segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Dianteira de 49 votos de Cunha trai expectativas de Chinaglia

Parlamentar disse que momento é de 'virar a página' e que não pensa em retaliação por embate com o governo. Parte da bancada petista contesta estratégia do partido, que ficará fora da composição da mesa.
por Hylda Cavalcanti, da RBA no Rede Brasil Atual
Cunha
Cunha contou com debandada de votos esperados por adversários

por José Gilbert Arruda Martins

A onda conservadora, que antes não passava muito do discurso, chegou para valer à Câmara dos Deputados.

Forte e importante vitória da direita na Câmara. O Psdb sai, novamente vitorioso e fortalecido. Os interesses dos trabalhadores poderão sofrer ataques sistematizados a partir de agora.

Com a vitória de Eduardo Cunha, vislumbra-se no horizonte, não só enormes dificuldades para o governo Dilma Roussef, mas sinais claros de retrocessos em áreas preocupantes como, Direitos LGBT, A questão da legalização do aborto e, a manutenção dos Direitos da Classe Trabalhadora, entre outros.

Outra questão que precisa ser debatida é a dificuldade que o PT e o governo têm de negociar e fazer valer os interesses do governo e das minorias com a base aliada.

Imagina isso agora, com a Câmara tendo à frente Eduardo Cunha. Ficará muitíssimo mais difícil. Esse discurso inaugural de que não haverá retaliação é apenas parte do formato de poder que passará a existir.

É urgente a importância da ação nas ruas, com pressão forte e organizada dos Movimentos Sociais e das Minorias.

O que antes era apenas debatido nos meios dos grupos de esquerda, nos sindicatos e Movimentos Sociais sobre a importância da pressão das ruas para a manutenção e avanços democráticos, se faz mais que necessário.

Não será apenas o governo que terá grandes dificuldades, os Movimentos ligados à sociedade, principalmente os grupos LGBTs, MST, MTST, Indígenas e Negros, terão enormes desafios.

Portanto, o cenário que vislumbra pela frente promete. E a promessa não parece muito boa. Será pessimismo demais?

Dianteira de 49 votos de Cunha trai expectativas de Chinaglia

Parlamentar disse que momento é de 'virar a página' e que não pensa em retaliação por embate com o governo. Parte da bancada petista contesta estratégia do partido, que ficará fora da composição da mesa
por Hylda Cavalcanti, da RBA publicado 01/02/2015 22:16, última modificação 02/02/2015 08:19
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LAYCER TOMAZ/CÂMARA DOS DEPUTADOS
Cunha
Cunha contou com debandada de votos esperados por adversários
Brasília – Com 49 votos a mais do que o total de parlamentares do bloco partidário que o apoiava, o líder do PMDB Eduardo Cunha (RJ) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados com uma vitória bem folgada, apesar das especulações de que poderia haver uma virada de última hora, levando a um segundo turno das eleições.
Os 267 votos superaram em dez os necessários para encerrar o jogo no primeiro turno. O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi o segundo mais votado, com 136 votos. Júlio Delgado (PSB-MG) contou com 100 votos e Chico Alencar (Psol-RJ), oito. Houve dois votos em branco
Além da vantagem obtida pelos votos de parlamentares de partidos que se comprometeram em apoiar outros nomes, a eleição também foi marcada pela frustração do candidato do governo, Arlindo Chinaglia (SP). O bloco liderado pelo PT contava com um total de 167 votos para Chinaglia (SP), e espera outros isolados para chegar a 180.
A votação secreta dificulta identificar de onde saiu a margem de "traição", que frustrou as expectativas do petista e, em menor escala, de Júlio Delgado, que previa receber 106 votos.
Ao comemorar o resultado e fazer seu primeiro discurso, Cunha procurou usar um tom apaziguador e afirmou várias vezes que o momento é de “virar a página”. Embora tenha lembrado que sua candidatura foi muito contestada e seja constantemente citado como um parlamentar que causou problemas para o Palácio do Planalto nos últimos anos, enfatizou que de agora em diante não existem adversários entre os demais candidatos, pois todos são deputados igualmente. Disse, também, que mesmo a campanha tendo sido muito acirrada, quer deixar claro que vai buscar a altivez do parlamento, para que seja tocada uma pauta com os principais debates que a Casa precisa tratar.
Eduardo cunha fez questão de frisar, ainda, que não será oposição ao governo, mesmo que não pretenda adotar uma postura submissa ao Executivo. Acrescentou que não haverá retaliação ao longo da sua atuação como presidente. “O episódio da eleição é página virada e o que temos de fazer a partir de agora é começar a trabalhar”, prometeu.

Integrantes da mesa

A eleição na Câmara dos Deputados foi iniciada por volta das 18h40, quando os deputados começaram a se dirigir para as cabines de votação. Foi grande a movimentação das filas e o processo ocorreu de forma mais lenta do que a esperada, depois que ficou definido que, além dos presidentes, cada parlamentar teria que definir também, o nome de cada um dos integrantes da composição da mesa diretora.
Depois de certa polêmica em torno do assunto, foi concedida instalação para o uso de celulares pelos deputados, que queriam essa prerrogativa com o argumento de fotografar seus votos nas cabines – como forma de divulgar para os eleitores os compromissos assumidos e também comprovar seus votos junto às bancadas dos seus partidos.

