quarta-feira, 15 de março de 2023

STJ convoca Robinho de "forma imediata" para discutir pena no Brasil

 Determinação para que o atacante brasileiro acompanhe o processo de homologação da sentença italiana foi da presidente do STJ, ministra Maria Thereza de Assis Moura

(Foto: REUTERS/Toru Hanai)

FONTE: Site Brasil 247

ANSA - A presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a ministra Maria Thereza de Assis Moura, determinou que o atacante Robinho seja convocado de forma "imediata" para acompanhar o processo de homologação da sentença italiana.

A urgência da convocação da ministra acontece após a defesa do ex-jogador do Milan ter revelado o endereço onde Robinho pode ser encontrado.

De acordo com Maria Thereza de Assis Moura, os defensores do ex-atleta da seleção brasileira podem apresentar uma contestação contra a homologação da sentença no Brasil. A citação, por sua vez, é a primeira fase desse processo de reconhecimento.

A decisão da ministra do STJ em relação ao caso envolvendo o jogador foi publicada nesta quarta-feira (14).

Robinho foi condenado a nove anos de prisão, mas a Constituição brasileira impede que cidadãos natos sejam extraditados por delitos cometidos em outro país. Por isso, a Itália solicitou formalmente que ele cumpra a pena em um presídio brasileiro.



Direto de Bangu, Roberto Jefferson detona Jair Bolsonaro

 A postura de Jefferson em Bangu 8, aliás, contrasta com a adotada com policiais quando reagiu à prisão. Na cadeia, o dirigente tem se mostrado respeitoso

(Foto: REUTERS/Adriano Machado)

FONTE: Site Brasil 247

247 - “Do presídio em Bangu 8, no Rio, Roberto Jefferson não tem poupado Jair Bolsonaro de pesadas críticas. A pessoas com quem tem convivido no cárcere, disse que o capitão pulou do barco em meio à tormenta. Uma referência ao fato de o então presidente ter deixado, sem orientação, manifestantes após a derrota para Lula”, informa o jornalista Paulo Cappelli em sua coluna no portal Metrópoles.

“Pelo raciocínio de Jefferson, prisões poderiam ter sido evitadas se Bolsonaro tivesse sido claro quanto às suas intenções. As críticas decorrem da postura dúbia adotada pela família Bolsonaro após o segundo turno. No começo de dezembro, Flávio afirmava que um golpe nunca havia sido cogitado. Já o então presidente declarava, na porta do Alvorada, que cabia aos manifestantes ‘decidir para onde iriam’ as Forças Armadas’.  Ele também tem detonado Bolsonaro pela viagem aos Estados Unidos após a derrota”, acrescenta.



"EU SOU NORMAL" VÍDEO: A patética cena de Tarcísio tentando destruir a bancada da Bolsa de Valores

 Num acesso de virilidade descabido e sem sentido, governador paulista espanca violentamente peça de madeira onde martelo deve ser batido quando um negócio é fechado. Veja

IMAGEM: Reprodução twitter

FONTE: Site Revista Fórum | 

O bolsonarismo é, de fato, um fenômeno não totalmente compreendido. Só que às vezes, diante de algumas situações tão absurdas, fica difícil acreditar que há sanidade entre os radicais que seguem e veneram o ex-presidente de extrema direita. Parece ter sido o caso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na tarde desta terça-feira (14).

Durante o leilão do trecho norte do Rodoanel Mário Covas, na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, Tarcísio, tomado por um acesso de virilidade e fúria tão inexplicável quanto patético, tentou destruir a bancada do local onde era realizada a negociação.

Nas imagens inacreditáveis, o governador paulista carioca dá pancadas violentíssimas com o martelo usado para simbolizar o “negócio fechado” do leilão e tenta destruir a peça de madeira colocada sobre a bancada da B3, onde o instrumento simbólico deve ser batido.

O público parece incrédulo diante da cena ridícula e do descontrole bizarro do homem que governa o estado mais rico e populoso do Brasil, que depois de não conseguir quebrar nem o martelo, nem a base de madeira, arremessa a ferramenta longe, para aplauso de alguns bajuladores constrangidos.

Assista à grotesca cena:







terça-feira, 14 de março de 2023

ESSENCIAL | Governo prepara projeto para regular redes e combater fake news

 Ministro da Justiça espera que matéria seja aprovada ainda neste ano. “Ideia é ter uma legislação moderna e que proteja as liberdades”

FOTO: Reprodução/TVT  |  

São Paulo – O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, prepara um Projeto de Lei (PL) que trata da regulação das redes sociais. O ministro trabalha na matéria ao lado da Secretaria de Comunicação (Secom), do ministro Paulo Pimenta. De acordo Dino, a estimativa é de encaminhar uma proposta já na semana que vem para avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), antes de enviar a matéria ao Congresso Nacional.

“Já temos a tramitação de um projeto de lei lá, sob a relatoria do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). A nossa ideia inicial é que o conteúdo seja aproveitado para qualificar, e termos uma legislação moderna, adequada e que proteja as liberdades. E, ao mesmo tempo, que a internet não seja uma guerra. Que haja dever e cuidado por parte das empresas, e haja um sistema de responsabilidade, no caso de cometimento de crimes por intermédio dessas plataformas”, disse Dino.

