quarta-feira, 16 de março de 2016

Assista aqui ao vídeo - Documentos revelam que doleiro abriu conta secreta da família de Aécio Neves em Liechtenstein

por José Gilbert Arruda Martins

Em dois anos de atividades e ativismo social/digital aqui em nosso blog, não havíamos ainda replicado nenhum tipo de material do PIG, hoje vamos compartilhar esse material devido a sua importância para a Democracia brasileira.

Senador Aécio sendo expulso da festa que ele havia organizado

Não que a revista Época, um dos instrumentos do PIG - tenha feito qualquer coisa de saudável para a política ou para o Estado de Direito, não, não é por isso, é apenas por que a notícia de que a família de Aécio tem contas no exterior e isso ser divulgado pela revista do grupo Globo, é um sinal de que os Marinhos se caçaram da incompetência do senador tucano.

Como afirmou um blogueiro "A globo demitiu Aécio".

Não foi apenas a globo, a classe média nas ruas domingo passado já havia feito o mesmo com Aecim e com o Alkmin.

O senador se tornou um grande perigo para a democracia brasileira, depois que perdeu as eleições de 2014, defende abertamente o desrespeito às leis, anda em rodas de "revoltados on line" entre outros fascistas.

Por isso essa matéria é importante, se a justiça é séria Aécio responderá pelos supostos esquemas que liderou e se beneficiou.

Segue então a matéria da revista (do PIG) Época:



DIEGO ESCOSTEGUY

ÉPOCA obteve acesso aos papéis, apreendidos em operação da PF. Conta foi citada por Delcídio do Amaral, na delação homologada no STF, e está sendo investigada pela PGR na Lava Jato - anos atrás, MP chegou a arquivar o caso, sem apurá-lo.



Na manhã do dia oito de fevereiro de 2007, um comboio da Polícia Federalatravessou sem alarde a avenida Rui Barbosa, no Flamengo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Estacionou próximo ao portão de abóboda dourada do edifício residencial Murça, no número 460. Desembarcaram dos carros agentes daDelegacia de Repressão a Crimes Financeiros, a unidade da PF encarregada de investigar esquemas de lavagem de dinheiro. Bateram à porta de um dos confortáveis apartamentos do décimo-terceiro andar. Um casal de senhores atendeu, atônito. Não havia engano: era atrás deles que a PF estava. O octogenário Norbert Muller e sua mulher, Christine Puschmann, eram suspeitos de comandar uma das mais secretas e rentáveis “centrais bancárias clandestinas” do país. Vendiam aos seus clientes um serviço que, por aqui, só eles podiam oferecer: a criação e manutenção, no mais absoluto sigilo, de contas bancárias no LGT Bank, sediado no principado de Liechtenstein, o mais fechado de todos os paraísos fiscais do mundo. Naquela manhã de fevereiro, tanto no apartamento do casal Muller quanto no escritório deles, os agentes e delegados da PF encontraram as provas de que precisavam.
Graças à organização minuciosa de Norbert Muller, havia pastas separadas para cada um dos clientes – apenas nos arquivos do apartamento, a PF localizou 75 nomes. Cada pasta apreendida continha extratos bancários de contas, procurações, cópias de passaporte do cliente, contratos, correspondências de Muller com o banco LGT, anotações de valores. ÉPOCA obteve cópia – na íntegra e com exclusividade – dos papéis apreendidos e da investigação da PF. Havia ali pastas com nomes de advogados, médicos, empresários, socialites, funcionários públicos, um ex-deputado e até um desembargador do Rio recém-aposentado. Havia ali, especialmente, uma pasta-arquivo amarela, identificada pela PF nos autos de busca e apreensão pelo número 41. Nela, o doleiro Muller escrevera, a lápis, a identificação “Bogart e Taylor”. Era o nome escolhido por Inês Maria Neves Faria, mãe e sócia do senador Aécio Neves, do PSDB de Minas, então presidente da Câmara dos Deputados, para batizar a fundação que, a partir de maio de 2001, administraria o dinheiro da conta secreta 0027.277 no LGT.
Na terça-feira (15), tantos anos depois, veio a público a delação premiada do senador Delcídio do Amaral, do PT do Mato Grosso do Sul, que foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal. Nela, entre muitas outras denúncias, Delcídio cita a conta em Liechtenstein. Aos procuradores, o senador disse que fora informado "pelo ex-deputado federal José Janene, morto em 2010, que Aécio era beneficiário de uma fundação sediada em um paraíso fiscal, da qual ele seria dono ou controlador de fato; que essa fundação seria sediada em Liechtenstein". Delcídio diz que não sabe dizer ao certo, mas que "parece que a fundação estaria em nome da mãe ou do próprio Aécio Neves; que essa operação teria sido estruturada por um doleiro do Rio de Janeiro". Delcídio disse não saber se há relação entre essa fundação e as acusações que fez ao tucano – entre elas, de serbeneficiário de propinas em Furnas e de ter agido para interferir nas investigações da CPI dos Correios, da qual o petista foi presidente, em 2006. Janene era um dos líderes do esquema em Furnas, segundo as investigações.
Foi a primeira vez que uma testemunha da Lava Jato citou em público o que os investigadores da Procuradoria-Geral da República investigam sigilosa e discretamente. Os procuradores que trabalham ao lado de Rodrigo Janot apuram a participação de Aécio nos esquemas citados por delatores, em especial o de Furnas. Pediram colaboração internacional, junto às autoridades de paraísos fiscais, para averiguar se contas como a associada ao senador em Liechtenstein foram usadas para o recebimento de propinas. Já descobriram, informalmente, que vários políticos brasileiros foram pagos em contas secretas em paraísos fiscais europeus. Aguardam o compartilhamento oficial dessas evidências. Marcelo Miller, um dos procuradores que atuaram no caso do doleiro Norbert Muller, integra a força-tarefa da PGR.
Aécio acabara de assumir a Presidência da Câmara dos Deputados quando a conta em Liechtenstein foi aberta. De acordo com os documentos apreendidos pela PF, ela poderia ser movimentada por Inês Maria e por Andréa Neves, irmã de Aécio. Segundo os papéis, Aécio não estava autorizado a movimentar a conta da fundação no banco LGT. Era, no entanto, seu beneficiário, de acordo com um documento apreendido pela PF e conhecido como “By Law”. Trata-se de umdocumento sigiloso, cujas cópias estão disponíveis apenas para os signatários e seus advogados – e que nem sequer é registrado perante as autoridades de Liechtenstein. O beneficiário, ou membro, de uma fundação tem direito a receber bens e dinheiro dela. Uma cláusula do By Law da fundação Bogart & Taylor especificava que, no caso da morte de Inês Maria Neves, Aécio herdaria a fundação e, com isso, o direito de movimentar livremente a conta no LGT. Ele, a mãe e a irmã são sócios em diversos outros empreendimentos, entre eles uma rádio e duas empresas de participação, de acordo com documentos da Junta Comercial de Minas Gerais.
A investigação da PF confirmou que nem Inês Maria, nem Andréa, nem Aécio declararam a existência da conta e da fundação Bogart & Taylor à Receita Federal ou ao Banco Central, como determina a lei. Nenhum dos outros clientes de Muller havia declarado também. Em tese, cometeram os crimes de evasão de divisasocultação de patrimônio e sonegação fiscal. Procurados por ÉPOCA, nem Aécio nem Inês Maria quiseram dar entrevista. Por meio de seus advogados, a família Neves confirmou que os documentos apreendidos são verdadeiros e que Inês Maria pretendia criar a fundação Bogart & Taylor em Liechtenstein para destinar recursos à educação de seus netos. Mas afirmam que a conta secreta no LGT foi aberta “sem conhecimento” da família. E permaneceu aberta por seis anos “à revelia” – até a operação da PF naquela manhã de fevereiro de 2007. Numa das notas enviadas a ÉPOCA, os advogados da família Neves afirmam: “Em 2001, assessorada pelo seu marido, o banqueiro Gilberto Faria, a Sra. Ines Maria pensou em criar uma fundação no exterior para prover os estudos dos netos. Foram feitos contatos com o representante de uma instituição financeira, no Brasil, e a Sra. Ines Maria encaminhou ao representante as primeiras documentações. Em função da doença de seu marido (Gilberto Faria morreria em outubro de 2008), os procedimentos foram interrompidos, e a fundação não chegou a ser integralmente constituída. A Sra. Ines Maria nunca assinou qualquer documento autorizando a abertura de conta bancária e nunca realizou remessa financeira para a mesma”.
Após a revelação do depoimento de Delcídio, a assessoria de Aécio divulgou nota reafirmando, em essência, o que seus advogados haviam informado a ÉPOCA. Omitiram, porém, que a conta só foi declarada após a batida da PF na casa do doleiro. Acrescentaram que o MPF no Rio e, ano passado, a própria PGR arquivaram investigações sobre o caso. É verdade. Omitiram, no entanto, que não houve investigação em nenhuma das duas instâncias. Numa, os procuradores disseram ser inviável apurar a existência da conta, em razão da proteção assegurada por Liechtenstein; noutra, a mais recente, a PGR limitou-se a seguir burocraticamente o que os procuradores no Rio já haviam dito. Ao arquivar o pedido de investigação, a PGR, no entanto, ressaltou que ele poderia ser reaberto mediante o surgimento de mais provas - como a delação de Delcídio e o avanço na colaboração da Lava Jato com autoridades de paraísos fiscais.
O segundo beneficiário
Indepedentemente do desenrolar da investigação na Lava Jato, um exame atento dos documentos da pasta amarela permite levantar sérias dúvidas sobre as declarações apresentadas por Aécio e seus advogados.Os papéis contradizem a versão de que a conta foi aberta "sem conhecimento da família" de Aécio e que permaneceu aberta "à revelia" dela. A pasta amarela guardava toda a papelada usada para abrir a conta. Havia cópia do passaporte de Inês Maria, assinaturas dela nos contratos com o LGT e procurações a Muller. Havia também páginas de extrato da conta. Em 2007, havia US$ 32 mil de saldo. Como são poucos os extratos apreendidos, não há como saber quanto dinheiro foi movimentado – nem quem fez depósitos ou saques. Na pasta, havia ainda numerosos faxes trocados entre Muller e um grupo de advogados ligados ao LGT, sediados em Vaduz, capital de Liechtenstein, com quem Muller mantinha parceria para facilitar contatos com o banco. Havia, por fim, os documentos de criação da fundação Bogart & Taylor, titular da conta no LGT. A criação da fundação, um tipo de entidade jurídica destinada a administrar patrimônios, estabelece uma camada extra de anonimato ao cliente. Uma coisa (a conta) não existe sem a outra (a fundação). Trata-se de uma precaução comum em Liechtenstein, também seguida por outros clientes de Muller.

