segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Flavio Dino, o “comuna” no Sarneystão Líder nas pesquisas, Flávio Dino resiste aos impropérios da oligarquia local

Flávio Dino
De São Luís
Em um encontro com empresários e produtores rurais do Maranhão, na quarta-feira 10, os candidatos ao governo estadual Flávio Dino, do PCdoB, e Edison Lobão Filho, do PMDB, tiveram a oportunidade de apresentar suas propostas aos representantes do PIB no estado. Como é comum em eleições polarizadas, ataques mútuos dominaram boa parte do debate, entre discussões sobre os problemas de infraestrutura e os péssimos índices maranhenses de desenvolvimento humano, os piores do Brasil.
De fala mansa, Dino parece ser um candidato avesso aos truques de marketing. Líder das pesquisas realizadas por três institutos, deixa o corpo escorregar na cadeira como se estivesse no sofá de casa, enquanto espera sua vez de subir ao púlpito. Lobão Filho, com um blazer e uma camisa social desabotoada, faz pose de celebridade e arrisca piadas, apesar do nervosismo. Empresário, filho de Edison Lobão, ministro de Minas e Energia, o candidato da família Sarney assume ter mais experiências no mundo dos negócios do que na política. A veia capitalista explicaria um dos motes de sua campanha: acusar Dino de pretender implantar o comunismo no Maranhão?
Embora os seis partidos brasileiros que trazem os termos “socialismo” ou “comunismo” no nome tenham pouca fidelidade aos princípios marxistas, Lobão Filho procura alimentar um suposto temor do eleitorado com o risco da instauração de uma ditadura do proletariado no Maranhão. Dominado há quase 50 anos pelo mesmo grupo político, salvo breves períodos de interregno, a ponto de merecer a alcunha de “sarneystão”, o estado parece estacionado naquele mesmo ponto em que Sarney o conquistou: 1966, tempos da Guerra Fria.
Após o candidato do PCdoB defender a aproximação entre o governo e as entidades empresariais, o pemedebista fez a primeira troça. “Achei estranha a visão do comunista, vai contra sua própria filosofia. Entendo que o Estado deve ter o mínimo de participação na vida privada.” Mais à frente, Lobão Filho (foto ao lado) afirmou que o Maranhão precisa de “visão empresarial, não comunista”. Ao criticar um dado apresentado pelo oponente, disse compreender que “comunistas não entendam de tarifa de energia”. A plateia de empresários não se mostrou impressionada com o discurso. Os aplausos foram, porém, efusivos quando Dino, após comentar uma pesquisa que coloca o Maranhão e o Amapá entre os três piores estados para investimentos estrangeiros, perguntou: “O que ambos têm em comum?”
Parece existir um esgotamento em diversos setores da sociedade maranhense com a onipresença da família Sarney. A prevista aposentadoria do patriarca José no Amapá e da filha Roseana no Maranhão deixou o grupo político órfão de lideranças carismáticas. Em junho do ano passado, os protestos no estado foram motivados menos pelo preço das tarifas de transporte público e mais pela perenidade da oligarquia. O PSDB e o PSB desistiram de candidaturas próprias e compuseram uma chapa heterogênea com Dino. O Movimento Sem Terra e a federação estadual dos trabalhadores pressionam os petistas locais a aderir à candidatura do PCdoB, embora formalmente o partido apoie Lobão Filho.
A mobilização reflete-se nas pesquisas. Segundo o instituto Ibope, Dino tem 42% das intenções de voto, ante 30% do adversário, beneficiário da máquina estatal e dos inúmeros meios de comunicação comandados pelos Sarney e seus aliados. O levantamento foi realizado em parceria com a TV Mirante, afiliada da Globo, sob controle de Fernando Sarney. No Maranhão, o instituto costuma cometer erros. Por duas vezes, o Ibope cravou a vitória de Roseana no primeiro turno e acabou desmentido pelas urnas. Fora da órbita da TV Mirante, o instituto Exata, em parceria com a Federação das Indústrias, afere 56% para Dino e 27% para Lobão Filho. Segundo o Data M, o candidato do PCdoB soma 58,2%. Impressiona a diferença no total de eleitores indecisos entre os levantamentos. Seriam 18% do eleitorado, de acordo com o Ibope. E até três vezes menor, conforme os demais.
Os três principais partidos da coligação de Dino participaram do governo de Jackson Lago, eleito em 2006. Naquele ano, Dino tornou-se deputado federal pelo PCdoB, assim como o tucano Carlos Brandão, vice na atual chapa, e o pessebista Roberto Rocha, candidato ao Senado neste ano. A coligação atual, afirma Dino, começou a ser modelada quando o trio atuava na Câmara dos Deputados. Em 2009, o grupo sofreu uma derrota política após a cassação do mandato de Lago por abuso de poder econômico e político. Entre as denúncias, a compra de votos de quatro eleitoras por 100 reais chegou a ser posta em suspeição pelo magistrado do Tribunal Superior Eleitoral Marcelo Ribeiro, por terem as testemunhas assumido o crime de forma espontânea. Segunda colocada nas eleições de 2006, Roseana assumiu o cargo.
A passagem frustrada de Lago pelo Palácio dos Leões serve de alerta para o candidato do PCdoB. Nas últimas eleições, Dino amealhou quase 30% dos votos. No ano passado, seu grupo político passou a fazer encontros semanais com diversos representantes da sociedade civil. “Nossa expectativa é fazer parcerias com prefeituras, igrejas e sindicatos e criar uma rede de proteção e prevenir a capacidade de sabotagem mostrada pelo grupo de Sarney no mandato de Lago”, afirma.
Nestas eleições, Dino define-se como “síndico de condomínio”. Para manter a harmonia entre os integrantes da coligação, o candidato não declara voto a presidente, embora o PCdoB integre o governo Dilma Rousseff. Segundo Brandão, cada partido mobiliza-se de forma independente em defesa de seu presidenciável. “No início da campanha, surgiram alguns atritos nos palanques, pois um criticava a corrupção do PT, o outro atacava Eduardo Campos. Por isso, decidimos deixar a disputa presidencial em segundo plano.” Segundo a pesquisa Ibope/TV Mirante, Dilma é a preferida de 59% do eleitorado maranhense, mas o efeito Marina Silva não é desprezível. A candidata do PSB tem 25%. Aécio Neves alcança apenas 5%.
O trunfo de Lobão Filho na campanha é o apoio formal de Lula e Dilma, mas a adesão dos petistas locais à sua candidatura não é homogênea. Em 2010, o partido sofreu baixas após a direção nacional exigir o apoio à candidatura de Roseana. Neste ano, é nítido o movimento de alguns petistas em favor de Dino. O candidato a deputado federal Márcio Jardim usa um truque para mostrar ao eleitor sua opção. Nas urnas, seu número é 1365, uma combinação entre o 13 do PT e o 65 do PCdoB. O petista Chico Gonçalves, um dos mediadores entre a campanha de Dino e a de seu partido, afirma que derrotar o grupo de Sarney no Maranhão “não é uma questão política, mas humanitária”.
Já Lobão Filho se esforça para desvincular sua imagem do grupo de Sarney.  Seu programa de tevê exibe imagens de Lula, enquanto Roseana e o próprio pai ainda não deram as caras nas peças do partido. O candidato, que não atendeu aos pedidos de entrevista, fala abertamente em “renovar” o Maranhão. O mau desempenho na campanha deve ter estimulado a adoção da estratégia anticomunista. Em um panfleto distribuído em São Luís, o peemedebista é retratado como aquele que “tem fé em Deus” e acusa o outro lado de acreditar “no comunismo”. No verso do panfleto, há uma silhueta de Dino com a foice e o martelo estampados no peito. A campanha de Lobão Filho veiculou inserções na TV Mirante nas quais clama para os eleitores evitarem a transformação do Maranhão “no primeiro estado comunista do Brasil”. O canal de Fernando Sarney reforça a caçada. Entrevistadores da TV Mirante perguntaram a Dino se ele iria “implantar o comunismo”, caso eleito. Em resposta, o candidato do PCdoB reafirma sua religiosidade. No encontro com os empresários do Maranhão, chegou a citar a Bíblia em uma de suas intervenções.
Não bastassem os resultados negativos das pesquisas, Lobão Filho vê-se agora obrigado a rebater as acusações contra seu pai e a atual governadora, dois dos nomes citados por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, na lista de supostos beneficiários de um esquema de propinas em contratos da estatal. No debate da quarta 10, o candidato fez uma promessa ousada. “Se ficar provado algo contra meu pai, eu renuncio na mesma hora.” A denúncia de Costa talvez tenha maior impacto nas eleições do Maranhão do que na corrida presidencial. Em 2010, um dos pilares da campanha de Roseana era a construção de uma refinaria da Petrobras no município de Bacabeira. A obra está paralisada, apenas com a terraplanagem concluída. Em abril deste ano, o Tribunal de Contas da União apontou irregularidades no projeto, que teriam causado um prejuízo de 84,9 milhões de reais à estatal.
Na terça 9, uma sessão da Assembleia Legislativa do Maranhão foi animada por ataques do deputado Rubens Pereira Júnior, do PCdoB, a Roseana e Lobão. O líder do governo na casa, Magno Bacelar, do PV, pediu aparte para lembrar que o PSB, aliado de Dino, também foi mencionado na denúncia. Em um momento cômico, Júnior parafraseou a canção Jorge Maravilha, de Chico Buarque, para tripudiar do colega. “O senhor não vota no Dino, mas sua filha vota.” As pesquisas internas do PCdoB apontam para uma adesão de 70% dos eleitores entre 16 e 34 anos.
*Reportagem publicada originalmente na edição 817 de CartaCapital, com o título "O 'comuna' no Sarneystão"

