sexta-feira, 31 de julho de 2015

Por quem rosna o Brasil

Eliane Brum no El País Brasil

Diante da ruína da autoimagem no espelho, o país parece preferir máscaras autoritárias a enfrentar a brutalidade da sua nudez.

O que é o Brasil, agora que não pode contar nem com os clichês? Como uma pessoa, que no território de turbulências que é uma vida vai construindo sentidos e ilusões sobre si mesma, um país também se sustenta a partir de imaginários sobre uma identidade nacional. Por aqui acreditamos por gerações que éramos o país do futebol e do samba, e que os brasileiros eram um povo cordial. Clichês, assim como imaginários, não são verdades, mas construções. Impõem-se como resultado de conflitos, hegemonias e apagamentos. E parece que estes, que por tanto tempo alimentaram essa ideia dos brasileiros sobre si mesmos e sobre o Brasil, desmancharam-se. O Brasil hoje é uma criatura que não se reconhece no espelho de sua imagem simbólica.
Essa pode ser uma das explicações possíveis para compreender o esgarçamento das relações, a expressão sem pudor dos tantos ódios e, em especial, o atalho preferido tanto dos fracos quanto dos oportunistas: o autoritarismo. Esvaziado de ilusões e de formas, aquele que precisa construir um rosto tem medo. Em vez de disputar democraticamente, o que dá trabalho e envolve perdas, prefere o caminho preguiçoso da adesão. E adere àquele que grita, saliva, vocifera, confundindo oportunismo com força, berro com verdade.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), relacionado na delação premiada da Operação Lava Jato aorecebimento de 5 milhões de dólares em propina, teria dito a aliados:“Vou explodir o governo”. Tanto ele quanto o apresentador de programa de TV que brada que tem de botar “menor” na cadeia, quando não no paredão, assim como o pastor que brada que homossexualidade é doença são partes do mesmo fenômeno. São muitos brados, mas nenhum deles retumba a não ser como flatulência.
Num momento de esfacelamento da imagem, o que vendem os falsos líderes, estes que, sem autoridade, só podem contar com o autoritarismo? Como os camelôs que aparecem com os guarda-chuvas tão logo cai o primeiro pingo de chuva, eles oferecem, aos gritos, máscaras ordinárias para encobrir o rosto perturbador. Máscaras que não servem a um projeto coletivo, mas ao projeto pessoal, de poder e de enriquecimento, de cada um dos vendilhões. Para quem tem medo, porém, qualquer máscara é melhor do que uma face nua. E hoje, no Brasil, somos todos reis bastante nus, dispostos a linchar o primeiro que nos der a notícia.
Os linchamentos dos corpos nas ruas e o strip-tease das almas na internet desmancharam as últimas ilusões sobre o brasileiro cordial
Ainda demoraremos a saber o quanto nos custou a perda tanto dos clichês quanto dos imaginários, mas não a lamento. Se os clichês nos sustentaram, também nos assombraram com suas simplificações ou mesmo falsificações. A ideia do brasileiro como um povo cordial nunca resistiu à realidade histórica de uma nação fundada na eliminação do outro, os indígenas e depois os negros, lógica que persiste até hoje. Me refiro não ao “homem cordial”, no sentido dado pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) em seu seminal Raízes do Brasil, mas no sentido que adquiriu no senso comum, o do povo afetuoso, informal e hospitaleiro que encantava os visitantes estrangeiros que por aqui aportavam. O Brasil que, diante da desigualdade brutal, supostamente respondia com uma alegria irredutível, ainda que bastasse prestar atenção na letra dos sambas para perceber que a nossa era uma alegria triste. Ou uma tristeza que ria de si mesma.
O futebol continua a falar de nós em profundezas, basta escutar a largura do silêncio das bolas dos alemães estourando na nossa rede nos 7X1 da Copa das Copas, assim como o discurso sem lastro, a não ser na corrupção, dos dirigentes da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Mas, se já não somos o país do futebol, de que futebol somos o país?
Tampouco lamento o fato de que “mulata” finalmente começa a ser reconhecido como um termo racista e não mais como um “produto de exportação”. E lamento menos ainda que a suposta existência de uma “democracia racial” no Brasil só seja defendida ainda por gente sem nenhum senso. Os linchamentos dos corpos nas ruas do país e o strip-tease das almas nas redes sociais desmancharam a derradeira ilusão da imagem que importávamos para nosso espelho. Quando tudo o mais faltava, ainda restavam os clichês para grudar em nosso rosto. Acabou. Com tanto silicone nos peitos, nem o país da bunda somos mais.
Quando os clichês, depois de tanto girar em falso, tornam-se obsoletos, ainda se pode contar com o consumo de todas as outras mercadorias. Mas, quando o esfacelamento dos imaginários se soma ao esfacelamento das condições materiais da vida, o discurso autoritário e a adesão a ele tornam-se um atalho sedutor. É nisso que muitos apostam neste momento de esquina do Brasil.
É também isso que explica tanto um Eduardo Cunha na Câmara quanto pastores evangélicos que pregam o ódio para milhões de fiéis e apresentadores de TV que estimulam a violência enquanto fingem denunciá-la. Estes personagens paradigmáticos do Brasil atual formam as três faces de uma mesma mediocridade barulhenta e perigosa, que se expressa por bravatas diante das câmeras. Numa crise que é também de identidade, forjam realidades que possam servir ao seu projeto de poder e de enriquecimento para abastecer a manada. Esta, por sua vez, prefere qualquer falsificação ao vazio.
A invenção de inimigos para a população culpar virou um negócio lucrativo num país com a autoimagem fraturada
Para estes personagens tão em evidência, quanto mais medo, melhor. Inventar inimigos para a população culpar tem se mostrado um grande negócio nesse momento do país. Se as pessoas sentem-se acuadas por uma violência de causas complexas, por que não dar a elas um culpado fácil de odiar, como “menores” violentos, os pretos e pobres de sempre, e, assim, abrir espaço para a construção de presídios ou unidades de internação? Se os “empreendimentos” comprovadamente não representam redução de criminalidade, certamente rendem muito dinheiro para aqueles que vão construí-los e também para aqueles que vão fazer a engrenagem se mover para lugar nenhum. Depois, o passo seguinte pode ser aumentar a pressão sobre o debate da privatização do sistema prisional, que para ser lucrativo precisa do crescimento do número já apavorante de encarcerados.
Se há tantos que se sentem humilhados e diminuídos por uma vida de gado, porque não convencê-los de que são melhores que os outros pelo menos em algum quesito? Que tal dizer a eles que são superiores porque têm a família “certa”, aquela “formada por um homem e por uma mulher”? E então dar a esses fiéis seguidores pelo menos um motivo para pagar o dízimo alegremente, distraídos por um instante da degradação do seu cotidiano? Fabricar “cidadãos de bem” numa tábua de discriminações e preconceitos tem se mostrado uma fórmula de sucesso no mercado da fé.
A invenção de inimigos dá lucro e mantém tudo como está, porque, para os profetas do ódio, o Brasil está ótimo e rendendo dinheiro como nunca. Ou que emprego teriam estes apresentadores, se não tiverem mais corpos mortos para ofertar no altar da TV? Ou que lucro teria um certo tipo de “religioso” que criou seu próprio mandamento – “odeie o próximo para enriquecer o pastor”? Ou que voto teria um deputado da estirpe de Eduardo Cunha se os eleitores exigissem um projeto de fato, para o país e não para os seus pares? Para estes, que estimulam o ódio e comercializam o medo, o Brasil nunca esteve tão bem. E é preciso que continue exatamente assim.
A ilusão mais sedutora do governo Lula era a de criar um Brasil igualitário sem mexer nos privilégios dos mais ricos
