quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

CINEMA - 'A Garota Dinamarquesa': arte, amor e identidade de gênero

na Rede Brasil Atual

Filme é baseado na história real de Lili Elbe, primeira mulher trans a passar pelos procedimentos de transição de gênero, em 1930, sempre acompanhada pela devoção de sua mulher, a pintora Gerda Weneger

por Xandra Stefanel, especial para RBA

Lili
David Ebershoff: "Lili sabia que uma vida falsa simplesmente não é vida"

O longa-metragem A Garota Dinamarquesa, dirigido por Tom Hooper, conta a história de Lili Elbe, uma mulher que nasceu em um corpo masculino e é considerada pioneira na realização de cirurgia de transição de gênero. Filme que estreia amanhã (11) nos cinemas brasileiros retrata a vida de Lili desde quando ela ainda era conhecida como Einar Mogens Weneger, um famoso artista dinamarquês casado com a pintora Gerda Weneger.
Baseado no livro homônimo de David Ebershoff (Editora Rocco, 368 págs.), o filme começa em 1926, em Copenhage, onde Einar (Eddie Redmayne) vive harmoniosamente com sua esposa Gerda (Alicia Vikander) em uma relação intensa e apaixonada. Ambos são artistas plásticos e assíduos frequentadores das festas e eventos sociais ligados à arte.
Um dia, a modelo de Gerda, a soprano Anna Fonsmark, se atrasa para uma sessão e a pintora pede um favor ao marido: que ele vista as meias de seda e os sapatos femininos para que ela possa começar a pintar e acaba colocando um vestido de festa sobre as roupas masculinas dele. O toque macio da seda e das rendas é o ponto de partida da crise de identidade de Einar no filme.
O espectador vai entender que o desconforto com o gênero sempre existiu na vida do protagonista, mas ele soube escondê-lo (até dele mesmo) para se proteger de uma sociedade preconceituosa e que ainda tratava as relações homoafetivas como crime. As roupas femininas sobre seu corpo são apenas o gatilho para o início de uma dolorida e profunda busca pela própria identidade.
No início, Gerda acha engraçado o fato de o marido sentir prazer em vestir-se de mulher. A brincadeira toma ar mais sério a partir da primeira festa em que ele vai travestido. Ele começa a vestir-se cada vez mais como Lili e acaba por assumir que sua personagem representava de fato sua verdadeira identidade: “Eu penso como Lili, sonho seus sonhos. Ela sempre esteve lá”, diz a Gerda.
Assim como o livro, o filme não é completamente fiel à realidade, por isso é considerado como obra de ficção. Mas a essência da história de Lili está nas telas: o sofrimento por não se encaixar em um corpo de homem e às regras sociais, a coragem de lutar para ser quem ela realmente era e o amor que continuou a nutrir por sua mulher, que esteve ao seu lado em todos os momentos.
Além de uma história emocionante, o longa-metragem, indicado a três categorias do Globo de Outo e ao Oscar, tem fotografia e atuações magníficas. A única questão controversa que veio à tona antes mesmo de seu lançamento foi o fato de a produção ter escolhido um artista cisgênero em vez de transgênero. “O acesso dos atores trans a papéis de trans e cisgênero é absolutamente fundamental. Mas a indústria neste momento tem um problema: existe um enorme leque de talentos de atores trans, mas o acesso deles é limitado. Eu defenderia toda e qualquer mudança na qual a indústria abraçasse e celebrasse os atores e os cineastas trans”, explicou-se Tom Hooper na época do lançamento mundial de A Garota Dinamarquesa.
Polêmica à parte, o que o autor David Ebershoff escreveu no posfácio de seu livro resume bem os questionamentos que a trajetória de Lili nos traz: “E a história de Lili Elbe é, claramente, uma história de identidade. Lili é hoje reconhecida como um ícone do movimento trans. Sua vida, tanto a que ela viveu, quanto a que ela descreveu ao se assumir em entrevistas e em Man into Woman, a biografia parcialmente ficcional que ela ajudou a escrever antes de sua morte, ampliou a compreensão do público sobre identidade de gênero na época. Desde então, ela inspirou muitos de nós, tanto trans quanto cis, a sermos nós mesmos. Lili sabia que uma vida falsa simplesmente não é vida. Quem somos nós? Quem queremos nos tornar? Como nos percebemos? Como queremos ser percebidos? Estas questões de identidade frequentemente estão no núcleo central de nossos conflitos internos. Quem consegue resolvê-las fica mais perto de estar livre. Quase um século atrás, Lili Elbe superou tais questões sobre si mesma. Ela posou para um retrato no ateliê de uma artista e disse para o mundo: – Esta sou eu.”

A Garota Dinamarquesa (filme)
Direção: 
Tom Hooper
Roteiro: David Ebershoff e Lucinda Coxon
Elenco: Eddie Redmayne, Amber Heard, Alicia Vikander
Produção: Anne Harrison, Eric Fellner e Tim Bevan
Fotografia: Danny Cohen
Classificação: 14 anos
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 119 minutos
País: Estados Unidos e Reino Unido
Ano: 2015

A Garota Dinamarquesa (livro)
Autor:
David Ebershoff
Tradução: Paulo Reis
Páginas: 368 
Editora: Rocco
Preço sugerido: R$ 34,50 e R$ 22,50 (versão eletrônica)

CONSCIÊNCIA - Livro infantil sobre povos indígenas pode entrar na grade do MEC

na Rede Brasil Atual

“Esperamos que este livro sirva ao menos para tocar as próximas gerações para um Brasil mais respeitoso”, afirma Tatiane Klein, do Instituto Socioambiental, responsável pelo projeto

