sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

CULTURA E CIDADANIA - Em fotos, a aventura do Mais Médicos

na Rede Brasil Atual

Distribuído para instituições e entidades ligadas a saúde pública, o livro será alvo de exposições em Genebra, Havana, São Paulo e Brasília

por Paulo Moreira Leite, do Brasil 247

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"Mais médicos" mostra um programa de governo, de caráter permanente, que chega a 63 milhões de pessoas



Com tiragem inicial de 3.000 exemplares e apresentação de Arthur Chioro, que foi ministro da Saúde entre fevereiro de 2014 e outubro de 2015, o livro "Mais Médicos" é uma obra institucional necessária. As fotografias capturadas pela câmara de Araquém Alcântara em 19 Estados registram o trabalho de 18 000 médicos em pontos extremos da sociedade brasileira. As cinco imagens que ilustram essa nota, cedidas especialmente para o 247 pelo próprio Araquém, são uma pequena amostra de um trabalho de 219 páginas.
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Vivemos num país onde a memória de episódios essenciais de nossa história social costuma ser perdida tanto pela falta de cuidado por parte dos protagonistas como pela atuação de  adversários interessados em impedir sua real compreensão. Neste contexto, o livro ajuda a enxergar uma realidade que muitas pessoas podem até imaginar mas nunca tiveram a chance de ver. Os textos que acompanham as fotos de Araquém estão longe de esgotar toda a discussão sobre um assunto tão grave e complexo como a saúde da população carente.
Mas basta recordar a mitologia e o preconceito que ilustraram a oposição de entidades médicas no lançamento do programa,  em setembro de 2013, para reconhecer a importância de um trabalho desse tipo.
Comparadas com as imagens das campanhas do Médicos Sem Fronteiras, presença periódica na TV brasileira, o trabalho de Araquém serve como um contraponto importante. Louvável pelo aspecto humanitário, a atuação do MSF apoia-se em donativos de natureza filantrópica para garantir alguma forma de atendimento a populações que habitam as regiões miseráveis do planeta. Só se pode aplaudir uma iniciativa dessa natureza.
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"Mais médicos" mostra um programa de governo, de caráter permanente, que chega a 63 milhões de pessoas. Pelo atendimento preventivo, o programa foi capaz de evitar perto de 100 000 internações hospitalares -- quando as doenças se encontram num estágio mais grave, de difícil atendimento, exigindo tratamentos mais caros, complexos e muitas vezes inacessíveis. O livro não exibe cenas de uma atividade sustentada por meritórias contribuições individuais e voluntárias,  mas uma decisão de Estado, num país onde a Constituição afirma no artigo 196 que a saúde "é um direito de todos e um dever do Estado."
4.jpgNo momento em que o programa foi lançado, 15% dos municípios brasileiros não contavam com um único médico para atender a população. Em outros 2 000 municípios, havia um médico para 3 000 pessoas -- imagine o tempo de espera para o atendimento, quando e se ele ocorria.
Numa fase inicial, foram abertas 9,500 vagas, que cresceram 80% em três anos. Com auxilio dos repórteres Marcelo Delduque e Xavier Bataburu, que se revezaram nas viagens, Araquém mostra o trabalho dessas pessoas, descrevendo o local de sua atuação e as condições de vida da população atingida.
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Distribuído para instituições e entidades ligadas a saúde pública, o livro será alvo de exposições em Genebra, Havana, São Paulo e Brasília. É possível que se faça uma segunda edição, para chegar às livrarias e ao principal interessado por esta história, o cidadão comum. Ainda não há prazo, contudo, para que isso aconteça.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

RETRATOS FALANTES - Pedagogia da cidadania. As lições dos estudantes para 2016

na Rede Brasil Atual

Ao lutar por ensino de qualidade e participação nas políticas para o setor, secundaristas paulistas fundaram uma nova relação da comunidade com a escola pública

por Cida de Oliveira, para Revista do Brasil. Fotos Luís Blanco

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Allan Farias, 16, Caetano de Campos (Aclimação). "Desculpe o incomodo, estamos lutando por uma educação de qualidade!"

