terça-feira, 17 de março de 2015

Manifestações da 'middle class': polifonia e ódio de classes dos 'filhos da mídia'

Francisco Fonseca no Portal da Carta Maior

Devorados pela ignorância política propagada pela mídia, os manifestantes vociferavam seu ódio ao PT, aos partidos e à política, sem propostas concretas.

Mídia Ninja
As manifestações ocorridas no domingo, dia 15/03, encerram algumas lições que, embora mereçam maior maturação, podem ser sintetizadas em alguns temas-chave.
 
POLIFONIA
 
O primeiro deles refere-se à constatação de que os manifestantes não têm um foco claro e sobretudo não têm a mínima noção sobre o processo político. Em outras palavras, há clara polifonia de insatisfações, envoltas num conservadorismo difuso: crítica genérica à corrupção, preocupação com a perda de privilégios, sentimento de “caos”, temor quanto ao futuro econômico, crença em governo sem partidos, arroubos autoritários, não aceitação do resultado eleitoral e, claro, a ira contra um partido que promoveu importante diminuição das desigualdades sociais.
 
Essa polifonia, com alguns outros elementos, já fora vista em junho de 2013 e, agora, quase que como extensão dela, se renova com o resultado eleitoral extremamente apertado no ano passado.
 
Deve-se notar que esse conservadorismo difuso, que imputa ao PT a causa dos males do país e, sobretudo, desse grupo particular de manifestantes, uma vez que pertencentes a estratos sociais homogêneos, estava presente desde as reformas do Governo Lula, mas somente no ano passado adquiriu densidade.
 
Em outras palavras, aparentemente os eventos de junho de 2013 – iniciados por jovens estudantes militantes de uma causa popular, a “tarifa zero” – alavancaram, paradoxalmente, os setores conservadores, o que pode ser expresso em três eventos: polarização eleitoral à presidência, Congresso Nacional extremamente conservador e, agora, manifestações de rua.
 
 
O ÓDIO DE CLASSE DA “MIDDLE CLASS” TRADICIONAL
 
A classe média “tradicional”, composta, entre outros, por profissionais liberais, por executivos de médio e alto escalão de empresas, normalmente privadas, e de uma gama de trabalhadores que vivem “por conta própria” – caso de certos tipos de consultores e um sem-número de prestadores de serviços –, cuja renda é alta, desenvolveram ódio de classe aos pobres sem igual.
 
Esses grupos associam o PT ao “definhamento do mérito individual” em razão: a) das políticas redistributivas, sobretudo da transferência de renda via Bolsa Família, que supostamente implicaria “ajuda aos não merecedores” e formação de “curral eleitoral”; b) da participação dos pobres, dos trabalhadores sindicalizados e dos movimentos sociais nas políticas de governo; e c) da percepção simbólica de que se trata de um governo “para” os trabalhadores, em que a classe média tradicional não teria espaço; d) do incômodo de que a ascensão econômico/social dos trabalhadores faz com que esses grupos ocupem espaços reais – mas com profunda significação simbólica – até então exclusivo desta classe média e das elites. Alguns exemplos são marcantes: cotas para grupos vulneráveis, notadamente os negros, em universidades e cargos públicos; revisão da forma de ingresso na universidade, retirando o vestibular – instrumento de filtragem das elites – como única forma para tanto; acesso a bens de consumo e serviços jamais tidos pelos pobres, casos dos automóveis, viagens aéreas, frequência e consumo em shopping centers, consumo de bens de determinadas marcas etc. Em outras palavras, a “meritocracia”, verdadeira ideologia utilizada para justificar privilégios históricos, nesse caso, estaria, de acordo com essa percepção, sendo corroída pelos governos petistas: daí o ódio potencial ao PT, mas agora ostensivo e destituído de vergonha de se pronunciar. Afinal, o lema “cada macaco no seu galho” estaria sendo desrespeitado pelo petismo, o que seria inadmissível a uma sociedade cujas entranhas ainda é fortemente hierárquica e desigual (em vários sentidos), uma vez que os legados latifundiário e escravista não foram desfeitos.
 
