segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Dr. Janot, confirme ou desminta, mas não engavete o “listão do Aécio”

janot

Autor: Fernando Brito - no Tijolaço.

O Brasil é uma democracia e tem instituições livres.
O procurador-geral da República, Dr. Rodrigo Janot, tem mandato fixo, não depende de quem esteja na Presidência para seguir em seu cargo.
Não há, portanto, qualquer dúvida de que conta com toda a liberdade de agir autonomamente, sem obedecer ou dar satisfações senão à sociedade e à sua consciência.
Assim como não há dúvidas de que, sobretudo num momento eleitoral, cabe-lhe a responsabilidade de zelar para que simples acusações não sejam apresentadas como conclusões, condenações ou fatos consumados.
Aliás, como está sendo feito nas denúncias sobre a Petrobras, sob o beneplácito do Judiciário e do Ministério Público.
Ontem, foi apresentado pelo Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, um documento onde o então secretário de Governo de Minas Gerais, Danilo de Castro, encaminhava ao senador Aécio Neves uma relação de doadores e receptadores de mais de R$ 160 milhões de reais  durante as eleições de 2012.
Foi aqui reproduzido com todas as ressalvas de que caberia ao MP investigar.
O relato dizia que o Procurador chefe do MPF em Minas, Eduardo Morato Fonseca, o havia encaminhado ao Procurador-Geral da República, por tratar-se de  possível indício de crime praticado por agente político com foro privilegiado.
É necessário e urgente que a Procuradoria confirme ou desminta ter o documento e, neste caso, quais as providências tomou ou tomará.
Seja, porque verdadeiro, de a processar os autores da maracutaia; seja, porque falso, a de processar os autores de uma fraude.
Há mais de um mês, o Procurador mandou investigar a propriedade e as condições de cessão do jato usado por Eduardo campos até seu trágico acidente.
De lá para cá, a opinião pública não soube mais nada a respeito.
Já do caso Petrobras, todo dia surge uma novidade, embora algumas, como a da acusação de que o ex-presidente do PSDB tenha exigido suborno para engavetar, em 2009, a CPI sobre a empresa, sumam assim que apareçam.
Não há justiça com estardalhaço para uns e silêncio para outros.
Ninguém espera que o senhor se paute pelo que dizem os blogs ou pelo que digam os grandes jornais.
O que se espera – mais, se exige – do chefe de uma instituição que tem como objetivo zelar pelo cumprimento da lei – a eleitoral, inclusive – é que não oculte ao povo brasileiro a confirmação – ou a negativa – de que há um procedimento em curso para apurar o que o documento ontem divulgado revela: um esquema de corrupção eleitoral equivalente, em 2012, a mais de US$ 100 milhões.
O suposto fato está público, embora não esteja nos grandes jornais.  É preciso saber se ele corresponde a um procedimento da PGR e, se não, porque foi descartado.
Aqui, ao menos, vai-se registrar que  existe o documento e o que se fará (ou não fará) dele.
Do contrário, estaremos diante de um escândalo, em que as acusações a um dos lados da contenda eleitoral são gravadas, vazadas, editadas e selecionadas e, ao outro, engavetadas.

domingo, 19 de outubro de 2014

Saem novas pesquisas no dia 20. Não acredite nelas

pesquisa-eleitoral-1

Autor: Miguel do Rosário - no Tijolaço.

Amanhã, dia 20, sai uma nova rodada de pesquisas.
Vox Populi, Datafolha, Ibope divulgam pesquisas presidenciais, além de uma série de estaduais.
Vai um conselho de amigo: não acredite nelas. Seja a favor ou contra seu campo, não acredite.
O momento é de tensão absoluta, porque os resultados são incertos.
É hora de ir para o debate, com o máximo de serenidade possível.
É hora de procurar argumentos que possam ajudar as pessoas a se livrar da horrível manipulação midiática da qual são vítimas.
Tenho feito análises das últimas pesquisas, mas desta vez estou guardando para mim mesmo, porque fiquei muito desiludido com o fiasco delas no primeiro turno.
E não estou guardando porque identifiquei fatos negativos para Dilma, minha candidata.
Ao contrário, os dados de aprovação e rejeição do Ibope são bastante favoráveis à presidenta.
A aprovação pessoal da presidenta, dado fundamental para um prognóstico sobre sua reeleição, saltou de 49% na pesquisa Ibope divulgada em 10 de outubro (a primeira, após o primeiro turno) para 54% na pesquisa divulgada no último dia 16. O percentual dos que a desaprovam caiu de 44% para 40%.
Ou seja, o “saldo”, a diferença entre aprovação e desaprovação subiu 10 pontos, de 4 para 14 pontos.
Dilma tinha saldo negativo de aprovação no sudeste, 42% de aprovação e 51% de desaprovação, na pesquisa do dia 10. Uma semana depois, o saldo já era positivo, com 49% de aprovação e 45% de desaprovação.
Com Aécio se dá o inverso.
Confrontado pela pergunta sobre qual dos dois candidatos o eleitor não votaria de jeito nenhum, a pesquisa do dia 16 mostra empate entre os candidatos: 35% diziam Aécio, 36% Dilma. Na pesquisa anterior, do dia 10, Aécio tinha 33% de rejeição e Dilma, 41%.
Sua rejeição (de Aécio) cresceu fortemente em todos os segmentos, mas especialmente entre os mais instruídos e com renda mais alta, ou seja, justamente onde ele concentra seu eleitorado.
Examinei os números de alto a baixo, e todos mostram tendência de consolidação de Dilma.
A linha de declínio de Aécio está muito parecida à de Marina, quando ela começou a cair.
Mas essas análises já estão um pouco ultrapassadas, porque baseadas em pesquisas anteriores aos debates, vencidos pela presidenta, e que ajudaram o povo a conhecer quem é Aécio Neves.
Segundo o Globo, que é um jornal engajado na campanha tucana, a rejeição de Aécio já superou a de Dilma.
Esta é a razão do TSE, cujos ministros parecem dominados por essa ideologia ultraconservadora que criminaliza, sempre, a política, e endeusa, sempre, a mídia, estar censurando as propagandas eleitorais de Dilma que mostram quem Aécio realmente é.
Mas agora é tarde demais.
A blindagem à Aécio já foi furada.