Pelos planos do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o estado entraria em 2016 economizando com o fechamento de 94 escolas e demitindo professores e demais funcionários escolares. O que ele não contava é com a reação dos 300 mil estudantes que seriam diretamente afetados com a transferência compulsória para outras escolas, distantes de casa ou do local de trabalho. Tampouco poderia imaginar que tal resposta, vinda das salas de aula, ganhando ruas e avenidas, faria das escolas a mais importante trincheira na luta que já não era mais contra a reorganização, mas pelo ensino público de qualidade. Ou que os alunos teriam entre os aliados pais, professores, trabalhadores, artistas e intelectuais nacionais e estrangeiros. Até mesmo de pessoas comuns, que mesmo distantes das lutas pelos seus direitos justamente pela baixa escolaridade, sabem que escola não se fecha.
Alckmin foi pego de surpresa também numa noite do início de novembro, quando alunos ocuparam a Escola Estadual Cefam Diadema, no município de mesmo nome, na região do ABC. E novamente na manhã seguinte, quando a Fernão Dias Paes, em Pinheiros, na capital, foi ocupada. Por causa da tensão, o fechamento de ruas laterais, a presença da Tropa de Choque da Polícia Militar e o cordão de isolamento formado por soldados sem identificação na farda aumentaram o medo de que a qualquer momento os policiais armados invadiriam a Fernão com a violência empregada em reintegrações de posse determinadas pela Justiça tucana. Foi o gatilho que desencadeou outras ocupações.
O movimento cresceu apesar da repressão policial e das tentativas de se jogar a sociedade contra o movimento, como ataques de pessoas estranhas a escolas ocupadas para responsabilizar os alunos, artimanha que contou com aval da mídia. Mas, no final, o governo do estado também perdeu na Justiça e ainda viu cair seu secretário da Educação, Herman Voorwald.
LUIS BLANCO
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Enquanto Alckmin adotava a pedagogia da repressão, cada vez mais alunos trocavam a preocupação com provas, exames, vestibulares e vida pessoal pela defesa da escola. Pintavam muros e paredes, carpiam o mato, cuidavam de jardins, desentupiam canos, lavavam banheiros, cozinhavam e realizavam atividades culturais e artísticas, como jamais visto antes naqueles espaços. Não demoraram para perceber que aprendiam, na prática, sobre cidadania, direitos humanos, política, organização, convivência.
Tudo era pretexto de aprendizado e amadurecimento, inclusive o enfrentamento às ameaças e intimidações de policiais que rodeavam as escolas à noite ou pulavam muros, com armas na mão, chamando adolescentes de 15, 16 anos de idade para “uma conversa de homem para homem” do lado de fora, como aconteceu em uma escola na Brasilândia, zona norte da capital. Ou como em Perus, na zona noroeste, quando alunos foram levados para um batalhão da PM, onde foram agredidos física e psicologicamente. A lição, da polícia, era desencorajar novas ocupações.
LUIS BLANCO
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Larissa Cardenas, 15, escola Caetano de Campos (Aclimação). "Educação 
é importante no papel, não na prática"
Em 4 de dezembro, quando havia 213 ocupações, maior número alcançado no movimento, também ocorriam prisões, a violência policial crescia e a aprovação do governo Alckmin caiu para 28%, o jeito foi suspender a reorganização. Na tentativa de recuperar sua imagem, que não havia sido desgastada nem com a crise hídrica, ele prometeu realizar audiências públicas ao longo deste ano.
O tempo vai mostrar se o governador vai cumprir sua promessa de ano novo e as determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garantem o direito à educação, à participação na discussão de políticas públicas e também à livre manifestação. A certeza é que ficaram muitas lições.
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Aprendizado
Professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), filósofo e pedagogo, Dermeval Saviani havia acabado de chegar de Manaus quando soube da ocupação da Escola Estadual Carlos Gomes, no centro de Campinas, no final de novembro. “Fui lá conversar com os alunos e percebi a seriedade deles, a capacidade de visão da importância da educação, a atenção para o risco da entrada de estranhos na escola para depredar e culpá-los”, conta.
Segundo Saviani, por meio das ocupações, os estudantes ensinaram que o movimento em defesa da educação não é apenas dos professores e estudantes universitários. Mas também dos alunos da educação básica. “É importante que eles participem e se mantenham mobilizados”, defende.
“A participação do conjunto da comunidade na vida da escola, com os estudantes participando das decisões, é essencial à qualidade da educação, que por sua vez é essencial para a democratização do conhecimento para toda a sociedade”, diz o filósofo, autor de Escola e Democracia (Cortez Editora). Principal reivindicação na luta pela democratização do ensino nos anos 1970 e 1980, a participação de professores e alunos na gestão da escola e no projeto político-pedagógico acabou contemplada pela LDB. No entanto, a participação, de fato, está ameaçada pela falta de políticas que garantam mais tempo para a preparação das aulas, turmas menos numerosas e o fim da chamada meritocracia, baseada em resultados de testes e avaliações, que agrava as desigualdades na educação e enriquece empresas que vendem cursos e sistemas de ensino.ocupa-escola2.jpg
Brinde à democracia
Vice-coordenadora da pós-gradução em Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, a professora Branca Jurema Ponce considera o movimento um brinde à democracia que vai além da palavra, num exercício cotidiano. “É um brinde a uma nova concepção de escola, de conhecimento escolar, de currículo. O currículo escolar também é isso, tem de preparar o sujeito para a cidadania. É uma forma também de os pais, de os próprios alunos se formarem para a participação”, diz. ”Bendito seja esse movimento estudantil de jovens de 15 a 18 anos, num momento tão importante, formador. São garotos que trouxeram de volta uma esperança grande, que foi deixada de lado, e que vão levar para sempre essa reflexão.”
O advogado Thyago Cezar, de Bauru, no interior, vai além. “A lição que deram é uma das mais belas demonstrações de democracia participativa da história do Brasil, em que os alunos secundaristas se reuniram voluntariamente para lutar por pautas locais, regionais e estaduais, se mostrando valentes e coesos em seus pleitos, mesmo quando o governo com suas investidas, tentava desarticulá-los. As ocupações das escolas paulistas servem como modelo a toda a sociedade e devem ser lembradas como um grande marco social de lutas estudantis”, diz.
LUIS BLANCO
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Conforme ressalta, ainda que a pauta principal do movimento fosse atrelada a questões de educação, o período de ocupações trouxe grandes momentos de discussões políticas e sociais, servindo como um grande laboratório de cidadania. “Foi um aprendizado imensurável que acredito muito ser difícil de se repetir nos próximos anos. Acredito que esta luta entrará para a história como o caso dos meninos que derrotaram o governador, a luta do coletivo contra o grande poder.”
No começo de dezembro, o advogado protocolou medida cautelar na Corte Interamericana de Direitos Humanos, que tem sede em Washington. Na petição foram anexadas notícias de jornais, vídeos, fotografias, moções de repúdio de universidades, parecer do Ministério Público Estadual e uma análise da Universidade Federal do ABC sobre a política de reorganização. O objetivo é a análise e punição, pelos estados-membros da corte internacional, de violações aos direitos de acesso à educação e cultura, ao desenvolvimento social, psicológico e educacional, ao acesso à Justiça, à livre manifestação do pensamento e à proteção da saúde física e psicológica de crianças e adolescentes.
LUIS BLANCO
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Para o músico e videomaker Jimmy Bro, autor do documentário Escolas ocupadas – a verdadeira reorganização, quem reorganizou o ensino foram os alunos. “O que vi foi inspirador. Além de protestar, fizeram a verdadeira reorganização em vários sentidos. O que veio através de um problema refletiu em mudanças positivas, nas relações dos alunos com a escola, com os colegas e com a educação em si.”
Com o anúncio da suspensão da reorganização, no começo de dezembro, os estudantes fizeram assembleias e foram, aos poucos, desocupando as escolas, com atos simbólicos, num processo educativo e afetivo. Muitas foram pintadas e grafitadas, numa derradeira demonstração de apreço ao espaço público que tanto defenderam. As últimas desocupações ocorreram entre 18 e 22 de dezembro, com a garantia dos estudantes de permanente mobilização frente a manobras do governo. Em manifesto que publicaram, deixaram claro que estavam saindo das escolas, não da luta. E ressaltando que o conjunto das reivindicações não havia sido atendido, não cederiam.
“Essa escolha de maneira nenhuma significa ceder às pressões do governo do estado e das entidades burocráticas. Analisamos, porém, que as ocupações já cumpriram sua função e que é hora de mudar de tática.” Para eles, foi o fracasso de uma “reorganização dos poderosos, cujo plano maior era cobrar de trabalhadores e seus filhos o pagamento da fatura de uma crise.”
LUIS BLANCO
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LUIS BLANCO
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Colaborou Sarah Fernandes