Divisão quanto à tática

A grande dificuldade observada nas últimas horas decorreu da forma como foi definida a composição para a mesa diretora. Os blocos formados pelos dois principais partidos da disputa, o PMDB e o PT, preferiram distribuir os cargos da mesa entre os partidos que os integram, deixando de lado espaço para as próprias legendas. Para o PMDB, que viu seu candidato ser eleito presidente e vai ter o direito de escolher a presidência de 11 comissões da caixa, as queixas foram irrelevantes.
Entre integrantes do PT, entretanto, houve divisão quanto à estratégia utilizada. De acordo com um parlamentar, muitos deputados questionaram o fato de, sem qualquer espaço na mesa, daqui por diante, a legenda vir a ter um período difícil na negociação das matérias de seu interesse. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que participou de reunião no final da tarde com o atual líder da legenda, Vicentinho (SP), e demais petistas, minimizou a questão.
Segundo ele, é comum na formação de blocos, o partido que tem o candidato dividir entre as legendas do grupo as posições na mesa diretora, e isso não deve ser visto como uma concessão ou recuo por parte da base aliada, pois já aconteceu em outras legislaturas e faz parte do processo de composição do parlamento. Trata-se de uma forma de dar capilaridade à coligação formada, como ele argumenta.
Já Vicentinho, preferiu falar sobre o compromisso do PT de lutar pela defesa das matérias que considera ser importantes para o país. Ele destacou que os parlamentares da base aliada não vão abaixar a guarda no trabalho a ser desenvolvido nesta legislatura. “Sabemos que teremos um Congresso mais conservador, mas vamos trabalhar e buscar o acompanhamento do povo na tramitação das matérias”, salientou.

Chinaglia: ‘sem subjugo’

No discurso proferido por cada um dos candidatos, antes da votação ser iniciada, Arlindo Chinaglia disse que era um erro achar que a Câmara poderia vir a ser subjugada pelo Executivo. “Imaginar que o Legislativo possa ser subordinado é não perceber que é a Câmara que determina a lei, as regras, aquilo que os outros podem fazer”, afirmou. De acordo com o candidato do PT, a Casa muitas vezes é vista como um poder menor, motivo pelo qual em sua gestão pretendia fazer com que essa imagem fosse mudada.
O candidato do Psol, Júlio Delgado (MG), usou como arma em seu discurso a pauta de promessas corporativas feitas na Casa pelos dois principais candidatos. Delgado colocou que as propostas dos adversários consistiram em medidas que afastam o povo brasileiro do parlamento, porque não tratam de nada de interesse do povo e sim, dos próprios deputados – estavam incluídas entre tais promessas, a construção de um novo anexo para a Câmara (sugerida por ambos) e a equiparação do salário dos deputados em relação ao dos ministros do Supremo Tribunal Federal (SDTF) – esta última, pregada por Cunha.
Enquanto Chico Alencar, do PSol, ressaltou que "o Congresso não precisa de agrados nem de promessas". Alencar lembrou o escândalo da Petrobras e afirmou que “o fantasma da operação Lava Jato ronda o Congresso Nacional”, numa alusão à expectativa de anúncio de nomes de parlamentares envolvidos no escândalo, por parte do Ministério Público, até o final de fevereiro. Segundo o candidato, será “deprimente e degradante” se o MP citar algum deputado. “Seria bom se prometêssemos desistir de qualquer função de mando aqui, caso seja aceita alguma denúncia”, sugeriu.

Financiamento privado

Na avaliação dos deputados de partidos variados que, horas antes, já esperavam o resultado, a eleição de Eduardo Cunha foi reflexo de muitos fatores conjugados. Em primeiro lugar, venceu o financiamento privado de campanhas, uma vez que Cunha foi o responsável pela articulação que resultou na doação de campanhas por parte da iniciativa privada brasileira a um sem número de deputados empossados hoje. Depois, venceu o corporativismo, numa eleição que, conforme reconheceu o próprio Chinaglia, muitas vezes as regras de votação dos deputados são individuais e não levam tão a sério os compromissos partidários.
Para completar, representou o desgaste que já vinha sendo observado desde 2013 no poder de articulação do PT e no pequeno estofo da base aliada para negociar a votação de matérias dentro da Casa nos últimos anos. Aliado à preocupação dos parlamentares, de um modo geral, de demonstrar certo poder de barganha junto à presidenta Dilma Rousseff, que não é dada a ouvir nem receber os deputados.
“Você acha que o pessoal iria votar no Chinaglia, sabendo que é com o Cunha sentado na cadeira de presidente que o Palácio do Planalto vai querer barganhar e ternurar os deputados? Parlamentares gostam disso, de irem ao Palácio e serem bem atendidos, o que todos sabem que a presidenta não faz. Não há dúvidas que ele (Eduardo Cunha) é que será o presidente, por este motivo”, afirmou um deputado do Democratas, com a experiência de oito legislaturas, minutos antes de ser divulgado o resultado.

Dias difíceis

Sendo correta ou não a avaliação, o certo é que a Câmara verá dias difíceis e de muitos embates daqui por diante. Pela desproporção de partidos na distribuição da mesa e das comissões e pelas diferenças a serem observadas na composição da Casa como um todo em relação ao primeiro governo de Dilma Rousseff. Sobretudo, por iniciar os trabalhos de 2015 com um estoque de matérias tidas como complicadas para serem votadas – caso do orçamento impositivo, o próprio Orçamento Geral da União e as duas medidas provisórias iniciadas em janeiro, referentes a mudanças em benefícios trabalhistas e previdenciários.
“Vamos trabalhar”, anunciou o novo presidente, ao acrescentar que, dentre suas metas, estão empenhar-se para a tramitação da reforma política e de um novo pacto federativo. Antes disso, os deputados precisam concluir a votação dos integrantes da mesa diretora, cuja apuração ainda está sendo realizada e pode só acabar, em definitivo, nesta segunda-feira (2).