Flavio Dino: “Entrevista parecia inquérito do DOI-Codi” Líder nas pesquisas no Maranhão fala da campanha contra sua candidatura e busca evitar sabotagens da TV Mirante, da família Sarney - por Miguel Martins

Líder nas pesquisas é vítima de campanha anticomunista
Líder nas pesquisas é vítima de campanha anticomunista
site da revista Carta Capital



Os seis partidos brasileiros que trazem os termos “socialismo” ou “comunismo” no nome têm pouca fidelidade aos princípios marxistas. O candidato à sucessão de Roseana Sarney ao governo do Maranhão, Lobão Filho, procura, contudo, alimentar um suposto temor do eleitorado local com o risco da instauração de uma ditadura do proletariado no estado caso Flavio Dino, do PCdoB, seja eleito governador. Dominado há quase 50 anos pelo mesmo grupo político, salvo breves períodos de interregno, o estado parece estacionado naquele mesmo ponto em que José Sarney o conquistou: 1966, tempos da Guerra Fria.
A campanha anticomunista, reforçada em panfletos, inserções em rádios e televisão e até mesmo em debates entre os candidatos, parece ser a estratégia prioritária da campanha do filho do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Segundo dois institutos de pesquisa maranhenses, o peemedebista está a mais de 30 pontos do líder Flavio Dino, do PCdoB.
O instituto Ibope, em parceria com a TV Mirante, afiliada da Globo no estado, sob o comando da família Sarney, afere uma vantagem bem menor para Dino: 12 pontos. Vale a ressalva: o instituto costuma cometer erros nas eleições estaduais. Por duas vezes, cravou a vitória de Roseana no primeiro turno e foi desmentido pelas urnas. Sua parceria com a TV Mirante também não confere credibilidade. Em uma entrevista em 22 de agosto, Dino foi questionado em uma entrevista ao canal se “iria implantar o comunismo no Maranhão.”
Em entrevista a CartaCapital, Dino afirma que a entrevista foi a maior surpresa de sua campanha até o momento. “Parecia um inquérito do DOI-Codi”, compara. Além de criticar a estratégia da qual tem sido alvo, o candidato apresenta algumas de suas propostas para o estado, cujo índice de desenvolvimento humano é um dos piores do País. Ex-juiz federal, o candidato diz que irá investir em parcerias com entidades da sociedade civil para garantir uma rede de proteção contra o poderio midiático e econômico de Sarney no estado. Embora o PCdoB faça parte do governo Dilma, Dino prefere não declarar seu voto à presidente. O objetivo é manter a harmonia em sua chapa, cujo vice é do PSDB e o candidato ao Senado, do PSB. “Nesse caso, o voto secreto é um direito constitucional”, brinca.
CartaCapitalO senhor tem sido alvo de uma campanha no estado para associa-lo ao comunismo e ao ateísmo. Como o senhor interpreta esses ataques?
Flávio Dino: Foi uma aposta errada que fizeram. É reveladora a falta de discurso do PMDB. Eles não têm o que dizer, não têm um programa para apresentar. É um discurso gelatinoso. Nem a continuidade com o grupo de Sarney o Lobão Filho assume. Então apostaram nessa linha de agressão pessoal e tentaram criar essa dicotomia no debate público. Chega a ser risível: ao invés do anti-sarneyzismo, eles acharam que o anticomunismo poderia ser a pauta principal das eleições. Na sociedade, essa agenda não existe. Tentaram implantá-la de uma forma muito baixa, inclusive com o próprio José Sarney como líder, algo que me chamou a atenção. Ele próprio escreveu um artigo sobre o tema, e seu jornal, O Estado do Maranhão, usa imagens de comunistas perseguindo crianças. Sem contar a entrevista para TV Mirante, em 22 de agosto. Minha maior surpresa nas eleições até o momento foi aquela entrevista. Não imaginava uma entrevista de sete minutos similar a um interrogatório do Doi-Codi. Com o PCdoB sendo legalizado há 30 anos, eu jamais imaginei essa postura, assumida por orientação dos donos da emissora. O mais grave dessa aposta é que é fascista. Eles não se dão conta do que significa uma disputa política baseada no ódio. As grandes tragédias da humanidade surgiram desse incitamento ao ódio. O nazismo é o exemplo máximo.
CC: O senhor conta com uma coligação ampla, com 9 partidos de espectros distintos. O senhor tem formalmente em sua base o PSDB e o PSB, ambos com candidatos relevantes à presidência. O elo entre esses partidos no Maranhão é o sentimento anti-Sarney?
FD: Sim, essa é a liga principal. São 49 anos de um poder quase ininterrupto, a partir da eleição de José Sarney como governador.  Na ditadura, ele governou com todos os generais e foi presidente da Aliança Renovadora Nacional. Era de se esperar que, a exemplo de outras figuras do período, houvesse uma diminuição de seu poder com a chegada do regime democrático. Mas, pelo contrário, ele tornou-se presidente da República, e depois um senador com muito poder em praticamente todos os governos. Desde Itamar Franco, sempre houve um nome vinculado à Sarney em algum ministério: Alexandre Costa, ministro da Integração Regional de Itamar, Zequinha Sarney, ministro do Meio Ambiente no governo Fernando Henrique, e agora Edison Lobão, chefe da pasta de Minas e Energia de Lula e Dilma. Mas na política o princípio da ação e reação de Newton também se aplica. Do outro lado, formou-se um sentimento de que é preciso dar um fim a esta concentração de poder. Foi o elo que uniu tantos partidos de trajetórias diferentes. Em comum, todos nós participamos da vitória do Jackson Lago, do PDT, em 2006. E há outro elemento, que me faz lembrar o livro “O Papel do Indivíduo na História”, de Georgi Plekhanov: o fato de que eu, meu vice Carlos Brandão, do PSDB, e o candidato ao Senado Roberto Rocha, do PSB, nos tornamos deputados federais nas mesmas eleições, em 2006. Essa experiência em comum nos aproximou politicamente.
CC: José e Roseana Sarney decidiram não concorrer este ano, mas é difícil imaginar que não continuem a participar ativamente da vida pública, por meio da TV mirante e dos jornais locais, além da influência que demonstram possuir no judiciário local. O ex-governador Jackson Lago teve seu mandato cassado em 2009 por abuso de poder econômico e político, em um processo bastante polêmico. Qual será sua estratégia para não sofrer com a pressão dos Sarney no governo, caso eleito?
FD: A sua premissa está correta. De fato, eles vão preservar uma fatia de poder, mesmo com uma derrota eleitoral. O prognóstico é de que haverá algum conflito. A nossa expectativa é fazer muitas parcerias com o governo federal, prefeituras e a sociedade, igrejas e sindicatos, para criar uma rede de proteção para uma experiência republicana no Maranhão, para prevenir essa capacidade de sabotagem demonstrada durante o mandato de Lago. A experiência histórica é relevante. E há também a minha experiência pessoal de ter sido deputado federal, ter participado do governo federal e possuir experiência como juiz federal. Eu conheço profundamente o judiciário local.