Movimento fez escola em Goiás
As ocupações de 2015 não foram exclusividade de São Paulo. Em Goiás, governada pelo também tucano Marconi Perillo, os estudantes ocuparam escolas para protestar contra decreto que autoriza a contratação de organizações sociais (OSs) para a direção de 200 unidades. O primeiro a ser ocupado, em 9 de dezembro, foi o Colégio Estadual José Carlos de Almeida, na região central de Goiânia, que havia sido fechado para reforma por Perillo. Porém, justificando baixa demanda, o governador manteve a escola fechada. 

“Com as ocupações de escolas em São Paulo, enxergamos que o governador tem de dialogar com todos, independentemente de serem jovens ou não, e que a falta de diálogo acabou desgastando sua imagem em todo o mundo, sendo visto como um ditador”, avalia o estudante Gabriel Tatico, integrante da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e da União Goiana dos Estudantes Secundaristas (Uges).

De acordo com ele, os alunos paulistas ensinaram principalmente que um movimento estudantil organizado pode obter sucesso. “Houve uma vitória no momento em que o governador recuou e suspendeu a reorganização. Vai ter de dialogar. E mesmo que a reorganização vier a acontecer, já não será mais a mesma. O projeto será alterado com os debates”, diz.

“Vamos ocupar as escolas, cuidar delas e realizar atividades culturais e esportivas. Vamos defender a escola pública, exigir mais investimentos e lutar para que, quando voltarem as aulas, os professores e os diretores estejam lá. Se nada fizermos, vamos voltar e estarão lá gestores empresariais tomando conta da nossa escola.”

O duplo padrão da Polícia Federal no Helicoca e no “triplex do Lula”. Por Kiko Nogueira

no Diário do Centro do Mundo

O helicóptero dos Perrellas com 445 kg de cocaína: inocentados pela PF em 15 dias
O helicóptero dos Perrellas com 445 kg de cocaína: inocentados pela PF em 15 dias

Ninguém pode acusar a Polícia Federal de não dar show, especialmente para o público sedento de escândalos dos mesmos atores. O famoso triplex 164-A no Guarujá foi classificado pela PF como um imóvel com “alto grau de suspeita quanto à sua real titularidade”.
A delegada Erika Mialik Marena, da Lava Jato, aponta num relatório que “manobras financeiras e comerciais complexas envolvendo a empreiteira OAS, a cooperativa Bancoop e pessoas vinculadas a esta última e ao Partido dos Trabalhadores apontam que unidades do condomínio Solaris, localizado na Avenida General Monteiro de Barros, 638, em Guarujá-SP, podem ter sido repassadas a título de propina pela OAS em troca de benesses junto aos contratos da Petrobrás”.
O promotor Cássio Conserino, conhecido como “o promotor da Veja”, intimou Lula e a mulher Marisa Letícia a depor no dia 17 de fevereiro, no Fórum da Barra Funda, em São Paulo.
Para todos os efeitos, o apartamento já é de Lula. O trabalho é confirmar a suspeita e não exatamente verificar a verdade. Lula terá de esclarecer. Mas a mensagem que se quer passar adiante, entre outras, é a do “aí tem”, objetivo já plenamente alcançado.
É de se perguntar onde estava essa, digamos, fome de bola de apropriação no episódio do Helicoca. Para refrescar sua memória: no dia 24 de novembro de 2013, um helicóptero com 445 quilos de pasta base de cocaína foi apreendido numa fazenda no Espírito Santo.
A aeronave pertencia à Limeira Agropecuária, do ex-deputado estadual Gustavo Perrella, da irmã dele, Carolina Perrella, e do pai, o senador Zezé Perrella, ex-presidente do Cruzeiro e amigo de Aécio Neves.
O piloto, Rogério Almeida Antunes, era funcionário da Limeira tinha um cargo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais por indicação de Gustavo.
A droga veio do Paraguai, onde esteve quatro dias antes do flagrante. Passou pelo Campo de Marte, na capital paulista, e por Minas Gerais. A carga estava avaliada em 50 milhões de reais.
Nunca houve qualquer dúvida quanto a quem pertencia o helicóptero.
No entanto, o doutor Leonardo Damasceno, da PF de Vitória, em velocidade estonteante, inocentou os Perrellas de qualquer participação no crime. Damasceno chegou a essa conclusão em escassos 15 dias, baseado, oficialmente, nas ligações telefônicas dos celulares capturados.
Zezé Perrella não foi sequer ouvido, nem para dizer que não tem nada a ver com nada. Não houve indignação popular seletiva, não houve vazamento e a cobertura foi escassa.
Meia tonelada de coca num helicóptero de um parlamentar jamais rendeu uma declaração pública das autoridades de que havia “alto grau de suspeita” com relação ao homem.
Seja no caso do triplex na praia, seja no do sítio, seja no barco, Lula é culpado a priori — e o esforço hercúleo da Polícia Federal é juntar pontos que provem isso, eventualmente sem provar muita coisa, para que o show possa continuar.



