sexta-feira, 11 de março de 2016

Participação de religiosos em mobilizações por Estado de direito se consolida no país

na Rede Brasil Atual

Para ex-deputado Adriano Diogo, apesar da influência da ala "mais atrasada" da Igreja Católica, católicos estão "numa militância muito progressista". CNBB diz que não é momento de "acirrar ânimos"

por Eduardo Maretti, da RBA

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Dom Darci José Nicioli recomendou aos fiéis a "pisarem na cabeça da jararaca" e foi transferido de diocese

São Paulo – Apesar de a Igreja Católica brasileira estar hoje dominada, no alto da hierarquia, por setores conservadores, a organização, militância das bases e da juventude justificam uma expectativa otimista. “No Brasil, esses grupos progressistas são minoritários. Mesmo assim, o povo católico, apesar da influência dessa teologia mais atrasada que dom Odilo Scherer (arcebispo de São Paulo) e outros bispos representam, como o de Aparecida, está numa ‘pegada’ e militância muito progressista", diz o ex-deputado e militante da ala católica do PT Adriano Diogo.
O ex-bispo auxiliar de Aparecida do Norte dom Darci José Nicioli recomendou aos fiéis a "pisarem na cabeça da jararaca", em referência ao ex-presidente Lula, no domingo (6). Ele foi transferido para ser bispo em Diamantina (MG).
Para Diogo, que iniciou a militância nas antigas comunidades eclesiais de base, e continua suas atividades junto ao núcleo progressista da igreja, a combatividade do "povo católico" hoje está mais consolidada. "No meu tempo de jovem, da ditadura brava, a igreja católica só começou a reagir à ditadura muito tempo depois, com D. Paulo Evaristo Arns, Dom Angélico Sandalo Bernardino e todos aqueles bispos maravilhosos da teologia da libertação. Do ponto de vista dos militantes católicos, "uma coisa boa que nos ajuda é que o papa tem uma política completamente diferente dos grupos conservadores majoritários na igreja", diz.
Na opinião de Eduardo Brasileiro, da Pastoral da Juventude e membro da Igreja Povo de Deus em Movimento, de Itaquera (zona leste de São Paulo), o papa Francisco é um diferencial. "Ele está ouvindo as pressões populares", diz. Para ele, a conjuntura é muito preocupante. "Estamos num momento de fragmentação da sociedade em dois polos, e isso é muito triste. Um pólo com domínio econômico midiático, colocando a sociedade na situação de medo e desencanto político, e de outro lado um grupo que ainda está numa profunda crise interna de projeto ligado aos trabalhadores", avalia, sobre o PT e o grupo que comanda o Brasil.
O jovem acredita que, apesar da crise, o momento é "muito propício para a reformulação do que podemos querer como esquerda". Ele lembra que os movimentos sociais estão em cadeia na mobilização para as manifestações convocadas pela Frente Brasil Popular para os dias 18 e 31 de março. "Estamos nos mobilizando contra Eduardo Cunha, contra o golpe e é por aí que vamos mostrar que precisamos nos organizar popularmente, sair dos pedestais dos partidos e privilégios."
Para Brasileiro, "o PT vai ter que passar por reavaliação profunda de suas estruturas, inclusive o Lula". Mas ressalva: "Não pelo que a Lava Jato vem acusando com essa espetacularização, sendo tratado como criminoso sem provas, o que é muito triste". Na opinião do jovem, a reavaliação diz respeito aos projetos de uma plataforma sociais do PT, que grande parte da juventude considera que em parte foi abandonada pelo partido.
Sobre a transferência do religioso para Dimantina, apesar da promoção, o ato do papa equivale à chamada "queda para cima", já que ele deixa uma diocese de grande importância para uma muito inferior estrategicamente.
Eduardo Brasileiro critica o ex-bispo-auxiliar de Aparecida. "Ele deveria ter se posicionado para dar esperança ao povo, acreditando nas instituições democráticas, mas infelizmente se posiciona de maneira raivosa e se mostra um sujeito usado como objeto da mídia". O ativista lembra que a transferência de diocese pelo papa não deve ter sido consequência direta da fala do bispo no último domingo, quando ele deu a declaração contra Lula e o PT. Isso porque uma medida como essa não é tomada subitamente, mas respeita trâmites. "Mas fico feliz que ele não tenha ficado. Ele não poderia conduzir uma arquidiocese nessas condições. A importância de Aparecida é muito grande, é onde ocorre a Marcha dos Excluídos."

CNBB

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota de seu Conselho Permanente afirmando que este não é momento de acirrar ânimos. "A situação exige o exercício do diálogo à exaustão", diz a entidade. "Conclamamos a todos que zelem pela paz em suas atividades e em seus pronunciamentos", diz a CNBB, acrescentando que "qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da justiça".
"A superação da crise passa pela recusa sistemática de toda e qualquer corrupção, pelo incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que resulte num compromisso entre os responsáveis pela administração dos poderes do Estado e a sociedade. É inadmissível alimentar a crise econômica com a atual crise política. O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético de favorecer e fortificar a governabilidade", afirma a CNBB, que diz reconhecer a importância das investigações e seus desdobramentos. "Reconhecemos a importância das investigações e seus desdobramentos. Também as instituições formadoras de opinião da sociedade têm papel importante na retomada do desenvolvimento, da justiça e da paz social."

Igreja Presbiteriana

Ontem, o Conselho Coordenador da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (CC-IPU), divulgou documento se posicionando em relação ao "agravamento da crise política do país, cujo ápice se deu com as recentes ações realizadas pela Operação Lava Jato, responsável pela investigação de políticos e empresários supostamente envolvidos em prática de crimes de corrupção".
A entidade protestante, dirigindo-se ao Judiciário, Polícia Federal, OAB e Ministério Público, defende "o direito a viver em um país sob o império do Estado de direito, da justiça e da ética, sem distinção de classes, credos, raças ou qualquer outro padrão social convencionado".

Diz ainda defender o aprofundamento das investigações da Lava Jato, mas "sem privilegiar ou discriminar quaisquer partidos políticos". A instituição afirma também que "condena, veementemente, o caráter midiático e teatral que os coordenadores da chamada Força-Tarefa da Lava Jato têm dado".

