sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Violações de Direitos Humanos e Currículo Oculto

na Carta Maior

Presente na Faculdade de Medicina da USP, o 'currículo oculto' é o conjunto de práticas que visa a manutenção do corporativismo e da exclusão social.


Allan Brum* e Ricardo Koba **

Estudantes de medicina da USP fazem piada com cirurgia de redesignação sexual

Em 2014 aconteceu a CPI dos Trotes, aberta na Assembleia Legislativa de São Paulo - Alesp, para apurar inúmeras denúncias que chegaram até aquela Casa referentes à violações de Direitos Humanos nas faculdades paulistas. Devido a gravidade dos fatos apresentados, nos quatro meses de duração da CPI, a imprensa não deixou de dar cobertura aos trabalhos da Comissão comandada pelo então deputado Adriano Diogo. Em novembro de 2015 completou-se um ano da Audiência Pública, também na Alesp, que deu origem à CPI; e, em março, fará um ano que a CPI  se encerrou.

No domingo último, o jornal Estado de São Paulo (edição de 3/1/2016, pp. E11), na capa principal do Caderno Metrópole, fez um balanço dos desdobramentos da CPI e das recomendações por ela feitas. A conclusão do jornal é a de que pouco se avançou na maioria das faculdades, sendo que impunidade e leniência parecem ser traços preponderantes de agentes públicos e dirigentes que deveriam dar prosseguimento aos trabalhos da CPI dos Trotes de forma efetiva e não cosmética, com exceção da promotora Paula de Figueiredo e Silva, que deu o primeiro acolhimento às denúncias encaminhadas ao MPE/SP e abriu inquérito; das colegas que a sucederam no caso, as promotoras Beatriz Helena Budin Fonseca e Silvia Chakian de Toledo Santos; da direção da PUCCAMP (Pontifícia Universidade Católica de Campinas); e, claro, da ação corajosa das vítimas e testemunhas que se apresentaram e de coletivos de estudantes e professores que, por fora da instituição, colocaram em prática mecanismos para coibir abusos e gerar uma cultura mais humanizada.

Não vamos tratar aqui da matéria de o Estado de São Paulo, mas discorrer sobre uma das consequências mais salientes e pouco debatida sobre o que pode levar a esse estado de coisas quando não tomado a sério e solucionado. Falamos aqui do pouco conhecido, mas presente no cotidiano de muitas instituições de ensino: o currículo oculto.

Currículo oculto
 
O enfoque que damos abaixo é nas escolas médicas, uma vez que foram as mais trabalhadas durante a CPI dos Trotes, mas é válido para todas as instituições de ensino que permitem práticas trotistas em seus ambientes acadêmicos.
 
Um texto descritivo que enumerasse formas de trote: tinta, farinha, cabelo raspado; pasta de dente perianal; álcool forçado; banho de urina; piscina de vômito; formas eufêmicas de abuso sexual etc. A lista, como demonstrou a CPI das universidades, não teria fim. Mas seria perda de tempo escrever um texto só pra dizer que não é legal jogar fezes nos colegas, certo?
 
Grande parte das pessoas entende trote enquanto conjunto de práticas de recepção supostamente amistosas, com intuito humorístico, mas que de vez em quando saem do controle. A intenção aqui é rechaçar esse discurso e mostrar que as barbaridades relatadas não são ‘acidentes’ ou ‘exageros’, tampouco se limitam ao período de recepção. Pelo contrário: tais casos são derivações naturais daquilo que representa a própria essência do fenômeno trote. E suas consequências se desdobram por muito além das primeiras semanas de curso.
 
A cultura de trote tem origem anterior à entrada na universidade. Isso fica evidente pelo folclore em torno da temática, que embebe o imaginário escolar, a abordagem do cinema e da literatura, o marketing das empresas de “cursinhos” etc. Nesse sentido, o recém-ingresso geralmente não é surpreso pelos grupos trotistas – ele já os esperava, muitas vezes com euforia e ansiedade.
 
Vale mencionar que essa expectativa só é possível em uma conjuntura de restrição do direito à educação. O ensino superior (sobretudo de medicina) é entendido como prêmio, disputado de forma desigual pelos setores privilegiados da sociedade que tiveram acesso ao ensino privado e\ou pelo subgrupo que pode pagar pelas caríssimas mensalidades. Os estudantes que ingressam são então nutridos com auto-enaltecimento e ufania em relação a sua “conquista” e sua faculdade (o que foi bem exemplificado pelas canções de atléticas e fraternidades durante a CPI [1]). É frequente que os grupos trotistas alimentem essa cultura de ufanismo e de superioridade [2], deixando em evidência seu classismo e arrogância.
 
A ritualística de trote, então, revela as relações de veteranismo que demarcam a inserção do recém-ingresso nas dinâmicas hierárquicas da universidade. As brincadeiras guardam um implícito constitutivo de submissão performática, isto é, joga-se ludicamente com a autoridade teatral do veterano sobre o calouro. As piadas, em geral, destacam-se das prerrogativas que o mais velho tem sobre o mais novo. E esse humor costuma ser embalsamado por todos os pressupostos mais preconceituosos e marginalizantes contidos na sociedade (não são raras as piadas e cantos machistas, racistas, transfóbicos, lgbtfóbicos etc. [3]).
 
“Buceta, buceta, buceta eu como a seco. No cu, eu passo cuspe. Medicina, medicina é só na USP!” – gritam os veteranos, rodeando as calouras - “Eu tava no banheiro comendo a empregada, o índio abriu a porta e eu comi a bunda errada”.
 
Diante disso, observamos que a essência do trote repousa sobre a verticalidade das relações entre veteranos e calouros, sobre a desigualdade de poder, de voz e de prerrogativas entre esses personagens. Esse fenômeno pode se expressar em dinâmicas amistosas, mas também pode se radicalizar em situações mais violentas, o que varia e decorre de sua própria natureza.
 
A verticalidade imposta na relação de veteranismo perfaz a maior parte das instituições universitárias (CAs, DAs, atléticas, fraternidades etc) e se estende pelo próprio ambiente de ensino, em que os mais velhos, na hierarquia, tendem a ensinar aos mais novos (internos, residentes, preceptores) as condutas pertinentes. A despeito das dificuldades próprias no aprendizado dos saberes técnicos, isso evidentemente gera consequências de método para a maneira como se desenvolve a cultura universitária. Aulas são expositivas, entidades estudantis são hierarquizadas, conhecimento e decisões são construídos verticalmente.

