terça-feira, 11 de novembro de 2014

Semana de Luta pelo Plebiscito Oficial: 9 a 15 de novembro

no Maria Frô
No dia 14 de Novembro o Plebiscito Popular comemora um ano de existência.
Há um ano, jovens saiam às ruas pela reforma política na luta pelo Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político. Seu grito era: Constituinte Quando??? Já!!!
Como marca de celebração de um ano de luta, a Operativa do Plebiscito criou a Semana de Luta pelo Plebiscito Oficial.
Entre  09 a 15 de Novembro, os Comitês Estaduais, Regionais, Municipais, Locais, cidadãos e cidadãs responsáveis pela realização do Plebiscito estarão mobilizados  para pressionar os poderes brasileiros pela convocação de um Plebiscito Oficial, que pergunte à população brasileira a mesma pergunta realizada nosso Plebiscito Popular.
Durante esta semana estão previstas inúmeras ações:  atividades de base como rodas de conversa, ações de agitação nas cidades e nos territórios, audiências populares, plenárias dos Comitês. A ideia é que ocorram também audiências públicas, nas Assembleias Legislativas Estaduais e nas Câmaras dos Vereadores,  a respeito do Plebiscito Constituinte Oficial, baseando-se no Decreto Legislativo apresentado na Câmara dos Deputados após a consulta pública realizada em setembro deste ano queobteve quase 8 milhões de votos em todo o país. (O Decreto Legislativo tem o número 1508/2014 e pode ser acessado aqui)
Organize-se, junte-se a luta pela Reforma Política em nosso país.
Para maiores informações acesse a página do Plebiscito Constituinte no Facebook.

10 empresas elegeram 70% do Congresso. Você ainda tem dúvida sobre a necessidade da Reforma Política?

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por José Gilbert Arruda Martins (Professor)
"A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já votou contra a doação de empresas – mas o julgamento não terminou porque Gilmar Mendes ainda não deu seu voto e travou a votação."
Se você procurar fazer leitura criteriosa de matérias como essa abaixo, tenho convicção que apoiarás a Reforma Política.
É difícil, se não impossível, construir uma sociedade mais igualitária com a estrutura política que o país possui.
Portanto senhores e senhoras, a Reforma Política é urgente.
A questão é, leia antes, procure informações, entenda a urgência depois apoie as ações nacionais em defesa da reforma. Sua participação é importante.
Gilmar "Mentes", ministro do STF precisa, antes da aposentadoria - que torço que seja breve - precisa sair do muro e proferir seu voto. Leia trecho destacado acima.
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no Maria Frô
Estamos na semana de luta pelo Plebiscito Oficial para uma Constituinte para fazer uma verdadeira Reforma Política.
Ao ver os dados levantados na matéria a seguir, você certamente não terá nenhuma dúvida sobre a urgência da Reforma Política no Brasil.
Que tipo de Congresso elegemos com esta concentração econômica?
Um Congresso que só defende os interesses da bancada do concreto, da bala, do bife, da cerveja, dos bancos, da fé fundamentalista, dos ruralistas, das teles, do monopólio de comunicação. Um Congresso que trabalha na calada da noite para retirar direitos de participação popular, um Congresso menos representativo que o Senado Romano constituído somente pelos bem nascidos.
As 10 empresas que mais doaram em 2014 ajudam a eleger 70% da Câmara
Por José Roberto de Toledo, Lucas de Abreu Maia e Rodrigo Burgarelli – O Estado de S. Paulo
08/11/2014
Financiadores colaboraram com 360 das 513 campanhas eleitas; bancadas apoiadas por 6 grupos são maiores
São Paulo – Sete de cada dez deputados federais eleitos receberam recursos de pelo menos uma das dez empresas que mais fizeram doações eleitorais em 2014. Os top 10 doadores contribuíram financeiramente para a eleição de 360 dos 513 deputados da nova Câmara: 70%. É uma combinação inédita de concentração e eficiência das doações por parte das contribuidoras.
Uma das principais razões para isso ter acontecido foi que, como suas assessorias costumam dizer, as empresas não privilegiam “nenhum partido, candidato ou corrente política”. Ao contrário, elas buscam o mais amplo espectro possível. Os 360 deputados que elas financiaram estão distribuídos por 23 partidos diferentes.
A maior bancada é a do bife. Empresas do grupo JBS (ou que têm os mesmos sócios) distribuíram R$ 61,2 milhões para 162 deputados eleitos. Dona dos maiores frigoríficos do País, a JBS deu recursos para a cúpula de 21 dos 28 partidos representados na nova Câmara, incluindo todos os grandes. As direções partidárias redistribuíram o dinheiro aos candidatos.
A tática mostrou-se eficaz. Além de ter sido a maior doadora, a JBS acabou elegendo a mais numerosa bancada da Câmara – mais do que o dobro da do maior partido, o PT. Não foi a única que tentou não deixar nenhuma sigla a descoberto.
O Grupo Bradesco doou R$ 20,3 milhões para 113 deputados eleitos por 16 partidos. É a segunda maior bancada empresarial. Ficou à frente do grupo Itaú, que contribuiu para a eleição de 84 novos deputados de 16 partidos. Mas o concorrente foi mais econômico com o dinheiro: gastou “só” R$ 6,5 milhões. Há 42 deputados que foram financiados por ambos os bancos. O Bradesco privilegiou as direções partidárias. O Itaú doou mais a candidatos.
Construção. Como setor, as empreiteiras têm a maior presença entre os top 10 doadores da nova Câmara. Cinco delas entraram na lista: OAS, Andrade Gutierrez, Odebrecht, UTC Engenharia e Queiroz Galvão.
A OAS investiu R$ 13 milhões para ajudar a eleger 79 deputados de 17 partidos – do PT ao PSDB, passando por PMDB e todos os grandes. Já a Andrade Gutierrez gastou quase o mesmo valor e ajudou a eleger 68 deputados federais. A Odebrecht doou R$ 6,5 milhões para 62 deputados, a UTC deu R$ 7,2 milhões para 61 deputados, e a Queiroz Galvão, R$ 7,5 milhões para 57 parlamentares. Mas há muitas sobreposições.
Descontando-se as doações dobradas ou triplicadas que vários novos deputados receberam de mais de uma empreiteira, a bancada do concreto na nova Câmara tem 214 deputados de 23 partidos. Isso não inclui parlamentares que receberam doações de empreiteiras que não entraram nos top 10, como C.R. Almeida.
O grupo Vale elegeu a terceira maior bancada empresarial. Foram 85 os deputados eleitos – de 19 partidos – que receberam uma parte dos R$ 17,7 milhões doados pela empresa. Um deles foi o deputado reeleito pelo PP de Minas Gerais Luiz Fernando Faria. Ele recebeu R$ 800 mil de mais de uma empresa do grupo Vale – e já foi presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara. Mas também recebeu doações de outras sete das top 10 doadoras.
Como a JBS, outra empresa voltada ao consumo popular se destacou nestas eleições: a Ambev (dona das marcas Brahma e Antarctica, entre outras), que doou R$ 11,7 milhões e ajudou a eleger 76 deputados de 19 partidos. A bancada do churrasco, que recebeu do frigorífico e da cervejaria, soma 25 deputados.
Cientista político e professor do Insper, Carlos Melo qualifica tal alcance do financiamento eleitoral por um grupo tão pequeno de empresas de “clientelismo”: “É claro que compromete o voto do deputado. Como ele vai dizer que a doação não o influenciou?”
Conflito de interesses. Para Melo, deputados que receberam doações empresariais deveriam se declarar impedidos de votar em matérias nas quais haja conflito de interesse com o das empresas que o financiaram. “Como o juiz que não julga ações em que é parte interessada. Afinal, o voto deve representar o eleitor, não o financiador.”
A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já votou contra a doação de empresas – mas o julgamento não terminou porque Gilmar Mendes ainda não deu seu voto e travou a votação.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Assim se constrói o Estado Global de Vigilância

