quinta-feira, 7 de novembro de 2024

O gigante com pés de petróleo

 Por Rui Abreu


1 - O gigante com pés de petróleo

             Num final de século dezanove iluminado por Thomas Edison e acelerado por Karl Benz, o futuro previa-se entusiasmado por novas descobertas e invenções. O capitalismo, empurrado pelo motor de combustão, prometia um crescimento ímpar, trazendo novos cenários económicos e sociais com novos setores a centralizar a economia, novas camadas sociais e pessoas a ascenderem a posições de poder. Haveria de ser um filho de um vendedor de banha da cobra que iria destacar-se na indústria que marcou todo o desenvolvimento mundial através da recém descoberta fonte energética.

            Em 1870, em Cleveland, Ohio, era formada a mais importante e poderosa empresa do mundo na viragem do século. John D. Rockefeller registou a Standard Oil Company após adquirir das mais diversas formas (muitas ilegais) quase todas as empresas de exploração e distribuição de petróleo e gás do ainda jovem país, os Estados Unidos da América. Com um domínio de cerca de 90% da produção e distribuição de petróleo, gás e seus derivados, a Standard Oil posicionava-se ao lado de outros titãs energéticos mundiais. A par do consórcio anglo persa que operava no Irão e hoje subsiste como BP e do consórcio franco neerlandês que explorava no Mar Cáspio e em solo birmanês (atual Myanmar) e que conhecemos como Shell, marcaram todo o desenvolvimento industrial e comercial do mundo.

            O início do século vinte brindava Rockefeller com a distinção do primeiro bilionário da história. Famílias como Nobel, Rothschild, Família Real Holandesa e Família Real Inglesa acompanhavam o bilionário nessa ascensão de riqueza e poder global, em torno dos recursos que estariam no centro de toda a geopolítica do século vinte. Ocupações foram feitas, acordos assinados, guerras começadas por causa desses recursos e guerras ganhas por quem os detinha. O mapamundo foi redesenhado de acordo com esses conflitos, refletindo as riquezas geoestacionárias presentes no subsolo e o domínio das potências sobre elas. ISRAEL É PARTO DESSA DISPUTA GLOBAL.

            Os impérios, em rota de colisão, fervilhavam internamente com os movimentos operários a surgirem, questionando a ordem do brutal capitalismo nascida na revolução industrial e que dariam origem a partidos socialistas e comunistas, organizando assim a luta de classes. Os E.U.A. saíram quase intocados dos dois conflitos mundiais que as potências tinham deflagrado, não sofrendo em seu território batalhas ou bombardeamentos (com a exceção do episódio de Pearl Harbor1). Os combustíveis fósseis tiveram um papel fundamental na motivação desses conflitos e também na sua resolução. Não foi um acaso que E.U.A. e U.R.S.S., que detinham em seus territórios vastas reservas e fortes indústrias de exploração, refinação e distribuição de petróleo e gás, foram os grandes vencedores da segunda Grande Guerra e se estabeleceram como os polos políticos, económicos e militares do mundo.

            No pós Segunda Grande Guerra emergem assim duas superpotências detentoras de poderosas indústrias de petróleo e gás, as quais não foram alheias à vitória no maior conflito armado da história e na afirmação de seu poder no mundo. Médio Oriente, África e América do Sul tornavam-se nas décadas seguintes palco de disputa entre o bloco capitalista e o bloco socialista a cada nova descoberta de jazidas petrolíferas e cada novo campo de gás. De regimes antagónicos, as superpotências e seus blocos alimentaram suas economias com a mesma matriz fóssil, contribuindo decisivamente para a emissão desmesurada de gases de efeito estufa que tanto contribuíram para as alterações climáticas. Estas vieram para ficar e, como sabido há décadas, para determinar nossos futuros.

            Os E.U.A. haveriam de suplantar seu rival na disputa pela hegemonia global e impor o seu modelo de produção ao mundo. A formidável máquina de guerra estadounidense garantia presença permanente das corporações norte americanas nos países detentores de petróleo e gás.      As invasões do Iraque de 1990 e 2003 promovidas pela família presidencial Bush são prova da dependência imperialista dos recursos energéticos fosseis. Também o apoio incondicional ao regime sionista israelita ao nível do genocídio faz parte do modelo de domínio do Médio Oriente, região historicamente com as maiores reservas de hidrocarbonetos.

            O império procura controlar a exploração, a refinação (objeto maior no domínio do circuito económico do petróleo, sendo a fase onde o produto recebe maior valor acrescentado e que estabelece o preço a que circulará comercialmente o barril) e a distribuição. É nessa procura que se enquadram as sanções de 2018 feitas por Trump à Venezuela após os acordos de cooperação assinados entre o governo Maduro e o governo Chinês que previam investimento na capacidade de refinação venezuelana. Além de tentar impedir que a economia chinesa desembarque na América Latina e acesse mais às suas riquezas, os E.U.A. lutam para manter o primeiro lugar do ranking de países com maior capacidade de refino no mundo (cerca de 18 milhões de barris/dia), garantindo deliberação sobre os preços globais.

            Os Estados Unidos são o maior produtor do mundo de petróleo, com cerca de 19% da produção mundial, o maior refinador com cerca de 18% do refino global e o maior consumidor  com cerca de 20% do consumo mundial2.

           

2 – Riqueza para uns, problema para todos

 

            Despertos pela ciência para o novo e determinante problema das alterações climáticas, governos do mundo inteiro assinam acordos e prometem fazer a transição energética, sempre quando a economia permitir, sempre quando o lucro deixar. Uma visão liderada pelo império norte americano de exploração até ao fim (não do planeta e nem sequer dos recursos, mas sim da habitabilidade) tomou conta do mundo, criando um caminho de extinção em massa cada vez menos evitável.

