domingo, 27 de novembro de 2016

ADEUS AO COMANDANTE - Fidel Castro morre aos 90 anos

na Rede Brasil Atual

"Seu espírito combativo e solidário animou sonhos de liberdade, soberania e igualdade", afirmou o ex-presidente sobre Fidel Castro. Lula fez uma homenagem a Fidel em seu sítio, no ABC Paulista


Lula: 'Morreu o maior de todos os latino-americanos'

São Paulo – "Morreu ontem o maior de todos os latino-americanos, o comandante em chefe da revolução cubana, meu amigo e companheiro Fidel Castro Ruiz", afirma hoje (26) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de sua nota em homenagem ao líder cubano, morto em Havana aos 90 anos. "Para os povos de nosso continente e os trabalhadores dos países mais pobres, especialmente para os homens e mulheres de minha geração, Fidel foi sempre uma voz de luta e esperança", disse Lula na internet, em nota que estampa foto dos dois líderes em 2010, em Havana.
O ex-presidente contou ter conhecido Fidel pessoalmente em julho de 1980, em Manágua, na Nicarágua, durante as comemorações do primeiro aniversário da revolução sandinista. "Mantivemos, desde então, um relacionamento afetuoso e intenso, baseado na busca de caminhos para a emancipação de nossos povos."
Para Lula, o dirigente cubano deixa um legado eterno de "dignidade e compromisso por um mundo mais justo". Ele disse sentir a morte de Fidel como "a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei".
"Seu espírito combativo e solidário animou sonhos de liberdade, soberania e igualdade. Nos piores momentos, quando ditaduras dominavam as principais nações de nossa região, a bravura de Fidel Castro e o exemplo da revolução cubana inspiravam os que resistiam à tirania", afirma Lula.

domingo, 20 de novembro de 2016

20 DE NOVEMBRO - Articulação de movimentos promove atos em todo Brasil no Dia da Consciência Negra

na Rede Brasil Atual

Pelo menos 18 capitais realizam manifestações, como São Paulo, Vitória, Manaus, Belém, Brasília e Rio de Janeiro. Na capital paulista, a concentração começa às 11h, no vão livre do Masp

por Lilian Campelo

grupo afro.jpg
Grupo Imalê Ifé dança na celebração do Dia da Consciência Negra no monumento a Zumbi dos Palmares (2014)



Brasil de Fato  Manifestações em diversas cidades do Brasil irão celebrar neste domingo (20) o Dia da Consciência Negra. Os atos, que estão sendo organizados por uma articulação de movimentos negros chamada Convergência Negra, terá como mote "Fora, Temer, nenhum direito a menos para negros e negras!”.
Segundo nota dos organizadores, o objetivo do ato é "expor à sociedade que o governo de Michel Temer é oriundo de um golpe parlamentar e representa um retrocesso às conquistas democráticas e também uma ameaça aos direitos conquistados pela população negra nos últimos anos".
Um texto de convocação para as marchas apresenta 11 pontos que unificam os movimentos negros brasileiros, como extermínio da juventude negra e intolerância religiosa.
Leonor Araújo, presidente nacional do Instituto Gangazumba e coordenadora do Coletivo de Entidades Negras (CEN), afirma que alguns atos serão no dia 20 e outros no dia 18, como em Vitória (ES), cidade onde mora. "Como os movimentos que participarão da marcha entregarão uma carta com pautas de reivindicação do povo negro ao governador do estado (do Espírito Santo, Paulo César Hartung Gomes), a marcha precisava acontecer em um dia útil", justifica.
Márcio Gualberto, coordenador político institucional no CEN e integrante da Convergência Negra em Salvador, conta que nas principais capitais haverá atos e manifestações, já que a data integra a agenda dos movimentos negros pelo país. Em cidades pequenas, médias ou grandes ocorrem atividades e, segundo ele aponta, pelo menos em 18 capitais haverá manifestação, e cita como exemplo São Paulo, Vitória, Manaus, Belém, Brasília, Rio de Janeiro e Maceió.