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por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Eu me recuso a ser guiado, teleguiado, manipulado, sondado, vigiado, espreitado, filmado, fotografado.

Eu quero ser cidadão. Não quero ser consumidor, quero enxergar o que vejo, sentir o não sentido. Não quero ser melhor ou pior que ninguém, desejo apenas ser eu, cidadão, dono do meu próprio pensamento, crânio, cabeça.

Noam Chomsky, professor da Filadélfia, já mostrava em seus livros, o que a Casa Branca é capaz. O que a CIA é capaz. "O que o Tio Sam Realmente Quer?", texto direto, que há a mais de uma década tenta mostrar o lado escuro, violento da "democracia" estadunidense.

Em sala de aula, há mais de 20 anos estamos debatendo o mesmo tema.

A entrevista logo abaixo mostra como somos quase que bovinos em matéria de entendimento concreto e real sobre as políticas de vigilância dos 5 olhos (Five Eyes), países que se deram o direito de entrar na vida de milhões de pessoas a qualquer tempo e lugar. 

A quem interessa tudo isso?

Nós que assistimos a História passando debruçados na janela, nós que achamos que nossa vida se resume ao churrasco aos domingos, nós que acreditamos que nosso sucesso no trabalho ou na profissão e, que nos dão bolsos recheados, são as únicas coisas importantes e fundamentais, vamos nos importar com espionagem?

Quero consumir, quero viajar para Miami, não me importa a vigilância do Estado, isso não me afeta, vivo noutro mundo, não preciso de ninguém.

Se esperança está na Consciência, como defende a autora da matéria abaixo, onde vamos encontrá-la?