Aécio, não mate os números por votos.

mapa
Autor: Fernando Brito - no Tijolaço.

Não é preciso argumentar.
Basta acessar a página do Mapa da Violência, consultar a tabela da página 24 e ver como Aécio Neves é um mistificador.
Aécio foi muito pior, neste campo, que Sérgio Cabral e Geraldo Alckmin.
Agora faz demagogia com as “mães que estão chorando”.
Candidato Aécio, não se faz demagogia com vidas humanas.
Não se oculta cadáveres para ganhar votos.

AMÉRICA LATINA - Impasses dos governos progressistas



Ótimo artigo para pensarmos a América Latina (AL) mas, principalmente o Brasil. Vamos refletir o seguinte, a AL, foi quintal dos Estados Unidos por mais de 100 anos, alguns países ainda hoje sofrem essa condição, passamos por todo tipo de interferência econômica, política, cultural, religiosa, psicológica etc. a forma de enxergar a vida, a cultura, do vestir-se, do consumir, está impregnada de "valores" estadunidenses.

A presença dos Estados Unidos na vida dos países e de seus cidadãos e cidadãs é extremamente profunda. Ao longo dos últimos 20 a 30 anos, com o neoliberalismo, essa presença se fez mais contundente, pois tomou para si corações e mentes de uma leva muito grande de jovens. Isso é subliminar, essa cooptação da juventude é realizada de tal forma que se criticamos isso somos rapidamente tachados de "conspiradores", alguns, inclusive colegas de trabalho e de profissão, defendem, "professor isso me cheira teoria da conspiração" "isso não existe", "isso é coisa de baderneiro de extrema esquerda" etc.

Entendo e concordo com o grande Frei Betto, quem sou eu para discordar de um cara genial como ele, mas, me permito dizer ou fazer algumas reflexões: Primeiro, o ideal seria uma inversão total do sistema econômico/político, ou de um novo modo de construção social, político e econômico que permitisse a construção de uma sociedade onde as mazelas destacadas no artigo fossem substituídas por condições que permitissem ao povo como um todo uma sociedade justa e democrática. Segundo, concordo que os governos de esquerda que assumiram em boa parte dos países na América Latina, administram nos limites do sistema capitalista. Terceiro, no entanto, não acredito que tenhamos condições concretas de que esses governos progressistas possam ainda ir muito além. Não acredito, no entanto, que batemos a cabeça no teto, podemos avançar mais, fazer por exemplo, o fortalecimento dos Conselhos Populares já existentes e criarmos novos; Formas de voltarmos aos Movimentos Sociais de base para trabalharmos a questão da politização dos jovens; Criarmos condições reais para uma Educação verdadeiramente popular, que inclua em seu currículo, disciplinas e temas ligados aos povos indígenas, negros e à África, não como um momento de culminância de projetos aleatórios, mas como uma prática do cotidiano das escolas e dos educadores, educadoras e estudantes em geral; Colocar em prática nas escolas uma educação voltada pera a diversidade etc.

As reflexões do parágrafo logo acima parece texto de lei, mas não é não. Acreditar que podemos inverter o que está aí sem a educação e a politização de professores, professoras e estudantes, é, como diz o poeta, "chover no molhado". Existem trabalhos sérios e democráticos feitos nas Escolas e Universidades no país todo, por pessoas que acreditam num mundo diferente e melhor para todos, só que é muito pouco para uma mudança mais rápida. Esse processo necessita de mais tempo, de mais investimento em Educação e formação de alunos, alunas e educadores. Nosso trabalho é desconstruído pela "grande" mídia todos os dias, no dia seguinte temos que refazer em todo ou em parte, não é fácil trabalhar contra esse fenômeno.