Essa middle class, cujo norte é a simbologia do “self made man” estadonidense, percebeu que, pelo voto, não ganhará e, dessa forma, parece ter descoberto o uso das redes sociais para se mobilizar, o que é inédito em se tratando desse agrupamento social, cuja visão predominante é o individualismo.
 
Mas deve-se atentar para o papel jogado pelos “inocentes úteis” das chamadas “classes médias ascendentes”, em que o papel das políticas governamentais petistas é crucial para sua ascensão, por meio do ProUni, da valorização do salário mínimo, da ampliação e consolidação do mercado interno, da extensão do crédito (produtivo e ao consumidor), da ampliação das universidades públicas e de seu acesso mais diverso (como apontamos acima), entre outras. Esses grupos, genericamente chamados de “classe C”, tendem a reproduzir o discurso de valorização do mérito individual, esquecendo-se que sua ascensão é resultante da vontade política, consolidada em políticas públicas, reitere, dos Governos Lula e Dilma. Daí deriva o perigo do discurso das classes médias tradicionais e das elites se “popularizarem”, virando a tendência reformista incremental de centro-esquerda representada – embora de forma bastante contraditória – pelo petismo, em prol do conservadorismo de uma “nova direita”.
 
 
OS FILHOS DA MÍDIA
 
Está claro que a despolitização em geral, mas particularmente das classes médias, advém diretamente do papel dos meios de comunicação, cujo sistema institucional/legal, de influência política, e modelo de negócio não foi alterado com a redemocratização.
 
O desserviço à democracia que o aparato de emissoras de rádio e televisão – que são concessões públicas, nunca é demais relembrar – e os grandes jornais e revistas fizeram, particularmente desde a redemocratização, e fazem ao país é elemento crucial para a constituição da visão tosca dos manifestantes. Assim, a junção de “interesse de classe”, que motiva defesa de privilégios, se junta com a mais completa ignorância política, manifesta na despolitização generalizante, na incapacidade de reflexão (senso comum) e na insolidariedade social.
 
Tal como apontado por diversos analistas, parte desses grupos que foram às manifestações polifônicas de 2013, que votaram – em grande parte – em Aécio e Marina –, e que agora foram às manifestações do dia 15/03, são claramente “filhos da mídia”, o que implica, sem meias palavras: capacidade manipulatória dos grandes meios de comunicação, sobretudo a Rede Globo de Televisão; inculcação estrutural da “ignorância política”, mesmo em tempos de acesso à internet e redes sociais – instrumentos de que são useiros e vezeiros – , o que torna suas capacidades críticas bastante limitadas, tal como se vê nos discursos tanto dos “líderes” como dos “liderados”; e profunda despolitização.
 
Não é coincidência que a crítica generalizada aos partidos – embora com ódio particular ao PT –, à política e mesmo à democracia apareça como elemento basilar do discurso antipolítico. É por isso, igualmente, que as lideranças que promoveram as manifestações do dia 15/03, e mesmo as anteriores, logo após as eleições, são distantes dos partidos e adotam forte discurso antipardidário e mesmo antipolítico. Nesse cenário, o PSDB e outros partidos de oposição que, ao apoiar irresponsavelmente o pedido de “impeachment” no bojo de toda forma de preconceito e criminalização do PT, não perceberam que têm grandes chances de serem tragados por movimentos outsiders. Isso representa enorme perigo à democracia e ao sistema político, uma vez que põe por terra instituições, procedimentos e processo democrático sem ter nada a oferecer em seu lugar!
 