Os documentos revelam que as tratativas para abrir a conta secreta começam em abril de 2001. Não se sabe quem da família de Aécio procura Muller – nem por quê. Naquele momento, apesar das declarações dos advogados de Aécio, Muller já é um personagem conhecido no mundo dos negócios clandestinos cariocas. Não é um "representante de uma instituição financeira". É um doleiro, conhecido também da PF, que o havia processado por crimes contra o sistema financeiro e fraude cambial em casos dos anos 1990. No dia 26 de abril, surge o primeiro registro formal da abertura da conta (todos os documentos em alemão obtidos por ÉPOCA foram vertidos ao português por um tradutor juramentado). Muller envia um detalhado fax aos advogados de Liechtenstein que, em parceria com ele, cuidavam das contas secretas da clientela brasileira. O assunto: “Nova fundação Bogart and Taylor”. Em anexo ao fax, seguem os documentos de abertura da Bogart & Taylor e, também, da conta bancária dessa fundação. “Hoje eu recebi da proprietária US$ 21.834,00 a título de capital e peço que me informe por fax o endereço para o qual deve ser transferido o dinheiro”, escreve Muller. Ele é claro quanto à administração do dinheiro: “A fundação deve abrir uma conta no Banco LGT Bank em Liechtenstein AG, e ambas as pessoas inscritas no cartão de assinaturas deverão poder assinar”. Assinar, nesse caso, significa o poder de movimentar a conta. As pessoas autorizadas são Inês Maria e Andréa.
Três dias depois, em 29 de abril, Muller envia mais documentos da família Neves a Liechtenstein. Conta detalhes das tratativas com Inês Maria: “Gostaria de informar que a proprietária quer substituir ‘and’ por ‘&’. Por favor, faça esta alteração. Em anexo, encaminho o estatuto que acertei com ela na data de hoje. Peço a gentileza de informar se esta minuta pode ser aceita. Na quarta feira visitarei a proprietária novamente, para colher a assinatura”. No dia seguinte, a advogada Daniela Wieser, uma das parceiras de Muller em Liechtenstein, confirma o recebimento dos papéis: “A fundação está sendo criada na data de hoje, e espero todos os documentos de volta até a metade da semana que vem. Por favor, envie ainda o endereço e a data de nascimento da cliente (eventualmente por fax), e uma cópia autenticada do passaporte”. Daniela Wieser informa a conta (0400130AH) no LGT que deverá receber os recursos para a criação da Bogart & Taylor. Essa conta pertencia à Hornbeam Corporation, era administrada pelo grupo de Muller – e, noutras investigações da PF, já aparecera metida em transações ilegais com doleiros brasileiros. Não há comprovantes da origem dos dólares repassados pela família de Aécio ao doleiro Muller. Mas é certo que eles chegaram à conta secreta no LGT por meio de uma conta usada para lavar dinheiro.
Em 7 de maio de 2001, prossegue a troca de documentação entre Muller e seus contatos em Liechtenstein. A advogada Daniela pede, por fax, mais informações sobre Inês Maria: “Por favor, me informe por fax a profissão da cliente e de seu ex-marido, pois necessito destas informações para a Hornbeam (a empresa de Muller, cuja conta abasteceria a conta da família Neves em Liechtenstein)”. Muller responde no mesmo dia: “A cliente (Inês Maria) administra seu próprio patrimônio. O ex-marido (Gilberto Faria) é um industrialista com diversas empresas, além de acionista de um grande banco (Bandeirante)”. No mesmo dia, Muller envia os documentos necessários para a criação da Bogart & Taylor: cópia autenticada do passaporte de Inês Maria, procuração assinada por ela e os estatutos da fundação.
O estatuto, assinado por Inês Maria, prevê que ela teria a liberdade de distribuir o dinheiro em nome da Bogart & Taylor como quisesse.  Segundo o estatuto, cria-se a Bogart & Taylor com um patrimônio inicial de 30 mil francos suíços. Noutro documento, uma espécie de procuração, Inês Maria delega a Muller, por meio de uma das companhias dele, a Domar Fiduciary Management, com sede em Liechtenstein, o poder de administrar a Bogart & Taylor e o dinheiro dela. No mesmo documento, assinado pela mãe de Aécio, especifica-se que a Bogart & Taylor abrirá conta no LGT, que os recursos dessa conta serão geridos em dólares americanos – e que a conta poderá ser movimentada por Inês Maria e Andréa. Ou seja, nada indica que tenha sido uma operação "sem conhecimento da família". Muller aparece como contato da Bogart & Taylor, com a seguinte ressalva: “(Contactar) Apenas em casos de extrema necessidade”. Semanas depois, Muller viaja a Liechtenstein. Encontra-se em Vaduz com os advogados que cuidam das contas no LGT. Recolhe as assinaturas deles, os recibos do LGT e, logo depois, traz a papelada ao Brasil. Guarda-as na pasta amarela.
LGT, um banco de lavagem
Quatro anos após a abertura da conta, os advogados ligados a Muller pedem que Inês Maria assine mais papéis. Agora, a família Neves demonstra cuidado. Em 16 de março de 2005, Muller explica aos advogados, por fax, por que Inês Maria não quer assinar os documentos restantes: “A proprietária (Inês Maria), por ocasião de minha visita no dia de ontem, declarou que ela não quer assinar nenhum documento no Brasil. (…) Se a assinatura das declarações que me foram enviadas tiver que ser de imediato, ela prefere fechar a fundação (...) Em poucos meses, ela (Inês Maria) estará em Paris e me prometeu informar a data da viagem e o local de permanência em Paris, para que o senhor possa enviá-la os documentos para assinatura”.