Flávio Dino avalia que o Congresso deve debater a regulação das redes sociais ainda neste ano. O ministro lembrou que, em paralelo, há duas ações diretas de inconstitucionalidade tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF). “Haverá uma audiência pública no dia 28 de março. Concluída essa fase, o Supremo também pode julgar. De modo que são dois caminhos diferentes que irão se complementar. No sentido de termos novos marcos jurídicos sobre internet no Brasil ainda neste ano de 2023, seja por deliberação do Congresso, seja por deliberação do Supremo.”

Outras frentes

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) prepara um relatório que também será encaminhado ao Congresso. Segundo o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, a intenção é levar sugestões ao PL de relatoria do deputado Orlando Silva. Moraes acrescentou que, para concluir o trabalho, tem conversado com representantes das redes sociais.

De acordo com o presidente do TSE, as discussões têm que levar em conta três pontos: a transparência no uso dos algoritmos, o engajamento maior e a monetização das redes sociais. “Não importa qual seja a informação, se está ganhando dinheiro tem que ter responsabilidade pela informação”, disse.

“Não precisamos, de início, exigir que toda, absolutamente toda informação seja checada pelas plataformas, mas podemos exigir esses três pontos e que todas as big techs tenham responsabilidade, com maior transparência dos algoritmos. Há necessidade. A utilização de algoritmos faz com que qualquer plataforma deixe de ser algo inerte onde se colocou conteúdo e passou a atuar.” De acordo com o Alexandre de Moraes, se houve atuação, há a responsabilidade de combate às fake news.

Na Câmara

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), destacou que, desde a aprovação do texto pelo Senado, muitos fatos ocorreram envolvendo a participação em redes sociais. Para ele, é possível fazer um consenso entre as propostas para a aprovação de uma lei para o setor.

“Caberá ao relator Orlando fazer uma síntese de propostas que virão do Poder Executivo, do Poder Judiciário, sociedade civil e órgãos interessados, para que a gente construa realmente um texto adequado, que propicie as alterações que nós desejamos, todos brasileiros, para que a liberdade de expressão seja preservada, mas, ao mesmo tempo, a responsabilidade necessária com todos os caminhos adequados tanto para as big techs como para os usuários”, disse.

“É polêmico o tema (regulação das redes sociais), é abstrato, é subjetivo, dito pelo próprio ministro que tem áreas escuras, opacas, claras, então nós teremos um trabalho duro para aprovar este texto. Nós não conseguimos sequer votar a urgência no mandato passado. Contudo, a  necessidade de se chegar a um bom termo, em um tema que está desequilibrado, é importante que todos nós nos empenhamos”, concluiu.

Na avaliação de Lira o tema está bastante maduro em relação a sua espinha dorsal. “O poder Judiciário vai prestar algum tipo de contribuição e o relator já vem conversando com alguns assessores e com o ministro da Justiça para também trazer para o plenário as contribuições do executivo. Por que isso é importante? Porque são setores que vão influenciar na votação e na condução dos votos para que a gente tenha a aprovação. De um lado, a gente não vai poder traduzir com liberdade de expressão excessiva, em que tudo é permissivo e também não só uma restrição punitiva.”

Com Agência Brasil



"O MUNDO QUER SABER" | Cinco anos após assassinato, caso Marielle Franco segue indefinido

 Motivações e mandantes da morte da vereadora são questões que continuam sem respostas

FOTO: CC 2.0 - Wikimedia  |  Símbolo de luta contra desigualdades, parlamentar assassinada tem recebido homenagens no Brasil e em diversos países do mundo

FONTE: Rede Brasil Atual

São Paulo – O assassinato da vereadora Marielle Franco completa cinco anos e segue sem resposta sobre o mandante do crime. A socióloga e o motorista Anderson Gomes foram metralhados em um carro no Estácio, bairro da região central carioca, na noite de 14 de março de 2018. Até aqui as investigações levaram à prisão de dois executores: os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Elcio de Queiroz. Os motivos e quem mandou mandar Mariele permanecem desconhecidos.

“Já se passaram cinco anos: é muito tempo. Hoje, o mundo inteiro quer saber quem mandou matar Marielle. Isso não é uma questão a ser resolvida apenas para a família”, desabafa Marinete Silva, mãe da socióloga e ativista dos direitos humanos e dos movimentos sociais. Ela resume o sentimento de familiares, amigos, ativistas, e de qualquer pessoa indignada com o crime. complementa a mãe.

Interferências

O próprio processo de investigação passou a ocupar um lugar central no noticiário. A Polícia Civil teve cinco delegados responsáveis pelo caso na Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro. No Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), três equipes diferentes atuaram no caso durante esses anos.

A última mudança aconteceu há 10 dias, quando o procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, escolheu sete novos promotores para integrar a força-tarefa coordenada por Luciano Lessa, chefe do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

As trocas constantes de comando receberam críticas de familiares e movimentos sociais nesses cinco anos, e levaram a suspeitas de obstrução nas investigações. Em maio de 2019, a Polícia Federal apontou que foram dados depoimentos falsos para dificultar a solução dos homicídios. Procuradoras abandonaram o caso em julho de 2021, com a afirmação de que houve interferência externa na investigação.