A inapetência e falta de coragem política do PT em reformar democraticamente a mídia, como o fizeram a Argentina, o Uruguai, o Equador, assim como a Inglaterra, entre outros, está custando caro ao próprio PT e à democracia como um todo. Mais ainda, a manutenção bilionária da verba publicitária destinada à grande mídia, mesmo com toda forma de boicote, mentiras, manipulação e golpismo de seus órgãos, em nome supostamente da “aliança de classes”, que se esgotou, aparentemente explica a timidez reformista nesse quesito.
 
Tal mídia golpista, apoiada numa base social insatisfeita, está ganhando sobrevida, uma vez que crescentemente perde leitores, ouvintes e telespectadores. As manifestações de 15/03 foram, portanto, conclamadas, infladas e coordenadas pelos grandes meios privados de comunicação, capitaneadas pelo Sistema Globo de Comunicação.
 
Não deixa de ser significativo que, sem isso, certamente o número de participantes seria muito menor, até pelo perfil individualista, despolitizado e desmobilizado dessas classes médias.
 
 
A DIREÇÃO IDEOLÓGICA DO MOVIMENTO
 
Se a direção operacional das manifestações, que as organizaram, se dá por grupos “ingênuos” (quanto ao significado do jogo político) e “amadores” (quanto ao distanciamento do sistema institucional), a verdadeira direção ideológica e política está nas mãos de setores do capital, caso sobretudo do capital financeiro, associado a frações do capital produtivo. O Sistema Globo de Comunicação ocupa papel central na canalização desses grupos, que os financiam, por meio de patrocínio, o que implica articulação orgânica.
 
Foi assim nas manifestações de junho de 2013, em que a mudança de posição da Rede Globo foi muito significativa, tendo em vista que sentiu estar distante do “sentimento dos manifestantes”. Aparentemente aprendeu a lição e, agora, além de invocar, conclamar e, num certo sentido, organizar as manifestações, quer claramente dirigir suas ações desde o nascedouro, controlando-as, tal como nos ensinou Gramsci.
 
O que está em jogo, a partir de agora, mesmo que os manifestantes sejam os eleitores de Aécio ou simplesmente antipetistas, ancora-se na seguinte indagação: conseguirão pautar as ações governamentais, o que, na prática, significa transmitir pautas dos “dirigentes” político/ideológicos do movimento? Mais ainda, contribuirão para manter o Governo Dilma “nas cordas”, esperando apenas o gongo tocar para acabar a luta, consagradora, isto é, fazer “sangrar” não apenas o governo mas o PT e o projeto petista por quatro anos, como expressou o senador Aloysio Nunes?
 
 
O QUE FAZER?
 
Longe de se ter uma “receita”, e muito menos pronta e acabada, antes de tudo há de se ler a realidade e ter estratégias e táticas claras e articuladas, o que significa concretamente: a) defender renhidamente que o país está muito melhor do que quando Lula ascendeu ao poder; b) não se intimidar (“sair das cordas”), adotando postura propositiva e não defensiva; c) extinguir completa e imediatamente toda e qualquer verba federal de todos os meios de comunicação comprometidos com o golpismo, ato que depende do Executivo; d) mudar, o mais rapidamente possível, a articulação política no Congresso e aproximar-se dos movimentos sociais; e) compreender que a “conciliação de classes” se esgotou, como se observa na fragorosa derrota à presidência da Câmara dos Deputados, o que implica arcar com os ônus da coalizão, sem qualquer bônus; f) criar, paulatinamente, e com forte apoio popular da sociedade politicamente organizada, formas de alterar o modus operandi do Congresso, notadamente por meio da pressão social; g) compreender que, se não houver claro projeto de poder a possibilidade de o legado petista ser liquidado é muito grande, o que poderá implicar retrocesso de diversos direitos sociais; h) trazer os militantes “de volta” ao apoio a um projeto de poder, tal como o foi no segundo turno das eleições, o que somente se fará se houver alteração na política econômica (ajustes mais leves tocados por um ministro atinente a um projeto popular, o que não passa pela permanência de Joaquim Levy) e não retrocesso de direitos; i) responder aos manifestantes das classes médias e aos movimentos populares com projeto de reforma política, o que implica, por exemplo, encampar a proposta da Coalizão pela Reforma Política; j) trazer para esse projeto setores das classes médias, que se sentem completamente abandonados, por meio de políticas como a taxação de grandes fortunas, impostos efetivamente progressivos etc: numa palavra, desoneração tributária das classes médias pela via da taxação das grandes fortunas.
 