Marcha

Em Salvador (BA), o Dia da Consciência Negra será marcado por três atividades, com início ainda na madrugada do dia 20 com a ‘Alvorada dos Ojás’ que, de acordo com Gualberto, será uma cerimônia cultural que consiste em envolver os troncos das árvores do Dique do Tororó, lagoa onde estão as estátuas que representam os orixás, em um pano branco formando um laço. O ato simboliza a ligação do homem com a natureza. A atividade cultura é organizada pelo CEN, juntamente com outras entidades que partirão em caminhada até o Pelourinho.
Em mais dois pontos da cidade, nos bairros da Liberdade e Campo Grande, irão ocorrer duas marchas seguindo em direção ao encontro dos participantes da atividade cultural, como explica Gualberto. “Esse ano todas essas ações serão unificadas às 15h. Nós nos deslocaremos junto com o povo do Candomblé para o Pelourinho ao Terreiro de Jesus e receberemos as duas caminhadas que se unificarão ali, será uma culminância desses atos que ocorrem em lugares diferentes e elas se encontrarão para que a gente tenha um grande ato no centro de Salvador”, conclui.
Na capital paraense, como uma das manifestações em celebração ao Dia da Consciência Negra acontece o “Encontro de Negras e Negros do Pará (ENNPA) – Identidades negras, combate, enfrentamento e superação do racismo”, entre os dias 17 a 19 de novembro, organizado pelo Centro de Estudo e Defesa pelo Negro no Pará (Cedenpa).
O evento que será no Centro Cultural Tancredo Neves (Centur) e contará com feira de produtos de empreendedoras negras e empreendedores negros, exposição de artistas negras e negros, oficinas e plenárias. Os debates abordarão temas como o extermínio da juventude negra, a estética, a identidade, a religiosidade e a saúde. No dia 20, uma roda de negritude, com apresentação de artistas locais, encerrará o encontro, que será no Quilombo da República, localizado na Praça da República, em Belém.
E, integrando a agenda nacional, a marcha “Um milhão de negras e negros nas ruas contra o golpe” ocorreu em Belém, no dia 18. Segundo Arthur Leandro, integrante da Rede Amazônica de Matriz Africana (Reata), a data foi escolhida para que lideranças do povo tradicional de matriz africana pudessem participar, visto que a sexta-feira é um dia mais tranquilo nos terreiros. se comparado aos outros dias.

São Paulo

Em São Paulo (SP), a XIII Marcha da Consciência Negra será realizada no domingo (20), a partir das 11h no Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista. Na sexta (18), em comemoração a um ano da Marcha das Mulheres Negras, o coletivo impulsor da atividade no estado paulista organizou uma maratona de 12h de debates online. As entrevistas e debates estão disponíveis na página do coletivo de São Paulo da Marcha das Mulheres Negras.

Genocídio

Arthur Leandro, da Reata no Pará, afirma que várias organizações do movimento negro, coletivos de mulheres e juventude negra participarão da marcha em Belém afirmando o combate ao genocídio da população negra. Este ano, seis líderes afro-religiosos foram assassinados na região metropolitana da capital paraense, e neste mês é lembrado os dois anos da “Chacina de Belém”, nome pelo qual ficou conhecido o assassinato de onze jovens, todos moravam na periferia da cidade. “O Pará é um dos estados com maior índice de violência contra a juventude negra”, indica Leandro.
O “Mapa da Violência 2016: homicídios por armas de fogo no Brasil”, estudo que pesquisa a evolução de mortes causadas por armas de fogo, no período de 1980 a 2014, apontou que as maiores vítimas deste tipo de violência são homens jovens e negros. Segundo os dados do estudo, entre 2003 e 2014, as taxa de homicídios por arma de fogo na população branca diminuiu 26,1%, enquanto que na população negra aumentou 46,9%. No ano de 2003, morriam 71,7% mais negros do que brancos; em 2014, esse número saltou para 158,9%. Este é um dado que o próprio estudo chama de “perversa e preocupante” “seletividade racial”, ou seja, morrem 2,6 vezes mais negros do que brancos no país.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Lula, 71 anos de uma criação coletiva do povo brasileiro

na Carta Maior

por: Saul Leblon

Ricardo Stuckert

Lula não começa nem termina nele mesmo.
 