O novo comando do MPRJ disse estar comprometido em “não chegar a uma conclusão açodada, divorciada da realidade” e que trabalha objetivamente para “realizar um trabalho técnico e sério, voltado para identificar todos os envolvidos”.

Prisões

Sobre os mandantes e o motivo dos assassinatos, os promotores afirmam que as dificuldades são maiores por se tratar “um crime onde os executores são profissionais, que foram policiais militares, que sabem como se investiga”.

O avanço mais consistente no caso aconteceu em março de 2019, quando Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa foram presos no Rio de Janeiro. O primeiro é acusado de ter atirado em Marielle e Anderson, o segundo, de dirigir o carro usado no assassinato. Quatro anos depois, eles continuam presos, mas não foram julgados. Procurado pela reportagem, o Tribunal de Justiça do Rio informou que é esperado “o cumprimento de diligências requeridas pela promotoria e pela defesa para que seja marcada a data do julgamento”.

Sobrevivente

Fernanda Chaves, ex-assessora de Marielle Franco, foi a única sobrevivente do atentado. Ela estava no carro quando a parlamentar e o motorista foram atingidos. Fernanda diz que apenas o delegado que assumiu o caso entre 2018 e o início de 2019, Giniton Lages, a chamou para prestar depoimento. Ela só voltou a ser procurada em janeiro desse ano pelo Ministério da Justiça, quando participou de uma reunião com assessores da pasta.

“Você chegar a cinco anos sem que se tenha levado adiante o julgamento dos que estão acusados e presos por conta do assassinato? Sem ter uma investigação que leve aos mandantes? É muito humilhante, eu acho que é vergonhoso para o Estado não entregar essa resposta. O Rio de Janeiro, quando a Marielle foi assassinada, estava sobre intervenção federal, militarizado. No centro da cidade, do lado da Prefeitura, as vias eram cobertas por câmeras. E cinco anos depois você não tem um avanço. Giniton saiu do caso, as promotoras deixaram o caso alegando interferência. Isso é gravíssimo”, acusa.

Inquérito federal

A reunião de Fernanda marca uma mudança de postura do governo federal em relação ao caso. A federalização das investigações esteve em pauta desde o início e chegou a constar em um pedido da então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em setembro de 2019. A tentativa não avançou após proibição do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do desinteresse do governo federal na época e da preocupação dos familiares.

Em fevereiro desse ano, o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que a Polícia Federal (PF) abrisse um inquérito paralelo para auxiliar as autoridades fluminenses. Ontem (13), o ministro disse que o caso é uma prioridade da corporação e que pretende identificar todos os envolvidos.

“O que eu posso afirmar é que o trabalho está evoluindo bem. Mas é claro que, sobre o resultado, nós teremos nos próximos meses a apresentação dos investigadores daquilo que foi possível alcançar. Não é possível nesse momento fixar prazos, nem que momento isso finalizará. Mas eu posso afirmar que há prioridade, há uma equipe dedicada na Polícia Federal só para isso e eu tenho, sim, a expectativa e a esperança, que é de todos nós, que a PF vai ajudar a esclarecer definitivamente esse crime”.

Justiça por Marielle e Anderson

Para aumentar a pressão sobre as investigações, foi criado em julho de 2021 o Comitê Justiça por Marielle e Anderson. Ele é formado pelos familiares das vítimas, pela Justiça Global, Terra de Direitos, Coalizão Negra por Direitos e Anistia Internacional Brasil. Esta última organizou e participou de campanhas desde que os assassinatos aconteceram.

Para a diretora-executiva Jurema Werneck, as autoridades do Rio estão falhando há cinco anos com as famílias das vítimas e a sociedade como um todo. Ela defende que a solução do caso é fundamental para o país mostrar que está comprometido no combate aos crimes políticos.

“O ministro da Justiça diz que vai cooperar. A gente só tem que confiar que dessa vez vão colaborar de fato. E que dessa vez vão contribuir para o Rio de Janeiro e o Brasil superarem essa ineficiência crônica de elucidação de homicídios. E principalmente elucidação de homicídios políticos. O Brasil é o quarto país do mundo que mais mata ativistas. Portanto, o ministro da Justiça, além de elucidar esse crime, precisa estabelecer políticas e mecanismos consistentes para que o Brasil deixe de estar entre os campeões do mundo de assassinatos políticos”.

Essa visão é compartilhada por organismos internacionais, que pressionam o Brasil a solucionar o atentado. Jan Jarab, representante da ONU Direitos Humanos para a América do Sul, defende que é preciso inserir o caso em um contexto mais amplo de ataques contra defensores dos direitos humanos.

“Devemos evitar a impunidade. No sentido amplo da palavra, não só sobre quem executa os atos violentos, mas também quando há pessoas por trás. Mas também é importante a prevenção, primária e secundária, e as medidas de segurança física. E intervir quando já existem ameaças, quando existem crimes de ódio verbal. Que não se banalizem essas formas de agressão verbal, principalmente no âmbito das redes sociais”.