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Um único lance de dados

Nos EUA, livro recupera história do conflito com o Irã — e conta como a Casa Branca torpedeou, durante o governo Bush, ampla proposta de acordo oferecida pelo presidente iraniano.
Por Mauricio Santoro, em seu blog no Outras Palavras
A possibilidade de conflito militar entre Irã, Estados Unidos e Israel tem dominado os debates de política internacional por aqui e o melhor livro disponível sobre o assunto é “A Single Roll of the Dice – Obama´s Diplomacy with Iran”, do cientista político iraniano Trita Parsi. Baseado em entrevistas com líderes políticos de diversos países, seu argumento é que a tentativa de aproximação entre Washington e Teerã falhou por conta das objeções domésticas nos dois regimes, exacerbadas pelas tensões que envolvem os israelenses, e que os dois países estão presos numa situação de estagnação “sem guerra e sem paz”, marcadas por rodadas de sanções ineficazes.
Parsi é um analista excepcional e tem exercido importante papel político como líder do Conselho Nacional Iraniano-Americano, uma associação de oposição ao regime islâmico. Ele cresceu no exílio, acompanhando o pai, opositor dos aiatolás. Seu livro subiu para os 100 mais vendidos na Amazon, depois de ótima entrevista do autor no programa Daily Show, de Jon Stewart.
A história narrada por Parsi é fascinante: quando os Estados Unidos invadiram Afeganistão e Iraque – dois vizinhos do Irã – o presidente reformista iraniano Mohamed Khatami se apavorou e achou que seria o próximo. Seu governo apresentou uma proposta extraordinária a Washington, concordando com praticamente todas as exigências dos americanos, inclusive oferecendo a suspensão de ajuda aos aliados estrangeiros do regime islãmico, Hezbolá e Hamas. A Casa Branca se recusou a negociar – Bush e seus assessores achavam que poderiam conseguir o prêmio máximo, a derrubada da república islâmica, por meio da pressão militar e econômica.
Não foi isso o que ocorreu, evidentemente, e a situação dos Estados Unidos se complicou bastante com as crises no Afeganistão, Iraque e Paquistão, para não falar da crise econômica, ao passo que o Irã ascendeu como potência regional no Oriente Médio, sob a liderança radicalizada de Mahmoud Ahamadinejad. Obama ascendeu à presidência com a proposta de um “novo começo” nas relações entre os dois países. Sua disposição em conversar era sincera, mas foi recebida com ceticismo em Teerã e com indignação em Israel, onde o governo defendia que o programa nuclear iraniano era uma grave ameaça que tinha que ser eliminada, se necessário pela força.
Contudo, o que matou as negociações foi a eclosão da Revolução Verde no Irã, e a feroz repressão que se seguiu. Tornou-se impossível para Obama sustentar o diálogo em meio às pressões do Congresso para novas sanções contra a república islâmica. Em Teerã, as elites políticas chegaram à beira da guerra civil e mesmo a vitória (fraudada) de Ahamdinejad nas eleições não resolveu o jogo. Parsi afirma que os conflitos entre o presidente e os aiatolás refletem um amplo cisma geracional, do enfrentamento entre a velha guarda da Revolução de 1979 e os novos líderes, que foram ativistas de base na queda do xá e lutaram na guerra de 1980-1988 contra o Iraque.
Num cenário tão polarizado, é difícil ser mensageiro de soluções pacíficas e Parsi é um excelente cronista dos esforços do ex-presidente da Agência Internacional de Energia Atômica, o egípcio Mohammed El-Baradei (Nobel da Paz por essa tentativa) e dos governos do Brasil e da Turquia para encontrar uma saída para o labirinto iraniano.
Parsi tem brilhante análise do plano turco-brasileiro, pelo qual o Irã enviaria seu urânio ao exterior para ser enriquecido sob supervisão internacional. A proposta havia sido feita originalmente pelos Estados Unidos, mas quando foi aprovada pelo Irã, os americanos já haviam negociado secretamente com Rússia e China nova rodada de sanções e ficariam furiosos com a mediação do Brasil e da Turquia.
Atualmente, 57% dos republicanos acredita que haverá guerra contra o Irã em 2012, contra 22% dos democratas. É uma polarização partidária. O próximo passo é acompanhar o embargo dos EUA e da União Européia contra o petróleo iraniano, que entra em vigor em 1º de julho. A foto do meio do post foi tirada por mim na Times Square. O manifesto contra Ahmadinejad contrasta com anúncio de nova série de TV cujo slogan é “ame seu vizinho.”