CC: O que o senhor propõe para alavancar o crescimento econômico do Maranhão? O estado cresceu bastante nos últimos anos, mas o PIB percapita é um dos piores do País. Qual deve ser o modelo de crescimento?
FD: Há uma nítida diferença entre o nosso modelo e o de Lobão Filho. Eles defendem o que chamamos de economia de enclave. Desde a chegada de José Sarney ao poder no estado, havia a concepção de que grandes projetos iriam gerar um efeito “pedra no lago” na economia. Isso revelou-se um retumbante fracasso. Todos os grandes projetos prometidos transformaram-se em frustrações gigantes.  O projeto da estrada de Ferro Carajás, embora muito importante para o estado, seria muito mais relevante se agregasse valor. O Maranhão é praticamente o ponto de passagem do trem. E grande parte do estado fica a ver navios, pois apenas explora-se o minério de ferro em seu estado bruto. Outro exemplo é a Base de Alcântara, o programa está muito lento desde a explosão ocorrida no início do governo Lula. O Polo de Confecções de Rosário foi uma grande iniciativa, mas não funciona devidamente. E agora temos o caso da refinaria da Petrobras, que acabou de refinaria “premium” à delação premiada. Essa economia de grandes projetos revelou-se incapaz de garantir justiça social e desenvolvimento, que é diferente de crescimento. O primeiro passo é gerar empregos a partir dessa economia primária, com efeitos no comércio e nos serviços. Em segundo lugar, chegar à agroindústria, ao proporcionar agregação de valor do setor primário, e explorar nossas vantagens logísticas. Estamos em um ponto estratégico entre as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, temos uma integração ferroviária e rodoviária de grande importância, e temos em termos potenciais o melhor porto do Brasil. É a primeira parada de quem vem do canal do Panamá e a última de quem está indo para o Pacífico. Na China e Índia, são 2 bilhões de pessoas para serem alimentadas, e o caminho mais perto para esses grandes centros é o Maranhão. Precisamos utilizar essa localização geográfica para atrair empresas e investimentos que olhem para o Mundo e revitalizar aquele passado que fez a região ser disputada por portugueses, holandeses e franceses há séculos atrás.
CC: Metade da população maranhense não tem acesso à água tratada e 90% não têm tratamento de esgoto. A que fatores o senhor atribui tamanho déficit na oferta de água à população? É um problema meramente político, ou há deficiências técnicas para captação de água potável no estado?
FD: Não há qualquer problema técnico. Há fontes abundantes de água, de superfície e subterrânea. Ao longo do tempo, esse modelo patrimonialista perverso aparelhou a Companhia de Águas do Estado, a Caema, e a transformou em uma fonte de negócios. Ao invés de jorrar água, jorra dinheiro. A empresa depreciou-se e perdeu sua capacidade de investir. Há um conjunto de soluções disponíveis, desde a captação da água da chuva, até poços artesianos e adutoras para captar água dos rios. São uma infinidade de soluções para atingir a meta de universalizar o acesso. A falta d’água, além de gerar problemas de saúde, gera depreciação de qualidade vida. Quem carrega água a vida inteira para casa são em sua maioria mulheres, desde meninas a idosas. É um serviço que não acaba.
CC: Após o episódio de esquartejamento no complexo de Pedrinhas, no início do ano, os altos índices de violência no estado foram abordados pela mídia nacional. Há um aumento de 200% no número de homicídios na última década. Como o senhor interpreta a escalada da violência no estado?
FD: Em primeiro lugar, os indicadores sociais negativos. Em segundo, a chegada com força do tráfico de drogas do Maranhão e em terceiro, a incapacidade dos governos sucessivos de redimensionar a polícia à altura do desafio. O Maranhão não tinha uma tradição há 20, 30 anos atrás de criminalidade endêmica, você tinha uma criminalidade eventual, crimes passionais, do patrimônio. Muito rapidamente a criminalidade mudou seu perfil e a polícia não acompanhou. Temos de enfrentar o problema com duas mãos. Primeiro, dar oportunidade, fazer inclusão social, esportiva e cultural. Por outro lado, é preciso que a polícia tenha uma presença significativa no estado. Hoje temos a pior relação policial por habitante do País. Temos de aumentar o contingente. E para que esse aumento quantitativo seja acompanhado de um aumento da qualidade, estamos nos comprometendo com o modelo implantado por Eduardo Campos em Pernambuco, um arranjo institucional chamado Pacto pela Vida, em que se articula todas as forças, não só as policiais mas as do sistema de Justiça, Defensoria Pública e Ministério Público, em uma espécie de gabinete permanente de acompanhamento das estatísticas, que fixa metas regionalizadas e monitoradas pelo governador. No caso de Pernambuco deu muito certo, pois cria-se uma referência de autoridade. Hoje, não existe isso no Maranhão. Imagine a dificuldade de um conjunto de políticos que são permanentemente acusados de cometerem crimes de conseguir emular credibilidade e seriedade em seu compromisso de combate ao crime. É uma contradição tão absurda que eles perdem a capacidade de liderar as forças de segurança.
CC: Os conflitos entre índios, posseiros e madeireiros no estado têm crescido nos últimos anos. Como será a política indigenista de seu governo?
FD: A política indigenista no Brasil depende muito pouco dos governos estaduais. Como as terras indígenas são da União, e a política indigenista é uma competência federal, o papel do estado é de suporte. Eu creio que o governo deve ser uma instância de mediação e identificação de conflitos, que vise compatibilizar a política de proteção. Acredito que a Constituição está correta e temos uma dívida para com essas comunidades. Mas por outro lado esse processo não pode ser feito na marra. Às vezes as intervenções são muito abruptas. Eu acredito em soluções negociadas. Nós temos áreas no Maranhão onde as pessoas estão produzindo há 20, 30 anos. Então você não pode tratar um posseiro como se ele fosse um criminoso. Para além dessa questão das terras, o governo do estado terá compromisso com a melhoria da qualidade indígena no que se refere a serviços. A pobreza é inacreditável nessas comunidades.
CC: O senhor propõe um Mais Médicos estadual, com a criação de novos cursos de medicina e de uma carreira estadual. O Mais Médicos deve ser um modelo para os governos do Norte e do Nordeste?