Esperanças renovadas

Meia década de tristeza, angústia e ansiedade. Mas não de desistência. É dessa forma que amigos e familiares de Marielle Franco renovam as esperanças de que, com o apoio de diversos setores da sociedade civil, não será preciso passar mais um ano sem a resposta sobre “Quem mandou matar Marielle?”.

“Infelizmente, a gente vive em um país onde muitas pessoas são assassinadas e seguem sem saber quem mandou matar e o porquê. Mas eu acho que o Brasil merece dar essa resposta para democracia”, diz Anielle Franco, irmã da vereadora e ministra da Igualdade Racial.

“Eu preciso acreditar nas instituições, eu preciso acreditar que esse resultado vai ser apresentado. Eu não posso acreditar em um país que tenha autoridades e instituições funcionando, em um Estado Democrático de Direito, que não entrega essa resposta. Eu preciso acreditar nisso, eu tenho esperança”, diz Fernanda Chaves.

“Eu entendo hoje que fazer justiça por Marielle não tem só a ver com o final de um inquérito. Isso o Estado brasileiro deve à família e à sociedade”, defende Mônica Benício, viúva de Marielle. “É a gente poder viver numa sociedade onde ‘Marielles’ não sejam assassinadas, mas possam florescer no seu máximo de potência. É a gente ter uma sociedade em que não haja racismo, LGBTfobia, machismo. Ou seja, que todos os corpos possam viver e ter igualdade de direitos, que todas as vidas possam importar igualmente aos olhos do Estado e aos olhos da sociedade. Quando a gente tiver essa sociedade, fizemos justiça por Marielle”.

Cronologia do caso Marielle Franco

  • 14 de março de 2018: Marielle Franco e Anderson Gomes são assassinados.
  • 15 de março de 2018: Giniton Lages assume a Delegacia de Homicídios do Rio e o caso.
  • 21 de março de 2018: O MPRJ escolhe um grupo de promotores para a apuração do crime.
  • 01 de setembro de 2018: Entra no caso o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ). Acontece a primeira troca de promotores do MPRJ.
  • 25 de setembro de 2018: Orlando Curicica, encarcerado no Presídio Federal de Mossoró por crimes ligados à milícia, menciona o ‘Escritório do Crime’ para os investigadores. Uma testemunha cita o vereador Marcello Siciliano por suposto envolvimento na morte de Marielle. Siciliano foi preso, mas o envolvimento dele foi descartado depois.
  • 11 de outubro de 2018: Investigações do MPRJ identificam biotipo do executor do crime e rastreiam novos locais por onde circulou o carro usado no crime.
  • 11 de março de 2019: A primeira fase de investigações é encerrada. Ronnie Lessa e Élcio Queiroz são denunciados por homicídio doloso.
  • 12 de março de 2019: Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa são presos no Rio de Janeiro.
  • 25 de março de 2019: Giniton Lages é substituído por Daniel Rosa na Delegacia de Homicídios do Rio.
  • 23 de maio de 2019: Polícia Federal aponta que foram dados depoimentos falsos para dificultar a solução dos homicídios de Marielle Franco e Anderson Gomes.
  • 11 de setembro de 2019: A então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pede a federalização das investigações.
  • 10 de março de 2020: Justiça do Rio determina que Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz sejam levados a júri popular.
  • 27 de maio de 2020: Superior Tribunal de Justiça (STJ) nega a federalização das investigações.
  • 17 de setembro de 2020: Delegado Daniel Rosa deixa o caso. Moisés Santana assume o lugar dele.
  • 05 de julho de 2021: Terceira troca na Delegacia de Homicídios: sai Moisés Santana, entra Edson Henrique Damasceno.
  • 02 de fevereiro de 2022: Quarta troca: Edson Henrique Damasceno é substituído por Alexandre Herdy.
  • 30 de agosto de 2022: Supremo Tribunal Federal (STF) nega recursos das defesas de Ronnie Lessa e Élcio Vieira, e mantém decisão sobre júri popular.
  • 22 de fevereiro de 2023: O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anuncia abertura de inquérito da Polícia Federal para investigar assassinatos.
  • 04 de março de 2023: MP do Rio define novos promotores do caso Marielle Franco.

Reportagem de Rafael Cardoso, da Agência Brasil – Redação RBA: Fábio M Michel



segunda-feira, 13 de março de 2023

Bolsonaro será intimado a depor sobre joias e Brasil pode pedir cooperação internacional, diz Dino

 "Temos diligências em curso, pessoas sendo ouvidas, e, em algum momento, o ex-presidente será intimado", afirmou o ministro da Justiça


Flávio Dino e Jair Bolsonaro (Foto: Tom Costa/MJSP | Reprodução | Reuters/Adriano Machado) ((Imagem: Wallace Martins/Futura Press/Folhapress)

FONTE: Site 247

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou nesta segunda-feira que o ex-presidente Jair Bolsonaro será intimado a depor pela Polícia Federal, em algum momento, no âmbito do inquérito sobre a entrada no país de joias sauditas não declaradas, e disse que o Brasil pode solicitar cooperação jurídica internacional caso ele não compareça.