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Brasil abriga 246 povos indígenas, totalizando 900 mil pessoas que falam mais de 150 línguas

São Paulo – Por meio de uma iniciativa do Instituto Socioambiental (ISA), crianças brasileiras poderão ampliar o conhecimento sobre os povos indígenas. O livro “Povos Indígenas no Brasil Mirim” carrega esta proposta, como afirma Tatiane Klein, do ISA, para a Rádio Brasil Atual. “O principal objetivo deste livro é desconstruir uma ideia genérica de que estes povos ficaram no passado e que não existem mais no Brasil contemporâneo”, afirma.
A entidade aguarda edital do Ministério da Educação (MEC) para ampla distribuição nas escolas do país. Por enquanto, é possível encontrar exemplares da obra em escolas que demonstrarem interesse espontâneo, e também nas livrarias Cultura e da Vila, além do portal da instituição: mirim.socioambiental.org.
Atualmente, o Brasil abriga 246 povos indígenas, em um total de 900 mil pessoas que falam mais de 150 línguas. A proposta do ISA, segundo Tatiane, tenta abranger o maior número de diferenças entre os povos, também analisando as similaridades. “Temos muitos textos sobre povos que vão além da Amazônia, como na região do Xingu, também índios do Amapá e os Guarani, que vivem em uma situação de vulnerabilidade importante de se mostrar para as crianças."
A situação complicada, descrita por Tatiane, revela a importância da obra, que tenta enxergar padrões que fogem dos naturalizados sobre os povos indígenas. “Temos muitos discursos sobre a miséria dos povos indígenas e tentamos valorizar situações diferentes. Apesar de estarem ameaçados por propostas do Legislativo, que oferecem várias violações de direitos, nas aldeias, as comunidades resistem e vivem de uma forma digna e feliz, ao menos tentam”, observa.
A chave de argumentação da obra está focada na desnaturalização do olhar ao indígena, muitas vezes carregados de conceitos equivocados. “Tem até textos produzidos por crianças indígenas que ajudam a quebrar preconceitos, como de que o índio não é capaz de manejar o português, ou de que eles não possuem projetos de futuro”, diz Tatiane.
Interações entre povos e mitologias também são presentes. Algumas narrativas são apresentadas, porém, chamando atenção para o fato de que essas histórias não são a única fonte de conhecimento de mundo desses povos. “Tentamos mostrar como alguns temas estão presentes nas mitologias de alguns povos das Américas. Tem comparações com mitologias Inuítes, no Canadá, sobre a descoberta do fogo, ou mesmo a criação do sol e da lua”, diz.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Viagem a Teresina no Piauí

por José Gilbert Arruda Martins

Viajar ao Nordeste é sempre um prazer, mesmo que seja por poucos dias e a estudo. Esta semana, chegamos da única capital nordestina não banhada pelo oceano atlântico, Teresina.

Estivemos na cidade por alguns dias, e, além de rever amigos, sentimos de pertinho como Teresina se desenvolveu, cresceu e hoje é parâmetro de beleza e preservação do verde para o resto do Nordeste e do País.


Teresina capital do Piauí

Começamos nossa jornada saindo de Brasília as 6h da manhã rumo a Confins em Belo Horizonte.

No aeroporto da capital mineira, resolvemos "quebrar o jejum", pedimos 1 misto, dois cafés e 1 pão de queijo, para nossa surpresa o valor de R$ 35 nos pareceu uma espécie de "espanta pobre", é isso mesmo, os aeroportos que antes recebiam apenas coxinhas, de 2003 para cá, passou a conviver com o Povo, mas a "merenda" ainda é para ricos, fizemos uma foto do lanche:

Lanche "espanta pobre" no aeroporto de Confins.

De confins para São Luis no Maranhão, começamos a rever o nosso Nordeste, na ilha do amor e do reggae, fomos recebidos com chuva e aquele clima quente e úmido que só o Meio Norte proporciona, nada de nariz seco, falta de ar, e clima de deserto.

Teresina, o destino da nossa viagem estava logo ali a 40 minutos, ficamos no interior do avião por quase 30 minutos esperando autorização, a pista estava muito molhada, depois disso partimos e às 15h30, chegamos finalmente à capital do Piauí.

Fomos acolhidos por um cara genial, velho amigo de república em Fortaleza na década de 1980, seu nome, Carlos Máximo, vice presidente do PMDB estadual, era a oportunidade de conversar sobre que caminho irá tomar o partido agora nesse início de ano.

Já na residência de nosso querido amigo, local agradável e repleto de paz, muito adequado para quem precisava estudar, o resto do dia foi para matar a saudade, falar de Fortaleza e planejar o tempo de estadia até segunda feira, dia 01 de fevereiro.

“O meu boi morreu O que será de mim Mande buscar outro, oh Morena Lá no Piauí”(Autor desconhecido)

Nos últimos seis meses visitamos o nosso Maranhão,terra natal dos nossos pais e mães, irmãos e irmãs, amigos e amigas; visitamos a linda Aracaju capital de Sergipe; João Pessoa na Paraíba, terra de grandes amigos, agora o Piauí, terra de gente boa e do inquebrantável bode.

No Brasil, o mês de fevereiro é carnaval, Teresina, para não perder uma das maiores virtudes do nordestino, a inventividade, criou o maior bloco carnavalesco do Piauí e maior passeio de carros decorados do mundo, de acordo com o Guiness World Records, o Corso, chegamos exatamente na semana do acontecimento, 30 de janeiro, não fomos, afinal tínhamos que estudar, mas nosso amigo foi e nos mandou fotos, com o registro histórico de 260 mil pessoas, numa festa incrível e grandiosa, vejam:



Cumprimos o que fora esquematizado, chegou a hora de voltar a Brasília, e encarar cerca de 2 mil quilômetros de ônibus, deixamos para trás a linda Teresina e nosso grande amigo Carlos, exatamente as 14h30 para uma viagem por dentro do sertão de quatro estados: Piauí, Bahia, Goiás e DF.