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

FINANCIAMENTO ESTUDANTIL - Pré-selecionados do Fies devem completar inscrição entre 2 e 6

no Portal do MEC

O Ministério da Educação divulgou nesta segunda-feira, 1º de fevereiro, o resultado da pré-seleção do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Para completar a inscrição no financiamento, os pré-selecionados devem acessar o portal do programa, entre esta terça-feira, 2, e 6 de fevereiro.
Os participantes pré-selecionados deverão, entre 7 e 18 de março, prestar declaração de matrícula na instituição, no curso e turno em que realizou a inscrição. Além dos pré-selecionados, também foi divulgada a lista de espera do Fies 2016.
Nesta edição, o Fies priorizou os cursos de engenharias, com 34.557 vagas; formação de professores, com 47.115 vagas, e áreas de saúde, com 76.092 vagas. Estes foram os mais procurados. Além das áreas prioritárias, o Fies valorizou os cursos com melhores índices de qualidade (com conceitos 4 e 5).
Participaram desta edição do Fies os estudantes que tenham participado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a partir da edição de 2010 e obtido média igual ou superior a 450 pontos, além de ter tirado nota na redação que não seja zero. O candidato pôde se inscrever em um único curso e turno dentre aqueles com vagas ofertadas. Outra exigência para obtenção do benefício do Fies é comprovar renda familiar bruta de até dois salários mínimos e meio.
Acesse o portal Fies Seleção
Assessoria de Comunicação Social

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O Lula real e o espectro Lula

na Rede Brasil Atual

Imbatível nas urnas, espectro Lula tem de ser abatido nos tapetões do Judiciário. Lula, o real, vai sobreviver a seu espectro fajutado por essas tentativas canhestras de golpe

por Flavio Aguiar, de Berlim

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O espectro Lula ameaça a paz dos cemitérios que a direita brasileira sonha ser o Brasil