            Desde a assinatura em 1997 do protocolo de Kyoto, Japão, que os países mais industrializados criaram metas de redução de emissão de gases de efeito estufa. As modestas metas de redução variavam entre 6% e 8% para países como Japão, E.U.A., Reino Unido e Bélgica enquanto outros países ainda tinham margem para aumentar a emissão em 10% como a Islândia e 8% como a Austrália. Os então chamados países em vias de desenvolvimento como o Brasil, China e Índia não tinham metas determinadas, cabendo a cada governo estabelecer medidas de controlo do problema. Passadas quase três décadas e muitos acordos depois, e todas as metas não cumpridas, o planeta bate recordes de temperatura pelo 14º mês consecutivo e a realidade climática excede todos os modelos matemáticos criados.

            O acordo de Paris de 2015 estabeleceu metas mais ambiciosas mas ainda desajustadas com a realidade. A promessa de redução de 50% das emissões até 2030 tinha um pecado original: os 50% eram relativos às emissões de 1990 que eram significativamente menores às emissões à data do acordo. Mesmo assim, ninguém chegará perto de cumprir as metas definidas em 2015, metas essas muito insuficientes perante a realidade climática atual e a avaliação da ciência.

            O tão temido aumento da temperatura média do planeta de 1,5º Celsius acima dos níveis pré industriais que sufoca os oceanos e descongela o permafrost3 que estava previsto para os próximas séculos (ou milénios) está chegando muito mais cedo e com ele as catástrofes naturais sucedem-se pelo globo inteiro. Cheias, secas, incêndios e tempestades tornaram-se visitas frequentes do jornal da noite. Realmente perigosa é a situação do permafrost siberiano que descongela rapidamente e retém calculadas 2 bilhões de toneladas de metano, que entrando em contato com a atmosfera desequilibraria o clima muito além da extinção humana.

            Em 2023 o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) no seu Relatório (anual) sobre a Lacuna de Emissões, que identifica a distância entre a previsão de emissões e os compromissos políticos atuais dos países de redução de emissões, calculando onde  deveriam estar essas emissões para cumprir a meta de aquecimento inferior ou igual a 1,5º Celcius, alerta que se não houver medidas mais efetivas o aumento de temperatura será de 2,5º Celsius a 2,9º Celsius, o que representará a falência biológica do planeta.

            A situação não se compagina mais com a divisão mundial de emissões prevista em Kyoto: reduções até 8%, alguns países tinham metas de aumento e outros não tinham metas. Como infelizmente os países pouco industrializados não poderão sustentar seu desenvolvimento económico nos combustíveis fósseis, será justo serem os últimos países a poderem fazê-lo, colocando a pressão da descarbonização econômica nas potências mundiais. O G20 é responsável por 80% das emissões globais, destacando-se pela ordem de maiores emissores a China, E.U.A., U.E. e Índia. Sendo certo que só num mundo edílico esse plano global seria estabelecido, cabe a cada país descarbonizar a sua economia o mais rapidamente possível e elevar o tema na agenda política mundial, responsabilizando e exigindo dos governos dos países com maiores emissões políticas efetivas de descarbonização.

           

3 – Transição de esquerda

 

            O capitalismo na sua versão verde abre novos campos de negócio assentes num velho modelo de exploração. Procurando manter o modelo de concentração das mega corporações na produção de energias limpas, são usadas para tal as empresas petrolíferas, transformando-as em empresas de energia. A concentração da produção de energia em grandes pólos corporativos tem sido o instrumento de controlo do capital em relação ao acesso dos povos às fontes energéticas e de domínio geopolítico imperialista. Na lógica exploratória dos hidrocarbonetos é mais assimilável que haja grandes pólos produtivos atendendo que o petróleo e gás têm localização definida no território. Na era das energias alternativas, as fontes naturais energéticas encontram-se à nossa volta, em todos os lados, devendo ser estimulada a produção local, podendo e devendo ser eliminado parte significativa do desperdício energético da distribuição. A defesa de comunidades energéticas, cooperativas de produção de energia limpa e domicílios energeticamente autónomos é uma exigência de uma política de transição mais justa, democrática e eficiente.

             No plano global, de nada adiantará as políticas de compensação financeira sobre danos ambientais dos maiores emissores assim como se revelam ineficazes os mercados de carbono, solução mercantilista que o capitalismo (com o império à cabeça) criou para lucrar com a emergência climática. Só a reposição ambiental e redução drástica de emissões pode ajudar a amenizar o problema. O metano e o carbono revelam-se pouco sensíveis a negociações e, ao contrário de todas as outras transições motivadas pelas lutas sociais, esta transição tem prazo de validade, não havendo espaço para dúvidas pseudocientíficas nem para o jogo do empurra entre países na responsabilização do processo.

            A esquerda brasileira (e mundial também) parece não querer sair do estado de negacionismo climático, recorrendo-se de reservas petrolíferas para avaliar o potencial de desenvolvimento económico de países, não acreditando que não dá para repetir os marcos de desenvolvimento das potências mundiais e que se for explorada um ínfima parte dessas reservas haverá uma cobrança brutal sobre a biosfera.

            O “cloroquinismo” climático tem de ser derrotado para que se abra uma nova frente da luta de classes. Só a esquerda pode defender a vida da classe trabalhadora perante as intempéries, com planos de deslocação massiva de parte da população que vive nas regiões de risco, só a esquerda pode apresentar proposta de descentralização econômica que acompanhe a solução urbanística, só a esquerda pode apresentar caminho para a qualificação económica e de emprego em torno da transição energética, só a esquerda pode democratizar o acesso às novas energias, só a esquerda pode questionar o atual modelo energético submisso aos E.U.A..

            A luta por uma transição energética que proteja vida dos povos, democrática e justa também é uma luta anti imperialista.

 

 

           

 

 

1 Base militar estado unidense situada no Havaí que sofreu um ataque da força aérea japonesa em 7 de dezembro de 1941 e catapultou os E.U.A. para a Segunda Grande Guerra.

 

2 Dados de 2022

 

3 Parte do solo terrestre que cobre 25% do hemisfério norte que está congelado há dezenas de milhar de anos, consequência da última era glacial. Encontra-se atualmente a descongelar a velocidade elevada devido ao aquecimento global.