Meses depois, em 17 de novembro do mesmo ano, nada mudara. Por fax, Muller reforça aos advogados que Inês Maria prometera resolver as pendências somente quando estivesse fora do Brasil. “Infelizmente, a senhora (Inês Maria) ainda não assinou o formulário ‘declaração’. Ela sempre diz que pretende resolver essa pendência tão logo esteja em Paris. Mas seu esposo está atualmente doente e se encontra em cadeira de rodas, de forma que ela não pode viajar”, escreve Muller. Diante da demora de Inês Maria em assinar os papéis, ele parece resignado: “Continuarei tentando colher a assinatura dela, mas não tenho muitas esperanças”.

No dia em que a PF apreendeu os papéis na casa de Muller, a conta de Inês Maria no LGT registrava saldo de US$ 32.316,12. Dois meses após a operação da PF, Inês Maria finalmente “cancelou os procedimentos de criação da fundação”, nas palavras de seus advogados. De onde saiu o dinheiro depositado por Muller na conta de Liechtenstein? Os advogados dizem que Inês Maria pagou, embora não identifiquem a origem dos recursos nem forneçam comprovantes: “Ao longo de seis anos, o Sr. Norbert cobrou duas vezes, em 2001 e em 2005, da Sra. Ines Maria, honorários e taxas para a criação da fundação. O valor total dos dois pagamentos, feitos em moeda nacional, no Brasil, correspondeu, na época, a cerca de US$ 30 mil, uma média anual de US$ 5 mil. Em 2007, após protelar por anos a assinatura dos documentos faltantes, tomou a iniciativa de encerrá-lo para evitar que se mantivesse indefinidamente em aberto”.

Abrir uma conta em Liechtenstein e declará-la ao governo seria tão inusitado que não há registro público disso. O BC não pôde informar a ÈPOCA o total de recursos enviados por brasileiros a Liechtenstein – uma informação que costuma ser pública. O montante, diz o BC, é tão pequeno que revelá-lo ameaçaria o sigilo bancário dos poucos remetentes. O LGT, que pertence à família real de Liechtenstein, é conhecido, no sistema financeiro internacional, como um porto tranquilo para dinheiro de origem duvidosa. Em fevereiro de 2009, dois anos após a operação da PF, Heinrich Kieber, um funcionário do LGT, fez cópia completa dos documentos de 1.400 contas hospedadas no banco. Vendeu-as aos serviços secretos da Alemanha e da Inglaterra – dois dos países com maior número de correntistas, que maior prejuízo haviam tido com a sonegação de impostos. Seguiram-se extensas investigações e a maior operação de combate à evasão fiscal nos dois países. Os dados foram compartilhados com outros países prejudicados, como França, Espanha, Itália, Grécia, Suécia, Áustria, Austrália, Nova Zelândia, Índia, Canadá e Estados Unidos. Houve investigações em todos e prisões na maioria. Até a Lava Jato, o Brasil não pedira acesso aos dados.