Em suma, observamos que opera, sobretudo nos cursos de medicina, um currículo oculto, paralelo às grades oficiais. Através de entidades estudantis, em muitos casos financiadas e vigiadas por antigos membros (agora formados, médicos, professores), perpetuam-se tradições incontestáveis e arquiteturas sociais permeáveis ao assédio e a violência sistemática. A abrangência das consequências é incalculável, mas não por isso menos palpável, como indicam os inúmeros casos de estupro e de sequelas devido a trotes.
 
A construção da cultura do trote e de seus fundamentos (hierarquia, ufanismo, violência coletiva) confere homogeneidade aos grupos universitários e conforma unidade corporativa avessa a contestação. Em outras palavras, a submissão performática do trote não tem fim no trote em si, mas esbanja sua continuidade na construção de uma postura passiva dos estudantes, que se inserem numa dinâmica social de saúde mercantilizada, não enquanto agentes transformadores, mas como operadores diante de uma ordem social adoecedora.  
 
É importante ressaltar que o trote constitui uma cultura exclusiva. Aqueles que se recusam a aceitar os rituais ou enfrentam os grupos trotistas são, então, perseguidos pelo bloco hegemônico. A CPI das Universidades deixou evidente tanto a falta de instituições que acolhessem as denúncias, quanto a dificuldade de garantir a proteção dos denunciantes, em muitos casos ameaçados por professores, vítimas de agressões físicas etc.
 
Quebrar com a cultura do trote e com sua ritualística significa, além de defender vítimas de violações de direitos humanos e apurar denúncias, afirmar com categoria que a universidade é espaço de construção coletiva e, portanto, apenas um ideário democrático pode formar práticas, concepções e profissionais empenhados na saúde da população.


* Allan Brum é coordenador da Denem (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina) e estudante de medicina.
** Ricardo Koba é professor e ativista de Direitos Humanos.



Apêndice:
[1] – “Escola de tradição, grande sem comparação. Nos esportes soberana, na ciência sem igual” – trecho de música do Show Medicina, fraternidade da FMUSP denunciada em escândalos de prostituição e violência
[2] – É bem elucidadivo o conceito freudiano de narcisismo das pequenas diferenças, que explica a atitude muito frequentemente hostil das atléticas para com seus supostos inimigos, num claro mecanismo psicológico de inferiorização do agrupamento rival a fim de elevar-se a patamares superiores
[3] – “Buceta, buceta, buceta eu como a seco. No cu, eu passo cuspe. Medicina, medicina é só na USP!” ou “Eu tava no banheiro comendo a empregada, o índio abriu a porta e eu comi a bunda errada”– cantos da AAAOC (Associação Atlética Acadêmica Osvaldo Cruz da FMUSP), sendo “índio” um termo usado pra se referir aos estudantes de outra faculdade (Escola Paulista de Medicina)
 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Um pouco da história da resistência popular no Brasil

por José Gilbert Arruda Martins

Em primeiro lugar, precisamos entender que a resistência que abordaremos é a resistência ao sistema econômico e político hegemônico, seus templos e templários - templários aqui, não como cavaleiros de Cristo, mas como, detentores dos bancos e sistema econômico mundial como um todo.



Revolta do Ronco de Abelha. Nordeste (1851-1854)

Para que nossas ações de resistência sejam eficazes, necessitamos separar determinadas questões no que se refere às estruturas políticas, econômicas e governamentais e entender como funcionam.

Confundir quem é quem nesse jogo bruto, pode fazer com que lutemos contra nós mesmos, ou contra aqueles e aquelas que, de alguma forma, nos defendem.

Por exemplo, a América Latina, durante mais de 500 anos, foi dominada e governada por uma elite de dentro e de fora, que nunca, jamais foi verdadeiramente, defensora das causas populares, na última década, no entanto, essa parte da América, elegeu, em boa parte dos países, governantes voltados para as questões que dizem respeito ao povo e às suas tradições.

Vejamos, a título de exemplo, o Brasil com Lula da Silva e Dilma Roussef; o Uruguai, do Pepe Mujica; a Argentina de Nestor e Cristina Kirchner; a maravilhosa Bolívia, com Evo Morales; Rafael Correa, no Equador...

Esses governantes, cometeram muitos erros, mas o que fizeram e estão tentando fazer por seus países e povos, foge à regra da dominação interna e externa, e isso, precisamos enxergar, não estamos pedindo que sejamos cegos, ou adeptos de seus partidos e governos, mas que procuremos separar as coisas, que sejamos inteligentes para entendermos a vida política e econômica de nosso país.

Vamos, para tentar esclarecer essas questões levantadas acima, nos ater à história do Brasil, talvez fique menos complicado.

Todos e todas nós, sabemos da importância de resistir, não é possível que fiquemos apenas olhando um sistema político-econômico que, desde sempre, exclui e extermina, engana, explora e monopoliza.

A história brasileira que conhecemos, começa com a invasão portuguesa em 1500, é preciso lembrar no entanto, que se aconteceu invasão, existiram os "invadidos".

Quem foram os "invadidos"?

São os primeiros americanos, milhões de pessoas, de diversas nações e culturas, que habitavam a terra brasilis e que foram quase completamente exterminados.

Segundo especialistas, os primeiros americanos a aportar no Estreito de Bering, trecho que faz a separação entre Rússia e Estados Unidos (Alasca), originários da Ásia, se espalharam por todo o continente há mais de 40 mil anos.


"Embora não haja unanimidade a respeito da questão, pesquisas arqueológicas, geológicas, paleontológicas e linguísticas parecem indicar que o continente americano começou a ser povoado entre 40000 e 20000 a.C., por grupos humanos de raça mongoloide ou pré-mongoloide, procedentes da Ásia oriental."



Entender essa primeira informação, é de fundamental importância. A terra era habitada ponto. E, se era habitada, tinha donos e donas. Se tinha donos, foi literalmente invadida e conquistada à base de muita violência e não descoberta, como a maioria dos nossos livros trazem.

Houve resistência por parte dos moradores? É claro que houve, as nações indígenas lutaram como puderam para defender suas terras, povos e famílias. Portanto, a primeira experiência de resistência no Brasil, foram os indígenas que empreenderam.

Três décadas após a invasão, os portugueses, numa sacada comercial/econômica bem típica dos dominadores capitalistas, introduziram a escravidão negra.


Na esteira do espírito cruzadístico, temos a expansão ultramarina portuguesa, acompanhada, em 1452, da bula Dum Diversas, do Papa Nicolau V, que autorizava ao rei português o direito de reduzir à “escravidão perpétua” sarracenos, pagãos e quaisquer descrentes. Com a penetração portuguesa no continente africano e sua posição geográfica privilegiada, Portugal torna-se o maior centro mercador de escravos. Após apenas alguns anos, Portugal já está totalmente comprometido com o comércio de escravos, ultrapassa a faixa árabe-muçulmana e tal fluxo comercial é quase exclusivamente de escravos africanos negros."