Para Dalmo Dallari, pedido de prisão de Lula desmoraliza Ministério Público

na Rede Brasil Atual

Jurista acredita que órgão não está se orientando por critério jurídico e que a medida é um "ato político"; Frente Brasil Popular convocou sua militância para uma ação na noite desta quinta-feira (10)

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Dallari afirma que se juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira acatar o pedido do MP caberá habeas corpus

por Rute Pina

Brasil de Fato – O pedido do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) de prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é "totalmente absurdo" e não possui "fundamentação jurídica", afirma o jurista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Dalmo Dallari.
"Eu acho que isso é desmoralizante para o Ministério Público porque mostra que ele não está se orientando por critério jurídico, mas político", comenta Dallari. Ele enxerga a prisão preventiva como "um ato político e nada mais".
O MP-SP, por meio dos promotores José Carlos Blat, Cássio Conserino e Fernando Henrique Araújo, pediu a prisão preventiva do ex-presidente pelos crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica em relação ao triplex localizado no Guarujá (SP).
Os promotores alegam que por ser ex-presidente, a possibilidade de evasão de Lula "seria extremamente simples" e que a prisão seria necessária para garantir "a ordem pública, a instrução do processo e a aplicação da lei penal". Além disso, o texto ainda afirma que as condutas de Lula 'certamente deixariam Marx e Hegel envergonhados.'"
"O presidente Lula está no Brasil, vive aqui e tem sua família aqui no Brasil e poderá ser processo normalmente, sem necessidade da prisão. Não há a mínima justificativa para uma prisão preventiva”, afirma o jurista.
Segundo Dallari, se a juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, da 4ª Criminal da Justiça, acatar o pedido do MP-SP, caberá um habeas corpus; e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ou qualquer cidadão poderia ingressar com o pedido. A matéria, então, seguiria para o Supremo Tribunal Federal (STF). Procurada, a assessoria do Tribunal de Justiça estadual informou que não há uma declaração oficial da juíza se o caso será julgado nesta quinta-feira.

MP adota postura política para influenciar atos de domingo, diz Paulo Teixeira

na Rede Brasil Atual

Promotores pedem a prisão preventiva do ex-presidente e Frente Brasil Popular convoca mobilização imediata na sede da Apeoesp, no centro de São Paulo

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Promotor Cássio Conserino disse que crimes dizem respeito a lavagem de dinheiro e falsidade ideológica


por Helder Lima, da RBA

São Paulo – "Trata-se de uso de cargo público para a prática de banditismo político", teria afirmado hoje (10) o Instituto Lula, sobre a denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, detalhada na tarde desta quinta-feira em entrevista coletiva por promotores do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). O caso será analisado pela juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, da 4ª Vara Criminal da capital. A declaração foi publicada por diversos portais.
Oficialmente, o Instituto Lula emitiu há pouco nota em que volta a apontar "parcialidade" do promotor Cássio Conserino, ao pedir a prisão preventiva do ex-presidente. "Cássio Conserino, que não é o promotor natural deste caso, possui documentos que provam que o ex-presidente Lula não é proprietário nem de tríplex no Guarujá nem de sítio em Atibaia, e tampouco cometeu qualquer ilegalidade. Mesmo assim, solicita medida cautelar contra o ex-presidente em mais uma triste tentativa de usar seu cargo para fins políticos", diz a nota.
Para o deputado federal Paulo Teixeira, o pedido de prisão do ex-presidente Lula não tem base jurídica. "Trata-se de uma medida política, às vésperas das manifestações de domingo. O momento pede responsabilidade e cautela", observou em sua rede social.
O também deputado Wadih Damous (PT-RJ), ex-presidente da OAB em seu estado, disse que o promotor Cássio Conserino é “irresponsável, inepto e não tem condições de seguir na carreira”. “Esse pedido não tem cabimento, é despropositado. "E como ainda existe judiciário nesse país, como acredito que existe, esse pedido será repudiado. Não tem pé nem cabeça", concluiu Damous.
A denúncia apresentada ontem à Justiça, sobre suposta ocultação de patrimônio no caso do apartamento tríplex do Guarujá, pede a prisão preventiva do ex-presidente pelos crimes de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Cita também a ex-primeira-dama Marisa Letícia pelo crime de falsidade ideológica, e o filho do casal Fábio Lula da Silva por participação em lavagem de dinheiro.
A Frente Brasil Popular convocou para esta noite a militância para se concentrar na sede da Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), na praça da República, 282, na capital, frente ao pedido de prisão preventiva.
Durante a entrevista coletiva, os promotores do MP-SP repetiram várias vezes que não há conflito de atribuições dessa investigação com a força-tarefa da Operação Lava Jato, conduzida pelo Ministério Público Federal em Curitiba.
O conflito de atribuições entre as alçadas estadual e federal do Ministério Público foi argumentado pela defesa do ex-presidente, que recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando manifestação sobre a quem compete a investigação. “A investigação é desdobramento de outra investigação feita há cinco anos pelo dr. José Carlos Blat”, disse o promotor Cássio Conserino. “São crimes estaduais, que dizem respeito a lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.”
Os promotores afirmaram que a investigação do tríplex está na alçada estadual no que compete à negociação da unidade, e na federal, no que tange às reformas realizadas na unidade, com suposto dinheiro com origem no esquema de corrupção da Petrobras. Conserino disse que a investigação está inserida no contexto de que milhares de famílias que adquiriram unidades da Bancoop foram “despojadas” do sonho da casa própria, enquanto o ex-presidente foi contemplado com o tríplex. “Nós refutamos o ponto nevrálgico dessa história, não há invasão de competências.”
Os promotores detalharam que a investigação remonta a 2010, com a transferência de obras da Bancoop para a construtora OAS. “Nesse imbróglio de estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro sobre um dos investigados, o trabalho não se confunde com o MPF”, disse novamente Conserino, referindo-se ao Ministério Público Federal.
“A todos os investigados foi franqueado o contraditório”, disse o promotor Fernando Henrique de Moraes Araújo, preocupado em assegurar que os promotores envolvidos na investigação são “naturais”. Disse também que “toda a alegação por parte do advogado de defesa sobre o conflito (de atribuições) não tem a ver”.
Em seu perfil pessoal no Facebook, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem teto (MTST), Guilherme Boulos, criticou a postura do Ministério Público de São Paulo, considerando que o órgão agiu de forma "escandalosa".
"O mesmo Ministério Público que não indiciou os políticos envolvidos no caso do trensalão, que investiga como tartaruga a máfia das merendas e que nunca pediu a prisão de nenhum político tucano em 20 anos de governo em São Paulo, pediu hoje a prisão de Lula baseado em indícios. Escandaloso! Querem incendiar o país...", publicou logo após do anúncio do pedido de prisão preventiva do ex-presidente.