Num dos comícios da campanha de 2002, o então candidato Luís Inácio Lula da Silva assim se definiu: ‘Eu sou uma criação das lutas sociais do povo brasileiro’.
 
Essa síntese completa agora 71 anos.
 
Quantos setenta e um anos serão necessários para surgir uma outra personificação do geral no particular que expresse o conjunto e ainda seja capaz de ter a intuição, a vivacidade, a força e a singularidade cativante de carne e osso de um Lula?
Com todas as fraquezas da carne e do osso ele é o maior líder popular da história brasileira.
 
Com todas as adversidades e equívocos de um regime político que sonegaria a sua presidência a maioria no Congresso –ao custo sabido e agora cobrado--  fez o melhor ciclo de governos da história brasileira, ombreando-se a outro gigante, este vindo da elite, Getúlio Vargas.
 
Agora que a propaganda do golpe desidrata na fornalha de uma economia que borbulha e regurgita catástrofes nos seus próprios termos, fica evidente a importância de se ter um Lula no patrimônio das ferramentas necessárias à reordenação da sociedade e do desenvolvimento brasileiros.
 
A crise na qual a restauração neoliberal afoga a população, o emprego, as contas públicas e a produção escancarou a fraude que atribuía ao PT o desmanche do Brasil. 
 
Constatar a farsa do que prometia o golpe, porém, não basta mais.
 
Não é um fim em si apontar o desastre da restauração conservadora no país.
 
O mais urgente é supera-la antes que condene essa e a próxima geração. 
 
É preciso dialogar com os que foram seduzidos pelo monólogo diuturno da fatalidade elitista e oligárquica.
 
Se Lula será candidato ou cabo eleitoral em 2018, se Moro terá ou não a audácia crepuscular de liquidar seus direitos políticos antes que desabe o regime ao qual pertence, são conjecturas.
 
Mas há uma certeza no centro da qual o nome de Luís Inácio Lula da Silva se inscreve encastoado como a pedra angular de todo o edifício.
 
É preciso repactuar o futuro do Brasil e ninguém –nem Moro, na sua megalomania— imagina que isso é factível sem ter na mesa a cadeira cativa daquele que é capaz de conversar com o povo e com a juventude, com o  trabalhador, o desempregado e o empresário produtivo, com o investidor internacional e com o pai de família que luta por um teto nas periferias do país, ou por um pedaço de terra nos confins do Brasil.
 
Lula é uma síntese da luta social que acredita no diálogo como parte da luta.
 
E na luta como parte do diálogo.
 
Por certo amadureceu esse ponto de equilíbrio nas lições da experiência recente.
 
Hoje, e talvez mais que nunca, personifica uma singular área de porosidade política de valor inestimável na superação progressista do impasse vivido pela democracia brasileira.
 
Para evitar a força de atração desse magnetismo mediador no palanque de 2018, como candidato ou cabo eleitoral, o que sobrou ao golpismo?
 
Sobrou a última carta na mesa: decidir 2018 em 2017.
 
Um golpe dentro do golpe precificado desde já na conflagração entre milícias, grupos, trânsfugas, oportunistas e desesperados.
 

Para isso será necessário consumar aquilo que hoje tem menor probabilidade de êxito do que ontem e, por certo, guarda mais chances do que amanhã.
 
Ou seja,  matar, picar, salgar, espalhar partes do carisma e da credibilidade de Lula pelas ruas, praças, vilas, periferias, vizinhanças e campos de todo o país.  
 