Se o governo Lula, na história recente do país, fundou-se sobre um pacto de conciliações, para compreendê-lo é necessário também decodificá-lo como um conciliador de imaginários. Lula, o líder carismático, foi muito eficiente ao ser ao mesmo tempo o novo – “o operário que chegou ao poder” num país historicamente governado pelas elites – e o velho –, o governante “que cuida do povo como um pai”. A centralização na imagem do líder esvazia de força e de significados o coletivo. Do mesmo modo, a relação entre pais e filhos alçada à política atrasa a formação do cidadão autônomo, que fiscaliza o governo e concede ao governante, pelo voto, um poder temporário.
Mas a ideia mais sedutora do governo Lula, em especial no segundo mandato, era a possibilidade de incluir no mundo do consumo milhões de brasileiros e reduzir a miséria de outros milhões sem tocar no privilégio dos mais ricos. Este era um encantamento poderoso, que funcionou enquanto o Brasil cresceu, mas que, qualquer que fosse o desempenho da economia, só poderia funcionar por um tempo limitado num país com acertos históricos para fazer e uma desigualdade abissal. Enquanto o encanto não se quebrou, muitos acreditaram que o eterno país do futuro finalmente tinha chegado ao futuro. O Brasil, que valoriza tanto o olhar estrangeiro (do estrangeiro dos países ricos, bem entendido), leu-se como notícia boa lá fora. A Copa do Mundo aqui foi sonhada para ser a apoteose-síntese deste Brasil: enfim, o encontro entre identidade e destino.
Não foi. E não foi muito antes dos 7X1. Essa frágil construção simbólica, que desempenhou um papel muito maior do que pode parecer na autoimagem do Brasil e nas relações cotidianas da população na história recente, exibiu vários sinais de que se quebrava aqui e ali, vazando por muitos lados. Sua ruína se tornou explícita nas manifestações de junho de 2013, protestos identificados com a rebelião e com a esquerda, apesar da multiplicidade contraditória das bandeiras. Quem acha que 2013 foi apenas um soluço, não entendeu o impacto profundo sobre o país. A partir dali todos os imaginários sobre o Brasil perderam a validade. Assim como os clichês. E a imagem no espelho se revelou demasiado nua. E bastante crua.
O Brasil do futuro não chegará ao presente sem fazer seu acerto com o passado
O Brasil do futuro não chegará ao presente sem fazer seu acerto com o passado. Entre tantas realidades simultâneas, este é o país que lincha pessoas; que maltrata imigrantes africanos, haitianos e bolivianos; que assassina parte da juventude negra sem que a maioria se importe; que massacra povos indígenas para liberar suas terras, preferindo mantê-los como gravuras num livro de história a conviver com eles; em que as pessoas rosnam umas para as outras nas ruas, nos balcões das padarias, nas repartições públicas; em que os discursos de ódio se impõem nas redes sociais sobre todos os outros; em que proclamar a própria ignorância é motivo de orgulho na internet; em que a ausência de “catástrofes naturais”, sempre vista como uma espécie de “bênção divina” para um povo eleito, já deixou de ser um fato há muito; em que as paisagens “paradisíacas” são borradas pelo inferno da contaminação ambiental e a Amazônia, “pulmão do mundo”, vai virando soja, gado e favela – quando não hidrelétricas como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio.
Este é também o país em que aqueles que bradam contra a corrupção dos escalões mais altos cometem cotidianamente seus pequenos atos de corrupção sempre que têm oportunidade. A ideia de que o Congresso democraticamente eleito, formado por um número considerável de oportunistas e corruptos, não corresponde ao conjunto da população brasileira é talvez a maior de todas as ilusões. É duro admitir, mas Eduardo Cunha é nosso.
Neste Brasil, a presidente Dilma Rousseff (PT), acuada por ameaças de impeachment mesmo quando (ainda) não há elementos para isso, é um personagem trágico. Vendida por Lula e pelos marqueteiros na primeira eleição, a de 2010, como “mãe dos pobres”, ela nunca foi capaz de vestir com desenvoltura esse figurino populista, até por sinceridade. Quando tenta invocar simbologias em seus discursos, torna-se motivo de piada. O slogan de seu segundo mandato –“Brasil, Pátria Educadora” – não encontra nenhum lastro na realidade, virando mais uma denúncia do colapso da educação pública do que o movimento para recuperá-la. Parece que os marqueteiros tampouco entendem o Brasil deste momento e seguem acreditando que basta criar imagens para que elas se tornem imaginários. O próprio Lula parece ter perdido sua famosa intuição sobre o Brasil e sobre os brasileiros. Em suas manifestações, Lula soa perdido, intérprete confuso de um Brasil que já não existe.
Os protagonistas das manifestações de 2015 gritam também para manter seus privilégios
Agora que já não contamos com os velhos clichês e imaginários, a crueza de nossa imagem no espelho nos assusta. Diante dela e de uma presidente com a autoridade corroída, cresce a sedução dos autoritarismos. Nada mais fácil do que culpar o outro quando não gostamos do que vemos em nós. Em vez de encarar o próprio rosto, cobre-se a imagem perturbadora com alvos a serem destruídos. Aqueles que encontram nesta adesão aos discursos autoritários uma possibilidade de ascensão, esquecem-se da lição mais básica, a de que não há controle quando se aposta no pior. Só há chance se enfrentarmos conflitos e contradições com a cara que temos. É com esses Brasis que precisamos nos haver. É essa imagem múltipla que temos de encarar no espelho se quisermos construir uma outra, menos brutal.
O que o governo Lula adiou, ao escolher a conciliação em vez da ruptura com os setores conservadores, está na mesa. Há várias forças se movendo para encontrar uma nova acomodação, que evite o enfrentamento das contradições e das desigualdades. É pelas bandeiras da reacomodação que as ruas foram ocupadas em 2015 pelo que alguns têm chamado de “nova direita”. Esta, se adere à novidade da organização pelas redes sociais e aparentemente se coloca fora dos esquemas tradicionais da política e dos partidos, talvez seja menos “nova” do que possa parecer nas questões de fundo.
A próxima manifestação, marcada para 16 de agosto, é acompanhada com atenção pelos políticos e partidos tradicionais que conspiram pelo impeachment da presidente eleita. Os manifestantes de 2015 gritam contra a corrupção, mas basta escutá-los com atenção para compreender que gritam para deixar tudo como está. E, se possível, voltar inclusive atrás, já que uma parte significativa parece ter se sentido lesada por políticas como a das cotas raciais e outros tímidos avanços na direção da reparação e da equidade. A redução da maioridade penal, assim como outros projetos conservadores em curso, são também exemplos de uma resposta autoritária – e inócua – para o esgarçamento crescente das relações sociais e para a violência.
Há muito barulho sendo produzido hoje, como o próprio discurso de Eduardo Cunha em cadeia nacional (17/7), para desviar o foco do grande nó a ser desatado: não haverá justiça social e igualdade no Brasil sem tocar nos privilégios. Muita gente bacana ainda segue acreditando no conto de fadas de que é possível alcançar a paz sem perder nada. Não é. Quem quiser de fato reduzir a violência e a corrupção que atravessa o Brasil e os brasileiros vai ter de pensar sobre o quanto está disposto a perder para estar com o outro. É este o ponto de interrogação no espelho. É por isso que o som ameaçador dos dentes sendo afiados cresce. E cresce também onde menos se espera.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficçãoColuna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Site:desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter:@brumelianebrum