Sem base na realidade


Em nota divulgada na manhã de hoje, o Instituto Lula afirmou que a denúncia do promotor Cássio Conserino "não tem base na realidade, conforme o Instituto Lula já mostrou. Em 30 de janeiro deste ano, foram divulgados todos os documentos relativos à cota do Edifício Solaris, que mostram que Lula e sua família nunca tiveram apartamento no Guarujá".

quinta-feira, 10 de março de 2016

Hipótese: a conexão EUA — Lava Jato

no Outras Palavras

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As revelações do Wikileaks. A espionagem da Petrobras pela NSA e o interesse no Pré-Sal. Estranhos superpoderes de Moro. Curioso papel do Procurador Janot. Aécio e Globo, denunciados e sempre protegidos
Por Luis Nassif, no GGN
Para entender o nosso jogo de xadrez é importante clareza sobre um divisor de águas: a condução coercitiva de Lula a Congonhas.
Para o juiz, os procuradores justificaram que a intenção seria proteger a imagem e a integridade de Lula. Na nota oficial, os procuradores sustentam que pretenderam conferir a Lula o mesmo tratamento aplicado em 114 réus anteriores. Quem está enganando quem?
A operação fugiu do padrão escracho da Lava Jato. Lula foi conduzido em sigilo à sala VIP do aeroporto de Congonhas, na beira da pista, com um jatinho da Polícia Federal no hangar pronto para decolar.
Pesados todos os fatos e possibilidades, a hipótese mais robusta foi levantada por José Gregori, ex-Ministro da Justiça do governo FHC: a intenção era, de fato, prender Lula e conduzi-lo a Curitiba.
No interrogatório havia quatro delegados da PF e quatro procuradores. À medida que o tempo avançou e divulgou-se a localização de Lula, de dentro da sala era possível ouvir os urros da multidão do lado de fora.
Seja lá o que ocorreu, a ida de deputados do partido a Congonhas, a aglomeração de manifestantes, o fato é que não se consumou a operação.
No final do dia, um Sérgio Moro visivelmente assustado com os riscos da operação, soltou a nota oficial explicando que o pedido partiu dos procuradores, enfatizando a intenção de preservar a imagem e a integridade de Lula e lançando um apelo pela paz e pela concórdia.
Mesmo com a perspectiva de acirramento de conflitos de rua, os procuradores da Lava Jato trataram de botar mais óleo na fervura, soltando a nota em que desmentiam as razões invocadas por Moro e se comportavam como deuses ex-machina lançando raios do Olimpo.
A história reconhecerá no futuro a enorme contribuição do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima para expor a conspiração quase em tempo real. Seu estilo grosseiro, tosco, atropela e expõe uma estratégia muito mais refinada. Tão refinada que parece difícil que tivesse sido planejada em Curitiba.
A estratégia se completa com a matéria de ontem da Folha, de que a Lava Jato prepara um conjunto de ações de improbidade visando impedir Lula de concorrer novamente (http://migre.me/tbiYy), confirmando, aliás, os cenários que venho traçando.
Os dois comunicados, mais as informações adicionais, colocam, de uma vez, quatro peças a mais no nosso quebra-cabeças.
Peça 1 – A radicalização é alimentada pelos procuradores da Lava Jato. Mais do que explicações, a nota oficial dos procuradores é um libelo, antecipando a peça final da acusação.
Peça 2 – Moro não é nem nunca foi o cérebro por trás da operação.
Uma operação dessa envergadura não poderia ter sido obra de um juiz de primeira instância, de um estado pouco relevante politicamente, conhecido por seu conservadorismo, rígido nas sentenças, mas tímido, tosco até fora dos limites dos autos. Foi só recuar para ser atropelado pela Força Tarefa.
Peça 3 – A Polícia Federal é um mero instrumento nas mãos dos procuradores.
Domingo, o Estadão publicou matéria condenando os abusos da operação, atribuindo-os à Polícia Federal. Ora, a PF limitou-se a cumprir um mandado requerido pelos procuradores e autorizado pelo juiz Moro. Já os procuradores formam um todo coeso, obedecendo a uma estratégia nítida: a inabilitação política de Lula.
Peça 4 – Em meio às turbulências políticas, houve o risco de confrontos entre manifestantes se alastrarem por todo o país. Um mero Procurador Regional de Curitiba pode definir, por si, a oportunidade de um libelo político com aquele grau de temperatura?
Aí cabem duas hipóteses:
Hipótese 1 – O Ministério Público Federal é um arquipélago formado por comitês, regionais independentes, cada qual com poderes de interferir até nos aspectos psicossociais do país, sem nenhuma forma de coordenação ou de controle interno.
Hipótese 2 – há um comando central, de nível hierárquico superior ao dos procuradores do Paraná.
Em qualquer hipótese se abre um enorme flanco na armadura institucional do Ministério Público. Quando o modelo de atuação torna o país refém de um juiz de 1a instância armado por procuradores regionais beligerantes, há algo de errado na história.
Para entender o jogo, vamos relembrar o histórico da perseguição a Lula.
A perseguição a Lula
As declarações reiteradas dos procuradores – que investigam fatos e não pessoas – foram desmentidas cabalmente pela última operação.
A perseguição a Lula pela Lava Jato começou em março do ano passado, em cima das investigações da Bancoop pelo Ministério Público Estadual (MPE).
O site Jota contou em detalhes essa história, em reportagem de Laura Diniz (http://migre.me/tbiZP).
Em março de 2015 o promotor José Carlos Blat, do MPE paulista, foi procurado por integrantes da Força Tarefa da Lava Jato, para compartilhar informações. Em maio teriam surgido fatos novos em relação à Bancoop, OAS e o prédio de Guarujá. Blat comunicou à juíza Cristina Ribeiro Leite Costa, da 5a Vara Criminal da Capital. Em despacho de 10 de junho, a juíza informou que novas informações deveriam ser investigadas em separado.
Resolveu-se rapidamente o problema através de um artifício, uma Representação Criminal combinada com três escritórios de advocacia que já atuavam no caso Bancoop, dirigidas diretamente ao procurador – atropelando o conceito de promotor natural, aquele designado por sorteio..