'Esse homem não pode ser candidato; se for é capaz de vencer; se vencer será impossível impedi-lo de assumir; se assumir pode fazer outro grande governo.’
 
Essa é a versão corrente para o que dizia Lacerda em junho de 1950.
 
O ‘Corvo’, no afetuoso apelido que lhe deu, então, o jornalista Samuel Wainer,  tentava igualmente abortar a candidatura de Vargas à presidência da República, alvejada à queima roupa e à luz do dia:  ‘Esse homem não pode ser candidato; se candidato não pode ser eleito; se eleito não deve tomar posse; se tomar posse não deve governar’.
 
A caçada a Lula reflete a velocidade vertiginosa da urgência conservadora antes que ele retome o fôlego e o fôlego tome de vez as ruas.
 
Vale tudo não é força de expressão.
 

É o nome da pauta interativa que conecta o desespero das redações a fileiras do judiciário partidarizado.
 

De onde virá a pá de cal?
 

Do pesqueiro que ele frequenta? Do estádio de futebol que ele ‘ganhou de presente’ de uma empreiteira, como estampou a sofreguidão conservadora impressa com o logotipo de um jornal paulista? Da canoa de alumínio de R$ 4 mil reais? Do apartamento que, afinal, não comprou? De um delator desesperado? De alguém coagido pela Califado de Curitiba, disposto a qualquer coisa para proteger familiares retidos e ameaçados?
 
Eles não vão parar.
  
Desfrutáveis rapazes e moças denominados ‘jornalistas investigativos’ inscrevem-se nas mais diferentes façanhas para antecipar o desfecho ansiado, antes que  resistência que se espalha aborte o cronograma.
 
Procuradores procuram febrilmente a pauta da semana, auxiliados por redações interativas.
Não há limites.
 
Como demonstra a invasão ilegal do Senado pela Polícia Federal, a dinâmica é a do regime de exceção: adaptar a lei às necessidades de manutenção no poder da coalizão que assaltou o mandato da Presidenta Dilma Rousseff.
 
A narrativa geral do desespero vem adaptada ao sotaque de cada público. Desde a mais crua, às colunas especializadas em conspirar com afetação pretensamente macroeconômica ou jurídica.
 
A mensagem vibra a contagem regressiva em direção a ‘ele’.  
 
‘Ele’ é o troféu mais cobiçado, a cabeça a ser pendurada no espaço central da parede onde já figuram outras peças preciosas, embalsamadas pela taxidermia  conservadora.
 

A sentença de morte política foi lavrada em 2005/06, quando se concluiu que pela via eleitoral Lula seria imbatível diante das opções disponíveis.

 
A partir de então seu entorno e depois o seu próprio pescoço seriam espremidos num garrote que agora range, acelera, hesita, derrapa e ainda não conseguiu completar as derradeiras voltas do parafuso vil.
 

O assalto final será indolor à matilha que o conduz?
 
A contagem regressiva bateu na porta do imponderável.
 
A coalizão golpista ingressou precocemente naquela etapa do entrudo em que ninguém é de ninguém.
 
Quem sobrará?
 
A pergunta política de resposta mais cobiçada nos dias que correm sibila quatro letras abominadas pelo radicalismo golpista: ele pode resistir? 
 
Quem? 
 
L-u-l-a.
 
Depende muito do discernimento das lideranças nascidas dessa costela e até mesmo –ou quem sabe, principalmente-  de algumas referenciadas a marcos ideológicos que vão além dela.
 
São hoje as mais mobilizadas.
 
Amanhã serão as primeiras atingidas, se a ‘macrização’ do Brasil for bem sucedida.
 
Lula é refém da avaliação que o conjunto da esquerda  --e de setores democráticos e nacionalistas, bem como dos liberais sinceros e de segmentos do empresariado produtivo--  fizer de sua importância para o futuro da democracia e do desenvolvimento do país.
 
É tão ou mais refém disso do que do sentenciamento  de Moro ou da mídia. Nestes já foi condenado.
 
