sábado, 26 de setembro de 2015

Os Desafios de Ser Adolescente, Pobre e Negro no Brasil - Parte I

por José Gilbert Arruda Martins

Viver a adolescência na América Latina é um dos maiores desafios que um jovem pobre pode ter pela frente. A região é uma das mais pobres e desiguais do planeta. O Brasil é um dos mais importantes países dessa parte do mundo. Mas, apesar da sua importância, é também um dos que mais matam.

Adolescentes e jovens morrem no trânsito caótico, na violência das drogas, mas, também, por força de uma verdadeira política estatal de extermínio.

É isso mesmo, estatal. É o Estado, usando sua força de repressão "legal" para exterminar jovens pobres e negros nas periferias, principalmente das grandes cidades do país.

Vamos ao logo dos próximos dias, postar aqui nesse espaço democrático, uma síntese do Relatório do Unicef sobre a situação dos adolescentes do país.

Vamos aproveitar para falar um pouco, também da América Latina, região importante para cada um de nós.


Por Marie-Pierre Poirier 

"Com este relatório sobre a Situação da Adolescência Brasileira 2011, o UNICEF convida para uma reflexão sobre um novo olhar para a adolescência, que desloca o discurso que só vê a adolescência como um “problema” para vê-la com uma oportunidade de desenvolvimento

Os 21 milhões de adolescentes representam para o País um quadro singular de energias e possibilidades. Mas para realizá- -las deve-se conhecer e reconhecer que um conjunto de vulnerabilidades, presentes na sociedade, afetam de maneira mais grave os adolescentes. Além disso, o relatório aponta as desigualdades que fazem com que, entre os adolescentes, há os que sofrem as maiores violações aos seus direitos.

Nascer branco, negro ou indígena, viver no Semiárido, na Amazônia ou numa comunidade popular nos grandes centros urbanos, ser menino ou menina, ter deficiência ainda determinam de  forma cruel as possibilidades que os adolescentes têm de exercer seus direitos à saúde, à educação, à proteção integral, ao esporte, ao lazer, à convivência familiar e comunitária. Tais vulnerabilidades e desigualdades precisam ser enfrentadas e superadas.

O Brasil não será um país de oportunidades para todos enquanto um adolescente negro continuar a conviver com a desigualdade que faz com que ele tenha quase quatro vezes mais possibilidades de ser assassinado do que um adolescente branco; enquanto os adolescentes indígenas continuarem tendo três vezes mais possibilidades de ser analfabeto do que os outros meninos e meninas; ou ainda enquanto a média nacional das meninas de 12 a 17 anos que já engravidaram for de 2,8% e na Amazônia essa média continuar sendo de 4,6%. 

Enfrentar as desigualdades e reduzir as vulnerabilidades é, portanto, uma tarefa urgente. Isso só se faz, com escala e sustentabilidade, por meio de políticas públicas universais, para todos os adolescentes, e também de políticas específicas, desenhadas para essa fase especial da vida e para as diferentes condições de se viver as adolescências que hoje temos no Brasil. 

Neste relatório, apontamos algumas políticas já desenhadas e efetivadas no País, dirigidas aos adolescentes, como contribuição para a análise de conquistas e desafios e para reafirmar a importância dessas políticas. Tratamos ainda de uma condição fundamental para a realização do direito de ser adolescente, o direito de cada menina e menino à participação cidadã. 

Uma participação que promove o conhecimento e a ação, a mobilização e a transformação. Porque, além de um direito, a participação é uma poderosa aliada na geração de oportunidades de desenvolvimento e de enfrentamento das vulnerabilidades. 

Também é um caminho privilegiado para encontrarmos, junto com os adolescentes, respostas para as complexas questões que emergem para cada um de nós e para o mundo em que vivemos neste século 21. 

Este relatório traz ainda um capítulo denominado Chamada para a ação, uma contribuição para a identificação de temas e políticas que vão ajudar a fazer valer os direitos desses meninos e meninas com sua participação cidadã. 

O Brasil já mostrou que sabe e pode fazê-lo. Nos últimos 20 anos, implementou políticas fundamentais para a melhoria das condições de vida na infância, reduzindo a mortalidade infantil, combatendo a exploração da mão de obra de crianças e quase universalizando o acesso ao ensino fundamental. É chegada a hora de se ampliar e de se aprofundar essas conquistas, incluindo na agenda de prioridades dada às crianças, os adolescentes. 

Para o UNICEF, não há tempo como este. O Brasil tem diante de si a possibilidade de uma escolha transformadora: garantir o direito de ser adolescente a esses 21 milhões de cidadãos é assentar as bases para um País ainda mais forte, mais inovador e mais respeitado, porque mais justo e com mais equidade, na realização dos direitos dos cidadãos de até 18 anos.

