quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Cercada por latifúndios, população xavante resiste, mas exige políticas públicas

Sarah Fernandes/ RBA
Programas sociais chegaram aos indígenas, mas não foram suficientes para baixar a mortalidade infantil, combater a desnutrição e garantir atendimento médico para a população.
no Retrato do Brasil
Com altos índices de mortalidade infantil e subnutrição, baixa expectativa de vida e ocorrências de doenças praticamente já erradicadas do restante do país, os xavantes da terra indígena de Parabubure, em Mato Grosso, são um dos desafios para o segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, que tem como prioridade zerar a miséria do país. Cercados por fazendas pujantes pelo agronegócio, que alteraram drasticamente o meio ambiente e o modo de vida tradicional, eles resistem em um bolsão de pobreza, onde os programas sociais dos governos PT chegaram, mas não foram suficientes para resolver em definitivo os problemas.
O Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xavante tem pelo menos 17 mil pessoas, divididas em seis terras indígenas – uma delas Parabubure – e 242 aldeias, que chegam a distar dias de viagem uma das outras. A grande maioria delas não tem energia elétrica nem água encanada. Ao todo, 400 profissionais da saúde, entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, dentistas, agentes de saúde, agentes sanitários e 15 médicos – oito deles do programa Mais Médicos – tem o desafio de promover atenção básica, garantindo o atendimento universal do SUS sem interferir na cultura tradicional xavante. Para isso, pelo menos 80% da equipe é composta por indígenas.
Um dos problemas mais graves é a ainda elevada taxa de mortalidade infantil. Só até agosto, 56 crianças morreram no primeiro ano de vida a cada mil nascidas vivas. No ano passado, foram 48 mortes para cada mil, superando países como Quênia (44), Gana (47), Namíbia (46) e Zimbábue (28). No restante do Brasil, no entanto, o índice caiu em mais de 70%, passando de 62 em 1990 para 14 em 2012, segundo um relatório do Unicef, lançado em setembro do ano passado. “A mortalidade infantil ainda é grande entre os indígenas em todo país e uma das principais causas aqui nos xavantes é a desnutrição”, afirma o coordenador do distrito, Cláudio Rodrigues.
Um dos problemas mais graves é a ainda elevada taxa de mortalidade infantil. Os xavantes mantêm a segunda maior taxa de mortalidade infantil do país, atrás apenas dos também indígenas Yanomanis, que vivem em regiões de difícil acesso na Amazônia. No restante do Brasil, no entanto, o índice caiu em mais de 70%, passando de 62 em 1990 para 14 em 2012, segundo um relatório do Unicef, lançado em setembro do ano passado. “A mortalidade infantil ainda é grande entre os indígenas em todo país e uma das principais causas aqui nos xavantes é a desnutrição”, afirma o coordenador do distrito, Cláudio Rodrigues.
Apesar das dificuldades, os xavantes são muito bem sucedidos na manutenção da sua cultura, que enche os olhos dos brancos: a língua materna e principal é o próprio xavante. O português vem depois, na escola, como segundo idioma. Apesar do uso de roupas já ser comum, exibem orgulhosos adornos tradicionais, como as gravatas de corda e pena, os brincos de madeira e os cordões de palha de buruti enrolados ao redor os pulsos e dos tornozelos.
Os meninos, quando fazem por volta de 13 anos, saem da casa dos pais e vão viver todos juntos na Hö, ou em português, 'Casa do Adolescente', onde irão aprender, durante sete anos, a cultura tradicional xavante. Encerrado o período, ocorre o ritual de furação da orelha, uma das festas mais fortes e tradicionais dos xavantes. A partir daí os meninos recebem um par de brincos e estão prontos para casar e assumir o papel de homens na tribo. Sendo um povo tradicionalmente guerreiro, participarão das árduas corridas com as toras de buriti nas costas e das lutas entre os dois clãs que dividem as aldeias: âwawẽ e po'reza'õno.

 
Crianças: desnutrição é o principal problema
entre os xavantes; Bolsa Família não tem
sido suficiente para suprir necessidades
Foto: Sarah Fernandes
 

“O governo tem que dar mais atenção para o índio. Quem esta destruindo o país é o branco, não o índio. Antigamente, nos anos 1970 e 1980, no rio que corre em frente minha aldeia era fartura de pintado e de todo tipo de peixe. Hoje você não vê nenhum matrinxã (peixe muito comum na região)”, critica a indígena Ângela Rootsitsimro Tsupto, que vive na aldeia Três Marias. “Agora o índio tem que comprar peixe em Campinápolis e está muito caro. Qualquer um é R$ 25 reais. Só quem trabalha, é aposentado ou recebe Bolsa Família consegue, e ainda assim só um pouquinho.”
Os xavantes são originalmente nômades, mas foram forçados a se fixar em uma terra delimitada, cercada por grandes propriedades de terra, ora improdutivas, ora pujantes pelo agronegócio, que alteraram completamente o meio ambiente, secando rios, espantando a caça e empobrecendo o solo. A única alternativa é comprar os alimentos na cidade de Campinápolis, há 60 quilômetros da aldeia mais próxima, chamada São Pedro. O dinheiro vem de trabalhos vinculados a órgãos do governo federal, em geral de professores e agentes comunitários de saúde, ou do Bolsa Família, principal fonte de renda dos indígenas.
O resultado é uma alimentação pobre, baseada em carboidratos industrializados como arroz e farinha, que substituíram comidas tradicionais como farinha de mandioca brava, cará, peixes e feijão e milho xavantes. Nesse cenário, se multiplicaram casos de diabetes e hipertensão e as consequentes decorrências dessas doenças, que vão de amputações à cegueira.
Nos últimos 20 anos, Dilma foi a presidenta que menos desapropriou imóveis para reforma agrária, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra. No seu segundo mandato, a ministra da Agricultura será a polêmica senadora Katia Abreu (PMDB-TO), que há seis anos é presidenta da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e que presidiu a bancada ruralista no Congresso. Ela é considerada o “símbolo do agronegócio” pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
“Hoje é muito difícil de arrumar caça, porque só tem fazenda em volta. Antes era mato, e eles coletavam frutas, mandiocas, batatas e caçavam animais silvestres. O xavante nunca foi de fazer roça. Isso é muito contraditório porque os órgãos do governo quererem fazer arados de terra e plantações enormes, mas isso não é da cultura deles. É um hábito que precisa ser introduzido”, diz a responsável pelo Programa de Saúde Mental do DSEI Xavante, Ana Cristina Ferreira.
 