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Diretora de “Citizenfour”, o documentário sobre denúncias de Edward Snowden, alerta:controle social e esvaziamento da democracia ampliaram-seapós revelações. Esperança é consciência
Tom Englehardt, do Tom Dispatch,  entrevista Laura Poitras | Tradução: Mariana Bercht Ruy
Temos aqui uma estatística da nova era de vigilância global. Quantos norte-americanos possuem a chamada security clearance, que permite acesso aos dados sigilosos, das agências de espionagem, sobre pessoas e organizações? Resposta: 5,1 milhões – número que reflete o crescimento explosivo do Estado de segurança nacional no pós-11 de setembro. É algo equivalente à população da Noruega. E ainda assim é apenas 1,6% da população norte-americana. intenção é deixar os 98,4% restantes às cegasnum número crescentes de assuntosE isso é apresentado como se fosse algo “em favor de nossa própria segurança”.
Estes fatos oferecem uma nova definição de democracia, na qual as pessoas devem saber apenas aquilo que o sistema de segurança nacional conta a elas. Sob esse sistema, a ignorância é o pré-requisito necessário e legalmente imposto para que as pessoas sintam-se protegidas. É significativo: o único delito pelo qual aqueles que estão dentro do sistema de segurança nacional podem ser responsabilizados, na Washington pós-11 de setembro, não é mentir diante do Congresso, destruir evidências de um crime, torturar, sequestrar, assassinar ou provocar morte de prisioneiros em sistemas prisionais extralegais — mas denunciar irregularidades. Ou seja, contar à sociedade algo que seu governo esteja fazendo. E esse “crime”, apenas esse, tem sido perseguido com toda a força da lei e mais – com um vigor nunca visto na história do país. Para oferecer um único exemplo, o único norte-americano preso pelo programa de tortura da CIA da era Bush foi John Kiriakou – um denunciante da CIA que revelou, a um repórter, o nome de um agente envolvido no programa.
Nesses anos, uma Casa Branca cada vez mais imperial lançou várias guerras (redefinidas pelos seus defensores como outra coisa qualquer), além uma campanha internacional de assassinatos [por meio de drones], na qual a Presidência tem a sua própria “lista negra” e o presidente decide sobre ataques globais do tipo que matou Bin Laden.
E ainda assim isso não significa que nós, o povo, não saibamos nada. Contra obstáculos crescentes, surgiram algumas boas reportagens na imprensa “mainstream” – feitas por James Risen e Barton Gellman – sobre as atividades extra-legais do estado de segurança. Acima de tudo, apesar do uso regular que o governo Obama faz da Lei de Espionagem, da época da I Guerra Mundial, denunciantes têm dado um passo adiante dentro do governo para, às vezes, oferecer informações surpreendentes sobre o sistema que foi implantado em nosso nome, mas sem nosso conhecimento.
Entre eles, destaca-se um jovem, cujo nome é agora conhecido em todo o mundo. Em junho de 2013, graças ao jornalista Glenn Greenwald e à produtora Laura Poitras, Edward Snowden, que trabalhou na NSA e anteriormente na CIA, entrou em nossas vidas a partir de um quarto de hotel em Hong Kong. Com um tesouro de documentos que ainda estão sendo publicados, ele mudou a perspectiva pela qual praticamente todos nós víamos o mundo. Está sendo acusado sob a Lei de Espionagem. Se de fato ele era um “espião”, a espionagem que fez foi por nós e pelo mundo. O que ele revelou, a um planeta chocado, foi um estado de vigilância global cujos alcance e ambições eram únicos. Um sistema baseado em uma única premissa: que a privacidade já não existe e que ninguém é, em teoria (e, em grande medida, na prática) invigiável.
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Os criadores do sistema imaginaram uma única exceção: eles próprios. Foi, ao menos em parte, por isso que, quando Snowden nos permitiu espreitá-los, eles extravasaram ódio. Seja como for que tenham reagido, do ponto de vista político, é claro que também sentiram-se violados – algo que, até onde se sabe, deixou-os sem qualquer empatia diante do resto de nós. Snowden provou, de qualquer forma, que o sistema nasceu pronto para dar um tiro pela culatra.
Dezesseis meses depois que os documentos da NSA começaram a ser lançados pelo Guardian e pelo Washington Post, talvez seja possível falar numa Era Snowden. E agora, um novo filme notável, Citizenfour, que teve pré-estreia no Festival de Filmes de NovaYork em 10 de outubro, oferece uma janela para como tudo aconteceu. Já foi mencionado como possível vencedor do Oscar.