Sou neguinha e daí

Por Dih Nizinga no Nós, Mulheres da Periferia
Neguinha, sempre quando a minha irmã mais velha, que se considera branca, se dirigia a mim quando éramos crianças, era desta forma que ela me chamava – “vem cá sua neguinha”. Ofensa, hostilizada, era desta forma que ela costumava brigar comigo. Para mim, a mais preta da minha casa, soava como ofensivo, me sentia muito mal e chorava muito, pois era a única com a cútis mais escura.
Dih Nizinga
Dih Nizinga
Minha mãe sempre nos dizia que eu não era neguinha, e sim moreninha, e fazia com que “neguinha” se tornasse ainda mais ofensivo para mim. Até que um dia eu decidi, nunca mais ninguém irá me chamar de neguinha. Com essa decisão, comecei a negar a minha raça. Quando a minha irmã mais velha gritava comigo me chamando de neguinha, me defendia como se isso fosse um xingamento e revidava.
Até que um dia comecei a ver que ser negra não era ruim, como me diziam, e o tomei a decisão mais importante da minha vida. Pouco me importa o que a minha irmã diz, o que me importa é ser quem eu sou: Negra. Desde então, assumi a minha cor e comecei a me orgulhar disso – sou Neguinha.
E hoje, a minha irmã me respeita e já não me chama de neguinha como se fosse uma forma ofensiva e sim carinhosa. Acredito que ela também tenha aceitado que é filha de negra, por mais que tenha a pele clara, também é negra ou afrodescendente.
Não importa mais a cor da pele e sim nossas raízes e isso deixo bem evidente para meus filhos e meus sobrinhos, filhos desta minha irmã, que, aliás, não tem os mesmos defeitos, ou talvez a mesma psicose que tínhamos quando criança.
Nós mulheres negras somos obrigadas desde criança a negar a nossa origem e aprendermos a nos comportar como brancas, quando é evidente, pela nossa melanina, traços fortes, cabelos enrolados, olhos castanhos ou pretos, traços de negra e não de branca, ou, ainda pior, moreninha, como a sociedade racista impõe.
Hoje sabemos a nossa origem e não sofremos mais uma psicose do distúrbio de identidade em que somos impostas. Sou Neguinha, e daí?!
Dih Nzinga (Edilene Nascimento), 33 anos. Mora na zona sul de São Paulo, no bairro Chácara Santo Amaro, na região do Grajaú. Estuda Relações Públicas.
Colabore você também com a gente. Envie seu texto paracontato@nosmulheresdaperiferia.com.br

Que horas ela volta? e os sonhos de minha mãe para mim

  no Nós Mulheres da Periferia
Regina Casé em "Que horas ela volta?" (Divulgação)
Depois de ler algumas críticas e muito ouvir sobre o filme “Que horas ela volta?”, de Anna Muylaert, resolvi que eu deveria assistir a este filme ao lado de quem realmente entende do assunto. Pois pra além da coincidência do nome Jéssica, eu também fui criada por uma empregada doméstica, minha mãe, dona Luzia Moreira. Que, aliás, até hoje dá um duro danado. Fiquei curiosa pra saber a opinião de alguém que realmente vive a questão no dia a dia desde os 14 anos de idade.
A personagem Val veio de Pernambuco, minha mãe do Paraná. Val não pôde trazer a filha para viver com ela, enquanto minha mãe veio com toda a família, inclusive a mãe Evarista, que, assim como a música de Chico, morreu na contramão atrapalhando o tráfego, para entregar a roupa passada a ferro para a patroa. Eu, assim como Jéssica, sou a primeira a quebrar o ciclo familiar e trocar a casa de família pela sala de aula.
O filme vai até a ferida da sociedade brasileira, onde a luta de classes é encoberta com a frase “você é quase da família”. O quase é a linha tênue que mantém a empregada na cozinha quando o dia é de festa. O quase é o andar que separa o quartinho sem ventilação do quarto luxuoso de hóspedes. O quase é o presentinho que substitui o salário digno, que sempre fica aquém daquilo que cada babá, empregada doméstica – mensalista ou diarista – realmente deveria receber segundo as leis que regem essas profissões.
Mas o “quase” é também a manutenção da terceirização do trabalho doméstico, o mesmo que deveria ser dividido igualmente entre os membros de uma família. E o patrão “trabalhador autônomo”, que bem aparece no filme, poderia muito bem levantar o corpo da cadeira e levar o prato até a cozinha, assim como as tantas outras atividades realizadas pela empregada Val – lavar, passar, guardar, acordar a família para o café. Todas poderiam muito bem ser divididas entre todos da casa, enquanto a “mãe-patroa” trabalha.
Regina Casé em "Que horas ela volta?" (Divulgação)
Regina Casé em “Que horas ela volta?” (Divulgação)
A maior parte das casas onde minha mãe trabalhou foram de pessoas de Perus, nosso próprio bairro. Todos de classe média. Nossos vizinhos ou até parentes. Claro que muitos deles com nível superior, alguma condição econômica mais elevada, mas ninguém era rico.
Minha mãe sempre disse que isso também era difícil, uma vez que o salário também não era dos mais altos, mas em compensação, a relação era mais de amizade que trabalhista, o que também abre margem ao “quase”. Quase amiga, quase empregada. Ao assistir ao filme, dona Luzia se revoltou com Val algumas vezes. Não gostou de sua passividade perante aos patrões. Me narrou um episódio no qual uma das patroas pediu para que ficasse até às sete da noite para limpar a casa. “Se o que você me pagasse valesse a pena, eu até ficava, né?”!. Certeira. Minha mãe aprendeu desde cedo que não se pode ser passiva diante das adversidades da vida. E tá aí alguma coisa que ela não enxergou em Val. “Eu não teria paciência pra continuar em um emprego como esse, não”.
A PEC das domésticas trouxe uma série de direitos a essas trabalhadoras, como a garantia de salário nunca inferior ao mínimo (hoje R$788) e jornada de trabalho nunca superior a 8 horas diárias. Em maio desse ano, o Senado aprovou outros sete benefícios, que vão de contrato de trabalho e multa em caso de demissão. O texto foi sancionado em junho pela presidenta Dilma Rousseff.
Assistir a esse filme com minha mãe é trazer à tona todas as suas memórias: de luta, cansaço, de dor. “Trabalhar em casa de família não é bom negócio para ninguém. Por mais legal que a família seja com a gente, a gente nunca é valorizada completamente. Nunca paga por tudo que trabalhamos. A gente faz demais dentro de uma casa. Você faz tudo por muito pouco. Tem dia que acordo e não tenho vontade de ir”. É a opinião da minha mãe, que, como a protagonista do filme, leva no corpo as dores diárias de quem se doa para uma casa que não a sua, uma família sem seus filhos.
Assim como Val, muitas são as mães da periferia que deixam seus filhos pela manhã para criarem os filhos das patroas até a noite virar. “Olha o filme, Val amou tanto o filho da patroa e a patroa não amou nem um pouquinho sua filha”.A troca não é mútua. O cuidado de um nem sempre é a valorização do outro.
De 2014 para 2015, decidi estudar inglês na Irlanda. Ao chegar do intercâmbio, em agosto, minha vizinha Célia, também empregada doméstica, me abraçou emocionada. “Oh você aí pra minha patroa ver que filha de empregada também faz intercâmbio. Ela, que pensa que lugar de filha de empregada é só na cozinha, ainda vai ver minha filha em Londres”, falou orgulhosa da filha que logo irá completar o ensino médio.
Eu, mais emocionada ainda, virei pra Célia e disse que, com certeza, sua filha vai para Londres ou qualquer outro lugar que ela desejar. Pois como Jéssica, eu só fui para a Irlanda onde, vejam, também fui babá, por ter tido o apoio dessa minha mãe guerreira. E foi como mãe que Luzia mais se enxergou em Val. Lembrou de quando eu passei na escola técnica, entrei na universidade e quando, finalmente, realizei o sonho de morar no exterior.
Embora bolsista do Prouni, eu só ingressei e permaneci na universidade porque dona Luzia sempre esteve na dianteira de minha vida, financeira ou emocionalmente. Porque ela me levava às 6h no ponto de ônibus para ir à escola técnica, nas ruas sem iluminação de Perus. E durante o ensino fundamental. E antes – até – quando, aos seis anos de idade, foi de sua camisa rosa que li a primeira palavra de minha vida – PA-KA-LO-LO – após ela brincar comigo de escolinha, ensinando-me as vogais.
Sei bem que muitas amigas de minha mãe não puderam estar presentes na vida de suas filhas como gostariam. Assim como Val no filme, para que tivessem uma vida melhor que a delas, essas mães – sempre doadoras de si próprias- abrem mão da maternidade com o coração nas mãos, mas com  o sonho de que suas crias serão maiores que elas puderam ser.
Nós, as novas mulheres graduadas vindas da periferia, somos as Jéssicas filhas da Luzia, filhas da Val, filhas da Célia, que, muitas vezes, acompanharam suas mães nos afazeres das casas dos outros. A força de trabalho que hoje surge das bordas da cidade como professoras, jornalistas, advogadas, dentistas, empresárias, tantas outras, vêm das mesmas mãos de quem lavou as roupas que nunca poderiam dar aos filhos. De quem sempre limpou a casa que não era sua. De quem aguentou calada ofensa só pra garantir aos filhos o sustento, a educação que a sociedade não lhe garantiu no passado.
Jéssica e sua mãe Luzia
Jéssica e sua mãe Luzia
Mas bonito mesmo é ver que o fato de Jéssica passar no vestibular serve como ponte definidora do empoderamento e autonomia de Val. Todo seu esforço em deixar a filha no nordeste para trabalhar e enviar dinheiro pra ela se tornam recompensados. Esse é o ponto alto da narrativa, é o processo contrário de filha empoderando mãe, mas num ato de retribuição, troca, presente esperado por toda a vida. Ponto alto dentro de mim também, de minha mãe ao meu lado, que, extasiada, quase deu um pulo da cadeira pra dizer “Olha Jéssica, lembrei de você, nas tantas vezes que você tava fazendo prova”. Quantas vezes ela me esperou quatro, cinco horas naqueles vestibulares inacabáveis? Quantas vezes ela e meu pai juntaram as moedas pra eu ler os livros recomendados. “Quantas vezes, enquanto eu passava roupa na casa da minha patroa, eu pedia a Deus, Jéssica, chorando, que você tivesse estudo”.
No mais, que haja cinema a céu aberto nas periferias para as nossas Vals terem acesso a uma história que pertence a elas, pois eu e minha mãe tivemos que tomar trem, metrô e ônibus para chegar até o local mais próximo.