FD: O Mais Médicos atende a uma necessidade. Alguns criticam que não é o ideal. Para mim, que sou católico, ideal mesmo é apenas o reino de Deus. O resto são soluções contingenciais. No Maranhão, o Mais Médicos respondeu a uma carência crônica na atenção básica. Hoje, os médicos cubanos fazem um grande trabalho. Assim como o Bolsa Família, o Mais Médicos é em certo sentido uma política compensatória. Mas é preciso também estimular uma visão estruturante. Há cinco cursos de medicina no estado, dois deles recentemente criados. Temos de ampliar as vagas de residência médica, pois hoje há uma defasagem. Nós temos 380 formandos por ano e 110, 120 vagas de residência. Isso também expulsa profissionais. Se houver um bom programa de residência médica, ele fixará e até atrairá profissionais de outros estados. Propomos também a carreira estadual. Precisamos ter um corpo especializado com dedicação exclusiva nas principais unidades do Maranhão. Nós temos um baixo investimento em saúde, o que é um problema nacional, mas temos uma sangria de desperdício de recursos públicos destinados à pasta. No maranhão é um escândalo. Não posso falar de subfinanciamento enquanto não se corrigir os abusos, de uso de helicóptero e de avião para transportar secretários e autoridades, de obras inacabadas pelo estado todo, de hospitais fechados e construídos com superfaturamento.
CC: O senhor conta em sua coligação com o PSB e o PSDB. Em tese, o PT apoia a candidatura de Lobão Filho, como manda a direção nacional. Mas a propaganda de televisão de sua candidatura coloca os petistas como um dos que abraçam sua coligação. Como explicar esse paradoxo?