Dizem os psicanalistas que as nossas fantasias são sempre mais intensas do que a realidade, sobretudo quando são para o pior. Hoje no Brasil se vê a demonstração desta tese.
A velha mídia, o promotor açodado de São Paulo, o Supremo Tribunal do Paraná, que às vezes parece mais poderoso do que o STF de Brasília, todos lidam com um espectro que fabricam e ao mesmo tempo são vítimas dele: o espectro Lula, um horrível monstro, pior que Godzilla, Drácula e Darth Vader todos juntos, que suga a seiva do Brasil. Bom, é verdade que este monstro suga esta seiva para dar-se ao luxo de navegar em barquinhos de alumínio e descansar (?) em apartamentos que não comprou nem de que desfruta. Mas não importa: eles vão em frente, para impressionar a parte crendeira da classe média, aquela propensa a acreditar que estamos mergulhados num mar de lama como nunca houve no país, assim como acredita que PSDB, DEM, o PMDB da direita são mosteiros de probidade, onde Cunha é o Pai, Aécio é o Filho e os juízes e os promotores assanhados são os Espíritos Santos.
O espectro Lula é terrível: imbatível nas urnas, tem que ser abatido nos tapetões do Judiciário,por meio do “Golpe Paraguaio”, que na verdade deveria ser chamado de “Golpe de Miami”, já que quem inventou isto de substituir os tanques nas ruas pelos juízos à socapa nos tribunais foi a eleição trucada de Bush Filho na Flórida em 2000.
O espectro Lula ameaça a paz dos cemitérios que a direita brasileira sonha ser o Brasil. Não só a direita brasileira: os porta-vozes da City Londrina e de Wall Street também são assombrados pelo espectro. Porque o Brasil é um porão (assim eles o vêem) imenso, que, vindo à superfície, vai destruir os alicerces da Casa Grande que é o mundo financeiro internacional e seu primado sobre corações e mentes – não só na América Latina, mas na Europa e no resto do mundo, do Oiapoque ao Vulcão Fuji, de Vladivostok a Ushuaia.
Mas por trás ou à frente do espectro Lula, existe um personagem real, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil e talvez (sei lá, o futuro a Deus pertence) futuro presidente também. É um personagem extraordinário, ou seja, uma figura humana como qualquer outra, que pode ter defeitos assim como tem qualidades. Mas que liderou uma das maiores transformações sociais do seu país e do mundo, ao mudar o patamar de vida de mais de 60 milhões de pessoas em meia América do Sul, transformando sua terra numglobal player que agora não pode mais ser jogado para baixo do tapete, embora haja gente e mais gente desejosa de que isto acontecesse. Dentro e fora do Brasil.
Prova disso é que enquanto se tramavam as farsas ridículas das acusações sobre o apartamento no Guarujá e o barquinho no sítio em Atibaia, o Prêmio Nobel da Paz Kailash Sathyarthi, reconhecido pelo combate à exploração do trabalho infantil, convidava este Lula, que a caterva crápula do Brasil acha que deve cuspir em cima, para integrar associação mundial contra aquela atividade criminosa, por ser ele uma referência mundial em matéria de temas e iniciativas sociais.
Prova disso é que sou testemunha do respeito com que Lula é recebido aqui na Alemanha. Em dezembro, acompanhei-o em sua visita à sede do SPD e depois da Fundação Friedrich Ehbert, em Berlim, quando foi recebido pelo vice-chanceler Sigmar Gabriel e o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e por mais uma enorme comitiva de representantes dos partidos social-democratas europeus, além dos jornalistas, com os tapetes vermelhos do reconhecimento e admiração.
A verdade é que o Brasil teve, até o momento, entre muita gente boa, três mandatários fundadores ou refundadores do país e de seu papel no mundo. O primeiro foi D. Pedro II. O pai, Pedro I, deu o brado do Ipiranga, outorgou uma Constituição de cima para baixo, embora os reacionários senhores de terra fossem contra, mas foi só, além de ter um dos casos amorosos mais espetaculares da nossa história política. Já o filho, Pedro II, consolidou o país (e olhem, leitor@s, que se eu vivesse em 1840, estaria combatendo contra ele, ao lado dos republicanos farroupilhas antiescravistas, como o coronel Teixeira Nunes e o general Netto…) e foi dos mandatários nacionais de mais alto reconhecimento internacional. Escorraçado do país pelo golpe republicano, ao morrer, foi declarado por editorial do New York Times ser “o mais republicano dos imperadores”…
O segundo foi Vargas que, como toda a carga autoritária de seu governo, introduziu a legislação trabalhista que nada tem de fascista e muito de positivista e de Bismarck, negociou de igual para igual com Roosevelt, fundou a Petrobras que hoje querem de novo destruir, e deixou a vida para entrar na história, neutralizando com seu sacrifício o golpe de estado contra o povo brasileiro.
O terceiro, para desespero de certo professor de Sociologia, é Lula, o real, não o espectro, que projetou Brasil como liderança do Terceiro Mundo, abriu caminho para a negociação bem-sucedida com Irã e liderou esta marcha de ascensão social digna de um filme de Cecil B. de Mille dos anos 50 ou do Spielberg atual. Isto no cinema; Lula, na vida real.
Erros? Sim, afinal, trata-se de um ser humano, não do monstro infalível que os arautos da Casa Grande querem impingir ao povo brasileiro. Talvez o principal erro cometido, junto com seu partido, o PT, tenha sido o de imaginar que toda esta gigantesca operação positiva na sociedade brasileira não despertaria ódios nem a aversão por parte de quem não aguenta, no fundo, ter de disputar espaço com o povão das filas de aeroporto, nos vestibulares das universidades, nas escadas rolantes dos shopping centers, ou ter de pagar salário mínimo com carteira assinada para empregada doméstica. Parecia apenas que a “beleza do quadro” da melhoria social seduziria todo mundo.
Muito pelo contrário.
Quem detesta o bonito, feio lhe parece. Tem gente que não suporta a igualdade. Tem gente que prefere matar a conviver. Nos casos extremos, outras gentes. Mas no meio do caminho, também ideias.
Como não há mais estacas nem água benta disponível para conjurar o espectro Lula, o caminho é mesmo o de procurar destruí-lo juridicamente. Fazer o seu impeachment antes mesmo dele assumir qualquer cargo. Como se fosse um exorcismo avant-la-lettre.

Não vai funcionar. É possível enganar todos por algum tempo, alguns o tempo todo, mas não a todos o tempo todo. O Lula real vai sobreviver a seu espectro fajutado por essas tentativas canhestras de golpe.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O invisível ao lado "A situação é complicada. É difícil quando se é empurrado para as margens da sociedade"

por José Gilbert Arruda Martins

Como nos tornamos invisíveis em uma cidade de 11 milhões de habitantes? Por que tantas pessoas em situação de rua em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Nova Iorque, Paris, Berlim...? Para citar apenas algumas grandes metrópoles mundiais.





Os "restos" que o sistema e a própria sociedade produz, não merecem de nós piedade? compaixão? um pouco de respeito?

Além disso, Por que o sistema econômico vigente e a estrutura social excluem? 

Excluem por que essas pessoas estão fora do mercado de consumo e, como não têm emprego e salário, são deixados à margem.

Uma das maiores dificuldades para conseguirmos respostas definitivas para algumas das perguntas acima, é que o fenômeno "pessoas em situação de rua", é tratado por muitos, até por autoridades e governos, como um problema menor, por isso apenas as ONGs é que fazem para valer alguma coisa, pois podem desenvolver projetos meramente assistencialistas, além disso, o preconceito e muita desinformação, são marcas frequentes quando o assunto é "morador" de rua.

Em nossas investidas com trabalhos de campo, nas ruas de Brasília, a reação da maioria dos abordados não é muito acolhedora, quando perguntamos sobre o porquê das pessoas estarem nas ruas, a resposta é imediata, "são uns drogados, vagabundos". Será?

Vamos neste texto, a partir de várias pesquisas e artigos de especialistas, traçar possíveis causas que fazem as pessoas, aos milhares, perderem tudo e ir "morar" nas ruas, sujeitos a humilhações e violências de todo tipo.