Com o estratagema, o tríplex entrou na Lava Jato, diz a matéria. E “caídas literalmente do céu”, segundo a reportagem, as informações sobre a offshore Murray e a Mossak Fonseca, que serviram de pretexto para a Operação Triplo X.
Caíram do céu da mesma maneira que as informações iniciais sobre a Petrobras caindo no colo do juiz Moro.
Na mesma época, um obscuro deputado federal do PSDB do Acre pega matéria de Veja, que falava do sítio de Atibaia, com informações erradas – atribuindo as obras à OAS – e fez uma representação ao MPE paulista. O MPE recusou e encaminhou a representação para a Procuradoria Geral da República. No dia 15 de julho, o próprio PGR Rodrigo Janot encaminhou a Curitiba, abrindo o segundo duto de bombas contra Lula (http://migre.me/tbj0y).
Na nova etapa, a primeira investida foi sobre a Mossak Fonseca. A Força Tarefa invadiu os escritórios, deteve funcionários, recolheu computadores e e-mails. Pouco depois vazou a informação das ligações da Murray com a casa atribuída à família Marinho em Parati. Imediatamente a operação Mossak sumiu dos noticiários, os detidos foram imediatamente liberados, contradizendo todo o padrão da operação até então, demonstrando que a Lava Jato não investigava fatos, mas pessoas. Aliás, algumas pessoas.
A perseguição a Lula ficou mais nítida no dia 2 de fevereiro, por volta das 18 horas, quando quatro procuradores da Força Tarefa foram à casa do trabalhador Edivaldo Pereira Vieira.  Eram eles, Athayde Ribeiro Costa, Roberto Henrique Pozzobon, Januario Paludo e Júlio Noronha.
Não tinham mandado, intimação, apenas suas carteiras de promotores e o autoconferido poder de investigar. Pressionaram, constrangeram e intimidaram Edivaldo, um sexagenário humilde, porque era irmão de Élcio Pereira Vieira, caseiro do Sítio Santa Bárbara – levado em condução coercitiva na 24afase da Operação. Ao final dessa típica batida policial, os procuradores deixaram um telefone de Curitiba, para o caso de sua presa decidir “colaborar”.
Finalmente, com a operação de sexta, se valeram do estratagema de envolver esposa e filhos de Lula, visando derrubar emocionalmente o adversário
No decorrer de todo o ano, os vazamentos da Lava Jato, planejados pelos Procuradores da República e Delegados Federais, lançaram no ar toda sorte de factoides.
Qualquer suspeita, por mais ridícula que fosse, era transformada em sentença condenatória, misturando fatos relevantes com bobagens monumentais. Essa mistura ajudou a alimentar dois sentimentos conflitantes. Nos especialistas, a convicção de que a Lava Jato perseguia pessoas, depois ia atrás de qualquer fato que incriminasse o alvo. Nos leigos a certeza de que havia um ladrão de galinhas no Planalto, pois até suspeitas de desaparecimento de estátuas e adagas foram ventilada pelo escoadouro montado na Lava Jato.
E aí alguns fatos incômodos começam a invadir o raciocínio. Toda a estratégia de mídia foi montada em Brasília, pela própria Procuradoria Geral da República, assim como o reforço da Força Tarefa e a ênfase na cooperação internacional.
Seria Janot responsável direto por todos esses absurdos, ou meramente abriu a porteira e perdeu o controle da boiada?
Vamos avançar no nosso quebra-cabeça, sem nenhum juízo de valor definitivo.
A Primavera brasileira no início de tudo
O ponto de partida foram as manifestações de junho de 2013, que deixaram claro que o Brasil estava preparado para a sua “Primavera”, a exemplo das que ocorreram nos países árabes e do leste europeu. Essa possibilidade alertou organismos de outros países, como o próprio FBI e acendeu alerta na Cooperação Internacional – a organização informal de procuradores e polícias federais de vários países, que se articularam a partir de 2002 para combate ao crime organizado.
Evidência: informação me foi confirmada por Jamil Chade, correspondente do Estadão em Genebra, para explicar porque o FBI decidiu só agora investir contra a FIFA. As manifestações teriam comprovado que a opinião pública brasileira estaria suficientemente madura para apoiar ações anticorrupção – e de interesse geopolítico dos EUA, claro.
Atenção – não significa que as primeiras manifestações foram articuladas de fora para dentro. O início foi de um grupo acima de qualquer suspeita, o MPL (Movimento Passe Livre). Foi a surpreendente adesão de todos os setores, da classe média à extrema esquerda que mostrou que a sede de participação, trazida pelas redes sociais, havia transbordado para as ruas. As manipulações das manifestações passam a ocorrer mais tarde devido à absoluta insensibilidade do governo Dilma e do proprio PT em entender o momento.
É a partir daí que, em contato com a cooperação internacional, começam a ser planejadas as duas grandes operações mundiais anticorrupção do momento: a Lava Jato, que visaria desmontar a quadrilha que se apossou da Petrobras e a do FBI contra quadrilha que se apossou da FIFA e da CBF.
Houve movimentos internos relevantes que antecederam o início do jogo. No bojo das manifestações de 2013 ficou nítida a parceria da Globo com o MPF.
Evidência – Do nada começaram a pipocar cartazes pedindo a derrubada da PEC 37 – que proibia procuradores de realizar investigações por conta própria. Os veículos da Globo passaram a dar cobertura exaustiva à campanha, ajudando na derrubada da PEC. Matérias no Jornal Nacional (http://migre.me/tbj1a http://migre.me/tbj1I) conferindo dimensão nacional ao movimento. E propondo não apenas derrubar a PEC, como aprovar nova PEC que garantisse explicitamente o poder do MP de investigar (http://mcaf.ee/auivz5).
No mesmo mês de junho de 2013 surge outro fato revelador: o vazamento de informações da NSA (Agência de Segurança Nacional) pelo ex-técnico Edward Snowden.
Na primeira semana, foram vazados documentos de casos internos de espionagem. Depois, a espionagem sobre outros países. Na enxurrada de documentos vazados, fica-se sabendo que a NSA espionava preferencialmente a Petrobras.