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Os ataques do Governador de Brasília aos Serviços Públicos, Foram Entendidos pela Maioria dos Trabalhadores?

por José Gilbert Arruda Martins

Lutar por melhores salários, sempre foi, é, e será muito importante. Quantos de nós estamos preparados (as) para Lutar por qualidade dos serviços públicos, por humanização dos serviços públicos, por Liberdade e Democracia e contra um sistema perverso, que abandona, exclui e mata a auto-estima do Povo?


Prof. Gilbert na paralisação dos servidores do GDF, dia 24/09

A Praça estava maravilhosamente lotada de trabalhadores e trabalhadoras. Mas quantos de nós estaríamos ali se fosse para lutar contra o estupro, contra a onda conservadora do Congresso Nacional, o desrespeito à democracia, contra o discurso anti-civilizatório de ódio que se espalha fortemente por Brasília e pelo Brasil?

A preocupação, parece ser apenas, pelo urgente, pelo bolso vazio, não que não devemos nos preocupar com o bolso vazio, mas não pode ser apenas isso.

Quando reuniremos tanta gente para lutar por nossos sonhos de uma sociedade mais justa e igualitária? Ou isso é coisa da utopia esquerdista?

Quantos de nós, que fomos ontem à Praça do Buriti, estamos enxergando o quanto o sistema é falido e perverso para a Classe Trabalhadora e a sociedade pobre como um todo?

Repito, lutar por salário é lutar por dignidade, sei disso, por isso luto também. Mas é só isso? Nossa luta é apenas por salário?

Cadê a luta por Democracia?

Cadê a luta por liberdade?

Cadê a luta contra o Sistema Econômico, que todos nós, que lemos um pouco, que enxergamos um pouco, que refletimos um pouco, sabemos que não funciona mais, que é completamente selvagem, violento, anti-civilizatório?

Concordo em lutar contra o governo Rolemberg contra o "calote", contra os atrasos nos pagamentos etc., mas não posso acreditar que a Classe Trabalhadora não esteja vendo o que o véu esconde.