Embrenhados agora no Sertão numa viagem de estudo, descobrimento, encantamento e sofrimento, pois, além da beleza do nosso povo e da natureza exuberante do Nordeste, viajar de ônibus parando em locais pré estabelecidos pelos motoristas ou pela empresa, acaba dando um ar de aventura frustrante a partes da viagem.

As "paradas" são "pensadas" pelos motoristas para atender a eles somente, os locais são quase sempre insalubres, sujos e não adequados ao atendimento dos viajantes, como em Riachão das Neves - foto abaixo -, onde passageiros de três ônibus tiveram que disputar o banheiro e a única lanchonete, foi um desrespeito total, tivemos que chamar os responsáveis para reclamar.


Ponto de parada dos ônibus em Riachão das Neves, banheiros imundos e pequenos

Apesar da desfeita da parada em Riachão, a viagem foi interessante, muitas pessoas, uma boa conversa e, depois de 40 horas e 2 mil quilômetros, a chegada de volta a Brasília.



Fontes consultadas:

* http://www.meionorte.com/blogs/josefortes/origem-de-teresina-68077

* https://www.google.com.br/search?q=imagem+de+Teresina

* https://confiramais.com.br/corso-de-teresina/

CULTURA E CIDADANIA - Em fotos, a aventura do Mais Médicos

na Rede Brasil Atual

Distribuído para instituições e entidades ligadas a saúde pública, o livro será alvo de exposições em Genebra, Havana, São Paulo e Brasília

por Paulo Moreira Leite, do Brasil 247

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"Mais médicos" mostra um programa de governo, de caráter permanente, que chega a 63 milhões de pessoas



Com tiragem inicial de 3.000 exemplares e apresentação de Arthur Chioro, que foi ministro da Saúde entre fevereiro de 2014 e outubro de 2015, o livro "Mais Médicos" é uma obra institucional necessária. As fotografias capturadas pela câmara de Araquém Alcântara em 19 Estados registram o trabalho de 18 000 médicos em pontos extremos da sociedade brasileira. As cinco imagens que ilustram essa nota, cedidas especialmente para o 247 pelo próprio Araquém, são uma pequena amostra de um trabalho de 219 páginas.
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Vivemos num país onde a memória de episódios essenciais de nossa história social costuma ser perdida tanto pela falta de cuidado por parte dos protagonistas como pela atuação de  adversários interessados em impedir sua real compreensão. Neste contexto, o livro ajuda a enxergar uma realidade que muitas pessoas podem até imaginar mas nunca tiveram a chance de ver. Os textos que acompanham as fotos de Araquém estão longe de esgotar toda a discussão sobre um assunto tão grave e complexo como a saúde da população carente.
Mas basta recordar a mitologia e o preconceito que ilustraram a oposição de entidades médicas no lançamento do programa,  em setembro de 2013, para reconhecer a importância de um trabalho desse tipo.
Comparadas com as imagens das campanhas do Médicos Sem Fronteiras, presença periódica na TV brasileira, o trabalho de Araquém serve como um contraponto importante. Louvável pelo aspecto humanitário, a atuação do MSF apoia-se em donativos de natureza filantrópica para garantir alguma forma de atendimento a populações que habitam as regiões miseráveis do planeta. Só se pode aplaudir uma iniciativa dessa natureza.
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"Mais médicos" mostra um programa de governo, de caráter permanente, que chega a 63 milhões de pessoas. Pelo atendimento preventivo, o programa foi capaz de evitar perto de 100 000 internações hospitalares -- quando as doenças se encontram num estágio mais grave, de difícil atendimento, exigindo tratamentos mais caros, complexos e muitas vezes inacessíveis. O livro não exibe cenas de uma atividade sustentada por meritórias contribuições individuais e voluntárias,  mas uma decisão de Estado, num país onde a Constituição afirma no artigo 196 que a saúde "é um direito de todos e um dever do Estado."
4.jpgNo momento em que o programa foi lançado, 15% dos municípios brasileiros não contavam com um único médico para atender a população. Em outros 2 000 municípios, havia um médico para 3 000 pessoas -- imagine o tempo de espera para o atendimento, quando e se ele ocorria.
Numa fase inicial, foram abertas 9,500 vagas, que cresceram 80% em três anos. Com auxilio dos repórteres Marcelo Delduque e Xavier Bataburu, que se revezaram nas viagens, Araquém mostra o trabalho dessas pessoas, descrevendo o local de sua atuação e as condições de vida da população atingida.
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Distribuído para instituições e entidades ligadas a saúde pública, o livro será alvo de exposições em Genebra, Havana, São Paulo e Brasília. É possível que se faça uma segunda edição, para chegar às livrarias e ao principal interessado por esta história, o cidadão comum. Ainda não há prazo, contudo, para que isso aconteça.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

RETRATOS FALANTES - Pedagogia da cidadania. As lições dos estudantes para 2016

na Rede Brasil Atual

Ao lutar por ensino de qualidade e participação nas políticas para o setor, secundaristas paulistas fundaram uma nova relação da comunidade com a escola pública

por Cida de Oliveira, para Revista do Brasil. Fotos Luís Blanco

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Allan Farias, 16, Caetano de Campos (Aclimação). "Desculpe o incomodo, estamos lutando por uma educação de qualidade!"