Cerca de 20 milhões de pessoas, homens, mulheres e crianças, em pouco mais de 300 anos, foram arrancados da África e trazidos para a América, para muitos historiadores, foi o maior e mais trágico deslocamento humano já produzido no planeta.


Conhecida obra de Rugendas, retratando o porão de navio negreiro 


O povo negro resistiu? Óbvio que sim, tanto na África, quanto aqui na América. Os mais de 100 quilombos na História Colonial brasileira, é a maior prova disso. Zumbi dos Palmares e sua mulher Dandara, para citar apenas duas lideranças negras, são conhecidos na história brasileira, como os principais expoentes da resistência negra do Brasil. 

Se os índios foram os primeiros a montar a resistência, os negros e negras, foram os segundos.

Vamos dar um salto na história, falaremos agora de um dos mais importantes líderes negros do século XX no país, estamos nos referindo à famosa Revolta da Chibata de 1910 no Rio de Janeiro.

A revolta foi liderada por João Cândido (conhecido como o Almirante Negro), a causa imediata desse importante movimento social foram os castigos físicos sofridos pelos marinheiros. Os revoltosos chegaram a dominar os encouraçados Minas Gerais e São Paulo e ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro.


João Cândido ao centro (Almirante Negro): líder da revolta
João Cândido ao centro (Almirante Negro): líder da revolta

Poderíamos citar muitos outros Movimentos e lideranças populares que resistiram ao domínio das elites ao longo da história brasileira, mas vamos finalizar lembrando, novamente, dos secundaristas de São Paulo e Goiás, que ocuparam dezenas de escolas, em defesa da Educação Pública, num dos mais singulares episódios que marcaram a história da Resistência Popular no Brasil.

Trabalhadores, trabalhadoras e juventude do Brasil e do Mundo, Resistam, resistir é urgente!

Fontes consultadas:

1. http://www.infoescola.com/historia/primeiros-povos-da-america/

2. http://www.coladaweb.com/historia/primeiros-povos-da-america

3. http://www.coladaweb.com/historia/pre-historia-da-america

4. http://xadrezverbal.com/2014/02/28/escravos-africanos-e-o-trafico-atlantico-historia-politicamente-incorreta/

5. http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/revolta_chibata.htm

6. https://www.google.com.br/search?q=imagem+das+revoltas+populares+no+Brasil&rlz=2C1SAVU_enBR0538BR0538&espv=2&biw=1280&bih=643&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKEwjD0sG7pZjKAhWJC5AKHQXLCUAQsAQIGw#imgrc=DjeyzTwt4nFjpM%3A

GDF mantém atual banco de contratação temporária do exercício de 2015

no Sinpro - DF

O Governo do Distrito Federal (GDF) prorrogou por mais um ano o processo seletivo simplificado para contratação temporária de professores e professoras da rede pública de ensino. A confirmação do atual banco de concursados da seleção simplificada foi publicada no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) desta segunda-feira (4). Com isso, o GDF mantém o atual banco de contratação temporária do exercício de 2015.
O Governo do Distrito Federal (GDF) prorrogou por mais um ano o processo seletivo simplificado para contratação temporária de professores e professoras da rede pública de ensino. A confirmação do...

A seleção foi feita em 2014, utilizada em 2015 e é a mesma a ser utilizada em 2016. Assim, conforme as normas que regem a contratação temporária, essa renovação do cadastro é opcional e, em alguns momentos, não foi utilizada. Todavia, a confirmação de sua manutenção no DODF desta segunda traz para todos os professores que estão no banco a possibilidade de continuar prestando o serviço na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF).
A diretoria colegiada do Sinpro-DF informa que, ao término das aulas de reposição, todos os(as) professores e professoras do contrato temporário irão retornar à sua classificação do banco de cadastro e, quando o ano letivo de 2016 iniciar, no dia 29 de fevereiro, a SEEDF vai começar a convocação pela ordem de classificação e de necessidade da rede.
Os (as) professores (as) devem manter o seu cadastro (telefone e endereço) atualizado no banco de dados da secretaria. A SEEDF ainda não confirmou a partir de que data de fevereiro irá começar a convoca-los, mas, seguindo a tradição dos últimos anos, isso pode começar a acontecer uma ou duas semanas antes do primeiro dia do ano letivo, 29 de fevereiro.
Concurso público
A Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag-DF) já autorizou a SEEDF a realizar novo concurso para a carreira do magistério público. Com várias disciplinas sem ninguém concursado da área, a SEEDF está enrolando a realização do certame. Ela tem utilizado da contratação temporária para substituir os professores efetivos na rede.
A SEEDF faz um jogo muito parecido com o da privatização com uso das Organizações Sociais (OS) porque em vez de contratar profissionais para a carreira pública, ela uso o subterfúgio da contratação temporária e, assim, traz para a rede pública de ensino um profissional menos oneroso, mais barato e mais precarizado porque ele não progride na carreira, não recebe salários em períodos de recesso de fim de ano, em janeiro não tem salário.
Assim a SEEDF acaba gerando uma economia que só numa visão neoliberal se justificaria. Importante lembrar que o DF já viveu períodos semelhantes a este, de prevalência da contratação temporária e enfraquecimento do serviço público. O Sinpro-DF sempre combateu esse tipo de pensamento.
A diretoria lembra que nos governos de concepção conservadora e pensamento neoliberal sempre se utilizaram desse recurso para não contratar servidores efetivos para o magistério público. Isso também é uma forma de usar as vagas públicas para contratar apadrinhados políticos.
Desde o início de 2015, em todas as reuniões como GDF, a diretoria colegiada do Sinpro-DF cobrou a contratação de professores concursados e somente em setembro o governo convocou 240 professores(as). Importante lembrar que só no ano passado houve 693 aposentadorias.
“No período do governo Roriz, o percentual de contrato temporário em vagas de concursados efetivos chegou a 30% do corpo docente da rede. No período do governo Arruda não foi diferente: esse percentual foi de 25%. No governo Agnelo caiu para menos de 15% principalmente por causa das contratações durante o período de 2011 e 2014, com mais de seis mil convocações. De 2015 para cá o que estamos assistindo é um refluxo na lógica do fortalecimento do serviço público que, em vez de continuar a política de contratação de professores concursados para as vagas definitivas, estamos vendo o governo investir numa privatização disfarçada”, lembra o diretor de Imprensa do Sindicato, Cláudio Antunes.
Ele alerta para o fato de que, “hoje, o governo age disfarçadamente como uma OS já que deixa de contratar servidores efetivos para vagas dos aposentados para colocar os profissionais do contrato temporário”.  Importante esclarecer que o Sinpro-DF é favorável à contratação de professores (as) do contrato temporário estritamente para os casos previsto em lei. São substituições para situações absolutamente provisórias.
Diante dessa situação, na avaliação de Antunes, “haverá falta de professores (as) no início do ano letivo de 2016, uma vez que o GDF nem tem banco de concursado suficiente para cobrir e nem fez o concurso público e, numa tríade, o GDF ainda tem uma limitação de contratação temporária estipulada pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). No entendimento da diretoria do Sinpro, a única solução é o GDF voltar a fazer o que tem de ser feito, a contratação de professores (as) via concurso público para as vagas, conforme definido pela Constituição Federal.
O mesmo ocorre com os (as) orientadores (as)  educacionais. Há um ano cerca de mil concursados (as), cujo concurso foi homologado no ano passado, aguardam convocação do GDF. Trata-se de um setor da carreira do magistério público só teve as suas últimas contratações no fim de 2009. Ao não convocá-los, a SEEDF lesa o (a) cidadão (ã) que prestou o concurso público e foi aprovado e também o estudante, que precisa desse suporte do pedagogo-orientador no processo educacional.
Além disso, mantém o GDF na ilegalidade porque não cumpre o previsto no artigo 3º, inciso I da Lei nº 5.105/2013 (Lei do Plano de Carreira). O Anexo I desse lei define que o quantitativo de vagas para esse cargo é 1.200, mas, hoje, na rede pública há pouco mais de 700 orientadores(as)-pedagogos(as) educacionais efetivos em atuação.