Num depoimento ao Senado americano, ainda em 2009, Kieber deu detalhes de como clientes são orientados pelo LGT a proceder, de maneira a enganar as autoridades. “O LGT orientava seus clientes a não contar a ninguém sobre a existência dessas entidades (fundações), incluindo advogados ou familiares que não fossem beneficiários do patrimônio mantido no bancos suíços”, afirmou Kieber. “As relações humanas podem não terminar bem, e o cliente se transformar em vítima de alguma chantagem.” Outra orientação, nas palavras de Kieber: “Não ligue para o LGT de casa, não ligue de casa nem do trabalho. Use apenas telefones públicos”. De acordo com o Kieber, o LGT só usava telefones celulares da Suíça e da Áustria, para dificultar o rastreamento das autoridades. Ele informou também que o LGT não se comunica com seus clientes por e-mail. “O fato de os clientes do LGT não precisarem do dinheiro escondido para despesas rotineiras ajuda a não ser detectado.”
A central bancária paralela
De posse do material recolhido e analisado pela PF, e ciente também das revelações do ex-funcionário do LGT, o Ministério Público Federal decidiu não aprofundar as investigações. Em 20 de abril de 2009, os procuradores Fábio Magrinelli e Marcelo Miller ofereceram denúncia apenas contra os três integrantes da família do patriarca Muller, que morrera recentemente: a viúva dele, Christine Puschmann (segundo os procuradores, ela assumira os negócios do marido) e duas de suas filhas, Christine Muller e Ingrid Muller. “A denunciada Christine Puschmann, agindo em conjunto com seu companheiro Norbert Muller, fez operar uma verdadeira instituição financeira informal, mas suficientemente estruturada, gerindo recursos de terceiros em larga escala. As atividades eram desenvolvidas com a captação, intermediação e aplicação de divisas pertencentes a seus clientes, pessoas físicas majoritariamente residentes no Brasil, em especial a partir da administração de contas mantidas no exterior, mais precisamente no LGT Bank, sediado em Liechtenstein, e no UBS Bank, sediado na Suíça, em notórios paraísos fiscais”, escreveram os procuradores. Eles afirmam que a família Muller atuava como uma espécie de “central bancária paralela”. Abriam e movimentavam contas em paraísos fiscais, sacavam dinheiro, depositavam dinheiro – e até distribuíam cartões de crédito, de modo a facilitar os gastos cotidianos dos clientes.
Segundo a denúncia, o material apreendido pela PF na casa de Muller, aliado aos diálogos telefônicos interceptados no decorrer da investigação, revela a existência de “mais de uma centena de contas vinculadas ao LGT Bank e ao UBS Bank que eram administradas pelo casal”. “Tem-se que a identificação das contas e de seus titulares a partir dos elementos carreados aos autos, todos harmônicos e complementares entre si, evidencia a dimensão do esquema ilícito posto em prática por Norbert Muller e Christine Puschmann, revelando a perenidade da sistemática, o longo lapso temporal em que executada, a expressividade dos valores envolvidos (…), tudo realizado à margem da fiscalização das autoridades brasileiras, sempre com o cuidado de se manter a clandestinidade dos negócios”, afirmam os procuradores.
E quanto aos clientes? Os procuradores acharam melhor transformar o caso de cada um num processo separado. A depender da cidade de residência do investigado, encaminharam fragmentos de provas a diferentes procuradores, que tiveram autonomia para decidir que providências tomar. Essa estratégia produziu resultados incoerentes com a denúncia do MP contra Christine Puschmann. Em Porto Alegre, os procuradores resolveram pedir a Liechtenstein acesso às contas dos investigados. No Rio de Janeiro, onde mora a maioria dos clientes, diferentes procuradores ofereceram diferentes entendimentos sobre como proceder, apesar de analisar iguais evidências. Houve casos de denúncia. E houve casos de pedido de arquivamento. Foi o que aconteceu com a família Neves.

Em 23 de fevereiro de 2010, o procurador Rodrigo Poerson – dez meses após seus colegas de andar na Procuradoria da República do Rio acusarem Muller de operar uma “central bancária paralela” – assinou despacho em que pede o fim das investigações sobre a conta da fundação Bogart & Taylor. (O MPF se recusou a fornecer cópia do parecer; ÉPOCA teve que obter o documento na Justiça.) Nele, em três páginas, Poerson acolheu integralmente os argumentos da defesa de Inês Maria. E disse ser inviável conseguir a colaboração de Liechtenstein. Ele desconsiderou os documentos assinados por Inês Maria, que previam a abertura da conta, e a própria natureza das fundações em Liechtenstein – para criar uma fundação, é necessário depositar 30 mil francos suíços numa conta aberta em nome dela. Diante do parecer de Poerson, em 26 de fevereiro de 2010 o juiz federal Rodolfo Hartmann, do Rio de Janeiro, não teve opção senão arquivar o processo. Ele fez a ressalva de que, se o Ministério Público tentasse conseguir mais provas, reabriria a pasta amarela.
Os documentos da conta secreta
da família de Aécio em Liechtenstein
São 36 páginas de documentos - no site da revista você encontra o restante.

1° ministro: Lula não aceitou ser ministro de Dilma, mas o chefe de governo

no Blog do Rovai

por Renato Rovai

Lula é o novo ministro da Casa Civil da presidenta Dilma.


MILAO ITALIA 05/06/2015  POLITICA Ex presidente Luiz Inacio  Lula da Silva visita o  pavilhão brasileiro da Expo 2015 em Milao. FOTO Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Há pelo menos uma semana o ex-ministro Gilberto Carvalho ficou em reuniões no Palácio do Planalto tratando do assunto.
Na direção do PT havia muito gente contra. A volta de Lula ao governo estava longe de ser unanimidade entre os líderes da legenda.
Muito pelo contrário, havia uma boa parte que já entendia que o governo havia acabado e que Lula deveria se preservar para 2018.
Mas entre deputados e ministros quase todos faziam pressão para Lula ser ministro.
Entre os prefeitos e vereadores do partido idem.
Líderes da base aliada diziam que essa era a única chance de o governo Dilma tentar (vejam bem, tentar) ir até 2018.
Na militância do PT e nos movimento sociais Lula ainda é mito. E o entendimento é que na hora do aperto só ele salva. E a pressão foi imensa nas bases para que  aceitasse o desafio.
No intimo, quem conviveu com Lula e debateu o assunto, não via entusiasmo nele para aceitar o cargo.
Mas Lula não teve opção.
O governo esfarelou nos últimos meses e já não havia quem o defendesse se algo de muito radical não viesse a ser feito.
E Lula poderia perder todo o capital político que acumulou na sua trajetória se o país viesse a entrar em colapso.
Mais do que isso, ainda seria cobrado por não ter ajudado na hora em que o bicho pegou.
Foi isso que levou Lula a voltar ao Planalto na condição de ministro.
Para aceitar, porém, foram muitas as condições.
Lula não entra como ministro da Casa Civil, mas como primeiro ministro.
Ele não vai cuidar de defender Dilma do impeachment. Ele vai governar.
Nos próximos dias é que vai se saber como e com quem, mas já se pode afirmar que a Reforma da Previdência não será tema para agora. E que Lula vai priorizar a retomada do crescimento.
É quase certo que o presidente já condicionou sua volta a usar uma parte das reservar em dólar, algo próximo a 100 bilhões, para retomar obras paradas do PAC.
Prefeitos, principalmente, estão desesperados porque muita coisa necessária está juntando lixo e água empoçada nas cidades por falta de verbas.
Lula costuma dizer que o mais caro é obra parada. E que não há maior corrupção do que deixar um investimento pela metade.
Com essa injeção de recursos a construção civil poderia voltar a crescer e a expectativa é que isso gerará empregos. A aposta é que o Brasil sairá do atoleiro e dará uma navegada econômica ainda neste ano.
Lula também aposta em acordos de grandes investimentos com os chineses.
E por isso pretende trazer de volta o seu fiel escudeiro, Celso Amorim, para o ministério das Relações Exteriores. Ele quer um ministro que priorize as relações Sul-Sul. E que tenha voz firme e forte fora do Brasil.
A volta de Lula foi bastante discutida com o PMDB.
Renan Calheiros sinalizou que era o caminho para não haver impeachment.
Os russos, com que o jogo não foi combinado, são os procuradores da Lava Jato e o juiz Sérgio Moro. E, claro, a Rede Globo.
As investigações não cessarão porque Lula chegou ao governo. E a divulgação de vazamentos também não.
A narrativa da Lavajato, porém, pode perder fôlego. Porque muita coisa já foi revelada e muita coisa está espirrando em líderes da oposição e do PMDB.
Aécio, por exemplo, já está carimbado como o delatado-mor. Foi apontado como parte de esquemas por cinco pessoas diferentes. E agora reapareceu a denúncia da lista de Furnas e de uma conta de sua mãe em Liechtenstein.
E vez ou outra senadores do PMDB entram na roda.
Delcídio, por exemplo, falou de vários deles na delação divulgada ontem.
Se Lula conseguir fazer o governo chegar nas Olimpíadas um pouco melhor, o impeachment pode perder força.
Porque depois de agosto o Congresso praticamente ficará vazio com a entrada no calendário das eleições municipais.
Lula está assumindo num momento de alto risco.
Se a situação melhorar para um regular, já pode se aposentar tranquilo.
Mas se for engolido pela tsunami, ficará com um biografia menor.
E por isso só aceitou a tarefa por falta de opção.
A oposição vai dizer que Lula só tomou esse rumo para fugir de Moro. Mas isso não contou. Muito pelo contrário. Se fosse por isso, Lula ficaria em São Bernardo junto com Marisa e seus filhos.
O que mais lhe fez relutar na ida para o governo foi isso, o fato de parecer que estava fugindo do juiz paranaense.
Quem acompanha julgamentos no STF desde o mensalão sabe que eles costumam ser mais duros do que nas instâncias inferiores. Não foi por outro motivo que Eduardo Azeredo (PSDB-MG) renunciou ao seu mandato. Quis ser julgado lá na primeira instância.
Neste caso do julgamento, Lula não tem nada a ganhar.
Se é que tem algo a ganhar em qualquer outra coisa nesta sua ida para o ministério.
Mas na política o cálculo não pode ser o de só ir na boa. Só entrar para ganhar.
Em política, assumir riscos é que diferencia os agentes públicos.
Lula está arriscando quase tudo nessa sua nova missão.