Gestão Haddad fará em 4 anos o que o PSDB não fez em 20

no Portal Vermelho

Nesta quinta-feira (23), o prefeito Fernando Haddad participou de bate-papo no Barão de Itararé com jornalistas e blogueiros. Na pauta, conjuntura política, balanço da gestão em São Paulo e os desafios que se avizinham.

Por Joanne Mota

                                                                                                                                           Foto: Aparecido Luiz da Silva

Fernando Haddad em conversa com jornalista e blogueiros no Barão de Itararé. 

Ao longo da conversa Fernando Haddad mostrou porque sua gestão faz a diferença em São Paulo. Os dados apresentados revelam que sua gestão fez mais em 4 anos do que o PSDB fez em 20.

Ao refletir sobre a conjuntura política, Haddad destacou que existe uma certa autonomia para o debate das questões locais frente a conjuntura nacional. E salientou como uma das fragilidades da oposição sua estratégia de atirar para todos os lados, o que muitas acaba acertando neles mesmo.

Ao debater a questão do avanço conservador, Fernando Haddad destacou que não acha que São Paulo seja uma cidade conservadora, mas sim que em São Paulo atuam forças conservadoras que se enraizaram, controlam os meios necessários e disseminam seu posicionamento. "Há espaço para o jogo", afirmou o prefeito de São Paulo.

A afirmação do prefeito se amparou nos dados apresentados. Avanços em todos os setores sociais em que atua a Prefeitura.

Além da renegociação inédita da dívida deixada pelos governos tucanos, Haddad pontuou como marco histórico da Prefeitura o combate à corrupção. "Não há Secretária e contrato que não tenha sido revisto na minha gestão", afirmou. É bom lembrar que Fernando Haddad enfrentou o maior esquema de corrupção da Prefeitura de São Paulo, a máfia do ISS.

No campo da mobilidade, além da redução da velocidade, política aplicada em diversas cidades na Europa e com retornos muito positivos para a sociedade, Haddad ainda citou os investimentos em transporte, ciclovias, ciclo faixas, corredores, terminais, linhas, etc.

Sobre Saúde, destacou que a Prefeitura segue firme nos prazos para entregar os 3 hospitais propostos no seu plano de governo.

Sobre educação, informou os bons resultados do programa UniCéu, destacou os dados positivos da cidade nas metas do Plano Nacional de Educação e informou que, no quesito creches, os esforços caminham para um cenário bem favorável. Segundo ele, os investimentos já sinalizam uma redução da fila de espera para vagas em creches - em 2014, era 80 mil; 2015 deve cair para 40 mil; e, em 2016, ficará perto de zero.

"Avalio que em quatro anos temos uma Prefeitura muito melhor do que recebemos", ponderou Haddad ao final da apresentação de alguns dados do avanço desse projeto inaugurado em 2013. Ele ainda frisou que há um longo caminho, vencer as distorções de décadas continua a ser o grande desafio.

Oposição

Ao refletir sobre a onda conservadora, o prefeito de São Paulo afirma que desde 2005 está em curso um trabalho de cultivo de um sentimento, no subterrâneo da sociedade, que é contraditório ao processo de mudanças que o Brasil vive desde 2003.

Ano a ano, ele elencou como agendas da oposição pautas complexas e que encontram no senso comum a liga para se posicionar no debate. É bom lembrar que entre 2003 e 2009 o debate socioeconômico era um debate vencido pelo governo. De modo que restaram à oposição consolidar sua linha no campo do comportamento e da cultura.

Fernando Haddad destacou que esse movimento não foi por acaso. Porém, a oposição não venceu todas as investidas, mas semeou uma nova postura no seio social.

Ele enumerou tais investidas. “A primeira tentativa foi com os programas de transferência de renda, eles perderam; políticas afirmativas, eles perderam; em 2010 [eleições presidenciais], foi o debate do aborto, eles perderam; em 2012 [eleições municipais], foi a vez da questão LGBT, eles perderam; e agora [2015] o ataque vem com a questão da juventude e a defesa da PEC 171. Não teve tema que o lado de lá não abordasse. Eles não tiveram êxito eleitoral, mas influíram no subterrâneo da sociedade”.

Redução da velocidade

Ao final, o Fernando Haddad concedeu entrevista a TV Carta Capital e desconstruiu os argumentos negativos contra a redução da velocidade em algumas vias da cidade. Ele acredita que a redução da velocidade traz mais segurança e, consequentemente, mais fluidez ao trânsito.

Desde segunda-feira (20), a velocidade máxima nas marginais está menor: 50 km/h na pista local, 60 km/h na pista central e 70 km/h na expressa, no caso da Tietê; na Pinheiros, a velocidade é de 70 km/h na expressa e 50 km/h na local.

"O que nós queremos é chegar mais cedo em casa. Isso tem de ser garantido por uma velocidade média mais elevada. E por que quando se reduz a velocidade máxima, aumenta a média? Pela diminuição dos acidentes. Basicamente, é isso", explica Haddad.


Do Portal Vermelho



quinta-feira, 30 de julho de 2015

São anunciados os vencedores do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade

no portal do IFHAN

É uma satisfação imensa ter participado do Projeto (Re) Vivendo Êxodos em 2012, quando participamos de uma aula em uma fazenda próximo à cidade de Corumbiara-GO.

O projeto (RE) Vivendo Êxodos, que tem a figura ímpar do grande mestre Prof. Luis Guilherme à frente é merecedor desse maravilhoso prêmio.

Mas o prêmio vai também para a Escola Pública, para a Educação Pública, como falei ao Luis no dia de ontem, o Projeto é um grande e importante exemplo do compromisso que uma leva enorme de professores e professoras têm pela Escola Pública e por nosso povo e sua cultura.

Parabéns Luis!!!
(Prof. Gilbert)

Reunião da Comissão Nacional de Avaliação do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. Foto Acervo Iphan
Este ano, com aumento no número de premiados, o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, contemplou as oito ações em duas categorias: 
Categoria I - Iniciativas de excelência em técnicas de preservação e salvaguarda do Patrimônio Cultural: visa valorizar e promover iniciativas de excelência em preservação e salvaguarda, envolvendo identificação, reconhecimento e salvaguarda; pesquisas; projetos, obras e medidas de conservação e restauro: 
1.    Documentário Remeiros do São Francisco (MG)
2.    Ilé Omiojúàrò: Patrimônio Cultural (RJ)
3.    Preservação da Tradição e da Cultura do Centro Oeste Goiano através da trilogia de Bariani Ortêncio (GO)
4.    Levantamento das casas enxaimel de Blumenau (SC)
Categoria II - Iniciativas de excelência em promoção e gestão compartilhada do Patrimônio Cultural: visa valorizar e promover iniciativas referenciais que demonstrem o compromisso e a responsabilidade compartilhada para com a preservação do patrimônio cultural brasileiro, envolvendo todos os campos da preservação e oriundas do setor público, do setor privado e das comunidades:
1.    Grupo Uirapuru - Orquestra de Barro (CE)
2.    Re(vi)vendo Êxodos (DF)
3.    Do Buraco ao Mundo: Segredos, rituais e patrimônio de um quilombo-indígena (PE) 
4.    Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros (GO)
O anúncio ocorreu nesta quarta-feira, 29 de julho. Durante dois dias, a Comissão Nacional de Avaliação se reuniu na Sede do Iphan em Brasília, onde avaliou 57 projetos, selecionados primeiramente nas comissões estaduais. Cada uma das ações teve o parecer de dois jurados, como forma de contrapor visões e estimular um debate sobre a relevância de cada iniciativa para a gestão compartilhada, proteção, preservação ou salvaguarda do patrimônio cultural brasileira. 
Os documentos com a ata da reunião e o resultado final da 28ª Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade já estão disponíveis no site do Iphan.
O presidente da Comissão Nacional, Luiz Phillipe Torelly, observa que o Prêmio Rodrigo é “o Brasil que não se vê na TV”. Nesta fala, ressalta que a premiação, que já ocorre há 28 anos, mostra a diversidade das expressões brasileiras e o empoderamento da sociedade na atribuição de valor ao seu patrimônio. 
A jurada Mônica Noleto, representante da Unesco, disse que participar da premiação “foi uma experiência rica. Fiquei impressionada com a qualidade e diversidade dos projetos. Foi uma ótima oportunidade para conhecer melhor a diversidade cultural do país”. 
Já Briane Bicca, que participa da premiação há alguns anos, relata que cada vez mais a premiação caminha para uma política cultural democrática, com notável apropriação da sociedade civil do conceito ampliado de patrimônio.
Cada um dos vencedores receberá o valor de R$ 30 mil, além de certificado e placa de premiação. O valor é uma forma de reconhecer as iniciativas que fazem o patrimônio ter sustentabilidade não só na esfera institucional, mas, sobretudo, nas esferas da vida, na qual se dá a prática social. 
A cerimônia de premiação ocorre no dia 27 de outubro, em Brasília, no Clube do Choro. Os representantes de cada ação, além de serem homenageados, participarão das mesas redondas para debater as temáticas dos projetos apresentados, além de temas como política cultural, gestão e outros. 


Mais informações para imprensa:
Assessoria de Comunicação Iphan 

comunicacao@iphan.gov.br
Adélia Soares - adelia.soares@iphan.gov.br
Gabriela Sobral Feitosa gabriela.feitosa@iphan.gov.br 
(61) 2024-5461 / 2024-5463/ 2024-5459 
(61) 8356-5857

Em ato de racismo, indígenas são expulsos de ônibus de viagem

no Portal da Revista Fórum
Por conta do preconceito de uma mulher que não queria viajar ao lado dos indígenas, quatro Kayapós que saíam do Encontro de Culturas Tradicionais na Chapada dos Veadeiros foram obrigados a descer do ônibus que os levaria de volta para Palmas (TO) e acabaram largados no meio da rodovia; organização do evento estuda processar a passageira e a companhia responsável
Por Ivan Longo
Indígenas da tribo Kayapó, que vivem em Tucumã, no interior do Pará, foram alvo de um episódio de racismo e preconceito no início desta semana. Desde o último dia 17,  eles estavam em Goiás participando do 15º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros e voltariam para a sua aldeia no último domingo (26), mas tiveram que adiar a viagem por conta da discriminação.
Com as passagens compradas, 18 indígenas embarcariam em Brasília, em um ônibus que faria o trecho até Palmas (TO), o ideal para que chegassem a Tucumã. Do total, 14 deles se instalaram na parte superior do ônibus e outros quatro ficaram na parte de baixo. De acordo com Isaac Kayapó, líder da tribo, uma mulher que estava em uma poltrona da parte inferior do veículo se incomodou com a presença deles. “Nós que pagamos! Ou vocês descem ou eu chamo a polícia”, teria dito a passageira.
Isaac conta que, apesar da indignação pelo preconceito que estavam sofrendo, os índios optaram por não dar importância à discussão e, acuados, os quatro desceram do ônibus e foram largados no meio da rodovia. “Ela disse um monte de coisa horríveis, mas não queríamos brigar”, disse.
O motorista interveio e perguntou se as partes queriam que ele chamasse a polícia. Mesmo com os indígenas cedendo ao preconceito da passageira, no entanto, o condutor simplesmente deu a partida e seguiu viagem sem prestar qualquer tipo de assistência.
Os quatro indígenas expulsos foram acolhidos por uma van da organização do Encontro e voltaram em um ônibus no dia seguinte, com novas passagens compradas. A coordenação do  evento estuda agora acionar o Ministério Público e entrar com um processo contra a passageira e a empresa de ônibus por discriminação.
“É um preconceito que se vincula a um desconhecimento sobre esses indígenas e se vincula também a um momento que estamos vivendo de muito radicalismo dentro da sociedade e essas pessoas às vezes saem do armário. Elas não falavam, e hoje elas acham que podem falar e exercitar seu racismo cotidianamente”, observou Tiago Garcia, assessor da secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que é uma das organizadoras do Encontro. “Ela cometeu um crime e merece ser punida por isso”, completou.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Unesp investiga pichações racistas em banheiros do campus de Bauru

na Rede Brasil Atual
Professor agredido diz que reforçará ações pedagógicas para evitar novos crimes no futuro e que fará boletim de ocorrência, cobrando a identificação dos responsáveis
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Pichações já apagadas atacavam mulheres negras, os coletivos de jovens afrodescendentes da instituição e professor negro

São Paulo – A Universidade Estadual Paulista (Unesp) já iniciou as investigações para identificar os responsáveis pelas pichações racistas feitas em banheiros do Departamento de Comunicação Social no campus de Bauru (a 330 quilômetros de São Paulo). Os criminosos estarão sujeitos ao Regimento Geral da Unesp e podem sofrer desde advertências até o desligamento da instituição.
Com teor extremamente agressivo, as pichações atacavam mulheres negras, os coletivos de jovens afrodescentes da instituição e o professor do curso de Jornalismo e militante do movimento negro Juarez Tadeu de Paula Xavier, de 55 anos: "Unesp cheia de macacos fedidos", "Negras fedem" e "Juarez macaco" eram algumas das frases escritas. Após o registro fotográfico para o processo, os dizeres foram apagados. Em solidariedade, alunos penduraram nos banheiros cartazes contra racismo e em apoio ao movimento negro.
“Os banheiros sempre serão uma porta para esses comportamentos. É comum ter visto com certa frequência ofensas contra mulheres e grupos homoafetivos. Mas de uma forma tão orquestrada assim é a primeira vez que eu vejo”, lamentou o professor Juarez à TV Unesp.
TV UNESP/DIVULGAÇÃOprofessor juarez.jpg
'(Pichações) de uma forma tão orquestrada é a primeira vez que vejo', diz Juarez Xavier, professor agredido
“Internamente, vamos abrir uma comissão processante que vai ter por objetivo apurar o que aconteceu e criar mecanismos para coibir essa prática no futuro. Externamente, vamos fazer aquilo que temos recomendado: vamos abrir um boletim de ocorrência, fazer denúncia de racismo e pedir para que haja acompanhamento por parte da Polícia Civil nas investigações possíveis. Não é só punitivo. Tem uma dimensão didática e pedagógica para evitar isso no futuro”, completou o professor.
Em nota, a Unesp disse que repudia as pichações racistas. “Trata-se de um ato contra o Estado democrático de Direito, a população afrodescendente e a política de inclusão adotada pela Unesp”, diz o texto. O processo de investigação inclui o levantamento de informações, a obtenção de nomes, datas e horários que possam resultar em provas da responsabilidade do crime.
“A gente sabia que essas manifestações racistas iam aparecer. A tendência é que elas apareçam cada vez mais, na medida que estamos ocupando cada vez mais esse espaço universitário, que não foi criado para nós”, afirmou o estudante da universidade e militante do movimento negro Pedro Borges à TV Unesp. “A gente sabe que isso acontece diariamente de outras formas: acontece no trânsito, nos escritórios, no dia a dia do Brasil. Quando vem à tona, a gente já estava esperando”, afirmou o também estudante e militante do movimento negro Solon Neto.
TV UNESP/REPRODUÇÃO
Contra o racismo
Em solidariedade, alunos penduraram nos banheiros cartazes contra racismo
Dezenas de alunos e amigos manifestaram apoio público ao professor em sua página no Facebook. “Indignado! Esse é o sentimento que me toma. Já faz 10 anos que me formei no curso de Jornalismo e o professor Juarez Xavier foi um dos docentes mais fantásticos e humanos de todo os quatro anos de curso”, diz o ex-aluno Lincoln Tavares de Melo. “Esse é o meu professor... um dos melhores que já tive!! Orgulho de ter sido sua aluna”, publicou a internauta Cibelli Marthos. “É difícil, pra mim, acreditar que coisas assim ainda acontecem. Força, Juarez Xavier. Que vergonha, Unesp Bauru”, postou Fernanda Barban.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Globo 1989-2015: 26 anos de campanhas sujas contra Lula

na Carta Maior

Um promotor com folha de serviços judiciais que destacam 245 advertências por desempenho negligente protocolou uma acusação contra Lula em tempo recorde

Dario Pignotti
reprodução
Brasília - Pastas vazias. Em dezembro de 1989, as intenções de voto do candidato Luiz Inácio Lula da Silva cresciam em ritmo constante, enquanto o favorito Fernando Collor de Melo ficava estacionado, e para que esse quadro se revertesse e Collor pudesse finalmente ser eleito presidente, seria necessária uma importante ajuda da Rede Globo de Televisão. Era preciso desconstruir a imagem de Lula, ou melhor, a sua legitimidade, através de notícias negativas e da famosa montagem no debate final, em um estúdio de televisão, quando Collor chegou com uma volumosa pasta, na que assegurava conter provas irrefutáveis dos ilícitos cometidos por seu rival. Vinte anos depois, um ex-diretor da Globo, José Bonifacio Sobrino, o Boni, admitiu ter planejado o espetáculo de Collor posando como justiceiro, diante das câmeras, com um portfólio cheio de papéis em branco.
 
Estudos posteriores demonstraram que essa fraude eletrônica, complementada pela reedição igualmente tendenciosa dos melhores momentos do debate entre os candidatos, reverteu a curva de aprovação ascendente de Lula. Três dias depois, no dia 17 de dezembro de 1989, o petista sofreria sua primeira derrota presidencial contra a Globo, a única força política que sobreviveu impune aos 21 anos de ditadura, que obstruiu a transição democrática (censurando as mobilizações massivas por eleições diretas), e vem prolongando seu status de partido hegemônico até hoje.
 
Há duas semanas, um fiscal substituto, com currículo acadêmico mediano e uma folha de serviços judiciais na que se destacam 245 advertências por desempenho negligente e/ou demorado, protocolou uma acusação contra o ex-presidente e líder histórico do PT em tempo recorde, segundo ele, porque suspeitava do delito de “tráfico de influências internacional”.
 
O funcionário suplente, conhecido na comarca judicial de Brasília (integrada por vários procuradores e juízes anti-lulistas) por sua velocidade de tartaruga, iniciou o procedimento investigativo atropelando o prazo previsto pela promotora titular, que expirava em setembro.
 
Fez isso baseado nos artigos publicados pelo grupo Globo, nos que se associavam as viagens de Lula ao exterior, entre 2011 e 2014 com supostas manobras dolosas a favor da construtora Odebrecht – que atua em vários países e se beneficia há décadas das gestões de governantes civis e militares.
 
Em artigo ilustrado com a imagem de Lula com um gesto intrigante, a revista Época, das Organizações Globo, o define como um “operador” das empresas construtoras, e associa, sem nexo documental nem testemunhal, sua agenda internacional com o tráfico de influências.
 
O semanário global mostra mensagens de fax que confirmam as viagens, o que é redundante, porque os eventos no qual participou foram públicos, e se insinua que o grosso desses encontros não se realizaram com a participação da Odebrecht. Para completar a desinformação, a nota evita explicar devidamente que várias dessas viagens internacionais foram para receber prêmios e títulos de doutorados honoris causa, na Espanha, Estados Unidos e México, ou para manter reuniões com ex-presidentes, como as duas que teve com Bill Clinton.
 
Quem leu os quase 20 mil caracteres da reportagem principal, publicada no dia 30 de abril – a que foi citada pelo promotor para fundamentar suas suspeitas – chegará à conclusão de que contém tantos indícios contra Lula como os que guardavam as pastas em branco que levaram Collor à presidência em 1989, com cumplicidade da mesma Globo.
 
O vazio informativo da Globo nessa e em outras matérias similares, se transformou em escândalo mundial em questão de horas: agências internacionais e cadeias televisivas do mundo inteiro replicaram a notícia de que Lula estaria envolvido numa trama suspeita. A bola de neve se tornou gigante com o passar das semanas, e aquela notícia oca conseguiu inspirar análises mal-intencionados, especialmente da imprensa anglo-saxônica, e mais ainda dos meios financeiros como o Financial Times, que escreveu na semana passada um editorial sobre o “filme de terror” de um Brasil que se afunda na corrupção, e que só se salvaria com um plano de ajuste exemplar. Seria, por acaso, um plano como o imposto à Grécia? Possivelmente sim.
 
Aliás, as teses extremamente neoliberais do Financial Times costumam ser tomadas como próprias pela Globo, para o que imagina ser um futuro próximo pós-Lula e pós-Dilma Rousseff – também a querem fora do Planalto, apesar das políticas ortodoxas de seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, um ex-funcionário do FMI e do banco privado Bradesco.
 
A urgência do grupo midiático mais concentrado da América Latina em virar a página da era “lulopetista” foi bem resumido na semana passada, num artigo de opinião cujo título – “Sem tempo” – não deixa lugar a dúvidas, trazendo argumentos a favor de uma saída antecipada de Dilma e a continuidade do ortodoxo ministro Levy numa gestão de transição, após um hipotético golpe institucional.
 
Como os nazistas
 
Poucos jornalistas conhecem a lógica política da Globo como Tereza Cruvinel, que trabalhou durante mais de uma década como colunista política para os meios da empresa, antes de seguir sua carreira em outros veículos. Cruvinel assegura que o plano editorial para acabar com o capital simbólico e político de Lula tem um capítulo crucial com sua chegada ao poder, em 2003.
 
"O enredo que vem sendo rabiscado desde 2003 agora começa a tomar forma. No epílogo desejado por seus autores, o ex-presidente Lula sai da História, do lugar assegurado por sua trajetória e por oito anos de governo que mudaram o Brasil, tomba como réu em um processo desonroso, torna-se inelegível e o povo brasileiro não repete a ousadia de colocar na Presidência alguém saído de onde ele saiu: da pobreza, do Nordeste, da classe operária, do compromisso com os mais pobres e com um Brasil de todos", analisa Cruvinel.
 
De sua parte, Lula respondeu aos ataques nesta sexta-feira (24/7): “tenho a impressão de que o que vemos na televisão se parece com o que os nazistas faziam, criminalizando o povo judeu, ou o que os romanos faziam, criminalizando os cristãos. Estou cansado de ver esse tipo de criminalização contra as esquerdas”.
 
Em encontro com sindicalistas da região industrial de São Paulo, o ex-presidente reforçou sua indignação enaltecendo a honestidade de Dilma, caluniada diariamente com insinuações sem provas. Vestido com o velho macacão de militante, o ex-presidente viaja pelo Brasil denunciando a tentativa de golpe branco contra Dilma, reivindicando a política econômica distribucionista dos governos petistas, assim como da continuidade da política externa voltada à América Latina.
 
Apesar das campanhas negativas contra si, Lula mantém uma agenda de encontros internacionais que, nos últimos meses, incluiu eventos com os presidentes Evo Morales e Cristina Fernández, o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, e o presidente do Parlamento venezuelano Diosdado Cabello, encontro que ocorreu pouco antes da missão de senadores opositores brasileiros, que viajaram à Venezuela para se encontrar com os referentes golpistas.
 
Lula é o único sobrevivente da troica sul-americana formada por ele, Néstor Kirchner e Hugo Chávez – a que, em 2005, acabou com o projeto de “anexação” da ALCA, na cara de George Walker Bush, que foi àquela Cúpula das Américas de Mar del Plata com a certeza de que ninguém se atreveria. Tinha como aliado o corpulento presidente mexicano Vicente Fox, que mostrou ser um anão político de incapacidade diplomática singular.
 
O eventual retorno do líder petista nas eleições de 2018 é uma hipótese contra a qual a família Marinho, dona da Rede Globo, trabalha determinada, junto com seus sócios políticos locais. Esse bloco contrário ao regresso de Lula conta, possivelmente, com o aval dos grupos de interesse estrangeiros, “provavelmente norte-americanos”, comprometidos com a restauração de um projeto de livre mercado hemisférico, comentou a este diário o chefe do bloco de deputados do PT, Sibá Machado.
 
Tradução: Victor Farinelli

Da guerra ao comércio de maconha

na Carta Capital

Colorado, nos EUA, é uma prova das vantagens da legalização da erva
Vlademir Alexandre/ Estadão Conteúdo
guerra-comércio
O Colorado arrecadou 27 milhões de dólares em sete meses
O debate sobre a liberação da maconhaganhou uma nova perspectiva. O cultivo legal da erva, revelam os dados mais recentes do estado do Colorado, o primeiro a autorizar o uso recreativo nos Estados Unidos, pode tornar-se uma nova e interessante fonte de receita, empregos e impostos. Segundo a organização Drug Policy Alliance, de janeiro a julho do ano passado, a cadeia produtiva da cannabisgerou mais de 10 mil postos de trabalho e recheou os cofres públicos estaduais com 27 milhões de dólares em tributos. Estima-se que o comércio da droga em todo o país, apesar de não existir uma permissão federal para o plantio e o consumo, tenha movimentado 2,7 bilhões de dólares em 2014.
Os dados levam a uma pergunta: não seria mais inteligente legalizar e controlar o comércio do que deixá-lo sob o domínio dos narcotraficantes? Ao menos 5% da população mundial, calcula a Organização das Nações Unidas, recorre ao submundo para conseguir drogas. A maconha seria a terceira substância psicoativa mais consumida do planeta, com 117 milhões de usuários. Detalhe: é a única ilegal entre as três primeiras colocadas. As outras são o álcool e o tabaco.
O potencial econômico da maconha não está limitado ao seu efeito químico sobre o corpo. As aplicações são variadas, a depender da composição de cada espécie. Estudos indicam que uma variedade rica em canabinoides, uma das substâncias naturais da planta, apresenta relevantes resultados medicinais. Outros tipos, com baixos níveis consideráveis de canabinoides ou THC (a substância psicoativa), têm aplicação na indústria têxtil e de alimentos. Tênis e óleos estão entre os produtos possíveis.
No outro extremo emergem os gastos com a repressão aos entorpecentes. Nos últimos 20 anos, a chamada guerra às drogas consumiu mais de 1 trilhão de dólares somente nos Estados Unidos, sem maiores efeitos sobre o consumo. Não estão contabilizados os custos do aumento da população carcerária e os efeitos da violência sobre o sistema de saúde. O fim da repressão, calcula o Instituto Cato, levaria a uma economia de 41 bilhões de dólares anuais apenas nos EUA.
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No Uruguai, há 2,6 mil " fazendeiros" . Créditos: Theo Stroomer/ Getty Images /AFP
Os benefícios ao Brasil com a legalização ou a regulação seriam igualmente substanciais. A começar pela economia na repressão. Atualmente, 27% dos presos no País respondem pelo crime de tráfico. Sancionada em 2006, a Lei de Drogas produziu um efeito contrário ao desejado. Desde a sua entrada em vigor, o número de detentos por comércio ilegal saltou de 31 mil para 164 mil, aumento de 520%. O motivo, aponta a Secretaria Nacional de Drogas, está na distinção entre usuário e traficante.
Ao contrário de outros países, o critério adotado pelo Brasil é subjetivo e leva em conta a quantidade de droga apreendida, o local, as circunstâncias sociais e pessoais do detido e seus antecedentes criminais. Isso cria situações como a condenação a quatro anos e dois meses de detenção por tráfico de drogas de um suspeito que carregava 1 grama e meio de maconha. O fato ocorreu em São Paulo neste ano. 
Um estudo do International Drug Policy Consortium mostra que, se o critério espanhol, para citar um caso, fosse aplicado no Brasil, 69% dos presos por tráfico de maconha estariam livres. Se a base fosse a legislação norte-americana, o porcentual cairia para 34%. Quando se cruzam as informações do Departamento Nacional Penitenciário com os investimentos em segurança pública, chega-se a um valor aproximado dos gastos anuais com esse tipo de detenção: 1,3 bilhão de reais. Em São Paulo, estado responsável por 35% da população carcerária brasileira, os custos em 2011 chegaram a 885 milhões de reais. Se a Lei de Drogas fosse corretamente aplicada, o governo paulista pouparia 270 milhões anualmente.
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Fonte: DEPEN
“Esta não é uma guerra contra drogas, contra coisas. Como qualquer outra, é contra seres humanos”, afirma Maria Lucia Karam, juíza aposentada e presidente da Associação de Agentes da Lei contra a Proibição. Karam e diversos cientistas, políticos, policiais e representantes de movimentos sociais participaram recentemente de um seminário organizado pela Fiocruz para discutir o tema. Todos foram unânimes: a legalização só traria benefícios sociais e econômicos. “O alto lucro deve-se à ilegalidade de seu comércio e produção, que, além de não resultar em impostos, enriquece facções criminosas e corrompe agentes públicos”, afirma a economista Taciana Santos. A legalização, acredita, diminuiria a violência e aumentaria a arrecadação de impostos, mas não geraria tantos empregos. “A cadeia de comércio e distribuição existe, assuma o governo ou não.”
De olho nesse mercado de potencial bilionário, 26 países descriminalizaram o uso da maconha nos últimos anos, além dos estados americanos que o legalizaram e do Uruguai que o regulou. Recentemente, o Chile autorizou o plantio em pequenas quantidades. Na contramão dessa tendência, o Brasil figura ao lado de países islâmicos e asiáticos, que resumem sua política à pura e simples repressão, alguns até com a pena de morte para traficantes.
Ainda assim, pequenos avanços acontecem. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, após forte pressão de uma parcela da sociedade, a importação de canabidiol para fins medicinais. Atualmente, 809 pacientes importam legalmente o extrato para tratamento médico. Cada frasco custa 75 dólares e auxilia no tratamento de gente como Sofia, de 6 anos. “Ela sofre de epilepsia grave, por isso toma uma dosagem relativamente alta para controlar suas crises de convulsão. Eu preciso de dez vidros por mês para tratá-la, são mais de 2,2 mil reais ”, conta a advogada Margarete de Brito, mãe de Sofia. “São preços só para a classe média e alta.” 
Distribuição-de-crimesA demora em legalizar a cannabis afeta ainda as pesquisas científicas nacionais. “A maconha será uma das drogas mais importantes do mundo para o tratamento de doenças, em substituição a substâncias lícitas e medicamentos. Com a criminalização no Brasil, as pesquisas ficam comprometidas e largamos atrasado nessa revolução científica”, afirma Sidarta Ribeiro, neurocientista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.  
Enquanto negligenciamos as possibilidades científicas, o Uruguai está atento a esse potencial. Segundo Julio Calzada, ex-secretário-geral da Junta Nacional de Drogas e um dos idealizadores da regulação do comércio, o país pretende se tornar um polo de pesquisa. “Existem condições e propostas de empresas e laboratórios químicos e farmacêuticos interessados em investir.” Atualmente existem 2,6 mil “fazendeiros” registrados no país vizinho. Até o fim do ano, 240 farmácias estarão aptas a vender maconha. 
Uma proposta semelhante à uruguaia tramita no Congresso Nacional. O projeto do deputado Jean Wyllys, do PSOL-RJ, cria regras para o plantio, comércio e consumo. Os lucros obtidos com a regulação, propõe o parlamentar, financiariam políticas públicas para o tratamento de dependentes químicos e bolsas de pesquisas científicas sobre aplicações medicinais do produto. “Hoje se adquirem drogas em praticamente qualquer esquina, ou seja, na prática o comércio já é liberado”, avalia Wyllys. “A diferença é que esse dinheiro, em vez de beneficiar o Estado, vai para os bolsos de máfias e corrompe funcionários públicos.”