Mujica convoca juventude a defender e lutar pela democracia

na CUT - DF



Em um momento político crítico, em que os setores conservadores brasileiros pretendem implementar um golpe capaz de tolir os direitos da juventude, o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, aconselhou milhares de jovens: “Creiam, lutem!” A orientação foi dada na 3ª Conferência Nacional da Juventude – Conjuve, na quarta-feira dia 16/12/2015, em Brasília. O evento tem como finalidade a formulação do Plano Nacional de Juventude e traçará metas para a implantação de políticas públicas que privilegiem esse setor da sociedade.
O atual senador uruguaio ressaltou que as lutas só terão efeito se forem coletivas. “Sozinhos nada somos e precisamos nos unir com quem pensa parecido, respeitando as diferenças”. A ideia foi compartilhada pela presidenta Dilma Roussef, que participou da abertura da Conjuve ao lado de Mujica. Os dois influentes políticos latino-americanos tiveram a juventude marcada por combates em favor da democracia.
Dilma discursou para uma plateia atenta e emocionada, que se amontoou em cima das cadeiras para melhor enxergar a presidenta que sofre constantes ataques políticos. “Democracia é mudar o Brasil para melhor. Em minha juventude, vivi e lutei contra o pesadelo decorrente do desrespeito à democracia. Eu, Pepe e outros latino-americanos sabemos onde pequenos e grandes passos nos levam depois do pesadelo que se instaurou quando a ditadura emergiu”, lembrou.
Para Dilma, não existe razão consistente nos atos de quem tenta interromper um mandato eleito legitimamente nas urnas. Segundo ela, essa falta de razão tem nome: golpe. “A Constituição brasileira prevê, sim, o impeachment. Ela não prevê é a invenção de motivos.” Ainda segundo a chefe do governo, os que pretendem aprovar o impeachment a qualquer custo têm a biografia manchada. “Não compartilho com as práticas da velha política”, completou dizendo que o governo democrático popular que vigora no país há 13 anos incluiu o povo brasileiro nas rubricas orçamentárias
Em referência ao tema do 3º Conjuve: “As várias formas de mudar o mundo”, Dilma discursou: “Não mudaremos o Brasil fechando escolas e não vamos reprimir movimentos pacíficos com força da polícia. Não mudaremos o Brasil ignorando a epidemia de violência contra a juventude negra, muito menos mudaremos o Brasil adotando a redução da maioridade penal. Não mudaremos legislando contra a diversidade das famílias, característica da nossa população. Não mudaremos reduzindo direitos conquistados por uma parcela”. A presidenta afirmou ainda que para mudar, temos que garantir o voto e respeitar o desejo exprimido nas urnas.
Participaram do evento o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, o presidente do Conselho Nacional de Juventude, Daniel de Souza, o secretário-nacional de Juventude, Gabriel Medina, e a secretária-adjunta da SNJ e vice-presidenta do Conjuve, Ângela Guimarães.
Unidade e ColetividadeDrogas, imprensa e mudança de mentalidade foram os principais temas abordados pelo ex-presidente do Uruguai na Conferência. “O aumento da droga e o narcotráfico são pragas; se o mundo a legaliza, pelo menos eliminamos uma delas: o narcotráfico”.
Ainda sobre o tema, o senador chamou atenção para o assassinato de sete jornalistas no Paraguai em apenas quatro anos. Todos morreram enquanto investigavam o narcotráfico. “Será que os jornalistas não são solidários com os que morreram? Mas não são eles; são as orientações que eles recebem. A imprensa não educa contra as drogas, mas claro que existem as exceções”.
Em relação à juventude, ele deixou seu recado: “Vocês não são melhores nem piores do que nós quando éramos jovens; são diferentes. Vocês têm o direito de cometer seus erros, mas serão infames se cometerem os mesmos erros que nós cometemos”.
Disque racismo
Durante o evento, a presidenta Dilma anunciou mudanças no Disque 100, serviço que trata de violações dos direitos humanos. Agora, o canal inclui denúncias sobre questões raciais. Segundo a presidenta, o serviço foi reformulado para atender e encaminhar as vítimas desse tipo de crime, que durante muito tempo foi silenciado e negligenciado pelos governos sob um discurso de que “no Brasil não existe racismo”.
Fonte: CUT Brasília

Jovem faz sucesso com vídeos sobre personagens negros da história do Brasil

na Rede Brasil Atual

Com série "Meus Heróis Negros Brasileiros", adolescente de São Paulo chama a atenção para o racismo e a importância da valorização da cultura africana

Pedro Henrique
"O racismo é um assunto que sempre me incomodou"