Interrogatório de Lula: a vergonha de uma polícia política, sem fato concreto a apurar

no Tijolaço

POR 

depoim

Vazou – o que não vaza – o texto do depoimento de Lula durante a operação-sequestro de Congonhas.
A leitura é de chorar.
Simples meganhagem, especulação, arapucas.
Lula diz, logo ao início, que não participava da administração financeira ou organizacional do Instituto que leva seu nome.
No entanto, as poucas perguntas que guardam alguma materialidade – e repetidas várias vezes – versam exclusivamente sobre isso.
O delegado ficou pedindo detalhes de informações contábeis mesmo depois de ter-lhe sido dito que tais coisas não eram tratadas pessoalmente por Lula, o que é ocioso, portanto.
O resto é pura bisbilhotice.
“Delegado da Polícia Federal:- Sim. Como eu já adiantei para o ex-presidente, ele envolve reformas e aquisição e registro da propriedade do sítio em Atibaia, eventuais reformas e registro de propriedade do flat…
Declarante (Lula):- O senhor deveria estar entrevistando o Ministério Público, trazer o Conserino aqui e fazer pergunta para ele, para ele dizer que é meu, para ele dizer que o apartamento é meu, para ele dizer que eu paguei o apartamento, ele que tem que dizer, não eu.
Delegado da Polícia Federal:- O que interessa para nós…
Declarante:- Que o cidadão conta uma mentira e eu sou obrigado a ficar respondendo a mentira dele.
Delegado da Polícia Federal:- Mas se o senhor não responder quem vai responder?
Declarante:- Um cidadão que é membro do Ministério Público, que fica a serviço da Globo, do Jornal Globo, da Revista Veja, fazendo insinuações e eu tenho que responder? Ele que diga, ele que prove, no dia que ele provar que o apartamento é meu alguém vai me dar o apartamento, ou o Ministério Público vai me comprar o apartamento ou a Globo me compra o apartamento, ou a Veja me compra o apartamento, ou sei lá quem vai me comprar o apartamento, o que não é possível é que a gente trabalhe tanto para criar uma instituição forte nesse país e dentro dessas instituições pessoas que não merecem estar nessa instituição estejam a serviço de degradar a imagem de pessoas, não sou eu que tenho que provar que o apartamento é meu, ele é que vai ter que provar que é meu, ele vai ter, eu espero que ele tenha dinheiro para depois pagar e me dar o apartamento, eu já estou de saco cheio disso, essa é a verdade, estão gravando aqui para ficar registrado. Eu estou de saco cheio de ficar respondendo bobagens.
Coisas desrespeitosas, do ponto-de- vista pessoal. como quando o delegado pergunta (ele deve viver no mundo da lua) porque houve mais palestras em 2011 que em 2012, quando o ex-presidente estava se recuperando de um câncer na garganta:
Declarante:- Aí comecei a fazer quimioterapia, comecei a fazer radioterapia, só fui começar a ficar razoavelmente bem, a campanha do Haddad foi em outubro de 2012, eu ainda não conseguia falar porque tossia mais do que falava, eu só fui ficar pronto mesmo em 2013.
Delegado da Polícia Federal:- Início, meio ou fim?
Declarante:- Hein?
Delegado da Polícia Federal:- Início, meio ou fim de 2013?
Declarante:- Eu acho que no começo de 2013 eu estava muito ruim da garganta, estava muito inchado e a garganta ficava irritada por qualquer coisa.
Delegado da Polícia Federal:- Foi de tanta palestra em 2011, então.
Declarante:- Hein?
Delegado da Polícia Federal:- Foi de tanta palestra, né.
Se há algo a criticar no Lula é o ex-presidente ter tido tanta paciência. Eu, embora fosse evitar o vai se … apropriado à gracinha, teria no mínimo parado ali, por falta de respeito pessoal evidente, molecagem de brincar com o câncer alheio…
Em outras horas, é o delegado quem fica constrangido, como nos momentos em que Lula fala do baixo valor das diárias dos militares de sua segurança e quando ele concorda que o ex-presidente “faz muito bem” a propaganda do Brasil no exterior.
Mas tome de bisbilhotice sobre as palestras pagas a Lula:
Delegado da Polícia Federal:- Quem arca com os custos de transporte, hospedagem e alimentação?
Declarante:- Só para repetir, quem me contrata paga tudo.
Delegado da Polícia Federal:- Perfeito, perfeito.
Declarante:- Aqui e no exterior.
Delegado da Polícia Federal:- Qual é o tipo de hospedagem que o senhor exige nessas palestras, quando o senhor se desloca?
Declarante:- As que tem.
Delegado da Polícia Federal:- Não faz exigência de…
Declarante:- Não faço exigência porque, você sabe o que acontece, eu cansei
de ficar em apartamento e a única coisa que eu utilizava era o banheiro de manhã e a cama durante 6 horas, então eu fico no apartamento que tiver.
Se Lula não é presidente, não é servidor público, se a palestra é um negócio privado, qual é o interesse em saber “o tipo de hospedagem”. Vá perguntar para a Madonna ou aos Rolling Stones, Doutor Delegado…
Eu poderia continuar selecionando dúzias de barbaridades. Referências à Petrobras entram um ou duas vezes, apenas para justificar uma suposta ligação com a Lava Jato. As perguntas sobre Bumlai são de doer, totalmente sem objetivo.
Nada que justificasse um depoimento, muito menos ainda um dado sob condução coercitiva.
Apenas um espetáculo de força e autoritarismo.
PS. Para quem quiser perder seu tempo, tem aqui o depoimento na íntegra.