O cerco covarde ao governo da Cristina Kirchner

Por Emir Sader, em seu blog no Outras Palavras
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Velha mídia e partidos conservadores conseguem colocar em xeque a presidente, que dificilmente conseguirá direito à reeleição. Incerteza pode dominar cenário argentino
O governo de Nestor Kirchner herdou um país desfeito da ditadura militar e dos governos de Menem e De la Rua. Nunca na sua história o país havia tido um retrocesso tão brutal em pouco tempo como o que teve desde o golpe militar até a posse de Nestor. Eric Hobsbawn catalogava a Rússia depois do fim da URSS, e a Argentina desde a instalação da ditadura militar, como as maiores regressões – de natureza civilizatória – do nosso tempo.
Os governos dos Kirchner operaram sobre essa terra arrasada e tiveram, antes de tudo, o grande mérito de levantar uma economia falida e um país quebrado, econômica e animicamente. Por isso mesmo, setores com ódios históricos ao peronismo tiveram que apoiá-los, reconhecendo o trabalho que está sendo feito.
O resgate da Argentina se faz a partir dos escombros herdados, não podendo retomar a expansão econômica nos moldes em que ela tinha se dado antes da ditadura militar. A principal diferença é consequência da desindustrialização que a abertura acelerada da economia, feita pela ditadura e pelo governo Menem, e, ao mesmo tempo, a promoção da hegemonia do capital financeiro.
Depois da hiperfinflação no governo de Ricardo Alfonsin – que o levou a renunciar antes de concluir seu mandato –, Carlos Menem, apesar de se eleger prometendo um “choque produtivo”, fez exatamente o contrário, colocando em prática uma política radicalmente liberal. Valendo-se do trauma da hiperinflação, seu ministro da economia, Domingo Cavallo, impôs a paridade entre o peso e o dólar. O que significava que o governo renunciava a ter uma política monetária, só emitindo conforme ingressassem dólares na economia.
Esse engessamento trouxe a estabilidade monetária, mas ao preço de um profundo déficit público, adiando o estouro da paridade, enquanto os argentinos gozavam de uma súbita e insustentável valorização da sua moeda. Era uma bomba de tempo, que só foi explodir quando Menem não conseguiu eleger seu sucessor, e o radical Fernando de la Rua manteve a política de paridade, até que esta implodiu.
A Argentina entrou na maior crise econômica social e política da sua história, com retrocessos e instabilidade que levaram a que o país tivesse cinco presidentes em poucos dias, sob o impacto de uma convulsão social contra os bancos, quando a cotação do dólar subiu de 1 para 4 pesos. Os que tinham depósitos viram suas poupanças ficarem reduzidas a ¼ do que acreditavam ter.
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Nesse momento se deu a regressão a que fez menção Hobsbawn, com amplos setores da classe média sendo proletarizados, com o desemprego saltando para níveis inéditos. Depois de uma relativa estabilização, foram convocadas eleições, concorrendo de novo Menem – que prometia desta vez dolarizar diretamente a economia argentina – e outros candidatos, entre eles um governador de província pouco conhecido, Nestor Kirchner.
Depois de triunfar no primeiro turno, Menem, diante da derrota iminente para Kirchner no segundo turno, renunciou a concorrer e Kirchner foi eleito. O novo governo colocou em prática uma política antineoliberal, com retomada do crescimento econômico e distribuição de renda, ao mesmo tempo em que o Estado retomava um papel ativo na indução da economia e na garantia dos direitos sociais. Em aliança com o governo Lula – e, logo, com o de Tabaré Vázquez, no Uruguai –, o Mercosul foi reativado.
A economia argentina passou a crescer a ritmo altíssimo durante quase uma década. A novidade foi o papel que a exportação de soja passou a ter, ocupando em parte o lugar das exportações industriais, embora estas retomassem um importante nível de desenvolvimento, especialmente a indústria automobilística.
Com um grau altíssimo de endividamento herdado dos governos Menem e De la Rua, e praticamente sem patrimônio público, privatizado por Menem – até mesmo a YPF, que havia propiciado a autossuficiência energética para a Argentina –, Kirchner impôs uma renegociação do pagamento da dívida argentina. Grande parte dos credores aceitou, ficando um resíduo de uns 8%, que até hoje busca impor sanções à Argentina.
O impulso da recuperação foi continuado pelo governo de Cristina Kirchner, que deu sequência a essas orientações, mesmo sob o impacto de forte campanha da mídia opositora.
Desde a crise internacional iniciada em 2008 e sob os efeitos das limitações de crédito externo impostas pelos organismos financeiros internacionais como resposta à renegociação da dívida, a economia passou a dar mostrar de desequilíbrios. Entre eles, uma inflação de cerca de 25% e a falta de financiamentos externos, ao que o governo respondeu com políticas de controle de câmbio, que introduziu um descompasso entre as cotações oficiais e paralelas do peso.
No plano social e político o governo – depois da reeleição de Cristina –, ela foi perdendo apoios, e as tensões se elevaram dentro mesmo do peronismo, especialmente com a principal central sindical – a CGT –, que passou a organizar mobilizações contra o governo, com demandas salariais. No plano político, a lei de democratização dos meios de comunicação foi duramente combatida pelas empresas da mídia privada, que conseguiram brecar que ela fosse posta em prática.
Foi nesse marco que se intensificou a campanha internacional contra o governo argentino, baseada na reprodução e ampliação das matérias da mídia opositora. No Brasil são os jornais Clarín e La Nación que alimentam a velha mídia na difusão do que se passa na Argentina.
A renacionalização da YPF, tirando-a das mãos da empresa espanhola Repsol, fez com que a mídia internacional – em primeiro lugar a da Espanha – passasse a atacar sistematicamente o governo da Cristina, formando um verdadeiro cerco informativo sobre o que efetivamente acontece no país.
É uma campanha de desinformação, que desconhece todos os avanços na recuperação da economia e no plano das políticas sociais, destacando os escândalos que a mídia opositora levanta semanalmente.
A Argentina se encontra agora em um dilema, que terá nas eleições parlamentares de 27 de outubro seu próximo capítulo, com a nova composição do Parlamento. Será muito difícil que o governo consiga os 2/3, necessário para a reforma da Constituição. Assim, Cristina não poderá se candidatar de novo. Se abrem dois anos de incertezas políticas na sucessão presidencial argentina.