FD: A maioria do PT está comigo. Quem está com Lobão filho é o PT cartorial, a sigla. O que restou de militância do partido do Maranhão, ficou com a gente. A Federação dos Trabalhadores de Agricultura do Maranhão, a principal entidade dirigida pelos petistas no estado, está conosco. Lideranças tradicionais ou saíram do PT, ou estão lutando conosco.
CC: O senhor apoia formalmente algum dos presidenciáveis?
FD: Não. Nós fazemos uma espécie de condomínio. Em cada local as lideranças manifestam seu apoio, e às vezes o Carlos Brandão pede voto para o Aécio, o Roberto Rocha pede voto para Marina. Depende da cidade e a quem a liderança local apoia. Recentemente, fizemos uma caminhada em Caxias, havia bandeiras minhas, do Roberto e da Dilma, pois era a opção da liderança local. Eu não manifesto meu voto. No meu caso, o voto secreto é uma garantia democrática (risos).
CC: as denúncias do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, de um suposto esquema de propinas em contratos com a estatal atingiram Edison Lobão e Roseana Sarney, seus adversários políticos. Mas também envolve o PSB, que está na sua base, e o PT, a quem seu partido apoia no plano nacional. Qual o impacto que a denúncia terá na campanha pelo governo do estado?
FD: Há um forte impacto local. É uma agenda real, em razão da refinaria de Bacabeira. Em 2010, o discurso da campanha de Roseana foi todo montado ao redor da refinaria. O diretor responsável pelas obras era o próprio Paulo Roberto Costa. Há fotos com ele, Roseana e Lobão inspecionando as obras, em eventos.  Então o link dessa questão nacional é muito forte no estado. Em temos mais amplos, acho que o melhor para o sistema político seria o depoimento de Costa ser revelado. Primeiro porque o sigilo torna-se ficcional, por causa dos vazamentos seletivos. Independente do caso da Maranhão, a medida mais salutar para garantir eleições limpas, em um clima de mais racionalidade, seria a revelação do teor do depoimento. É muito verossímil que Lobão e Roseana tenham se beneficiado do esquema. Tem uma parelha jurídica que não sei dizer em latim, pois não sou disso, mas sempre dizia aos meus alunos em sala de aula: “indícios vários e concordantes constituem provas”. O doleiro Alberto Youssef foi preso em São Luís ao carregar uma mala de dinheiro para corromper um funcionário do governo estadual. Então aparece Costa, que afirma participar, ao lado do doleiro, de um esquema de pagamento de propinas a políticos, e cita Lobão e Roseana. O impacto nas eleições locais será grande. No sentido da rejeição do grupo deles, e do aumento da virulência. A reta final deve ser marcada por muita baixaria.

domingo, 21 de setembro de 2014

As contradições da Política no Distrito Federal

Resultado de imagem para Imagens do governador Agnelo 2014
Governador Agnelo

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Brasília é a capital da República.
Centro administrativo e político do país.
Um quadrilátero de 5.802 Km2 com uma população de 2,8 milhões de habitantes.
Mas o que chama a atenção são suas contradições e atraso político.
Há quatro anos atrás a região viveu outro escândalo entre muitos, protagonizado dessa feita pelo governador da época, Sr. José Roberto Arruda, que já havia fraudado o painel do Senado Federal.
Quando o governador Sr. Agnelo assumiu encontrou uma administração à beira do caos. Obras paralisadas pela justiça, greves de trabalhadores e trabalhadoras em diversas categorias, saúde pública caótica, um serviço público de transporte coletivo destruído.
O novo governo levou 2 anos dos 4 para colocar as coisas em ordem. Depois teve que, na justiça garantir, entre outras coisas, fazer licitações como a lei manda para poder escolher as empresas de ônibus para um Novo Sistema de Transporte Coletivo, as ações implementadas pelos empresários e adversários políticos atrasou mas não impediu a troca de quase 100% da frota de ônibus velhos por novos e modernos veículos que deram aos trabalhadores e trabalhadoras, mais dignidade, rapidez e comodidade na ida e na volta do trabalho.
Em praticamente 2 anos dos 4, o governo do Partido dos Trabalhadores no Distrito Federal, investiu, com a ajuda do PAC do Governo Federal, mais de R$ 14 bilhões.
Além de acertar as ilegalidades, finalizou as mais de cem obras iniciadas pelo governo cassado de Arruda, construiu uma grande quantidade de obras: 6 UPAs, 27 Creches, 9 Clínicas da Família, 10 mil moradias populares, 8 Centros Olímpicos e Paralímpicos, 15 parques, 430 Km de ciclovias, 1 hospital da criança. E mais: 4.200 Médicos concursados e contratados, 6.500 Professores (as) contratados, 2.364 Ônibus novos e modernos, articulados e com ar-condicionado, acabou com o analfabetismo no DF, Contratou 34 mil servidores, tem 58% da população com Atenção Básica de Saúde, hoje o DF possui 284 escolas em Tempo Integral.
Como julgar um bom governo no DF e Brasil?
O que faz dele uma administração voltada para a cidade e para o Povo?
Agnelo governou com decência, com transparência, todos os números/gastou/investimentos foram disponibilizados em um portal na internet para que qualquer cidadão pudesse verificar.
O que faltou?
Com certeza ainda falta muito. Mas esse governo, talvez tenha feito por Brasília o que poucos fizeram, ou talvez nenhum numa curta história de 54 anos.
Em condições normais levaria a eleição no primeiro turno. Mas o que aconteceu?
Entre ódios infundados, perseguição diária da mídia local, incompreensões de alguns, falha e morosidade da justiça eis que surge no cenário o Sr. José Roberto Arruda, já conhecido pelo monte de dinheiro que recebeu de corrupção e pela fraude que o fez renunciar como Senador.
A presença desse senhor como candidato criou um dos maiores imbróglios da política já capenga do Distrito Federal. A justiça tardia, barrou a candidatura do Sr. Arruda que perdeu em todas as instâncias, faltou apenas o Supremo.
Como entender a política no DF hoje?
O que leva o governador Agnelo a ter as dificuldades que tem para ser reeleito?
Um governo não deve construir as coisas para o Povo?
Um bom governo não deve ser decente?
Um bom governo não deve cuidar dos mais pobres?
Tudo isso foi feito e, em tempo recorde. O que explica a dificuldade da reeleição então?
Responda você.