Apesar das roupas, exibem adornos tradicionais,
como as gravatas de corda e pena,
brincos de madeira e cordões
de palha de buruti Foto: Sarah Fernandes

“O problema dos xavantes é um só: comida. Somos a segunda população do país com maior mortalidade infantil, perdendo apenas para os Yanomamis, mas eles estão em uma região mais isolada, onde só é possível chegar por via área. Aqui é tudo terrestre”, afirmou uma enfermeira que não quis se identificar, durante uma reunião de profissionais de saúde indígena, realizada em agosto. “É muito difícil tratar uma criança desnutrida na aldeia, porque ela precisa de oferta de alimentos que elas não têm. Às vezes levamos a suplementação alimentar, mas, pela cultura xavante, todos os membros da família acabam consumindo e a criança que precisa fica sem”, conta.
Para contornar o problema, a coordenação do distrito sanitário Xavante está organizando encontros com diferentes órgãos do poder público, para discutir a desnutrição infantil entre os indígenas. A principal proposta é desenhar um programa que introduza roçados e criação de animais nas aldeias, munindo os indígenas de conhecimento técnico, ferramentas e sementes. “Dinheiro, cesta básica, Bolsa Família, tudo isso ajuda, mas acredito que não seja a principal solução. O ideal seria um projeto de incentivo ao plantio dentro das reservas e de criação de peixe, galinha e vaca. A ideia é financiar o plantio e promover capacitação de como cultivar a terra, para que depois, com o tempo, eles deem sequência a isso. Terra tem, água tem, o que falta é o incentivo, verba e capacitação”, diz Rodrigues.
As barreiras culturais também impactam, e muito, nos altos índices de mortalidade infantil causada pela subnutrição. Em uma cultura de muita submissão da mulher, as xavantes são entendidas como procriadoras e os filhos pertencem aos homens, que podem inclusive se relacionar com outras mulheres. “Quando há um rompimento na relação, a mulher, para chamar a atenção do marido, abandona o filho. Temos muitos óbitos nutricionais porque a mãe se nega a dar alimento. Nós, como profissionais da saúde, orientamos muito, mas não podemos mudar isso, que é da cultura deles”, diz a chefe da Divisão de Atenção à Saúde Indígena (Diasi), Camilla Pacheco Dutra.
É costume entre as xavantes, por exemplo, não amamentar os bebês com o leite das primeiras 24h após o parto, chamado colostro, por acreditarem que não é um alimento limpo. A criança é entregue a outra mãe para que possa ser alimentado nesse período, o que aumenta o risco de alterações na taxa de açúcar no sangue dos recém-nascidos. “O pai e a mãe às vezes seguram a criança para ela não ser removida para um hospital e tentam salvar na pajelança. Quando eles veem que está muito grave liberam, mas aí muitas vezes já não tem mais jeito”, diz Rodrigues.
As gestações raramente são anunciadas e acabam sendo descobertas quando os enfermeiros, nas visitas, encontram as mulheres com as barrigas já salientes. Assim, é comum que elas acabam perdendo os primeiros meses do pré-natal. A tentativa então é conseguir garantir pelo menos três consultas, uma em cada trimestre da gestação. “Nós não estamos aqui para mudar a cultura deles, mas para nos adequarmos. O fundamental é criar vínculo entre o indígena e a equipe de saúde. Assim, ao invés de mudar a cultura deles a gente pode fazer com que tenham acesso mais fácil a equipe, em uma relação de confiança. Se eles não confiam, não aderem às recomendações médicas”, diz Camila.

Alimentação e saúde

O atendimento médico ocorre principalmente pelo Programa Saúde da Família, que visa prevenir doenças e promover a saúde. Na prática, as ações encontram algumas barreiras: há, por exemplo, um enfermeiro para uma média de 20 aldeias, que chegam a ficar a um dia de distância uma das outras, dificultando as visitas às aldeias. Apesar de receberem um salário maior que o dos demais profissionais, há muita rotatividade entre os brancos que trabalham com saúde indígena, pela dificuldade do trabalho.
“Se formos levar em conta a relação preconizada pelo SUS, de um médico para cada 2 mil pessoas, hoje teríamos o suficiente, mas na prática não é. Estamos em aldeias em regiões de difícil acesso. É diferente ter pessoas aglomeradas em uma cidade e ter uma população espalhada em hectares e hectares de terra”, diz Rodrigues. Uma das estratégias do DSEI Xavante tem sido redistribuir as equipes de profissionais, de forma a impedir que, por exemplo, dois enfermeiros sejam responsáveis por uma área com 32 aldeias enquanto, em outro local, cinco profissionais se dividam em 20 comunidades, como ocorre hoje.
 
Habitação com luz elétrica: exceção
entre 17 mil pessoas,
divididas em 6 terras indígenas,
uma delas Parabure, e 242 aldeias
Foto: Sarah Fernandes
 
“Essas doenças com as quais eles estão sofrendo hoje, como diabetes e hipertensão, provavelmente não seriam um problema se no passado houvesse esse trabalho de prevenção, de acesso à alimentação saudável e de acesso à informação para os indígenas, que são a prioridade da nossa gestão”, diz Ana Cristina.
Nesse cenário, a maioria dos problemas de saúde que já afetaram os xavantes dependendo de especialistas e acessá-los é um desafio. Os indígenas são encaminhados para a Casa do Índio (Casai) de Campinápolis, Barra do Garças ou Brasília, onde ficam hospedados até conseguirem atendimento em um hospital público, uma jornada que pode durar meses e que representa um rompimento dos indígenas com seu modo de vida tradicional e com o sustento da família. Na região, o tempo médio de espera de para uma consulta com oftalmologista chega a dois anos, segundo uma enfermeira, que também não quis se identificar.
“Antigamente a natureza oferecia alimentação saudável; agora o índio mora em uma terra delimitada, cercado pelos fazendeiros e a natureza não está oferecendo mais o que os nossos antigos tinham para se alimentar. O mais problemático é a diabetes, que faz a gente doer tudo lá dentro”, diz a indígena Ângela. “E saúde não é só alimentação. Saúde é ter água encanada, que não temos. Saúde é ter teto digno, mas aqui as casas são todas de palha.”
Em um cenário de precariedade sanitária, doenças praticamente já erradicadas no restante do país continuam se proliferando entre os xavantes: tuberculose, escabiose e leishmaniose, que até agosto somava 26 casos no polo e, em 2013, 45 casos. Outro problema grave são os casos de alcoolismo. De um tempo para cá, o problema deixou de se concentrar apenas nos homens e passou a atingir também as mulheres, inclusive as adolescentes.
Um dos focos mais graves é na aldeia de Sangradouro, onde se colecionam casos de acidentes de carro, violência sexual e física e, sobretudo, perda da identidade cultural e enfraquecimento do modo de vida tradicional, tudo agravado pelo consumo abusivo de álcool. Para combater o problema, estão sendo articuladas ações em conjunto com o Ministério Público, a Polícia Federal, a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Ministério da Educação, as prefeituras da região e o governo do Mato Grosso.
“Lembro sempre de uma fala de um cacique muito sábio, que disse; ‘o povo xavante está ficando burro e cego. O branco quer que o índio beba mesmo. Quer vê-lo adoecer e morrer para tomar suas terras. Como o índio vai defender sua terra bêbado?'”, conta Ana Cristina. “Muitas pessoas pesam que o índio tem que ficar no mato, tem que plantar, tem que caçar, mas não percebem que as culturas evoluem historicamente. Se eu trabalho e tenho salário, por que o índio não pode? As vezes o branco tem a intenção de preservar mais a cultura do índio do que o índio.”

Lava Jato é para destruir Petrobras e empreiteiras

Agora é a judicialização do entreguismo. Esses tucanos …– PHA - Conversa Afiada
Conversa Afiada reproduz a partir do Viomundo:

BENAYON: LAVA JATO MANIPULADA PARA DESTRUIR PETROBRAS E EMPREITEIRAS NACIONAIS


por Adriano Benayon, via Desenvolvimentistas

1. Não é hipérbole dizer que o Brasil – consciente disto, ou não – vive momento decisivo de sua História. Se não quiser sucumbir, em definitivo, à condição de subdesenvolvido e (mal) colonizado, o povo brasileiro terá de desarmar a trama, o golpe em que está sendo envolvido.

2. Essa trama – que visa a aplicar o golpe de misericórdia em qualquer veleidade de autonomia nacional, no campo industrial, no tecnológico e no militar – é perpetrada, como foram as anteriores intervenções, armadas ou não, pelas oligarquias financeiras transnacionais e instrumentalizada por seus representantes locais e pelo oligopólio mediático, como sempre utilizando hipocritamente o pretexto de combater a corrupção.