Um tiro contra Cristina Kirchner

Por Dario PignottiPágina 12 | Tradução Carta Maior no Outras Palavras
Alberto-Nisman
Alberto Nisman discutindo a investigação em uma organização judaica na Argentina em 2010
 estranha morte de promotor argentino que, segundo Wikileaks, reunia-se frequentemente com agentes da CIA e do FBI. A tentativa, pela oposição, de usar o ocorrido contra a Casa Rosada
O promotor Alberto Nisman apareceu morto com um tiro na cabeça disparado com sua arma pessoal em um apartamento localizado a poucas quadras da Casa Rosada, a sede do governo. Seu corpo foi encontrado nas primeiras horas desta segunda-feira (19), dias depois de ter acusado Cristina Kirchner de encobrir os responsáveis do atentado que matou dezenas de pessoas na AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina), em julho de 1994.
O procurador se transformou em uma estrela de televisão e dos meios de comunicação oligopolistas que deram ampla cobertura às suas sonoras denúncias, geralmente vazias de provas. Nisman era para a grande mídia algo como se tornou o juiz paranaense Sergio Moro para a imprensa tradicional brasileira.
Os principais dirigentes oposicionistas haviam viajado de seus respectivos estados para Buenos Aires a fim de participar nesta segunda-feira de uma exposição de Alberto Nisman na Câmara dos Deputados, em que havia prometido que apresentaria provas sobre a interferência de Cristina na investigação sobre o atentado terrorista de 1994.
Segunda essa versão do promotor, a presidenta quis evitar que fossem investigados suspeitos iranianos. A morte de Alberto Nisman motivou comoção nacional a 10 meses das eleições presidenciais, enquanto os adversários do governo não estão conseguem superar suas diferenças internas para compor uma coalizão unitária.
“Os dados da autópsia de Alberto Nisman estarão prontos à noite, o que podemos adiantar é que sua morte aconteceu antes do jantar [de domingo]… estava sozinho e a porta do apartamento estava fechada com chave”, informou a promotora Viviana Fein.
“Pedimos aos jornalistas que nos deixem trabalhar”, disse Viviana diante de um enxame de repórteres que a esperavam na porta do elegante prédio em que ele residia, onde o corpo jazia dentro do banheiro junto da arma com a qual o disparo foi feito.
Como os dados da perícia forense ainda não foram divulgados, seria irresponsável arriscar se o promotor que investigava o atentado da associação mutual judia AMIA se suicidou ou se foi assassinado. Em todo caso, é evidente que este fato sangrento carrega consigo uma consequência política: prejudica o governo da presidenta Cristina Kirchner, que mantém uma alta popularidade e deve exercer sua influência nas eleições em que seu sucessor será escolhido.
Cristina: Distância diplomática dos EUA e de Israel
O governo de Cristina mantém relações frias com Washington há anos, uma ligação que e enfraqueceu ainda mais quando Buenos Aires se aproximou do Irã.
“Tudo isto que aconteceu é muito raro, não vamos cair em teorias conspiratórias, mas também não seremos ingênuos ao tentar entender as coisas que estão em jogo”, afirmou Atilio Borón, pesquisador universitário e ex-secretário da CLACSO (Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais).
TEXTO-MEIO
“A primeira coisa a se fazer é responder esta pergunta, quem sai muito prejudicado com este fato? Indubitavelmente é o governo argentino”, acrescentou Atilio Borón em declarações concedidas nesta segunda-feira a uma emissora portenha. TVs, rádios e sites modificaram sua programação para dedicar atenção total ao crime do ano.
Um dos apresentadores estatais do grupo Clarín afirmou estar quase certo de que o promotor foi assassinado para evitar que prejudicasse Cristina. Com linguagem demagógica, argumentou “nas ruas todo mundo diz que Nisman foi assassinado”.
“Isto dá sensação de impunidade… nisto há traços mafiosos”, afirmou Marcelo Tinelli, um popular apresentador de programas frívolos, presidente do clube San Lorenzo, que, segundo alguns observadores, sonha em ser o Silvio Berlusconi do Pampa Argentino.
Se os partidos de oposição não demonstraram capacidade para formar uma aliança forte, os partidos de fato têm capacidade para criar um estado de angústia nacional e semear um clima de desestabilização. Possivelmente, o partido da mídia, junto à corporação judiciária, sejam as forças mais hostis à Casa Rosada.
Durante o fim de semana, os jornais tradicionais publicaram com grandes manchetes o anúncio do promotor Nisman sobre as revelações que faria nesta segunda-feira no Parlamento. No Clarín, publicou-se uma notícia sobre o “fim de um ciclo” iniciado em 2003 pelo ex-presidente Néstor Kirchner, continuado por sua esposa e atual chefa de Estado.
Promotor amigo do FBI e da CIA
Dezenas de documentos revelados pelo Wikileaks mostraram que o promotor Albert Nisman se reunia frequentemente com representantes do governo norte-americano, a quem consultava sobre como levar adiante o processo pelo atentado terrorista contra a entidade judaica em 1994 em que houve 85 mortos e 300 feridos. Os agentes da inteligência norte-americanos repetiam regularmente que Nisman deveria acusar o Irã.
“Não é preciso seguir a pista síria, nem as conexões locais [dos terroristas] porque isto pode enfraquecer as acusações contra os iranianos”, disseram agentes do FBI consultados por Nisman, segundo um dos papéis obtidos pelo Wikileaks.
Santiago O Donnell, editor do jornal Página12 e autor de um livro baseado em informações do Wikileaks, afirmou que a Embaixada dos Estados Unidos estava muito preocupada com o curso da investigação do atentado contra a AMIA, e que o assunto aparece em 196 comunicações da missão diplomática norte-americana.
O acadêmico Atilio Borón argumentou que Nisman não era um promotor apegado a normas jurídicas, mas um elemento que operava politicamente segundo ordens de Washington.
“Ele ia regularmente à Embaixada receber instruções do FBI, da CIA e… com essa gente pesada não se brinca, eles em qualquer momento podem decidir eliminar alguém que tenha ajudado, mas que já deixou de ser útil”, disse Borón. Do seu ponto de vista, ainda não se pode saber se Nisman se suicidou ou se foi assassinado, e convém ter como uma das hipóteses que Washington o tenha porque não tinha prova para fundamentar suas denúncias.
“Isto que aconteceu com Nisman não pode ser analisado como uma questão local… poucas horas depois de ele aparecer morto houve um comunicado do governo de Israel.. tudo isso acontece 10 dias depois do atentado em Paris contra a Charlie Hebdo, 9 dias depois dos ataques ao supermercado judeu de Paris”.
“Esta morte se insere em um marco mais amplo que é o que alguns comentaristas chamam como a grande guerra do ocidente contra o Islã”, afirmou Atilio Borón.

Como um grupo está livrando comida do lixo para alimentar 1,6 milhão de brasileiros