Segundo Dino, ainda não há prazo nem data para a intimação a Bolsonaro, que se encontra nos Estados Unidos desde que deixou o Brasil em dezembro do ano passado dois dias antes do final de seu mandato. O ministro afirmou que ainda há "outros passos" a serem dados antes de uma oitiva de Bolsonaro, frisando que há muitos materiais a serem analisados que, no momento, são mais relevante do que ouvir o depoimento do ex-presidente.

"Temos diligências em curso, pessoas sendo ouvidas, e, em algum momento, o ex-presidente será intimado. Caso ele não compareça poderá haver ou não acionamento de cooperação jurídica internacional", disse o ministro a jornalistas após participar de evento da Fundação Getulio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro.

"O depoimento é uma oportunidade de defesa dele também... Não será ouvido hoje, amanhã ou depois de amanhã. Estamos diante de fatos que têm prova documental, imagens, filme, oficiais e papéis, provas materiais e, tem pessoas sendo ouvidas, provas orais", acrescentou.

Segundo o ministro, a PF vai concluir o inquérito "independentemente dele ser ouvido ou não“, mas ele disse esperar que Bolsonaro seja ouvido por que é direito de um investigado.

Especialistas ouvidos pela Reuters disseram que o caso envolvendo o ingresso irregular no país de joias procedentes da Arábia Saudita destinadas a Bolsonaro pode levar o ex-chefe do Executivo, a depender do resultado de investigações anunciadas por órgãos de controle, a responder pelos crimes de lavagem de dinheiro, desvio de recursos públicos (peculato), descaminho e delitos de natureza tributária.

O ex-presidente já disse que não cometeu ilegalidades no caso e acionou o advogado Frederick Wassef para ajudá-lo na defesa das investigações de que será alvo, disse uma fonte com conhecimento do assunto. Em nota pública na semana passada, Wassef informou que Bolsonaro declarou oficialmente os "bens de caráter personalíssimo recebidos em viagens, não existindo irregularidade em suas condutas".

A PF abriu inquérito para apurar o caso após a Receita Federal ter informado que o governo anterior não adotou os procedimentos necessários para a incorporação ao patrimônio público de joias presenteadas pelo governo saudita a uma comitiva brasileira que visitou o país em 2021.

Parte das joias, que os portadores disseram ser destinadas à então primeira-dama Michelle Bolsonaro, ficou retida na Receita Federal em Guarulhos --um conjunto avaliado em 16,5 milhões de reais. Segundo reportagens da imprensa, o Planalto fez diversas tratativas para reavê-las.

Na semana passsada, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes determinou que Bolsonaro se abstenha de vender ou usar joias recebidas por ele.

Além do TCU e PF, outras três instituições já informaram que vão investigar o episódio: o Ministério Público Federal, a Receita Federal e a Controladoria-Geral da União.



Oscar 2023: #SUSnoOscar e #SemAnistia puseram Brasil e Argentina na festa do cinema

 “Quando falta o ar”, ao disputar indicação para melhor documentário, levou ao mundo o SUS e a luta das mulheres da saúde contra o negacionismo. “Argentina 1985” retrata por que a luta pela memória e a verdade vale a pena

"Argentina 1985" e "Quando Falta o Ar" levaram o passado e o presente da América do Sul às telas
FOTO: Divulgação

A cerimômia de entrega do Oscar 2023, na noite deste domingo (12), começou no ano passado e teve pelo menos dois vencedores de “véspera”. Um deles, o brasileiro Quando Falta o Ar, indicado pelo país para a disputa do Oscar de melhor documentário, fez história apesar de ter ficado de fora na lista final. Por muito tempo, levantou nas redes sociais a hashtag #SUSnoOscar.

O outro é o longa Argentina 1985, que na noite derradeira esteve entre os cinco indicados de melhor filme estrangeiro. E, dessa forma, já com a missão de levar ao mundo e às novas gerações a história da punição, sem anistia, dos protagonistas de uma das ditaduras mais sangrentas do século 20. “Só por isso já vencemos”, disse um dos inspiradores do filme, o promotor Luis Moreno Ocampo.

Ocampo (vivido no filme por Peter Lanzani) foi auxiliar do procurador Julio Strassera (Ricardo Darín) no processo que levou o ditador Jorge Videla à prisão. Era 1985, e a Argentina em seus primeiros dois anos de restauração democrática já punha o general-presidente no banco dos réus. Jorge Rafael Videla foi declarado culpado pelo assassinato e desaparecimento de milhares de cidadãos em seu governo (1976-1981). A sentença: prisão perpétua, inelegibilidade perpétua e perda perpétua da patente militar.

A história na pele

Em entrevista recente ao Roda Viva, da TV Cultura, Luis Moreno Ocampo disse que Argentina 1985 foi “a cereja do bolo” de um processo que mudou seu país. Por intermédio do longa dirigido por Santiago Mitre, não apenas o mundo tomou contato com uma história que não se pode esquecer. Mas sobretudo as novas gerações a sentiram na tela. Jovens como seu próprio filho, que não tiveram contato com a gravidade daquele momento.