Em conversas com um e com outro durante a manifestação de ontem, observando as falas dos companheiros e companheiras no carro de som, percebemos, dentro da minha imensa limitação, que a preocupação que predominou no evento e, na maioria das manifestações das quais participei, e, eu participei de quase 100%, a preocupação predominante é apenas com salário.

Inclusive, muitos e muitas ao redor, das diversas categorias de trabalhadores, defenderam abertamente golpe, intervenção militar, e, o pior, o discurso do ódio.

Onde fica a Liberdade?

Onde fica a Democracia?

Vamos ficar a vida inteira apenas preocupados em "encher o saco para que ele fique em pé?" enquanto, se perde entre nossos dedos a capacidade de luta por uma vida diferente e melhor para todos e todas?

A luta por salário tem que vir recheada de luta, energia e reflexões e ações pela vida, pela vida de todos, pela vida das pessoas mais pobres.

Reclamamos das elites que nos exploram.

Reclamamos das elites que são míopes.

Reclamamos das elites que sempre viraram as costas para o Brasil e têm como horizonte Miami.

Mas, a meu ver, quando pensamos apenas em salário, fazemos, conscientes ou não, a política do patrão, a política das elites.

Sou a favor da greve.

Sou a favor da paralisação.

Sou a favor da luta da Classe Trabalhadora.

Luto desde quando me entendo por gente, portanto, posso até estar sendo ingênuo, mas o que ouvi na Praça ontem, me deixou preocupado e, não foi a primeira vez que sai agoniado.




Novo clipe de Lady Gaga tira a cultura do estupro de debaixo do tapete; assista

na Revista Fórum
O vídeo conta a história de quatro jovens que são abusadas sexualmente e mostra as dificuldades de superação desse tipo de violência. A própria cantora já revelou, em entrevista, ter sido estuprada quando tinha 19 anos. Agora, ela irá doar parte da renda arrecadada com as vendas da canção Till It Happens To You para organizações de apoio a vítimas

Reprodução

Por Andréa Martinelli, do Brasil Post
Lady Gaga lançar um single novo parece não ser algo tão ‘cheio’ de novidade — ou emocionante. Mas, desta vez, ele é isso e mais um pouco. Em Till It Happens To You, Gaga faz algo necessário e urgente: expõe a cultura do estupro e traz à luz todas as etapas pelas quais as vítimas deste tipo de crime passam.
O clipe e a música foram disponibilizados para download no iTunes e Youtube nesta sexta-feira (19). O vídeo conta a história de quatro jovens que são abusadas sexualmente e mostra as dificuldades da superação e esquecimento da cena.
Co-autora da letra com Diane Warren, Lady Gaga vai doar parte da renda arrecadada com as vendas da canção para organizações de apoio a vítimas de abuso sexual.
O lançamento do vídeo coincide com o aniversário de um ano da campanha da Casa Branca, It’s on us (Está com a gente, em tradução livre) — que busca conscientizar e incentivar a não silenciar casos de violência sexual.
Segundo uma pesquisa publicada no periódico Journal of Adolescent Health, a agressão sexual em universidades alcançou ‘níveis epidêmicos’. Mais de 18% das estudantes de uma universidade dos Estados Unidos relataram incidentes de estupro ou tentativas de estupro durante seu primeiro ano na instituição.
Til It Happens To You faz parte da trilha sonora do documentário The Hunting Ground, de Kirby Dick, que estreou no Festival de Sundance deste ano. O documentário faz um recorte dos casos de abusos sexuais ocorridos em campus de universidades nos Estados Unidos.
Ano passado, Lady Gaga revelou ter sido vítima de estupro quando tinha 19 anos. Durante entrevista ao programa de rádio The Howard Stern Show, a cantora afirmou que foi violentada por um produtor vinte anos mais velho do que ela.
“Atravessei por fases tão terríveis que hoje me sinto capaz de sorrir, graças às sessões de terapia que me ajudaram ao longo dos anos a superar o trauma sofrido. Minha música me ajuda como um maravilhoso apoio terapêutico. Mas, você sabe, eu era fechada como uma concha dentro de mim mesma”, disse.
E continuou: “Não era eu mesma. Para relatar com fidelidade, na época eu tinha 19 anos de idade. Eu fui para a escola católica e, de repente, quando aconteceu toda essa coisa louca, continuei o meu caminho. Pensava: será que todos os adultos agem dessa forma? Eu era muito ingênua”.
Obrigada por não silenciar, Gaga.


Jovens criam projeto para contar histórias de moradores de rua

no iG Por Beatriz Atihe - iG São Paulo |


Página tem mais de 50 mil seguidores e já contou mais de 70 histórias de pessoas que vivem nas ruas da capital paulista.