no Diário do Centro do Mundo
LIXO
Publicado na DW.
O trabalho deste grupo começa quando o fim da feira se aproxima: Daniel Ferratoni e Lucila Matos espalham contêineres entre as barracas para recolher frutas, verduras e legumes que iriam para o lixo. Eles são idealizadores do Banco de Alimentos de Santos, no litoral norte paulista, uma organização focada em combater o desperdício e distribuir esses alimentos em comunidades em situação vulnerável.
Todas as quartas-feiras, Daniel, engenheiro, e Lucila, formada em relações internacionais, recolhem em torno de 200 quilos de comida. “Os feirantes separam para a gente principalmente talos e folhas de alimentos, como brócolis e cenoura, que o cliente não leva na hora da compra”, diz Daniel. “Mas também recolhemos caixas fechadas de frutas e vegetais mais perecíveis que eles não conseguem vender”, completa.
“Gosto de ajudar, sei que essa comida mata a fome de muita gente”, diz Lívia, feirante há 22 anos e uma das colaboradoras mais fiéis. Nesta quarta-feira, a barraca dela doou vagem, jiló, chuchu, pepino, brócolis e tomate.
A iniciativa em Santos, fundada em janeiro, buscou inspiração dentro e fora do Brasil. Lucila acompanhou o trabalho em Bonn e Colônia, na Alemanha – um dos países pioneiros, onde mais de 900 bancos de alimentos estão em funcionamento. “De lá, trouxemos a ideia de distribuir os alimentos diretamente nas comunidades. Aqui no Brasil, a maioria recolhe a comida e entrega em instituições”, conta.
Combate ao desperdício
O primeiro banco de alimentos do Brasil surgiu em 1994, fundado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), em São Paulo. O movimento, com o objetivo de combater o desperdício e a fome, se expandiu num ritmo tímido entre as outras unidades do país, e algumas ONGs, como a Banco de Alimentos SP e a Banco de Alimentos de Porto Alegre, foram criadas com o mesmo objetivo.
O primeiro banco de alimentos criado com verba do governo federal surgiu somente em 2003. Atualmente, são 78, apoiados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). “Eles estão em funcionamento em todas as regiões do país, em 24 estados, 16 capitais, com uma cobertura de 60% dos municípios acima de 300 mil habitantes”, informou o MDS à DW Brasil.
Essas regiões são estratégicas, porque concentram grandes redes varejistas, indústrias alimentícias e centrais de abastecimento – locais onde, segundo o ministério, as perdas e o desperdício de alimentos são alarmantes.
Atualmente, cerca de 100 projetos funcionam no Brasil, somando os administrados pela sociedade civil e pelo Estado. A comida recolhida é fonte de alimento para mais de 1,6 milhão de pessoas no país, calcula o governo federal.
Todos os anos, estima-se que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos bons para o consumo sejam descartados. No Brasil, um dos maiores produtores agrícolas mundiais, esse número é de quase 27 milhões. Ao mesmo tempo, cerca de 805 milhões de pessoas passam fome no mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Fila na hora da partilha
Em Santos, o alimento recolhido na feira é transportado por uma Kombi “coletiva”, usada em outro projeto social na região. A comida é distribuída entre 100 famílias da comunidade Alemoa, bairro de baixa renda, endereço de 970 famílias.
Na casa da líder comunitária, Maria Lúcia Cristina Jesus Silva, as caixas coletadas são pesadas e, na sequência, distribuídas. “Muita gente sobrevive com isso”, conta Maria, moradora da comunidade desde 1974.
Uma hora antes da partilha, uma fila começa a se formar. Os moradores trazem uma sacola, recebem uma senha e podem escolher o que levar para casa. “Eu pego para mim e para minha vizinha, que está doente”, conta Antônio, 63 anos, desempregado.
O projeto de Daniel e Lucila foi fundado a partir de um financiamento coletivo de internautas. Eles não têm salários e contam com oito voluntários. Maycon Henrique, de 14 anos, sempre participa às quartas-feiras, depois que sai da escola. “Eu gosto de ajudar minha comunidade. E sempre levo para casa alface, melancia e melão que iriam para o lixo. Minha mãe também gosta.”
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Assistir a um programa burro como o Big Brother deixa você mais burro — diz a Ciência

no Diário do Centro Mundo
bial
Você não precisa ser muito esperto para saber que o Big Brother é um lixo. Entre as piores desculpas para assistir o programa, uma delas é que ele é “desestressante” e “inofensivo” (qualquer coisa com Pedro Bial declamando poema não pode ser descrita dessa maneira, mas vamos adiante).
Bem, não é inofensivo. Ao contrário. É emburrecedor — cientificamente falando.
Um estudo conduzido por Markus Appel, professor associado da Universidade de Linz, na Áustria, concluiu que quando as pessoas não pensam criticamente sobre o que estão consumindo numa mídia correm o risco de “assimilar características mentais expostase”.
Em outras palavras, a estupidez de participantes e apresentadores de absurdos como o BBB é danosa à saúde, ainda que temporariamente.
“Não é como uma doença que você pode ter por um longo tempo. Nós não estamos dizendo que você será prejudicado um dia depois de ler um livro estúpido ou ver um programa de TV ruim”, disse Appel. “Mas a pesquisa mostrou que o desempenho em testes de conhecimento é prejudicado por esse tipo de coisa”.
Num experimento com 81 pessoas, Appel pediu a diferentes grupos que lessem um roteiro que contava o caso de Meier, um hooligan alcoólatra e intelectualmente debilitado. Metade recebeu a instrução de pensar de maneira diferente do protagonista, enquanto a outra metade não teve instrução nenhuma antes de ler.
Em seguida, todos fizeram um teste. O grupo que fez uma leitura crítica se saiu muito melhor — um processo que Appel considera ser responsável por manter longe do efeito contagioso da imbecilidade. Conhecimento geral não é o mesmo que QI, é claro. Mas os resultados, de acordo com Appel, “ajudam a reforçar a tese de que as pessoas são influenciadas de maneira sutil, mas significativamente, por produtos de baixa qualidade”.
Bella, uma bailarina do BBB 14, parecia ter alguma consciência do nível de indigência da atração criada pelo hoje milionário John De Mol. Há algumas semanas, foi flagrada pela TV numa dúvida. “Será que as pessoas ‘faz’ isso mesmo, ‘compra’ [o pacote para ver o BBB]? Tem mais o que fazer, não, que ficar vendo umas conversa ‘troncha’ (sic) que nem essa…”
Inteligente essa Bella.
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Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

O Governo precisa travar a batalha da comunicação

Lassance: Algo que desaprendeu
no Conversa Afiada
De Paulo Ferreira, no face
por José Gilbert Arruda Martins

Está passando da hora de uma ligação maior do governo com os Movimentos Sociais e o Povo em geral.
O texto abaixo de Antonio Lassande é didático em relação a essa questão.
Fazer política é ir diretamente ao Povo ou, senão, usar os instrumentos que o Povo enxergar e gosta.
Diminuir os gastos com a "grande" mídia agora e investir na internet, blogueiros, Tvs comunitárias etc. é uma saída genial.
O que não é possível é continuar a mesmice.
A globo ferra com o governo todo santo dia, a veja idem, vamos tirar os caras da lista de recursos públicos urgente.

Conversa Afiada reproduz texto de Antonio Lassance, extraído da Carta Maior:

Como sair do atoleiro se o Governo desaprendeu a travar a batalha da comunicação? Não basta comunicar-se mais. É preciso reorientar toda a comunicação.

Um governo despreparado para a batalha

Em sua primeira reunião ministerial (27/1), Dilma exortou seus ministros a travarem a batalha da comunicação. Falou, repetiu, insistiu. Quase perguntou se precisava desenhar.