Pelos planos do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o estado entraria em 2016 economizando com o fechamento de 94 escolas e demitindo professores e demais funcionários escolares. O que ele não contava é com a reação dos 300 mil estudantes que seriam diretamente afetados com a transferência compulsória para outras escolas, distantes de casa ou do local de trabalho. Tampouco poderia imaginar que tal resposta, vinda das salas de aula, ganhando ruas e avenidas, faria das escolas a mais importante trincheira na luta que já não era mais contra a reorganização, mas pelo ensino público de qualidade. Ou que os alunos teriam entre os aliados pais, professores, trabalhadores, artistas e intelectuais nacionais e estrangeiros. Até mesmo de pessoas comuns, que mesmo distantes das lutas pelos seus direitos justamente pela baixa escolaridade, sabem que escola não se fecha.
Alckmin foi pego de surpresa também numa noite do início de novembro, quando alunos ocuparam a Escola Estadual Cefam Diadema, no município de mesmo nome, na região do ABC. E novamente na manhã seguinte, quando a Fernão Dias Paes, em Pinheiros, na capital, foi ocupada. Por causa da tensão, o fechamento de ruas laterais, a presença da Tropa de Choque da Polícia Militar e o cordão de isolamento formado por soldados sem identificação na farda aumentaram o medo de que a qualquer momento os policiais armados invadiriam a Fernão com a violência empregada em reintegrações de posse determinadas pela Justiça tucana. Foi o gatilho que desencadeou outras ocupações.
O movimento cresceu apesar da repressão policial e das tentativas de se jogar a sociedade contra o movimento, como ataques de pessoas estranhas a escolas ocupadas para responsabilizar os alunos, artimanha que contou com aval da mídia. Mas, no final, o governo do estado também perdeu na Justiça e ainda viu cair seu secretário da Educação, Herman Voorwald.
LUIS BLANCO
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Enquanto Alckmin adotava a pedagogia da repressão, cada vez mais alunos trocavam a preocupação com provas, exames, vestibulares e vida pessoal pela defesa da escola. Pintavam muros e paredes, carpiam o mato, cuidavam de jardins, desentupiam canos, lavavam banheiros, cozinhavam e realizavam atividades culturais e artísticas, como jamais visto antes naqueles espaços. Não demoraram para perceber que aprendiam, na prática, sobre cidadania, direitos humanos, política, organização, convivência.
Tudo era pretexto de aprendizado e amadurecimento, inclusive o enfrentamento às ameaças e intimidações de policiais que rodeavam as escolas à noite ou pulavam muros, com armas na mão, chamando adolescentes de 15, 16 anos de idade para “uma conversa de homem para homem” do lado de fora, como aconteceu em uma escola na Brasilândia, zona norte da capital. Ou como em Perus, na zona noroeste, quando alunos foram levados para um batalhão da PM, onde foram agredidos física e psicologicamente. A lição, da polícia, era desencorajar novas ocupações.
LUIS BLANCO
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Larissa Cardenas, 15, escola Caetano de Campos (Aclimação). "Educação 
é importante no papel, não na prática"
Em 4 de dezembro, quando havia 213 ocupações, maior número alcançado no movimento, também ocorriam prisões, a violência policial crescia e a aprovação do governo Alckmin caiu para 28%, o jeito foi suspender a reorganização. Na tentativa de recuperar sua imagem, que não havia sido desgastada nem com a crise hídrica, ele prometeu realizar audiências públicas ao longo deste ano.
O tempo vai mostrar se o governador vai cumprir sua promessa de ano novo e as determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garantem o direito à educação, à participação na discussão de políticas públicas e também à livre manifestação. A certeza é que ficaram muitas lições.
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Aprendizado
Professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), filósofo e pedagogo, Dermeval Saviani havia acabado de chegar de Manaus quando soube da ocupação da Escola Estadual Carlos Gomes, no centro de Campinas, no final de novembro. “Fui lá conversar com os alunos e percebi a seriedade deles, a capacidade de visão da importância da educação, a atenção para o risco da entrada de estranhos na escola para depredar e culpá-los”, conta.
Segundo Saviani, por meio das ocupações, os estudantes ensinaram que o movimento em defesa da educação não é apenas dos professores e estudantes universitários. Mas também dos alunos da educação básica. “É importante que eles participem e se mantenham mobilizados”, defende.
“A participação do conjunto da comunidade na vida da escola, com os estudantes participando das decisões, é essencial à qualidade da educação, que por sua vez é essencial para a democratização do conhecimento para toda a sociedade”, diz o filósofo, autor de Escola e Democracia (Cortez Editora). Principal reivindicação na luta pela democratização do ensino nos anos 1970 e 1980, a participação de professores e alunos na gestão da escola e no projeto político-pedagógico acabou contemplada pela LDB. No entanto, a participação, de fato, está ameaçada pela falta de políticas que garantam mais tempo para a preparação das aulas, turmas menos numerosas e o fim da chamada meritocracia, baseada em resultados de testes e avaliações, que agrava as desigualdades na educação e enriquece empresas que vendem cursos e sistemas de ensino.ocupa-escola2.jpg
Brinde à democracia
Vice-coordenadora da pós-gradução em Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, a professora Branca Jurema Ponce considera o movimento um brinde à democracia que vai além da palavra, num exercício cotidiano. “É um brinde a uma nova concepção de escola, de conhecimento escolar, de currículo. O currículo escolar também é isso, tem de preparar o sujeito para a cidadania. É uma forma também de os pais, de os próprios alunos se formarem para a participação”, diz. ”Bendito seja esse movimento estudantil de jovens de 15 a 18 anos, num momento tão importante, formador. São garotos que trouxeram de volta uma esperança grande, que foi deixada de lado, e que vão levar para sempre essa reflexão.”
O advogado Thyago Cezar, de Bauru, no interior, vai além. “A lição que deram é uma das mais belas demonstrações de democracia participativa da história do Brasil, em que os alunos secundaristas se reuniram voluntariamente para lutar por pautas locais, regionais e estaduais, se mostrando valentes e coesos em seus pleitos, mesmo quando o governo com suas investidas, tentava desarticulá-los. As ocupações das escolas paulistas servem como modelo a toda a sociedade e devem ser lembradas como um grande marco social de lutas estudantis”, diz.
LUIS BLANCO
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Conforme ressalta, ainda que a pauta principal do movimento fosse atrelada a questões de educação, o período de ocupações trouxe grandes momentos de discussões políticas e sociais, servindo como um grande laboratório de cidadania. “Foi um aprendizado imensurável que acredito muito ser difícil de se repetir nos próximos anos. Acredito que esta luta entrará para a história como o caso dos meninos que derrotaram o governador, a luta do coletivo contra o grande poder.”
No começo de dezembro, o advogado protocolou medida cautelar na Corte Interamericana de Direitos Humanos, que tem sede em Washington. Na petição foram anexadas notícias de jornais, vídeos, fotografias, moções de repúdio de universidades, parecer do Ministério Público Estadual e uma análise da Universidade Federal do ABC sobre a política de reorganização. O objetivo é a análise e punição, pelos estados-membros da corte internacional, de violações aos direitos de acesso à educação e cultura, ao desenvolvimento social, psicológico e educacional, ao acesso à Justiça, à livre manifestação do pensamento e à proteção da saúde física e psicológica de crianças e adolescentes.
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Para o músico e videomaker Jimmy Bro, autor do documentário Escolas ocupadas – a verdadeira reorganização, quem reorganizou o ensino foram os alunos. “O que vi foi inspirador. Além de protestar, fizeram a verdadeira reorganização em vários sentidos. O que veio através de um problema refletiu em mudanças positivas, nas relações dos alunos com a escola, com os colegas e com a educação em si.”
Com o anúncio da suspensão da reorganização, no começo de dezembro, os estudantes fizeram assembleias e foram, aos poucos, desocupando as escolas, com atos simbólicos, num processo educativo e afetivo. Muitas foram pintadas e grafitadas, numa derradeira demonstração de apreço ao espaço público que tanto defenderam. As últimas desocupações ocorreram entre 18 e 22 de dezembro, com a garantia dos estudantes de permanente mobilização frente a manobras do governo. Em manifesto que publicaram, deixaram claro que estavam saindo das escolas, não da luta. E ressaltando que o conjunto das reivindicações não havia sido atendido, não cederiam.
“Essa escolha de maneira nenhuma significa ceder às pressões do governo do estado e das entidades burocráticas. Analisamos, porém, que as ocupações já cumpriram sua função e que é hora de mudar de tática.” Para eles, foi o fracasso de uma “reorganização dos poderosos, cujo plano maior era cobrar de trabalhadores e seus filhos o pagamento da fatura de uma crise.”
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LUIS BLANCO
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Colaborou Sarah Fernandes