Para facilitar a escritura do texto e sua compreensão, vamos começar expondo os números totais em cada uma das cidades expostas acima, São Paulo, em pesquisa organizada e patrocinada pela prefeitura, conseguiu listar no ano passado (2015), o número de 15. 905 (quinze mil e novecentas e cinco) pessoas em situação de rua. Rio de Janeiro, segundo a prefeitura, são 5,5 mil; em Brasília, segundo pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), 4,5 mil; Nova Iorque, "O paraíso capitalista" são impressionantes 60 mil pessoas, sendo 25 mil crianças; França, 133 mil; Berlim, 4 mil...


Possíveis causas. Podemos verificar que nos motivos citados abaixo, nenhum faz referência direta à principal causa de tanto sofrimento que é a profunda desigualdade social produzida por uma antiga e absurda distribuição de renda que o próprio sistema econômico tem como âncora.

Todos os projetos e ações de pessoas e instituições que hoje existem espalhadas pelo mundo, não darão conta de solucionar definitivamente o problema, isso por que o sistema produz mais miseráveis, não para nunca, milhares de pessoas, homens, mulheres, crianças, idosos, são jogados nas ruas todos os dias.

"Na França e principalmente em Paris, as pessoas em situação de rua se originam predominantemente por ações de despejo e rupturas familiares. 

Os altos valores de aluguéis e toda a burocracia dificultam o retorno à moradia. Outra causa relevante do aumento da população de rua, é o intenso fluxo de imigração que a cidade recebe em busca de melhores condições de vida ou asilo político."



"A crise econômica que atinge a Europa desde 2008 continua inquietante e quem mais sofre são as famílias mais modestas, que foram atingidas fortemente pelo desemprego e a pobreza. 


Segundo a fundação Abbé Pierre, 685 mil pessoas não possuem habitação fixa na França. Desse total, 133 mil moram na rua."

"Em Nova Iorque o vice-diretor de defensoria da Coalizão para os Sem-teto, Patrick Markee, destacou que a crise “histórica” herdada pelo prefeito Bill de Blasio piorou por três razões desde que o democrata assumiu o cargo, em 1º de janeiro de 2014:
1) a grave crise de moradia acessível na cidade;

2) o impacto duradouro das desastrosas políticas para os sem-teto do ex-prefeito (Michael) Bloomberg;

3) o fracasso do estado e da cidade para agir suficientemente rápido para reverter"
"Em 2012, 47 milhões de norte-americanos viviam abaixo da linha da pobreza. O aumento de pessoas sem um teto para morar se espalhou por todo o País depois que a crise capitalista entrou em uma nova etapa em 2008. 

Em 55 cidades norte-americanas (até 2012), grandes acampamentos se formaram, onde as pessoas começaram, sem alternativa, a morar em barracas.

Um estudo divulgado pela Fundação Educacional do Sul em janeiro mostrou que mais da metade dos estudantes matriculados nas escolas públicas dos Estados Unidos vive na pobreza, um cálculo que o autor do relatório diz colocar os EUA no caminho para o declínio social geral."

"Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), a Espanha tem uma taxa de desemprego de 25,98%, o que representa 5,9 milhões de pessoas. Entre os jovens a situação é ainda pior, 54,39% dos espanhóis com menos de 25 anos não encontram emprego."







Imagens: https://www.google.com.br/search?

Fontes consultadas:

* http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/04/mais-de-cinco-mil-pessoas-moram-nas-ruas-do-rio-diz-prefeitura.html

* http://www.sdh.gov.br/noticias/2015/outubro/brasilia-recebe-3o-nacional-da-populacao-em-situacao-de-rua

* http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/nova-york-ja-tem-60-mil-moradores-de-rua-25-mil-sao-criancas.html

* http://www.cidadessustentaveis.org.br/boas-praticas/atendimento-para-pessoas-em-situacao-de-rua

* https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6574121290286852031#allposts

* http://www.pco.org.br/internacional/o-paraiso-capitalista-numero-de-moradores-de-rua-chega-a-60-mil-em-nova-iorque/apee,j.html

* http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/32869/espanhois+viram+maioria+entre+moradores+de+rua+que+buscam+abrigo+em+madri.shtml

Moradores de rua de Paris usam Twitter para contar suas histórias

no DW

Projeto deu smartphones a cinco sem-teto que, hoje, têm mais de 10 mil seguidores. Para criador, iniciativa "Tweets de Rue" cria novas formas de solidariedade entre as pessoas.



Patrick, 47, morador de rua de Paris: "Agora eu tenho novos amigos"
Patrick tem 47 anos. Como a maioria dos franceses, tem um smartphone e uma conta no Twitter. Mas o mais surpreendente é que ele vive nas ruas há mais de três anos. De acordo com um estudo do Instituto Nacional de Estatística francês feito em 2013, ele é um dos mais de 140 mil sem-teto da França. O número dobrou nos últimos dez anos.
"A situação é complicada. É difícil quando se é empurrado para as margens da sociedade", diz. Antigamente, Patrick trabalhava como motorista de caminhão, mas perdeu a carteira de habilitação. Desde então, ele vive nas ruas. Como também perdeu seus amigos, sua família e sua casa, Patrick não fala com disposição sobre seu passado.
Nos últimos seis meses, ele atuou como membro da iniciativa Tweets de Rue (@tweets2rue). Assim, o morador de rua aprendeu lentamente a falar de novo sobre a própria vida – e a se abrir para a sociedade.
Patrick começou a participar do projeto em novembro do ano passado com o apoio da Cruz Vermelha. A ideia é simples: a campanha deu smartphones a cinco sem-teto e os encorajou a escrever sobre suas vidas no Twitter.
Dez mil seguidores
Emmanuel Letourneux é uma das figuras por trás do Tweets de Rue. A inspiração partiu de uma iniciativa que durou apenas 15 dias em Nova York e serviu como base para o novo projeto. Ao contrário do seu correspondente americano, a iniciativa francesa estava planejada para durar, em princípio, seis meses. Agora, ela foi prolongada.
"Um dos objetivos que temos com o Tweets de Rue é que as pessoas ouçam e leiam diretamente o que os moradores de rua têm a dizer", explica Letourneux. "Além disso, nós queríamos mostrar que existem pessoas muito boas dispostas a ajudar. Pessoas que não se envolveriam com regras de organizações sem fins lucrativos."

