunidade? Seria a confiança na apatia das massas? Ou seria sua histórica convicção racista?

Acreditem, há de chegar o dia. Brasil vai virar Palmares e nossos Cristians serão lembrados.

Sempre!