 

 

Fontes:

 

. https://www.unep.org/pt-br/resources/relatorio-sobre-lacuna-de-emissoes-2023

 

 

. https://www.gov.br/anp/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/anuario-estatistico/arquivos-anuario-estatistico-2023/secao-1/secao-1.pdf

 

 

 

 

 


sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Viagem ao coração do capitalismo financeiro

 No núcleo de um sistema que criou múltiplas formas de extrair a riqueza coletiva, há dois grupos de corporações: as Big Techs e as gestoras de ativos. Como elas atuam em conjunto e por que isso é social e politicamente devastador?

OutrasPalavras

por 


Por Panos Tsoukalisem Sin Permiso | Tradução: Eleutério Prado1

O capitalismo mudou de tal forma que o rótulo “neoliberalismo” se tornou obsoleto. A crescente proeminência econômica e política das grandes empresas de tecnologia e de gestão de ativos transformou o capitalismo contemporâneo de várias maneiras. O mais importante é que ela trouxe a predominância da renda sobre o lucro, da apropriação sobre a produção. Isso afetou a lógica fundamental da compreensão econômico-política da realidade social em curso, pondo em questão assim a própria sobrevivência do capitalismo.

O neoliberalismo está aí desde a década de 1980. Desde então, o capitalismo passou por múltiplas crises e transformações. Mais recentemente, ele suportou uma crise financeira global e uma pandemia que paralisou as cadeias de suprimentos e o comércio, trancou as pessoas em suas casas e devolveu o Estado à vanguarda da política econômica.

Há muitas maneiras de entender o termo neoliberalismo. Utilizo o conceito principalmente para me referir a duas coisas: em primeiro lugar, para apontar para uma era na história do capitalismo, que começa com as eleições de Margaret Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos Estados Unidos; em segundo lugar, para fazer referência à predominância de um pacote de políticas econômicas que inclui a liberalização do comércio internacional, a privatização dos serviços públicos e a flexibilização dos mercados de trabalho. Uma característica fundamental do neoliberalismo é que ele alimentou um processo que muitos chamam de “financeirização”, ou seja, o crescente domínio do setor financeiro sobre o sistema econômico.

Alguns estudiosos parecem estar agora, cada vez mais, insinuando que o termo neoliberalismo se tornou inadequado. O capitalismo mudou muito desde a década de 1980 e isso parece exigir uma conceituação diferente, que visa compreender a sua configuração contemporânea. Ele tem sido diagnosticado de várias formas: “capitalismo de vigilância” (Zubboff, 2019), “capitalismo rentista” (Christophers, 2020), “capitalismo de plataforma” (Srnicek, 2017), “capitalismo de gestão de ativos” (Braun, 2022), “capitalismo canibal” (Fraser, 2022), ou “capitalismo de precariedade” (Azmanova, 2020). Ao fazê-lo, também se aponta para diferentes previsões sobre a possibilidade de transformação social progressiva. Varoufakis (2023) e Decano (2020) chegam ao ponto de sugerir que se deve perguntar se ainda é possível falar de capitalismo.

Se o neoliberalismo foi superado, como se deve entender a forma de capitalismo em que habitamos agora? Neste artigo, argumento que qualquer resposta à pergunta sobre o que vem depois do neoliberalismo deve levar em conta a ascensão das grandes empresas de tecnologia e de gestão de ativos e, assim, o seu crescente controle sobre nossas vidas. Vou me basear em duas conceituações que enfocam essas transformações do capitalismo contemporâneo, a saber, a de Yanis Varoufakis, que usa o termo “tecnofeudalismo”, e a de Benjamin Braun, que emprega a expressão “capitalismo de gestão de ativos”.

De fato, uma chave para entender a mais recente transformação do capitalismo contemporâneo pode ser encontrada na exploração dos vínculos entre o que Varoufakis chama de “capital-nuvem” (cloud capital) e as empresas gestoras de ativos, as quais, como argumenta Braun, se tornaram onipresentes. Fazendo um pequeno desvio pela história do pensamento econômico, argumentarei que ambos esses fenômenos sugerem o mesmo, ou seja, que ocorreu já um triunfo da apropriação sobre a produção e, em consequência, da renda sobre o lucro. Sendo assim, as dúvidas sobre a sobrevivência do capitalismo parecem realmente justificadas.

Tecnofeudalismo

Em Tecnofeudalismo: o que matou o capitalismo (2023), Varoufakis argumenta que o uso da inteligência artificial e das redes digitais e algorítmicas transformou a natureza e o poder de certos bolsões de capital. Ou seja, surgiu uma nova forma de capital – a qual ele chama de “capital-nuvem” – que tem o poder de subjugar a produção capitalista às suas próprias necessidades e lógica. A produção ainda é capitalista, no sentido de que se baseia nos meios de produção privados e na exploração do trabalho assalariado, mas ela está integrada agora por meio de uma estrutura tecnofeudal (voltarei a essa questão na última seção). Enquanto o capital tradicional (ou “capital terrestre”, como o chama Varoufakis) só pode explorar trabalhadores, o capital-nuvem também pode explorar os consumidores, bem como outros capitalistas que não possuem capital-nuvem. Isso adiciona uma camada adicional não apenas à hierarquia de estratificação econômica do capitalismo, mas também à hierarquia social de poder e controle.

Como afirma Varoufakis, os consumidores são explorados porque seu tempo de lazer está sendo explorado pelas “big techs” para obter lucro. O tempo de lazer gasto pesquisando no Google, interagindo com Alexa, postando no Instagram ou navegando pelo TikTok foi instrumentalizado para acumulação de capital na nuvem. Contudo, os consumidores não obtêm nenhum valor extra desse seu “trabalho”.

Uma grande parte dos dados pessoais que compartilhamos em todas essas plataformas acaba formando o que Shoshana Zuboff (2019) chama de “excedente comportamental” (ou seja, o excedente de dados sobre o comportamento do consumidor acumulados acima do necessário para melhorar a experiência do consumidor). Esse excedente é vendido aos anunciantes na esperança de não apenas prever, mas também afetar nosso comportamento futuro.