Laura Poitras, a diretora, é produtora de documentários, jornalista e artista. Tornou-se – assim como o repórter Glenn Greenwald – quase tão amplamente conhecida quanto o próprio Snowden. Seu novo filme, o último em uma trilogia (os anteriores são My Country, My Country sobre a Guerra do Iraque, e The Oath, sobre Guantanamo), remete-nos a junho de 2013 e nos leva ao quarto de hotel em Hong Kong em que Snowden começou a fazer suas revelações a Glenn Greenwald, Ewen MacAskill (do Guardian), e a própria Laura. Antes daquele momento, estávamos quase literalmente no escuro. Depois dele, temos mais noção, pelo menos, da natureza da escuridão que nos envolve. Tendo visto seu filme, dialoguei com Poitras em uma pequena sala de conferências de um hotel em Nova York para discutir como o mundo mudou e qual foi o papel dela nisso.
Você poderia começar expondo brevemente o que você acredita que aprendemos com Edward Snowden sobre como o mundo realmente funciona?
Laura Poitras: O mais impressionante que Snowden revelou é a profundidade do que a NSA e os chamados Cinco Olhos [Five Eyes, países anglo-saxões aliados: EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia] estão fazendo: sua fome por todos os dados, o enorme arrastão de vigilância onde tentam coletar o fluxo de todas as comunicações e fazê-lo de várias formas diferentes. Seu ethos é “coletar tudo”. Trabalhei em uma história com Jim Risen, do New York Times, sobre um documento – um plano de quatro anos para a interceptação de sinais. É um termo cunhado pelos autores. Para eles, a internet é isso: a base para uma era de ouro na qual se espia todo mundo.
Esse foco em vigilância do planeta maciça, dissimulada, e na forma de arrastão é certamente o mais impressionante. Muitos programas fizeram isso. Além disso, a NSA e a GCHQ [inteligência britânica] fazem coisas como atacar engenheiros de telecomunicações. Um artigo publicado pelo The Intercept, e baseado em documentos da NSA providos por Snowden, tinha um capítulo intitulado “Eu caço Syadmins” [administradores de sistema]. Eles tentaram encontrar os guardiões das informações, as pessoas que protegem os dados dos clientes, e atingi-los. Além disso, temos a coleta passiva de tudo: as informações que não conseguem de um jeito, obtêm de outro.
Eu acho que uma das coisas mais chocantes é como nossos governantes sabiam pouco sobre o que a NSA fazia. O Congresso está aprendendo a partir de reportagens, o que é impressionante. Snowden e William Binney [ex-funcionário da NSA], que também está no filme como delator de uma outra geração, são técnicos que entendem os perigos. Nós, leigos, talvez entendamos alguma coisa dessas tecnologias, mas eles realmente compreendem o perigo existente na forma como elas podem ser usadas. Uma das coisas mais assustadoras, na minha opinião, é a capacidade de pesquisa retroativa, de voltar no tempo e descobrir os contatos que qualquer pessoa manteve e os locais que frequentou. No que diz respeito à minha profissão de jornalista, isso permite ao governo rastrear o que você está reportando, com quem fala e aonde vai. Não importa se eu tenho ou não o comprometimento de proteger minhas fontes: o governo tem acesso a informações que talvez lhe permitam identificar com quem estou falando.
Perguntando a mesma coisa de outra forma: como o mundo seria sem Edward Snowden? Porque me parece que, de alguma forma, nós estamos na Era Snowden
Laura Poitras: Snowden nos permitiu escolher sobre como queremos avançar para o futuro. Estamos em uma encruzilhada e ainda não sabemos qual caminho vamos tomar. Sem Snowden, praticamente todo mundo ainda estaria no escuro sobre a quantidade de informação que o governo norte-americano está coletando. Acho que ele mudou a consciência sobre os perigos da vigilância. Sabemos que muitos advogados deixam seus celulares fora das suas reuniões, agora. As pessoas estão começando a compreender que os aparelhos que carregamos conosco revelam nossa localização, com quem estamos falando, e todo tipo de informações. Houve uma mudança de consciência real, depois das revelações de Snowden.
Apesar disso, não houve nenhuma mudança na atitude do governo dos EUA
Laura Poitras: Os especialistas nos campos de vigilância, privacidade e tecnologia dizem que é necessário atuar dem dois campos: o político e o tecnológico. O caminho tecnológico é a criptografia. Funciona e, se você quer privacidade, deveria usar. Já há mudanças em grandes empresas – Google e Apple, por exemplo –, que agora entendem quão vulneráveis são os dados dos seus clientes. Também percebem que, desse modo, seus negócios também se tornam vulneráveis. Por isso, também, há uso crescente das tecnologias de criptografia. Porém, nenhum programa foi desmantelado em Washington, apesar da pressão internacional.