A grande questão diz respeito a uma aliança entre os pobres e setores das classes médias, tal como ocorreu no mundo nórdico, e não a aliança de todos com todos, em que não se enfrentam nenhum dos grandes problemas nacionais, tais como agronegócio, política tributária, grandes fortunas, etc.
 
Entre tantas outras ações, as ideias acima são linhas gerais para se pensar em substituir a lógica da coalizão para governar, efetivar a reforma política e a mudança de rumo na economia (em prol do crescimento com distribuição de renda).
 
Nenhuma dessas ideias são fáceis de se implantar, pois esbarram, como nunca, num Congresso hostil, numa mídia golpista e em largos setores médios com “sangue nos olhos”, num contexto em que a economia mundial ainda sofre com os efeitos do crash de 2008. Ainda assim, o espaço para a inventividade da política é enorme.
 
As manifestações de 15/03, para além do número dos participantes – em que as Polícias Militares dos tucanos ajudaram a inflar –, e cujo perfil é sobejamente conhecido, pode ser um “traque” ou uma “dinamite”. Os próximos lances o revelarão, mas ao PT, à centro-esquerda e ao governo federal cabem tarefas de curto e médio prazos no sentido de estancar a sangria, sair das cordas, defender seu projeto – que precisa ser cada vez mais popular, mas incorporador de segmentos das classes médias em detrimento do grande capital –, e criar condições para que novas bases sociais sejam criadas e recriadas a ponto de derrotar, tantas outras vezes mais, o conservadorismo elitista, o neoliberalismo e o ódio de classes!
 
Não é pouca coisa o que está em jogo!

Tarefa para Lula: contra o golpismo, repactuar o desenvolvimento O que está em jogo é avançar ou não na capacitação da sociedade para disputar o futuro do país contra a lógica dos mercados. por: Saul Leblon

no Portal da Carta Maior

A Carta Maior oferece um panorama das propostas da esquerda brasileira para resgatar o sistema político do cativeiro do poder econômico.

O período capitalista.
 
Aquele em que a democracia promete mais do que o mercado está disposto a conceder.
 
Em outros ciclos, sob o império romano, por exemplo, ou em sociedades escravocratas, as relações políticas e as estruturas econômicas guardavam asfixiante coerência.
 
Um escravo, como o próprio conceito indica, era integralmente despossuído de prerrogativas de quaisquer natureza.
 
Seria um oximoro falar em escravo com direitos civis se um poder irrestrito detinha  o mando sobre o seu corpo, a sua vida e a alma.
 
O escravo aos olhos do seu senhor era um ente desprovido de invólucro social.
 
A convivência nunca amistosa entre capitalismo e democracia guarda laços com essa raiz de polos antagônicos.
 
Do conflito emergiram avanços sociais, políticos e jurídicos  que abriram espaços de direitos subtraídos ao capital, em uma relação ontologicamente inconciliável  entre os que detém os meios produzir riqueza e aqueles cuja opção é vender seu corpo, sua mente –não raro, a alma--  para esse fim.
 
Quando a realidade ao redor chapinha na água rasa das querelas em que cidadãos da tipologia de um Eduardo Cunha, ou de um Aécio, mas também um Cândido Vacarezza (o ex-deputado petista que se avocou um projeto de reforma política à imagem e semelhança de sua particular visão de mundo) disputam o ordenamento da democracia brasileira, é quase uma questão sanitária olhar para além dos seus limites.
 