De repente, um juiz de 1a instância em Curitiba, Sérgio Moro, tendo como fonte de informação apenas um doleiro, Alberto Yousseff, tem acesso a um enorme volume de informações sobre a Petrobras e consegue nacionalizar um processo regional.
Até hoje a Lava Jato não revelou como chegou às primeiras informações sobre a Petrobras, que permitiram expandir a operação para todo o país.
O que se viu, dali em diante, foram dois dutos de informação montados entre o MPF brasileiro e a cooperação Internacional: o duto da Lava Jato e o duto da FIFA. Pelo duto da Lava Jato vieram informações centrais para o desmantelamento da quadrilha da Petrobras. Já o duto da FIFA ficou obstruído. As informações de lá para cá esbarraram em uma mera juíza de 1a instância do Rio de Janeiro e até hoje não foram destravadas. E as informações daqui para lá não fluíram. Por todas as informações levantadas em Genebra, a Globo era peça central do esquema FIFA-CBF.
Depois disso, a cooperação internacional torna-se instrumento central nas investigações da Lava Jato. Mas nas investigações da FIFA, o braço brasileiro da cooperação internacional falha. A Globo está sendo poupada.
Evidência – A entrevista de Jamil Chade (http://migre.me/tbj35)informa o desagrado do FBI com a demora do MPF em atender às suas solicitações sobre a Globo. Diz ele: “Um dos únicos países que não colabora nesse caso (é o Brasil), ironia total. O craque que montou é brasileiro e parte fundamental atuação foi dos dirigentes brasileiros. O Departamento de Justiça já deixou muito claro ao Brasil que estava muito incomodado com essa falta de colaboração”.
A estratégia midiática da Lava Jato
Um levantamento sobre as intervenções norte-americanas nas Primaveras que sacudiram o Oriente Médio, mostra que todas elas vieram acompanhadas de uma estratégia de comunicação através das redes sociais. E com foco na corrupção e na defesa da democracia.
A Lava Jato foi montada seguindo todo o receituário das Primaveras. Receita pronta, ou recolhida de algum manual ou aulas particulares com especialistas.
1.    Acesso a informações críticas sobre a quadrilha que atuava na Petrobras.
2.    Identificação de algum inquérito regional que pudesse ser nacionalizado. Não havia nenhum melhor que Sérgio Moro, testado na AP 470 – como assessor da Ministra Rosa Weber – tendo atuado no caso Banestado.
3.    Montagem imediata de um aparato de comunicação, contratando assessorias especiais, montando hotsites de maneira a potencializar as denúncias de corrupção. O que foi feito pela Procuradoria Geral da República.,
Outro know-how adquirido foi o da criação de personagens para atuar como polos nas batalhas pelas redes sociais.
Nas eleições de 2010, com seus consultores estrangeiros a campanha de Serra registrou pela primeira vez o uso científico das redes sociais. Criavam perfis fakes, capazes de galvanizar ilhas de influência no Twitter. Havia o jovem curitibano de vinte anos, vítima de uma doença fatal; o músico negro da periferia de São Paulo, capaz das maiores baixarias (aliás, o fato de conferir esse perfil a um músico e negro é indicativo do jogo conservador).
Na Lava Jato, investiram em duas imagens reais. Numa ponta, a imagem evangelizadora de rapaz do bem, o procurador Deltan Dallagnol; na outra, do homem mau, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, uma imagem tão marcadamente detestável que, infelizmente, será a imagem do MPF durante bons anos para grande parte da opinião pública.
Obviamente, não me refiro ao procurador, que nem conheço, mas à imagem propagada. O MPF não tem mais a cara dos procuradores que ajudaram a institucionalizar direitos sociais, democracia, direitos das minorias, a punir os crimes da ditadura. É de Carlos Fernando e seu olhar rútilo, de matador, a nova cara do MPF.
Nas redes sociais e movimentações de rua surgem, da noite para o dia, movimentos como o “Movimento Brasil Livre” e “Estudantes Pela Liberdade”. Constatou-se, com o tempo, que eram financiados pelo Charles Kock Institute, ONG de dois irmãos, Charles e David, herdeiros donos de uma das maiores fortunas dos Estados Unidos.
Os Kock ficaram conhecidos por financiar ONGs de ultradireita visando interferir na política norte-americana (http://migre.me/tbj3w). E tem obviamente ambições de ampliar seu império petrolífero explorando outras bacias fora dos EUA.
Para selar de vez a parceria com a cooperação internacional, o próprio PGR Rodrigo Janot foi aos Estados Unidos comandando uma equipe da Lava Jato para dois eventos controversos.
O primeiro, levar informações da Petrobras para possíveis processos conduzidos pelo Departamento de Justiça contra a estatal brasileira. O segundo trazer de lá informações que explodiram na Eletronuclear, depois de encontro com advogado do Departamento de Justiça ligada a escritório de advocacia que atende o segmento nuclear por lá.
A geopolítica da cooperação internacional
Desde os anos 70, a parceria com ditaduras militares mostrou-se inconveniente para a diplomacia norte-americana. De um lado, pela dificuldade em justifica-la perante a opinião pública liberal norte-americana. De outro, pelo fato dos governos militares terem nítido cunho nacionalista – como se viu com o governo Geisel, no Brasil, ou a ditadura militar argentina deflagrando a guerra das Malvinas.
Gradativamente, a diplomacia e as instituições norte-americana foram mudando o eixo, aproximando-se dos sistemas judiciários nacionais, das polícias federais, de procuradores e estimulando ONGs, especialmente aquelas voltadas para a defesa do meio-ambiente. A internacionalização da Justiça tornou-se um fator legitimador, para fortalecer outro polo de influência nos sistemas nacionais, acima dos partidos e do Congresso.