O japonês da Federal é contrabandista, confirma o STJ

no Tijolaço

POR  

japafederal


O herói da direita, que virou boneco gigante e máscara de carnaval, motivo de marchinhas. Newton Hidenori Ishii, o “japonês da Federal” está, finalmente, condenado definitivamente como contrabandista.
A história está, toda, no blog do Marcelo Auler, que mostra que o “Japonês” agora é. com sentença transitada em julgado, um  contrabandista.
Aí está o que é o “herói” da direita.Neste caso, não há vazamentos e as sentenças são publicadas de forma quase cifrada.
“No STJ, a decisão do ministro cita apenas as iniciais dos réus. Ali, o ministério público tentou reverter a “consunção”, procurando a condenação por corrupção, já que a facilitação do contrabando e descaminho foi apenas o meio encontrado pelos agentes públicos para receberem dinheiro indevidamente. As penas seriam, consequentemente, maiores. Mas tanto a subprocuradora como o ministro entenderam que não cabia esta revisão pois seria necessário “o revolvimento da matéria fático-probatória, o que é vedado pela Súmula 7/STJ”.
O “Japonês da Federal” está de férias. Por isso não participou da “condução coercitiva” de Lula. Não volta à cena, mas terá toda a sua integral aposentadoria, a partir do mês que vem.
E vai poder, talvez, usar o tempo livre para defender a autonomia da Polícia Federal.
Veja toda a enojante história no blog do Marcelo Auler.

Não deixe o ódio entrar em você

no Tijolaço

gun

O ódio, como um vírus, espalha-se numa sociedade sem que a gente saiba como pará-lo, embora saiba bem quem são os mosquitos que os conduzem.
E como este infelizmente famoso zika, tende a produzir microcefalia não em fetos, mas em marmanjos.
Nesta questão das armas, vivemos um surto e não faltam microcéfalos a propagar a estupidez de que a paz se alcança o dia em que todo mundo puder ameaçar o outro com um tiro.
Anteontem aqui se postou o rapazote que, na falta de ocupação que tenha valia, posa com uma arma de atirar bolotas de tinta para dar apoio à ideia do armamento geral.
Também circula, na internet, um vídeo onde outro luminar, o senhor Jair Bolsonaro, na pacata cidade de Resende, nos limites do Rio de Janeiro com São Paulo, defender que cada dono de sítio possa ter um fuzil!
Imaginem que alegria para o PCC paulista ou uma facção criminosa do Rio passar um final de semana na “roça” e voltar com uma dúzia de fuzis novinhos, tirados do casal de velhinhos surpreendido à noite, deixados amarrados ou, pior, deitados em meio  uma poça de sangue?
Chegamos a um ponto em que a ignorância e a brutalidade sequer se disfarçam, estimuladas por estes tempos onde alguns se proclamam portadores de direitos sagrados à estupidez, às armas, ao poder, sob o manto ultra-extra-super neoliberal de que cada um sozinho tem de fazer o papel do Estado.
O seu modelo, o céu americano, o USA Heaven, onde as armas mais pesadas podem ser vendidas em qualquer magazine está aí, corando um massacre por semana, quase, como este em que um casal, que possuía fuzis e seis mil cartuchos para eles, deixa seu bebê de seis meses com a avó e vai a uma festa de final de ano de um centro de serviços sociais para  matar 14 pessoas…
Dramático, mas muito mais grave é o retrato do que ocorre quando o ódio se espalha, pois fuzis sem ódio não disparam a rodo.
Não é por outra razão que justamente os pregadores do ódio querem também que todos tenham armas, e pesadas.
É porque eles, mesmo antes delas, já distribuem a munição.

terça-feira, 15 de março de 2016

Volta ao cartaz! O documentário da Lista de Furnas

no Conversa Afiada

Já assistiu, Janot? Está no DCM!






Imagem emblemática: Manifestantes vestem mendigo com placa: “Tomei no *C"

por José Gilbert Arruda Martins

A "democracia" e a "justiça" dos que pedem pela justiça, o fim da corrupção e a destituição de um governo democraticamente eleito pela povo. Seria cômico se não fosse trágico, já dizia o poeta.

Com que moral e ética, os filhos da Casa Grande saem às ruas para pedir justiça e o fim da corrupção? Não estariam eles, defendendo apenas seus privilégios?

Maneira tosca e deprimente de exigir justiça, para dizer pouco, frente às imagens e discursos ocos que vimos em praticamente todas as manifestações de domingo.

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"morador" de rua é desrespeitado por manifestantes pró golpe

As manifestações dos aloprados pelo país neste fim de semana, teve vários pontos de extremo fascismo e baixaria, faixas xingando a presidenta de "quenga", desenhos de crianças defendendo a morte de Lula e Dilma, o discurso nazista do deputado Bolsonaro em Brasília entre outras barbaridades.

No entanto duas imagens chamaram bastante a atenção, uma, um casal no Rio de Janeiro que levou a empregada para a manifestação, empurrando carrinho dos filhos, essa viralizou, mostrou bem a "justiça" branca da Casa Grande.

Mas a que chocou a todos e todas foi essa acima, manifestantes da avenida paulista, vestiram um "morador" de rua e fixaram placa com dizeres "tomei no cu".

Repliquei logo abaixo, parte de uma boa reflexão sobre o que a classe média defende, talvez ajude no entendimento desse comportamento absurdo.

Em matéria de 2013, com o título: Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira, divulgada pelo GGN do Luis Nassif, o professor Renato Santos de Souza da UFSM/RS, entre outras análises defende:

"Vou gastar as últimas linhas deste texto para oferecer algumas razões para isto, para mostrar porquê a meritocracia é um fundamento perverso de organização social. 
a) A meritocracia propõe construir uma ordem social baseada nas diferenças de predicados pessoais (habilidade, conhecimento, competência, etc.) e não em valores sociais universais (direito à vida, justiça, liberdade, solidariedade, etc.). Então, uma sociedade meritocrática pode atentar contra estes valores, ou pode obstruir o acesso de muitos a direitos fundamentais.
b) A meritocracia exacerba o individualismo e a intolerância social, supervalorizando o sucesso e estigmatizando o fracasso, bem como atribuindo exclusivamente ao indivíduo e às suas valências as responsabilidades por seus sucessos e fracassos. 
c) A meritocracia esvazia o espaço público, o espaço de construção social das ordens coletivas, e tende a desprezar a atividade política, transformando-a em uma espécie de excrescência disfuncional da sociedade, uma atividade sem legitimidade para a criação destas ordens coletivas. Supondo uma sociedade isenta de jogos de interesse e de ambiguidades de valor, prevê uma ordem social que siga apenas a racionalidade técnica do merecimento e do desempenho, e não a racionalidade política das disputas, das conversações, das negociações, dos acordos, das coalisões e/ou das concertações, algo improvável em uma sociedade democrática e pluralista.
d) A meritocracia esconde, por trás de uma aparente e aceitável “ética do merecimento”, uma perversa “ética do desempenho”. Numa sociedade de condições desiguais, pautada por lógicas mercantis e formada por pessoas que tem não só características diferentes mas também condições diversas, merecimento e desempenho podem tomar rumos muito distantes. O Mário Quintana merecia estar na ABL, mas não teve desempenho para tal. O Paulo Coelho, o Sarney e o Roberto Marinho estão (ou estiveram) lá, embora muitos achem que não merecessem. O Quintana, pelo imenso valor literário que tem, não merecia ter morrido pobre nem ter tido que morar de favor em um hotel em Porto Alegre, mas quem amealhou fortuna com a literatura foi o Coelho. Um tem inegável valor literário, outro tem desempenho de mercado. O José, aquele menino nota 10 na escola que mora embaixo de uma ponte da BR 116 (tema de reportagem da ZH) merece ser médico, sua sonhada profissão, mas provavelmente não o será, pois não terá condições para isto (rezo para estar errado neste caso). Na música popular nem é preciso exemplificar, a distância entre merecimento e desempenho de mercado é abismal. Então, neste mudo em que vivemos, valor e resultado, merecimento e desempenho nem sempre caminham juntos, e talvez raramente convirjam. 
Mas a meritocracia exige medidas, e o merecimento, que é um juízo de valor subjetivo, não pode ser medido; portanto, o que se mede é o desempenho supondo-se que ele seja um indicador do merecimento, o que está longe de ser. Desta forma, no mundo da meritocracia – que mais deveria se chamar “desempenhocracia” - se confunde merecimento com desempenho, com larga vantagem para este último como medida de mérito.
e) A meritocracia escamoteia as reais operações de poder. Como avaliação e desempenho são cruciais na meritocracia, pois dão acesso a certas posições de poder e a recursos, tanto os indicadores de avaliação como os meios que levam a bons desempenhos são moldados por relações de poder; e o são decisivamente. Seria ingênuo supor o contrário. Assim, os critérios de avaliação que ranqueiam os cursos de pós-graduação no país são pautados pelas correntes mais poderosas do meio acadêmico e científico; bons desempenhos no mercado literário são produzidos não só por uma boa literatura, mas por grandes investimentos em marketing; grandes sucessos no meio musical são conseguidos, dentre outras formas, “promovendo” as músicas nas rádios e em programas de televisão, e assim por diante. Os poderes econômico e político, não raras vezes, estão por trás dos critérios avaliativos e dos “bons” desempenhos.
Critérios avaliativos e medidas de desempenho são moldáveis conforme os interesses dominantes, e os interesses são a razão de ser das operações de poder; que por sua vez, são a matéria prima de toda a atividade política. Então, por trás da cortina de fumaça da meritocracia repousa toda a estrutura de poder da sociedade.
Até aí tudo bem, isso ocorre na maioria dos sistemas políticos, econômicos e sociais. O problema é que, sob o manto da suposta “objetividade” dos critérios de avaliação e desempenho, a meritocracia esconde estas relações de poder, sugerindo uma sociedade tecnicamente organizada e isenta da ingerência política. Nada mais ilusório e nada mais perigoso, pois a pior política é aquela que despolitiza, e o pior poder, o mais difícil de enfrentar e de combater, é aquele que nega a si mesmo, que se oculta para não ser visto.
e) A meritocracia é a única ideologia que institui a desigualdade social com fundamentos “racionais”, e legitima pela razão toda a forma de dominação (talvez a mais insidiosa forma de legitimação da modernidade). A dominação e o poder ganham roupagens racionais, fundamentos científicos e bases de conhecimento, o que dá a eles uma aparente naturalidade e inquestionabilidade: é como se dominados e dominadores concordassem racionalmente sobre os termos da dominação.
f) A meritocracia substitui a racionalidade baseada nos valores, nos fins, pela racionalidade instrumental, baseada na adequação dos meios aos resultados esperados. Para a meritocracia não vale a pena ser o Quintana, não é racional, embora seus poemas fossem a própria exacerbação de si, de sua substância, de seus valores artísticos. Vale mais a pena ser o Paulo Coelho, a E.L. James, e fazer uma literatura calibrada para vender. Da mesma forma, muitos pais acham mais racional escolher a escola dos seus filhos não pelos fundamentos de conhecimento e valores que ela contém, mas pelo índice de aprovação no vestibular que ela apresenta. Estudantes geralmente não estudam para aprender, estudam para passar em provas. Cursos de pós-graduação e professores universitários não produzem conhecimentos e publicam artigos e livros para fazerem a diferença no mundo, para terem um significado na pesquisa e na vida intelectual do país, mas sim para engrossarem o seu Lattes e para ficarem bem ranqueados na CAPES e no CNPq. 
A meritocracia exige uma complexa rede de avaliações objetivas para distribuir e justificar as pessoas nas diferentes posições de autoridade e poder na sociedade, e estas avaliações funcionam como guiões para as decisões e ações humanas. Assim, em uma sociedade meritocrática, a racionalidade dirige a ação para a escolha dos meios necessários para se ter um bom desempenho nestes processos avaliativos, ao invés de dirigi-la para valores, princípios ou convicções pessoais e sociais.
g) Por fim, a meritocracia dilui toda a subjetividade e complexidade humana na ilusória e reducionista objetividade dos resultados e do desempenho. O verso “cada um de nós é um universo” do Raul Seixas – pérola da concepção subjetiva e complexa do humano - é uma verdadeira aberração para a meritocracia: para ela, cada um de nós é apenas um ponto em uma escala de valor, e a posição e o valor que cada um ocupa nesta escala depende de processos objetivos de avaliação. A posição e o valor de uma obra literária se mede pelo número de exemplares vendidos, de um aluno pela nota na prova, de uma escola pelo ranking no Ideb, de uma pessoa pelo sucesso profissional, pelo contracheque, de um curso de pós-graduação pela nota da CAPES, e assim por diante. Embora a natureza humana seja subjetiva e complexa e suas interações sociais sejam intersubjetivas, na meritocracia não há espaço para a subjetividade nem para a complexidade e, sendo assim, lamentavelmente, há muito pouco espaço para o próprio ser humano. Desta forma, a meritocracia destrói o espaço do humano na sociedade.
Enfim, a meritocracia é um dos fundamentos de ordenamento social mais reacionários que existe, com potencial para produzir verdadeiros abismos sociais e humanos. Assim, embora eu tenda a concordar com a tese da Marilena Chauí sobre a classe média brasileira, proponho aqui uma troca de alvo. Bradar contra a classe média, além de antipático pode parecer inútil, pois ninguém abandona a sua condição social apenas para escapar ao seu estereótipo. Não se muda a posição política de alguém atacando a sua condição de classe, e sim os conceitos que fundamentam a sua ideologia. 
Então, prefiro combater conceitos, neste caso, provavelmente o conceito mais arraigado na classe média brasileira, e que a faz ser o que é: a meritocracia."