3. Que isso significa? Pôr o País à mercê das imposições imperiais sem que os brasileiros tenham qualquer capacidade de sequer atenuá-las.

4. Implica subordinação e impotência ainda maiores que as que levaram o País, de 1955 ao final dos anos 70, a endividar-se, importando projetos de infra-estrutura, em pacotes fechados, e permitindo o crescimento da dívida externa, através dos déficits de comércio exterior decorrentes da desnacionalização da economia, e em função das taxas de juros arbitrariamente elevadas e das não menos extorsivas taxas e comissões bancárias para reestruturar essa dívida.

5. Ora, a cada patamar inferior a que o Brasil é arrastado, o império o constrange a afundar para degraus ainda mais baixos, tal como aconteceu nas décadas perdidas do final do Século XX.

6. Na dos anos 80 ocorreu a crise da dívida externa, após a qual o sistema financeiro mundial fez o Brasil ajoelhar-se diante de condições ainda mais draconianas dos bancos “credores”.

7. Na dos anos 90, mediante eleições diretas fraudadas em favor de ganhadores a serviço da oligarquia estrangeira, perpetraram-se as privatizações, nas quais se entregaram e desnacionalizaram, em troca de títulos podres de desprezível valor, estatais dotadas de patrimônios materiais de trilhões dólares e de patrimônios tecnológicos de valor incalculável.

8. A Operação Lava-jato está sendo manipulada com o objetivo de destruir simultaneamente a Petrobrás – último reduto de estatal produtiva com formidável acervo tecnológico – bem como as grandes empreiteiras, último reduto do setor privado, de capital nacional, capaz de competir mundialmente.

9. Quando do tsunami desnacionalizante dos 90, a Petrobrás foi das raras estatais não formalmente privatizadas. Mas não escapou ilesa: foi atingida pela famigerada Lei 9.478, de 1997, que a submeteu à ANP, infiltrada por “executivos” e “técnicos” ligados à oligarquia financeira e às petroleiras angloamericanas.

10. Essa Lei abriu a porta para a entrada de empresas estrangeiras na exploração de petróleo no Brasil, com direito a apropriar-se do óleo e exportá-lo, e propiciou a alienação da maior parte das ações preferenciais da Petrobrás, a preço ínfimo, na Bolsa de Nova York, para especuladores daquela oligarquia, como o notório George Soros.

11. Outros exemplos do trabalho dos tucanos de FHC agindo como cupins devoradores – no caso, a Petrobrás servindo de madeira – foram: extinguir unidades estratégicas, como o Departamento de Exploração (DEPEX); desestruturar a administração; e liquidar subsidiárias, como a INTERBRÁS e numerosas empresas da área petroquímica.

12. Como assinalam os engenheiros Araújo Bento e Paulo Moreno, com longa experiência na Petrobrás, a extinção do DEPEX fez que a empresa deixasse de investir na construção de sondas e passasse a alugá-las de empresas norte-americanas, como a Halliburton, a preços de 300 mil a 500 mil dólares diários por unidade.

13. Os próprios dados “secretos” da Petrobrás, inclusive os referentes às fabulosas descobertas de seus técnicos na plataforma continental e no pré-sal são administrados pela Halliburton. Em suma, a Petrobrás é uma empresa ocupada por interesses imperiais estrangeiros, do mesmo modo que o Brasil como um todo.

14. Além disso, a Petrobrás teve de endividar-se pesadamente para poder participar do excessivo número de leilões para explorar petróleo, determinados pela ANP, abertos a empresas estrangeiras.

15. Para obter apoio no Congresso, os governos têm usado, entre outras, as nomeações para diretorias da Petrobrás. Essa política corrupta e privilegiadora de incompetentes, já antiga, é bem-vinda para o império, e é adotada para “justificar” as privatizações: vai-se minando deliberadamente a empresa, e depois se atribui suas falhas à administração estatal.

16. Tal como agora, assim foi nos anos 80 e 90, com a grande mídia, incessantemente batendo nessa tecla, e fazendo grande parte da opinião pública acreditar nessa mentira.

17. Mas as notáveis realizações da Petrobrás são obras de técnicos de carreira, admitidos por concurso – funcionários públicos, como foram os da Alemanha, das épocas em que esse e outros países se desenvolveram. Entretanto, a mídia servil ao império demoniza tudo que é estatal e oculta a corrupção oriunda de empresas estrangeira, as quais, de resto, podem pagar as propinas diretamente no exterior.

18. Para tirar do mercado as empreiteiras brasileiras, as forças ocultas – presentes nos poderes públicos do Brasil – resolveram aplicar, contra essas empresas, a recente Lei nº 12.846, de 01.08.2013, que estabelece “a responsabilização objetiva administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira (sic).”

19. Seu art. 2o reza: As pessoas jurídicas serão responsabilizadas objetivamente, nos âmbitos administrativo e civil, pelos atos lesivos previstos nesta Lei praticados em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não.”

20. Como as coisas fluem rapidamente, quando se trata de favorecer as empresas transnacionais, a Petrobrás já cuidou de convidar empresas estrangeiras para as novas licitações, em vez das empreiteiras nacionais.

21. A grande mídia, tradicionalmente antibrasileira, noticia, animada, a possibilidade de se facilitar, em futuro próximo, a abertura a grupos estrangeiros do mercado de engenharia e construção civil, mais uma consequência da decisão, contrária aos interesses do País, de considerar inidôneas as empreiteiras envolvidas na operação Lava Jato.

22. Recentemente, nos EUA, foi infligida multa recorde, por corrupção, a um grupo francês, a qual supera de longe os US$ 400 milhões impostos à alemã Siemens. Já das norte-americanas, por maiores que sejam seus delitos, são cobradas multas lenientes, e não está em questão alijá-las das compras de Estado.

23. Já no Brasil – país ocupado e dominado, mesmo sem tropas nem bases estrangeiras – somente são punidas empresas de capital nacional. Fica patente o contraste entre um dos centros do império e um país relegado à condição de colônia.

24. Abalar a Petrobrás e inviabilizar as empreiteiras nacionais implica acelerar o desemprego de engenheiros e técnicos brasileiros em atividades tecnológicas. As empreiteiras são importantes não só na engenharia civil, onde se têm mostrado competitivas em obras importantes no exterior, mas também por formar quadros e gerar de empregos de qualidade nos serviços e na indústria, inclusive a eletrônica e suas aplicações na defesa nacional.

25. Elas estão presentes em: agroindústria; serviços de telefonia e comunicações; geração e distribuição de energia; petróleo; indústria química e petroquímica; construção naval. E – muito importante – estão formando a nascente Base Industrial da Defesa.

26. A desnacionalização da indústria já era muito grande no início dos anos 70 e, além disso, foi acelerada desde os anos 90, acarretando a desindustrialização. Paralelamente, avança, de forma avassaladora, a desnacionalização das empresas de serviços.

27. Este é o processo que culmina com o ataque mortal à Petrobrás e às empreiteiras nacionais, e está recebendo mais um impulso através da política fiscal – que vai cortar em 30% os investimentos públicos – e da política monetária que está elevando ainda mais os juros.

28. Isso implica favorecer ainda mais as transnacionais e eliminar maior número de empresas nacionais, sobre tudo pequenas e médias, provedoras mais de 80% dos empregos no País. De fato, só as transnacionais têm acesso aos recursos financeiros baratos do exterior e só elas têm dimensão para suportar os cortes nas compras governamentais.

29. Como lembra o Prof. David Kupfer, a Petrobrás e seus fornecedores respondem por 20% do total dos investimentos produtivos realizados no Brasil. Só a Odebrecht e Camargo Corrêa foram responsáveis por mais de 230 mil empregos, em 2013.