Tornou-se conhecido o modelo de desestabilização no Oriente Médio com as diversas primaveras nacionais. Insuflava-se a classe média com denúncias de corrupção. Seguiam-se as manifestações de rua que, devido ao clima de catarse criado, descambavam para a violência. Depois, a intervenção de alguma força visando trazer a ordem e implantar a democracia. Foi assim nas ações desastrosas no Iraque, Afeganistão e Líbia – conforme explicou o professor Moniz Bandeira em longa entrevista concedida esta manhã ao GGN. Em todos esses casos, desmontou-se um regime autoritário e deixou-se como herança o caos, a destruição de nações e regimes muito mais restritivos dos direitos individuais, quase todos marcadamente conservadores nos hábitos morais.
O problema está no lado oficial da história. E aí entra o papel da cooperação internacional na nova geopolítica do poder.
Desde a viagem de Janot aos Estados Unidos começamos a desconfiar  que os EUA estavam se valendo dessa cooperação para impor suas estratégias geopolíticas.
A Lava Jato não pode mais ser vista como uma operação de investigação isolada. Ela é tudo o que gerou de forma associada, e teve a ajuda central de organismos internacionais – caso contrário jamais teria chegado às quadrilhas que operavam na Petrobras.
Ambos –operadores da Lava Jato e do Congresso – estão umbilicalmente ligados. No plano econômico e social, a contraparte da Lava Jato é a flexibilização da Lei do Petróleo e dos gastos sociais, acabando de vez com o legado social dos últimos governos.
Evidências – as operações de impacto da Lava Jato sempre caíram como uma luva, sincronizadas com as estratégias de impeachment seja no Congresso seja em dobradinha com Gilmar Mendes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Toda a pressão em cima de Dilma têm, do lado político-econômico, a intenção precípua de obter concessões nas áreas de petróleo e de gastos sociais.
No plano social, a Lava Jato conseguiu despertar a comoção popular, o afloramento de uma ideologia da classe média, ultraconservadora e intolerante, muito longe da vitalidade juvenil do MPL. No plano econômico, além da flexibilização da lei do pré-sal e do fim dos gastos sociais obrigatórios, ganhou corpo a criminalização das estratégias de desenvolvimento autóctone – como o avanço diplomático na África e o financiamento às exportações, as políticas de conteúdo nacional (que podem ser liquidadas com o fim da Lei do pré-sal.
Ou seja, não dá para desvencilhar a Lava Jato de todo esse leque de princípios ultraconservadores e ultraliberais. Fazem parte do mesmo pacote político.
Na falta de estudos mais apurados sobre o tema, alguns comentaristas julgaram estar frente a uma dessas teorias conspiratórias que povoa o universo das redes sociais.
No Brasilianas de ontem, o professor Luiz Felipe de Alencastro (recém aposentado da Universidade de Sorbonne) informou que nas últimas semanas, o tema ganhou repercussão nos círculos acadêmicos internacionais.
Em breve, a Lava Jato deixará de ser estudada meramente como uma imensa operação anticorrupção para se transformar em um case sobre as estratégias geopolíticas norte-americanas na era das redes sociais, da globalização e da alta tecnologia.
O presidencialismo de coalizão do MPF
E aí se entram nas questões internas do Ministério Público Federal.
Trata-se de uma organização admirável que, desde a Constituição de 1988, foi protagonista de inúmeros avanços civilizatórios no país.
Com o tempo, algumas de suas maiores virtudes – como a independência de cada procurador – transformaram-se em alguns dos seus maiores problemas. A sucessão de representações contra Lula, partindo de todos os cantos, mostra que, hoje em dia, qualquer procurador que queira participar do jogo político basta pegar um factoide qualquer e transformar em representação, valendo-se do poder que lhe foi conferido pela Constituição. E nada acontecerá com ele, sequer o repúdio dos colegas.
Os procuradores se organizam em grupos, de acordo com suas convicções e áreas de atuação. Há desde grupos envolvidos com direitos humanos até os que atuam na área criminal. E há, também, uma enorme gana de protagonismo político por parte de alguns grupos, de participar de cargos executivos, a exemplo de colegas de MPs estaduais.
Quando Lula sancionou a eleição direta para escolha do PGR, abriu a caixa de Pandora. Os candidatos são indicados pela ANPR (Associação Nacional de Procuradores da República) – que representa apenas uma classe de procuradores e é uma associação sindical, de defesa dos interesses corporativos da classe. Não participam os procuradores estaduais, os dos Tribunais de Contas, os militares.
Recentemente, o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) avançou na questão de permitir que procuradores ocupem cargos no Executivo – hipótese vedada pelo STF.
Na própria campanha eleitoral, os candidatos a PGR vão firmando acordos políticos capazes de viabilizar sua eleição. E, com isso, diluindo poder e capacidade de intervir em abusos.
Em Brasília, há integrantes isentos do Judiciário que defendem Janot, consideram-no uma pessoa equilibrada e responsável. Sustentam que ele perdeu o controle da situação. Ou seja, abriu a caixa de Pandora quando estimulou o vazamento da Lava Jato e agora não conseguiria controlar sua tropa.
Mas há um conjunto de atos e omissões inexplicáveis:
1.    A visita aos EUA levando informações da Petrobras e trazendo da Eletronorte.
2.    A blindagem ao senador Aécio Neves. Na única vez que conversei com Janot ele assegurou que até abril (do ano passado) daria parecer no inquérito que investiga contas de Aécio em Liechtenstein. Não só não desengavetou como desqualificou três delações sobre ele.
3.    A incapacidade de conduzir um inquérito sequer sobre as Organizações Globo.
Será possível que, com a enorme capacidade jurídica acumulada entre seus procuradores mais velhos, com as inúmeras referências de direitos humanos, cidadania, responsabilidade para com o Estado brasileiro, o Ministério Público Federal tenha se transformado em uma corporação dominada pelo sindicalismo?
É a última incógnita desses tempos turbulentos. Todas as demais peças já foram devidamente encaixadas.