Leia o texto completo aqui: http://jornalggn.com.br/fora-pauta/desvendando-a-espuma-o-enigma-da-classe-media-brasileira






segunda-feira, 14 de março de 2016

POR QUE LULA DEVERIA SIM SER MINISTRO.

no DCM

por Paulo Nogueira

A hora pede ousadia
A hora pede ousadia


“Ficaria decepcionada se o Lula aceitasse um convite para ser ministro”, ouço de minha mulher, Erika.
Não tinha ainda refletido detidamente sobre o assunto, mas a frase de Erika me estimulou a fazer isso.
Por que alguém progressista como ela se decepcionaria?
A resposta padrão é mais ou menos esta: Lula ganharia foro privilegiado e se livraria das garras de Moro, mas mostraria medo. Ficaria claro, para muita gente, que ele tem algo a esconder.
Ora, ora, ora.
Não poderia discordar mais.
Se Lula estivesse numa disputa com Mujica ou com o papa Francisco, eu concordaria.
Mas ele está medindo forças – involuntariamente – com forças que lembram não Mujica, não Francisco, mas Al Capone.
Você tem que jogar o jogo conforme seu adversário, e não de acordo com seus sonhos. Esta é a realidade. Pode não ser idílica, ou utópica, ou romântica. Mas esta é a única realidade que temos.
Avalie os escrúpulos e o caráter dos que estão do outro lado. A Globo e a família Marinho, Aécio, FHC, a Veja e os Civitas, a Folha e os Frias, Moro e a PF, e isso para não falar dos Eduardos Cunhas e dos Conserinos.
Eles querem preservar seus formidáveis privilégios, e para isso buscam loucamente um golpe sob os pretextos mais esdrúxulos.
Desde a saída dos resultados, a vitória de Dilma é contestada da maneira mais infame possível. A desculpa A não colou? Vamos para a B. Também ela não vingou? Passemos para a desculpa C. E nisso foi um alfabeto inteiro de pretextos que escondiam uma única coisa: um golpe. Um crime de lesademocracia que jogaria, ou jogará, o país mais de meio século para trás.
Os índios americanos entraram na história por episódios de resistência épicos em que opunham pedrinhas às balas dos predadores brancos.
É lindo, é comovente, mas é claro que eles usariam outras armas se as tivessem.
Contra predadores, e é disso que se trata, você tem que ajustar sua estratégia à índole dos inimigos.
Lula já errou demasiadamente nisso.
Por exemplo. FHC nomeou um amigo para a Procuradoria Geral da República, o tristemente famoso Brindeiro, engavetador de qualquer coisa que pudesse embaraçar a presidência.
Lula se recusou a nomear uma réplica de Brindeiro. Colocou o primeiro da lista que lhe foi passada pelos procuradores.
Deu no que deu.
No STF, ele fez o mesmo. FHC indicou juízes como Gilmar Mendes. Uma das primeiras indicações de Lula foi Eros Grau, de conhecida simpatia pelo PSDB. (Fez campanha por Aécio em 2014.)
Isso não é republicanismo. É ingenuidade, é tolice, é não enxergar do que são capazes os que detestam você.
A direita prega para os rivais um republicanismo que ela jamais praticou.
A hora dura pede ousadia, pede inovação. Lula como ministro é uma resposta a quem deseja apenas tirar Dilma do jeito que for e impedir que Lula concorra em 2018.
A reação popular seria esta. Os que detestam Lula continuariam a detestá-lo. Os que o amam continuariam a amá-lo.
Que as urnas digam, em 2018, qual destes grupos é maior.


O GRANDE PERDEDOR DESTE DOMINGO 13 FOI AÉCIO. POR PAULO NOGUEIRA

no DCM

por

Nada vai cair no colo de Aécio, como aconteceu com Lacerda
Nada vai cair no colo de Aécio, como aconteceu com Lacerda


Outro dia fiz uma comparação entre Lacerda e Aécio.
Lacerda sempre conspirou contra a democracia, e acabou indo para a história com o apelido de Corvo, dado por Samuel Wainer.
Sugeri que Aécio passe para a história como o Abutre, pelo mal que ele vem fazendo à democracia. Ele é a prova dos riscos que maus perdedores trazem às instituições.
Desde o primeiro dia de sua derrota ele vive sabotando a democracia com argumentos esdrúxulos, substituídos sem cerimônia assim que se revelam risíveis.
O protesto deste domingo 13 de março trouxe mais um ponto de contato entre Lacerda e Aécio. Foi sem dúvida o ponto alto, se é que é possível usar tal expressão, na manifestação.
Aécio conseguiu ser vaiado na Paulista. Foi chamado de vagabundo, corrupto e oportunista. Um manifestante disse: “Se ele pensa que tudo vai cair no seu colo está enganado.”
Ora, ora, ora.
Também Lacerda imaginava que tudo iria cair no seu colo depois que os militares derrubaram Jango em 1964, com sua contribuição milionária.
Ele dava como certo vancer as eleições presidenciais pós-golpe. Como governador da Guanabara, era o único grande nome que estava no páreo. Juscelino fora cassado, Jânio estava desmoralizado: a presidência estava praticamente em suas mãos.
Praticamente.
Porque os militares gostaram. Lacerda se desesperou. Chegou a dizer que o general Castelo Branco era ainda mais feio por dentro do que por fora. Acabaria sendo cassado.
A presidência não caiu no seu colo.
As vaias a Aécio num protesto do qual ele pretendia ser um grande líder têm significado parecido. Sou obrigado aqui a repetir um manifestante citado acima. Se Aécio pensa que a presidência vai cair no seu colo, está enganado.
Aécio aprendeu hoje que ele é rejeitado, desprezado pelos que pedem o impeachment. Os ídolos são Moro e Bolsonaro.
É verdade que os manifestantes são tolos e manipulados em sua imensa maioria. Mas mesmo cegos uma hora enxergam a hipocrisia ululante de alguém que várias vezes citado em casos de corrupção, e com um passivo sinistro de delinquências, se atreve a liderar uma “marcha contra a corrupção”.
Pode-se dizer que este domingo representa um marco negativamente poderoso na carreira de Aécio. A pancada pode ter sido definitiva.
A classe média ignara que bate panelas e veste camisa da CBF em protestos não respeita Aécio. Os progressistas que se batem pela democracia o abominam.
Sobrou o que para ele?
O apoio da Globo, é verdade. Agora: o mesmo mal que se abate sobre Aécio alcança a Globo. Ela é, merecidamente, rejeitada pelos dois lados em que se divide a sociedade.
No fundo, o que ela quer, como Aécio agora e Lacerda no passado, é que tudo caia no seu colo. Um governo amigo – Aécio, por exemplo – representa a permanência dos privilégios e mamatas indecentes de que ela sempre viveu.
Publicidade bilionária a despeito de audiências cadentes, acesso ilimitado a bancos públicos – este tipo de coisa que Roberto Marinho chamava na época da ditadura de “favores especiais” a que julgava fazer jus por apoiar os generais.
O Brasil parece ter se cansado enfim da Globo.
Nem ela, com todas as mídias que possui e que usa acintosamente na defesa de seus interesses, será capaz de erguer o amigo Aécio, o Abutre.