Para finalizar, precisamos continuar elegendo políticos progressistas, precisamos continuar com as políticas públicas que muitos defendem que são assistencialistas, concomitantemente, vamos agir, vamos trabalhar para, aos poucos, com o povo consumindo e alimentado, construirmos um cenário real onde as grandes e importantes demandas estruturais da nossa sociedade possam ser implementadas, por exemplo, reforma agrária, reforma política, reforma tributária, construção de mais instrumentos de participação popular etc.

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

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no Le Monde Diplomatique Brasil


O modelo neodesenvolvimentista monitorado pela esquerda empenha-se em fazer da América Latina um oásis de estabilidade do capitalismo em crise. E não consegue fugir da equação que associa qualidade de vida e crescimento econômico segundo a lógica do capital
por Frei Betto

Na América Latina predominam hoje, em meados da segunda década do século XXI, governos democráticos populares. A maioria foi eleita por forças de esquerda. Dos chefes de Estado, cinco atuaram como guerrilheiros sob ditaduras: Dilma Rousseff, do Brasil; Raúl Castro, de Cuba; José Mujica, do Uruguai; Daniel Ortega, da Nicarágua; e Salvador Sánchez, de El Salvador.
Ora, ser de esquerda não é uma questão emocional ou mera adesão a conceitos formulados por Marx, Lenin ou Trotsky. É uma opção ética, com fundamento racional. Opção que visa favorecer, em primeiro lugar, os marginalizados e excluídos. Portanto, ninguém é de esquerda por se declarar como tal ou por encher a boca de chavões ideológicos, e sim pela práxis que desempenha em relação aos segmentos mais empobrecidos da população.
Na América Latina, os chamados governos democráticos populares reúnem concepções diversas e perseguem, em tese, projetos de sociedades alternativas ao capitalismo. Transitam contraditoriamente entre políticas públicas voltadas aos segmentos de baixa renda e o sistema capitalista global regido pelas “mãos invisíveis” do mercado.
Os governos democráticos populares têm produzido, de fato, importantes mudanças para melhorar a qualidade de vida de amplos segmentos sociais. Hoje, 54% da população latino-americana vive em países com governos progressistas. Eis um fato inédito na história do continente. Os outros 46%, cerca de 259 milhões de pessoas, vivem sob governos de direita, aliados aos Estados Unidos e indiferentes ao agravamento da desigualdade social e da violência.
Do ponto de vista histórico, é a primeira vez que tantos governos do continente mantêm distância dos ditames da Casa Branca. E é também a primeira vez que se criam instituições de articulações continentais e regionais (Alba, Celac, Unasul etc.) sem a presença dos Estados Unidos. Isso configura uma redução da influência imperialista na América Latina, entendida como predomínio de um Estado sobre o outro.
No entanto, outra forma de imperialismo prevalece na América Latina: o domínio do capital financeiro, voltado à reprodução e concentração do grande capital, que se apoia no poder de seus países de origem para promover, desde os países-hospedeiros, exportação de capital, mercadorias e tecnologias e apropriar-se das riquezas naturais e da mais-valia.
Houve um deslocamento da submissão política à submissão econômica. A força de penetração e obtenção de lucros do grande capital não se reduziu com os governos progressistas, apesar das medidas regulatórias e dos impostos adotados por alguns desses países. Se de um lado se avança na introdução de políticas públicas favoráveis aos mais pobres, por outro não se reduz o poder de expansão do grande capital.
Outra diferença entre os governos democráticos populares é que uns ousaram promover mudanças constitucionais, enquanto outros permanecem nos marcos institucionais e constitucionais dos governos neoliberais que os precederam, embora se empenhando em conquistas sociais significativas, como a redução da miséria e da desigualdade social.
As forças de esquerda da América Latina seguem se centrando na ocupação do aparelho de Estado. Lutam para que os segmentos marginalizados e excluídos se incorporem aos marcos regulatórios da cidadania (indígenas, sem-terra, sem-teto, mulheres, catadores de material reciclável etc.). Governos e movimentos sociais unem-se, sobretudo em períodos eleitorais, para conter as violentas reações da classe dominante alijada do aparato estatal.
No entanto, é essa classe dominante que mantém o poder econômico. E por mais que os ocupantes do poder político coloquem em prática medidas favoráveis aos mais pobres, há uma pedra intransponível no caminho: todo modelo econômico exige determinado modelo político condizente com seus interesses. A autonomia da esfera política em relação à econômica é sempre limitada.
Essa limitação impõe aos governos democráticos populares um arco de alianças políticas, muitas vezes espúrias, e com os setores que, dentro do país, representam o grande capital nacional e internacional, que corrói os princípios e objetivos das forças de esquerda no poder. E o que é mais grave: essa esquerda não logra reduzir a hegemonia ideológica da direita, que exerce amplo controle sobre a mídia e o sistema simbólico da cultura predominante.
Enquanto os governos democráticos populares se sentem permanentemente acuados pelas ofensivas desestabilizadoras da direita, acusando-a de tentativa de golpe, esta se sente segura por estar respaldada pela grande mídia nacional e global, e pela incapacidade de a esquerda criar mídias alternativas suficientemente atrativas para conquistar corações e mentes da opinião pública.