São Paulo – O adolescente Pedro Henrique, de 13 anos e morador de São Paulo, está fazendo sucesso na internet com um canal de vídeos sobre heróis brasileiros negros. Educativos, os vídeos chamam a atenção para o racismo e para a importância da valorização da cultura africana.
Com linguagem ágil e descontraída, Pedro Henrique conta a história de grandes expoentes da história do movimento negro brasileiro Zumbi, Luiz Gama e João Cândido, além do escritor Machado de Assis. O próximo vídeo será sobre Dandara, que liderou o quilombo de Palmares, ao lado do marido, Zumbi.
O garoto, que fazia vídeos de temas variados em um canal do Youtube, decidiu criar a série Meus Heróis Negros Brasileiros depois de assistir à peça O Topo da Montanha, protagonizada por Lázaro Ramos e Taís Araújo, que conta a história dos últimos dias do ativista negro norte-americano Martin Luther King
"O racismo é um assunto que sempre me incomodou. Essa peça fala muito sobre isso. Depois que eu vi, me tocou muito e eu queria fazer alguma coisa, não podia ficar parado", conta Pedro, em reportagem da TV Brasil reproduzida na edição de ontem (5) do Seu Jornal, da TVT.
A mãe, Egnalda, auxilia o filho nas pesquisas históricas e se diz orgulhosa do resultado. "É ele se ver, enxergar os heróis afrodescendentes com sua grande importância, ter se inspirado e se colocar na frente de uma câmera, como protagonista, contando histórias de grandes protagonistas."
A repercussão vem sendo muito positiva, conta Pedro: "Já tinha um ano de canal, antes de começar com esse quadro, com 156 inscritos. Agora já estou com 6 mil inscritos."

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A desigualdade social em Brasília

por José Gilbert Arruda Martins

Brasília tem 2,6 milhões de habitantes, mas com poucos privilegiados, que concretamente, usufruem da riqueza e beleza da capital, por isso mesmo a velha máxima de que a cidade é  a "Ilha da Fantasia", mas aqui, nem tudo são flores, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em análise feita em 2011, constatou que a capital federal, possui sim a maior desigualdade social na média nacional.

Lago Sul
Águas Lindas de Goiás, periferia de Brasília - DF


"Análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre a dimensão, a medição da pobreza extrema e a situação social no Distrito Federal confirma que Brasília é mais desigual socialmente que a média nacional."
A curta história da capital, não consegue esconder, aos olhos de quem quer ver, essa triste e nefasta constatação. Nas beiradas do Plano Piloto, a miséria corre solta.

Apesar da "fotografia" da cidade feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostrar que aqui os serviços públicos funcionam melhor e que os extremamente pobres têm acesso à condições também melhores que os extremamente pobres do resto do país, a desigualdade entre ricos e pobres é maior que a média do nacional.


"Apesar das condições de vida dos extremamente mais pobres em Brasília serem melhores do que as condições dos extremamente pobres na média nacional, a distância econômica entre o estrato mais pobre da sociedade e a classe mais rica é maior. O coeficiente de Gini é 0,61 em Brasília e 0,54 no Brasil. Conforme a medida de desigualdade, que varia de zero a 1, quanto mais próximo de zero menos desigual."
A desigualdade social fica mais evidente, se compararmos, por exemplo, o Lago Sul, bairro criado em 1994, com uma população de 28 mil habitantes e uma estrutura de fazer inveja a qualquer país nórdico, com a periferia da Ceilândia ou Águas Lindas de Goiás, cidades que fazem parte do cinturão ao redor do chamado Plano Piloto.


"Mas o impacto da qualidade de vida do Distrito Federal fica ainda mais evidente com o cálculo do IDH de Brasília e cada um dos bairros e cidades satélites de forma isolada. Pelo estudo, feito pela Secretaria de Planejamento e Coordenação de Brasília, o Lago Sul, moradia de cerca de 28 mil privilegiados, teria 0,945 de IDH, o mais alto do mundo, superando a líder Noruega com seus 0,942."
 A Noruega é aqui, aqui no Lago Sul e Plano Piloto, não nas beiradas, não ao redor.


"Mesmo sendo grande o desenvolvimento da região, há um enorme contraste entre o chamado Plano Piloto de Brasília e as cidades-satélites que formam o Distrito Federal. O IBGE aponta índice de pobreza e desigualdade social na capital federal de 37,71% em pesquisa realizada em 2003. Na mesma pesquisa, foram registrados índices de 23,85% e 28,09% nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, respectivamente."

Nesse "ao redor" moram, principalmente, aqueles e aquelas que fazem os trabalhos mais pesados e mal pagos do DF. Moram mal, na sua maioria, em casas simples, com dificuldades com a coleta de lixo, com dificuldade de acesso à equipamentos e eventos culturais...

O "ao redor" abastece de trabalhadores e trabalhadoras as regiões centrais, são milhares e milhares de pessoas, que no dia a dia, viajam cerca de 20 a 45 km, para vir trabalhar no centro da cidade.


Rodoviária do Plano Piloto: A volta para casa



Fontes Consultadas:

1. http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2011/05/ipea-brasilia-tem-maiores-indices-de-desigualdade-do-pais

2. https://pt.wikipedia.org/wiki/Lago_Sul

3. http://www.istoe.com.br/reportagens/14204_NORUEGA+CANDANGA

4. http://www.senado.gov.br/noticias/especiais/brasilia50anos/not01.asp

5. https://www.google.com.br/search?q=imagem+da+rodovi%C3%A1ria+do+Plano+Piloto


A desigualdade social chega a níveis alarmantes

na Carta Capital

A concentração de riqueza no mundo é hoje semelhante à da Inglaterra de charles Dickens ou da França de Victor Hugo