Varoufakis ressalta que toda vez que interagimos com um servidor digital, como o Alexa, treinamos seu algoritmo para que ele reconheça os nossos hábitos e preferências e possa nos oferecer “boas” recomendações. Mas no final chega um momento, depois de uma inevitável geração de confiança, em que a Alexa começa a explorar o nosso perfil de consumidor para mudar os nossos hábitos e preferências, promovendo produtos que de outra forma não compraríamos. Nesse ponto, não está mais claro quem treina quem, quem é o mestre e quem é o servo.

Em suma, a produção de capital na nuvem depende não apenas do trabalho assalariado (de pessoas diretamente empregadas por empresas como Google ou X), mas também do trabalho não remunerado dos consumidores. Consequentemente, enquanto empresas capitalistas tradicionais como General Motors e General Electric gastam cerca de 80% de sua receita em salários, as grandes empresas de tecnologia acabam gastando apenas cerca de 1%. Esse modo de produzir que recorre ao trabalho não assalariado é aquele que fornece uma semelhança com a ordem feudal.

O capital-nuvem também tem a capacidade de explorar outros capitalistas que não o possuem, substituindo mercados por feudos formados pela própria nuvem. Varoufakis argumenta que plataformas de comércio eletrônico como a Amazon não se constituem propriamente como mercados. Para ele, os mercados são instituições públicas que hospedam interações espontâneas e descentralizadas entre consumidores e produtores.

Em vez disso, os feudos-nuvem isolam o comprador do comprador, o vendedor do vendedor, de modo que apenas o algoritmo tem o poder de conectá-los. Entrar na Amazon é como entrar em uma cidade onde tudo pertence e é controlado por uma única pessoa, ou seja, por Jeff Bezos. Ao contrário da natureza pública e aberta dos mercados, isso descreve um arranjo institucional privatizado por meio de um processo de centralização. Isso permite que os proprietários do capital-nuvem exijam comissões excessivas (até 40% no caso da Amazon) de outros capitalistas para que eles possam acessar o feudo tecnológico, pagando o que Varoufakis chama de “aluguéis da nuvem”.

Quanto ao efeito do capital-nuvem sobre os trabalhadores, Varoufakis mostra que sua capacidade de supervisão e controle total leva a uma exploração ainda maior do trabalhador, mais até do que aquela que o capitalista tradicional poderia fazer. Isso se mostra bem nos armazéns da Amazon, onde a tecnologia portátil e os algoritmos trabalham incansavelmente para otimizar os processos de embalagem e, assim, para espremer os trabalhadores do armazém ao ponto de levá-los ao colapso. Em vez de responder a um chefe, os trabalhadores respondem a um algoritmo que rastreia todos os seus movimentos. Como resultado, não apenas eles são forçados a trabalhar mais, mas sua capacidade de ação coletiva para salvaguardar as condições mínimas de trabalho (como o direito de ir ao banheiro) é significativamente diminuída.

No contexto do neoliberalismo, isso implica numa grande perda de poder por parte dos trabalhadores, e esse padrão tem ficado muito evidente nas últimas décadas. Desde a década de 1980, os ganhos de produtividade beneficiaram quase exclusivamente os empregadores nos EUA, enquanto os trabalhadores viram seus salários reais estagnarem, se não diminuírem. Veja-se o gráfico abaixo produzido pelo Economic Policy Institute, em 2024. Ele mostra a crescente diferença entre a produtividade dos trabalhadores e a remuneração salarial nos EUA (1984-2024).

Nancy Fraser (2022) chama esse fenômeno de ascensão do “trabalhador híbrido”, um trabalhador que é ao mesmo tempo explorado e expropriado. Seguindo Marx, Fraser entende que a exploração capitalista ocorre porque o empregador paga um salário que cobre apenas os custos necessários de reprodução do trabalhador, mas fica com a maior parte do valor gerado, na forma de mais-valor (na forma do lucro).

No entanto, afirma Fraser (2022), a expansão da dívida permitiu que os empregadores pagassem ainda menos aos trabalhadores. Ou seja, muitos trabalhadores sob o neoliberalismo recebiam menos do que precisavam para sobreviver como trabalhadores ativos, o que os levava a se endividarem cada vez mais. Assim, além de explorado, ele passou a ser também expropriado. A isso, Varoufakis (2023) acrescenta que a chegada do capital-nuvem piora ainda mais as coisas devido à sua maior capacidade de vigilância e controle que, juntamente com o endividamento, torna o trabalho dos trabalhadores ainda mais expropriáveis.

Varoufakis afirma que a chegada do capital-nuvem implica a impossibilidade da social-democracia, pelo menos tal como foi concebida no final do século XX. Pois, não se sabe bem como é possível regular as plataformas das “big techs”. A regulamentação de preços é impossível, pois elas oferecem seus produtos gratuitamente; por outro lado, a regulamentação antitruste é difícil de aplicar, já que a lógica das plataformas consiste em sua capacidade de realizar economias de escala. Seja uma plataforma de aluguel de apartamentos ou uma plataforma de aluguel de táxi, o principal produto que uma plataforma oferece a compradores e vendedores é o acesso a uma ampla rede de compradores e vendedores. Na maioria dos casos, uma plataforma pequena oferece sempre um produto ruim.

Além disso, sob o capitalismo de vigilância, os trabalhadores são monitorados de perto para impedir sua ação coletiva; ademais, enquanto consumidores, eles ficam fisicamente isolados, o que dificulta a organização de boicotes. Ainda assim, o recente sucesso do sindicato dos trabalhadores da Amazon nos EUA e os boicotes dos consumidores à Starbucks, Pizza Hut e McDonald’s mostram que nem toda esperança foi perdida.

De fato, Varoufakis argumenta que essas barreiras podem ser superadas por uma grande coalizão de trabalhadores, consumidores e pequenos capitalistas que não possuem capital-nuvem (por exemplo, o restaurante ou o bar de bairro, cujos lucros são reduzidos por taxas exorbitantes cobradas pelo Uber Eats). Tudo isso mostra que é preciso pensar além das estratégias tradicionais da política progressista; ele sugere que é preciso gerar um engajamento que chama de “mobilização em nuvem” – isto é, seria necessário usar os recursos da nuvem contra o próprio capital-nuvem.