30. A área econômica do Executivo parece não ver problema em reduzir o assustador déficit de transações correntes (mais de US$ 90 bilhões de dólares em 2013), causando uma depressão econômica, cujo efeito, além de inviabilizar definitivamente o desenvolvimento do País, implica deteriorar a qualidade de vida da “classe média” e tornar ainda mais insuportáveis as condições de vida de mais da metade da população, criando condições para a convulsão social.

31. Por tudo isso, há necessidade de grande campanha para virar o jogo, com a participação de indivíduos, capazes de mobilizar expressivo número de compatriotas, e de entidades dispostas a agir coletivamente.

Adriano Benayon é doutor em economia, pela Universidade de Hamburgo, e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.

SP tucana explora o 3º. volume morto

A incapacidade, a cumplicidade, o mau-caratismo e tudo o que se tornou comum no PiG blindam os tucanos.
no Conversa Afiada
De Gilvan Curvelo, no face do C Af
 Do Tijolaço:

Este blog, há um ano, foi o primeiro a tratar como dramática a situação da água em São Paulo e a dizer que deveriam ser adotadas medidas de prudência, em lugar da simples fé em que viriam chuvas abundantes.

Depois da eleição, vivi a ilusão de que ao cessar a blindagem política a Geraldo Alckmin, a imprensa paulista iria, finalmente, dar -sem trocadilho – profundidade á análise do que está acontecendo com o abastecimento da Grande São Paulo.

Infelizmente não deu e não diz também que, dependendo da chuva do final desta semana, na próxima a Sabesp entrará na terceira cota de volume morto, a lama da lama da lama.

Não porque  já tenha acabado a segunda cota, mas porque as condições de operação deixam o reservatório do Atibainha perto do limite autorizado da segunda cota, com apenas 65 centímetros acima da marca autorizada pela Agência Nacional de Águas.

Um número assustador, porque já é  a entrada no que poderia ser chamado de “beira do zero”, mesmo com bombeamento.

A terceira cota, na faixa de 60 milhões de litros, levará a curva de acumulação do reservatório ao ponto onde ela “despenca” para o nada, como o fundo de um funil.

O Jacareí já foi autorizado a chegar a este ponto onde a acumulação tende ao zero.

Os gráficos do post,confeccionados a partir de dados oficiais e marcando o já pouco que se tinha em 31 de janeiro passado como início,  mostram como é o restinho de água que se vai aproveitar.

Não adianta a “mágica” da Sabesp de dizer que restam “tantos por cento” do volume do Cantareira, um número que subitamente cresce com a incorporação da água de fundo.

O volume da estatística sobe, mas a água desce, implacavelmente.

Desde fevereiro, sem contar os demais reservatórios, São Paulo perdeu cerca de 450 milhões de litros de água em suas reservas – “vivas” (por gravidade) ou “mortas” (por bombeamento) – o mesmo que todo o volume do Lago Paranoá, a imensidão que contorna Brasília.

E continua perdendo.

Entre 31 de outubro e 30 de novembro de 2013, o Cantareira forneceu a São Paulo 50 milhões de litros de água, além da quantidade fornecida pela chuva, convertida em vazão dos rios que o formam, outros 52 milhões de litros. No total, 102 bilhões de litros.

No mesmo período de 2014, só forneceu 36 milhões de litros – 16 milhões das chuvas e 20 milhões das reservas.

Houve, portanto, uma redução de 64% no envio de água proveniente do Cantareira aos consumidores paulistanos.

Parte dele, é claro, foi compensada pela redução de consumo.

Outra, aliviada pelo sobreuso dos reservatórios do Alto Tietê e Guarapiranga.

Como a adição de outros sistemas ao abastecimento são mensuráveis, não haveria dificuldade alguma para que os jornais pudessem dar a dimensão do racionamento a que, na prática, estão submetido os paulistanos.

Quanto é o volume de água ofertado à população diante do que era antes das “restrições hídricas”, que é o nome pelo qual o governador paulista gosta de chamar a falta d’água.

São Paulo está condenada a ficar sem água, salvo por um milagre.

Se, no caso do sistema elétrico, uma sonhada melhora nas chuvas ainda permite esperar por  problemas menores, no caso do abastecimento de água de São Paulo, não é mais sonho, é devota oração.

A terceira cota do “volume morto” é o coma terminal de um sistema que entrou em colapso há quase um ano, que as chuvas (Deus nos ouça!) de verão podem prolongar, mas não vão reverter.

O “não vai faltar água” de Alckmin foi “comprado” pela imprensa paulista e vendido à população.

Por incapacidade, por cumplicidade, por mau-caratismo e tudo o mais que se tornou comum na mídia brasileira.

Furo: Stedile reproduz encontro com Papa

Francisco: latifúndio é inaceitável eticamente !
no Conversa Afiada
Stedile com o Papa: "ele se considera um peronista"

Nesta quarta-feira (21), em entrevista a blogueiros sujos, João Pedro Stedile revelou detalhes do encontro com o Papa Francisco, ocorrido em novembro de 2014. Segundo o líder do Movimento Sem Terra (MST), o religioso admitiu ser “inaceitável” o latifúndio.

“O latifúndio é inaceitável eticamente aos olhos dos valores e doutrinas que pregamos. Nenhuma família pode estar sem casa, sem moradia digna. Nenhum sem terra pode estar sem terra. O latifúndio ser distribuído é uma posição ética”, disse o Papa no encontro.
“Ninguém pode se arvorar ao direito de se apropriar de um bem da natureza”, teria dito o Papa. “Ele vai fazer encíclica sobre ecologia e mudanças climáticas”, contou Stedile.

Quanto à reforma agrária, para Stedile, a discussão mudou o sentido no século XXI. “Agora, o latifúndio mudou de cara. Por trás da agricultura, está as empresas transnacionais, que controlam o comércio e a produção e estão os bancos que as financiam. É esse modelo que se chama agronegócio”, afirmou usar como exemplo o banqueiro Daniel Dantas. “Ele comprou no sul do Pará, com dinheiro americano, 600 mil hectares”.

“Todas as reformas agrárias ao longo do século XX levaram ao desenvolvimento. Estados Unidos, ainda no século XIX e o Japão após a segunda guerra, por exemplo”, completou Stedile.
E criticou a imprensa. “Temos dificuldade de pautar a reforma agrária porque a imprensa é hegemonizada pelo agronegócio. No ano passado o MST fez duas das suas maiores ocupações. Não saiu uma linha na imprensa”.

“No Brasil, desde Celso Furtado tenta-se a reforma agrária. Ele faria a mais generosa delas”, confessou, para completar: “Elegemos Lula e a reforma não saiu” Apesar da crítica, Stedile elogiou os anos de “neodesenolvimento” com o Presidente Lula e com a Presidenta Dilma.

No evento, o MST lançou o seu novo site. “Internet é um instrumento importante de comunicação. A intenção é democratizar tecnologia para outros movimentos”, concluiu.


Leia outras frases:
“A democracia no Brasil está sequestrada. Dez empresas elegeram 70% dos parlamentares. Precisamos da Reforma Política”
“Depois de conquistada a terra, a luta continua. O nosso desafio é a produção de alimentos agroecológicos” 

“Temos que priorizar a nossa agroecologia para a alimentação escolar” 

Gostamos (nós, da esquerda) de fazer discursos, mas somos ruins de comunicação de massa.

O tema (reforma agrária), que permeou o século XX, mudou o seu sentido. A terra deve ser para quem nela trabalhe foi lançado pelo Zapata.

A burguesia nacional tinha interesse na reforma agrária.