O modelo econômico predominante, gerenciado pelo grande capital e adotado pelos governos progressistas, visa aproveitar as vantagens da “globalização” para exportar commodities e riquezas naturais, a fim de fazer caixa para financiar, por meio de políticas públicas, o consumo dos segmentos excluídos pela dívida social. Ainda que adotem uma retórica progressista, os governos democráticos populares não logram prescindir do capital transnacional que lhes assegura suporte financeiro, novas tecnologias e acesso aos mercados. E, para isso, o Estado deve participar como forte investidor dos interesses do capital privado, seja pela facilitação de créditos, seja pela desoneração de tributos e adoção de parcerias público-privadas. Esse é o modelo de desenvolvimento pós-neoliberal predominante hoje na América Latina.
Esse processo exportador-extorsivo inclui recursos energéticos, hídricos, minerais e agropecuários, com progressiva devastação da biodiversidade e do equilíbrio ambiental, e a entrega da terra aos monocultivos anabolizados por agrotóxicos e transgênicos. O Estado investe em ampla construção de infraestrutura para favorecer o escoamento de bens naturais mercantilizados, cujo faturamento, em divisas estrangeiras, raramente retorna ao país. Grande parcela dessa fortuna aloja-se em paraísos fiscais.
Eis a contradição desse modelo neodesenvolvimentista, que, no frigir dos ovos, anula as diferenças estruturais entre os governos de esquerda e de direita. Adotar tal modelo é, pois, aceitar tacitamente a hegemonia capitalista, ainda que sob o pretexto de mudanças “graduais”, “realismo” ou “humanização” do capitalismo. De fato, é mera retórica de quem se rende ao modelo capitalista.
Se os governos democráticos populares pretendem reduzir o poder do grande capital, não há outra via senão a intensa mobilização dos movimentos sociais, uma vez que, na atual conjuntura, a via revolucionária está descartada e, aliás, só interessaria a dois setores: extrema direita e fabricantes de armas.
Se o que se pretende, porém, é assegurar o desempenho do grande capital, então os governos progressistas terão de se adequar para, cada vez mais, cooptar, controlar ou criminalizar e reprimir os movimentos sociais. Toda tentativa de equilíbrio entre os dois polos seria, de fato, contrair núpcias com o capital e, ao mesmo tempo, flertar com os movimentos sociais no intento de apenas seduzi-los e neutralizá-los.
Como os governos democráticos populares tratam os segmentos da população beneficiados pelas políticas sociais? É inegável que o nível de exclusão e miséria causado pelo neoliberalismo exige medidas urgentes que não fujam ao mero assistencialismo. Tal assistencialismo, porém, restringe-se ao acesso a benefícios pessoais (bônus financeiro, escola, atendimento médico, crédito facilitado, desoneração de produtos básicos etc.), sem que haja complementação com processos pedagógicos de formação e organização políticas. Criam-se, assim, redutos eleitorais, sem adesão a um projeto político alternativo ao capitalismo. Dão-se benefícios sem suscitar esperança. Promove-se o acesso ao consumo sem propiciar o surgimento de novos protagonistas sociais e políticos, e o que é mais grave: sem perceber que, no bojo do atual sistema consumista, cujas mercadorias recicláveis estão impregnadas de fetiche, valorizando o consumidor e não o cidadão, o capitalismo pós-neoliberal introduz “valores” – como a competitividade e a mercantilização de todos os aspectos da vida e da natureza –, reforçando o individualismo e o conservadorismo.
O símbolo dessa modalidade pós-neoliberal de consumismo é o telefone celular. Ele traz em seu bojo a falsa ideia de democratização pelo consumo e de incorporação à classe média. Assim, segmentos excluídos sentem-se menos ameaçados quando acreditam que está ao alcance deles, mais facilmente, atualizar o modelo do celular do que obter saneamento onde moram. O celular é a senha para sentir-se incluído no mercado... E sabemos todos que as formas de existência social condicionam o nível de consciência. Em outras palavras, a cabeça pensa onde os pés pisam (ou imaginam que pisam).
Nossos governos progressistas, em suas múltiplas contradições, criticam o capitalismo financeiro e, ao mesmo tempo, promovem a bancarização dos segmentos mais pobres, por meio de cartões de acesso ao benefício monetário, a pensões e salários, e da facilidade de crédito, apesar da dificuldade de arcar com os juros e a quitação das dívidas.
Em suma, o modelo neodesenvolvimentista monitorado pela esquerda empenha-se em fazer da América Latina um oásis de estabilidade do capitalismo em crise. E não consegue fugir da equação que associa qualidade de vida e crescimento econômico segundo a lógica do capital. Enquanto não se socializa culturalmente a proposta indígena do bem viver, para a grande maioria viver bem será sempre sinônimo de viver melhor em termos materiais.
O grande perigo de tudo isso é fortalecer, no imaginário social, a ideia de que o capitalismo é perene (“A história acabou”, proclamou Francis Fukuyama) e que sem ele não pode haver processo verdadeiramente democrático e civilizatório, o que significa demonizar e excluir, ainda que pela força, todos que não aceitam essa “obviedade”, então considerados terroristas, inimigos da democracia, subversivos ou fundamentalistas.
Essa lógica é reforçada quando, em campanhas eleitorais, os candidatos de esquerda acenam, enfaticamente, com a confiança do mercado, a atração de investimentos estrangeiros, a garantia de que os empresários e banqueiros terão maiores ganhos etc.
Por um século a lógica da esquerda latino-americana jamais deparou com a ideia de superar o capitalismo por etapas. Esse é um dado novo, que exige muita análise para pôr em prática políticas que impeçam que os atuais processos democráticos populares sejam revertidos pelo grande capital e por seus representantes políticos de direita.
Esse desafio não pode depender apenas dos governos. Ele se estende aos movimentos sociais e aos partidos progressistas, que, o quanto antes, precisam atuar como “intelectuais orgânicos”, socializando o debate sobre avanços e contradições, dificuldades e propostas, de modo a alargar sempre mais o imaginário centrado na libertação do povo e na conquista de um modelo de sociedade pós-capitalista verdadeiramente emancipatório. 
Frei Betto é escritor, autor de Calendário do Poder (Rocco), entre outros livros.