Em Citizenfouruma hora da ação se passa em um quarto de hotel em Hong Kong, com Snowden, Glenn Greenwald, Ewan MacAskill e você. Isso é fascinante. Snowden é quase preternaturalmente cativante e senhor de si. Imagino um romancista em cuja mente simplesmente entra o personagem dos sonhos. Deve ter sido assim com você e Snowden. Mas e se fosse um cara cinzento, com os mesmos documentos e coisas muito menos inteligentes para dizer sobre eles? Em outras palavras como exatamente a pessoa que ele era afetou o seu filme e reconstruiu seu mundo?
Laura Poitras: São duas questões importantes. Uma: qual foi a minha primeira sensação? Outra: como eu acho que isso teve impacto no filme? Editamos o filme e o exibimos para pequenos grupos. Não tive dúvida de que Snowden é articulado e verdadeiro, na tela. Mas vê-lo em uma sala cheia [na pré-estreia do Festival de Filmes de Nova York, em 10 de outubro], foi tipo, uau! Ele realmente domina a tela! E eu tive uma nova experiência sobre o filme, em uma sala cheia.
Mas qual foi sua primeira experiência com ele? Quero dizer, você não sabia quem ia conhecer, certo?
Laura Poitras: Eu mantive correspondência com uma fonte anônima por cerca de cinco meses antes. No processo de desenvolver um diálogo, você constrói ideias, é claro, sobre quem a pessoa talvez seja. Achava que ele seria uma pessoa com quarenta e tantos anos, ou pouco mais de cinquenta. Percebi que deveria ser da geração da internet por ser super ligado em tecnologia. Mas pensei que, dado o nível de acesso e informação que podia discutir, devera ser mais velho. Minha primeira experiência foi a necessidade de reprogramar minhas expectativas. Fantástico, sensacional, ele é jovem e carismático. Fiquei pensando: uau, isso muito tão desorientador, preciso fazer um reboot. Retrospectivamente, posse ver que é realmente forte que alguém tão inteligente, tão jovem e com tanto a perder tenha arriscado tanto.
Ele estava muito em paz com a escolha que tinha feito e sabia que as consequências podiam significar o fim da sua vida – ainda assim, havia tomado a decisão certa. Ele acreditava nisso e, quaisquer que fossem as consequências, estava pronto a aceitá-las. Conhecer alguém que tomou esse tipo de decisão é extraordinário. E poder documentar isso e também a forma como Glenn [Greenwald] interveio e se esforçou, de modo ativo, para que o relato se produzisse mudou a narrativa. Como Glenn e eu enxergamos tudo de uma perspectiva externa, a narrativa desenvolveu-se de forma a que ninguém sabia realmente como responder. Por, acho acho que a Casa Branca ficou, a princípio, transtornada. Não é todo dia que um denunciante está pronto para ser identificado.
Meu palpite é que Snowden nos deu o sentimento de que agora conhecemos a natureza do estado de vigilância global que nos observa. Mas sempre penso que ele é só um cara, vindo de um dos 17 órgãos de inteligência interligados. Seu filme termina de forma marcante – o golpe final – com outro ou outros informantes despontando em algum lugar do mundo, para revelar informações sobre a enorme lista de pessoas vigiadas, na qual você mesma está, fico curioso. O que você acredita que ainda existe para ser descoberto? Suspeito que se delatores estão para surgir, nas maiores cinco ou seis agências, com documentos similares aos de Snowden, vamos ficar aturdidos com o sistema que foi criado em nosso nome.
Laura Poitras: Não posso especular sobre aquilo que ainda não sabemos, mas acho que você tem razão sobre a escala e escopo das coisas, e a necessidade de essa informação tornar-se pública. Quero dizer, considere apenas a CIA e seu esforço para impedir o Senado dos EUA de conhecer seu programa de tortura. Considere o fato vivermos em um país que a) legalizou a tortura b) onde ninguém nunca foi responsabilizado por isso e agora a visão interna do governo sobre o que aconteceu está sendo suprimida pela CIA. É uma paisagem assustadora.
Laura Poitras: Realmente, rejeito a ideia de falar sobre um, dois ou três denunciantes. Nosso trabalho foi informado por muitas fontes e acho que temos, diante delas, dever de gratidão por terem assumido os riscos que assumiram. De uma perspectiva pessoal, porque estou numa lista de pessoas vigiadas. Passei anos tentando descobrir a razão. O governo recusou-se a confirmar ou negar a própria existência da tal lista. Foi muito significativo que sua existência real fosse revelada, para que o público saiba que ela existe. Agora, os tribunais podem decidir sobre a legalidade disso. Quero dizer, a pessoa que revelou isso fez um imenso serviço público e eu estou pessoalmente grata.
Você se refere ao delator desconhecido, que é mencionado visual e elipticamente ao final do seu filme, e que revelou a existência de uma imensa lista, com os nomes de mais de 1,2 milhão de pessoas vigiadas. Nesse contexto, como é viajar como Laura Poitras hoje? Como você encarna o novo estado de segurança nacional?