A eleição do Papa é resultado da crise da Igreja

Construímos um encontro do papa com movimentos sociais

Ele se recusa que beije a mão dele.

É uma figura sui generis para o cargo que ocupa

Ele participou da discussão

São Paulo ampliou em 8 anos o monocultivo da cana para 6 milhões de hectares  (por isso não chove lá)

Manifestação junho 2013 não mobilizou trabalhador

Papa se considera peronista

Ligado trabalhadores urbanos 

Tentar encontro mundial de movimentos populares 200 pessoas

Emocionado – se recusa beijar mão

Espaço dos sínodos – nunca entrei nessa sala do sínodo

É inaceitável uma família sem moradia

Nunciatura da Bolívia foco oposição Evo

Evo pela primeira vez encontrou Papa
Programa (de desenvolvimento do Governo) se esgotou E é dependente exterior
Brasil é único lugar do mundo em que trabalhador paga para trabalhar

Dez empresas financiaram parlamentares – democracia sequestrada !

Dá os Lava Jato da vida !

Steinbruch jantava no Natal com Mercadante e agora foi pra Oposição

Governo tem que vir para a esquerda
Estamos convictos de que devemos reflorestar esse país. É o bolsa-árvore.
É possível, sim, a Tarifa Zero
O ópio do povo nos dias de hoje é a Televisão
A contradição do agronegócio é que ele é antissocial. Eliminou mais de 5 milhões de empregos
O agronegócio ainda prejudica o meio ambiente e contamina os alimentos com agrotóxicos
No Brasil a cada ano surgem 500 Mil novos casos de cancer devido aos venenos no campo
O nosso papel é colocar o povo na rua. Essa é a melhor maneira de politizar as massas
Estamos no esforço de construção de uma grande frente de esquerda para defender os direitos conquistados

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Arquiteto cria contêiner que se transforma em residência sustentável

Gilberto Dimenstein do  - no Catraca Livre

Buscando novas soluções para pensar o espaço urbano, o arquiteto australiano Dan Sparks criou a G.Pod, uma residência móvel e sustentável, projetada a partir de um contêiner marítimo reaproveitado.
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A casa portátil, com aberturas automáticas e compartimentos retráteis, pode ser transportada com todos seus componentes internos para facilitar a montagem no local de instalação. Além disso, o telhado da residência é composto por terra e vegetação para plantio de uma horta.
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Quando a parede frontal é aberta, ela se transforma em uma varanda coberta para o usuário, enquanto a parede de trás se expande para aumentar o espaço interno e aproveitar a iluminação e ventilação naturais.
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A G-Pod, além de ser uma alternativa portátil e prática, diminui os impactos ambientais da construção e utiliza somente materiais renováveis e orgânicos.

Assista ao vídeo:


Boaventura: a Europa à beira do estado de sítio

POR BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS - no Outras Palavras
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A liberdade de expressão e seus limites — inclusive no “Charlie Hebdo”… “Valores ocidentais” ou hipocrisia? EUA alimentam o fundamentalismo islâmico. As vidas festejadas e as vidas esquecidas
Por Boaventura de Sousa Santos
O crime hediondo que foi cometido contra os jornalistas e cartunistas do Charlie Hebdotorna muito difícil uma análise serena do que está envolvido neste ato bárbaro, do seu contexto e seus precedentes e do seu impacto e repercussões futuras. No entanto, esta análise é urgente, sob pena de continuarmos a atear um fogo que amanhã pode atingir as escolas dos nossos filhos, as nossas casas, as nossas instituições e as nossas consciências. Eis algumas das pistas para tal análise.
A luta contra o terrorismo, tortura e democracia. Não se podem estabelecer ligações diretas entre a tragédia do Charlie Hebdo e a luta contra o terrorismo que os EUA e seus aliados travam desde o 11 de setembro de 2001. Mas é sabido que a extrema agressividade do Ocidente tem causado a morte de muitos milhares de civis inocentes (quase todos muçulmanos) e tem sujeitado a níveis de tortura de uma violência inacreditável jovens muçulmanos contra os quais as suspeitas são  meramente especulativas, como consta do recente relatório apresentado ao Congresso norte-americano. E também é sabido que muitos jovens islâmicos radicais declaram que a sua radicalização nasceu da revolta contra tanta violência impune.
Perante isto, devemos refletir se o caminho para travar a espiral de violência é continuar seguindo as mesmas políticas que a têm alimentado, como é agora demasiado patente. A resposta francesa ao ataque mostra que a normalidade constitucional democrática está suspensa e que um estado de sítio não declarado está em vigor, que os criminosos deste tipo, em vez de presos e julgados, devem ser abatidos, que este fato não representa aparentemente nenhuma contradição com os valores ocidentais. Entramos num clima de guerra civil de baixa intensidade. Quem ganha com ela na Europa? Certamente não o partido Podemos, na Espanha, ou o Syriza, na Grécia.
TEXTO-MEIO
A liberdade de expressão. É um bem precioso mas tem limites, e a verdade é que a  esmagadora maioria deles são impostos por aqueles que defendem a liberdade sem limites sempre que é a “sua” liberdade a sofrê-los. Exemplos de limites são imensos: se na Inglaterra um manifestante disser que David Cameron tem sangue nas mãos, pode ser preso; na França, as mulheres islâmicas não podem usar o hijab; em 2008 o cartunista Maurice Siné foi despedido do Charlie Hebdo por ter escrito uma crônica alegadamente antissemita. Isto significa que os limites existem, mas são diferentes para diferentes grupos de interesse. Por exemplo, na América Latina, os grandes meios de comunicação, controlados por famílias oligárquicas e pelo grande capital, são os que mais clamam pela liberdade de expressão sem limites para insultar os governos progressistas e ocultar tudo o que de bom estes governos têm feito pelo bem-estar dos mais pobres.
Aparentemente, o Charlie Hebdo não reconhecia limites para insultar os muçulmanos, mesmo que muitos dos cartuns fossem propaganda racista e alimentassem a onda islamofóbica e anti-imigrante que avassala a França e a Europa em geral. Para além de muitos cartuns com o Profeta em poses pornográficas, um deles, bem aproveitado pela extrema-direita, mostrava um conjunto de mulheres muçulmanas grávidas, apresentadas como escravas sexuais do Boko Haram,  que, apontando para a barriga, pediam que não lhes fosse retirado o apoio social à gravidez. De um golpe, estigmatizava-se o Islã, as mulheres e o estado de bem-estar social. Obviamente, que, ao longo dos anos, a maior comunidade islâmica da Europa foi-se sentindo ofendida por esta linha editorial, mas foi igualmente imediato o seu repúdio por este crime bárbaro. Devemos, pois, refletir sobre as contradições e assimetrias na vida vivida dos valores que alguns creem  ser universais.
A tolerância e os “valores ocidentais”.  O contexto em que o crime ocorreu é dominado por duas correntes de opinião, nenhuma delas favorável à construção de uma Europa inclusiva e intercultural. A mais radical é frontalmente islamofóbica e anti-imigrante. É a linha dura da extrema direita em toda a Europa e da direita, sempre que se vê ameaçada por eleições próximas (o caso de Antonis Samara na Grécia). Para esta corrente, os inimigos da civilização europeia estão entre “nós”, odeiam-nos, têm os nossos passaportes, e a situação só se resolve vendo-nos nós livres deles. A pulsão anti-imigrante é evidente. A outra corrente é a da tolerância. Estas populações são muito distintas de nós, são um fardo, mas temos de as “aguentar”, até porque nos são uteis; no entanto, só o devemos fazer se elas forem moderadas e assimilarem os nossos valores. Mas o que são os “valores ocidentais”?
Depois de muitos séculos de atrocidades cometidas em nome destes valores dentro e fora da Europa — da violência colonial às duas guerras mundiais — exige-se algum cuidado e muita reflexão sobre o que são esses valores e por que razão, consoante os contextos, ora se afirmam uns, ora se afirmam outros. Por exemplo, ninguém põe hoje em causa o valor da liberdade, mas já o mesmo não se pode dizer dos valores da igualdade e da fraternidade. Ora, foram estes dois valores que fundaram o Estado social de bem-estar que dominou a Europa democrática depois de segunda guerra mundial. No entanto, nos últimos anos, a proteção social, que garantia níveis mais altos de integração social, começou a ser posta em causa pelos políticos conservadores e é hoje concebida como um luxo inacessível para os partidos do chamado “arco da governabilidade”. A crise social causada pela erosão da proteção social e pelo aumento do desemprego, sobretudo entre jovens, não será lenha para a fogueira do radicalismo por parte dos jovens que, além do desemprego, sofrem a discriminação étnico-religiosa?
O choque de fanatismos, não de civilizações. Não estamos perante um choque de civilizações, até porque a cristã tem as mesmas raízes que a islâmica. Estamos perante um choque de fanatismos, mesmo que alguns deles não apareçam como tal por nos serem mais próximos. A história mostra como muitos dos fanatismos e seus choques estiveram relacionados com interesses econômicos e políticos que, aliás, nunca beneficiaram os que mais sofreram com tais fanatismos. Na Europa e suas áreas de influência é o caso das cruzadas, da Inquisição, da evangelização das populações coloniais, das guerras religiosas e da Irlanda do Norte. Fora da Europa, uma religião tão pacífica como o budismo legitimou o massacre de muitos milhares de membros da minoria tamil do Sri Lanka; do mesmo modo, os fundamentalistas hindus massacraram as populações muçulmanas de Gujarat em 2003 e o eventual maior acesso ao poder que terão conquistado recentemente com a vitória do Presidente Modi faz prever o  pior; é também em nome da religião que Israel continua a impune limpeza étnica da Palestina e que o chamado califado massacra populações muçulmanas na Síria e no Iraque.
A defesa da laicidade sem limites numa Europa intercultural, onde muitas populações não se reconhecem em tal valor, será afinal uma forma de extremismo? Os diferentes extremismos opõem-se ou articulam-se? Quais as relações entre os jihadistas e os serviços secretos ocidentais? Por que é que os jihadistas do Emirato Islâmico, que são agora terroristas, eram combatentes de liberdade quando lutavam contra Kadhafi e contra Assad? Como se explica que o Emirato Islâmico seja financiado pela Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Turquia, todos aliados do Ocidente? Uma coisa é certa: pelo menos na última década, a esmagadora maioria das vítimas de todos os fanatismos (incluindo o islâmico) são populações muçulmanas não fanáticas.
O valor da vida. A repulsa total e incondicional que os europeus sentem  perante estas mortes devem-nos fazer pensar por que razão  não sentem a mesma repulsa perante um número igual ou muito superior de mortes inocentes em resultado de conflitos que, no fundo, talvez tenham algo a ver com a tragédia do Charlie Hebdo? No mesmo dia, 37 jovens foram mortos no Yemen num atentado a bomba. No ano passado, a invasão israelense causou a morte de 2000 palestinos, dos quais cerca de 1500 civis e 500 crianças. No México, desde 2000, foram assassinados 102 jornalistas por defenderem a liberdade de imprensa e, em Novembro de 2014, 43 jovens, em Ayotzinapa. Certamente que a diferença na reação não pode estar baseada na ideia de que a vida de europeus brancos, de cultura cristã, vale mais que a vida de não europeus ou de europeus de outras cores e de culturas assentes noutras religiões ou regiões. Será então porque estes últimos estão mais longe dos europeus ou são pior conhecidos por eles? Mas o mandato cristão de amar o próximo permite tais distinções? Será porque os grande media e os líderes políticos do Ocidente trivializam o sofrimento causado a esses outros, quando não os demonizam ao ponto de fazerem pensar que eles não merecem outra coisa?
TEXTO-FIM