Patrick escreveu no Twitter sobre sua viagem pela França
Mas num primeiro momento o Tweets de Rueesteve sob duras críticas. Alguns chamaram o projeto de voyeurista. Os cinco moradores de rua participantes da iniciativa também não estavam certos sobre como o projeto iria funcionar.
"Eu tenho uma relutância em manter muito contato com as pessoas, por isso, estava um pouco cético no início", diz Patrick. "Mas o projeto me permitiu ver o que as pessoas pensam sobre os sem-teto, e a falar com estranhos. Eu tendo mais a não ter problemas com estranhos do que com pessoas que conheço há muito tempo."
Após seis meses, Letourneux fala em um completo sucesso da iniciativa. Patrick e os outros quatro moradores de rua têm mais de 10 mil seguidores no Twitter – possivelmente, graças às discussões organizadas mensalmente na rede social. Quanto ao cotidiano fora da plataforma, Patrick viajou pela França e escreveu sobre suas experiências.
"Eu me encontrei com três dos meus seguidores. Ainda um ano atrás eu nunca poderia imaginar algo semelhante para mim. Isso aquece o coração", afirma. "Eu estava muito sozinho e quebrei todos os laços com meus amigos e minha família. Agora eu tenho novos amigos. São pessoas sinceras que não têm medo de serem honestas comigo."
Críticas

Um tweet de Manu: "Fui deportado para a Itália"
Para outros, o projeto não foi bem sucedido. Manu, um imigrante da Costa do Marfim que vive na França sem nenhum documento, teve, em princípio, um grande impulso psicológico por causa do apoio que recebeu pelo Twitter. Ele sofria de depressão na grande Paris e foi viajar pelo sul da França. De lá, foi por fim deportado para a Itália. Nesse meio tempo, ele tuitou que atualmente está tentando voltar para a França.
Outro participante da iniciativa que tem 24 anos e vive há cinco meses nas ruas concluiu o projeto antecipadamente. "Estava claro que isso poderia acontecer", disse Letourneux. "É por isso que tivemos muito contato com os cinco sem-teto durante a experiência."
O co-fundador do Tweet de Rue, David Cadasse, é responsável pela logística das pessoas que mantêm um contato direto com os moradores de rua.
"Eles estavam psicologicamente muito sensibilizados, por isso, tive que ensiná-los como tuitar", afirma. "Eu tive que ficar muito próximo a eles, porque para os sem-teto existe uma longa jornada até a próxima manhã. Continuamente eu tive que tranquilizá-los e advertir sobre como serem cautelosos com a imprensa. Quando a pessoa é moradora de rua, ela não está acostumada a ser o centro das atenções."
Uma nova forma de solidariedade

Letourneux: "O Twitter personifica uma nova sensibilidade das pessoas"
Um objetivo importante do projeto seria que os jovens também se engajassem, diz Letourneux. "Sem o Twitter não teria sido possível. A plataforma personifica essa nova sensibilidade das pessoas e pode ser muito útil em casos de necessidade. É o símbolo de uma nova forma de organização da solidariedade", afirma.
Alguns até se deixam inspirar pelo Tweets de Rue para seus próprios projetos. Um exemplo é a Associação de Estudantes Sans A. Os participantes gravam entrevistas com os moradores de rua sobre suas vidas e publicam os vídeos na internet.
E por que não? Se o Twitter e outras mídias sociais conseguem conectar as pessoas de diferentes países, por que não utilizá-los para conectar pessoas que vivem ao lado umas das outras?

“Barbearia do Papa” atenderá mendigos e moradores de rua

no Aleteia

Pope Francis greets homeless during his general audience at St Peter's square on December 17, 2014 at the Vatican. Tango enthusiasts gather today in St Peter's square to celebrate Pope Francis 78th birthday by dancing a giant tango at the end of the audience. AFP PHOTO / ALBERTO PIZZOLI

O Vaticano agora terá uma "Barbearia do Papa", como está sendo chamada, para atender mendigos e moradores de rua.

A iniciativa começa a funcionar no dia 16 de fevereiro. A ideia vem para complementar os chuveiros que foram instalados no ano passado embaixo das colunatas de Bernini para atender pessoas de rua.

O serviço de corte de barba e cabelo para os pobres está sendo implementado pelo esmoleiro do Papa Francisco, o arcebispo polonês Konrad Krajewski.

“A primeira coisa que nós queremos – disse Dom Krajewski à Agência ANSA – é dar dignidade à pessoa. A pessoa que não tem a possibilidade de lavar-se é uma pessoa socialmente rejeitada e todos nós sabemos que um sem-teto não pode apresentar-se em um local público como num bar ou num restaurante para pedir algo, pois lhe é negado”.

esmoleiro explicou que apenas o serviço de banho, e a possibilidade de lavar algumas roupas, não bastava.
"É necessário também dar um jeito nos cabelos e na barba, também para prevenir doenças. É um outro serviço que dificilmente um sem-teto poderia encontrar em uma ‘barbearia normal’, pois poderia levantar o temor aos clientes de propagar alguma doença, como por exemplo, a sarna”, disse o arcebispo.