Movimento fez escola em Goiás
As ocupações de 2015 não foram exclusividade de São Paulo. Em Goiás, governada pelo também tucano Marconi Perillo, os estudantes ocuparam escolas para protestar contra decreto que autoriza a contratação de organizações sociais (OSs) para a direção de 200 unidades. O primeiro a ser ocupado, em 9 de dezembro, foi o Colégio Estadual José Carlos de Almeida, na região central de Goiânia, que havia sido fechado para reforma por Perillo. Porém, justificando baixa demanda, o governador manteve a escola fechada. 

“Com as ocupações de escolas em São Paulo, enxergamos que o governador tem de dialogar com todos, independentemente de serem jovens ou não, e que a falta de diálogo acabou desgastando sua imagem em todo o mundo, sendo visto como um ditador”, avalia o estudante Gabriel Tatico, integrante da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e da União Goiana dos Estudantes Secundaristas (Uges).

De acordo com ele, os alunos paulistas ensinaram principalmente que um movimento estudantil organizado pode obter sucesso. “Houve uma vitória no momento em que o governador recuou e suspendeu a reorganização. Vai ter de dialogar. E mesmo que a reorganização vier a acontecer, já não será mais a mesma. O projeto será alterado com os debates”, diz.

“Vamos ocupar as escolas, cuidar delas e realizar atividades culturais e esportivas. Vamos defender a escola pública, exigir mais investimentos e lutar para que, quando voltarem as aulas, os professores e os diretores estejam lá. Se nada fizermos, vamos voltar e estarão lá gestores empresariais tomando conta da nossa escola.”