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

sábado, 20 de setembro de 2014

Renda do brasileiro cresce em ritmo acelerado: mais boas notícias da Pnad 2013


Blog Muda Mais

Os resultados da Pnad 2013 (Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio), divulgados no último dia 18, revelam que a renda dos brasileiros vem crescendo em um ritmo muito superior àquele das últimas décadas. E essa não é a única boa notícia: a desigualdade social se manteve estável, com leve diminuição; o desemprego se mantém nos mais baixos índices da série histórica e vários outros índices indicam que o governo de Dilma Rousseff tem lado: está do lado do povo. 
Tão logo foram divulgados os números da Pnad 2013,parte da grande mídia se apressou em decretar: a desigualdade aumentou no país. No entanto, como bem sabemos, a pressa é inimiga da perfeição e, assim sendo, o dia seguinte foi um dia de erratas: na verdade os dados apontavam para a estabilidade no nível da desigualdade brasileira(link is external). Mais tarde, o próprio IBGE reviu os dados e - boa notícia! - a desigualdae teve leve diminuição no Brasil!
E a revisão do instituto trouxe mais boas notícias, além da redução do Índice de Gini (que mede a desigualdade): segundo o economista Marcelo Neri, presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o estudo indica que, no ritmo dos últimos dois anos (2011-2013), seriam necessários 12,8 anos para dobrar a renda dos brasileiros, taxa quase duas vezes mais veloz que a dos últimos 20 anos (seriam precisos 23,6 anos entre 1993 e 2013).
São as políticas sociais de Lula e Dilma mostrando efeito prático: a vida dos brasileiros - em especial a dos mais pobres - não para de melhorar! A renda domiciliar cresceu mais entre os 40% mais pobres e houve crescimento real da renda per capita para todos os brasileiros na última década, ficando acima de 5,1% anuais para os 40% do topo e acima de 6,3% para a base e o meio da pirâmide social. Ainda houve a manutenção dos menores índices de desemprego desde 2004, o aumento de empregos com carteira assinada em todas as regiões do Brasil, a redução da disparidade entre sexos no mercado de trabalho e o crescimento da renda acima da inflação.
Entre todas as boas notícias, outro dado importante na luta contra a desigualdade se confirmou após a revisão: o aumento na escolarização das crianças. Houve um forte avanço no acesso à pré-escola, cuja taxa de acesso foi corrigida de 81,2% para 81,4% - a maior da série histórica. Isso garante a entrada mais cedo na educação formal de um número maior de crianças, o que é fundamental para um país mais justo. No segundo mandato de Dilma, seguiremos firmes, sem descansar frente à desigualdade!

DATACAF: BLÁBLÁ NÃO VAI AO 2º. TURNO ! Desabamento é nacional !



Conversa Afiada

“os dados de hoje foram surpreendentes: Marina caindo no pais inteiro e Aécio crescendo. Nos resultados de hoje apenas, Dilma fica com 38, ela 23 e ele 17. Em SP, Marina fica apenas 4 pontos na frente. Ela cai até no Acre. Um segundo turno contra Aécio volta a ser possível.”


Minas adere à Dilma


O jeitão mineiro de Dilma Rousseff está conquistando o segundo maior eleitorado do país. Interessante observar a forte queda na rejeição à presidenta. Isso será muito importante no segundo turno.
Acaba de ser publicado no Jornal O Tempo.
DataTempo: Dilma amplia em Minas e rivais empatam
Petista tem 39,8%, Marina Silva (PSB) tem 22,3% e Aécio Neves (PSDB) está tecnicamente empatado com ela, com 21,1% das intenções de voto
Pesquisa DataTempo/CP2 realizada de 11 a 15 de setembro em todas as regiões de Minas Gerais mostra a candidata à reeleição, presidente Dilma Rousseff (PT), na liderança pela disputa ao Palácio do Planalto, com 39,8% das intenções de voto no Estado. Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) estão tecnicamente empatados na segunda colocação, com 22,3% e 21,1%, respectivamente. A margem de erro é 2,16 pontos percentuais.
Os dados apontam para a realização de segundo turno no Estado. O percentual de indecisos permanece estável, variando de 8,9% para 8,8%. Nenhum dos outros candidatos alcançou 1% da preferência do eleitorado mineiro.
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Quem devasta as florestas brasileiras

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Estudo internacional sugere: desmatamento caiu 70% na última década, mas ainda é o mais grave do mundo. Agronegócio é responsável por 90% da devastação ilegal.

Entre 2000 e 2012, a agropecuária foi responsável por metade do desmatamento ilegal nos países tropicais. No Brasil, até 90% da derrubada ilegal da floresta neste período ocorreu para dar lugar ao gado e à soja. Os números fazem parte de um estudo da organização Forest Trends, divulgado nesta quinta-feira (11/09).
Segundo o relatório da ONG americana baseada em Washington, as situações mais críticas foram registradas no Brasil e na Indonésia. No Brasil, parte considerável dos produtos cultivados nessas áreas ilegais vai para o mercado externo: até 17% da carne e 75% da soja. Os destinos incluem Rússia, China, Índia, União Europeia e Estados Unidos.
Brasil e Indonésia são os maiores produtores do mundo de commodities agrícolas para a exportação. O que é colhido nas terras desmatadas ilegalmente nesses países vai parar em cosméticos, produtos domésticos, alimentos e embalagens.
“Naturalmente, os países compradores também são responsáveis. Afinal, eles estão importando e consumindo produtos sem prestar atenção em como foram produzidos. Consequentemente, estão criando uma demanda. E as companhias envolvidas no negócio estão lucrando”, avalia Sam Lawson, principal autor do estudo e consultor de instituições como o Banco Mundial e Greenpeace. Ele calcula que esse tipo de comércio gere uma receita de 61 bilhões de dólares, cerca de 140 bilhões de reais.
A pesquisa foi feita ao longo dos últimos três anos e reuniu dados publicados em mais de 300 artigos científicos, informações da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e dados de satélite.
Ilegalidade no Brasil
Ao mesmo tempo em que o estudo aponta o Brasil como líder nesse tipo de ilegalidade, ele reconhece que o país reduziu dramaticamente o desmatamento desde 2004. A taxa de derrubada ilegal na Amazônia caiu mais de 70% se comparada aos índices medidos entre 1996 e 2005.
“No Brasil, as florestas também estão dentro de propriedades privadas. E, em muitos casos, o único documento que o produtor rural tem para justificar sua plantação é um certificado de posse da terra. Eles não têm, necessariamente, a permissão para cortar a floresta para dar lugar a essa plantação”, diz Lawson.
Francisco Oliveira, diretor do Departamento de Políticas de Combate ao Desmatamento na Amazônia, do Ministério de Meio Ambiente, diz que a apropriação irregular de terras públicas, ou “grilagem”, é uma das principais causas do desmatamento ilegal. “Um grileiro nunca vai buscar uma autorização de desmatamento”, acrescenta.
O corte da mata também é feito por proprietários regulares de terra. Mas nem todos respeitam a lei: muitos retiram a vegetação nativa para expandir plantações sem a devida autorização, que é dada pelo governo estadual. Para aumentar o rigor na fiscalização, o governo federal pretende exigir que os estados repassem as autorizações de supressão de vegetação concedidas aos proprietários.
A legislação nacional obriga as propriedades rurais privadas a manter no mínimo 20% da vegetação natural, a chamada Reserva Legal. Por outro lado, ainda não existem dados oficiais que mostrem quem cumpre a lei. A esperança de separar “o joio do trigo” está no Cadastro Ambiental Rural (CAR), introduzido com o novo Código Florestal para ajudar no processo de regularização.
Esse cadastro tem que ser feito por todo proprietário e trará informações georreferenciadas do imóvel, com delimitação das Áreas de Proteção Permanente, Reserva Legal, entre outros. “A pessoa sabe que entrou para um sistema e vai tomar os devidos cuidados para não desrespeitar a legislação, e quer ser respeitada por isso”, analisa Oliveira.
Comida e floresta para todos
Cinco campos de futebol de florestas tropicais são destruídos a cada minuto para suprir a demanda por commodities agrícolas. A FAO também vê esses números com preocupação. A organização estima que, até 2050, o mundo precisará de cerca de 60 milhões de hectares extras para suprir a demanda por comida.
Para Keneth MacDicken, especialista em assuntos florestais da FAO, seria possível fazer essa expansão sem agredir as florestas. “Aumentar a produtividade, melhorar as técnicas e diminuir o desperdício são fundamentais”, diz.
Para acabar com a produção agropecuária em terras desmatadas ilegalmente, é importante mostrar que a legalidade é rentável. “Nesse processo, empresas como a Embrapa são muito importantes. Porque elas ajudam os proprietários rurais a produzir de forma mais eficiente e mais rápida”, exemplifica MacDicken.
Além do aumento na fiscalização e vigilância por satélite, Oliveira, do ministério de Meio Ambiente, aposta na parceria com produtores para mostrar que o consumidor também está ficando mais exigente. “Os compradores de soja no mercado internacional não estão querendo atrelar o nome ao desmatamento ilegal na Amazônia.” Essa percepção criou a chamada “moratória da Soja”, em que produtores se comprometeram a não estender o cultivo para áreas desmatadas.
Lawson só vê uma saída: “Nada vai funcionar se os governos não tomarem providências contra a ilegalidade”. O pesquisador admite que, hoje, o tema é mais discutido entre produtores e consumidores do que há dez anos. No entanto, se os números do desmatamento associado à expansão da agropecuária ainda são altos, a conclusão é que “esse combate ainda não está sendo feito como deveria”.