por Antonio Luiz M. C. Costa

Os Miseráveis
Há mais gente, menos posses e mais dívidas na base da pirâmide

Em 2013, com O Capital no Século XXI, Thomas Piketty alertou para o crescimento contínuo da desigualdade de riqueza desde a década de 1970, contrária à tendência dos 60 anos anteriores e muito mais acentuada e socialmente relevante que a desigualdade de renda, mais fácil de pesquisar e na qual se concentrava a maioria dos estudos anteriores.
 Na Europa, a parcela detida pelo décimo superior subiu de 60% em 1970 para 64% em 2010 e a do centésimo superior de 21% para 24%. Nos EUA, o décimo superior subiu de 64% para 72% e o centésimo superior de 28% para 34%. Na falta de políticas ativas contra a desigualdade (como, por exemplo, impostos progressivos sobre o capital), esses países retornarão em meados do século XXI a um patamar de desigualdade semelhante àquele do fim do século XIX e início do XX.
Nesse período, o 1% mais rico (“classes dominantes”, na terminologia de Piketty) detinha metade de toda a riqueza, o décimo superior (“classes superiores”, sendo os não incluídos no primeiro 1% referidos como “classes abastadas”) , quase 90%, enquanto o 50% mais pobre (“classes populares” na terminologia do economista) ficava com meros 5%. A nostalgia chama esses tempos e de belle époque, mas poucos, mesmo nos países mais ricos, puderam usufruir de sua beleza.
O ano de 2010 foi também aquele no qual o banco Credit Suisse publicou o seu primeiro Global Wealth Report (Relatório da Riqueza Global). Naquele ano, os 50% mais pobres dos 4,44 bilhões de adultos possuíam pouco menos de 2% dos ativos mundiais estimados em 194,5 trilhões de dólares, “embora a riqueza esteja crescendo rapidamente para alguns membros deste segmento”, acrescentava esperançosamente o relatório. Os 10% superiores possuíam 83% da riqueza mundial e o centésimo superior, 43%. A riqueza média equivalia a 43,8 mil dólares líquidos. Era preciso possuir 4 mil para deixar de pertencer aos 50% mais pobres, 72 mil para chegar aos 10% mais ricos e 588 mil para o centésimo superior.
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Piketty: sem medidas ativas, como imposto sobre o capital, vai piorar ainda mais.
Cinco anos depois, o relatório de 2015, publicado em 13 de outubro, mostra que a concentração de renda mundial alcançou níveis tão críticos quanto o do mundo industrializado antes da Primeira Guerra Mundial. Apesar do relativo otimismo de 2010, a metade mais pobre dos 4,8 bilhões de adultos ficou ainda mais depauperada: agora possui menos de 1% da riqueza planetária estimada em 250,1 trilhões de dólares, enquanto o décimo mais alto controla quase 90% (87,7%, para ser exato) e o centésimo no topo, exatos 50%. A riqueza média líquida subiu para 52,4 mil, um aumento nominal de 19,6% que se reduz a 9,3% se descontados 9,5% de inflação do dólar nos Estados Unidos em cinco anos, mas os níveis de corte passaram para 3,21 mil (27% mais baixo em termos reais), 68,8 mil (13% mais baixo) e 759,9 mil (18% mais alto), respectivamente.
Percebeu-se há algum tempo, em vários países, como a limitada recuperação da economia após a crise de 2008 fluiu para os bolsos dos privilegiados, enquanto as classes média e popular ficaram ainda mais pobres pela estagnação (ou mesmo redução) dos salários reais, o aumento do desemprego e o maior endividamento. Na Espanha, por exemplo, o número de milionários em dólares (pelo critério do Capgemini e Royal Bank of Canada, que ao contrário do Credit Suisse, não inclui residência e bens de consumo) cresceu de 127,1 mil em 2008 para 178 mil em 2014, enquanto a rendaper capita caiu de 35,6 mil para 30,3 mil, o desemprego subiu de 11% para 26% e a dívida pública saltou de 39,4% para 99,3% do PIB.
Nos EUA, o 1% mais rico absorveu 95% do crescimento após a crise financeira e o empobrecimento da camada inferior reflete-se até na mortalidade. Em 1960, os 20% de homens com 50 anos mais pobres podiam esperar viver até os 76,6 anos, enquanto, em 2010, esse número caiu para 76,1. No caso das mulheres, a queda foi de 82,3 para 78,3. Enquanto isso, a expectativa de vida para os 20% mais ricos atingiu 88,8 anos para homens e 91,9 para mulheres.
Na União Europeia, a renda combinada dos dez mais ricos, 217 bilhões de euros, superou o valor total das medidas de estímulo de 2008 a 2010, cerca de 200 bilhões. A novidade do relatório está em oferecer, em números, um panorama sintético dos resultados desse processo na escala do planeta.
O efeito do crescimento das dívidas na riqueza líquida foi tão importante que resultou no paradoxo de que agora há entre os 10% mais pobres (inclusive os de patrimônio negativo) mais europeus e norte-americanos do que chineses. Nem todos esses vivem na miséria. Alguns, principalmente nos EUA, são jovens cujo patrimônio foi zerado por crédito educativo, hipoteca ou cartão de crédito, mas têm diploma, um padrão de consumo decente e o sonho de um dia chegar ao topo, mas a precariedade da sua situação ficará evidente se tiverem de enfrentar uma crise ou uma doença inesperada.
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Parte do aumento recente da desigualdade está relacionada à valorização do dólar perante a outras moedas do mundo. Quem não vive nos Estados Unidos ou em países de câmbio fixo ficou, só por isso, mais pobre em dólares. Em muitos países, esse efeito é neutralizado ou amenizado pela queda do custo de vida local em moeda estadunidense. Mas quando se refere às relações internacionais de poder e riqueza, esse empobrecimento é real, como constata qualquer brasileiro ao viajar para o exterior, pagar por serviços de internet ou, se está no topo da escala, ao negociar com bancos como o Credit Suisse.
Para usar a terminologia do banco suíço, o número de adultos na “base da pirâmide” (com menos de 10 mil dólares líquidos) cresceu de 3,038 bilhões (68%) para 3,386 bilhões (71%), sua irrisória fatia no bolo da riqueza mundial caiu de 4,2% para 3% e sua riqueza média, ou melhor, pobreza média, caiu de 2,7 mil para 2,2 mil, um tombo de 26% em termos reais.
A camada do meio (10 mil a 100 mil dólares) diminuiu de 1,045 bilhão (24%) para 1,003 bilhão (21%), sua parcela caiu de 16,5% para 12,5% e sua riqueza média passou de 30,7 mil para 31,2 mil, ilusão monetária sobre uma queda real de 7,2%. Em 2000, 3,6% dessa camada vivia na China, em 2010, pouco menos de um terço e hoje, 36%.
Os não milionários da camada superior (100 mil a 1 milhão de dólares) perderam em termos relativos. Seu contingente passou de 334 milhões (7,5%) para 349 milhões (7,4%) e sua participação na riqueza mundial diminuiu de 43,7% para 39,4%. Em tese, não têm do que se queixar: em termos absolutos, sua riqueza média passou de 254 mil para 282 mil dólares, com leve aumento real de 1,3%.