O espaço da barbearia está sendo preparado junto à área das duchas. Muitos voluntários se disponibilizaram a oferecer os instrumentos necessários para montar a barbearia, como tesouras, escovas, barbeadores, espelho e cadeiras.

Muitos barbeiros e cabeleireiros também já se ofereceram como voluntários. O corte de cabelo e barba será feito às segundas-feiras, dia em que as barbearias de Roma estão fechadas.

(Com Rádio Vaticano)

A organização internacional dos moradores de rua



Marcada pelo sofrimento e pela vulnerabilidade física constante, a vida dos moradores de rua se faz na luta diária em busca da sobrevivência e da resistência à exclusão. Mas a condição de habitante das ruas oferece a possibilidade de um olhar único sobre o cotidiano das grandes cidades do mundo. Veículos de comunicação, muitos dos quais pouco conhecidos, vêm conferindo visibilidade a esse olhar singular, oferecendo também alternativas de trabalho remunerado e de subsistência para os moradores de rua.
Uma das iniciativas mais bem-sucedidas internacionalmente são os chamados street papers, jornais e revistas elaborados e/ou vendidos por moradores de rua. No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a ser comemorado em 3 de maio de 2005, será aberta, em Buenos Aires, na Argentina, a 10ª Conferência da International Network of Street Papers (INSP), uma rede internacional que abrange as publicações do gênero.
As últimas três conferências aconteceram nas cidades européias de Glasgow, Praga e Madri, respectivamente. Em 2004, o jornal de rua Hecho en Buenos Aires ofereceu-se para sediar a próxima reunião. "Será bastante inspirador para os membros da INSP, principalmente aqueles dos chamados países desenvolvidos, conhecerem a produção de um jornal latino-americano feito com poucos recursos financeiros e bastante criatividade", considera Lisa Maclean, gerente de projetos da INSP.


Com a realização de workshops e seminários, a conferência pretende constituir-se num espaço para a troca de experiências entre as publicações. A novidade da próxima reunião será o lançamento de uma agência de notícias denominada Street News Service, com o conteúdo a cargo dos movimentos sociais que trabalham com moradores de rua, e vinculados aos jornais e revistas que fazem parte da INSP.
REDE DOS SEM-TETO Sediada em Glasgow, na Escócia, a rede reúne 55 publicações de 28 países, responsáveis pela circulação total de 26 milhões de exemplares por ano. Todas as publicações são editadas em papel de boa qualidade, apresentam projetos gráficos inovadores e, além de questões ligadas ao cotidiano dos moradores de rua, abordam assuntos relacionados a arte, entretenimento, projetos sociais e comportamento. A rede começou a ser tecida em 1991, com a revista inglesa The Big Issue, inspirada na iniciativa doStreet Journal vendido pelos chamados homeless (sem-teto) de Nova York.
Os moradores de rua que decidem tornar-se vendedores dos jornais e revistas da rede recebem treinamento, uniforme, crachá de identificação. Devem respeitar um código de conduta que não permite vender a revista sob o efeito de drogas ou acompanhado de crianças. Cada vendedor recebe uma cota de exemplares e fica com o dinheiro resultante das vendas. O objetivo é que a interação entre vendedores e compradores dos street paperspermita aos moradores de rua reconstruir vínculos sociais e retomar, de forma independente, projetos de vida, por meio de um trabalho remunerado.
EXPERIÊNCIAS NO BRASIL Duas publicações brasileiras integram a INSP: a revista Ocas da Organização Civil de Ação Social, entidade criada em 2002 em São Paulo e no Rio de Janeiro, e o jornal Boca de Rua, de Porto Alegre, que já participou de duas conferências da INSP.
Embora faça parte da rede, cada jornal ou revista executa seu projeto de forma autônoma e coerente com a realidade da qual faz parte. O jornal Boca de Rua, por exemplo, atua de modo diferente da grande maioria das publicações que integram a INSP. Na medida em que são apenas vendidas por moradores de rua, poucas delas têm o seu conteúdo integralmente feito por eles, já que o objetivo principal desses jornais e revistas é a geração de renda. "A proposta do Boca de Rua é diferente: é dar voz a quem não tem. Nossa meta é conferir cidadania aos moradores de rua, por meio de um projeto de comunicação", afirma Rosina Duarte que, juntamente com Clarinha Glock e Eliane Brum, criaram o Boca de Rua no ano de 2000. As jornalistas são responsáveis pela reuniões semanais de pauta e pela edição final do jornal. Boa parte da finalização consiste na transposição da linguagem oral para a escrita, já que a maioria dos 35 moradores de rua que produzem o conteúdo do jornal, é analfabeta. O tema de cada edição, as reportagens, fotografias e ilustrações são discutidos e produzidos pelos moradores de rua, que também escolheram o nome e o logotipo do jornal.
A experiência do Boca de Rua permite, assim, lembrar uma faceta pouco discutida a respeito dos moradores de rua: a sua exclusão cultural. "A exclusão cultural e a material não devem ser concebidas de modo isolado, pois são simultâneas. Buscar a integração social dos moradores de rua fornecendo-lhes apenas a alternativa para a sobrevivência econômica — ou comida e abrigo — é importante, porém insuficiente. Essas pessoas procuram, como quaisquer outras, um sentido para a sua existência e só por meio da cultura é que essa busca se faz possível", afirma a antropóloga Cláudia Magni, da Universidade de Santa Cruz do Sul (RS).