Laura Poitras: Em 2012, estava pronta para editar e escolhi deixar os EUA por que não sentia como se pudesse proteger minhas fontes. A decisão foi baseada em seis anos sendo parada e questionada todas as vezes que retornava aos EUA. Fiz as contas e percebi que seria muito arriscado editar nos EUA. Comecei a trabalhar em Berlim em 2012. Em janeiro de 2013, recebi o primeiro e-mail de Snowden.
Então você está protegendo…
Laura Poitras: Outra filmagem. Filmei com o denunciante da NSA William Binney, com Julian Assange, com Jacob Appelbaum do Tor Project. São pessoas também visadas pelos EUA, e senti que esse material que eu tinha não estava seguro. Fui incluída na lista em 2006. Fui detida e questionada na fronteira, ao regressar aos EUA, cerca de 40 vezes. Se contasse as paradas domésticas, e todas as vezes em que fui parada em pontos de trânsito europeus, provavelmente chegaria a algo entre 80 e 100 vezes. Tornou-se uma coisa regular, ser questionada sobre onde estive e com quem me encontrei. Me vi capturada em um sistema do qual aparentemente não se pode sair, nessa lista kafkiana que os EUA nem sequer reconhecem.
Você foi parada quanto entrou nos EUA, dessa vez?
Laura Poitras: Não. As detenções pararam em 2012, depois de um incidente bastante extraordinário. Eu estava voltando pelo Aeroporto de Newark [nas proximidades de Nova York] e fui detida. Peguei meu caderno, porque sempre tomo notas sobre quando sou parada, quem são os agentes e coisas assim. Dessa vez, ameaçaram me algemar por tomar notas. Disseram “Abaixe a caneta!” Alegaram que a minha caneta podia ser uma arma e ferir alguém.
“Abaixe a caneta! A caneta é perigosa!” Eu fiquei imaginando que fossem malucos. Várias pessoas gritavam comigo, todas as vezes que eu movia minha caneta para baixo, para tomar notas – como se ela fosse uma faca. Depois disso, decidi que era maluquice demais, eu precisava fazer alguma coisa. Chamei Glenn Greenwald. Ele escreveu um texto sobre as minhas experiências. Depois do artigo, recuaram.
Snowden nos contou muito sobre a estrutura de vigilância global que está sendo construída. Nós sabemos muito pouco sobre o que estão fazendo com toda essa informação. Me choca como foram inábeis em usar essa informação em sua gerra ao terror, por exemplo. Quero dizer, eles sempre parecem estar um passo atrás no Oriente Médio – não apenas atrás dos acontecimentos, mas atrás do que acredito que uma pessoa, usando apenas informações abertas, poderia informar a eles. Acho isso surpreendente. Que sentido faz você fazer o que estão fazendo com a montanha de informações, os yottabytes, todos os dados que estão recolhendo?
Snowden e muitas outras pessoas, inclusive Bill Binney, disseram que essa mentalidade – de tentar sugar tudo o que podem – deixou-os tão afogados em informações que perdem as ligações mais óbvias. No final, o sistema que criaram não leva ao que descreveram como seu objetivo, que é segurança – porque têm infomação demais para processar.
Laura Poitras: Não sei realmente como compreender tudo isso. Penso muito a respeito, porque fiz um filme sobre a Guerra do Iraque e outro sobre Guantanamo. Da minha perspectiva, em resposta aos ataques de 11 de setembro, os EUA envolveram-se em atividades que criaram duas gerações de pessoas nutridas por sentimentos anti-americano – em resposta a coisas como Guantanamo e Abu Ghraib. Ao invés de responder a um grupo pequeno de terroristas, criamos gerações de pessoas irritadas e que nos odeiam. Então, penso: se o objetivo é segurança, como essas coisas se alinham? Por que há, agora, mais gente que odeia os Estados Unidos, mais gente que tenciona fazer-nos mal? Ou o objetivo que o sistema de segurança proclama não é o real, ou eles são simplesmente incapazes de dialogar com o fato de que comenteram grandes erros, pelos quais agora pagamos.
Me impressiona como a falha converteu-se, de alguma maneira, em rampa de lançamento para o sucesso. Quero dizer, a construção de um aparato de inteligência sem paralelos e a a maior coleta de informações da história veio da falha de 11 de setembro. Ninguém foi responsabilizado, ninguém foi punido, ninguém foi rebaixado nem nada. Todas as falhas semelhantes, incluindo uma recente, no gramado da Casa Branca, simplesmente levam ao reforço do sistema.
Laura Poitras: Como você entende isso?
Não acho que essas pessoas estejam pensando: precisamos falhar, para termos sucesso. Não sou conspiratório nesse sentido, mas eu acho que, estranhamente, a falha construiu o sistema e acho isso estranho. Mais que isso, não sei.
Laura Poitras: Não discordo. O fato de que a CIA sabia que dois dos sequestradores do 11 de setembro estavam entrando nos Estados Unidos, mas não notificou o FBI e ninguém perdeu seu emprego por isso, é chocante. Ao invés disso, ocupamos o Iraque, que não tinha nada a ver com o 11 de setembro. Quero dizer, como essas escolhas são feitas?