Capitalismo de gestão de ativos

Enquanto a análise da ordem social atual como “tecnofeudal” concentra a atenção no poder social das plataformas e das grandes empresas de tecnologia, o diagnóstico do “capitalismo de gestão de ativos” nos convida a levar em consideração a enorme ascensão das empresas de gestão de ativos. Benjamin Braun e Brett Christophers apresentam em seu livro alguns fatos estilizados.

As três grandes gestoras de ativos (BlackRock, Vanguard e State Street) detinham, em 2008, cerca de 13,5% de todas as empresas do S&P 500; agora, em 2024, essa porcentagem chegou a 22%. Varoufakis (2023) acrescenta que elas são os maiores acionistas de 90% das empresas da Bolsa de Valores de Nova York. Além disso, as gestoras de ativos controlam conjuntamente US$ 126 trilhões em recursos financeiros, obtêm um total de US$ 526 bilhões em receita, auferindo lucros estimados em cerca de US$ 200 bilhões por ano (equivalente ao PIB da Grécia) (Braun & Christophers 2024). Sem dúvida, como se vê, os números aqui falam por si.

As gestoras de ativos usam seu imenso acesso a recursos financeiros para influenciar ativamente o comportamento das empresas capitalistas. As gestoras de ativos “convencionais”, como as “três grandes”, obtêm recursos das empresas de seguros, dos fundos de pensão e dos fundos soberanos, todos os quais procuram-nas para investir as enormes somas de capital que detêm. Devido ao seu enorme tamanho, as gestoras de ativos tendem a possuir um capital significativo, o que lhes permite manter um controle substancial sobre as políticas das empresas. Braun e Christophers afirmam que as gestoras de ativos se tornaram o “sistema nervoso central da sociedade capitalista contemporânea”, bem como componentes centrais do capitalismo como um todo.

Os Estados também são reféns das preferências políticas das grandes gestoras de ativos. Especialmente no Sul Global, onde os países dependem de títulos denominados em moeda para financiar seus serviços estatais, as gestoras de ativos podem afetar diretamente seu acesso ao mercado de títulos soberanos. Tornam-se, portanto, árbitros de capacidade creditícia, da solvabilidade e, em última análise, também da soberania de vários países.

Além disso, muitos Estados dependem cada vez mais das gestoras de ativos para conceber e aplicar as suas próprias políticas, por exemplo, no que diz respeito à transição ecológica e até mesmo para o fornecimento de bens públicos básicos. Não apenas isso, mas a dependência do Estado e o enfraquecimento (ou completa inexistência) da soberania monetária, juntamente com o imenso acesso aos recursos, significam que as gestoras de ativos também têm a capacidade de pressionar diretamente os governos. Isso ocorre com o objetivo de impedir a regulamentação ou para promover ativamente sua agenda política.

Um exemplo de um espaço de política em que a influência das gestoras de ativos tem sido crítica é a política monetária. Benjamin Braun (2022) argumenta que a abordagem moderada adotada pela maioria dos bancos centrais para combater a inflação recente está relacionada à influência das gestoras de ativos.

Tradicionalmente, a política monetária tem sido um campo em que se dá o conflito de classes. Os bancos, os credores e os poupadores geralmente preferem inflação baixa e altas taxas de juros, mesmo que isso custe algum desemprego. Pelo contrário, os trabalhadores e os devedores preferem taxas de juros baixas, pois facilitam o investimento e a criação de empregos. Na verdade, os devedores muitas vezes estão dispostos a suportar alguma inflação porque ela consome o valor real de sua dívida.

A ascensão das gestoras de ativos alinhou os interesses de Wall Street com os da classe trabalhadora na questão do nível da taxa de juros. As taxas de juros persistentemente baixas levaram à inflação dos preços dos ativos; conforme se eleva os seus valores de mercado, aumenta a receita dessas empresas que obtêm na forma de taxas. Ao tornar os empréstimos mais baratos, as baixas taxas de juros também reduziram os custos de financiamento para as gestoras de ativos altamente alavancadas. Dessa maneira, os interesses dos bancos e poupadores foram superados pelo poder acumulado pelas gestoras de ativos.

O que não está claro nesta apresentação do capitalismo das gestoras de ativos é a questão de saber se isso representa uma ruptura radical com o neoliberalismo ou se se está diante simplesmente do resultado do aprofundamento da financeirização. Uma crítica muito comum ao neoliberalismo é que ele significou o triunfo do capital financeiro sobre o resto da economia. No entanto, esse triunfo transformou o motor do sistema econômico; se era produtivo, tornou-se parasitário. As atividades especulativas tornaram-se mais lucrativas do que o investimento produtivo, criando uma situação em que se gera muita instabilidade financeira. Não apenas isso, mas esse domínio sufoca supostamente o crescimento da produtividade, pois o capital é cada vez mais desviado de outras atividades para as finanças (ver Mazzucato 2018, Harvey 2024, Lapavitsas 2013).

Talvez o primeiro economista a estabelecer uma ligação explícita entre o neoliberalismo e a crescente influência de investidores institucionais, como fundos de pensão, tenha sido Hyman Minsky (Whalen 2010). Para Minsky, a década de 1980 inaugurou a era do “capitalismo das gestoras de dinheiro”; nesse andamento, as gestoras e os seus fundos se tornaram os novos mestres da economia. As suas preocupações sobre esse fenômeno eram muito semelhantes às discutidas acima, ou seja, apontavam para a natureza propensa a crises do sistema, bem como sua relutância em financiar investimentos produtivos. Embora o diagnóstico de Minsky tenha sido bem profundo, é duvidoso que ele tenha imaginado a extensão da propriedade concentrada e o poder que os gestores de ativos acumularam agora.