Ilustração: Tulipa Ruiz

sábado, 18 de outubro de 2014

Como Globope e Datafalha manipulam a “margem de erro” - Isso não é margem de erro, professor. É “margem de acerto”…


Conversa Afiada reproduz da Rede Brasil Atual:

‘NÃO SE PODE CONFIAR NELAS’, DIZ ESTATÍSTICO SOBRE PESQUISAS ELEITORAIS


São Paulo – Para o professor aposentado da Unicamp José Ferreira de Carvalho, consultor da empresa Statistika e um dos profissionais mais reconhecidos da área de estatística no país, as pesquisas eleitorais divulgam margens de erro que não podem ser comprovadas cientificamente. Em relação à discrepância dos números apresentados neste segundo turno da disputa eleitoral à Presidência da República por vários institutos, ele é enfático. “É mais fácil você acertar na Mega-Sena do que acontecer uma coisa dessas”, destaca, em entrevista à RBA.


A partir da análise dos números díspares apresentados na reta final do pleito e dos métodos dos institutos, que têm sido duramente criticados neste ano por terem errado os percentuais finais de votos válidos de alguns candidatos a presidente, governador e senador, o professor ressalta que a margem de erro não é um “projeto estatístico” e que não se deveria permitir a sua declaração, por ser “tecnicamente incorreta.”

Leia, na íntegra, a entrevista com o professor José Ferreira de Carvalho.


A margem de erro divulgada não é científica?

É verdade. Não é um projeto estatístico. Não se baseia em estatística. O que a gente pode dizer, garantidamente, é que a margem de erro que calculam não tem justificativa. Eles calculam como se a amostra tivesse sido aleatória, mas o fato é que ela não é.


A justificativa tem a ver com o custo e rapidez?

É verdade. Para fazer uma amostra aleatória, como o IBGE faria, você teria que ter a lista dos eleitores, seus endereços, e quem for sorteado, tem de ir atrás. E isso é caro, demora muito. Agora, uma coisa é certa: você não pode permitir que declarem uma margem de erro que tecnicamente está incorreta. A declaração, portanto, é falsa.


É falsa?

Exatamente. E aí você vai para a parte empírica. Eles dizem que “Deus” aleatorizou para eles, vamos verificar fazendo uma comparação com o resultado das eleições com as pesquisas mais próximas do sufrágio propriamente dito.


Bom, nós temos levantamentos em que as margens não batem coisa nenhuma. Os desvios que se obtêm dão fora da margem de erro com uma frequência muito mais alta do que seria estatisticamente de se esperar. Você não pode, seja qual for a razão, usar as fórmulas da amostragem aleatória para cotas.


Esse método por cotas é exclusividade do Brasil ou é um padrão internacional?

Eles não inventaram isso. Eles trouxeram isso de institutos de pesquisa da Inglaterra e da França. Esse grandes institutos, Ipsos, etc, estão por trás da formação dessa turma toda. Além disso, esses institutos brasileiros estão nas mãos não de estatísticos, mas de sociólogos, cientistas políticos, gente que, em geral, é avesso a matemática. Acabei de escutar um conferência do professor Fernando Henrique Cardoso, com todo o respeito, o que ele diz: ‘bom, eu sou sociólogo, não sei resolver uma equação de segundo grau’.


Na Inglaterra, houve um problema sério com essas pesquisas por cotas na década de 1950. Então, o próprio governo inglês encomendou um estudo que foi feito. Usaram amostragem aleatória e por cotas em paralelo para uma mesma temática. E compararam os resultados. Empiricamente, as tais amostragens de erro por cotas eram bem maiores do que a aleatória. Isso está publicado.