Fronteiras entre gêneros estão se apagando, diz Laerte

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Depois de cinco décadas vividas como homem, cartunista fez corajosa travessia até o campo da feminilidade. Porém, sustenta: “hétero e homossexualidade podem tornar-se conceitos superados”

Um vídeo do Coletivo Candeia - no Blog da Redação - Outras Palavras
Ele problematizou a questão de gênero como poucos. Com humor, o que facilita bem as coisas. Talvez por isso o/a cartunista Laerte Coutinho tenha alcançado tamanha relevância no cenário cultural. Desde 2010, quando veio a público como crossdresser – alguém que gosta de vestir-se como o sexo oposto, o que independe da orientação sexual – ele vem causando.
Embora não goste de rótulos, Laerte define-se hoje como uma pessoa – uma pessoa trans, que gosta de situar-se no campo da feminilidade. “Entendo que a expressão de gênero é tão pessoal quanto a impressão digital ou o desenho da íris”, afirma, “mas reconheço que os rótulos servem à formação de grupos com identidades que viram questões sociais, que por sua vez viram encaixes para programas políticos.”
Os desdobramentos políticos da questão LGBT, ele traz na ponta da língua. Discorre sobre leis existentes e projetos de lei, a importância de a Igreja católica mudar de posição ao dizer “que gay é gente fina”, a onda de conservadorismo. “O fato é que a direita moral encontrou mais terreno para crescer, e ocupou esse espaço”, diz. “Aparentemente a bancada conservadora cresceu, mas também há analistas dizendo que a bancada de pessoas sensíveis aos direitos LGBT e outros direitos humanos tem crescido.”
Na entrevista acima, Laerte fala sobre como os gêneros estão se embolando, a ponto de considerar que os conceitos de hetero e homossexualidade começam a ser superados. “Você nasce e vive até certo ponto da vida como homem e depois passa a se entender como mulher. No entanto, seu desejo continua sendo por mulheres, preferencialmente. Então você deixou de ser hetero e passou a ser homossexual?”, pergunta. “Essas questões não podem mais ser definidas com a mesma régua”.
no Blog da Redação - Outras Palavras

Internacional África O peso enfrentado por jovens sobreviventes do ebola Homem de Serra Leoa que sobreviveu ao vírus ebola diz que hoje tem de lutar contra a discriminação e ainda cuidar de dependentes cujos pais morreram

Douda Fullah
O sobrevivente Douda Fullah viu cinco membros de sua família morrerem em um pavilhão para doentes de ebola