Capitalismo em crise e o declínio do trabalho

no Outras Palavras


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“Quando os postos de trabalho na indústria eram eliminados, podiam ser substituídos por postos de “colarinho branco”. Mas hoje, se estes desaparecerem, onde serão criados os novos empregos?”

Wallerstein analisa: revolução robótica, capturada pela ideologia do “mercado”, ameaça destruir empregos em massa. Até FMI alarma-se. Mas sistema já parece incapaz de se corrigir
Por Immanuel Wallerstein | Tradução: Antonio Martins
A ideologia neoliberal dominou o discurso político, em termos globais, nos primeiros quinze anos do século. O mantra era: a única política viável para os governos e movimentos sociais era dar prioridade para algo chamado “o mercado”. A resistência a esta crença tornou-se mínima, porque mesmo os partidos e movimentos que se consideravam de esquerda – ou ao menos à esquerda do centro – abandonaram sua ênfase traducional em medidas de Bem-estar Social e aceitaram a validade desta posição, orientada pra o mercado. Argumentavam que só era possível, quando muito, amenizar seu impacto, mantendo uma pequena parte das redes de segurança históricas que os Estados haviam construído ao longo de mais de 150 anos.
As políticas resultantes reduziram radicalmente a tributação sobre os setores mais ricos da população. Ao fazê-lo, elevaram o abismo entre os muito endinheirados e os demais. As empresas – em especial as maiores – puderam ampliar seus lucros reduzindo o número de empregos ou movendo-os para o exterior.
A justificativa oferecida pelos proponentes era a que esta política iria, ao longo do tempo, recriar os empregos que haviam sido perdidos; e que o valor adicional criado, ao se permitir que o “mercado” prevalecesse, acabaria se espalhando de algum modo pela sociedade. É claro que, para permitir a prevalência do mercado foi necessária muita ação política nos Estados. O chamado “mercado” nunca foi uma força independente da política. Mas esta verdade elementar foi solenemente ignorada ou, quando debatida, ferozmente negada.
Tudo isso terminou? Existe de fato o que um artigo recente no Le Monde chamou de um “tímido” retorno das instituições doestablishment às preocupações com demanda sustentada? Há ao menos dois sinais neste sentido, ambos de efeito considerável. O Fundo Monetário Internacional (FMI) é, há muito, o pilar mais forte da ideologia neoliberal, impondo seus requisitos a todos os governos que lhe pedem empréstimos. No entanto, num memorando lançado em 24 de fevereiro, o FMI tornou públicas suas preocupações sobre como a demanda mundial tornou-se anêmica. Ele exortou os ministros das Finanças do G-20 a deixar as políticas monetaristas e estimular os investimentos – em vez da poupança –, para sustentar a demanda por meio da criação de empregos. Foi quase um giro de 180 graus.
Mais ou menos ao mesmo tempo (em 18 de fevereiro), a Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (OCDE), um segundo grande pilar da ideologia neoliberal, lançou um memorando anunciando um giro semelhante. Afirmou que era urgente promover “coletivamente” ações que sustentassem a demanda global.
Minha questão é: a realidade está se insinuando? Parece que sim, embora apenas timidamente. O fato é que, em todo o mundo, o “crescimento” prometido, na forma de produção com maior valor agregado, jamais ocorreu. É claro que o declínio é desigual. A China continua crescendo – num ritmo bem mais lento, que ameaça conduzir a um declínio ainda maior. Os Estados Unidos ainda parecem estar “crescendo”, em grande medida porque o dólar ainda parece ser, em termos relativos, o lugar mais seguro onde os governos e os muito ricos podem deixar seu dinheiro. Mas a deflação parece ter se tornando a realidade dominante na maior parte da Europa e das chamadas “economias emergentes” do Sul global.
Estamos agora num jogo de espera. As tímidas mudanças recomendadas pelo FMI e OCDE enfrentam a realidade de uma demanda global declinante? O dólar será capaz de resistir à perda crescente de confiança em sua capacidade de ser um repositório estável de valor? Ou estamos transitando para uma nova, e muito mais severa, mudança no chamado “mercado”, com todas as consequências políticas decorrentes?
A queda da demanda global é a consequência direta da queda do emprego global. Nos útimos 200, ou tavez 500 anos, sempre que uma mudança tecnológica eliminou empregos em algum setor produtivo, houve resistência por parte dos trabalhadores afetados. Os que resistiam envolviam-se nas chamada reivindicações “ludistas”, para manter as tecnologias anteriores.
Do ponto de vista político, a resistência ludista foi sempre um fracasso. As forças do establishment sempre disseram que novos empregos seriam criados para substituir os perdidos, e que haveria um crescimento renovado. Estavam certas. Novos empregos foram de fato criados – mas não entre os trabalhadores industriais. Surgiram entre as profissões ligadas aos serviços, de “colarinho branco”. Em consequência, a longo prazo, a economia mundial presenciou uma redução dos empregos industriais e uma significativa elevação no percentual dos trabalhadores de “colarinho branco”.
Aceitou-se sempre que os empregos de “colarinho branco” não estavam sujeitos a ser eliminados. Presumia-se que, por requerem interação entre seres humanos, não haveria máquinas capazes de substituir trabalhadores em carne e osso. Não é mais assim.
Um grande avanço tecnológico permite agora que as máquinas envolvam-se em cálculos de imensos volumes de dados, uma função antes exercida, por exemplo, por consultores financeiros de base. As novas máquinas já podem processar dados que um indivíduo levaria várias vidas para calcular. O resultado é que tais máquinas já começaram a eliminar os postos destes trabalhadores de colarinho branco. É verdade que isso ainda não afeta os postos de alto nível ou as posições de supervisão. Mas é possível enxergar para onde sopra o vento.
Antes, quando os postos de trabalho na indústria eram eliminados ou reduzidos, podiam ser substituídos por postos de colarinho branco. Mas hoje, se as posições de colarinho branco desaparecerem, onde serão criados os novos empregos? E se não forem criados, o efeito geral será reduzir severamente a demanda efetiva.
Contudo, a demanda efetiva é uma condição sine qua non para o capitalismo, enquanto sistema histórico. Sem demanda efetiva, não pode haver acumulação de capital. Esta é a realidade que parece estar se insinuando. Por isso, não surpreende que as preocupações emerjam. Não é provável, porém, que as “tímidas” tentativas para lidar com esta nova realidade possam fazer qualquer diferença real. A crise estrutural do sistema está aflorando abertamente. A grande questão não é como repará-lo – mas o que irá substituí-lo.

Immanuel Wallerstein

Immanuel Wallerstein é um dos intelectuais de maior projeção internacional na atualidade. Seus estudos e análises abrangem temas sociólogicos, históricos, políticos, econômicos e das relações internacionais. É professor na Universidade de Yale e autor de dezenas de livros. Mantém um site onde publica seus textos (http://www.iwallerstein.com/).

terça-feira, 8 de março de 2016

Conheça o documentário estonteante sobre a Lista de Furnas

por José Gilbert Arruda Martins

Uma justiça seletiva, com dois pesos e duas medidas atrapalha a democracia. Conheça aqui detalhes do esquema de corrupção em uma das maiores empresas de energia do planeta.

furnas2 
2a. parte da Lista de Furnas

A sociedade clama para que a corrupção seja de fato combatida, mas a luta contra esse perverso mal, não pode esconder instituições, partidos e pessoas, todos devem ser investigados. O povo quer saber: Por que só o PT e não o PSDB? Por que só Lula e não o Aécio?

Documentário "A Lista de Furnas"

A lista de suspeitos e de denúncias do PSDB e DEM já feitas aos órgãos instituídos, é vasta. Tanto a Procuradoria Geral da República como o Supremo Tribunal Federal e o Ministério Público conhecem os suspeitos e as denúncias, por que não investigam?