Outro exemplo, se você quiser, é o Instituto Gallup, que fazia pesquisas por amostragem e não aguentou a concorrência do institutos que faziam por cotas, de forma rápida e rasteira. Mas nos EUA, eles [Gallup]participam de todas as pesquisas de presidente e têm publicado os resultados desde 1936 e por cotas. Aí deu problema nos anos de 1936 e 1946. E, em 1952, eles mudaram.


No segundo turno das eleições presidenciais deste ano, já saíram algumas pesquisas de intenção de voto para a presidência. Entre os números, as diferenças de intenção de voto entre Dilma Rousseff e Aécio Neves passam por oito, 17 pontos e empate técnico. Dá para confiar em pesquisa eleitoral no tanto que se confia no Brasil?

Olha, eu não sei o que dizer sobre esse números, mas fico até arrepiado. E te digo como estatístico, a resposta é que não dá pra confiar. As margens de erro que declaram… Margem de erro é uma coisa importante e as fórmulas que eles usam estão erradas. Então, em princípio, eu não confio. Você tem 17 pontos de diferença em uma pesquisa, oito em outra e zero em outra, ou seja, estão completamente fora. É mais fácil você acertar na Mega-Sena do que acontecer uma coisa dessas.


O antipetismo, o ódio à discordância e por que voto em Dilma (e não voto em Aécio)

Uma opinião jovem, de um cara que trabalha com cinema, que trabalha com pessoas, com gente, muito interessante.
Assista.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Aécio não fez o teste do bafômetro. Carteira estava vencida ! E esse é o paladino da Moralidade !





Extraído do Conversa Afiada


Contemple, amigo navegante, a oscilação do rapaz, em pé, na porta de um boteco, na madrugada do Rio.

Parece que está em alto mar !

E veja o que diz a Globo (!!!) sobre as múltiplas “imoralidades” do candidato da Moralidade !

Será que ele ainda tem a carteira de motorista ou perdeu ?

Evangélicos, Aécio, a cocaína e o bafômetro - Quem não faz o bafômetro vai respeitar a Constituição ?


Extraído do Conversa Afiada

É razoável supor que a candidatura de Dilma Rousseff enfrente resistência em São Paulo num grupo bem específico: eleitores de inclinação religiosa evangélica – na maioria pentecostais – e da Classe C.

Eles seriam especialmente sensíveis à “questão moral” e, portanto, ao vazamento seletivo, preferencial, promovido pelo Juiz Sergio Moro, no Paraná.

Seriam eleitores sensíveis ao massacrante “envenenamento” a que o PiG submete os trabalhistas, desde Vargas.

A Presidenta Dilma repete que tem dois eixos morais em sua campanha: 

- o eixo do combate à corrupção – porque ela tem todo o direito, como já fez, de desafiar o Aecioporto a tratar de corrupção, já que ele não tem autoridade moral para tratar do assunto;

- e o eixo da igualdade de oportunidades.

E ela tem autoridade moral para falar disso, porque subiu na vida pelejando, como diria seu mestre Brizola, e não foi nomeada vice-presidente da Caixa com 25 anos.

Há outros dois pontos obscuros na biografia desse precocemente talentoso político do Rio que milita em Minas.

Quem sabe o PT, o Partido da Tremedeira, segundo o Bessinha, não investiga pra nós ?

O Golpe  Militar entregou o CADE ao outro avô do Aécio, o mineiro Tristão da Cunha, mega-reacionário.

E, no CADE militarizado, o jovenzinho teria recebido uma Bolsa Família …

Entre 1977 e 1981, com 17 anos, o jenio precoce teria “trabalhado” como assessor na Câmara dos Deputados, enquanto cursava no Rio a Economia da PUC.

(Sempre na ponte-aérea para o Rio … É uma mania dele …)

Se isso for de fato verdade – o PT nos ajudará … – os avós de pai e de mãe o trataram com especial desvelo …

Está aí um caso típico de quem venceu na vida através da “meritocracia”.

Talvez fosse também interessante tratar de outros dois aspectos morais, nessa próxima temporada de debates e programas no horário eleitoral.

A questão da cocaína e da recusa em fazer o bafômetro.

Conversa Afiada reafirma a convicção de que o candidato Aecioporto deveria se submeter a um exame público e transparente para definir se foi ou não usuário de cocaína.

Ele é candidato a Presidente da República.

O Brasil é um país assolado pela cocaína e o crack, e vizinho de produtores e comerciantes de drogas.

Não se pode correr o risco de ter um Presidente que foi usuário de drogas.

Só um exame público, na Fundação Oswaldo Cruz, diante das câmeras da Globo – e do Conversa Afiada – com médicos especializados, escolhidos pelas duas campanhas – poderá esclarecer essa dúvida cruel.

Que não é só do Conversa Afiada, mas de toda a família Perrella e do respeitado jornalista Fernando Barros e Silva, hoje na revista piauí, e que militou na Fel-lha (no ABC do C Af), com destaque, por muitos anos.