O Brasil só não vai para o beleléu da ingovernabilidade se mirar acima do tornozelo histórico em torno do qual o estamento conservador pretende restringir a influência direta da sociedade na definição do seu futuro e do futuro   do seu desenvolvimento.
 
Não são palavras retóricas.
 
O que está em jogo é uma disjuntiva que deveria ser explicitada à população por quem pretende ir além dos limites nos quais  a estirpe dos  ‘cunhas’ quer restringir a profundidade da reforma política brasileira.
 
O que está em jogo é avançar ou não na capacitação da sociedade para disputar o futuro do país com a lógica dos mercados.
 
O descrédito atual no sistema  político  decorre da incontornável constatação de que o grau de democratização das decisões no Brasil não propicia  à sociedade as ferramentas necessárias à superação de um impasse econômico que está arrastando a nação  para o beleléu da ingovernabilidade.
 
Pior que isso.
 
O que o conservadorismo pretende, mais uma vez,  é adequar a democracia ao mercado, não dotar a sociedade dos meios para se impor a ele.
 
Esse é o cerne da disputa em torno da reforma política (Leia o especial deste fim de semana de Carta Maior sobre o tema).
 
Até onde é necessário reformar a democracia brasileira?
 
Até onde for preciso para construir uma cidadania plena, capaz de dar ao desenvolvimento a sua destinação social e civilizatória.
 
Não é uma discussão metafísica.
 
No Brasil realmente existente  uma família assalariada paga imposto sobre o litro de leite;  a república dos acionistas embolsa dividendos livre, leve e solta, totalmente isenta de tributação.
 
O mesmo se dá com os lucros remetidos pelo capital estrangeiro, que o governo Fernando Henrique Cardoso isentou do imposto de 17% até então vigente no Brasil.
 
Idêntico critério plutocrático isenta integralmente os herdeiros, reiterando na esfera fiscal a discriminação sócio-genética que condena os frutos do berço pobre ao limbo.
 
Quando se fala que o Estado está gastando mais do que arrecada e é preciso ‘cortar’, dissimula-se  um embate político que cabe ao glorioso jornalismo de economia lubrificar em gordurosas perorações de meia verdade fiscal.
 
Uma democracia capaz de taxar dividendos, remessas e heranças subtrairia ao centurião Joaquim Levy  a prerrogativa de agir como um Bonaparte, que  arbitra  nas costas dos assalariados o principal  quinhão de sacrifício para regenerar as contas de toda a sociedade.
 
O governo estuda taxar as grandes fortunas, heranças, lucros e dividendos.
 
Por que não o fez logo de início?
 
Porque o sistema político brasileiro está assentado no poder dos interesses que seriam atingidos por esse cardápio de ‘ajuste’.
 
Uma reforma política  que mantenha intocado o poder do  dinheiro de sequestrar a democracia, precificando candidatos e partidos para inscrevê-los entre os seus ativos disponíveis, não credenciará a sociedade para destravar o passo seguinte que o Brasil requer.
 
O impasse coloca em jogo muito mais que um embate entre PT e PSDB.
 
A crise em curso  marca uma  mudança qualitativa  em relação a tudo o que o país viveu nos últimos doze anos.
 
Não é apenas um  intermezzo de ajustes para voltar ao que era antes, como sugere a conveniência do discurso conservador.
 
De agora em diante será  estruturalmente mais complexo, inevitavelmente mais conflitivo, governar em favor da maioria e da justiça social.
 
As determinações internacionais são relevantes.
 
A crise global é e será por muitos anos o novo normal. A China não crescerá mais os dois dígitos, em média, observados nas  últimas três décadas.
 
O desmonte definitivo do Estado social na Europa arrastará o continente para uma longa espiral descendente.
 
O império americano não tem mais fôlego para se erguer e arrastar o mundo ao redor.
 
Que esse trem descarrilado avance pelo sétimo ano, na mais lenta, incerta e anêmica recuperação de todas as grandes crises capitalistas do século XX, dá a medida do quão longe se encontram as margens do rio revoltoso em que flutua o futuro brasileiro
 
Mas há distorções locais de igual gravidade.
 