Compare-se, porém, com o que aconteceu com os milionários: seu número aumentou de 24,2 milhões (0,5%) para 34 milhões (0,7%) e sua riqueza passou de 2,86 milhões para 3,32 milhões, o que significa um aumento real de 6,1%. Sua fatia, já grande, aumentou de 35,6% para 45,2% e passou a ser a maior de todas. A parte do Leão, por qualquer critério. O perfil geográfico desse grupo também se concentrou. Cinco anos atrás, 41% viviam nos EUA, hoje são 46%. Os únicos outros países com ganho perceptível de participação foram o Reino Unido, que ao passar de 5% para 7% tomou o segundo lugar por muito tempo ocupado pelo Japão, a China (de 3% para 4%), a Suíça (de 1% para 2%) e a Suécia (idem). Alguns caíram muito, inclusive Japão (de 10% para 6%), França (de 9% para 5%) e Itália (de 6% para 3%).
O relatório não faz uma estimativa independente do número de bilionários, mas, segundo a revista Forbes, ele aumentou de 1.011 com uma riqueza total de 3,6 trilhões para 1.826 com um valor agregado de 7,05 trilhões. Em 2010, esse grupo possuía praticamente o mesmo que a metade mais pobre da humanidade. Cinco anos depois, açambarca mais que o triplo. Basta juntar num ônibus os 85 mais ricos (com 13,4 bilhões ou mais, incluídos os brasileiros Jorge Paulo Lemann e Joseph Safra), para usar a imagem do Nobel de Economia Joseph Stiglitz, para igualar a metade de baixo da pirâmide, 3,7 bilhões de seres humanos (2,4 bilhões das quais adultos), cujos patrimônios somados igualam os mesmos 2,1 trilhões de dólares.
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O relatório de 2015 do Credit Suisse inclui também pela primeira vez um estudo da “classe média global” com critérios não diretamente comparáveis ao da pirâmide acima. Esta foi definida como possuidora de riqueza líquida de 50 mil a 500 mil dólares nos EUA em meados de 2015 e valores equivalentes em outros países segundo o poder aquisitivo local do dólar conforme a estimativa adotada pela instituição – por exemplo, de 13,7 mil a 137 mil dólares na Índia, 28 mil a 280 mil no Brasil ou na China e 72,9 mil a 729 mil na Suíça, de forma a obliterar o efeito da variação cambial. Em todo o mundo, 664 milhões se encaixam nessa definição, com um patrimônio total de 80,7 trilhões (32% do total mundial), média de 121,5 mil per capita. Acima deles estão 96 milhões, com 150 trilhões (60% do total), 1,56 milhão por proprietário. As duas camadas juntas detêm, portanto, 92% de todos os bens do mundo.
É só nos países ricos que esse conceito de “classe média” se aproxima daquilo que Piketty entende pelo termo, ou seja, aqueles cujas posses estão acima da mediana, mas abaixo dos 10% superiores. Nos menos desiguais (Austrália, Cingapura, Bélgica, Itália e Japão) chega a constituir 60% da população ou mais. Mas no contexto mundial soma só 13,9% da população (com outros 2% no topo) e é na realidade mais comparável às “classes abastadas” de Piketty. Isso é verdade também para quase todos os países pobres e emergentes. Qualificam-se como “classe média” 3% dos indianos, 4% dos argentinos, 8,1% dos brasileiros, 10,7% dos chineses e 17,1% dos mexicanos. No Brasil, em especial, essa “classe média” abrange quase toda a camada conhecida pelos pesquisadores de mercado como A2 (3,6%) e a metade superior da B1 (9,6%), ou seja, é a maior parte do que chamaríamos de “elites”. Acima dela, só a classe dominante no sentido estrito, 0,6% dos brasileiros (a camada A1 conta com 0,5%).
Apesar disso, hoje é a China o país com o maior número de indivíduos na “classe média”: nada menos de 109 milhões, ante 92 milhões nos EUA. Onze outros países têm mais de 10 milhões: Japão, com 62 milhões; França, Itália, Alemanha, Índia, Espanha e Reino Unido, com 20 milhões a 30 milhões; Austrália, Brasil, Canadá e Coreia do Sul, com 10 milhões a 17 milhões.
Que ninguém se engane: essa “classe média” é uma elite em termos planetários, vive com conforto, tem em geral uma educação superior e é muito relevante como consumidora, talvez também como contribuinte. Porém, do ponto de vista do poder econômico e político e do interesse de grupos financeiros internacionais, são os 29,8 milhões de milionários, no mínimo, que contam.  Aqueles com 5 milhões a 10 milhões de dólares são 2,5 milhões e com 10 milhões a 50 milhões, 1,3 milhão, mas o foco visível do interesse do Credit Suisse está nos ultrarricos com mais de 50 milhões, que cresceram de 81 mil em 2010 para 124 mil em 2015 ou 0,0026% dos cidadãos do mundo. Destes, 59 mil vivem nos EUA (48%), 30 mil na Europa (24%), 9,6 mil (9%) na China e Hong Kong e 1,5 mil (1%) no Brasil. A Suíça tem 3,8 mil nessa categoria, mais que a França (3,7 mil).
Esses multimilionários são o equivalente aproximado, quanto ao seu número relativo, à classe senatorial da Roma antiga (600 senadores, mais os filhos adultos, em uma população de 60 milhões) ou à alta nobreza titulada nas grandes monarquias europeias do século XVIII (algumas centenas em populações de dezenas de milhões). Os meros milionários podem ser equiparados à classe curial da antiga Roma (mercadores, conselheiros e funcionários municipais) ou à pequena nobreza não titulada da Europa pré-revolucionária, ambas perto de 1% da população da época.
Conforme Piketty, as grandes novidades do século XX, atribuídas por ele aos choques políticos e econômicos das duas guerras mundiais, foram a redução da participação da classe dominante na riqueza, para cerca de 20% do total em vez dos 50% tradicionais até 1913, e o surgimento de uma  verdadeira classe média, formada por algo como 40% da população e 35% ou 40% da riqueza. Sua parcela é constituída fundamentalmente de residência e bens de consumo e poupanças, representando pouco poder econômico, mas uma razoável segurança. Nas sociedades mais antigas, os 90% inferiores formavam uma massa pouco diferenciada e possuíam 10% ou menos da riqueza social.
O relatório do Credit Suisse mostra uma sociedade global cada vez mais próxima desses padrões antigos e medievais, e mais distantes daqueles atingidos pelos países mais desenvolvidos nos anos do pós-Guerra. Desde o início da era neoliberal, a riqueza acumula-se cada vez mais no topo, enquanto as maiorias empobrecem em termos relativos e até absolutos. As crises mostraram-se, sobretudo, oportunidades de radicalizar esse processo: para conter as falências em massa que agravariam a crise, valores imensos são mobilizados pelos Estados para financiar os poderosos, cuja incompetência é premiada também com cortes de impostos, salários e direitos trabalhistas, enquanto as massas pagam a conta com um salário congelado ou reduzido e impostos mais altos, quando não perdem o emprego e se endividam ainda mais.
O crescimento de alguns países emergentes, principalmente a China, foi o único fator importante a contrariar essa tendência geral, ao incorporar camadas maiores da população à “classe média” mundial (apesar de, no caso chinês, isso também aumentar sua desigualdade interna em relação às massas camponesas). Mas esse fator está em desaceleração, ao passo que as pressões para privilegiar ainda mais os ricos e lhes dar maior liberdade de ação estão em alta em quase toda parte e as crises em formação só tendem a reforçá-las. 
*Reportagem publicada originalmente na edição 873 de CartaCapital, com o título "No mundo de 'Os miseráveis"