O documentário "A Lista de Furnas" é esclarecedor. Mostra de forma contundente e objetiva, sem as artimanhas da manipulação, como um grupo de políticos e indivíduos, organizados e liderados pelo senador do PSDB de Minas Gerais Aécio Neves, usaram dinheiro de uma das maiores empresas de energia do mundo para proveito próprio e de campanhas eleitorais.

O documentário mostra também a perseguição e prisões ilegais em Minas Gerais, táticas que só os regimes mais autoritários já tinham usados. Por exemplo a prisão a um jornalista que denunciava o esquema de Furnas, ele, sem nenhum motivo foi preso e mantido durante todo o período das eleições de 2014 encarcerado, incomunicável, e como é doente, quase morre na prisão.

Não se constrói um país selecionando quem deve ser punido. Todos aqueles que erraram precisam pagar. 

Não se constrói uma democracia perseguindo, prendendo e atacando pessoas sem o devido processo legal. Está na Constituição, desrespeitar esse princípio de que as pessoas são inocentes até prova em contrário, é atitude altamente temerária.

O que a sociedade defende é justiça igual para todos, investigação para todos. Não importa o partido.

1a. parte da lista de Furnas

A lista é grande, conheça na internet, no endereço https://www.google.com.br/search?q=imagem+da+lista+de+Furnas&espv=2&biw=1280&bih=643&site=webhp&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKEwi8kq3sgLHLAhVEUZAKHToVDNQQsAQIGw#imgrc=Vmnm-xhpyl9jpM%3A.

Você que deseja acabar ou diminuir a corrupção no Brasil, precisa divulgar.

Violência doméstica mata cinco mulheres por hora diariamente em todo o mundo

no Áfricas

Heloisa Cristaldo – Repórter da Agência Brasil
A violência doméstica é responsável pela morte de cinco mulheres por hora no mundo, mostra a organização não governamental (ONG) Action Aid. A informação é resultado de análise do estudo global de crimes das Nações Unidas e indica um número estimado de 119 mulheres assassinadas diariamente por um parceiro ou parente.
A ActionAid prevê que mais de 500 mil mulheres serão mortas por seus parceiros ou familiares até 2030. O documento faz um apelo a governos, doadores e à comunidade internacional para que se unam a fim de dar prioridade a ações que preservem os diretos das mulheres. O estudo considera dados levantados em 70 países e revela que, apesar de diversas campanhas pelo mundo, a violência ou a ameaça dela ainda é uma realidade diária para milhões de mulheres.
“A intenção do relatório é fazer um levantamento sobre as diversas formas de violência que a mulher sofre no mundo. Na África, por exemplo, temos países que até hoje têm práticas de mutilação genital. Aqui, na América Latina, o Brasil é o quinto país em violência contra as mulheres. Segundo dados do Instituto Avon, três em cada cinco mulheres já sofreram violência nos relacionamentos em nosso país”, informa a assistente do programa de direitos das mulheres da Action Aid Brasil, Jéssica Barbosa.
O relatório considera as diferenças regionais entre os países e, além disso, observa o universo de denúncias subnotificadas, de mulheres que sofrem assédio, estupro ou outros tipos de violência e têm vergonha de denunciar.
“A forma de contar é sempre muito difícil, existe uma cultura de silenciar a violência contra a mulher. É a cultura da naturalização, onde há um investimento social para naturalizar a violência contra a mulher com o que se ouve na música, nas novelas, na rua. Tudo isso é muito banalizado e a mulher se questiona: ‘será que o que aconteceu comigo foi uma violência? Será que se eu denunciar vão acreditar em mim?”, diz Jéssica Barbosa.
No Brasil, a organização promove a campanha Cidade Segura para as Mulheres, que busca o compromisso do Poder Público com uma cidade justa e igualitária para todos os gêneros.
“Muitas mulheres não conseguem exercer seu direito de ir e vir. A cidade não foi pensada para as mulheres, os becos são muito estreitos e escuros no Brasil. É necessário que haja o empoderamento das mulheres para superar a situação de violência. Por mais que o Estado tenha a obrigação de garantir instrumentos, é preciso que a gente invista na autonomia dessas mulheres”, acrescenta Jéssica.
Edição: Graça Adjuto


'Não se combate corrupção corrompendo a Constituição', diz associação de juízes

na Rede Brasil Atual

Entidade que reúne magistrados de todos os segmentos do Judiciário critica shows midiáticos promovidos em cumprimento de ordens de prisão e de condução coercitiva, no âmbito da Lava Jato

por Hylda Cavalcanti, da RBA

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Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato no MP, lançando as "10 Medidas Contra a Corrupção"

Brasília – Com o título “Não se combate corrupção corrompendo a Constituição”, a Associação dos Juízes para a Democracia (AJD), formada por magistrados de todos os segmentos do Judiciário, divulgou nota hoje (7) destacando que "ilegalidade não se combate com ilegalidade e, em consequência, a defesa do Estado democrático de direito não pode se dar às custas dos direitos e garantias fundamentais".
A entidade não cita diretamente a condução coercitiva à qual foi submetido, na última sexta-feira (4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas faz várias críticas à Operação Lava Jato e enfatiza que “não se pode concordar com os shows midiáticos, promovidos em cumprimentos de ordens de prisão e de condução coercitiva” no âmbito da operação.
A AJD também afirma que foi graças à gradativa superação do regime ditatorial instaurado pelo golpe de Estado de 1964 que ficou revelada à sociedade a prática de diversos atos de corrupção, “antes ocultos em favor dos detentores do poder político ou econômico, levados a efeito por corporações e agente estatais, independente de partidos políticos e das ideologias vigentes brasileiros”.
E destaca que uma operação para combater a corrupção só é possível, hoje, porque o Brasil vive no ambiente democrático, no qual se respeitam a independência das instituições e a liberdade de expressão, “inclusive para que as respectivas qualidades sejam enaltecidas e os respectivos erros, apontados”.

Os magistrados da entidade ainda afirmam que o problema é que a forma como tem sido feito este combate à corrupção tem ensejado a defesa de medidas e a efetiva prática de ações não condizentes às liberdades públicas ínsitas ao regime democrático de direito. “Nesse sentido, têm-se que as chamadas  '10 Medidas Contra a Corrupção', lançadas à discussão pelo Ministério Público Federal, não se mostram adequadas à Constituição da República”, ressalta o documento.