Elas não podem mais ser subestimadas, sob pena de se aleijar a capacidade de resistência diante do moedor de carne conservador.
 
A economia brasileira resistiu à lógica da restauração neoliberal nos últimos anos, mas deixou aberto um flanco que agora ameaça reverter suas conquistas e inviabilizar outras novas.
 
Esse é o principal alicerce da crise em curso.
 
A verdade é que a largueza das mutações sociais registradas desde 2003 não se fez acompanhar de uma contrapartida de representação política suficiente forte para evitar o risco do revés agora em marcha.
 
O Brasil avançou nos últimos anos explorando rotas de menor resistência, indo além delas em alguns casos e setores. Mas a crise  global evidenciou os limites dessa associação a frio entre desenvolvimento e justiça social.
 
Ao  bonapartismo do crescimento sucedeu-se assim o cesarismo do ajuste, igualmente à margem da repactuação social,  e ao custo de uma quase catatonia das forças progressistas.
 
O conjunto remete de volta à natureza singular da disputa em torno da reforma política brasileira.
 
Ademais de uma transição de ciclo econômico, e sobreposta a ela,  há uma crise da democracia brasileira  que sonega aos interesses amplos da sociedade meios para liderar  um novo estirão de desenvolvimento com justiça social.
 
O risco de o Brasil ir para o beleléu da ingovernabilidade a bordo de uma paralisia econômica –que interessa ao conservadorismo fomentar--  não é negligenciável.
 
A saída existe e não é essa que o Banco Central pratica, de manter a conflagração latente em estado de coma  através de doses crescentes de juros (12,75%, ou uma  taxa real de 5,3%, mais alta do planeta)
 
O desafio é encarar de frente uma lacuna de que sempre se ressentiu a agenda progressista desde a chegada ao poder, em 2003.
 
A lacuna da coerência entre meios e fins; entre o desenvolvimento que se quer para o Brasil e a democracia necessária para construí-lo.
 
Essa é a contradição que a crise escancarou.
 
Não se incorpora 60 milhões de ex-miseráveis e pobres ao mercado sem mexer nas placas tectônicas de uma ‘estabilidade capitalista’ alicerçada em uma das mais desiguais estruturas de distribuição de renda do planeta.
 
Sobram duas opções.
 
Avançar e dar coerência estrutural e política à emergência desse novo ator, ou recuar e devolvê-lo à margem de origem, colocando-o em modo de espera até a próxima maré cheia.
 
Até um novo ciclo de bonapartismo do crescimento acomodatício.
 
Não é apenas um impasse conjuntural.
 
É uma encruzilhada da democracia. O seu avanço, ou  o  seu acoelhamento  através de uma reforma abastardada, determinará se iremos para o beleléu enquanto projeto de futuro solidário e próspero;  ou se a sociedade assumirá o comando do seu destino para ditar um novo curso ao século XXI brasileiro.

Romper a prostração que alimenta o golpismo requer a repactuação das bases do desenvolvimento e da democracia na  sociedade brasileira. 

Trata-se de promover uma ampla renegociação em torno de metas, concessões, salvaguardas e prazos para a economia e para a reforma do sistema político.

A construção desse ‘pacto pela democracia e o desenvolvimento’ requer um coordenador dotado de  inexcedível sintonia com a Presidenta Dilma  e de  incontrastável representatividade popular. 

Essa referência já existe, deveria ser oficializa na função - urgentemente, como tem sido dito neste espaço desde agosto de 2014.

Seu nome é Lula.

(*) Nota atualizada em 09/03/2015.

O Brasil completa 30 ininterruptos anos de democracia. E pede mais democracia.