O promotor enaltece a importância do cinema ao lembrar que, durante o processo – resultado do trabalho da Comissão da Verdade –, assistiu a A História Oficial (1985, vencedor de Oscar de filme estrangeiro no ano seguinte). E disse que pela primeira vez chorou muito, mesmo não vendo no filme as cenas sanguinárias que vieram à sua mente durante o garimpo de testemunhos e provas contra Videla. “É com esse poder que o cinema atravessa gerações e cruza fronteiras. Ganhando ou não o Oscar, o filme cumpriu o papel de levar ao mundo essa mensagem. E isso é tudo que um filme pode fazer: abrir um diálogo diferente.”

Além de A História Oficial, o filme O Segredo de Seus Olhos (2009, de Juan José Campanella) também levou o Oscar de filme estrangeiro para a Argentina.

Perguntado se o Brasil deveria retomar a investigação dos crimes da ditadura, Ocampo foi categórico. A prioridade do Brasil, segundo ele, deve ser a investigação dos atos terroristas de 8 de janeiro. É uma ação emergencial porque ainda está em movimento, ele explica, acentuando que essa tentativa de golpe ainda não acabou. “E a defesa da democracia no Brasil interessa a toda a América Latina.” Não à toa, a hashtag #SemAnistia – recado crítico à lei brasileira de 1979 – passou a ser disseminada em nome da punição aos terroristas do 8 de janeiro.

Quando falta o ar

Foi justamente a abertura desse diálogo diferente um dos grandes feitos do documentário brasileiro Quando Falta o Ar (2021). O filme de Ana e Helena Petta foi o grande vencedor do Festival É Tudo Verdade do ano passado. Desse modo, se credenciou para ser o indicado do Brasil para a lista dos documentários de longa-metragem a concorrer a esta edição do Oscar.

Diferentemente de Argentina 1985Quando Falta o Ar não acabou entre os cinco indicados para a a final. Mas nem por isso deixou de ser um vitorioso, por levar ao mundo, sobretudo aos Estados Unidos, no final do ano, a história do enfrentamento do Brasil à pandemia da covid-19. O documentário entrou em cartaz esta semana nos cinemas.

Uma história do Sistema Único de Saúde (SUS), que era ele próprio candidato a morrer caso o governo anterior tivesse prevalecido na eleição passada. Um enredo protagonizado essencialmente por profissionais de saúde, que expõe façanhas que não podem se alcançar apenas pelo minguado salário do fim do mês. Uma história, além de tudo, de mulheres, diga-se neste mês de março, que são a grande maioria nessa carreira heroica.

O país todo já sabe que grande parte de seus 37 milhões de contágios e 700 mil mortes pela covid-19 poderia ter sido evitada. Especialmente se não estivesse no poder um governo negacionista e que responderá no Tribunal Penal Internacional por genocídio. Mas ao ver Quando Falta o Ar, o Brasil, e, graças ao cinema, muita gente no mundo, constatará o quanto a tragédia poderia ter sido ainda pior.

Frente de batalha

No 8 de Março dedicado às lutas das mulheres, equipe e atores do filme se encontraram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. Lula, ministros e a primeira-dama, Janja da Silva, estiveram por aproximadamente uma hora com a equipe do documentário, médicas e agentes comunitárias.

Uma delas era a indígena Eli Baniwa, que se diplomou médica aos 35 anos, na Universidade Federal do Pará, beneficiada por programas sociais. “Eu vi colegas meus, médicos jovens, se recusando a ir para a frente de batalha. Então, sinto orgulho de estar nesse filme”, afirmou.

“Procuramos registrar de perto o trabalho dessas mulheres”, conta a médica e diretora do filme Helena Petta: “Capturamos os diferentes ritmos no cuidado que elas prestam, que muitas vezes se expressam através do toque, do gesto e do olhar. Queríamos revelar as desigualdades do país e os preconceitos raciais que afetam as diferentes religiões do Brasil”.

Não há dúvida: Ana e Helena Petta conseguiram.

Neste sábado (11), o mundo completou três anos da decretação da pandemia do novo coronavírus. Casos de síndrome respiratória associados a covid-19 ainda estão em alta no país.

Quando Falta o Ar mostra ação dos profissionais. Não estava na festa deste domingo, mas levou o SUS ao mundo do cinema

Argentina 1985: necessário para que a desinformação e o esquecimento não atravessem gerações




Corrida para o STF afunila em três nomes e Zanin segue como favorito

 Advogado Cristiano Zanin Martins vem sendo alvo de intensa campanha promovida pela extrema direita, mas tem total confiança de Lula

Cristiano Zanin, Lula e Valeska Zanin Martins (Foto: Ricardo Stuckert)

FONTE: Site Brasil 247

247 – A corrida para a escolha no novo ministro do Supremo Tribunal Federal, na vaga que se abre em 11 de maio, com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski, se afunilou em três nomes: o advogado Cristiano Zanin Martins, que defendeu o presidente Lula durante a perseguição judicial da Lava Jato, o advogado Manoel Carlos, que dirige a área jurídica da CSN, e o ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União. As informações constam de reportagem do Valor Econômico desta segunda-feira.

