segunda-feira, 6 de abril de 2015

Os almoços grátis e a teoria econômica

na Carta Maior

Não há forma de inventar leis naturais que possam descrever mecanicamente a vida e as decisões das pessoas e dos grupos sociais.

Francisco Louçã
reprodução
A lenda é esta: dois economistas discutiram se a economia se rege ou não por “leis naturais”, mecanismos implacáveis que determinam e descrevem os comportamentos das pessoas e grupos. Vilfredo Pareto (1848-1923), numa conferência acadêmica, explicou porque pensava que sim, que essas leis são as engrenagens da vida, no que foi contestado por Schmoller.

 Pareto era o sucessor de Léon Walras na sua cadeira de economia política na Universidade de Lausanne, na Suíça, mas isso não queria dizer muito nesse momento: as teorias de Walras e de Pareto só mais tarde se tornaram canônicas na economia e este ainda não seria famoso no momento da anedota. Talvez isso explicasse a descontração das interrupções que um consagrado professor de economia foi impondo a partir da audiência: "não existem leis naturais na economia", dizia-lhe Gustav von Schmoller (1838-1917), com a assertividade de um veterano perante um calouro. Schmoller, da Universidade de Berna, era um dos economistas mais famosos do seu tempo e certamente o economista alemão mais influente. A sua palavra havia de ter impressionado os ouvintes.

 No dia seguinte, prossegue a história, contada sempre da mesma forma (aqui ou aqui), Pareto ter-se-ia disfarçado para passar por um mendigo e teria pedido a Schmoller, na rua, que lhe indicasse onde poderia comer gratuitamente. Schmoller teria dito que não há restaurantes que sirvam gratuitamente, mas que lhe podia indicar um confortavelmente barato. Conclusão triunfante de Pareto, revelando-se detrás da sua máscara: "está a ver, há mesmo leis naturais na economia!".

 Deste episódio vem a célebre expressão "não há almoços grátis". Os leitores brasileiros já ouviram esta expressão de governantes de todas as cores, explicando porque têm que impor medidas de restrições orçamentais. Suspeito até que vão ouvir Levy repetir isto, ou quem lhe venha a suceder.
 
Ora, um dos problemas desta mundividência é que a ideia de “leis naturais” tomou caminhos enviesados. Por exemplo, depois do episódio entre Pareto e Schmoller, a ideia entusiasmou os fascistas italianos, que assim encontravam uma justificação para a sua prepotência e, em particular, para a recusa em alterar a distribuição dos rendimentos (e homenagearam Pareto, tendo-o Mussolini nomeado senador vitalício; um resumo da carreira de Pareto foi publicado pelo colega Luigi Amoroso e publicado em 1938 na revista Econometrica, e que então provocou uma grande celeuma, sendo acusada de branqueamento do fascismo).

 A história de Schmoller, reformador social mas germanista imperial, foi contada por Thorstein Veblen em 1901, noutra grande revista de economia. Em qualquer caso, do encontro na conferência e da conversa na rua não se tem confirmação direta por qualquer deles, mas bem pode ter acontecido. Afinal, os economistas nesse tempo falavam entre si. E faziam perguntas interessantes em conferências interessantes.
 
Em todo o caso, por mais que a anedota se repita, não há forma de inventar leis naturais nem comportamentos uniformes que possam descrever como uma mecânica celestial a vida e as decisões das pessoas e dos grupos sociais. Pareto não tinha razão e a sua própria evolução posterior o confirmou: como sociólogo, mais do que como engenheiro (era doutorado em engenharia), desenvolveu depois uma teoria das elites dominantes que as responsabilizava pelos desequilíbrios sociais e por imporem sempre a sua vontade, contra a democracia.

Ainda hoje nos podemos perguntar se há alguma "lei natural" que determine como nos comportamos, ou se, em democracia, escolhemos os caminhos por nós próprios. Tudo depende sempre da decisão e nenhuma lei cósmica desculpa ou justifica o que só à decisão compete.

Em Niterói estacionamento aproveita espaço para a produção de Energia Solar

por José Gilbert Arruda Martins
Foto: PG
Assim como a Eólica e a do Mar, a energia Solar se caracteriza como inesgotável - e é considerada uma alternativa energética muito promissora para enfrentar os desafios da expansão da oferta de energia com o menor impacto ambiental.

É uma experiência em propriedade particular de uma empresa no centro da cidade de Niterói-RJ, mas é uma boa e inovadora ideia.

Imagine os espaços a céu aberto que as grandes cidades possuem para estacionamento e que poderiam ser usados para a produção de energia solar.
Foto: PG

As vantagens da energia solar, ficam evidentes, quando os custos ambientais de extração, geração, transmissão, distribuição e uso final de fontes fósseis de energia são comparadas à geração por fontes renováveis, como elas são classificadas.

Niterói, uma cidade apertada entre o mar e a montanha, pelo menos a parte mais antiga, aproveita o estacionamento para a produção de energia.

Muitas empresas no país já fazem o mesmo, mas ainda é pouco.