A ordem é a seguinte:

“Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente. Nós não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre.

Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública, a posição do ministério, a posição do governo à opinião pública. Sejam claros, sejam precisos, se façam entender. Nós não podemos deixar dúvidas.”

No fundo, Dilma sabe que ela não é a melhor comunicadora do governo e pede ajuda a todos de sua equipe para uma tarefa que, de qualquer forma, nenhum presidente, sozinho, é capaz de realizar: dizer ao público o que está acontecendo e o que o governo tem feito.

Até aí, tudo bem. A maioria dos governos anteriores tinha ministros mais desenvoltos para a comunicação do que o presidente. Lula foi uma das exceções. Ele era, sem sombra de dúvida, o melhor comunicador de seu próprio governo.

Com Dilma é diferente e a constatação pode ser perfeitamente administrada. Mas há uma pedra no meio do caminho.

Se o pedido da presidenta não significar uma completa reorientação na concepção, nas práticas e nas mensagens do governo, o tiro irá sair pela culatra. Vai estar aberto o caminho para uma sucessão de trapalhadas.

De todo modo, não se deve, em hipótese alguma, tentar esconder um presidente da República. Não há como tirar um assunto do colo da presidenta quando o assunto é o Brasil.

Um presidente da República jamais pode fingir que alguns grandes problemas não são seus.

Toda semana a presidenta precisa mostrar que existe, que está trabalhando, que está fazendo.

Mesmo que não queira, Dilma precisa aparecer regularmente, dar sua opinião e orientação, ainda que os detalhes e as piores partes do tratamento de algum problema fiquem por conta de outra pessoa.

Ao invés de aparecer pouco e, quando aparece, falar muito (Dilma é a primeira a se cansar de seu próprio discurso), é melhor a presidenta aparecer mais vezes e falar menos, fazendo discursos mais curtos e diretos.

Se não for pedir demais, em nome da clareza na comunicação com o público, Dilma poderia usar mais metáforas e analogias. Alguns não vão gostar, mas a maioria vai.

Fazer comunicação com o quê e com quem?

O atual governo gasta muito e gasta mal em comunicação. E conseguiu a façanha de desmontar boa parte dos bons instrumentos próprios que haviam sido construídos no primeiro mandato do governo Lula.

É bom fazer o registro: a situação já estava assim antes do atual ministro Thomas Traumann assumir o posto. O problema é que, até agora, nada mudou e Traumann não tem qualquer controle sobre a área de publicidade.

O governo faz regularmente uma pesquisa para aferir os hábitos de consumo da população.

Para quê? Não se sabe. A pesquisa mostra que o rádio é quase tão presente como fonte de informação quanto a tevê. Em seguida, vem a internet. Por último, bem atrás, a mídia impressa.

Apesar disso, o governo prefere gastar em tevê valores estratosféricos, extraordinariamente maiores do que gasta em rádio.

Ainda mais absurdo é que jornais e revistas impressos recebam bem mais que a internet e até que o rádio. Isso não é e nunca foi mídia técnica. É um escândalo de compadrio da publicidade com os grandes veículos.

O governo tem um gosto todo especial em financiar a concentração da mídia.

Sem contar que o Ibope e a vendagem de muitos veículos são alimentadas por informações de dirigentes e gestores governamentais que dão a alguns veículos um tratamento privilegiado. Esquecem-se que informação oficial é um bem público, e não um produto a ser barganhado na troca de favores do mercado da notícia.

Comunicação estatal, considerada um palavrão, foi quase reduzida a zero


A grande maioria dos ministros não sabe o que é o governo, seus números, seus planos, suas metas, suas dificuldades.

O governo já teve, mas extinguiu, um boletim informativo regular, chamado Em Questão.

O Em Questão era o principal veículo diário de informação sobre as ações, números e argumentos em defesa do governo.

Deveria ser ressuscitado pela presidenta, isso se ela quiser pautar pelo menos a fala de seus ministros.

Em 2008, o próprio gabinete pessoal do Presidente Lula começou a produzir um informativo, chamado Destaques, com dados e outras informações sobre as ações de governo.

O último caderno Destaques data de julho de 2013.

O último programa de rádio Café com a Presidenta foi ao ar em 30 de junho do ano passado.

O cargo de porta-voz está vago há mais de um ano.


Falar em comunicação estatal virou palavrão, desde que extinguiram a Radiobrás e surgiu a EBC.

A fusão da Radiobrás com a TV e rádios educativas do Rio de Janeiro gerou uma grande bagunça entre o que era a comunicação pública, feita pela Acerp (que controlava a TV e Rádio Educativa do Rio de Janeiro) e a comunicação estatal (feita pelo sistema Radiobrás, em Brasília).


A antiga e extinta Radiobrás ensinou Câmara, Senado e Justiça a implantarem seus veículos. Hoje, a comunicação do Executivo está longe do padrão de excelência alcançado pela comunicação dos outros Poderes.

A comunicação governamental se resume a um canal de tevê a cabo, a NBR, para o qual o próprio governo não dá a mínima importância. A NBR já deveria ser tirada da EBC e estar sob o comando direto da Secom faz tempo.

Da forma como está, com a EBC agindo como mera empresa de prestação de serviços, é mais barato para o governo contratar a empresa da esquina que filma aniversários e casamentos.

É na rua que se anda pra frente

O governo vai realmente travar a batalha da comunicação? Para falar o quê? E com quem?

O principal alvo para uma batalha da comunicação, antes dos veículos de imprensa, é o público.

O governo vai para a rua? Se não for, não vai poder dizer que está travando a batalha da comunicação.

Ministros e suas equipes vão por o pé na estrada, visitar capitais e cidades do interior, dar entrevistas aos veículos locais e blogueiros de cada cidade?

O governo poderia gastar um pouco menos em propaganda e um pouco mais em sola de sapato, telefonemas, e-mails, interação em mensagens pelas redes sociais e vídeos no Youtube.

A principal forma de comunicação que falta ao governo chama-se conversa. É preciso pegar o telefone para ligar e conversar com prefeitos, dirigentes sindicais, entidades estudantis, movimentos agrários e de luta pela moradia e ativistas das redes sociais.