Mas a intersecção de uma crise que irrompe mais grave do que eles estavam preparados para enfrentar e a reação da rua diante dela pode mudar o seu roteiro da guilhotina para o centro da repactuação brasileira.
 
Não é róseo o horizonte.
 
Há uma recidiva da crise mundial, cuja extensão e profundidade o PT subestimou, Dilma subestimou, Lula subestimou.
 
Estamos a bordo desse túnel de horror escavado com a ajuda dessa subestimação que jogou o Brasil abruptamente no liquidificador de  um acirramento da disputa pelo bolo mais magro, sem que se tivesse preparado a população para isso. 
 
O golpe penetrou nesse vazio.  Mas também subestimou o tamanho do vagalhão , crente de que satisfeitas as ‘expectativas’ dos mercados, com morte do ‘lulopopulismo’ e a violação da Carta de 88,  o crescimento saltaria etapas para coroar a legitimação do assalto ao poder. 
 
Nada isenta Lula dos equívocos sabidos, que o tornaram mais vulnerável nesse momento.
 
O embate, porém, vai muito além do que imagina o bisturi (ambidestro) que resume a equação brasileira a lancetar o espaço do PT e de Lula na urna eletrônica de 2018.
 
O passado continua a frequentar o presente na vida das nações, através da sua gente, dos seus anseios, da memória que é um pedaço do futuro.
 
O ciclo iniciado em 2003 tirou algumas dezenas de milhões de brasileiros da pobreza; deu mobilidade a outros tantos milhões na pirâmide de renda.
 
Foi inconcluso porque atribuiu às gôndolas do supermercado a tarefa de promover o salto de consciência que mudaria a correlação de forças da sociedade.
 
A inclusão foi tão expressiva, porém, que sob a cortina de fogo impiedosa do monopólio midiático, há quase uma década, acuado, ferido, enxovalhado noite e dia, sem espaço de resposta, Lula ainda figura como o nome que parte com 28% a 30% dos votos nas sondagens da corrida presidencial para 2018.
 
Afobados colunistas cuidam de tranquilizar os patrões: sua derrota é fatal diante de uma quase certa aliança conservadora no segundo turno.
 
Em termos.
 
Com acesso diário à tevê que hoje lhe é sonegada, ao rádio e ao debate, num cenário econômico que dificilmente será menos que devastador, as alardeadas dianteiras dos seus principais adversários podem derreter junto com o ‘crime’ de frequentar um pesqueiro em Atibaia ou de ter  sido favorecido por reformas em um ‘tríplex’ que, afinal, não lhe pertence.
 
Em 1954, quando a direita já escalava as grades do Catete e os jornais conservadores escalpelavam a reputação de quem quer que rodeasse Vargas, sua morte política  era comemorada por uma parte da esquerda.
 
O varguismo era acusado, então, de ser um corredor aberto ao imperialismo, um manipulador das massas. 
 
Vargas não era um bolchevique. Nem Lula o é.
 
Tampouco detinha a representação de São Francisco de Assis na terra.
 
Era um estancieiro.
 
Não fez a reforma agrária. Nunca viveu agruras, não liderou greves, não leu Marx –perseguiu comunistas no seu primeiro governo.
 
Ao mesmo tempo, criou o salário mínimo, as leis trabalhistas, peitou o imperialismo...
 
Vargas foi o que são líderes nacionais populares de cada tempo concreto: seres contraditórios de carne e osso, exatamente por isso magnéticos na personificação de um projeto de desenvolvimento em que o vórtice selvagem do capital passa a ser domado pelas rédeas dos interesses sociais organizados.
 
Vem de Varoufakis, o ex-ministro da Fazenda da Grécia, a preciosa síntese do que está em jogo num mundo que é o avesso disso, capturado pela desregulação dos mercados: ‘(a pedra de toque é) não deixar nenhuma zona livre de democracia na sociedade’.  
Nenhuma zona livre de democracia significa, sobretudo, vetar ao mercado a prerrogativa de determinar  o futuro da sociedade.
 