por José Gilbert Arruda Martins (Professor)
Se já não bastasse a violência histórica que o continente e seu Povo sofreu e sofre ao longos dos últimos séculos de colonialismo europeu, agora a África se ver tendo que combater uma doença que ainda não dá dinheiro aos grandes laboratórios - por isso não recebe a atenção que merece -, e seus povos sofrem com ela e com o preconceito que, parece crescente. Além de tudo isso vivemos todos um total desconhecimento da doença e uma falta de interesse que beira a imbecilidade.
Ebola. As Tvs falam todos os dias. As revistas e rádios também. O que será que as escolas públicas no Brasil estão fazendo para que nossos estudantes conheçam, entendam e, de alguma forma participem da dor do sobrevivente Douda?
Discutia um dia desses com um colega da escola sobre uma tarefa do curso que todos fazemos às quartas-feiras. O tema era sobre a distância das aulas da realidade social dos alunos. Eu defendia que entre nossa atuação em sala e a realidade de nossos alunos e alunas, existe um fosso enorme, e existe, essa percepção fica mais clara com o caso do ebola, ninguém fala, todos nós estamos vivendo nossas vidas e dando nossas aulas em paz. É uma maravilha.
Importar-se não é ter medo. Importar-se é despertar em nossos estudantes e professores o sentimento da solidariedade e cidadania. Mesmo acontecendo longe, alunos e alunas podem despertar para entender a dor alheia. Isso pode fazer a diferença agora e mais para a frente na vida.
*Por Lisa O'Carroll, em Freetown - por The Observer - na Carta Capital
Você pode sobreviver ao ebola, mas nunca o vence. Se você se recuperar da doença, é provável que tenha perdido quase tudo o mais. O sobrevivente Douda Fullah viu cinco membros de sua família morrerem em um pavilhão para doentes de ebola. Primeiro foi seu pai, um técnico de laboratório, seguido por sua madrasta, sua avó, um irmão de 2 anos e uma irmã de 13. Sua dor e sua necessidade imediata de comida e dinheiro já foram capturadas em um vídeo de apelo transmitido no noticiário das TVs americana e britânica.
Mas durante uma reunião em Freetown fica claro que no caso de Douda o ebola tem um duplo legado, uma dor inimaginável e o peso de ocupar o lugar de seu pai não apenas na família, mas na comunidade. "Tenho até 15 pessoas que dependem de mim... é realmente difícil", disse ele. "Tenho irmãs e irmãos mais jovens e primos que vivem na mesma casa. Meu pai, especialmente, costumava cuidar deles... e até dos meus tios na aldeia, meu avô, ele costumava cuidar deles. Agora que se foi, todos olham para mim."
E a dura ironia de ser um sobrevivente do ebola é que, em vez de ser tratado como vítima que precisa de cuidado e apoio nesse momento de devastação familiar, ele foi repelido pelos vizinhos e amigos dos pais, que acreditam que ainda é portador do vírus.
"Amigos de minha mãe e meu pai, não me lembro de algum deles ter vindo a minha casa desde o ebola", diz Douda.
E seus vizinhos? "Eles não chegam muito perto de mim... os vizinhos ficam a três metros de distância... é realmente um estigma. Apenas imagine... você perdeu seus parentes, especialmente seus pais, e eles não se aproximam de você. Eles ainda têm medo."
Como um profissional médico educado, seu pai era uma figura respeitada na aldeia, onde o analfabetismo e a pobreza são comuns. Os que contavam com seu pai para remédios ou dinheiro para alimento hoje procuram Douda.
"Agora que ele se foi, eles tentam ao máximo por sua própria conta ajudar a si mesmos; é difícil para eles, como na maioria das áreas da aldeia é realmente duro. Eles vêm e dizem: 'Douda, você é minha única esperança, você tem de ser forte...' Mesmo que essa pessoa não lhe diga diretamente 'Eu preciso de dinheiro', você sabe que é o que ela quer. Eu finjo que não sei o que está acontecendo. Mas sei que isso me dói realmente", diz ele.
Segundo todos os critérios, o pai de Douda era de classe média, embora não fosse rico. Possuía seu próprio laboratório em Kenema e viajava com a ambulância até o hospital do governo quando o ebola atacou pela primeira vez. Durante uma reunião familiar, seu pai os avisou sobre os perigos do ebola, e lhes falou sobre a importância de não tocar nos outros e de lavar-se com cloro. Douda lhe suplicou para que não continuasse nesse trabalho.
"Ele disse: 'Se eu fugir agora, o que você acha que as pessoas diriam de mim? Eu seria um covarde... se eu morrer assim, assim será'", lembra-se Douda.
Mas em vez de ser honrado na morte por salvar vidas, seu pai foi considerado um assassino, com rumores de que os profissionais de saúde estavam injetando o vírus mortífero nas pessoas no hospital. "Foi realmente um estigma, eles ainda pensam que temos o vírus. Algumas pessoas me isolam em público", disse ele.
Douda está sendo apoiado pela organização britânica Street Child, que visa ajudar órfãos do ebola. Ele agradece pelas doações do exterior, já que seu caso foi o primeiro a chamar a atenção internacional. "Acho que ajuda muito."
Mas enquanto ele busca em seu telefone celular, mostrando-me fotos de sua mãe e seu pai, fica claro que ele, assim como outros, precisa de mais enquanto sofrerá dificuldades por uma geração. "Estou pensando em vender isto para conseguir dinheiro", diz ele. Nas próximas semanas ele enfrentará a expulsão de sua casa. Seu aluguel de US$ 380 por ano está atrasado e, embora tenha feito metade do curso de técnico de laboratório, Douda não tem emprego.
Sua mãe biológica ainda está viva, mas em um país onde a ajuda é basicamente medida em termos de dinheiro ela não pode contribuir. Ela é um apoio para ele? "Não, ela é deficiente", diz ele.
Douda começa a chorar quando pergunto o que acontecerá se não puder pagar o aluguel. "Bem, acho que vamos todos acabar na rua... é mais um peso para mim, porque eu ficaria estressado, preocupado em alimentar os menores, se uma coisa dessa acontecer realmente será muito ruim para mim."
O estigma e a falta de apoio às vítimas do ebola ampliam a crise além de uma emergência médica. Em Kenema, mais de cem sobreviventes formaram um grupo para oferecer apoio mútuo. O desejo dos sobreviventes de ajudar os outros atingidos pelo vírus não é raro. Will Pooley, o enfermeiro britânico que tratou Douda e contraiu o vírus, está de volta em um pavilhão do ebola em Freetown, assim como uma ex-paciente do hospital, Belkizu Alfred Koromo. Uma estudante de enfermaria de 20 anos, ela e seu irmão foram internados no hospital Connaught no mês passado. Eles sobreviveram, mas perderam 17 membros da família, incluindo a mãe e o pai.
"Realmente não é fácil para nós", diz. Agora morando com sua tia, ela diz que participar da luta contra o ebola foi a coisa mais natural a fazer. "Eu pensei que não deveria ficar em casa sem fazer nada. Preciso vir e salvar alguns de meus conterrâneos", disse.
Seu irmão, um estudante de economia, também vai trabalhar em um pavilhão de ebola, em uma unidade de isolamento que será aberta em breve no hospital infantil de Freetown. Embora não seja um profissional de saúde qualificado, sua presença será valiosa, segundo Marta Lado, uma médica espanhola consultora em doenças infecciosas encarregada do pavilhão de isolamento em Connaught. "Alguns de nossos pacientes são bebês e você não pode segurá-los nos braços a manhã toda, por isso pessoas que têm menos risco do que os profissionais de saúde são uma grande ajuda para elas. Ela e seu irmão podem entrar e ficar com as crianças."
No hospital Hastings, Alu Kamara, 36, espera para receber alta. Ele também vai aderir à luta. Um professor, ele contraiu a doença de seu irmão que foi mal diagnosticado com febre tifoide e morreu. "Eu me sinto incrivelmente feliz", diz, espiando sobre a divisória temporária fora do pavilhão.
Perguntado sobre como vai comemorar sua escapada da morte, ele mostra o celular e diz que vai aderir à luta. "Vou para lá sensibilizar as pessoas, ajudar as pessoas a parar de contrair a doença."