Zanin segue como franco favorito, mas vem sendo alvo de uma intensa campanha promovida por setores da extrema direita, como o ex-juiz suspeito Sergio Moro e seus aliados na imprensa. Zanin ganhou destaque nacional e internacional por sua atuação na defesa de Lula em diversos casos e conseguiu demonstrar que o presidente foi vítima de perseguição judicial, o chamado lawfare.

Além de sua atuação na defesa de Lula, Cristiano Zanin Martins também é autor de livros e artigos sobre direito e política, e já atuou em casos de destaque envolvendo outras personalidades públicas e empresas brasileiras. A campanha negativa movida contra Zanin apenas tem servido para reforçar a necessidade de um ministro antilavajatista e, portanto, comprometido com o estado de direito.



domingo, 12 de março de 2023

Por que insistir em Eloy Terena ministro do STF?

 

Eloy Terena (Foto: Jane de Araújo/Agência Senado)

... Porque ter um advogado indígena como ministro do STF é, sem dúvidas, a coisa mais improvável nesse Brasil – ainda – colonial e, portanto, uma chance como essa, com um governo progressista em razoável “lua de mel” frente à maior parte da sociedade, do Congresso Nacional, dos membros da Suprema Corte e de outros atores importantes[1], imaginamos que somente ocorrerá em outra encarnação.

Lembro-me que quando eu era criança, em dia de muita expectativa, preparado por semanas de intensa propaganda e alarde, aguardava ansioso a passagem do cometa Halley. Eu morava numa região de chácaras de Brasília chamada de Núcleo Rural Casa Grande, próximo ao Gama. E jamais vi outro céu mais bonito no mundo que nesse lugar onde vivia. Sobre o Halley: a grande esperança de ver algo inédito, que nem meus pais, nem meus avós tinham podido contemplar; eu sim! Meus filhos provavelmente não. Talvez meus netos tenham autorização da natureza para extrair a nirvana de tal espetáculo. Ora, o Halley estava ali, em 1986, e somente voltaria a figurar o céu de nossas vistas em 2061. É que a ciência calculou sua volta completa em torno do sol a cada 76 anos (para nos dar um “oi” aqui na Terra).

É isso que abordo como analogia a fim da escolha do Presidente Lula ao novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF): não haverá outra chance como essa de termos uma guinada paradigmática tão fundamental, chamando para cuidar da Justiça de nosso País um líder dos povos ancestrais do Brasil tão cedo. E neste ínterim, trazemos como opção, o pós-doutor em Direito (aliás, intelectual que guarda em seu currículo, dois doutorados e outras tantas potências de conhecimento), Eloy Terena, atualmente, Secretário Executivo do Ministério dos Povos Originários do governo brasileiro.

É fundamental que, de largada, peça à/ao leitora/or que acesse meu último texto neste jornal, o Brasil 247 [2]. Embora extenso, é oportuna a compreensão de fundamentos que balizam o assunto tão determinante dos rumos de nossa República. Ali reivindico o ineditismo do evento, a saber, o novo membro da Corte máxima do Brasil não ser necessariamente o nome “A” ou “B”, entretanto, consoante ao conceito de defensor rigoroso do Direito Alternativo, do Direito Insurgente, do Direito Achado na Rua, de mobilizações da teoria crítica do Direito que encontrem na dimensão do espoliado o epicentro, aliás, a espiral (face ao devir da arguição) da ação jurisdicional. Isto é, para que haja justiça, o pobre e o vulnerabilizado devem formar o núcleo do evento interpretativo das decisões constitucionais. Sua ação finalística. Nada inferior a isso...

Hoje opto por avançar um passo nessa direção. E dizer que um nome estratégico ao Brasil (ao STF) é o do Eloy Terena. Isso exige que elenquemos alguns fatores, conjunturais, históricos e circunstanciais (sensacionais, diríamos). Vejamos:

1) Considerar o que incluímos no primeiro parágrafo deste texto: a boa relação do Presidente recém empossado com os atores sociais determinantes na correlação de forças;

2) Atentar-nos para a crise climática global e o risco de colapso ecológico sistêmico, emergências ambientais que exigem um novo ministro no STF com olhar acurado para estas questões;

3) Lembrar da simpatia do mundo (geopolítica) com a potência do Brasil em liderar (inclusive em caráter jurisdicional) o debate – e a locomotiva – dos eventos ambientais pelo mundo;

4) Ganhar mais um argumento na articulação para captar bilhões de dólares de investimento no Fundo da Amazônia e outros fomentos ao Meio Ambiente e biomas do Brasil;

5) Pensar na dificuldade pragmática de os senadores da República rejeitarem um nome indígena, com inquestionável saber jurídico e reputação ilibada como é o caso do Terena;

6) Saldar a dívida histórica que o Brasil tem com os povos indígenas majoritariamente exterminados do território e cada vez mais espremidos nas sobras de territórios que são, na verdade, santuários de proteção das águas e do ecossistema para todas e todos; e

7) Promover a inserção democrática e necessária no Pleno do Supremo, finalmente e em constante, das premissas do Ecoconstitucionalismo e do Pluralismo Jurídico.