Com jeito ressabiado e voz baixa, os moradores de rua de São Paulo estão sempre dispostos a conversar com quem se mostra disponível para escutá-los. Para contar as histórias dessas pessoas, Vinícius Lima, 18 anos, e André Soler, 21 anos, montaram a SP Invisível, uma página criada nas redes sociais para mostrar a vida por trás dos cobertores.
Amigos de infância, os jovens sempre tiveram interesse por quem morava na rua. “Um dia, parei para conversar com um rapaz e ele me contou sobre a vida dele e eu achei muito interessante. Foi então que comecei a reparar nessas pessoas que são consideradas invisíveis por muitos”, afirma Vinícius, que está no primeiro ano da faculdade de jornalismo.
Criada em março deste ano, a página já contou sobre a vida de aproximadamente 70 moradores de rua. “Eles, geralmente, falam bastante, porque são poucas as pessoas que param para escutá-los. Acho que isso é uma das coisas que mais me incomoda, as pessoas reparam muito mais nas coisas do que nas pessoas e publicando isso, a gente consegue mostrar como a vida realmente é”, conta o estudante.
Responsável pelos textos que compõem as imagens, Vinícius conta que a meta é ter uma história por dia e que a abordagem é feita de maneira mais simples possível. “Tudo começa com uma conversa informal. Quando nós percebemos que eles começam a ficar mais soltos, explicamos sobre o projeto”. O desafio maior para os estudantes é conseguir a foto, pois as histórias só são publicadas com as imagens. “É muito compreensível esse medo deles em aparecer, eles já têm tão pouco que acham que as pessoas podem se aproveitar deles”.
Depois de ter conversado com mais de 120 moradores de rua, Vinícius conta que a maioria dos entrevistados é homem e está na rua por causa do álcool. “Depois do álcool, tem o crack, mas também é muito impressionante a quantidade de homem que está na rua por causa de mulher”.
De todas as histórias sobre as quais Vinícius escreveu, as que mais despertaram curiosidade no jovem foram as das pessoas que vão morar na rua por opção. “ Conversei com um cara que discutia muito com a mulher e, para tentar manter de alguma forma uma boa relação com a família, ele saiu de casa e foi para a rua”. Outros casos que também rendem muito na página são os de pessoas que querem continuar na rua. “Alguns falam que ali conseguem comida, bebida e vão vivendo assim”.
A página conta com mais de 50 mil seguidores e já serviu de inspiração para pessoas de outras cidades, como Rio de Janeiro, Curitiba, Campo Grande e Fortaleza. “Nós recebemos recados de pessoas de outros lugares pedindo permissão para ter o nome da página e acompanhar o projeto feito em São Paulo. Geralmente, nós mandamos um modelo e uma das principais dicas que damos é da foto não ser preta e branca, para não deixar a história ainda mais triste”, conta o estudante.
“Eu apanhei tanto da minha madrasta que fiquei com a cabeça ruim”
Uma das histórias contadas pelos estudantes é a da Elisângela. Ela mora em um barraco com seu marido e outra mulher que ela conheceu e abrigou. Apesar de não lembrar a idade, ela sabe bem o que precisa fazer todos os dias no mesmo horário: pegar comida, enquanto seu marido cata latinha. “É assim que a gente vai sobrevivendo”. Quando era pequena, Elisângela, que é mineira, apanhava muito da madrasta e, por isso, veio para São Paulo com o pai e a irmã.
Chegando à capital paulista, o pai delas faleceu. O trauma deixou muitas sequelas em Elisângela, que perdeu parte da memória e ainda tem muitas cicatrizes. Na rua conheceu um rapaz com quem teve dois filhos. O menino morreu ainda bebê e o marido foi morto por traficantes.
Hoje, Elisângela diz não ter sonhos, apenas vontade de conversar com sua filha. “Sinto falta dela, de conversar com ela”.
“Eu preciso de água, porque tenho pedra no rim, mas muitas vezes, as pessoas não dão”.
Wesley, 30 anos, veio de Natal há seis meses, acreditando que conseguiria um emprego e uma vida melhor. “Chegando aqui foi só ilusão, consegui nada”. Sem ter onde ficar, Wesley acha que o mais difícil na cidade é conseguir comida. Com pedra no rim, ele precisa sempre estar tomando água “Tem gente que ajuda, mas alguns não dão nem água”.
Seu maior desejo é voltar para Natal e reencontrar sua filha de 10 anos. O problema é que ele não tem dinheiro para comprar a passagem. “Minha família me aceita de volta, mas exige que eu volte por minha conta. Do mesmo jeito que eu vim, tenho que dar um jeito de voltar”.
Dormindo nas calçadas do centro de São Paulo, Wesley afirma que não confia em ninguém: “apenas nas minhas pernas e em Deus. Agradeço todos os dias por acordar”. Ele sempre liga para a filha, mas se chateia com a pergunta que sempre ouve: “Ela fala: por que você fez isso, papai? Volta logo”.


“No Brasil, ainda é normal homem pisar em mulher, branco em preto e rico em pobre”, diz Anna Muylaert