Ativistas das redes sociais? Sim, é uma categoria nova, influente na formação de opinião e, a não ser no caso dos direitos, ainda é absolutamente desconhecida e desprezada pela maioria dos que fazem comunicação governamental.

Não custa também perguntar: quantos ministérios já estão chamando suas conferências nacionais? Quantos já implantaram conselhos e comitês para discutir políticas públicas.

Talvez muitos ministros não saibam, mas o decreto que instituiu a Política Nacional de Participação Social continua valendo.

Seria bom alguém se dedicar a informá-los.

“O PT vai procurar ser mais agressivo na comunicação”

É o que diz José Américo: “Está sendo concluída a transposição do São Francisco e isso não aparece em lugar nenhum”
no Conversa Afiada
Conversa Afiada reproduz trechos de entrevista do secretario de comunicação do PT, José Américo, dada ao iG:

(…)

A presidente Dilma Rousseff orientou ministros a se comunicarem mais e, em seguida, o PT passou a tomar uma série de medidas de comunicação. O partido segue a mesma orientação?

A orientação é clara para todos. O PT vai procurar, até o seu congresso, ser mais agressivo na comunicação. Vamos alterar o layout do nosso site e ampliar a atuação da Agência PT. Queremos que ela atue como uma agência de notícias de abrangência nacional, teremos correspondentes em oito estados. Onde não tivermos essa estrutura ligada ao diretório nacional, pediremos aos diretórios locais que produzam conteúdo.
Mas aí não é se comunicar e sim dar visibilidade a realizações do governo.

Nossa prioridade é sim mostrar realizações do governo. Por isso trazer os ministros para participar de hangouts, por exemplo. Precisamos dialogar melhor com essa juventude, com novos movimentos sociais. Vamos alinhar isso tudo numa reunião na próxima quinta-feira, antes da nossa reunião do diretório nacional, com todos os secretários de Comunicação do PT.


Mas a presidente não deveria se comunicar mais também? Ela está há mais de mês sem dar entrevista.


Acho que pode até ser positivo que ela fale mais com a imprensa, mas o mais importante neste momento é que os ministros falem. Que mostrem mais o governo, pasta por pasta. Eles viajam o Brasil todo, têm a mídia regional aberta para eles.

O estrago da operação Lava Jato na imagem do PT e do governo é cada vez maior. Dá para fazer frente a isso?

O mais importante nesse esforço é conseguir dar a versão do governo. Não da Lava Jato diretamente. Mas podemos dar uma versão mais transparente do que de fato é feito no governo. Está sendo concluída a transposição do São Francisco e isso não aparece em lugar nenhum. Há um esforço sólido para manter as conquistas sociais em uma situação econômica adversa. Deixar isso escondido é mais desgastante do que a Lava Jato, onde há divulgação desequilibrada. Até porque Paulo Roberto Costa também falou de Sergio Guerra (ex-presidente do PSDB). Ainda que ele tenha morrido, ele era coordenador da campanha de José Serra e a investigação aponta para um acordo que tiraria o PSDB da CPI da Petrobras. E isso não repercute na grande mídia da mesma maneira. Esse tipo de coidsa, não sei consegue rebater a contento. Mas temos que tentar rebater, o PT e o governo.

Onde entra a regulação da mídia nisso tudo?

Não muda nada. Porque a presidente pediu aos ministros um protagonismo de defesa do governo. E os grandes meios de comunicação vão seguir fazendo as mesmas restrições sobre o governo que sempre fizeram. Não é porque discutimos a regulação que o comportamento da Globo em relação ao governo vai mudar. Mas o mais importante é ter atitude. E nem todas as redes de TV do Brasil praticam monopólio de maneira tão acentuada.

O partido não corre o risco de bater cabeça com o PT na regulação da mídia?

O PT apoia o movimento do Fórum pela Democratização dos Meios de Comunicação, mas o governo pode ter posição diferente. Desde que estejamos de acordo no essencial. Governo deve se concentrar na parte antimonopólio, que para o PT também é mais importante. Pode abraçar também a discussão sobre a propriedade cruzada dos meios de comunicação. Mas isso tudo está em discussão.

(…)

Dilma, lança o imposto sobre grandes fortunas !

E redução do fator previdenciário !
no Conversa Afiada
Conversa Afiada recebeu de afiado amigo navegante:

Eis algumas reflexões sobre o resultado da eleição e da campanha no segundo turno:


- o mote de mudança com continuidade não é suficiente para quem já considera essas políticas como fato consumado, embora não o sejam, caso o psdb vença. mas o que interessa é o que o eleitor acredita e penso que ele acredita nisso. portanto a referência às conquistas é essencial, mas insuficiente;

- acho o foco em reforma política um equívoco monumental. para a maioria esmagadora da população isso não é um tema que marque um projeto (não importa o que os que a desejem achem). o aecio não está nem aí para discutir esse tema. ele promete mudar a política e as pessoas e não precisa de reforma para isso. não há repercussão no eleitorado e ele não vai se posicionar a respeito. não dá nem tira voto.

- anunciar e decretar mais benefícios aos empresários me parece inútil. a votação em todo centro-oeste (agronegócio) e em são paulo devia ser lida com objetividade e não ficar reclamando. o capital escolheu um lado e quanto mais benesses receber, mais se aproveitarão delas, votando na direita;

- fazer campanha maciça em minas e são paulo parece absolutamente essencial. isso deve ser repetido : quem conhece a dilma vota nela; quem conhece o adversário dela…


PROPOSTAS:

Apresentar imediatamente algo nas seguintes linhas:

- Consolidação das leis sociais, tornando impossível o retrocesso das políticas de inclusão social – este é um ponto de programa institucional que o eleitorado entende e não há porque não aplaudir; duvido que o aécio tope.

- Imposto sobre grandes fortunas: esse é o nome concreto de reforma tributária.

- redução gradativa do fator previdenciário – isso tem que ser feito de qualquer maneira: atinge os aposentados, os trabalhadores qualificados e toda a classe média. Inventem uma forma de tornar a medida possível.

mote: quem manteve emprego e salário sabe como desonerar a renda dos assalariados.