Lula tem seu espaço nesse enredo, do qual a emergência luminosa das ocupações estudantis é só um exemplo daquilo que a participação pode fazer para reformar de fato as bases do país, sem excluir sua razão de ser: o povo brasileiro.
 
Quantas vozes arrebatadoras, como a de Ana Júlia, que hipnotizou a rede social com seu discurso no legislativo de Curitiba em defesa da participação dos estudantes, não estão à espera de uma  oportunidade para fulminar o fatalismo com o frescor e o desassombro, capazes de  fazer do Brasil o país que ele  poderia ser mas ainda não é?
 
Em abril de 1953 uma parte da esquerda brasileira considerava que Vargas não tinha mais espaço em um mutirão desse tipo.
 
Simultaneamente, uma ciranda de ataques descomprometidos de qualquer outra lógica, que não a derrubada de um projeto de desenvolvimento soberano, sacudia o entorno do governo que criara a Petrobras, o BNDES e uma política de fortalecimento do mercado interno com forte incremento do salário mínimo.

Lembra algo?
 
A dramaticidade do suicídio político mais devastador da história iluminaria o discernimento popular gerando revolta diante do ódio golpista que tirou a vida de Vargas.
 
Quem dispensava a Getúlio o tratamento dado a um cachorro morto teve que reinventar a sua agenda com ligeireza para não ser atropelado.
 
Sessenta e dois anos e dois meses depois do tiro que sacudiu o país, a pressão atual do cerco conservador permite aquilatar a virulência que foi aquele momento.
 
O Brasil está de novo submetido ao encalço de cascos especializados em escoicear a nação, seu patrimônio e os direitos, poucos, de sua gente miúda.
 
Dispara-se contra a nação o mesmo arsenal para alvos e objetivos correlatos.
  
A mesma elasticidade ética reveste a ação da mídia determinada a calafetar cada poro do país  com uma gosma de nojo e prostração.
 
Persiste, enfim, o cerco ao Catete.
 
A qualquer Catete –como já se disse neste espaço--  dentro do qual políticas públicas tentem pavimentar mais um trecho da estrada inconclusa que leva à construção de uma democracia social no coração da América Latina.
 
Esse é o tabuleiro da história no qual um peão completa agora 71 anos sob o xeque mate de reis e rainhas que ameaçam empurrá-lo para fora da mesa.
Mas que tem um trunfo não negligenciável: ser uma síntese de representatividade capaz reorganizar o jogo, sem o quê o xadrez brasileiro pode se converter em uma devastadora derrocada de peças de dominó. Da qual nenhum deles escapará.

Mais de 1100 escolas estão ocupadas em todo o país

na Carta Maior do Brasil de Fato
Créditos da foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Wilson Dias/Agência Brasil

De acordo com os últimos dados divulgados pela União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), já são pouco mais de 1.100 escolas ocupadas em todo o país contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241 e a reforma do ensino médio, além de 82 campi universitários, três núcleos regionais de Educação e a Câmara Municipal de Guarulhos.
 
O estado do Paraná reúne o maior número de ocupações, com 846 escolas. Minas Gerais aparece em segundo lugar, com 66 escolas ocupadas, seguido pelo Rio Grande do Sul (13), Goiás (10) e Rio Grande do Norte (9).
 
Além disso, existe um movimento nacional de greve geral de professores e técnicos que, no Paraná, teve início no último dia 17.

Após o assassinato do estudante Lucas Eduardo Araújo Mota, 16, em uma das ocupações do Paraná na tarde desta segunda-feira (24), manifestações em repúdio às ocupações por parte do grupo Movimento Brasil Livre (MBL) incentivou os pedidos de reintegração de posse das escolas.
 
Entretanto, depois de uma assembleia realizada na tarde desta quarta-feira (26), os secundaristas decidiram continuar as ocupações no estado.
 