O duplo padrão da Polícia Federal no Helicoca e no “triplex do Lula”. Por Kiko Nogueira

no Diário do Centro do Mundo

O helicóptero dos Perrellas com 445 kg de cocaína: inocentados pela PF em 15 dias
O helicóptero dos Perrellas com 445 kg de cocaína: inocentados pela PF em 15 dias

Ninguém pode acusar a Polícia Federal de não dar show, especialmente para o público sedento de escândalos dos mesmos atores. O famoso triplex 164-A no Guarujá foi classificado pela PF como um imóvel com “alto grau de suspeita quanto à sua real titularidade”.
A delegada Erika Mialik Marena, da Lava Jato, aponta num relatório que “manobras financeiras e comerciais complexas envolvendo a empreiteira OAS, a cooperativa Bancoop e pessoas vinculadas a esta última e ao Partido dos Trabalhadores apontam que unidades do condomínio Solaris, localizado na Avenida General Monteiro de Barros, 638, em Guarujá-SP, podem ter sido repassadas a título de propina pela OAS em troca de benesses junto aos contratos da Petrobrás”.
O promotor Cássio Conserino, conhecido como “o promotor da Veja”, intimou Lula e a mulher Marisa Letícia a depor no dia 17 de fevereiro, no Fórum da Barra Funda, em São Paulo.
Para todos os efeitos, o apartamento já é de Lula. O trabalho é confirmar a suspeita e não exatamente verificar a verdade. Lula terá de esclarecer. Mas a mensagem que se quer passar adiante, entre outras, é a do “aí tem”, objetivo já plenamente alcançado.
É de se perguntar onde estava essa, digamos, fome de bola de apropriação no episódio do Helicoca. Para refrescar sua memória: no dia 24 de novembro de 2013, um helicóptero com 445 quilos de pasta base de cocaína foi apreendido numa fazenda no Espírito Santo.
A aeronave pertencia à Limeira Agropecuária, do ex-deputado estadual Gustavo Perrella, da irmã dele, Carolina Perrella, e do pai, o senador Zezé Perrella, ex-presidente do Cruzeiro e amigo de Aécio Neves.
O piloto, Rogério Almeida Antunes, era funcionário da Limeira tinha um cargo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais por indicação de Gustavo.
A droga veio do Paraguai, onde esteve quatro dias antes do flagrante. Passou pelo Campo de Marte, na capital paulista, e por Minas Gerais. A carga estava avaliada em 50 milhões de reais.
Nunca houve qualquer dúvida quanto a quem pertencia o helicóptero.
No entanto, o doutor Leonardo Damasceno, da PF de Vitória, em velocidade estonteante, inocentou os Perrellas de qualquer participação no crime. Damasceno chegou a essa conclusão em escassos 15 dias, baseado, oficialmente, nas ligações telefônicas dos celulares capturados.
Zezé Perrella não foi sequer ouvido, nem para dizer que não tem nada a ver com nada. Não houve indignação popular seletiva, não houve vazamento e a cobertura foi escassa.
Meia tonelada de coca num helicóptero de um parlamentar jamais rendeu uma declaração pública das autoridades de que havia “alto grau de suspeita” com relação ao homem.
Seja no caso do triplex na praia, seja no do sítio, seja no barco, Lula é culpado a priori — e o esforço hercúleo da Polícia Federal é juntar pontos que provem isso, eventualmente sem provar muita coisa, para que o show possa continuar.



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

FINANCIAMENTO ESTUDANTIL - Pré-selecionados do Fies devem completar inscrição entre 2 e 6

no Portal do MEC

O Ministério da Educação divulgou nesta segunda-feira, 1º de fevereiro, o resultado da pré-seleção do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Para completar a inscrição no financiamento, os pré-selecionados devem acessar o portal do programa, entre esta terça-feira, 2, e 6 de fevereiro.
Os participantes pré-selecionados deverão, entre 7 e 18 de março, prestar declaração de matrícula na instituição, no curso e turno em que realizou a inscrição. Além dos pré-selecionados, também foi divulgada a lista de espera do Fies 2016.
Nesta edição, o Fies priorizou os cursos de engenharias, com 34.557 vagas; formação de professores, com 47.115 vagas, e áreas de saúde, com 76.092 vagas. Estes foram os mais procurados. Além das áreas prioritárias, o Fies valorizou os cursos com melhores índices de qualidade (com conceitos 4 e 5).
Participaram desta edição do Fies os estudantes que tenham participado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a partir da edição de 2010 e obtido média igual ou superior a 450 pontos, além de ter tirado nota na redação que não seja zero. O candidato pôde se inscrever em um único curso e turno dentre aqueles com vagas ofertadas. Outra exigência para obtenção do benefício do Fies é comprovar renda familiar bruta de até dois salários mínimos e meio.
Acesse o portal Fies Seleção
Assessoria de Comunicação Social

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O Lula real e o espectro Lula

na Rede Brasil Atual

Imbatível nas urnas, espectro Lula tem de ser abatido nos tapetões do Judiciário. Lula, o real, vai sobreviver a seu espectro fajutado por essas tentativas canhestras de golpe

por Flavio Aguiar, de Berlim

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O espectro Lula ameaça a paz dos cemitérios que a direita brasileira sonha ser o Brasil