Reveja os trechos do programa Roda Morta em que Barros e Silva, de forma corajosa, apesar do âncora (…), trata da “questão moral”, a partir da confissão do próprio candidato tucano de que já consumiu maconha:

O senhor foi usuário de cocaína ?

É uma pergunta que todo brasileiro tem o direito de fazer !

E que, indiretamente, fez, como lembra Barros e Silva, o ardoroso defensor da candidatura Aécio, o agora eleito senador Padim Pade Cerra.

Num artigo na Fel-lha de São Paulo, em 15 de dezembro de 2013, Cerra, que ainda disputava a candidatura a Presidente pelo PSDB, exigiu que o debate sobre o consumo de cocaína fizesse parte das questões eleitorais em 2014.

Todos se lembram de um dos capítulos dessa sangrenta disputa entre Cerra e Aécio, num sábado, no Estadão, quando um redator da turma do Cerra escreveu celebre artigo “Pó pará, governador”,  para se referir a Aécio.

(É constrangedor assistir, hoje, a cenas em que o Padim Pade Cerra se posta ao lado de Aecioporto, candidato a Presidente. Não se distingue quem demonstra odiar mais o outro…)

O próprio “príncipe que virou sapo”, no magistral título de Ricardo Melo na Fel-lha, na mesma revista piauí, naquela celebre entrevista em que disse que o 7 de setembro é uma palhaçada, FHC disse:

“Agora, o Aécio gosta demais da vida privada dele. Pode parecer banal, mas é assim que as coisas funcionam.”

Vida privada ?

Mas, como, FHC, se o rapaz desde os 25 anos tem “vida pública” ?

Ou sempre foi assim e a irmãzinha não deixava a gente saber ?

Um outro ponto a ser considerado pelos eleitores evangélicos de Classe C é a questão moral do bafômetro e o alcoolismo.

Basta refletir: quantos brasileiros já se curaram do consumo de drogas e do alcoolismo com a ajuda de igrejas evangélicas ?

No vídeo que está na TV Afiada, se vê:

- Aécio completamente alcoolizado, mal se equilibra nas pernas, entra num botequim da zona Sul do Rio, à noite, e recompensa um garçom com gorda gorjeta;

- depois, numa reportagem da Globo (da Globo !!!),  se vê que a carteira de motorista dele está vencida;

- e que ele se recusa a fazer o teste do bafômetro: “preferiu não se submeter ao bafômetro”, diz o BO.

Quer dizer, então, amigo navegante evangélico, que corremos o risco de, numa emergência, numa crise que acabe de estourar, o Presidente da República poderá estar alcoolizado, sem poder andar – nem se dirigir à Nação ?

Quer dizer, então, amigo navegante evangélico, que o candidato da Moralidade se recusou a fazer o teste do bafômetro ?

Como diz aquele amigo navegante, se ele não respeita o teste do bafômetro, obrigação mínima, elementar de todo cidadão civilizado, quem garante que ele, Presidente, respeitará a Constituição ?

Quem garante que ele não feche TODOS os blogs ?

Inclusive este ?

Ou as igrejas evangélicas que não sigam o Malafaia e o Pastor Everaldo ?.

Em tempo
: amigo navegante lembra de outro assunto que o PT poderia explorar, não fosse o Partido da Tremedeira:


O “mensalão tucano” e a lista de Furnas 

A lista relacionaria as pessoas beneficiadas pelo caixa de campanha de Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas Gerais

A ação penal no 1.274 da Procuradoria Geral da República – o chamado “mensalão tucano” – traz elementos contundentes sobre a participação do ex-governador mineiro Eduardo Azeredo (PSDB) no desvio de 4,5 milhões de reais (valores da época) de três estatais mineiras – Copasa, Cemig e BEMGE – para sua campanha eleitoral.

Mas traz informações esclarecedoras sobre a tal “Lista de Furnas”, que relacionaria as pessoas beneficiadas pelo caixa de campanha. Há uma discussão permanente sobre a veracidade ou não da lista.

(…)



Paulo Henrique Amorim

Lula: se ele não fez o bafômetro, como vai governar ? Cerra tem razão: a questão do consumo de drogas ilícitas tem que entrar na campanha de 2014.


Extraído do Conversa Afiada

Nesta quarta-feira (15), o Presidente Lula questionou a capacidade do candidato Aécio Neves (PSDB) de ser chefe do executivo nacional. O petista lembrou de episódio ocorrido com o senador em 2011 quando teve a habilitação apreendida em blitz da Lei Seca no Rio de Janeiro. 

“Ontem eu assisti o debate e ouvi o Aécio dizendo que tem responsabilidade e competência pra governar o país. Como alguém que se recusa a fazer o teste do bafômetro, por estar dirigindo bêbado, pode governar o país?”, perguntou Lula em comício na cidade de Ananindeua (PA), onde fez campanha para Helder Barbalho (PMDB), candidato a governador.