Revista Fórum
Diretora de Que horas ela volta? conta como se deu o processo de elaboração do filme que está colocando o dedo na ferida das relações entre empregadas domésticas e patrões no Brasil
Por Claudia Rocha e Guilherme Weimann, do Brasil de Fato
(Foto: Guilherme Weimann)
(Foto: Guilherme Weimann)
Que horas ela volta? é rotulado pela crítica como um filme de arte. Para a diretora Anna Muylaert, entretanto, o longa precisa ser assistido também nas periferias do país. Nada mais justo, já que o roteiro conta a história de Val (Regina Casé), uma empregada doméstica que passou anos trabalhando na casa de uma família rica do Morumbi e tem sua vida alterada com a chegada de Jéssica (Camila Márdila), sua filha que foi deixada no Nordeste e está em São Paulo para prestar vestibular.
Ganhador do Festival de Berlim e com premiação também em Sundance, o filme é a representação brasileira na disputa pelo Oscar. A escolha rompeu uma hegemonia masculina de 30 anos de indicações de diretores homens e acendeu um debate sobre o machismo no cinema.
Mesmo com a agenda lotada, a diretora recebeu o Brasil de Fato SP em sua casa, no último sábado (12) à tarde, e falou sobre a repercussão do filme, que já ultrapassou 150 mil espectadores. Confira a entrevista:
Brasil de Fato SP – Quando você teve a ideia do filme, o objetivo era ter o foco no retrato das relações humanas ou a ideia já era debater questões políticas?
Anna Muylaert - Eu não pensei em política enquanto estava construindo o roteiro. Queria dar um destino melhor para a filha da empregada. Na minha cabeça de dramaturga, eu queria tirar o clichê da maldição da repetição. Durante muitos anos o caminho era igual, a filha vinha para cá ser cabeleireira e acabava como doméstica, assim como a mãe. Eu determinei a mudar isso. A partir do primeiro dia em que apresentei a ideia, a associação com o retrato do período pós-Lula foi imediata. O filme estava mais enraizado na realidade do que eu achava.
Falando um pouco sobre essa nova realidade, que foi alterada devido aos diversos programas sociais implantados na última década, você acredita que houve uma mudança na autoestima do brasileiro?
A partir do Lula, sem dúvida, houve um trabalho de melhoria da autoestima tanto pelo Bolsa Família e pelas cotas raciais nas universidades, como também pela Copa do Mundo e Olimpíadas. Acho que se há algo que o Lula fez foi subir a autoestima das classes menos favorecidas. Mas isso é um pequeno começo, a questão da educação ainda está muito atrasada em relação aos países europeus, por exemplo, que são socialmente mais democráticos. Aqui demos um pequeno passo para o direito à cidadania.
Sobre a personagem Jéssica, como você encara o fato de algumas pessoas a interpretarem como uma pessoa “metida”, quando na verdade ela só quer ser tratada como os outros hóspedes da casa? Como você pensou na personalidade dela?
Ela foi uma menina que teve educação, apesar de não ter dinheiro. Além disso, ela não teve empregada, portanto nem conhecia essas rígidas regras separatistas. A minha ideia é que ela chegaria com uma inocência. Mas, claro que ao perceber aquelas relações, ela simplesmente não acredita. Na cabeça dela, aquelas regras não significam nada. Há quem ache ela arrogante e há quem ache ela maravilhosa. Dependendo do que você acha da Jéssica fica claro em quem você vota.
Foram realizadas cabines [sessões de teste com o público] só com empregadas domésticas. Como foi a reação delas? E os patrões? Você chegou a ser vítima de algum discurso de ódio por causa do filme?
Eu soube que, após a sessão, rolou um desabafo de um grupo [das domésticas] com coisas que estavam presas por muito tempo na garganta. Mas, muitas ficaram bastante travadas. Esse jogo de regras é um jogo invisível. O filme mexe muito com os dois lados. Tanto com o patrão, que sai de lá e diz que vai aumentar o salário da empregada, quanto com elas que se enxergam no filme e ficam motivadas a deixar de aceitar humilhações. Eu esperava que eu fosse vítima [de discurso de ódio], mas estranhamente ainda não houve. Os patrões usam o filme como um momento de revisão de atitudes e valores. Mas já fiquei sabendo de duas mulheres que levantaram e saíram da sala revoltadas em uma das cenas da Val, o que eu achei bem chocante.
Você costuma brincar que o seu filme é um filme de “nadas”, porque os principais pontos estão relacionados a situações do cotidiano, que só têm importância pelo contexto, como é o caso da problemática em relação às personagens com a piscina da casa. Como foi essa construção do roteiro?
Eu estava girando atrás de uma solução quando, em agosto de 2013, seis meses antes da filmagem, minha fotógrafa, a uruguaia Bárbara Alvarez, me deu um livro do Cortázar com o conto Casa Tomada. Assim, achei uma solução para a Jéssica. Ela viria inocente das regras, e iria quebrando essas regras, até ser expulsa de volta. Quando a patroa entra na cozinha e a Jéssica está tomando sorvete, a cena é quase de um filme de terror. Mas a tensão está justamente na percepção das pessoas. Não há nada demais no fato de uma adolescente estar tomando sorvete.
Você optou por retratar uma família onde a mulher é protagonista e tem um papel mais autoritário. Teve algum motivo específico para a escolha?
Não foi uma opção consciente. Isso foi baseado na minha visão. Eu acho que os homens estão muito fragilizados perante as mulheres atualmente. Acho que as mulheres estão muito fortes. Eu, por exemplo, sou cineasta e criei dois filhos sozinha. Trabalhei com os meus dois braços, enquanto boa parte dos homens trabalha com um braço só, já que chegam em casa e dormem. Acho que na América Latina é muito forte esse conceito do homem não ajudar em casa. Apesar de estarmos poderosas, a gente ainda não quebrou o tênue fio dessa regra machista. Nós, mulheres, precisamos dizer “estamos fazendo o serviço, então não manda em mim”. Porque os homens não fazem, aí as mulheres fazem, e no final eles chegam e tiram a foto ao lado do prefeito. Isso acontece em todas as classes e em todos os países. Eu acho que a nova onda feminista é a missão da mulher dizer para o homem que ele está agindo de maneira ridícula.
Você deu uma declaração em que diz que está incomodando os homens por ter atingido a ‘esfera do dinheiro’ dentro do universo do cinema. Não só nesta área, mas em praticamente todas, observamos essa situação. Como foi sua trajetória, você esbarrou muitas vezes no machismo?
Tenho quase 25 anos de carreira. No começo, eu podia fazer o serviço, mas não podia receber o crédito. E eu não exigia. Acho que a mulher tem um excesso de humildade, enquanto o homem um excesso de arrogância. Isso precisa ser equilibrado. As mulheres acabam errando também porque há um conjunto de regras que dizem que o homem deve estar à frente e a mulher atrás. Depois passei para uma condição onde eu levava o crédito, mas ainda ganhava menos do que o homem, e achava normal. Há sempre uma valorização do masculino e desvalorização do feminino. Foram muitos anos para eu perder esse excesso de humildade, que na verdade é uma subserviência. Humildade é bom, subserviência não. Autoestima é bom, mas arrogância não. Quando meu filme começou a ter visibilidade, comecei a sofrer um bullying que nunca tinha sofrido antes, de parceiros meus dizendo que se eu cheguei lá era por responsabilidade deles. Hoje, com esse filme, eu alcancei um patamar do cinema onde só há homens como Walter Salles, Fernando Meirelles, Padilha e Hector Babenco.
Como foi a relação com a Regina Casé? Você havia pensado nela desde o início do projeto?
Eu decidi que a Regina [Casé] interpretaria a protagonista quando assisti o filme Eu, tu, eles. Depois disso, não pensei mais em outra pessoa para o papel da Val. Nosso processo de aproximação foi longo até chegar à filmagem que, por sinal, foi bastante complicada em decorrência do bebê que ela havia acabado de adotar. Tiveram momentos difíceis, principalmente pelo calor do verão. Mas o importante é que, artisticamente, a gente se deu maravilhosamente bem. Acho que é, talvez, a parceira mais incrível que eu já tive.