Assim, se a ascensão das gestoras de ativos representa o culminar do longo processo de financeirização da economia (ou seja, o crescente domínio das finanças sobre todos os outros setores produtivos), muitas das críticas ao neoliberalismo nas últimas décadas ainda podem ser relevantes. Podemos estar testemunhando novos níveis de concentração de capital; diante disso, portanto, continua sendo uma prioridade política controlar as finanças para garantir que elas funcionem para o bem público. No entanto, este não é o caso se se aceita o diagnóstico proposto por Varoufakis. Como foi sugerido na seção anterior, se se aceita a hipótese do tecnofeudalismo, torna-se necessário repensar radicalmente as prioridades políticas, bem como das estratégias para a transformação social progressista.

O que vem depois do neoliberalismo?

É inegável que a ascensão do capital-nuvem e das gestoras de ativos são dois fenômenos fundamentais que estruturam o capitalismo contemporâneo. Talvez sejam esses dois tipos de corporações que configuram, pelo menos até certo ponto, o que virá (ou o que já está vindo) depois do neoliberalismo.

Embora as duas críticas ao capitalismo contemporâneo antes analisadas direcionem nossa atenção para fenômenos diferentes, as implicações que podem ser extraídas delas têm muito em comum. Na verdade, ambas implicam uma maior concentração de capital e de poder nas mãos de poucos, bem como um aumento da desigualdade de renda e riqueza. No entanto, o que quero enfatizar aqui é que ambas as estruturas sugerem a predominância da renda sobre o lucro, da apropriação sobre a produção.

Muitos consideraram que o advento do neoliberalismo e da financeirização vêm de mãos dadas com o retorno da figura do rentista. Por exemplo, Harvey (2024) argumenta que a financeirização e a monopolização criaram o rentista moderno que não produz nada além de benefícios monetários por meio da propriedade de ativos ou especulação financeira. Azmanova (2020) considera que os rentistas têm sido ativamente criados por políticas estatais que visam aumentar a competitividade dos “campeões” nacionais ou regionais, em detrimento da concorrência de mercado e da regulação antitruste.

Parece que o processo em andamento de substituição do neoliberalismo está trazendo algo ainda pior. Os donos das nuvens e as gestoras de ativos são rentistas por excelência. Eles estão no negócio de tomar, não de fazer. Eles se beneficiam da propriedade e do controle – e não da produção – em condições de concorrência limitada. Brett Christophers (2020) tem a mesma visão, sugerindo que os aluguéis pagos pelo uso das plataformas desempenham um papel fundamental no que ele chama de “capitalismo rentista”.

Em seu livro sobre empresas de gestão de ativos, ele também conclui que os gestores de ativos são “rentistas puros” (Christophers, 2023). Um gestor de ativos pode ser proprietário de um parque eólico na Noruega ou de um complexo imobiliário na Flórida, mas isso não tem nada a ver com a operação e manutenção do dia a dia desses ativos, que são terceirizados para outras empresas. Eles não produzem nada, enquanto “seu negócio é maximizar o próprio ganho por meio da extração de receitas – ou seja, aquele rendimento que é obtido por meio desse ativo” (Christophers 2023).

Esses estudiosos consideram que a produção capitalista é simultaneamente baseada no lucro e na renda, na produção e na apropriação, na exploração e na expropriação. Embora na ascensão do capitalismo a renda, a apropriação e a expropriação tenham sido obstadas, elas nunca foram completamente superadas. Essas duplicatas não são equivalentes entre si, mas todas apontam para o fato de que o capitalismo não é um mero sistema de troca contratual no qual os mais eficientes, os mais produtivos e os mais inteligentes se beneficiam de acordo. Por trás da troca contratual está escondida a morada da renda imerecida, do capital patrimonial, do poder hereditário e da expropriação pura e simples. Para Varoufakis (2023), o triunfo do lucro sobre a renda foi o que acabou definindo a transição do feudalismo para o capitalismo. Nesse sentido, o retorno da renda que o capital da nuvem trouxe significa que devemos questionar se estamos vivendo ainda sob o capitalismo.

Na economia política marxista, a importância do equilíbrio entre lucro e renda foi mais claramente expressa por Rosa Luxemburgo, que argumentou que a acumulação primitiva era uma característica estrutural do capitalismo – e não apenas sua condição primitiva. Por outro lado, na economia política clássica, David Ricardo considerava os latifundiários rentistas como vestígios do feudalismo que impediam o pleno florescimento do modo de produção capitalista. Keynes, da mesma forma, pediu a eutanásia do rentista, referindo-se principalmente aos financistas parasitas que enriqueceram mantendo o capital artificialmente escasso (Mann, 2019). Mesmo na economia neoclássica convencional, o termo renda monopolista refere-se aos lucros acumulados acima dos lucros normais alcançáveis sob um design de mercado eficiente e competitivo.

Antes de resumir o resultado dessa apresentação sumária da questão da superação histórica do neoliberalismo, apresentamos abaixo um retrato dos vinte principais acionistas institucionais das 10 maiores empresas de tecnologia dos EUA:

Conclusão

Em suma, em muitas escolas de pensamento econômico, bem como em afiliações políticas, a busca de renda, a apropriação e a expropriação são vistas como fardos em uma economia capitalista. De uma perspectiva avaliativa, se toda essa extração não pode ser considerada como totalmente moral, pelo menos tem de ser tomada como politicamente censurável. Portanto, se o que estamos testemunhando agora é uma nova mudança na balança em direção à renda e à apropriação, ainda maior do que a provocada pelo neoliberalismo, então maiores problemas virão.

Varoufakis (2023) coloca a origem dos problemas (ou seja, a extração de renda ou “rent-seeking”) em grandes empresas de tecnologia, enquanto Braun e Christophers (2024) o fazem em empresas de gestão de ativos. O que falta, no entanto, é a relação entre esses dois fenômenos. Dado que a Blackrock et al. são os principais acionistas de grandes empresas de tecnologia, como isso afeta a nova dinâmica introduzida pelo capital em nuvem? Os gestores de ativos são os verdadeiros rentistas de nuvem? Como pode ser visto na tabela acima, parece que a resposta é afirmativa (Hyppolite & Michon, 2018). As gestoras BlackRock, Vanguard, State Street e Fidelity detêm as maiores participações (coletivamente, mais de 20%) nas 10 principais empresas de tecnologia dos EUA.