"Conforme dados do relatório "Um Banho de Sol para o Brasil" do Instituto Vitae Civilis, o Brasil, por sua localização e extensão territorial, recebe energia solar da ordem de 1013 MWh (mega Watt hora) anuais, o que corresponde a cerca de 50 mil vezes o seu consumo anual de eletricidade. Apesar disso, possui poucos equipamentos de conversão de energia solar em outros tipos de energia, que poderiam estar operando e contribuindo para diminuir a pressão para construção de barragens para hidrelétricas, queima de combustíveis fósseis, desmatamentos para produção de lenha e construção de usinas atômicas.
Foto: PG
No Brasil, entre os esforços mais recentes e efetivos de avaliação da disponibilidade de radiação solar, destacam-se os seguintes: a) Atlas Solarimétrico do Brasil, iniciativa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF), em parceria com o Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito (CRESESB); b) Atlas de Irradiação Solar no Brasil, elaborado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e pelo Laboratório de Energia Solar (Labsolar) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Os resultados destes trabalhos mostram que a radiação solar no país varia de 8 a 22 MJ/m2 durante o dia, sendo que as menores variações ocorrem nos meses de maio a julho, quando a radiação varia entre 8 e 18 MJ/m2. Ainda de acordo com o resultado dos estudos, o Nordeste brasileiro é a região de maior radiação solar, com média anual comparável às melhores regiões do mundo, como a cidade de Dongola, no deserto do Sudão, e a região de Dagget, no Deserto de Mojave, Califórnia, EUA." (MMA)









domingo, 5 de abril de 2015

Gasto público em ensino no governo Lula e Dilma atinge 6,6% do PIB e supera os países ricos

Por: Helena no Blog Amigos do Presidente Lula
Em dez anos, verba para ensino médio aumenta quatro vezes
Após oito anos de expansão contínua, os gastos públicos brasileiros em educação atingiram uma proporção da renda nacional elevada para padrões mundiais.

São 6,6% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da produção e da renda gerada no país), segundo dados recém-apurados pelo governo e relativos ao ano de 2013. Em valores de hoje, algo como R$ 360 bilhões anuais.

O percentual já supera a média de 5,6% apurada em 2011, dado mais recente, entre os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), na maior parte ricos.

O Brasil destina ao setor  de educação uma parcela de sua renda superior, por exemplo, à reservada pelos EUA -mas os alunos americanos recebem muito mais dinheiro, por viverem em um país mais rico.

Ao longo da última década, segundo dados obtidos pela Folha, o gasto anual de União, Estados e municípios por estudante da rede pública quase triplicou: de R$ 2.213 em 2003, em valores corrigidos, para R$ 6.203 em 2013.

A meta brasileira, fixada em lei, é atingir 10% do PIB até 2024, algo inexistente nas principais economias globais.A mudança no direcionamento dos recursos,é elogiado por educadores. Em 2000, o aluno de graduação custava 11 vezes o aluno do ensino básico; hoje, essa diferença é de pouco menos que quatro vezes. (Resumo da Folha)

Em 10 anos, verba para ensino médio aumenta 4 vezes

Principal gargalo da educação do país, o ensino médio recebeu, na última década, uma injeção de recursos superior às demais etapas do ensino.

Em 2003, o gasto anual por aluno do ensino médio era de R$ 1.483, o menor entre todas as etapas -em seguida, aparecia o dos anos finais do fundamental, com custo de R$ 1.858.

Dez anos depois, o valor saltou quase quatro vezes, chegando a um total de R$ 5.546. O crescimento da verba, no entanto, não foi acompanhado de uma melhoria expressiva nos indicadores de qualidade.

Ao contrário, o Ideb (principal indicador de qualidade da educação básica no país) mais recente, divulgado ano passado, apontou queda no desempenho dessa etapa em 16 Estados. Além disso, o resultado nacional ficou abaixo da meta estipulada pelo governo federal.

"Essa é uma resposta de longo prazo. O investimento feito vai ter [repercussão] numa geração mais à frente", diz o secretário-executivo do MEC, Luiz Cláudio Costa.

Presidente do Consed (conselho de secretários estaduais de educação), Eduardo Deschamps aponta três fatores para o aumento de recursos não ter repercutido de forma expressiva em indicadores de qualidade.

São eles: a falta de um currículo mais bem definido, as deficiências do aprendizado adquirido ainda no ensino fundamental e o modelo dessa etapa de ensino, focado principalmente no ingresso em universidade.

"Ele deveria ser mais voltado para a educação profissionalizante", afirma ele, secretário do Estado de Santa Catarina. (FF) 

Globo recebe mais uma vez uma aula magna de política inesperada e indesejável

no Maria Frô
Resultado de imagem para professor Dr. Vitor Amorim de Angelo

Nas raras vezes que vemos um discurso dissonante na Rede Globo, percebemos que o produtor não fez a lição de casa e chamou um pesquisador decente para ser entrevistado. Foi assim que no Bom dia ES, o convidado estragou a festa.
Pesquisadores sérios não repetem o senso comum, não fazem coro à política reacionária da Rede Globo, por isso, o jovem professor Dr. Vitor Amorim de Angelo deu uma surra de coerência e informações democráticas em pleno estúdios da rede golpista de tv. 
A entrevista acontecia ao vivo e vemos um apresentador em franco desespero tentando trazer o convidado atrevido para o script.
Mas um professor, formado em História, com mestrado e doutorado em Ciências Sociais, membro do Laboratório de Estudos de História Política e das Ideias, com passagem pelo Centre d’Histoire do Institut d’Études Politiques de Paris (SciencesPo) e pesquisador do Institut des Sciences Sociales du Politique da Université de Paris Ouest-Nanterre La Défense  tem de honrar o conhecimento que acumulou em sua trajetória de formação: graduação em História, mestrado doutorado em Ciências Sociais, não podendo, portanto, tratar a política com o desrespeito e a manipulação global, regras daquela emissora.
Abaixo, o vídeo com o resultado da formação e coerência do jovem professor: 4 minutos de aula sobre política, sistema político brasileiro, democracia, respeito ao pleito eleitoral, com a frase lapidar, brilhante feito um diamante: “A democracia é um regime de confiança, não de adesão. Portanto, não é uma opção aderir ou não ao resultado”, deixando a fala partidarizada de Miram Leitão, reverberada pelo  apresentador do Bom dia ES no chinelo. Estão até agora procurando o rumo de casa.
Assista, vale a pena cada segundo.
______________________
Professor Dr. Vitor Amorim de Angelo: Possui graduação em História pela Universidade Federal do Espírito Santo, mestrado e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos, com estágio de pesquisa no Centre d’Histoire do Institut d’Études Politiques de Paris (SciencesPo). Atualmente, é professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Vila Velha, onde também é Coordenador Institucional de Iniciação Científica, e pesquisador do Institut des Sciences Sociales du Politique da Université de Paris Ouest-Nanterre La Défense e do Laboratório de Estudos de História Política e das Idéias da Universidade Federal do Espírito Santo. Tem experiência nas áreas de História e Ciências Sociais, com ênfase na política brasileira contemporânea, temática na qual possui livros e artigos publicados.
O professor tem experiência nas áreas de História e Ciências Sociais, com ênfase na política brasileira contemporânea, atuando principalmente nos seguintes temas: partidos e organizações políticas, instituições e comportamento político, eleições, esquerdas, ditadura e democracia, mídia, memória social e uso político do passado.

A mídia e a greve mundial no McDonald's

na Carta Maior

O McDonald's é um das maiores anunciantes na mídia brasileira, logo você não verá nada sobre os abusos trabalhistas nem sobre a greve mundial.

Mike Mozart

por José Gilbert Arruda Martins

O grande, talvez o maior símbolo do capitalismo global, está em crise, é incrível.

Incrível, porque o lucro com a superexploração de jovens no mundo todo é estupendo.

Como uma empresa que explora milhões de jovens por todo o planeta pode entrar em crise?

São bilhões e bilhões em lucros.

A questão é que o lucro esperado tem que ser cada vez maior e maior, para isso, milhões de jovens do planeta são explorados como quase escravos.

E o pior, ninguém diz nada, governos, mídia etc. todo mundo calado. Silêncio sepulcral.

Parabéns aos líderes do movimento. à luta.

A mídia e a greve mundial no McDonald's

O McDonald's é um das maiores anunciantes na mídia brasileira, logo você não verá nada sobre os abusos trabalhistas nem sobre a greve mundial.

Está agendada para 15 de abril uma “greve mundial” contra a rede estadunidense de fast-food McDonald’s. A previsão é de que o movimento tenha a adesão de 200 cidades de 35 países. O motivo é a brutal exploração exercida pela multinacional, que paga míseros salários e adota inúmeras práticas lesivas aos direitos trabalhistas. Os trabalhadores brasileiros participarão da jornada. 

Em meados de março, o sindicato da categoria (Sinthoresp) protocolou uma ação no Tribunal de Justiça do Trabalho de São Paulo exigindo o fim do acúmulo de funções e o pagamento do adicional por insalubridade. Houve protesto dos funcionários na Avenida Paulista e a população foi informada sobre a adesão à “greve mundial”. A mídia privada, porém, não deu maior destaque ao movimento. A multinacional é uma das maiores anunciantes do país, o que explica a cumplicidade da imprensa privada e venal!

A mobilização contra os abusos do McDonald’s tem crescido no mundo inteiro. Ela teve início nos EUA em 2012, quando os funcionários desta e de outras redes de fast-food se reuniram em Nova York para exigir aumento salarial e melhores condições de trabalho. Desde então, outras cidades de várias partes do mundo aderiram aos protestos. O movimento conquistou o apoio de vários sindicatos, de estudantes e até de pastores de igrejas de Nova York, Chicago e Detroit.


Arrogante e truculenta, a direção da multinacional tenta minimizar o impacto das mobilizações. “Esses eventos não são 'greves', mas manifestações organizadas para atrair a atenção da mídia”, afirma Heidi Barker, porta-voz do McDonald's nos EUA. A realidade, porém, é bem diferente, conforme aponta Kwanza Brooks, funcionária da empresa na Carolina do Norte. “Quando nós começamos, poucas pessoas queriam participar. Elas estavam assustadas, com medo de perder o emprego. Mas o movimento está realmente crescendo, e pessoas que não sabiam que nós existíamos, agora sabem”.

Os efeitos da mobilização já se fazem sentir em vários terrenos. Em fevereiro, a multinacional confessou uma queda de 4% nas vendas em suas lojas nos EUA e de 1,7% em sua operação global, segundo reportagem do jornal “The New York Times”. Nas últimas semanas, o comando da “campanha global pelos direitos dos funcionários do McDonald’s” também comemorou outras vitórias parciais. Pela primeira vez na história ocorreu uma audiência do Comitê Nacional de Relações de Trabalho dos EUA em que a empresa foi acusada formalmente por práticas lesivas aos direitos dos trabalhadores e pela repressão à ação sindical. Antes, o órgão responsabiliza apenas os franqueadores da rede.

Já na terça-feira (31), a Comissão Europeia Antitruste solicitou, em Luxemburgo, informações sobre o acordo fiscal feito com o McDonald's em decorrência das denúncias de sindicatos de trabalhadores de evasão da ordem de 1 bilhão de euros entre 2009 e 2013. E no Japão, os investidores de fundos de pensão detentores de ações do McDonald's pediram a troca dos integrantes do conselho da empresa motivados pelas quedas nos resultados da companhia desde uma crise envolvendo o uso de matéria-prima estragada. Todos estes fatos, porém, não geram reportagens e denúncias na mídia “imparcial”. A grana da publicidade justifica a postura mafiosa!


As 11 Universidades Mais Antigas do Mundo

 Por  no Mega Curioso
SABER ORIENTAL A Universidade Al-Azhar foi criada em 998. Foto: Latin Stock
SABER ORIENTAL A Universidade Al-Azhar foi criada em 998.Foto: Latin Stock
por José Gilbert Arruda Martins
A universidade de número 1 é por minha conta. A Europa é uma das mães do que denominamos de Universidade, mas não é "a mãe" sozinha e única.
O Egito, onde fica a mais antiga Universidade do mundo - a Al-Azhar -, por causa da mumificação já conhecia o estudo da anatomia humana centenas de anos antes de da Era Cristã.
Acredito que na parte oriental do planeta, poderemos encontrar centros de estudos, muito mais antigos, inclusive que a Al-Azhar.
A Europa, como parte da sua política colonial e imperialista, usou da teoria do eurocentrismo para justificar suas atrocidades.
A Teoria Eurocêntrica - defende a Europa como centro dos acontecimentos mundiais -, ainda hoje, infelizmente, é trabalhada e difundida em salas de aula pelo país inteiro.
Precisamos conhecer que, antes do continente europeu construir seu primeiro carrinho de mão, por volta do ano 1300 da Era Cristã, a China já o conhecia mil anos antes.
Por isso, por minha conta e risco, resolvi postar essa bela matéria, fazendo uma pequena e importante mudança na lista de dez para onze Universidades.

1– UNIVERSIDADE DE AL-AZHAR

"(...) ampliando a visão de mundo e considerando a cultura oriental, a Universidade Al-Azhar, no Cairo, ganha o título. Ela foi criada em 998 a pedido do vizir Yaqub para que o califa Aziz ministrasse instrução e alimentação a 36 estudantes da mesquita."
Se você acha que a sua faculdade é antiga, espere para conhecer a que veremos a seguir. Instituições com mais de 800 ou até mais de 900 anos de existência fazem parte dessa lista que mostra um pouco da história do ensino universitário no mundo desde muito tempo atrás.
A palavra universidade é derivada do latim universitas— que pode ter significados como universalidade, totalidade, conjunto, comunidade — e também da frase universitas magistrorum et scholarium, que significa "comunidade de professores e estudiosos".
O termo foi cunhado pela Universidade italiana de Bolonha, que, com a data de fundação tradicional de 1088, é considerada a primeira universidade da Europa e do mundo que continua em atividade desde o seu surgimento. Abaixo você poderá conhecer melhor a história dela e de mais nove das universidades mais antigas do mundo. Confira:

11 – Universidade de Valhadolide

Valhadolide, Espanha, fundada em 1241
Universidade de Valhadolide (Valladolid) é uma universidade pública espanhola na cidade de Valladolid, na região autônoma de Castela e Leão, que foi fundada em 1241. A universidade conta atualmente com cerca de 32 mil alunos de graduação e mais de dois mil professores.
A instituição foi fundada como transferência de sede de estudos da Universidade de Palencia, fundada por Alfonso VIII de Castela, entre 1208 e 1212. Ela é atualmente responsável por sete campus distribuídos por quatro cidades de Castela e Leão: Valhadolide, Palencia, Soria e Segovia.

10 – Universidade de Siena

Siena, Itália, fundada em 1240
Universidade de Siena, na região da Toscana, é uma das universidades mais antigas e primeiras das universidades com financiamento público na Itália. Originalmente chamada Studium Senese, a Universidade de Siena foi fundada em 1240.
Em 2006, a instituição tinha cerca de 20 mil alunes, sendo quase metade da população de Siena que era cerca de 54 mil.  Atualmente, a universidade é mais conhecida por suas Escolas de Direito e Medicina.
Em 1321, o local atraiu um número maior de alunos devido a um êxodo em massa da prestigiada vizinha Universidade de Bolonha, que esteve fechada temporariamente entre 1808 a 1815, quando as forças de Napoleão ocuparam a Toscana.

9 –Universidade de Toulouse

Toulouse, França, fundada em 1229
Universidade de Toulouse é uma associação de universidades francesas, grandes escolas e outras instituições de ensino superior e de pesquisa, em homenagem a uma das primeiras universidades estabelecidas na Europa em 1229, e incluindo as universidades sucessoras.
A formação da Universidade de Toulouse foi imposta por Raimundo VII de Toulouse, como parte do Tratado de Paris em 1229 a fim de acabar com a cruzada contra os albigenses. Outras faculdades (como a de Direito e de Medicina) foram adicionadas mais tarde ao conglomerado.

8 – Universidade de Nápoles Federico II

Nápoles, Itália, fundada em 1224
Universidade de Nápoles Federico II é uma universidade localizada na cidade italiana de Nápoles, que também é muito famosa pela origem da pizza (da forma como conhecemos hoje). A instituição foi fundada em 5 de junho de 1224 por Federico II da Germânia (imperador do Sacro Império Romano-Germânico) e está organizada em 13 faculdades.
É a instituição apoiada pelo Estado mais antiga de ensino superior e pesquisa no mundo. Um dos mais famosos estudantes desta universidade foi o teólogo católico romano e filósofo Tomás de Aquino.

7 – Universidade de Pádua

Pádua, Itália, fundada em 1222
Universidade de Pádua é uma importante universidade italiana localizada na cidade de Pádua (Padova). A instituição foi fundada em 1222 como uma escola de direto e foi uma das universidades mais proeminentes no início da Europa moderna.
Segundo os registros, a universidade teria sido fundada em 1222 (o que corresponde ao primeiro momento em que a instituição é citada em um documento histórico como pré-existente, por isso é muito certamente mais antiga), quando um grande grupo de alunos e professores deixou a Universidade de Bolonha, em busca de mais liberdade acadêmica.
As primeiras grades ensinadas na universidade foram direito e teologia. Mas o currículo expandiu-se rapidamente e em 1399 a instituição se dividiu em uma faculdade de direito e outra que ensinava astronomia, dialética, filosofia, gramática, medicina e retórica.

6 – Universidade de Salamanca

Salamanca, Espanha, fundada em 1218
Essa universidade está localizada na cidade de Salamanca, a oeste de Madrid, na comunidade autônoma de Castela e Leão, mesma região da Universidade de Valhadolide. Ela foi fundada em 1134, mas foi apenas em 1218 que foi concedida e Carta Régia de fundação pelo rei Alfonso IX.
É a mais antiga universidade fundada na Espanha e a terceira mais antiga universidade europeia em operações contínuas. Além disso, foi a primeira instituição europeia a receber o título formal de "Universidade" como tal, concedido pelo rei Alfonso X, em 1254, e reconhecido pelo Papa Alexandre IV em 1255.

5 – Universidade de Cambridge

Cambridge, Inglaterra, fundada em 1209
Universidade de Cambridge é uma universidade de pesquisa pública localizada em Cambridge, na Inglaterra. É a segunda mais antiga universidade do mundo de língua inglesa (depois da Universidade de Oxford).
A universidade cresceu a partir de uma associação de estudiosos de Cambridge que foi formada em 1209. Os registros iniciais sugerem que esses estudiosos teriam deixado Oxford após uma disputa com habitantes da cidade.
As duas mais antigas universidades britânicas têm muitas características em comum e muitas vezes são referidas em conjunto como “Oxbridge”. Além de associações culturais e práticas como uma parte histórica da sociedade britânica, elas têm uma longa história de rivalidade.

4 – Universidade de Oxford

Oxford, Inglaterra, fundada em 1167
Alegadamente como a universidade mais antiga do mundo, não há data precisa de fundação da Universidade de Oxford, mas o ensino já existia em Oxford de alguma forma em 1096 e desenvolveu-se rapidamente a partir de 1167, quando Henrique II proibiu os alunos ingleses de frequentar a Universidade de Paris.
Tida como uma universidade monarquista, a Oxford pode até ter surgido bem antes, no ano de 825, conforme indicam alguns supostos documentos históricos, mas que nunca vieram a público.

3 – Universidade de Paris

Paris, França, fundada em 1150
Universidade de Paris foi fundada em meados do século 12, sendo reconhecida oficialmente como uma universidade provavelmente entre 1150 e 1170. A universidade é muitas vezes referida como a Sorbonne, após ter associada a instituição (Collège de Sorbonne) fundada em 1257 por Robert de Sorbon.
Após a Revolução Francesa, as suas atividades foram suspensas de 1793 a 1896. Com o crescimento do ensino superior nos anos do pós-guerra na França, a universidade foi dividida em treze instituições autônomas. Das treze universidades sucessoras atuais, quatro têm instalações no edifício histórico de Sorbonne.

2 – Universidade de Bolonha

Bologna, Itália, fundada em 1088
Universidade de Bolonha é reconhecida como a mais antiga do mundo em operação contínua, considerando que foi a primeira a usar o termo universitaspara as corporações de estudantes e mestres que vieram a definir a instituição.
A instituição está foi fundada na cidade italiana de Bolonha em 1088. Atualmente, ela tem cerca de 100 mil alunos em suas 23 escolas, possuindo campus em Imola, Ravenna, Forlì, Cesena e Rimini e um centro de filial no exterior, em Buenos Aires. Além disso, tem uma escola de excelência chamada Collegio Superiore di Bologna.
FONTE(S) 

Comunistas transam melhor?

no Socialista Morena

O documentário Liebte der Osten Anders? (“Comunistas transam melhor?”, na tradução do título em inglês), dirigido em 2006 por Andre Meier, parte da premissa, comprovada estatisticamente, de que no lado comunista do muro de Berlim as pessoas faziam mais e melhor sexo que do lado capitalista, e tenta explicar por quê. É surpreendente descobrir que, apesar da censura e da proibição da pornografia, os alemães orientais (e sobretudo as alemãs) tinham mais liberdade sexual do que os ocidentais. Mais orgasmos, inclusive.
A principal razão, defende Meier, é que, até a descoberta da pílula, as comunistas eram mais independentes do que as comportadas alemãs do lado capitalista. Durante a Segunda Guerra, com os homens no front, as mulheres alemãs foram obrigadas a ir à luta para sustentar a família e aprender tarefas consideradas “masculinas”, como construir casas. Depois que eles voltaram, porém, enquanto na República Federal da Alemanha (capitalista) as mulheres retornaram às prendas domésticas, na República Democrática da Alemanha (comunista) elas continuaram trabalhando fora. No final dos anos 1960, uma em cada três mulheres trabalhava fora na Alemanha Ocidental; do lado Oriental eram 70%. Historiadores e sexólogos defendem no documentário que este papel protagonista da mulher influía positivamente em sua vida sexual.
“Em nenhuma área a emancipação feminina avançou tanto quanto na sexualidade. As mulheres davam as regras na cama. Isso era muito típico da Alemanha Oriental”, diz um especialista ouvido no filme. “Mais tarde as alemãs orientais foram reduzidas a caricaturas, mas eram elas que usavam as calças”, afirma outro. Ele fala isso e eu penso imediatamente em Angela Merkel, a toda poderosa chanceler que cresceu do lado comunista. Merkel foi beneficiada por uma emancipação que começara já no pós-guerra. Ou seja, quando as ocidentais passaram a lutar para conquistar espaço no mercado de trabalho, a maioria das orientais já possuía uma carreira.
Outros fatores para a liberação, por incrível que pareça, partiram do Estado comunista. Se do lado capitalista não houve educação sexual nas escolas até meados dos anos 1960, em 1962 os alemães orientais já assistiam programas sobre o assunto na televisão, voltados para crianças. Na Alemanha Oriental o casamento perdeu muito cedo a função de legitimar a sexualidade. Homens e mulheres também dividiam as tarefas do lar, bem antes de que isto se tornasse uma questão no Ocidente. O aborto foi legalizado na Alemanha comunista em 1972! Os alemães orientais sofriam a repressão do Estado, mas não a da igreja como os ocidentais, com efeito enorme sobre a sexualidade. Livres da religião, os/as comunistas se dedicavam sem culpa aos prazeres da carne. A alcova não era alvo da Stasi, a temida polícia secreta.
De acordo com o documentário, nos anos 1970 e 1980 os heterossexuais gozavam de liberdade sexual quase plena na Alemanha Oriental. O mais importante sexólogo do lado comunista, Siegfried Schnabl, deu a deixa em uma entrevista: “Lenin disse que sob o comunismo não deveríamos aspirar ao ascetismo e sim aos prazeres da vida. Isso inclui uma vida amorosa satisfatória”.
Outro aspecto interessante é que, do lado comunista, a prática do nudismo era amplamente aceita e começava no seio familiar (leia aqui uma reportagem sobre o tema publicada pelo jornal britânico The Telegraph). Isso explicaria a foto que circulou na rede da senhora Merkel nua numa praia da Alemanha Oriental durante a juventude –há dúvidas se é ou não a chanceler, mas que parece, parece.

Angela Merkel nua em pelo (e com um corpitcho de arrasar) numa praia comunista. Será?
Tudo muda com a queda do muro, em 1989, e a chegada da pornografia e da prostituição. Mas será que, pelo menos sexualmente, os comunistas eram mais felizes e não sabiam? Assista, é imperdível. Infelizmente não está disponível na rede com legendas em português, só em inglês.
Entendo que o diretor quis focar no mundo hetero e no feminismo, mas faço um reparo à ausência no filme do tema da homossexualidade, bastante reprimida pelos regimes comunistas de maneira geral –que o digam os cubanos. Outro documentário, Unter Männern — Schwul in der DDR (Entre homens – gay na RDA), de Ringo Rösener e Markus Stein, aborda o tema e conta que houve repressão à homossexualidade também na Alemanha Oriental. Mas não foi, parece, tão grave como o que ocorreu na URSS ou em Cuba. Pelo contrário, houve certa liberdade para os gays nos primeiros anos da Alemanha comunista, que descriminalizou a homossexualidade um ano antes que a Alemanha Ocidental. O próprio sexólogo Schnabl publicou textos onde defendia a existência dos homossexuais como “normal”.
Sem contar que aqueles beijaços na boca que o presidente alemão oriental Erich Honecker gostava de sapecar nos colegas comunistas eram meio homoafetivos, né não? Dizem que a comunistada saía correndo quando o Honecker aparecia. Bem, nem todos.
Foto clássica do líder soviético Leonid Brejnev recebendo um beijaço de Honecker, aquele safadeenho


Palha não entra: o seleto (e secreto) clube dos cannabiers ou maconheliers

por Cynara Menezes no Socialista Morena
cannabier
Foto: coletivo Prensa420)
Toda vez que perguntam ao presidente do Uruguai, Pepe Mujica, o porquê de sua defesa da legalização da maconha, ele dá duas razões principais: o combate à violência resultante do narcotráfico e a necessidade de garantir ao usuário segurança sobre a erva que irá fumar. No Brasil, a realidade dos fumadores de maconha é se submeter ao risco de adquirir o produto das mãos de um traficante sem saber exatamente o que está comprando ou… burlar a lei e plantar alguns pés de maconha em casa para consumo próprio.
Embora proibido, o autocultivo  tem não só encontrado cada vez mais adeptos entre nós como começam a surgir verdadeiros connoisseurs da planta, capazes de identificar a qualidade ou não de um baseado apenas pela aparência da erva. Depois dos baristas (especialistas em café), sommeliers (vinho ou cerveja) e chocolatiers, eis que surgem os cannabiers ou maconheliers: os especialistas em maconha, uma elite de usuários preocupada com o sabor, o cheiro e o tipo de “onda” que a maconha vai dar.
O termo cannabier já foi utilizado em um artigo científico pelo antropólogo Marcos Verissimo, que apresentou, em 2013, sua tese de doutorado em Cultura Canábica na UFF (Universidade Federal Fluminense). O neologismo, escreveu Verissimo, “foi cunhado em função da aproximação significativa entre os círculos de apreciadores de cannabis oriundas de autocultivos domésticos e os círculos de apreciadores de vinhos (sommeliers). Quando as flores da maconha atingem o ponto de maturação, as plantas são cortadas, tratadas (processo denominado manicura), passando então à fase do secado (que pode durar algumas semanas). Portanto, da semeadura à degustação do resultado, o importante é ter sabedoria e paciência para se saber admirar o processo, como ocorre no caso dos vinhos mais consagrados”.
Assim como os vinhos, as floradas também ganham nomes –Moby Dick, Critical Mass, Destroyer, Blueberry– e são resultado da assemblage, digamos assim, entre plantas famosas no desconhecido mundo dos plantadores de maconha. Os cultivadores assinam suas criações sob pseudônimo e compartilham experiências pela internet, sobretudo através do site Growroom.
Quem é o cannabier? Em geral é jovem, profissional liberal e homem. Como me disse um deles, “um bando de machões que cultivam flores”. Há garotas, claro, que desfrutam dos blends especiais fornecidos por esta galera, mas as cultivadoras ainda são minoria. São os meninos que mais mergulham a fundo nas técnicas e macetes para produzir plantas dignas de campeonato. Verdadeiros nerds da maconha, os caras sabem absolutamente tudo sobre o assunto. Como seus congêneres especializados em cafés, chocolates, cervejas ou vinhos, é uma atividade que envolve muito orgulho e vaidade. Se chegarmos algum dia à legalização do uso e plantio, seguramente figurarão, ao lado dos enochatos, os maconhochatos.
tricomas
(A flor da maconha com os tricomas. Foto: coletivo Prensa420)
Alberto* é advogado e cultiva meia dúzia de pés de maconha em um quarto, em sua casa, no Rio, sob luz artificial. Sua produção costuma causar sensação entre os amigos. O segredo, conta, é “frustrar sexualmente” a planta. Como a maconha que dá barato é apenas a planta fêmea, cultivadores experientes como ele sabem que, quanto mais a planta estiver pronta para a polinização e ela for impedida de acontecer, mais produzirá tricomas (os “cristais”, parte da planta rica em canabinoides). Ou seja, ficará mais potente. Daí a expressão “sin semilla” (sem semente) para designar a erva que é um must entre os maconhólatras. Para maximizar a produção de tricomas pela planta, são usadas técnicas como pequenas “massagens” para quebrar os galhos, e a água e a luz é milimetricamente controlada –na última semana antes da colheita, água e luz são cortadas, potencializando ainda mais a maconha.
“Meu carma no reino vegetal está péssimo”, brinca Alberto. Além de garantir a frustração sexual da pobre plantinha para seu prazer, o advogado diz que também é fundamental oxidar a flor após a colheita, fechando-a em um recipiente hermético por semanas ou meses. Qual a diferença de uma maconha para outra? “Na verdade, tem um tipo de maconha para cada pessoa ou momento. Se a pessoa quer relaxar, pode fumar uma Indica. Se prefere algo mais estimulante, uma Sativa. Se fosse permitido o autocultivo, o ideal era ter pelo menos três tipos de planta em casa: uma Indica, uma híbrida e uma Sativa”. Em uma festa recente de cultivadores, ele conta, chegaram a aparecer 37 tipos de flores diferentes.
Se os vinhos possuem os taninos, a maconha possui terpenos, moléculas responsáveis pelo odor da planta. Os terpenos vão influenciar no cheiro e no sabor da erva ao ser fumada. Falam-me de “notas” de manga, madeira, limão… “Fumamos um beck que deixava retrogosto de queijo”, me garante o antropólogo Paulo. No quintal de sua casa em Brasília, meio oculto entre três pés de mandioca para confundir eventuais helicópteros, uma nova planta de maconha começa a florescer. Ele pratica o autocultivo há dez anos. Um único pé é o suficiente para o consumo dele e de sua mulher, Marina, e ainda sobra para apresentar aos amigos. Como o ciclo da planta pode chegar a um ano, enquanto a outra cresce, eles fumam a que colheram.
Paulo é um cultivador orgulhoso de sua produção, mas aponta o que vê como exageros de alguns colegas com suas plantinhas de estimação. “Tenho um amigo que comprou até uma máquina de moer coco para fazer uma palha que ele usa como terra. Outro, italiano, controlava pelo celular a milimetragem da água e os nutrientes da planta que estava cultivando lá em Roma”, ri. “O que eu faço é basicamente mijar na planta, que é um NPK (fertilizante) natural. Coloco uns nutrientes na terra, mas não muitos porque acho que interfere no gosto”.
blasézismo de seu comentário contrasta com o ar triunfal que exibe ao mostrar, dentro de um vidro, os “camarôes” ou berlotas (flores já secas) da última safra, em que chegou a um resultado “excepcional” –diz isso como se estivesse falando de grãos de café ou das uvas de um hipotético vinhedo. “Consegui produzir uma cannabis com resina leitosa, que dá uma onda mais excitante, criativa. A resina marrom é down, baqueia. Não serve para fumar e trabalhar, deixa a pessoa sem energia, largadona no sofá”, explana.
budtender
(Budtender em ação no Colorado)
No Colorado, nos Estados Unidos, onde o uso recreativo da maconha, além do medicinal, foi liberado, há inclusive uma profissão em alta, a de “budtender” (trocadilho com bartender, sendo que “bud” é “camarão”). Trata-se do cara ou da mina que atende os clientes das lojas de maconha, exatamente como os vendedores das cervejas artesanais agora em moda no Brasil –ou como os funcionários dos coffee shops holandeses que sempre fascinaram os brasileiros. Capazes de indicar qual o tipo de maconha que você “precisa”, os budtenders possuem formação profissional, fornecida por cursos especializados. Ocannabusiness anda tão turbinado por lá que não estranhem se surgir um MBA em Maconha nos próximos anos.
“Que tipo de sensação você quer ter?”, “você é usuário frequente ou vai experimentar pela primeira vez?”, “quer maconha para trabalhar ou para jogar videogame e depois chapar?” pergunta o budtender ao freguês. A depender da resposta, o vendedor irá indicar que tipo de maconha é a ideal para o usuário. Apenas no primeiro mês de legalização para uso recreativo, estima-se que a economia da cannabis movimentou cerca de 14 milhões de dólares no Colorado, e ser budtender virou uma possibilidade de emprego atraente para os jovens –a mais “hot” delas, segundo alguns (leia mais aqui).
No Brasil, até outro dia, o máximo que se distinguia sobre os tipos de maconha era entre a maconha “solta”, produzida no Nordeste, ou a “prensada”, que vem do Paraguai. Algumas maconhas nacionais chegaram a alcançar fama, como a mítica “manga rosa”, de Pernambuco, ou a “cabeça-de-nego”, da Bahia. Reza a lenda que algumas maconhas campeãs mundo afora vieram delas. Houve um verão, em 1987, em que milhares de latas de maconha chegaram à costa brasileira, atiradas ao mar pela tripulação de um navio australiano interceptado pela Marinha, e, a partir daí, baseados potentes passaram a ser chamados de “da lata”. O curioso e hilário episódio virou um documentário dirigido por Tocha Alves e Haná Vaisman em 2012.
Mas sofisticação como se tem agora, nunca se viu. No site especializado Leafly, é possível descobrir que variedade de maconha “combina” mais com o temperamento ou necessidade do usuário, através de um teste online: se pretende ficar falante, relaxado, feliz, eufórico, sonolento… Ou por razões medicinais: as mais indicadas para insônia, fadiga, náusea (um efeito colateral comum a quem se submete à quimioterapia), pressão ocular, stress…
É tanto conhecimento que já começa a irritar. “Tem muita gente cuspindo no prato paraguaio que comeu”, provoca o psicanalista Pierre, de São Paulo. “Chegou-se a um nível de refinamento que outro dia fui numa festa e, quando souberam que o baseado que eu estava oferecendo era paraguaio disseram: ‘ah, não quero, não’. Que é isso? O fumo paraguaio tem seu valor, porque está sempre aí, nunca negou fogo. Qualquer dia acabará virando cult.”
O psicanalista admite, porém, que é muito difícil voltar para a maconha paraguaia, ou seja, para a erva vendida pelo narcotráfico, depois que se experimenta um baseado feito com cannabis autocultivada. “Quando se planta, além de fugir das redes de violência, se garante que a maconha não terá aditivos, porque o fumo paraguaio ninguém sabe o que contém. O nosso, não, é tóxico sem agrotóxico”, diz. Outra diferença é que, como em qualquer plantio em pequena escala, artesanal, todas as etapas são acompanhadas de perto pelo cultivador para que resulte numa erva “gourmet”, ao contrário do que ocorre com o narcotráfico, que utiliza grandes plantações e aproveita tudo da planta: galhos, folhas e até sementes. “O autocultivador, não, só aproveita as flores.”
Pierre cultivava um pezinho em casa, ao qual apelidara carinhosamente de “meu pé de maconha-lima”, e ter que causar a tal frustração sexual da planta lhe trouxe dilemas éticos. “Deixar a plantinha sem água na última semana mexia comigo, mas pensei em algo que me pacificou: adoro foie gras e não estou nem aí para o que fazem com o ganso. Então foda-se se a planta é torturada.” Acabou parando de plantar por achar trabalhoso demais e hoje fuma no “se-me-dão”, isto é, pede aos amigos maconheliers.
Rara mulher entre os cultivadores, a produtora musical Carla prefere não recorrer às “torturas”, fertilizantes e nutrientes em sua pequena plantação indoor em São Paulo. Sua maconha é inteiramente orgânica. Ela usa uma calda de fumo para combater os pulgões, estrume de composteira, casca de ovo, pó de café e… menstruação. Produz pouco, mas sua erva, diz, é perfumada e seu sabor pode ser frutado ou mais ácido. “Planto na lua nova e colho na lua cheia, e vou conversando com elas enquanto crescem.”
Ao contrário dos rapazes, Carla não usa seu talento como jardineira apenas para produzir maconha. Planta ainda maracujá, acerola e banana no quintal. Pergunto por que há mais meninos e meninas no clube dos cannabiers. “Acho que pela mesma razão pela qual há mais meninos na física e na matemática e mais meninas na pedagogia: o mundo é assim”, diz. “Mas eu vejo diferenças. Fui convidada para uma Cannabis Cup e me senti lisonjeada, mas percebi que era uma coisa de meninos, de competição. Acho que a gente vê diferente. Para mim plantar é uma forma de não depender dos homens para comprar ou fumar meu baseado.”
Se as plantas fêmeas cultivadas não germinam, onde essa turma consegue sementes? Trocando entre eles ou comprando pela internet em sites estrangeiros –o que, em tese, também é proibido por lei, mas decisões judiciais recentes têm dado certa segurança aos cultivadores. Em setembro, o juiz Fernando Américo de Souza, de São Paulo, livrou da cadeia um usuário que havia comprado, pela internet, 12 sementes de maconha na Bélgica e foi denunciado por “contrabando”. “O usuário que produz a própria droga deixa de financiar o tráfico, contribuindo para a diminuição da criminalidade”, disse o juiz (confira aqui).
Para os cultivadores, a prática da troca de sementes e da própria maconha para degustação entre os amigos é uma prova de que a idéia dos clubes de cannabis, como existem na Espanha e que estão previstos na lei uruguaia, pode ser a melhor saída para o problema, porque rompe o vínculo com o crime e tira do usuário a carga de “alimentar” o narcotráfico.
Enquanto isso não ocorre, a “elite” degusta iguarias e a enorme maioria dos usuários (estima-se que existam 1,5 milhão no Brasil) continua a consumir maconha malhada, palha e mofada. Será que até nisso quem nasceu para Sangue de Boi nunca chegará a Romanée Conti?
*Os nomes dos personagens desta reportagem foram trocados.
UPDATE: saiu no New York Times um perfil do primeiro crítico de maconha dos Estados Unidos (leia aqui). Profissão dos sonhos para muita gente…
UPDATE2: tenho que acrescentar ao post este vídeo sobre “os esnobes da maconha”. Hilário.