O filme retrata essa cultura escravista herdada do período colonial. Foram realizadas pesquisas sobre isso?
Fizemos uma pesquisa para encontrar a personagem principal, que é inspirada na Edna. Ela foi babá do meu filho por aproximadamente dois anos e acabou se tornando minha amiga. Quando era criança, foi deixada na Bahia pela mãe e buscada apenas dez anos depois. Sobre essa arquitetura colonial e os espaços de poder dentro da casa, não foi preciso praticamente nenhuma pesquisa, já que esses valores estão presentes em qualquer casa da classe alta brasileira.
Além do seu filme, vários outros abordaram essa mesma temática nos últimos anos. Domésticas, do Gabriel Mascaro, talvez seja o mais evidente. Mas também podemos citar O Som ao Redor, do Kleber Mendonça Filho, e Casa Grande, do Fellipe Barbosa. Algum deles te influenciou?
Eu tive uma influência muito grande do filme O Som ao Redor. Eu me conecto a ele porque eu realmente amei, saí do cinema tremendo. Apesar de completamente diferentes, ambos estão tirando diversas pessoas da invisibilidade. Já o documentárioDomésticas, que foi exibido para a nossa equipe durante a preparação, serviu de inspiração para o figurino da Val. O Casa Grande, entretantofoi diferente. No início da sua exibição no Festival de Cinema de Paulínia, achei que alguém tivesse feito o mesmo filme que eu. Mas, passados os primeiros trinta minutos, o filme abandona o caráter crítico e assume o papel do herói adolescente que termina trepando com a empregada, o que eu considero retrógrado e machista. Na Europa, os espectadores perguntam se isto realmente existe ou se é pura ficção. Em suma, todo mundo está abordando um tema que urge porque o Brasil ainda está no século XIX. Essa é uma cultura gerada nos primórdios da colonização, quando os portugueses vieram para o Brasil explorar o ouro e comer as mulheres. A lógica era o ócio ao invés do negócio. Isso não dá mais, é 7 a 1 em todo o canto. É urgente profissionalizar, legislar e respeitar essas mulheres. No Brasil, ainda é normal homem pisar em mulher, branco em preto e rico em pobre. Os cineastas estão no cinema para isso e é ótimo que estes filmes estão dando certo, porque faz o mundo pensar e repensar estas atitudes.
Uma jovem, que também se chama Jéssica, publicou um artigo no blog Nós, Mulheres da Periferia relatando as semelhanças da sua história com a Jéssica do filme. Como está sendo a recepção do público?
Está incrível. Estou recebendo uma mensagem a cada cinco minutos. Ontem, um menino me escreveu relatando um episódio que ocorreu após a publicação de uma crítica muito bonita que fez sobre o filme. A patroa da sua mãe, que é empregada, achou seu texto em um blog, se reconheceu lá, e afirmou que mudaria completamente a sua postura. Isso, pra mim, já é um Oscar. Além disso, um pessoal da periferia me convidou para participar de um debate e, no final da mensagem, afirmou que ‘somos todas Val’. Enviei como resposta que também ‘somos todas Jéssica’. No geral, a periferia também quer ver o filme, mas ele ainda não chegou lá. No início, eu tinha a intenção de oferecer desconto para domésticas que apresentassem o cartão de trabalho. Mas, na primeira reunião, meu distribuidor descartou a ideia porque a patroa se sentiria mal em sentar ao lado da empregada. No mercado capitalista, Que horas ela volta? é um filme de arte. Apesar disso, estamos provando o contrário.
Você afirmou em algumas entrevistas que o roteiro começou a ser elaborado logo após o nascimento do seu segundo filho. Como foi esse processo?
O roteiro nasceu do amor pelo meu filho. Eu já tinha feito Castelo Rá-Tim-Bum e vários outros trabalhos, mas quando eu tive o bebê surgiu uma força que me fez decidir que não iria mais trabalhar por um tempo. Eu fiquei dois anos sem trabalhar, mas felizmente vieram os livros do Castelo Rá-Tim-Bum, que me renderam quatro ou cinco vezes mais do que o salário na TV Cultura, e me possibilitaram continuar trabalhando em casa. Eu senti que o processo da maternidade me faria crescer e me entreguei completamente. Somente depois de muita insistência decidi contratar uma babá para me ajudar uma vez por semana. Logo no primeiro dia, a menina veio toda de branco, pegou o bebê, entrou no quarto e fechou a porta. Nessa hora, eu deitei na minha cama e comecei a passar mal. No dia seguinte, eu abri o jogo e assumi que não daria para continuar. Eu não conseguia dar o meu bebê na mão de um desconhecido. Pelo menos nos dois primeiros anos é essencial o contato entre mãe e filho. Depois menos, porque é necessário aprender a se separar, desprender-se do filho. Mas por que a maternidade não é valorizada? Justamente porque a nossa sociedade exalta apenas o masculino. Muita mulher, e acho que eu não tive isso porque havia acabado de fazer sucesso, fica agoniada em casa enquanto o mundo lá fora está girando. Porque o sinônimo do mundo é sucesso, poder e riqueza, enquanto o da maternidade é amor, carinho e espiritualidade. Senti que isso é um tema muito forte, porque o mundo inteiro é regrado pelas leis masculinas, que são machistas. Na verdade, o filme não é baseado em ninguém, mas em uma vontade de expor tudo isso. Foram vinte anos de pesquisa, laboratório e contribuição de muitas pessoas.
Assim como o personagem Fabinho, as memórias da primeira infância de muitas crianças brasileiras são das babás. Existe uma solução para isso?
O Brasil é isso. A minha babá, a Dagmar, veio para casa quando eu tinha sete anos. Mas, mesmo assim, eu consegui criar um vínculo forte com a minha mãe porque ela não trabalhava. Já a minha irmã menor, que tinha três anos, tem uma conexão muito mais forte com a Dagmar. Meu pai, por exemplo, não me deixava assistir televisão e, por isso, até hoje eu não tenho esse hábito. Em compensação, a minha irmã senta com o marido e os quatro filhos na frente do aparelho, em decorrência de uma herança que não veio dos meus pais. Eu já vi vários filhos de amigas minhas descer do quarto para dormir com a empregada. Esse é um debate que temos que abrir, mas não tem uma saída pronta. Outro dia, uma jornalista inglesa me perguntou no meio da entrevista o que eu achava que ela deveria fazer em relação à filha de sete meses. Obviamente, eu falei que não tinha uma fórmula. Mas se os pais, os homens, pegassem metade da responsabilidade não precisaria de nenhuma babá. O pai dos meus filhos ajudou no máximo 2%. Eu aguentei a responsabilidade dos outros 98%, além de continuar minha carreira no cinema. Nos países nórdicos, por exemplo, os homens ganham seis meses de licença paternidade. Se um homem limpa a bunda de uma criança é claro que ele se transforma, amadurece e cria uma relação de intimidade com o filho. Além disso, na Europa existem mais creches disponíveis. Aqui no Brasil, ou a mulher deixa o filho na casa da mãe ou doa para alguém. Essa é uma discussão muito importante porque a mulher nunca mais vai parar de trabalhar, “somos todas Jéssica”.
Existe uma grande dificuldade de se fazer cinema independente no Brasil e, consequentemente, de pautar questões mais complexas. Nesse caso, apesar da crítica social, ele foi distribuído pela Globo Filmes. Como se construiu essa relação?
Toda a cadeia do cinema entende que ele é um filme de arte. Até a própria Regina Casé já deu entrevista afirmando que não sabia se ele ia chegar ao grande público. O que caracteriza o blockbuster brasileiro é ser televiso. Um filme de sucesso não pode ter apenas a Regina, mas deve ser filmado com enquadramento, luz e superficialidade das novelas. A indústria, por entender que as pessoas procuram produtos com uma linguagem familiarizada, coloca dinheiro apenas nessas produções. O meu filme não tem nada disso. Em relação à Globo Filmes, o filme chegou pronto por lá. O chefe, Edson Pimentel, é apaixonado pelo filme e acreditou na sua potência. Não houve um grande dinheiro investido em publicidade, não estamos em ônibus, outdoor, etc. Estamos apenas no facebook e no boca a boca. A Globo Filmes está abrindo portas dentro da sua programação, mas, no fundo, este é um filme de guerrilha. Apesar de ter sido tratado como um filme de arte, a bilheteria está provando exatamente o contrário.