Se os mercados públicos e abertos não são mais o principal mecanismo de distribuição de bens e serviços, se a alocação de recursos financeiros está sujeita aos caprichos idiossincráticos de algumas corporações gigantescas, se as grandes empresas de tecnologia adquirem uma parcela significativa de seu capital gratuitamente porque os consumidores lhes fornecem os seus dados – isto é, se a renda deslocou o lucro nas economias, então, na verdade, ainda estamos falando sobre o capitalismo?

Teorizar o agora se tornou, muitas vezes, desafiador. No entanto, tentar conciliar a ascensão do capital-nuvem com a ascensão das gestoras de ativos pode ser a chave para entender as profundas transformações pelas quais o capitalismo está passando. O que deve se seguir do exposto, tomando o desafio de Varoufakis, é uma tentativa de vincular teoria e prática. Ou seja, encarar o fato de que, junto com o neoliberalismo, a conhecida caixa de ferramentas da política progressista (por exemplo, tributação, regulamentação e mobilização) também se tornou desatualizada, ou pelo menos inadequada para os desafios futuros. Talvez devêssemos pensar e agir de forma mais radical.


Referências

Azmanova, A. (2020). Capitalism On Edge: How fighting precarity can achieve radical change without crisis or utopia. Columbia University Press: NY, USA.

Braun, B. (2022). Exit, Control, and Politics: Structural power and corporate governance under asset manager capitalism. Politics & Society. 50(4): 630–654.

Braun, Β. & Christophers, Β. (2024). Asset manager capitalism: An introduction to its political economy and economic geography. Economy and Space. 56(2): 546-557.

Christophers, B. (2023). Our Lives in Their Portfolios: Why Asset Managers Own the World. Verso: London, UK.

Christophers, B. (2020). Rentier capitalism: who owns the economy, and who pays for it? Verso: London, UK.

Dean, J. (2020). Neofeudalism: The End of Capitalism? Los Angeles Review of Books.

Economic Policy Institute (2024). The Productivity-Pay Gap. https://www.epi.org/productivity-pay-gap/.

Fraser, N. (2022). Cannibal Capitalism: how our system is devouring democracy, care and the planet – and what we can do about it. Verso: London, UK.

Harvey, D. (2024, forthcoming). The Story of Capital: What everyone should know about how capital works.

Hippolyte, P.A. & Michon, A. (2018). Big Tech Dominance (1): The New Financial Tycoons. Fondation Pour L’Innovation Politique Study. https://www.fondapol.org/en/study/big-tech-dominance-1-the-new-financial-tycoons/.

Lapavitsas, C. (2013). Profiting Without Producing: How Finance Exploits Us All. Verso: London, UK.

Mann, G. (2019). In the Long Run We Are All Dead: Keynesianism, Political Economy, and Revolution. Verso: London, UK.

Mazzucato, M. (2018). The Value of Everything: Making and Taking in the Global Economy. Public Affairs: NY, USA.

Srnicek, N. (2017). Platform Capitalism. Polity Press: Cambridge, UK.

Varoufakis, Y. (2023). Technofeudalism: What Killed Capitalism. Bodley Head: London, UK.

Whalen, C. J. (2012). Money Manager Capitalism found in Chapter 34 of Toporowski, J. & Michell, J. (2012). The Handbook of Critical Issues in Finance. Edward Elgar: Cheltenham, UK.

Zuboff, S. (2019). The Age of Surveillance Capitalism: the fight for a human future at the new frontier of power. Public Affairs: NY, USA.


Notas:

1 O economista Eleutério Prado é um dos expoentes destacados, no Brasil, no debate sobre as novas formas assumidas pelo capitalismo após a contrarrevolução neoliberal. Ele traduziu generosamente este artigo, mas faz questão de frisar uma discordância conceitual com o autor. Ei-la:
“Publica-se um artigo informativo, mas bem confuso, que versa sobre as mudanças no capitalismo advindas da ascensão das grandes empresas de tecnologia digital (big techs) e das gestoras de ativos, as quais são apresentadas como “rentistas”. Ele não compreende que capital é uma relação social de exploração que se manifesta por meio de formas reificadas, a saber, dinheiro, meios de produção e mercadorias acabadas. Ele parece não saber nada sobre a distinção entre o capital portador de juros, que financia a produção de mercadorias, e o capital fictício, que financia o consumo ou tem uma relação indireta com a produção. Chama, por isso, os pagamentos associados ao capital fictício de renda, confundindo, assim, os pagamentos de “juros” apropriados pelo capital fictício – que não é de fato capital, mas parece que é – com a renda da terra. É partindo desse erro crasso, que teóricos pouco rigorosos chegam à ideia absurda do tecnofeudalismo. Contudo, ainda assim o artigo pode ser lido com proveito.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

VÍDEO: Sem prefeito, sem CET e em meio ao caos, motoristas de SP saem dos carros para organizar o trânsito

 

 


São Paulo virou uma zona. Não tem energia, não tem semáforos funcionando, não tem fiscalização, agentes para ajudar, em síntese, não tem prefeito. Literalmente a cidade está ao Deus dará.

Essa conjuntura está levando os moradores a agirem por conta própria, especialmente nas principais avenidas, três dias após as fortes chuvas que atingiram a cidade na última sexta-feira (11). Em um vídeo que viralizou no Twitter neste domingo (13), moradores se uniram para organizar o trânsito em uma via, demonstrando a necessidade de uma solução imediata diante da falta de fiscalização e orientação nos locais.

“Cadê o prefeito de São Paulo? A cidade está abandonada, e as pessoas estão tendo que descer do carro pra tentar organizar o trânsito ao seu modo!”, comentou a usuária Lia de Souza, em seu perfil na rede social.

Além dos problemas viários, cerca de 900 mil pessoas ainda estão sem energia elétrica, principalmente nos bairros da zona sul e oeste da capital. A situação também se agrava com a queda de quase 400 árvores, cujas remoções dependem da Enel, que precisa desligar a energia para garantir a segurança dos funcionários encarregados da poda e remoção.