Senado conclui que Veja fraudou de novo o jornalismo

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                                                        Ilustração extraída do Vermelho

Do Blog Mariafro

Comissão conclui que não houve vazamento de informação privilegiada na CPI da Petrobras
Da Redação | 12/09/2014, 12h26 – ATUALIZADO EM 12/09/2014, 20h16
A comissão de sindicância instaurada no Senado para apurar denúncias de conduta inadequada de servidores no âmbito da CPI da Petrobras concluiu pelo arquivamento do processo. Os membros da comissão entenderam que “não houve qualquer indício de vazamento de informações privilegiadas, de documentos internos da CPI ou de minutas de questionamentos que seriam formulados aos depoentes”.
A sindicância foi pedida pelo presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), e determinada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, depois que a revista Veja sugeriu a existência de um esquema de combinação prévia de perguntas com pessoas chamadas a depor à comissão.
Veja a íntegra da nota:
“A Diretoria-Geral do Senado Federal recebeu, na tarde desta quinta-feira (11), o relatório da comissão de sindicância instaurada para investigar a denúncia publicada na imprensa quanto ao suposto vazamento de informações, em especial de perguntas, entre assessores parlamentares do Senado e a assessoria da Petrobras no âmbito da CPI da Petrobras.
A comissão de sindicância funcionou por 37 dias, tomou 14 depoimentos, investigou as caixas-postais de correio eletrônico dos envolvidos, verificou o controle de acesso aos arquivos eletrônicos confidenciais, examinou os documentos utilizados como subsídio das reuniões da CPI e analisou os vídeos dos depoimentos, por diferentes câmeras, bem como o vídeo que originalmente fundamentou a denúncia.
Ao término das investigações, a comissão, composta por servidores com notável formação acadêmica e experiência profissional, contando com um doutor em Direito Penal, um mestre em Direito Processual e um especialista em Direito Constitucional, concluiu que não houve qualquer indício de vazamento de informações privilegiadas, de documentos internos da CPI ou de minutas de questionamentos que seriam formulados aos depoentes e manifestou-se pelo arquivamento do processo.”
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Haddad e a lógica dos privilégios