Os estudantes reivindicam a rejeição da PEC 241, aprovada na noite desta terça (25) no segundo turno de votação da Câmara dos Deputados. Agora, a peça vai para avaliação do Senado, também em dois turnos: o primeiro está previsto para terminar até o final de novembro e o segundo, até o dia 13 de dezembro.
 
A PEC introduz um Novo Regime Fiscal e congela os gastos do governo federal pelos próximos 20 anos, o que afetaria diretamente o orçamento direcionado para a educação e, segundo o movimento secundarista, acarretará na retirada de recursos de outras áreas para o investimento no ensino.
 
A Ubes divulgou uma nota com seis "porquês" da movimentação contra a PEC, entre os quais estão ataques aos setores mais carentes da população, desmonte da educação pública e precarização dos serviços públicos.
 
O movimento também se posiciona contra a Medida Provisória (MP) 746/2016, enviada ao Congresso por Michel Temer, que institui a Reforma do Ensino Médio, propondo a reformulação do ensino por áreas de conhecimento.
 
Os estudantes argumentam que a reforma deve ser debatida amplamente com a participação popular antes de ser implantada pela MP.
 
Edição: Camila Rodrigues da Silva



domingo, 23 de outubro de 2016

VÍDEO - Comparato diz que EUA têm influência no processo de exclusão política de Lula

na Rede Brasil Atual

Alta aprovação de Lula e sua origem proletária, além de seu protagonismo da lei do pré-sal e na criação dos Brics, preocupam oligarquia, "que busca exclusão do ex-presidente da vida política"

compa.jpg
Comparato diz que intenção é tornar Lula inelegível em 2018

São Paulo – O jurista Fábio Konder Comparato, professor aposentado da Faculdade de Direito da USP,  disse que é preciso entender o que há por trás da perseguição política ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“A nossa oligarquia sempre foi composta por dois grupos: os ricos – empresários, proprietários, rentistas etc – e os grandes agentes estatais. Eles sempre se deram as mãos. Na verdade, como disse o grande economista francês Fernand Braudel, o capitalismo só é bem sucedido quando se alia ao Estado, quando é o Estado”, disse.
“Lula foi o primeiro presidente da República que não era originário da oligarquia, tinha origem proletária. Sobretudo, ele saiu da presidência da República depois de terminar o segundo mandato com 80% de aprovação”, completou.
Comparato diz estar absolutamente convencido de que há influência dos Estados Unidos nesse processo de exclusão de Lula do campo político. Para ele, os americanos ficaram muito preocupados com duas questões, que para eles são fundamentais: o fato de o Brasil ter uma das maiores reservas de petróleo do mundo e por Lula ter sancionado a Lei 12.351, que prevê que Petrobras seja operadora de todos os blocos contratados sob o regime de partilha de produção do pré-sal, autonomia eliminada pelo projeto 4.567, em discussão na Câmara, que flexibiliza as regras do pré-sal.
A segunda preocupação é Lula ser um dos grandes artífices do Brics (Brasil, Rússia, Índia, Chia e África do Sul), a união de potências que unidas transformaram-se em concorrentes dos Estados Unidos no campo internacional, "e isso os Estados Unidos não podiam aceitar".
Assista o depoimento à Agência PT de Notícias

sábado, 15 de outubro de 2016

PASSO ATRÁS - Temer facilita processo de fechamento de vagas em universidades federais

na Rede Brasil Atual

Portaria normativa publicada hoje pelo MEC trata a diminuição de vagas como “alteração de menor importância” que pode ser feita a qualquer momento por meio apenas de uma atualização

Universidade federal
Instituições devem garantir aos já matriculados as vagas previstas quando o curso foi reconhecido pelo MEC