Em novo conto de fadas, princesa é acordada com beijo de uma rainha

na Rede Brasil Atual

'A Bela e a Adormecida', do inglês Neil Gaiman, é uma releitura contemporânea que mistura dois contos famosos. A diferença é que desta vez, o herói não é um homem

por Xandra Stefanel, especial para RBA





Era uma vez uma rainha que estava preparando os detalhes finais de seu casamento quando três anões lhe anunciaram que uma maldição assolava a cada dia uma nova cidade e fazia com que todos, humanos e animais, dormissem para sempre. Como poderia a rainha se casar sabendo que o mundo todo cairia em um sono eterno? Ela decidiu deixar seu belo vestido de lado, munir-se de armadura e espada e partir para uma viagem cheia de aventuras para combater um mal de origem desconhecida. “Ela mandou buscar o noivo, pediu-lhe que não fizesse cena; disse que ainda se casariam, mesmo ele sendo apenas um príncipe, e ela, uma rainha, e fez cócegas no belo queixo dele, e beijou-o até que ele abrisse um sorriso.”
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Neil Gaiman: 'Eu não tenho muita paciência para histórias em que mulheres são salvas por homens'
Esta é a história de A Bela e a Adormecida (Editora Rocco, 70 págs.), do escritor inglês Neil Gaiman. Neste conto de fadas contemporâneo, as protagonistas são mulheres e não é um príncipe encantado que vai salvar a adormecida de seu sono profundo. O autor declarou ao jornal britânico The Telegraph: “Você não precisa de príncipe para salvá-la. Eu não tenho muita paciência para histórias em que mulheres são salvas por homens”.
Mas nem tudo é o que parece na história de Gaiman: a princesa que a rainha vai salvar não é exatamente quem parece ser. Apesar de a ilustração principal mostrar a rainha beijando a princesa, também não se trata de uma história com viés homoafetivo.
Lançado no Brasil no final de 2015, o livro marca um ano em que a discussão sobre gênero foi intensa e produtiva. O que A Bela e a Adormecida faz é desconstruir os “tradicionais” (e ultrapassados) papéis de mulheres e de homens dos contos de fada. E tudo isso com uma história cativante e encantadora, que mantém leitores os presos na trama do início ao fim.
O livro voltado para jovens tem edição em capa dura, sobrecapa em papel transparente e as ilustrações do miolo são feitas pelo famoso artista inglês Chris Riddell, cartunista político do jornal The Observer. As imagens, em preto e branco acompanhadas de pantone dourado, guiam o leitor por reinos e florestas encantadas, repletas de sonâmbulos e teias de aranha.
Não é por acaso que a obra ficou em primeiro lugar na cobiçada lista dos livros mais vendidos do jornal americano The New York Times. Forma e conteúdo têm qualidades indiscutíveis. Só não vale esperar pelo tradicional “E viveram felizes para sempre”. Imprevisível, o final do livro é bem melhor que isso. O autor deixa claro que a rainha tem a coragem e a determinação para decidir seu próprio futuro.
A Bela e a AdormecidaAutor: Neil Gaiman
Ilustrações: Chris Riddell 
Tradução: Renata Pettengil
ISBN: 978-85-7980-249-2
Formato: 20cm x 27cm
Páginas: 70
Preço: R$ 49,50
Editora: Rocco Jovens Leitores

Gilberto Mendes (1922-2016) e a homenagem aos Sem Terra de Eldorado

no site do MST

Falecido no dia 1º, compositor musicou poema de Haroldo de Campos sobre os 19 sem-terra assassinados em 1996 no sudeste do Pará; foi militante do PCB



O compositor vanguardista Gilberto Mendes (1922-2016) deixou também sua marca na história social da música brasileira, ao musicar, em 1997, o poema “O Anjo Esquerdo da História”, de Haroldo de Campos.

O texto é uma homenagem aos 19 Sem Terra assassinados no dia 17 de abril de 1996, em Eldorado dos Carajás (PA). A data é considerada o Dia Mundial da Luta Camponesa e Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

Mendes faleceu no primeiro dia do ano, aos 93 anos, em Santos (SP). Era professor aposentado da Universidade de São Paulo e foi militante do Partido Comunista Brasileiro entre os anos 40 e 60.

Um dos pioneiros da música concreta no Brasil, destacou-se também no teatro musical. Segundo o crítico Sidney Molina, da Folha de S. Paulo, a música sobre os sem-terra é uma de suas melhores obras.

Ele diz que a força da elegia fez Mendes “passar abruptamente de um registro sacro para a pura declamação do rap”.

Em “Vila Socó, Meu Amor”, Gilberto Mendes prestou homenagem aos 93 mortos no incêndio da favela Vila Socó, de Cubatão (SP), em 1984, que ele chegou a definir como uma Bomba de Hiroshima.

Ele escreveu a música dias após a catástrofe: “Não devemos esquecer os nossos irmãos da Vila Socó, transformados em cinzas, lixo em pó. A tragédia da Vila Socó mostra como o trabalhador é explorado, esmagado sem nenhum dó”.

Confira aqui o poema de Haroldo de Campos para os sem-terra:

O ANJO ESQUERDO DA HISTÓRIA

Os sem-terra afinal
estão assentados na
pleniposse da terra:
com-terra: ei-los
enterrados
desterrados de seu sopro
aterrados
terrorizados
terra que à terra
torna
pleniposseiros terra-tenentes de uma
vala (bala) comum:
pelo avesso afinal
entranhados no
lato ventre do
latifúndio
que de improdutivo revelou-se assim ubérrimo: gerando pingue
messe de
sangue vermelhoso
lavradores sem
lavra ei-los: afinal convertidos em larvas
em mortuários despojos:
ataúdes lavrados
na escassa madeira
(matéria)
atocaiou-os
mortiassentados
sitibundos
decúbito-abatidos predestinatários de uma
agra (magra)
re(dis)(forme) forma
-fome- a- grária: ei-los gregária
comunidade de meeiros
envergonhada agoniada
avexada
- envergoncorroída de
imo-abrasivo remorso a pátria
(como ufanar-se da?)
apátrida
pranteia os seus despossuídos párias pátria parricida:
que talvez só afinal a
espada flamejante
tória cha-
mejando a contravento e
afogueando os
agrossicários sócios desse
fúnebre sodalício onde a
morte-marechala comanda uma
torva milícia de janízaros-jagunços:
somente o anjo esquerdo
contrapelo com sua
multigirante espada poderá (quem dera!) um dia
convocar do ror
nebuloso dos dias vindouros o dia
afinal sobreveniente do
justo
ajuste de
contas
1 Nota do editor: Poema originalmente publicado na coletânea Crisantempo, de autoria de Haroldo de Campos (São Paulo: Editora Perspectiva, 1998).