Maria Inês Nassif na Carta Maior

Devemos nos unir em torno de uma proposta de reforma política capaz de salvar a política do cativeiro a que foi jogada pelo poder econômico

Rafael Holanda Barroso / Flickr


por José Gilbert Arruda Martins

A democracia convida para o debate. Todos(as), homens e mulheres, democratas do passado e do presente, ouçam esse chamado.

Nas fábricas, nas escolas e nos campos, ecoa o som do chamado da democracia. Não nos façamos de surdos (as).

A classe de professores e professoras, uma classe importante para o presente e o futuro da democracia brasileira e latino americana, podem e devem participar.

A boa aula, na disciplina de matemática, sociologia, física ou história, é debater a democracia.

Nossa juventude tem sede desse debate. Uma juventude que vem, aos poucos, ou aos milhares, entrando em movimentos religiosos cegos, precisa conhecer e debater a democracia e sua importância para a construção até, mesmo, do movimento religioso que o jovem se encontra.

Sem democracia o caminho é muito mais espinhoso. Mostrar aos jovens os entraves à democracia é fundamental.

Ele, jovem, precisa compreender melhor o papel do grande capital, por exemplo, na imposição à toda sociedade de parlamentares completamente avessos ao regime democrático.

O tema democracia, portanto, deve ser o tema do dia de hoje, de amanhã e do cotidiano da escola.

As escolas públicas, principalmente aquelas de periferia mais pobre, deve levar o debate aos estudantes.

Escolher textos bons, sem intencionalidades e sem partidarismos, mas contundentes e que falem de forma direta sobre o papel do grande capital e sua ingerência perniciosa na política.

Para continuarmos a trilha da democracia, que já dura 30 anos, precisamos conhecer, debater e entender a importância dela para a vida simples de cada cidadão.

E esse conhecimento só se dará, no debate franco, aberto, principalmente nas escolas.

Blog do autor: http://professorgilbert2014.blogspot.com.br

O Brasil completa 30 ininterruptos anos de democracia. E pede mais democracia.

Devemos nos unir em torno de uma proposta de reforma política capaz de salvar a política do cativeiro a que foi jogada pelo poder econômico


Há exatos 30 anos, o Brasil deixava para trás uma sangrenta ditadura e inaugurava o maior período democrático que o país já teve. No dia 15 de março de 1985, tomava posse José Sarney, o primeiro presidente civil após 21 anos de governos militares. No ano seguinte seria iniciado um processo constituinte que, se não sanou as injustiças seculares do país, deu ao Brasil instrumentos para resgate da cidadania dos brasileiros.
 
De lá para cá, o país ganhou uma nova Constituição, foi sete vezes às urnas para eleger presidentes da República e construiu o mais longo período de estabilidade democrática de sua história.
 
Nesse período, todavia, as mazelas do sistema político-eleitoral permaneceram intocadas. Os interesses consolidados de gerações de políticos que seguiram a trilha da política tradicional – e tiveram poucos problemas de convivência com o regime totalitário – foram impostos, na Constituinte, sobre os que vinham das lutas democráticas e populares. Os sistemas eleitoral e partidário não foram adequados à realidade democrática porque isso significava ameaçar o status quo dos políticos que dominavam a política na ditadura, e antes dela, e antes ainda.
 
Agravaram o quadro de inadequação de partidos e vulnerabilidade do sistema eleitoral às pressões do poder econômico uma mal-resolvida discussão sobre sistema de governo; pressões internas do aparelho de Estado; o jogo pesado dos grandes veículos de comunicação para manter um quase monopólio sobre a opinião pública; o enorme poder de controle dado ao Legislativo sobre um Executivo que saía hipertrofiado do período ditatorial; pressões diretas do Poder Judiciário, que saiu da Constituinte sem ter de se submeter a qualquer forma de controle externo; e um cálculo malfeito da quantidade de poder que se poderia dar a órgãos de controle externo do Executivo sem afetar a governabilidade de um poder que, a partir de então, afinal, seria ocupado por presidentes eleitos.
 