Estados Unidos - Balanço de uma presidência negra

por Desmond King - no site do Le Monde Diplomatique Brasil

por José Gilbert Arruda Martins

O imobilismo de Obama frente a questões sociais, do aumento da pobreza, do aumento dos "moradores" de rua, do aumento da população carcerária - a maior do planeta com mais de 2,2 milhões de presos -, e, principalmente, da questão negra nos EUA,  é um exemplo claro sobre quem realmente detém o poder naquele país.

Os detentores reais do poder são grupos brancos, na sua maioria super-ricos, descendentes de forma direta ou indireta dos grupos de anglo-saxões que atravessaram o atlântico no século XVII.

Grupos, além de muito ricos, defensores da violência e da manutenção de seus poderes a qualquer custo.

O cenário político criado pela eleição de Obama, que não avançou em quase nada nas questões negra e sociais em geral, era mais ou menos esperado. Todos sabiam que, mesmo sendo de origem negra, o presidente não poderia ousar mudar.

Se analisarmos as questões da política externa, quase nada foi feito de diferente dos presidentes brancos - unilateralismo, defesa do uso da força, "nossos interesses primeiro, doa a quem doer" etc.

Talvez seja uma lição aos Movimentos Negros do Brasil. Nosso país é profundamente racista, conservador e possui uma das elites mais ricas e atrasadas em questões raciais, de gênero, de distribuição de renda do mundo, não tenhamos ilusões, o que acontece nos Estados Unidos da América pode e deve ser aplicado aqui.

"às armas", como defendeu a capa de uma revista ultra-conservadora aqui no país. Com que armas atacar uma estrutura que dura mais de 500 anos e que mantém privilégios dignos da Casa Grande Colonial? Que se coloca contra a lei dos trabalhadores domésticos, contra as cotas raciais, contra o Programa Bolsa Família, e, que nunca aceitou a "Lei Áurea"?


