quinta-feira, 9 de abril de 2015

Eduardo Cunha e os múltiplos focos de poder

no GGN de Luis Nassif

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Luta contra o PL 4.330 continua nesta quarta (8)

Por André Barreto no Portal do Sinpro-DF
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Apesar da tentativa dos setores reacionários e parlamentares empresários de tratorar os trabalhadores na Câmara, empurrando goela abaixo da classe trabalhadora o PL 4.330, nesta quarta-feira (8), o Sinpro, a CUT Brasília e os movimentos sociais se concentrarão novamente às 9h no Anexo 2 da Câmara para barrar o famigerado Projeto de Lei da Escravidão.
O PL 4.330 flexibiliza as relações de trabalho, permite a subcontratação ilimitadamente e precariza o trabalho, causando prejuízos graves à classe trabalhadora e à sua organização sindical.
Ontem (7), o pedido de urgência urgentíssima do PL 4330 foi aprovado. Para tanto, chegaram ao cúmulo de utilizar força e truculência policial contra dirigentes e militantes CUTistas e de movimentos sociais que repudiavam o projeto em frente ao Congresso.
Ainda hoje, à tarde, representantes da CUT, de outras centrais e de entidades que combatem o PL 4330 se reúnem para definir nossos passos do movimento diante dos acontecimentos e da insistência da Câmara em prosseguir a votação do projeto, sem ouvir os protestos da classe trabalhadora. Será realizado um dia de paralisação nacional contra o PL 4330, com data a ser acertada na reunião desta quarta.
O Sinpro enfatiza que é extremamente importante a mobilização de professores e professoras para estarem presentes nessas atividades.

Escolas que homenageiam militares no Maranhão serão rebatizadas

Por Tomaz no Portal do Sinpro-DF
Nesta terça-feira (31), data em que o golpe militar completa 51 anos, escolas estaduais do Maranhão cujos nomes homenageiam membros das Forças Armadas serão rebatizadas por determinação do governador...
Nesta terça-feira (31), data em que o golpe militar completa 51 anos, escolas estaduais do Maranhão cujos nomes homenageiam membros das Forças Armadas serão rebatizadas por determinação do governador Flávio Dino (PCdoB). “Amanhã, data do golpe de 1964, vamos trocar os nomes de escolas alusivos aos generais-ditadores. Não merecem homenagens. Ditadura nunca mais”, disse Dino em posts nas redes sociais.
A Secretaria de Estado da Educação identificou, em nove municípios maranhenses, dez instituições de ensino que possuíam nomes de ex-presidentes do regime militar. Na capital, São Luís, a Escola Estadual Marechal Castelo Branco passará a se chamar Unidade Jackson Lago (ex-governador do estado). Em Imperatriz, o então Centro de Ensino Castelo Branco se tornará  Centro de Ensino Vinícius de Moraes. Em Timbiras, a escola batizada com o nome do ex-presidente Emílio Garrastazu Médici será, a partir de hoje, Centro de Ensino Paulo Freire.
Ainda segundo o governador, “as próprias comunidades escolares escolheram novos nomes”. Ele ressaltou que, com o relatório apresentado no final de 2014 pela Comissão Nacional da Verdade, não é “razoável” que prédios públicos continuem a agraciar militares que cometeram graves violações de direitos humanos. “O estado do Maranhão não mais homenageará os responsáveis por crimes contra a humanidade”, afirmou ao Estado de S. Paulo.
As alterações serão publicadas no Diário Oficial de hoje.
(Do Portal Forum)
Muitas escolas ainda levam o nome dos responsáveis pela ditadura no Brasil. Você pode mudar isso!
Acesse http://ditaduranuncamais.cnte.org.br

FHC é quem não deixa o Gilmar devolver !

no Conversa Afiada
Sabe quando o Gilmar vai devolver, amigo navegante ?

Republicano foi o Farol de Alexandria (ver no ABC do C Af): só nomeou para o Supremo juízes que comungam de sua  ideologia conservadora, tucana e, na devida hora, Golpista.  

É o caso de Gilmar Mendes.

Não falha uma, o ministro Gilmar !

“Republicano” até a medula !

Saiu no Estadão, que passa por baixo da porta do Vasco, revelador artigo do professor Leôncio Martins Rodrigues.

Rodrigues é amigo leal do Príncipe da Privataria

Desde quando a USP derramava luzes sobre o pensamento conservador brasileiro como se fosse “avanço”,  “modernidade”…

Depois de se tornar um dos seres imaginários da Zoologia Fantástica do Borges e só tem vida no PiG, FHC convive mais com o professor Martins Rodrigues do que com qualquer dos aliados no PSDB.

O Cerra, por exemplo, não se pode dizer que seja amigo do FHC.

Duvida-se que o FHC jamais tenha ido à casa do Cerra.

(Por falar nisso, quem já foi à casa do Cerra, quer dizer, da filha do Cerra ?)

Cerra e FHC tem uma relação que o Serjão Motta explicava melhor do que ninguém.)

Conclui o professor Martins Rodrigues, depois de brilhante analise do complexo problema do financiamento das eleições:

“Toda alteração no sistema político que reduza as doações privadas e aumente as estatais beneficia os partidos que contam com o apoio dessas organizações (sindicatos de trabalhadores, entidades estudantis, movimentos socais, igrejas etc) e também de uma boa militância. No caso brasileiro, o principal deles é, de longe, o PT” !

Bingo !

Sabe quando o Gilmar vai devolver, amigo navegante ?

Nunca !

Republicanamente, nunca !


Paulo Henrique Amorim


terça-feira, 7 de abril de 2015

LUGAR DE CRIANÇA É PRESA NA ESCOLA

Sérgio Vaz no Face do poeta

Sou a favor do aumento da maioridade escolar.

Isso mesmo, lugar de criança é presa na Escola (das 8h às 17h) e sendo torturada por aulas de matemática, Português, Ciência, Música, Teatro, Geografia, Química, Física... ou Tomando banho de sol enquanto fazem Educação Física.

Quando elas começarem a criar asas, tranca-las na biblioteca para aprenderem a lapidar sonhos.

Nessa cadeia os professores com super salários, super treinamento, super motivados não deixaram nada, nem ninguém escapar da castigo da sabedoria. Serão tempos difíceis para a ignorância.

Depois de cumprirem pena e se tornarem cidadãos terão liberdade assistida... Pelos pais orgulhosos.

Sergio Vaz

Esta é a Páscoa em que acredito

no Jornal GGN

Imagem Ailton Lopes e texto de Rauni Fontana
Apresentado por Madrasta do Texto Ruim e Suzana Vasconcellos Guarani Kaiowá
"Jesus nasceu numa quebrada. Periferia da periferia mesmo.
Passou a vida arrumando treta por questões sociais. Defendeu assassino, ladrão, puta, pobre e leproso.
Juntou uma galera pra defender a causa. Começou a fazer barulho.
Conquistou o desafeto da classe média e da elite (ponto pro cara).
Considerado subversivo, foi preso pelo Império.
A classe média pedia pena de morte, mas o crime não a justificava. Pôncio Pilatos jogou o b.o. pra Herodes. Herodes se ligou na mesma coisa e devolveu o b.o..
Pilatos deixou pra galera decidir. Bem pensado, porque desde aquele tempo, o povo já tava cheio de dateninha linchador.
O cara foi executado ouvindo piadinha de justiceiro.
E não foi morto "entre" bandidos. Foi executado pelo Estado COMO bandido - subversivo, que de fato era.
Enfim, o messias cristão foi um sujeito pobre, nascido na perifa, engajado em questões sociais, executado como bandido pelo Estado sob os aplausos dos justiceiros.

Então, Jesus, se você estiver lendo isso e pensando em voltar, fica esperto.
Essa "gente de bem" de hoje em dia vai te matar de novo enquanto come bacalhau e ovo de Páscoa."

Rauni Fontana

Qual indenização o MPF deve exigir da Globo por danos coletivos no apoio à ditadura?

Por: Zé Augusto no Amigos do Presidente Lula

O jornal "O Globo" apoiou o golpe de 1964, que impôs um ditadura de 21 anos iniciada no dia 1. de abril, há 51 anos atrás. 

Logo depois do golpe a TV Globo entrou no ar e apoiou ostensivamente a ditadura por 21 anos. 

Sob pressão das ruas nas jornadas de junho de 2013, o próprio jornal "O Globo" admitiu em editorial este apoio, dizendo ter sido "um erro".

A história mostra que a ditadura foi nociva à nação, retirando cidadania dos brasileiros, retirando até o direito de lutar por direitos. Não deixou nem mesmo um legado social razoável como ocorreu na ditadura da Coréia do Sul (aqui a maioria da população continuou na pobreza, a má distribuição de renda piorou, aumentaram as favelas, a qualidade da educação caiu, etc). 

Mas a Globo ganhou muito dinheiro e poder com a ditadura se tornando na época o maior império de mídia da América Latina (após um certo tempo de democracia entrou em decadência, e parece que a coisa anda feia por lá com crise de audiência em todos os horários).

Então, vocês não acham justo, neste 1. de abril, o Ministério Público Federal propor uma ação civil de indenização contra as Organizações Globo por danos coletivos ao povo brasileiro no processo de apoio à ditadura?

O MPF promoveu uma ação de indenização contra empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, pedindo R$ 5 bilhões de indenização por terem corrompido funcionários da Petrobrás e depreciado a imagem da empresa com o escândalo.

Quanto seria uma indenização justa à nação brasileira por 21 anos de lucros bem remunerados pelo apoio midiático à ditadura?

Em tempo: Lembre-se de ir protestar hoje, às 17hs, na porta da TV Globo:

No dia da mentira e da ditadura, protesto nacional contra a TV Globo e a sonegação.

Um caminho para o Outro e sua escuta

no Outras Palavras
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Diálogos de David Bohn — ou o que a Física Quântica pode ensinar sobre a possibilidade de nos vermos não como meros indivíduos, mas como partes singulares de um todo fascinante

por José Gilbert Arruda Martins

Que beleza de diálogo!

Fico pensando em duas pessoas muito queridas, que quando falam não dialogam, porque uma atropela a outra e, pelo menos para mim, nada fica inteligível, nada é aproveitado (ou quase nada).

Com a velocidade da comunicação na internet, parece que todo mundo perdeu o tempo para "perder" lendo ou dialogando.

Dialogar requer tempo. Precisamos "perder", ou melhor ganhar esse tempo de qualidade no diálogo.
Confuso? Não, você é que não ganhou "perdendo" seu tempo, para ler com mais esmero a matéria do Outras Palavras.

Se você dialoga, se você ouve mais, você terá outras palavras para dizer, para pensar, para falar depois de ouvir.

Um caminho para o Outro e sua escuta

Por Ruben Bauer Naveira* | Imagem: Paul Delvaux, Missa Vespertina (1934)
Pode-se falar da vida de David Bohm (1917-1992) pelo prisma acadêmico (um dos maiores físicos quânticos de todos os tempos) ou político (foi perseguido pelo macarthismo), mas prefiro enaltecê-lo como o grande humanista que foi. Bohm deixou como legado para a humanidade a sua metodologia dos Grupos de Diálogo, ainda não compreendida decorridos mais de trinta anos, e necessária mais do que nunca nesses tempos tormentosos que atravessamos.
“Diálogo”, no senso comum, significa conversa, mas no sentido que Bohm o emprega (nota: usaremos a palavra Diálogo, inicial maiúscula, somente no sentido de Bohm) é um modo específico de conversação que a imensa maioria das pessoas não emprega… nunca. Ou seja, se poderia dizer que se trata um modo antinatural de conversação – na medida em que “natural” seja somente o nosso modo habitual de conversarmos uns com os outros, que fazemos instintivamente e tomamos como o único possível.
Senão, vejamos: o que acontece quando, ao conversarmos, nos é dito algo de que discordamos? Continuamos a ouvir? Não. Nós ou interrompemos para de pronto manifestar nossa discordância, ou então começamos a ensaiar mentalmente uma contra-argumentação para quando chegar a nossa vez de falar – só que aí direcionamos nossa atenção para a nossa própria “voz interior” (o nosso pensamento), não mais para aquilo que continua a ser dito. Interromper, ou começar a pensar naquilo que iremos falar enquanto o outro ainda está falando, são, para nós, coisas tão instintivas, tão naturais, que quase ninguém conseguiria não fazê-las mesmo se assim o quisesse.
Se assim é, não se poderia então dar instruções às pessoas sobre como conversar por esse modo específico que Bohm chama de Diálogo? Não, não se pode. O Diálogo não tem como ser descrito ou explicado, porque somente pode ser aprendido na experiência. Só se aprende a dialogar dialogando.
O Diálogo pode ser empregado em toda e qualquer conversação. Bohm, contudo, viu-o como ferramenta para uma superação construtiva dos conflitos, por mais graves que sejam. Por exemplo, os chamados Acordos de Oslo entre palestinos e israelenses foram obtidos em grupos de Diálogo (ainda que tais acordos tenham sido posteriormente destruídos por aqueles que não tomaram parte no Diálogo). Ou ainda, o seguinteartigo discorre sobre os processos (estes, bem-sucedidos) de conciliação nacional na África do Sul e na Guatemala (ainda que o autor enfatize um outro instrumento, os cenários; no caso da Guatemala, o Diálogo está melhor abordado neste outro artigo).
O Diálogo é especialmente indicado para o tratamento de problemas complexos, porque problemas complexos são necessariamente considerados de formas diferentes pelas diferentes pessoas envolvidas, e assim os inevitáveis choques entre essas múltiplas perspectivas são também uma espécie de conflito, mesmo que inexistam animosidades de natureza pessoal.
O Diálogo acontece por meio de uma paulatina “dissolução” das individualidades na coletividade, com surgimento de um “ser” coletivo (o grupo). Essa dissolução conduz não a uma cessação dos conflitos mas, paradoxalmente, ela leva a um aprofundamento desses conflitos. Isso porque o conflito já não é mais entre as individualidades daquelas pessoas, e sim apenas entre os pensamentos delas (é isso mesmo: o método propicia uma dissociação entre as pessoas e os seus pensamentos). A partir daí, a exploração dos conflitos permite tomá-los como diversidade, a ser aproveitada pelo grupo como um rico manancial para a construção de soluções inovadoras. No final das contas, aquele que “descobre” a inovação que solucionará o problema não será ninguém em particular, mas o grupo como um todo.
Essa transição do individual para o coletivo é tudo menos abrupta: de uma forma sutil – e que necessariamente toma tempo – o próprio processo do dialogar vai aos poucos “assumindo controle”, como se dotado de vida própria fosse. É quando os resultados começam a ser colhidos pelo grupo como se espontaneamente brotassem.
A chave para essa passagem consiste na instauração de uma primazia do ouvir (a coletividade como referência última para a conversação) com arrefecimento do falar (as individualidades, e sua expressão, como as referências para a conversação).
O nosso modo costumeiro de conversação é tomado como o único possível porque nós já nos encontramos tão condicionados à primazia do falar sobre o ouvir que sequer imaginamos que poderia ser o contrário. Mas, ao longo da História, foi o contrário, com essa primazia do falar tendo se firmado apenas mais recentemente.
Pensemos na vida numa aldeia medieval. O que era o “mundo” para o aldeão? Era sua aldeia, sua família, seus costumes e tradições, a natureza circundante… e mais nada. A individualidade do aldeão (sua vida interior) provinha por completo desse seu mínimo mundo exterior. Ele não necessitava de muita autonomia, mesmo porque não teria para onde expandi-la, lhe faltariam referenciais para tanto.
Eis que surge um novo personagem, o comerciante medieval, que necessitava viajar para comprar mais barato e vender mais caro os seus artigos. Ao se deslocar, ele entrava em contato com novas realidades, mundos desconhecidos, onde costumes estranhos lhe pareciam desprovidos de sentido e de história. Ele necessitava encontrar meios de se “encaixar” nesse novo mundo, no qual, para ser bem sucedido, a sua individualidade e a sua autonomia lhe seriam cada vez mais preciosas. Ia ele assim se dissociando das suas raízes, sem tampouco fincá-las nesse seu “mundo novo”, um mundo que lhe parecia cada vez mais neutro e exterior: uma emancipação da individualidade. Cada vez mais o seu referencial de vida seria buscado interiormente, na sua individualidade singular.
Nas sociedades atuais o significado da vida de cada um provém de dentro, dessa sua individualidade singular. É devido a isso que, nas conversações, somos movidos muito mais pela necessidade de nos expressar perante os demais do que pelo desejo de ouvi-los.
Diálogo, no fundo, não é a descoberta de algo inédito, mas o resgate de uma sabedoria do viver humano há muito tempo esquecida, e que hoje em dia somente subsiste em sociedades tribais.
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Obviamente ninguém advogará por uma regressão à vida tribal. Mas podemos (re)aprender a dialogar, algo que se encontra enclausurado na nossa natureza mais profunda – desde que nos disponhamos a uma reconexão com ela.
Conexão é uma ideia cara a Bohm. Numa obra até hoje referencial para a Física Quântica, A Totalidade e a Ordem Implicada, Bohm estabeleceu uma teoria do Universo que distingue duas realidades, a “ordem implicada” (no sentido de implícita) e a “ordem explicada” (no sentido de explícita). A ordem implicada é o mundo quântico das partículas subatômicas, ao qual não temos acesso. Já a ordem explicada é a realidade tal qual a conhecemos, com pessoas, árvores, bichos, pedras, estrelas, planetas etc. etc.
A ordem implicada abrange a Totalidade (Wholeness) do Universo – por isso o título do livro. Ao nível das partículas subatômicas, tudo no Universo é completamente interconectado, não existindo nada que possa ser chamado de uma “parte independente”: cada partícula pode, potencialmente, deter informação a respeito de todas as demais partículas, ainda que à distância de galáxias.
A Totalidade é descrita por Bohm como um todo indivisível, dotado de total coerência e preenchido por completo por campos de energia e informação que se movem em fluxo perpétuo e que, nesse movimento, compõem infinitas formas. Tomemos como analogia o fluxo de um rio, em que também há infinitas formas: ondulações, torvelinhos, respingos etc. Cada uma dessas “partes” não existe em si, elas somente existem com relação à totalidade do fluxo d’água do rio.
A ordem explicada (a realidade que se manifesta perante os nossos sentidos) são essas formas constituídas pelo fluxo da ordem implicada, ou seja, das partículas subatômicas. Com efeito, tudo no Universo é composto de partículas subatômicas. Um dia, todos nós iremos morrer, nossos corpos irão se decompor, mas as partículas que nos constituem não irão desaparecer, elas tomarão parte em novas formas. O mesmo ocorre com as estrelas, as montanhas, os animais, as plantas e com tudo o mais no Universo. Tudo isso são variadas formas que, em relação à Totalidade (a ordem implicada), contam com uma autonomia apenas relativa (apesar da nossa ilusão de que cada um de nós seja estanque, separado, uma unidade em si e por si). As partículas que constituem tais formas, que são para nós as “partes” do mundo, ciclicamente se dissolvem na ordem implicada e se recristalizam como novas formas de autonomia relativa.
Como nós não temos acesso ao mundo das partículas subatômicas, nós não temos como verificar nada disso – a não ser em casos extremamente raros e considerados inexplicáveis, como o do cachorro que, no exato momento em que sua dona, a quilômetros de distância, toma a decisão de regressar para casa, invariavelmente “fica sabendo” disso e se desloca até a porta para esperá-la (conforme documentado nestevídeo, legendado em inglês).
Bohm teve o seu insight ao assistir na TV a um experimento da BBC britânica: dois cilindros de vidro concêntricos eram colocados um dentro do outro e o espaço entre eles preenchido com glicerina, que é um fluido translúcido e muito viscoso. Uma gota de tinta insolúvel era então pingada na glicerina. Ao ser girado o cilindro externo, a gota de tinta ia aos poucos sendo “esticada” tomando o formato de um fio cada vez mais fino até finalmente desaparecer da visão – como se houvesse sido diluída na glicerina. Mas, ao se girar de volta o cilindro, a tinta (que sempre esteve lá, apenas não podia mais ser vista), reaparecia na forma de linha fina que ia aos poucos “encurtando” e ganhando espessura, até voltar ao seu formato original de gota na exata posição em que fora pingada.
Aquela gota de tinta havia sido “envolta” (enfolded) e depois “des-envolta” (unfolded) pela glicerina. Bohm compreendeu então que o movimento perpétuo de fluxo da ordem implicada, ciclicamente, envolve e des-envolve “partes” que, quando des-envoltas, constituem a ordem explicada. Cada uma das “partes”, a um só tempo, por um modo des-envolto, expressa sua autonomia e afirma a sua individualidade singular, enquanto que por um modo implicado opera como parte integrada e dependente do Universo na sua totalidade.
E o Diálogo nisso?
Para um físico quântico não é difícil conceber os pensamentos como configurações de interrelacionamentos entre partículas subatômicas (já um neurofisiologista é capaz de descrever em termos físicos um dado estado mental, por exemplo um pensamento, como uma reconfiguração das interconexões nas redes de neurônios do cérebro).
Ademais, as partículas subatômicas podem ser descritas tanto como entes materiais quanto como manifestações energéticas – imateriais, assim como os pensamentos.
Bohm chegou ao Diálogo ao ver os pensamentos individuais (aos quais se tem acesso) como as “partes” da ordem explicada, com autonomia apenas relativa – ou seja, dependentes – em relação a sucessivos níveis implicados de “pensamento coletivo” (aos quais não se tem acesso). O Diálogo seria então um método para a investigação e descoberta desse pensamento coletivo, oculto a nós mas que condiciona os nossos pensamentos individuais.
Vamos a um exemplo, a mobilidade urbana. Em cada grande metrópole do planeta, o perfil da mobilidade urbana resulta das escolhas dos indivíduos daquela sociedade para sua locomoção (lógico que uns têm maior poder de escolha do que outros). Esse perfil varia bastante conforme a sociedade em questão, ou seja: ele varia conforme a incidência dos condicionamentos culturais locais (pensamento coletivo) sobre as escolhas (pensamentos) individuais.
A imagem a seguir reúne flagrantes do perfil de mobilidade urbana na Alemanha (onde há maior consciência ecológica), China (onde há maior subordinação dos indivíduos aos ditames da sociedade), Estados Unidos (onde se espera que todo mundo tenha carro) e Brasil (onde o transporte individual por carro é símbolo de distinção social). O leitor seguramente não necessita de legendas para distinguir cada um deles.
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cultura, que condiciona o comportamento (e o pensamento) das pessoas, compõe assim o pensamento coletivo. Ocorre que, como não detemos consciência da maior parte dos condicionamentos culturais a que estamos submetidos, nós somente conseguimos discernir aquelas características mais evidentes da cultura (como por exemplo essas sobre mobilidade urbana). Algo como a “ponta do iceberg”.
Todas as convivências humanas geram acomodações comportamentais coletivas – ou seja, culturas – que passam a incidir sobre o pensar das pessoas. Mesmo uma relação afetiva a dois gera uma microcultura (o “casal”) que afeta a ambos (isso é facilmente percebido sempre que uma pessoa encerra um relacionamento e ingressa em outro). O mesmo se pode dizer das famílias, e assim por diante. Cada um de nós, imerso em uma multiplicidade de convivências (família nuclear, família expandida, ambiente de trabalho, empresa, círculos de amizades, redes sociais na web, vizinhança, cidade, país etc.) não tem como se manter à margem dos efeitos desses pensamentos coletivos.
O Diálogo é um modo de conversação em grupo voltado à investigação e descoberta de pensamento coletivo, num esforço que requer perseverança e tempo. Somente quando trazido à tona, ou seja, tornado consciente no grupo, o pensamento coletivo se aperfeiçoa, com reforço dos seus aspectos positivos e reversão dos seus aspectos deletérios. É quando os conflitos são transcendidos de forma inovadora, trate-se de conflitos derivados das diferentes leituras de um problema complexo pelas diferentes pessoas, trate-se de conflitos propriamente ditos.
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O processo do Diálogo é gratificante porém árduo, na medida em que demandará engajamento psíquico dos participantes. Mas o principal obstáculo ao sucesso de um grupo de Diálogo reside em como as pessoas se relacionam com o tempo. Se a minha experiência ao longo de vinte anos como facilitador de grupos de Diálogo me mostrou algo foi que pessoas incapazes tanto de relaxar o controle que elas acreditam poder exercer sobre o tempo, quanto de, ao contrário, permitir-se deixar o tempo agir sobre elas, acabarão por se mostrar também incapazes de suportar o processo do Diálogo pelo tempo necessário a auferir seus resultados.
Para os interessados em orientações metodológicas recomenda-se a leitura dos textos de William Isaacs, do MIT (Massachusetts Institute of Technology).
*Ruben Bauer Naveira tem 52 anos, é pai de dois filhos, tricolor de coração e cidadão brasileiro.


Estupro em estação central escancara crise no metrô-SP

por  no Outras Palavras
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Empresa e governo paulista tentam abafar informações, que confirmam: decadência do sistema e terceirização selvagem já comprometem segurança dos passageiros e funcionários 
Com informações da Federação Nacional dos Metroviários
A crise da rede de metrô paulista, que provocou nos últimos meses acidentes e falhas graves — além de superlotação permanente e paralisia nas obras de expansão — atingiu um patamar mais dramático na última quinta feira (2/4). Uma funcionária da empresa terceirizada Prodata, que trabalhava na bilheteria de recarga de bilhetes da estação República — uma das mais movimentadas e centrais –, foi violentada.
Ela estava cobrindo uma colega gestante em licença médica. Trabalhava sozinha na cabine e iria sair mais tarde. Às 23h27, dois homens aproximaram-se da cabine para rendê-la. Um ficou monitorando e chegou a sair do local por um tempo para despistar quaisquer suspeitas. Mais tarde, retornou e entrou na cabine também. Estupraram-na dentro da cabine e disseram para que saísse somente depois de 30 minutos do ocorrido, para que não fossem denunciados e seguidos.
O Sindicato dos Metroviários está investigando e recolhendo todas as informações possíveis sobre o caso. Um Boletim de Ocorrência do Metrô já foi emitido. Porém, para tentar evitar repercussão, a empresa está blindando ao máximo a notícia. Segundo o sindicato, a chefia está promovendo assédio moral, para que as demais funcionárias terceirizadas não comentem nada sobre o assunto. Alegaria que a revelação pode comprometer a imagem de “segurança” do Metrô, que deixou de ser verdadeira nos últimos tempos. As informações já subiram para a direção da empresa, que, numa tentativa de abafá-las, não libera nada — nem mesmo os vídeos que possam identificar os criminosos.
Trecho do Boletim de Ocorrência interno do Metrô, em que o crime foi registrado
Trecho do Boletim de Ocorrência interno do Metrô, em que o crime foi registrado
O crime realça a gravidade da terceirização selvagem promovida pelo metrô, sempre para reduzir salários e condições de trabalho dos que operam o sistema. As cabines de bilheteria das empresas terceirizadas já foram alvos de diversos ataques e ocorrências, por não terem o mesmo sistema de segurança das cabines dos metroviários. Além disso, ficam em acesso perigoso. Também falta pessoal no período noturno, o que gera maior risco — por haver seguranças suficientes e as trabalhadoras exercerem suas atividades sozinhas, sem uma companheira ao lado.
O sindicato está mobilizando as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs), para enfrentar, mais uma vez, os problemas relacionados à terceirização e precaridade Também procurou a Secretaria das Relações de Trabalho (SRTE) para que as cabines inseguras sejam interditadas.
O crime ocorreu precisamente na semana que antecede a votação, no Congresso Nacional, do projeto de lei que facilita e estimula as terceirizações e a precarização do trabalho. (PL 4330/2004). Amanhã (7/4) haverá um grande protesto em Brasília contra o projeto. Espera-se que parlamentares, antes de votar, reflitam e se sensibilizem sobre a gravidade de sua decisão.
A crise do Metrô paulista, que atinge agora a própria integridade de funcionários e passageiros, arrasta-se há anos — e afeta ainda mais severamente a manutenção do sistema. Conhecido por longo período por sua excelência, o setor vem sendo desmontado e terceirizado. Parte importante das atividades, antes realizada pelos técnicos da companhia, foi repassada aos fornecedores privados de equipamentos — inclusive o cartel de empresas acusado de pagar propinas a diretores do Metrô e integrantes do governo paulista. Multiplicaram-se, em consequência, acidentes, interrupções dos serviços e atrasos. Uma série de matérias publicadas por Outras Palavras a respeito pode ser lida aqui.

TIJOLAÇO: FHC AFUNDA NO UDENISMO

por Fernando Brito, do Tijolaço
:
A vaidade de Fernando Henrique Cardoso retira-lhe, de forma crônica, a prudência de quem se dedica a política, mais ainda quando sua formação intelectual deveria ensinar-lhe que as superfícies da opinião pública, como o mar nas tempestades, agitam-se, fluem e refluem.
No seu artigo de ontem, FHC, tal como sentou-se na cadeira de Prefeito de São Paulo às vésperas de ser derrotado por Jânio Quadros, já convida a oposição, embora não deixe claro qual é seu conceito de oposição e se ele inclui Renan Calheiros e Eduardo Cunha, cabeças do controle conservador do Congresso, embora lhes estenda um dedinho, ao dizer que o PMDB, “também tem propostas a serem consideradas”) a já preocupar-se com a “reconstrução” da política e da economia do país.
Mas não neste governo, deixa logo claro: antes, é preciso “passar o país” a limpo. Mesmo que seja evidente a hipocrisia ao dizer que “não há pressões institucionais para derrubar o governo e todos queremos manter a democracia”, ao colocar-se frontalmente contra qualquer diálogo com “o governo que não deve ser salvo”, mostra onde está a sua aposta.
Apresenta, então, “propostas institucionais” a adotar enquanto o governo se derrete: voto distrital – os cariocas mais antigos devem lembrar-se do tempo em que ele existia semioficialmente aqui, com a política da bica d’água de Chagas Freitas – entrega do pré-sal, uma “nota fiscal”  nacional e, pasmem, um tabelamento da propina, com a imposição de um “teto” de R$ 800 mil para que as empresas financiem campanhas.
Do ponto de vista prático, como quase tudo o que diz, o artigo de Fernando Henrique é um longo nada.
Mas tem algo muito interessante no conceito que, distraidamente, deixa escapar, como deixou, pouco antes de sua posse como presidente, em 1995, sair a frase sobre acabar com a Era Vargas.
Diz, ao analisar o “populismo” com aquelas luvas de borracha que seu nojo elitista faz calçar, que “em 1964, as ‘marchas das famílias pela liberdade’ aglutinaram as forças políticas aos militares contra o populismo presidencial e, posteriormente, se entregaram a práticas autoritárias.
Posteriormente, Doutor? Derrubar um presidente eleito com tropas não seria prática autoritária?
Ou seria democrático tomar o poder e baixar Atos Institucionais a seguir, proclamando a ditadura “branda”, como se expressa no preâmbulo do primeiro deles?
” Para demonstrar que não pretendemos radicalizar o processo revolucionário, decidimos manter a Constituição de 1946, limitando-nos a modificá-la, apenas, na parte relativa aos poderes do Presidente da República, a fim de que este possa cumprir a missão de restaurar no Brasil a ordem econômica e financeira e tomar as urgentes medidas destinadas a drenar o bolsão comunista, cuja purulência já se havia infiltrado não só na cúpula do governo como nas suas dependências administrativas. Para reduzir ainda mais os plenos poderes de que se acha investida a revolução vitoriosa, resolvemos, igualmente, manter o Congresso Nacional, com as reservas relativas aos seus poderes, constantes do presente Ato Institucional”.
O PSDB, como a UDN, não mais chega ao poder pela democracia.
É por isso que FHC aceita intimidades com os fantasmas de 64, com os quais faz hoje causa comum.