FERNANDO HADDAD

Por Aina Cruz, BrasilPost

Esses dias, nessas minhas idas à cidade de São Paulo, conversando sobre a vida com M., uma grande amiga, ela me contou do quanto a coisa estava difícil por lá e do quanto ela estava apavorada com a possibilidade do racionamento de água. Minha amiga estava, na verdade, em pânico com a possibilidade de ter de conviver com os dejetos de outrem no trabalho e em casa, já que divide o apartamento com mais duas pessoas. Eu apenas escutava e achava compreensível aquele mal-estar.
Então, não sei explicar como e nem por que, mas nossa conversa foi assumindo acepções políticas e encontrei minha amiga totalmente inconformada com o fato de nossa amada cidade cinza rejeitar e desaprovar a administração do prefeito Haddad e, em contrapartida, desejar a reeleição do atual governador do estado. Ela discorria continuamente sobre as ciclovias, o corredor de ônibus e comparava essas iniciativas louváveis aos feitos do atual governador. Por fim, já completamente desesperada, ela olhou para mim com seus olhos nipônicos e expressivos e disse: “por que essas pessoas querem isso, Ni!?”
Como a nossa profissão é teorizar sempre muito sobre tudo aquilo que não compreendemos, assim nasceu a teoria das exclusividades, que, estou certa, é o que justifica a incansável perseguição da elite paulistana ao atual e, na minha opinião, admirável prefeito da cidade.
Ora, em São Paulo sempre foi assim: quem podia pagar, se divertia, chegava no horário, e com folga, aos seus compromissos, frequentava os lugares públicos protegido e blindado dentro de seu automóvel e, não disputava o espaço com a “ralé”. Higienópolis era um bairro pertinho do centro, mas protegido por fronteiras invisíveis bem mais poderosas do que qualquer construção física. Essa gente que não tem dinheiro ficava lá no lugar dela, sem nem se aproximar dos bairros nobres. E dessa forma, tudo era muito bom. Sampa era uma Bélgica brasileira, afinal, nem se cruzava com aquela gente feia e desgrenhada que não é igual “a gente”.
Mas aí, um belo dia, surgiu um “esquerda-caviar” que, apesar de ter crescido em meio à elite, achou que a cidade devia ser de todos e não apenas de uns poucos. Foi aí que toda a discórdia começou.
Ele teve umas ideias estapafúrdias de implantar em plena São Paulo todas aquelas coisas bonitas que vemos na Europa e achamos um banho de civilidade. Começou a dificultar as pessoas a circularem em suas Pajeros, para privilegiar o transporte público. Em seguida, esse senhor, teve a audácia de diminuir as faixas de estacionamento de carros, como a zona azul, para transformá-las – veja só – em ciclovias. Pintadas, ainda por cima, de vermelho. Mas de onde esse “cara” estava tirando tamanha loucura?
Pois é, infelizmente, é assim que nossa elite pensa. E o que é mais engraçado é que são justamente essas pessoas que vivem a enaltecer países europeus e os Estados Unidos por suas iniciativas de privilegiar sempre o público em detrimento ao privado. Daí, realmente, tenho que concordar com o surto aterrorizado e incompreendido de minha amiga. Por que essas pessoas acham todas essas iniciativas são tão lindas lá fora e as rejeitam tão veementemente quando são implantadas aqui dentro?
Porque a nossa elite, infelizmente, vive a lógica atrasada e pequena da manutenção das exclusividades e dos privilégios. Ficam extremamente chateados com o fato de demorarem no trânsito e acreditam que quem é pobre e não tem um carro, tem mais é que perder duas horas mesmo no trânsito dentro do ônibus. “Ah, eles já estão acostumados com isso! Moram lá longe! Deixa eles…!”. Defendem que a prefeitura deveria criar mais vias de acesso rápido para carros, como as marginais, por exemplo, e não desperdiçar o dinheiro público investindo num tipo de transporte que contemple todos os cidadãos da cidade. E acham essa “coisa” de sustentabilidade uma grande pieguice. Afinal, não estamos em Oslo, né, pessoal?
Para eles é muito penoso saber que agora também precisarão se programar para sair com antecedência de casa. E, o que mais lhes incomoda, é pensar que “Marias e Joãos” vão demorar, talvez, menos tempo para atravessarem a cidade, sentados, também, confortavelmente em um meio de transporte público. Apesar de eles terem dinheiro suficiente para pagar estacionamentos e taxis, eles queriam continuar parando na rua, porque a cidade sempre foi deles. Vagam agora, inconformados, com o fato de outras pessoas se refestelarem assim, do nada, ocupando o seu espaço. E ficam profundamente tristes em se deparar com essa gente comum em seus bairros, porque, afinal, ali não é o lugar deles.
A questão é que, fora da lógica da exclusividade está a maioria da população da cidade e, sendo assim, o prefeito está coberto de razão em destinar o seu governo para aqueles que, de fato, representam São Paulo.
É impressionante como o Brasil ainda mantém, de forma tão arraigada, suas origens coloniais, aristocráticas e coronelistas. Porém, é tão bom quando aparece alguém com coragem de enfrentar e acabar com essa ditadura oligárquica.
São Paulo está tão mais bonita com seus ciclistas, skatistas e afins pelas ruas. Com as pessoas indo e vindo livremente e ocupando o espaço público como se fosse suas casas, porque de fato, ele é!
Haddad representa uma das minhas vontades de voltar a viver em SP um dia. Esse prefeito porreta é a prova de que existe sim muito amor em SP.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O controverso dono do apê de Marina


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Miguel do Rosário

Agora a Marina Silva vai chorar como nunca.
Vai falar que é mentira, boato, baixaria.
Vai convocar milhares de coxinhas para rebaterem as supostas inverdades.
Vai querer censurar os blogs.
Mas não posso fazer nada. Tenho que informar aos leitores, sempre trazendo documentos e links.
Desde o início achei estranho que Marina Silva se hospedasse no apartamento de um milionário como Carlos Henrique Ribeiro do Valle.
Não quero demonizar ninguém. Como jornalista, já entrevistei muitos fazendeiros e empresários. Tem gente boa e honesta em todos os setores.
Eu achei estranho porque não combinava com Marina, ou assim eu supunha, ingenuamente.
O dono do apartamento é proprietário de um grupo, o RVM, que possui vários postos de gasolina; uma distribuidora de combustível (Petronac); e fazendas em Minas, Mato Grosso e Pará (segundo a Folha).
É filiado ao DEM, o partido mais à direita do espectro político.
Nada menos ambientalista e menos “nova política”.
A troco de que um sujeito com esse perfil emprestaria, de graça, um apartamento à Marina Silva?
Essa é uma pergunta que não posso responder. Mas fui pesquisar sobre o homem e suas empresas.
E descobri que ele, a Petronac, e um de seus postos, o Saema Auto Posto, foram condenados pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região por adulteração de combustível.
Segundo a Polícia Federal, vários postos situados em Minas Gerais,abastecidos pela Petronac, adulteravam combustível.
A decisão judicial, em última instância, sem mais direito à apelação,está aqui.
A Petronac também foi acusada de fraudar uma licitação em Marília, interior de São Paulo. Um dos documentos do Tribunal de Contas de SP pode ser baixado aqui.
A Petronac tem uma briga constante contra a Petrobrás para avançar mais no setor de distribuição de combustível. As duas disputam licitações para fornecer combustível a prefeituras, Brasil a fora.
Provavelmente é por isso ele apoia Marina, porque a Petrobrás atrapalha a sua vida. Ele tem razões pessoais para odiar o monopólio do petróleo.
As invenctivas de Marina contra a Petrobrás devem soar como música aos ouvidos de Carlos Henrique Ribeiro do Valle.
É seu direito democrático pensar assim. Assim como é emprestar seu apartamento à Marina.
Mas é também direito democrático fundamental do brasileiro conhecer melhor em quem irá votar.
Como o candidato ganha a vida? Como mora?
Já sabemos que o instituto Marina, que sustenta a candidata, recebeu R$ 1 milhão de Neca Setúbal, herdeira do Itaú, ou 83% de todo o valor arrecadado pelo instituto nos últimos anos.
Depois fomos informados que Marina Silva mora no apartamento de um dono de postos de combustível e fazendeiro, cujas  empresas respondem processos por adulteração de combustível e fraude em licitações.
Essa é a “nova política”.