Estados Unidos
Balanço de uma presidência negra

Duas ondas de violentos protestos sacudiram Ferguson, no estado de Missouri, durante os cinco últimos meses. A primeira em agosto, quando Michael Brown, um afro-americano de 18 anos, foi morto por um policial, branco como a esmagadora maioria dos policiais da cidade, fato que ateou fogo nessa periferia majoritariamente negra. A segunda em novembro, depois da decisão de um júri popular de não perseguir o autor dos tiros, Darren Wilson. O movimento se estendeu então ao conjunto do país, de São Francisco a Nova York, passando por Chicago, Seattle, Los Angeles e um monte de pequenas cidades. Carros em chamas, pilhagens noturnas, policiais brancos em veículos blindados enfrentando manifestantes negros desarmados: as imagens dessa revolta urbana percorreram o mundo, esfolando o mito da “América pós-racial” que teria decorrido da chegada de Barack Obama à Casa Branca em 2008.
O assassinato de um jovem negro por um policial branco, no entanto, não tem nada de extraordinário nos Estados Unidos. Em 2013, segundo o FBI, dos 461 “homicídios justificados” cometidos pela polícia, um quarto teve por vítima um afro-americano, ou seja, um morto a cada três dias. Os negros, porém, só representam 12% da população total norte-americana. A desproporção é ainda mais flagrante na prisão, onde eles constituem 38% dos 2,2 milhões de detentos. Essa cifra traduz ao mesmo tempo sua fragilização socioeconômica e a propensão dos policiais a controlar prioritariamente os afro-americanos.
Apesar da igualdade de direitos entre os cidadãos, estabelecida nos anos 1960, seguida da emergência de uma classe média negra e da eleição de um presidente afro-americano, nada mudou em relação ao fato de que os Estados Unidos continuam atravessados por divisões raciais. Todos os indicadores confirmam isso. A grande recessão de 2008-2009 teve como efeito aprofundar as desigualdades raciais. Como eram mais visados que os brancos pelos vendedores de créditos subprimes, os afro-americanos e os hispânicos foram mais atingidos pelos confiscos imobiliários. Vivendo em situação mais precária, eles ficaram também mais expostos ao aumento do desemprego. Assim, segundo dados do Bureau of Labor Statistics [Escritório de Estatísticas do Trabalho], 5,4% dos brancos estavam sem emprego em agosto de 2014, contra 11,4% dos afro-americanos. Em 2012, a renda média dos lares brancos se elevava a US$ 57.009, enquanto a dos lares negros chegava a US$ 33.321.
A segregação residencial também não diminuiu. Ao longo dos últimos quarenta anos, explica o sociólogo Robert Sampson falando de Chicago, “nenhum bairro majoritariamente negro se tornou majoritariamente branco”, ao contrário de um terço dos bairros brancos, que se tornou majoritariamente negro.1 Essa constatação se verifica em todo o país. Entre 1990 e 2000, “milhares de bairros com predominância branca passaram a ser habitados principalmente por afro-americanos. No entanto, de cerca de 65 mil bairros com predominância negra, só uma dezena passou a ser habitada por uma população majoritariamente branca. Assim, de maneira geral, a estratificação racial é profundamente estável”, explica o sociólogo. Essa estratificação repercute nas relações sociais, já que a maior parte dos norte-americanos brancos declara não ter nenhum amigo negro, diferentemente dos afro-americanos, que, por sua vez, declaram ter amigos brancos.2

Uma questão individual ou coletiva?
Os anos 1960, porém, levavam a prever um cenário diferente. Após várias décadas de protesto, o movimento dos direitos civis conquistou a adoção de uma série de medidas decisivas. A lei dos direitos civis de 1964 (Civil Rights Act) instaurou a mistura racial em todos os lugares públicos e permitiu a adoção de medidas chamadas de “ação afirmativa” (affirmative action). Em 1965, a lei sobre o direito de voto (Voting Rights Act) dotou o Departamento de Justiça de um poder de controle ampliado sobre os procedimentos de voto e inscrição nas listas eleitorais em cinquenta estados do país. Qualquer mudança devia ser aprovada pelo governo federal, fiador da igualdade. A lei sobre a educação de 1965 (Higher Education Act) permitiu a concessão das subvenções excepcionais nos distritos escolares mais pobres, majoritariamente habitados por afro-americanos, enquanto o sistema de transporte foi reformado para permitir às crianças negras serem escolarizadas longe da escola para a qual estariam naturalmente designadas, favorecendo a miscigenação racial. Essas medidas de discriminação positiva não eram concebidas como uma forma de esmola em relação às minorias, mas como um sistema de reparação das injustiças históricas que elas haviam sofrido.
Essas reformas só puderam vingar ao preço de uma longa batalha política entre os defensores dos direitos civis e seus opositores. Se o primeiro grupo era composto principalmente de democratas, e o segundo, de republicanos, a fronteira, no entanto, estava longe de ser hermética: cada coalizão incluía membros dos dois partidos. Assim, à imagem do senador Strom Thurmond, da Carolina do Sul, democratas conservadores, eleitos sobretudo no sul do país, viram-se aliados a republicanos para defender a segregação. Inversamente, republicanos progressistas, como o governador do estado de Nova York, Nelson Rockefeller, enfrentavam seu próprio partido para promover uma maior igualdade racial.
Desde a adoção das leis sobre os direitos civis, as linhas de ruptura da política norte-americana foram deslocadas. A questão das desigualdades raciais foi objeto de duas abordagens antagonistas, que recortam exatamente os contornos dos partidos políticos. Aos olhos dos democratas, apenas políticos voluntaristas, que levam em conta especificamente a dimensão racial, podem preencher essas disparidades. Essa ideia é partilhada por uma grande quantidade de associações de defesa das minorias, de sindicatos, mas também de grandes empresas que valorizam a miscigenação de seus funcionários. Na Suprema Corte, a juíza Sonia Sotomayor (indicada por Obama) pleiteia, por exemplo, “políticas sensíveis à raça” em matéria de emprego, educação, habitação etc.

Sem negar as discriminações que atingem os negros, os republicanos consideram que as leis sobre direitos civis tornaram inútil qualquer intervenção específica do Estado em direção das minorias. Estando a igualdade de oportunidades assegurada, tratar-se-ia agora de um combate individual, e não coletivo. Enquanto assinava, em novembro de 1983, uma lei instituindo um novo feriado em homenagem a Martin Luther King – lei que ele havia rudemente combatido –, o presidente Ronald Reagan parafraseou o célebre pastor: é preciso “julgar um homem com base em sua personalidade, não na cor da sua pele”. Esse princípio, que faz do indivíduo a fonte do sucesso e nega a pesada herança das décadas de segregação, encontra-se na base da coalizão dos partidários de políticas “indiferentes à cor da pele”.
Há 30 anos essa coalizão vem ganhando terreno incessantemente, em particular no seio da Suprema Corte, na qual ela reúne agora cinco dos nove juízes. As decisões tomadas nos últimos anos são afetadas por isso. Em junho de 2009, o acórdão Ricci versusDeStefano deu razão aos dezenove bombeiros (dezessete brancos e dois hispânicos) que reclamavam de não terem sido promovidos por causa das medidas de discriminação positiva em favor dos negros. Em junho de 2009, o acórdão Shelby County (Alabama)versus Holder invalidou o artigo 5o da lei sobre o direito de voto de 1965, que obrigava os estados a conseguir a aprovação do governo federal antes de modificar seu código eleitoral.3 A discriminação positiva nas universidades também foi objeto de um ataque generalizado. Em junho de 2013, a Suprema Corte decidiu a favor de Abigail Fisher, uma estudante branca que se queixava de ter sido recusada pela Universidade do Texas, enquanto candidatos menos qualificados que ela, mas pertencentes a uma minoria, tinham sido contratados. O declínio da affirmative action4 teve um efeito negativo sobre a condição dos afro-americanos. Em 2010, 74% das crianças negras estavam inscritas numa escola frequentada na maioria por alunos negros. Uma taxa comparável à de 1968 (77%) e largamente superior à de 1980 (62%).