Definição de família é aprovada por comissão como “união entre homem e mulher”

Revista Fórum
Após discussões que duraram quase cinco horas, deputados aprovam o Estatuto da Família (PL 6583-13), que exclui uniões homoafetivas e fortalece o preconceito
Por Redação
Foi aprovado, com 17 votos favoráveis e cinco contrários, o projeto de lei que define a família como a união entre um homem e uma mulher. Nesta quinta-feira (24), a comissão especial do Estatuto da Família (PL 6583-13) discutiu o texto por quase cinco horas. Deputados do PT, PCdoB, PTN e PSol – contrários à proposta – ainda apresentaram requerimentos para tentar adiar a votação, sem sucesso.
Entre os argumentos daqueles que criticam a ideia, está o fato de que o Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu favoravelmente à união homoafetiva e que ela tem direito a uma proteção especial do Estado. Além disso, parlamentares afirmam que esse tipo de decisão seria uma atitude preconceituosa, baseada em preceitos religiosos. A comissão precisa, ainda, aprovar quatro destaques do texto hoje para encerrar a sessão.
Foto de capa: Arquivo/Agência Brasil

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Com a aprovação do "Estatuto da Família", definindo o conceito de família como "união entre homem e mulher", quem perde é a Cidadania, quem perde é a Democracia.


Propostas do Professor Gilbert para Conselho Tutelar da Asa Sul

O que é o Conselho Tutelar?
É um órgão público, permanente e autônomo, com a missão de zelar pelo cumprimento dos Direitos da Criança e do Adolescente. É composto por 5 membros, eleitos pela Comunidade para acompanhar Crianças e Adolescentes e decidir em conjunto, sobre qual medida de proteção adotar para cada caso.
Eleição dia 04 de Outubro - Prof. Gilbert n° 012267

Algumas Propostas do Professor Gilbert

* Com o apoio da sociedade lutar pela implantação em todo o DF do projeto "Conselho Tutelar Modelo - Meu Lugar na Cidade" da SDH;

* Cobrar do GDF a efetivação de Políticas Públicas para Crianças e Adolescentes;

* Lutar com a sociedade e junto ao GDF para a ampliação do número de creches públicas no DF;

* Orientar a Comunidade sobre o que é o Conselho Tutelar e a respeito dos Direitos da Criança e do Adolescente;

* Apoiar a Luta da Comunidade e Sociedade, em prol dos Direitos Sociais, em especial dos Direitos da Criança e do Adolescente;

* Fiscalizar entidades e serviços de atendimento à Criança  e Adolescente.

Estas são algumas das minhas propostas para o Conselho Tutelar da Asa Sul.

Vamos debatê-las.

Escreva aqui ou nas redes sociais, sua opinião, sua crítica, sugestão e vamos aproveitar a eleição desse órgão fundamental para a sociedade, que é o Conselho Tutelar, para colocar em discussão temas relativos às crianças e adolescentes.