No discurso, o Presidente confrontou os anos em que o PT comandou o governo federal com os oito anos de gestão de Fernando Henrique Cardoso. “Eu queria convidar vocês a fazerem uma viagem há 12 anos atrás nesse país e lembrar como era na época dos tucanos. Tem dois projetos em disputa agora. Houve um tempo nesse país que o povo pobre só podia participar da política como cabo eleitoral”, disse ao pedir votos para a candidata à reeleição Dilma Rousseff.

“Houve um tempo nesse país que quem ganhava só um salário mínimo não podia sonhar com casa própria, um tempo em que a gente agia como um vira-lata, pedindo licença para outros países do que a gente faria e um tempo em que só se governava para um terço da população”, prosseguiu aos militantes..

Ao falar sobre as políticas sociais implantadas pelo PT, ele lembrou de um diálogo com o ex-presidente dos Estados Unidos, George Bush. “Eu disse para o presidente Bush ‘o meu inimigo não é o Saddam Hussein. O meu inimigo é a pobreza do meu povo, é a fome. O meu inimigo é a elite perversa que governa o meu país há anos”.

A pouco mais de uma semana para o segundo turno, o Presidente ainda vai ao Amazonas, ao Acre e a Minas Gerais até o próximo sábado (18). Abaixo outras frases de Lula:

O filho da emprega doméstica, hoje, está sentado ao lado da sua patroa;

Eu tenho certeza que nunca na história do Brasil o norte e o nordeste, recebeu mais dinheiro do Governo Federal, do que no nosso governo;

Eu tenha certeza que nunca na história desse país, se investiu tanto em escolas técnicas;

É importante a gente dizer para aqueles que não sabem o que fizemos, tudo que fizemos pelo Brasil;

Eu estou aqui pra dizer pra vocês que nós temos obrigação moral e política de elegermos a Dilma presidenta;

Eu tenho muita agenda ainda pra campanha de Dilma e no dia 26 comemorarei a vitória de Dilma e do Helder;

Um abraço companheiros e até a vitória

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Lucia Murat desmente jornal e declara voto em Dilma

Resultado de imagem para Imagem Lucia Murat

Revista Fórum

A cineasta veio a público desmentir insinuações de que votaria em Aécio Neves
Por Redação
A cineasta Lucia Murat (Quase dois irmãos) veio a público desmentir uma reportagem veiculada no jornal O Globo. O impresso publicou uma nota em que tratava de um manifesto de profissionais do audiovisual destinado aos candidatos à presidência Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Segundo a diretora, a publicação descontextualizou a iniciativa e deu a entender que ela apoiaria o candidato tucano.
“Assinei um documento apartidário sobre problemas na área de audiovisual que deveria ser entregue aos dois candidatos e que foi publicado no jornal O Globo de hoje. Infelizmente, com meu nome em destaque, a matéria insinua que esse seria um manifesto pro-Aécio”, explica a diretora.
Posteriormente, Lucia Murat diz, em sua carta, que foi publicizada pela também cineasta Tata Amaral (Antônia), que vota em Dilma “não em causa própria”, mas por conta das transformações ocorridas no interior do Brasil.
“Voto em Dilma porque cada vez que viajo para o interior, vejo que as coisas mudaram. Onde antes era miserável, as pessoas hoje comem. Voto em Dilma porque quando chego no aeroporto vejo os ex-imigrantes nordestinos viajando para visitar suas famílias. Voto em Dilma porque em Buenos Aires já encontrei um grupo de empregadas domésticas que economizaram para lá passar suas férias”, explica Lucia Murat.
A seguir, confira a carta da cineasta na íntegra:
“Assinei um documento apartidário sobre problemas na área de audiovisual que deveria ser entregue aos dois candidatos e que foi publicado no jornal ‘O Globo’ de hoje. Infelizmente, com meu nome em destaque, a matéria insinua que esse seria um manifesto pro-Aécio.
Queria esclarecer primeiro que esse era um documento sobre problemas da nossa atividade e que não havia qualquer intenção de apoiar qualquer candidato. Além disso, eu voto em Dilma.
Não voto em Dilma em causa própria. Minha vida de elite, classe média, branca, cineasta vai muito bem obrigada e não deverá mudar com uma mudança de governo.
Voto em Dilma porque cada vez que viajo para o interior, vejo que as coisas mudaram. Onde antes era miserável, as pessoas hoje comem. Voto em Dilma porque quando chego no aeroporto vejo os ex-imigrantes nordestinos viajando para visitar suas famílias. Voto em Dilma porque em Buenos Aires já encontrei um grupo de empregadas domésticas que economizaram para lá passar suas férias. Com uma felicidade indescritível. Voto em Dilma porque os estudantes universitários brasileiros hoje tem acesso ao exterior com inúmeras bolsas.
Tem correções a fazer? Muitas. Não gosto de burocracia, aparelhamento e muito menos de um desenvolvimentismo à custa da ecologia. Mas se todos nós, preocupados com a realidade social e mais tudo isso, votarmos em Dilma, seremos uma força de pressão e de diálogo para que todas essas questões estejam em pauta no próximo Governo.
Lúcia Murat”.
Foto: UFRJ