O fator Obama
Em 2008, durante a campanha à Casa Branca, Obama se expressou várias vezes sobre os problemas raciais. Na Filadélfia, em um discurso muito difundido pela imprensa, ele pediu sobretudo um “sistema de justiça penal equitativa”. Ele conclamou os negros a basear suas reivindicações nas “aspirações maiores de todos os norte-americanos” e os brancos a levar em conta a “herança da segregação e suas persistências, menos manifestas que no passado, mas ainda assim reais”. Muitos acreditaram que, se fosse eleito, Obama colocaria em prática medidas para melhorar a sorte das minorias.
No entanto, passados seis anos no Salão Oval, o presidente evita cuidadosamente abordar essa questão, com medo de ser acusado por seus detratores de favorecer sua própria comunidade. Uma das raras exceções a esse silêncio foi a “cúpula da cerveja”, que aconteceu na Casa Branca em julho de 2009. Obama convidou o universitário afro-americano Henry Louis Gates e o sargento branco James Crowley para ter uma conversa sobre as discriminações raciais. Suspeito de cometer um assalto quando na verdade apenas voltava para casa, o primeiro havia sido detido sem nenhuma precaução pelo segundo...
Em fevereiro de 2012, a morte de Trayvon Martin, um afro-americano de 17 anos, por um latino-americano que organizava rondas de vigilância em seu bairro levou Obama a se manifestar mais uma vez. “Quando Trayvon Martin foi morto, eu disse que ele podia ser meu filho. Em outras palavras, Trayvon Martin podia ter sido eu há 35 anos. [...] Muito poucos afro-americanos não passaram pela experiência de serem seguidos quando faziam compras numa grande loja. Também já passei por isso. Muito poucos afro-americanos não viveram a experiência de tomar o elevador e ver uma mulher apertar a carteira nervosamente e prender a respiração até poder sair”, explicou com emoção.
O presidente se mostrou nitidamente menos lírico após a morte de Brown em agosto último. Ele se recusou a ir até o local, ainda que os manifestantes o convidassem, e se contentou em fazer declarações prudentes, dizendo que esperava as conclusões do Departamento de Justiça. Após a decisão do júri popular, ele chegou a condenar a violência dos que protestavam. “Queimar prédios, pôr fogo em carros, destruir bens, colocar pessoas em perigo: não há nenhuma desculpa para isso, são atos criminosos. Não tenho nenhuma simpatia por aqueles que destroem sua própria comunidade”, declarou sem propor uma resposta política à crise que atingia o país.
Longe de ter acalmado ou apaziguado as divisões raciais, o presidente Obama talvez tenha contribuído para exacerbá-las. O especialista em política Michael Tesler estuda a evolução das pesquisas de opinião desde 2008. Ele mostrou que, sobre vários assuntos (reforma da saúde, indicação de Sotomayor para a Suprema Corte, impostos...), a opinião dos norte-americanos é determinada por sua percepção de Obama, ela mesma moldada pela cor da pele.5 Por exemplo, em março de 2012, uma pesquisa realizada em Maryland mostrava que 56% dos afro-americanos do estado se opunham à adoção de uma lei autorizando o casamento homossexual, contra 39% que a apoiavam. No mês seguinte, o presidente se pronunciou em favor dessa lei e, em maio, uma nova pesquisa foi realizada. Os resultados tinham se invertido: 55% dos afro-americanos de Maryland declaravam apoiar o casamento gay e 36% se opunham a ele. Paralelamente, as taxas de aprovação entre os brancos haviam diminuído.6 Assim, afirma o estudioso, a eleição de Obama contribuiu para dar uma conotação racial a temas que até então estavam desprovidos dela.
A polarização dos partidos políticos e do eleitorado torna altamente improvável o retorno a um programa ambicioso de luta contra a segregação e a discriminação raciais. Os avanços dos anos 1965-1975 se apoiavam numa certa colaboração entre os dois grandes partidos políticos e repousavam sobre o voluntarismo público. Os republicanos, que hoje rejeitam qualquer intervenção do Estado, ocupam a maioria das cadeiras de governador (28 em 50) e dominam a maior parte das assembleias estaduais, assim como as duas câmaras do Congresso federal. Eles podem bloquear qualquer medida suscetível de favorecer especificamente as minorias. Nesse contexto, apenas medidas locais, adotadas de forma fragmentada, parecem possíveis hoje. Em Nova York, o prefeito Bill de Blasio lançou-se na construção de habitações sociais cuja atribuição deveria favorecer a integração racial. Em Minneapolis, uma astuciosa redistribuição dos distritos escolares permitiu diminuir a segregação nas escolas. As manifestações provocadas pela morte de Brown mostram que esse tipo de medida não é suficiente, mas também que existem as bases de um movimento político favorável a uma reforma radical da ordem racial norte-americana.

Desmond King
Desmond King é professor da Universidade de Oxford. Autor, com Roger M. Smith, de Still a house divided: race and politics in Obama’s America [Uma casa ainda dividida: raça e política nos Estados Unidos de Obama], Princeton University Press, 2013


Ilustração: Reuters/ Andrew Kelly

1  Robert J. Sampson, Great American city: Chicago and the enduring neighborhood effect[Grande cidade norte-americana: Chicago e o duradouro efeito da vizinhança], University of Chicago Press, 2012.
2  Robert P. Jones, “Self-segregation: why it is so hard for whites to understand Ferguson” [Autossegregação: por que é tão difícil para os brancos entender Ferguson], The Atlantic, Boston, 21 ago. 2014.
3  Ler Brentin Mock, “Retour feutré de la discrimination électorale” [Retorno silencioso da discriminação eleitoral], Le Monde Diplomatique, out. 2014.
4  Ler John D. Skrentny, “L’‘affirmative action’ américaine en déclin” [A affirmative actionnorte-americana em declínio], Le Monde Diplomatique, maio 2007.
5  Michael Tesler, “The spillover of racialization into health care: how president Obama polarized public opinion by racial attitudes and race” [O transbordamento da racialização nos cuidados de saúde: como o presidente Obama polarizou a opinião pública por meio de atitudes raciais e raça], American Journal of Political Science, n.56, Malden (Massachusetts), 2012.
6          Sasha Issenberg, “It all comes down to race” [Tudo se resume na raça], 1o jun. 2012. Disponível em: www.slate.com
06 de Janeiro de 2015
Palavras chave: ObamaEuamovimento negromanifestaçõesEricGarnerMichaelBrownNova Yorque

Inscrições para o Sisu começam nesta segunda-feira (19)

Por Tomaz - no site do Sinpro-DF

Nesta segunda-feira (19), começam as inscrições para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Podem participar aqueles que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014 e não tiraram nota zero na redação. As inscrições serão feitas online na página do Sisu até o dia 22.
A lista de cursos que serão ofertados neste processo seletivo está disponível na página do Sisu. Ao todo serão 205.514 vagas no ensino superior público em 5.631 cursos de 128 instituições.
Neste ano, o número de vagas aumentou 20% em relação ao processo seletivo do primeiro semestre de 2014. Houve um acréscimo de vagas no curso de medicina que passou de 2.925 na primeira edição de 2014, para 3.758 no mesmo período de 2015.
Os cursos de engenharia também tiveram ampliação na oferta de vagas de um ano para o outro, passando de 25.128 em 2014 para 30.749 em 2015.
As instituições deverão reservar, no mínimo, 37,5% das vagas para os estudantes de escolas públicas, cumprindo a Lei de Cotas (Lei 12.711/2012).
De acordo com o MEC, do total de 99 instituições federais participantes do sistema (59 universidades e 40 instituições de educação profissional), 68 já reservam 50% ou mais vagas para candidatos provenientes de escolas públicas.
Esta edição do Sisu terá apenas uma chamada. O resultado será divulgado no dia 26. Também a partir do dia 26 serão abertas as inscrições para o Programa Universidade para Todos (ProUni), que oferece bolsas integrais e parciais em instituições particulares. Os estudantes podem fazer suas inscrições no Sisu e ProUni.
A nota individual no Enem está disponível no site do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Consulta pública
A consulta pública às vagas da primeira edição de 2015 do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) já estão disponíveis na internet. Ao todo, são ofertadas 205.514 vagas, em 5.631 cursos de 128 instituições públicas de educação superior.
Das 63 universidades federais, 59 participam do Sisu neste primeiro semestre. Além delas, todos os 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia e os dois centros federais de educação tecnológica (Cefet) oferecem vagas pelo sistema.
Se comparado à edição de janeiro de 2014, houve crescimento de 11% no número de instituições participantes, de 20% no número de vagas ofertadas e de 19% no total de cursos com oferta de vagas.
Na primeira edição de 2014, foram ofertadas 171.401 vagas em 4.723 cursos de 115 instituições, conforme a tabela:
(do Portal Brasil)