A concessionária Enel enfrenta uma onda de críticas e denúncias junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) devido à falta de comunicação e ao atraso no restabelecimento da eletricidade. Embora a Enel tenha reconhecido problemas operacionais, não foi divulgado um prazo exato para a normalização do serviço. A situação tem causado transtornos no cotidiano dos paulistanos, como a perda de alimentos e a interrupção no funcionamento de eletrodomésticos.

Confira o vídeo:



Governo aposta em comunicação com a classe média para elevar o otimismo com economia após eleições

 

 Atualizado em 13 de outubro de 2024 às 14:57



Presidente Lula. Foto: Reprodução

FONTE: Site DCM


Após as eleições municipais, o governo Lula planeja retomar a concorrência entre agências de publicidade para impulsionar as campanhas de comunicação sobre as ações da atual gestão. O objetivo é transmitir mensagens que ajudem a aumentar o otimismo da população, principalmente em relação à economia, que tem sido apontada como a principal preocupação dos brasileiros, superando questões como violência, saúde e educação.

De acordo com uma pesquisa da Quaest, divulgada em outubro, 24% dos brasileiros consideram a economia o maior problema do país, um aumento em relação aos 21% registrados anteriormente, a despeito dos índices apontarem para um momento bastante favorável.

Paulo Pimenta. Foto: Lucas Leffa/SECOM

Esse cenário levou o governo a perceber a necessidade de uma estratégia publicitária mais agressiva e eficaz, especialmente após o retorno do ministro Paulo Pimenta à Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), que passou um período afastado para acompanhar as eleições.

Uma das críticas internas durante o período em que Laércio Portela esteve à frente da Secom é de que as campanhas se concentraram apenas em falar para o público já convertido, destacando principalmente os programas sociais do governo. Com o retorno de Pimenta, a expectativa é de que as campanhas publicitárias adotem um tom mais amplo e assertivo, buscando alcançar também a classe média e aqueles que ainda estão insatisfeitos com o cenário econômico.

No início de maio, o governo lançou a campanha “Fé no Brasil”, focando em temas como economia, saúde, educação e agro, com o objetivo de trazer esperança à população e conquistar eleitores evangélicos, onde Lula enfrenta baixa popularidade. No entanto, a campanha foi impactada por tragédias climáticas no Rio Grande do Sul e por queimadas em várias regiões do país, o que prejudicou a efetividade da mensagem de otimismo que o governo pretendia transmitir.

Agora, com o final do ano se aproximando, o governo vê o período natalino como uma oportunidade para resgatar o otimismo da população. Acredita-se que esse é o momento ideal para reforçar as ações de publicidade, especialmente com o foco em temas que possam melhorar a percepção pública sobre a economia e trazer uma sensação de renovação e esperança para o próximo ano.

A nova estratégia publicitária também será essencial para aumentar a popularidade do governo em segmentos mais resistentes, como os eleitores evangélicos e a classe média. O desafio do governo Lula será manter um discurso consistente, focado em resultados econômicos e na recuperação da confiança da população, enquanto lida com as críticas e pressões. As informações são do Estado de São Paulo.




Israel invade base da ONU no Líbano e pede a retirada de soldados da missão de paz no país

Comunidade internacional, inclusive apoiadores de Netanyahu, classificaram o ataque como "inaceitável"

Tropas israelenses patrulhando perto de uma base da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) na região de Naqoura, no sul do Líbano, perto da fronteira. - Menahem KAHANA / AFP

FONTE: Site Brasil de Fato

Tanques das Forças Armadas de Israel invadiram, neste domingo (13), uma base da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), aumentando as tensões na região, conforme anunciado pela ONU.

A ação ocorre dias após uma sequência de ataques de Israel contra posições da missão de paz no sul do Líbano, que começaram na última quinta-feira (10) e continuaram na sexta (11), deixando cinco soldados da Unifil feridos. A escalada de confrontos gerou ampla condenação internacional.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, importante aliada de Israel entre os líderes europeus, reagiu negativamente e criticou os ataques israelenses, que classificou como “inaceitáveis”. Ela expôs a opinião em conversa telefônica com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, conforme divulgado pelo governo italiano. França e Espanha também condenaram os ataques recentes. 

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, voltou a pressionar pela retirada dos capacetes azuis das áreas de combate no Líbano. Ele afirmou que a presença da Unifil nas zonas de conflito expõe as tropas da ONU a riscos elevados e as transforma em "reféns" do Hezbollah.

:: Hezbollah, Hamas e outros: quais são os principais grupos que fazem resistência a Israel no Oriente Médio ::

Netanyahu direcionou um comunicado ao secretário-geral da ONU, António Guterres, solicitando que a Unifil seja removida "das fortalezas do Hezbollah e das zonas de combate", acusando o grupo libanês de usar as forças de paz como escudos humanos. Por sua vez, o Hezbollah afirmou que não usa as forças de paz da ONU para se proteger. 

Em publicação no X, após a reação da comunidade internacional, o primeiro-ministro israelense afirmou que "lamenta qualquer dano causado ao pessoal da Unifil no Líbano".

“Israel fará todos os esforços para evitar baixas na Unifil e fará o que for preciso para vencer a guerra”, disse Netanyahu no X.

O que é a Unifil?

A Força Interina das Nações Unidas no Líbano foi criada em 1978 pelo Conselho de Segurança da ONU para confirmar a retirada de Israel do território libanês e assegurar o controle do governo do Líbano sobre a área. Após a guerra de 2006 entre Líbano e Israel, a Unifil aumentou seu pessoal e passou a também garantir a entrada de ajuda humanitária para o povo libanês e o retorno voluntário e seguro de pessoas deslocadas por causa do conflito.

A recente ofensiva israelense intensificou a tensão entre Israel e o Líbano desde que, no último dia 30, Israel invadiu o país, alegando ameaças de segurança. Além disso, as relações entre Tel Aviv e Guterres se deterioraram, com o secretário-geral sendo declarado persona non grata em Israel após, segundo Netanyahu, falhar em condenar o Irã pelos lançamentos de mísseis contra o território israelense no dia 1º. 

Edição: Raquel Setz