Dizem os psicanalistas que as nossas fantasias são sempre mais intensas do que a realidade, sobretudo quando são para o pior. Hoje no Brasil se vê a demonstração desta tese.
A velha mídia, o promotor açodado de São Paulo, o Supremo Tribunal do Paraná, que às vezes parece mais poderoso do que o STF de Brasília, todos lidam com um espectro que fabricam e ao mesmo tempo são vítimas dele: o espectro Lula, um horrível monstro, pior que Godzilla, Drácula e Darth Vader todos juntos, que suga a seiva do Brasil. Bom, é verdade que este monstro suga esta seiva para dar-se ao luxo de navegar em barquinhos de alumínio e descansar (?) em apartamentos que não comprou nem de que desfruta. Mas não importa: eles vão em frente, para impressionar a parte crendeira da classe média, aquela propensa a acreditar que estamos mergulhados num mar de lama como nunca houve no país, assim como acredita que PSDB, DEM, o PMDB da direita são mosteiros de probidade, onde Cunha é o Pai, Aécio é o Filho e os juízes e os promotores assanhados são os Espíritos Santos.
O espectro Lula é terrível: imbatível nas urnas, tem que ser abatido nos tapetões do Judiciário,por meio do “Golpe Paraguaio”, que na verdade deveria ser chamado de “Golpe de Miami”, já que quem inventou isto de substituir os tanques nas ruas pelos juízos à socapa nos tribunais foi a eleição trucada de Bush Filho na Flórida em 2000.
O espectro Lula ameaça a paz dos cemitérios que a direita brasileira sonha ser o Brasil. Não só a direita brasileira: os porta-vozes da City Londrina e de Wall Street também são assombrados pelo espectro. Porque o Brasil é um porão (assim eles o vêem) imenso, que, vindo à superfície, vai destruir os alicerces da Casa Grande que é o mundo financeiro internacional e seu primado sobre corações e mentes – não só na América Latina, mas na Europa e no resto do mundo, do Oiapoque ao Vulcão Fuji, de Vladivostok a Ushuaia.
Mas por trás ou à frente do espectro Lula, existe um personagem real, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil e talvez (sei lá, o futuro a Deus pertence) futuro presidente também. É um personagem extraordinário, ou seja, uma figura humana como qualquer outra, que pode ter defeitos assim como tem qualidades. Mas que liderou uma das maiores transformações sociais do seu país e do mundo, ao mudar o patamar de vida de mais de 60 milhões de pessoas em meia América do Sul, transformando sua terra numglobal player que agora não pode mais ser jogado para baixo do tapete, embora haja gente e mais gente desejosa de que isto acontecesse. Dentro e fora do Brasil.
Prova disso é que enquanto se tramavam as farsas ridículas das acusações sobre o apartamento no Guarujá e o barquinho no sítio em Atibaia, o Prêmio Nobel da Paz Kailash Sathyarthi, reconhecido pelo combate à exploração do trabalho infantil, convidava este Lula, que a caterva crápula do Brasil acha que deve cuspir em cima, para integrar associação mundial contra aquela atividade criminosa, por ser ele uma referência mundial em matéria de temas e iniciativas sociais.
Prova disso é que sou testemunha do respeito com que Lula é recebido aqui na Alemanha. Em dezembro, acompanhei-o em sua visita à sede do SPD e depois da Fundação Friedrich Ehbert, em Berlim, quando foi recebido pelo vice-chanceler Sigmar Gabriel e o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e por mais uma enorme comitiva de representantes dos partidos social-democratas europeus, além dos jornalistas, com os tapetes vermelhos do reconhecimento e admiração.
A verdade é que o Brasil teve, até o momento, entre muita gente boa, três mandatários fundadores ou refundadores do país e de seu papel no mundo. O primeiro foi D. Pedro II. O pai, Pedro I, deu o brado do Ipiranga, outorgou uma Constituição de cima para baixo, embora os reacionários senhores de terra fossem contra, mas foi só, além de ter um dos casos amorosos mais espetaculares da nossa história política. Já o filho, Pedro II, consolidou o país (e olhem, leitor@s, que se eu vivesse em 1840, estaria combatendo contra ele, ao lado dos republicanos farroupilhas antiescravistas, como o coronel Teixeira Nunes e o general Netto…) e foi dos mandatários nacionais de mais alto reconhecimento internacional. Escorraçado do país pelo golpe republicano, ao morrer, foi declarado por editorial do New York Times ser “o mais republicano dos imperadores”…
O segundo foi Vargas que, como toda a carga autoritária de seu governo, introduziu a legislação trabalhista que nada tem de fascista e muito de positivista e de Bismarck, negociou de igual para igual com Roosevelt, fundou a Petrobras que hoje querem de novo destruir, e deixou a vida para entrar na história, neutralizando com seu sacrifício o golpe de estado contra o povo brasileiro.
O terceiro, para desespero de certo professor de Sociologia, é Lula, o real, não o espectro, que projetou Brasil como liderança do Terceiro Mundo, abriu caminho para a negociação bem-sucedida com Irã e liderou esta marcha de ascensão social digna de um filme de Cecil B. de Mille dos anos 50 ou do Spielberg atual. Isto no cinema; Lula, na vida real.
Erros? Sim, afinal, trata-se de um ser humano, não do monstro infalível que os arautos da Casa Grande querem impingir ao povo brasileiro. Talvez o principal erro cometido, junto com seu partido, o PT, tenha sido o de imaginar que toda esta gigantesca operação positiva na sociedade brasileira não despertaria ódios nem a aversão por parte de quem não aguenta, no fundo, ter de disputar espaço com o povão das filas de aeroporto, nos vestibulares das universidades, nas escadas rolantes dos shopping centers, ou ter de pagar salário mínimo com carteira assinada para empregada doméstica. Parecia apenas que a “beleza do quadro” da melhoria social seduziria todo mundo.
Muito pelo contrário.
Quem detesta o bonito, feio lhe parece. Tem gente que não suporta a igualdade. Tem gente que prefere matar a conviver. Nos casos extremos, outras gentes. Mas no meio do caminho, também ideias.
Como não há mais estacas nem água benta disponível para conjurar o espectro Lula, o caminho é mesmo o de procurar destruí-lo juridicamente. Fazer o seu impeachment antes mesmo dele assumir qualquer cargo. Como se fosse um exorcismo avant-la-lettre.

Não vai funcionar. É possível enganar todos por algum tempo, alguns o tempo todo, mas não a todos o tempo todo. O Lula real vai sobreviver a seu espectro fajutado por essas tentativas canhestras de golpe.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O invisível ao lado "A situação é complicada. É difícil quando se é empurrado para as margens da sociedade"

por José Gilbert Arruda Martins

Como nos tornamos invisíveis em uma cidade de 11 milhões de habitantes? Por que tantas pessoas em situação de rua em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Nova Iorque, Paris, Berlim...? Para citar apenas algumas grandes metrópoles mundiais.