O resultado desse mistura-e-manda não poderia ser uma democracia sem defeitos. O mais longo período democrático do país sobrevive milagrosamente a uma realidade em que a política institucional é um palco de competição e disputa permanentes entre poderes.
 
A política eleitoral e partidária permaneceu intocada, reproduzindo a aliança histórica entre elites políticas e econômicas. A permissividade da lei eleitoral fez uma ligação quase direta entre ambos: as elites econômicas financiam fortemente os candidatos, mantêm políticos tradicionais no cenário político e cooptam novos quadros; as eleições parlamentares, mediadas pelo dinheiro privado, encurralam qualquer governo e tornam altíssimo o custo da governabilidade. O financiamento empresarial de campanha tornou o sistema político altamente vulnerável à corrupção. E quanto mais o poder econômico desmoraliza a política, e suprime dela o papel transformador que, por princípio, deve ter, mais a política se torna sua refém. Quanto mais a governabilidade fica comprometida pela soma da alta representação do poder econômico no Legislativo e das dificuldades de formação de maioria impostas pelo sistema político, mais aumenta o poder de barganha dos grandes interesses com o Executivo.
 
O monopólio dos meios de comunicação por poucas e conservadoras empresas garante o clima do horror à política e aos políticos, sem em nenhum momento discutir as verdadeiras limitações da democracia brasileira. É mais fácil jogar com o preconceito e consolidar sensos comuns – como a de que a “política é para corruptos”, “a democracia é cara” –, desqualificadores da política, do que discutir profundamente as raízes do problema. E, numa realidade onde as chances eleitorais dos setores conservadores na Presidência da República é fraca, a desqualificação da democracia anda junto com a desqualificação do eleitor. A ridicularização da escolha política, a “responsabilização” das parcelas mais pobres da população pelos problemas do país são tentativas de impor um senso comum reacionário, conservador: a qualidade da política, segundo essa visão, é dada não pela qualidade da democracia, mas pela qualidade do eleitor. Em nenhum momento se discute as candidatura milionárias, bancadas por interesses econômicos, que distorcem completa e absolutamente o sentido da escolha popular.
 
Chegou a hora de vencer as escaramuças dos interesses sombrios e renovar a democracia brasileira. A crise que se aprofunda não é meramente econômica. Ela é, sobretudo, política. A democracia brasileira deve sobreviver a essa crise de crescimento porque nós, aqueles que batalharam no passado nas trincheiras contra a ditadura e continuaram a lutar por justiça social, saberemos vencer preconceitos e empreender a ação política transformadora.
 
Para que isso ocorra, as forças progressistas devem se unir em torno de uma proposta de reforma política, capaz de salvar a política do cativeiro a que foi jogada pelo poder econômico, e ganhar as ruas. A exemplo do fim da ditadura e das conquistas sociais obtidas na Constituição de 1988, esta batalha tem que mover cada democrata deste país, cada pessoa de bem, para que todo brasileiro tenha direito a voz, voto e justiça.
 

Lista reúne o que os homens pensam durante a relação sexual

Estilo no Catraca Livre
O que passa pela cabeça dos homens durante a relação sexual? Quais são suas inseguranças e medos? O site Distractify reuniu em uma lista alguns pensamentos que eles podem ter quando estão se relacionando com outras pessoas. Veja:
1) "Isso não está certo. Está correto? Será que eu bati em um osso? Nos ossos da vagina?"
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2) "Esse grito foi verdadeiro ou falso? Ela está apenas fingindo porque gosta de mim e quer que eu continue ou é porque está péssimo e ela quer acabar com isso logo?"
3) "Há um minuto ela estava fazendo sons, mas agora está em silêncio. Isso é bom ou ruim? Devo continuar nessa posição ou devo mudar? Eu devo ir embora?"
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4) "Estou prestes a terminar. Hora de 'ligar' o modo turbo!"
5) (30 segundos após a relação sexual) "É.. acho que estou ficando com sono"
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