São Paulo – O Ministério da Educação (MEC) publicou hoje (14) no Diário Oficial da União portaria normativa que facilita o processo de fechamento já autorizado de vagas de graduação em universidades federais. Segundo o texto, o procedimento para redução de vagas passa a ser tratado como uma “alteração de menor importância” que pode ser feita a qualquer momento por meio de uma atualização, sem pedido de aditamento.
Até então, era necessária uma série de documentos e informações para que o MEC autorizasse o pedido de redução de vagas, entre eles, o credenciamento do curso e da instituição de ensino junto ao órgão, uma relação da quantidade de vagas que se pretende diminuir e a cópia da decisão de órgão competente da universidade que tenha decidido pela redução de vagas.
A portaria, assinada pelo ministro Mendonça Filho, revogou a necessidade desses documentos. Exige apenas que a redução de vagas seja informada ao público assim que for definida e que a proposta seja apresentada ao Ministério da Educação na forma de uma atualização. Os pedidos de redução de vagas que ainda tramitam no modelo antigo serão arquivados.
As instituições de ensino devem garantir aos estudantes já matriculados as condições de oferta previstas no momento da autorização e do reconhecimento do curso pelo Ministério da Educação.

sábado, 1 de outubro de 2016

Atlântico Negro: na rota do Orixás

Um documentário para quem não conhece a África, um documentário para quem precisa conhecer o nosso lado africano, da cultura e da religiosidade afro-brasileira.




O documentário Atlântico Negro: nas rotas dos Orixás, é um filme que retrata a importância do continente Africano na construção da sociedade brasileira. Esta estruturação cultural mostra a semelhança existente entre estes povos, dentre estes laços: a religiosidade, a musicalidade, a fala, hábitos alimentares, a estrutura familiar e as manifestações culturais.


Durante as cenas do filme são desconstruídas visões etnocêntricas e de censo comum sobre o continente Africano. A ideia de um território que vive em constante estado de guerras étnicas e civis, de fome e total miséria é desmistificado para mostrar o lado cultural da África que deu origem ao candomblé, o Xangô e ao Tangô, religiões presentes no território brasileiro. Essa representação cinematográfica nos dimensiona a entender o início da mercantilização africana e de como a escravidão se tornou uma mera desculpa para a propagação das guerras civis, iniciando assim um intercâmbio biológico, econômico e cultural entre Brasil e África.

Nota-se, que ter um outro olhar da África nos ajuda a compreender a nossa própria história, tanto nos hábitos sociais, quanto nos costumes oriundos desta terra quase que desconhecida. Tendo a perspectiva que a cultura africana não é a unicamente baseada na história colonial e no expansionismo europeu, a África com reinos e império possui suas formas particulares de governar e agir como povo. A reconstrução da histórica africana nos permite entender como a escravidão se promulgou pelo espaço geográfico e social do Brasil, dissipando as misturas biológicas que originou a miscigenação nacional e a diversidade religiosa presentes nos terreiros de candomblé como o: ilê aié axé opô ofonjá e casa branca.

Todo o tema abordado no documentário, abre um leque de oportunidades para entender melhor a África e o Brasil e conhecer também que existe uma troca cultural entre os dois lugares referidos. Compreendendo que o retorno dos africanos escravizados para o continente de origem, representou também a ida de valores culturais, morais e sociais brasileiro como: a construção da igreja e da festa do Senhor do Bonfim, a construção (mesmo que em pequena escala) da arquitetura brasileira em solo africano e a vestimenta feminina das mulheres agudás. Além de entender que mesmo depois da escravidão, a cultura brasileira continua sendo preservada por este povo que se denominam brasileiros, mesmo tendo nascido em solo africano.

Esta perspectiva mostra a construção de nossas raízes, ajudando a fazer paralelos que melhorem o entendimento dessas aplicações no Brasil. Hoje em pleno século XXI a forma de vida dos afro-descendentes tornou-se uma luta política e social que visa a reparação da escravidão que aconteceu no país. Entretanto, este documentário ressalta a trajetória africana como um continente repleto de etnias e formas de vidas variadas, desconstruíndo a visão eurocêntrica e religiosa da igreja católica que foi desenvolvida na história ao longo dos séculos.

Ari Costa Junior