Os "restos" que o sistema e a própria sociedade produz, não merecem de nós piedade? compaixão? um pouco de respeito?

Além disso, Por que o sistema econômico vigente e a estrutura social excluem? 

Excluem por que essas pessoas estão fora do mercado de consumo e, como não têm emprego e salário, são deixados à margem.

Uma das maiores dificuldades para conseguirmos respostas definitivas para algumas das perguntas acima, é que o fenômeno "pessoas em situação de rua", é tratado por muitos, até por autoridades e governos, como um problema menor, por isso apenas as ONGs é que fazem para valer alguma coisa, pois podem desenvolver projetos meramente assistencialistas, além disso, o preconceito e muita desinformação, são marcas frequentes quando o assunto é "morador" de rua.

Em nossas investidas com trabalhos de campo, nas ruas de Brasília, a reação da maioria dos abordados não é muito acolhedora, quando perguntamos sobre o porquê das pessoas estarem nas ruas, a resposta é imediata, "são uns drogados, vagabundos". Será?

Vamos neste texto, a partir de várias pesquisas e artigos de especialistas, traçar possíveis causas que fazem as pessoas, aos milhares, perderem tudo e ir "morar" nas ruas, sujeitos a humilhações e violências de todo tipo.



Para facilitar a escritura do texto e sua compreensão, vamos começar expondo os números totais em cada uma das cidades expostas acima, São Paulo, em pesquisa organizada e patrocinada pela prefeitura, conseguiu listar no ano passado (2015), o número de 15. 905 (quinze mil e novecentas e cinco) pessoas em situação de rua. Rio de Janeiro, segundo a prefeitura, são 5,5 mil; em Brasília, segundo pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), 4,5 mil; Nova Iorque, "O paraíso capitalista" são impressionantes 60 mil pessoas, sendo 25 mil crianças; França, 133 mil; Berlim, 4 mil...


Possíveis causas. Podemos verificar que nos motivos citados abaixo, nenhum faz referência direta à principal causa de tanto sofrimento que é a profunda desigualdade social produzida por uma antiga e absurda distribuição de renda que o próprio sistema econômico tem como âncora.

Todos os projetos e ações de pessoas e instituições que hoje existem espalhadas pelo mundo, não darão conta de solucionar definitivamente o problema, isso por que o sistema produz mais miseráveis, não para nunca, milhares de pessoas, homens, mulheres, crianças, idosos, são jogados nas ruas todos os dias.

"Na França e principalmente em Paris, as pessoas em situação de rua se originam predominantemente por ações de despejo e rupturas familiares. 

Os altos valores de aluguéis e toda a burocracia dificultam o retorno à moradia. Outra causa relevante do aumento da população de rua, é o intenso fluxo de imigração que a cidade recebe em busca de melhores condições de vida ou asilo político."



"A crise econômica que atinge a Europa desde 2008 continua inquietante e quem mais sofre são as famílias mais modestas, que foram atingidas fortemente pelo desemprego e a pobreza. 


Segundo a fundação Abbé Pierre, 685 mil pessoas não possuem habitação fixa na França. Desse total, 133 mil moram na rua."

"Em Nova Iorque o vice-diretor de defensoria da Coalizão para os Sem-teto, Patrick Markee, destacou que a crise “histórica” herdada pelo prefeito Bill de Blasio piorou por três razões desde que o democrata assumiu o cargo, em 1º de janeiro de 2014:
1) a grave crise de moradia acessível na cidade;

2) o impacto duradouro das desastrosas políticas para os sem-teto do ex-prefeito (Michael) Bloomberg;

3) o fracasso do estado e da cidade para agir suficientemente rápido para reverter"
"Em 2012, 47 milhões de norte-americanos viviam abaixo da linha da pobreza. O aumento de pessoas sem um teto para morar se espalhou por todo o País depois que a crise capitalista entrou em uma nova etapa em 2008. 

Em 55 cidades norte-americanas (até 2012), grandes acampamentos se formaram, onde as pessoas começaram, sem alternativa, a morar em barracas.

Um estudo divulgado pela Fundação Educacional do Sul em janeiro mostrou que mais da metade dos estudantes matriculados nas escolas públicas dos Estados Unidos vive na pobreza, um cálculo que o autor do relatório diz colocar os EUA no caminho para o declínio social geral."

"Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), a Espanha tem uma taxa de desemprego de 25,98%, o que representa 5,9 milhões de pessoas. Entre os jovens a situação é ainda pior, 54,39% dos espanhóis com menos de 25 anos não encontram emprego."







Imagens: https://www.google.com.br/search?

Fontes consultadas:

* http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/04/mais-de-cinco-mil-pessoas-moram-nas-ruas-do-rio-diz-prefeitura.html

* http://www.sdh.gov.br/noticias/2015/outubro/brasilia-recebe-3o-nacional-da-populacao-em-situacao-de-rua

* http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/nova-york-ja-tem-60-mil-moradores-de-rua-25-mil-sao-criancas.html

* http://www.cidadessustentaveis.org.br/boas-praticas/atendimento-para-pessoas-em-situacao-de-rua

* https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6574121290286852031#allposts

* http://www.pco.org.br/internacional/o-paraiso-capitalista-numero-de-moradores-de-rua-chega-a-60-mil-em-nova-iorque/apee,j.html

* http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/32869/espanhois+viram+maioria+entre+moradores+de+rua+que+buscam+abrigo+em+madri.shtml