Como o texto se mostra auto-explicativo, compreendo ser oportuno guardar a elegância de não estender muito a arguição. Contudo, este último ponto reivindica um debate de maior densidade: afinal,

O que é o Ecoconstitucionalismo? 

Pois bem! Na síntese mais potente possível, trazemos o ensinamento de Raquel Yrigoyen, para quem o Constitucionalismo Ecológico (ou Ecoconstitucionalismo) é oriundo da cosmovisão e cosmogonia dos povos indígenas, cujo núcleo central se reporta ao direito (garantia de vida) da Mãe Terra, e se desdobra no evento pragmático (e não menos simbólico) do Direito à Alimentação e à Água, semânticas que integralizam as formas de vida destes povos e comunidades, consolidando a proteção ao habitat (YRIGOYEN, 2021, p. 245)[3]. Lembrando que espaço-tempo são variáveis que a todos (nós) interliga. Se uma nascente seca na Chapada dos Veadeiros, os ricos da Faria Lima não beberão por muito tempo. É uma lógica!

Trata-se de dimensão que faz parte do Novo Constitucionalismo Latino-Americano que, grosso modo, abarca as dimensões do Bem-viver, tanto em termos conceituais-sistêmicos, quanto civilizatário-legal. Este, por seu expediente, refere-se à principal simbiose da vida ao que podemos chamar de harmonias existenciais, a saber, a do Eu-Eu, a do Eu-Outro e a do Eu-Planeta, lendo, oportunamente, “Eu”, como a individuação, isto é, fatores de consolidação de nossa subjetividade; o “Outro” como o conjunto das interrelações pessoais e sociais, a comunidade; e “Planeta” por toda a extensão ecossistêmica possível, a saber, o habitat. Em ambos, uma cosmovisão relacional. 

Em resumo, uma sociedade que reivindique este Novo Constitucionalismo valorará um Direito, esteja positivado ou em fluxo natural-cultural, que dê voz à Natureza, aos povos originários e tradicionais, às florestas (e seus membros/elementos) e às pessoas em geral para uma inter-troca solidária, responsável, generosa. Afinal, trata-se de um constitucionalismo supraconvencional, que considera não apenas a universalização dos sujeitos e culturas, o monismo jurídico (único modo de dizer o Direito), entretanto, acolhe a diversidade, a pluralidade, a plurinacionalidade (dos vários povos intra-Estado), os direitos humanos, a soberania popular, os sujeitos coletivos de direito e tudo mais com vistas à consolidação dos elementos que emancipe as pessoas e lhes consignem a liberdade plena. 

Retornando ao Eloy Terena, o doutrinador nos ensina que “no direito que nasce da aldeia os destinatários são amplos, pois a dialética engloba tanto os indígenas individualmente considerado, mas também a comunidade e as formas próprias de organização de cada povo. Além disso, as plantas, os animais, as águas e até os seres encantados que habitam seus territórios são sujeitos de direito. Na sistemática da prática jurídica todos esses sujeitos podem expressar sua vontade caso queiram, e se assim o fizer serão respeitados e ouvidos. É uma prática incompreensível aos olhos do Estado, impensável do ponto de vista do direito monístico e dogmático forjado pela e para a burguesia” (TERENA, 2021, p. 506). [4]

É esta compreensão dual, isto é, do direito da aldeia e do direito liberal que o STF precisa como “tempero” hermenêutico. Isto posto, não há qualquer possibilidade de o jurista em questão romper com o pacto societário determinado pela Constituição de 1988. Aliás, é exatamente o contrário: fará extrair da Carta Magna brasileira os instrumentos para se cumprir as suas promessas constitucionais, avocando a democracia, a cidadania, o respeito aos direitos fundamentais e a participação social efetiva. Somará a isso todas as dimensões interpretativas e principiológicas do Art. 225 da Constituição, especialmente em seu máximo princípio da equidade intergeracional (que interessa fundamentalmente às pessoas presentes e às futuras gerações) e todo o acervo normativo pátrio de defesa intransigente do Direito da Mãe Natureza, essa personalidade jurídica quase sempre ignorada ou sub-interpretada que, uma vez viva, dá vida a todos os demais seres...

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Notas de Rodapé

[1] Sobretudo, pelo significado de Lula no resgate aos teores democráticos de um país em ruínas, fator que fez o Presidente ganhar a confiança da maior parte do STF, dos governadores e de dezenas de líderes políticos e influenciadores da sociedade.

[2] Ler o texto completo em: https://www.brasil247.com/blog/nem-zanin-nem-toffoli-2-0-lula-precisa-nomear-o-direito-alternativo.

[3] As citações de Raquel Yrigoyen e de Eloy Terena pertencem a textos respectivamente escritos pelos autores e disponibilizados na obra denominada “Direito Achado na Rua – Volume 10: Introdução Crítica ao Direito como Liberdade”, publicada conjuntamente pela OAB Editora e pela Editora UnB, em 2021.

[4] Ibid.



Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória