sexta-feira, 12 de setembro de 2014

DILMA CULPA BAGRÓLOGA POR ATRASO EM HIDRELÉTRICA - “Marina quer falar o que pensa e não quer escutar o que os outros pensam”, disse a Presidenta.



Em sabatina realizada pelo iG e pela RedeTV nesta quinta-feira (11), a presidenta Dilma Rousseff criticou a gestão de Marina Silva à frente do Ministério do Meio Ambiente durante o Governo Lula. 

Dilma informou que projetos como as usinas hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau sofreram atrasos “por responsabilidade” da ex-senadora, agora candidata do PSB.

“Houve muitas demoras, sempre por responsabilidade dela (…) Houve divergência, sim. A candidata tinha uma reação muito acentuada quando se tratava de licenciamentos de hidrelétricas”, disse a presidenta.


Em tempo: em coletiva no Palácio do Alvorada, a Presidenta Dilma Rousseff comentou declarações da candidata Marina Silva (PSB), que fez duras críticas aos governos do PT. ” Marina ficou 27 anos no partido e todos os seus mandatos obteve graças ao PT. Dos 12 anos, oito foram no governo ou na bancada. A militância do PT e a história do PT foram fundamentais pra Marina chegar onde ela chegou”, afirmou a petista na tarde desta quinta-feira (11).

Dilma também opinou sobre a reclamação de Marina de que seria atacada pelo PT. “Cada vez que nós abrimos o debate com a candidata Marina, ela se coloca como vítima e diz que está sofrendo ataque. Marina tem que parar de usar suas conveniências pessoais para fazer declarações. Debate de ideias em relação ao pré-sal é debate de ideias. Ela deixou claro que não daria prioridade ao pré-sal. Se ela quer mudar, tem direito de mudar (sobre o pré-sal). Mas não pode dizer que foi por causa de ataque”, respondeu a Presidenta, que continuou:  “Marina quer falar o que pensa e não quer escutar o que os outros pensam. Todas as coisas que dissemos que a candidata falou ou fez ou estão no seu programa ou podem ser encontradas facilmente”.

Questionada sobre Neca Setúbal, do Itaú, a Presidenta foi enfática: “O que mudou em relação à Neca Setúbal é que agora ela age como banqueira. Não dá pra vestir as duas roupas. O que mudou com a Neca foi a postura da pessoa”. E completou, sobre a proposta do PSB para o Banco Central: “A independência é para os poderes. Os bancos não terão independência, isso não é característico na legislação”.

A candidata à reeleição enalteceu as suas posições ao mencionar o seu projeto de gestão. “Sou Presidenta há 4 anos, meu programa de governo eu já tenho feito. Eu já divulguei as minhas diretrizes. Mudar de posição de 5 em 5 minutos não é sério. Presidente da República não pode ser leviano, tem que saber o que é pressão”, ressaltou.

Por fim, Dilma repudiou a posição de Marina Silva, que afirmou hoje que  o PT colocou Paulo Roberto para “assaltar” cofres da Petrobras. “A declaração dela (Marina) é leviana e eu repudio veementemente.  Eu repudio com muita indignação essa declaração da candidata”.


João de Andrade Neto e Alisson Matos, editores do Conversa Afiada

Samuel Guimarães: "EUA apostam em Marina"

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por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Levamos cerca de 400 anos para nos livrarmos dos colonizadores portugueses, era um tempo onde éramos colônia, e, com esse status, não tínhamos nenhuma autonomia, tudo era acertado nas cortes portuguesas, por uma elite lusa que não conhecia nada do Brasil, a não ser que era rico em recursos naturais. Éramos uma sociedade de escravos e senhores da Casa Grande. Quando não éramos obrigados a produzir para esses senhores, tínhamos que produzir para as cortes portuguesas.
O tempo passou e, achando pouco, a família Imperial portuguesa veio ver de perto as riquezas da colônia, juntou quase todo mundo das elites e rumaram para o Brasil. Maquiaram a cidade do Rio de Janeiro, criaram órgãos e repartições públicas etc. tudo para dar uma cara europeia à cidade que depois seria a maravilhosa.
Do lado da população, escravos e uns poucos homens pobres "livres" nada mudou, apenas aumentou a sofisticação do mando e os trabalhos urbanos de carregar dejetos a serem despejados no mar. Pobreza, exclusão, desrespeito marcaram também esse momento.
Veio a República e com ela o domínio dos ricos latifundiários, os escravos foram abandonados à sua própria sorte, e a economia passou a receber imigrantes europeus brancos que seriam os "novos escravos".
Após a Segunda Grande Guerra fomos jogados no colo dos Estados Unidos da América, a nação que "finalizou" uma guerra detonando duas bombas atômicas no Japão já entregue. Passamos de colônia portuguesa, depois satélite dos interesses ingleses para o domínio feroz e violento dos EUA. Viramos um satélite sem cor, sem vida própria, sem voz. Por conta disso acumulamos uma das maiores dívidas externas do planeta, dívida administrada conforme os interesses do Tio Sam. Nos últimos 12 anos o governo brasileiro teve a inteligência e a ousadia de trilhar caminhos alternativos. Laços de amizades e comercial foram criados com o continente asiático e africano, nosso comércio internacional deu um salto gigantesco. Veja o que escreve Marcio Pochmann na Revista do Brasil, n° 98, agosto de 2014:
"A universalização da diplomacia com enfoque nas relações Sul-Sul do mundo impulsionou o comércio com países não ricos. Somente com a China, as exportações passaram de US$ 1 bilhão para US$ 46 bilhões, enquanto em relação ao mundo as vendas externas brasileiras subiram de US$ 60 bilhões em 2002 para US$ 242 bilhões em 2013".
Os números são esses. A realidade hoje das relações internacionais brasileira, é outra, mais altiva, autônoma, mais independe. Retroceder significa ajoelhar-se perante uma nação que tem o poder militar mais poderoso da terra, que é dirigido por uma elite mais reacionária e rica da terra; e isso pode significar novas e importantes entregas, como entregamos nosso sistema de Telecomunicações, a CVRD, Bancos, Embraer (uma das cinco mais importantes companhias de aeronáutica do mundo) etc.
Fundamental é pensar. O voto não pode ser por ódio, raiva ou desconhecimento. Entenda antes, pense antes. Qual projeto de desenvolvimento econômico e social você acredita que seja melhor.
A volta às garras dos EUA só trará prejuízos à sociedade brasileira e aos trabalhadores e trabalhadoras em geral, isso já foi experimentado por nós e por, praticamente todo a sociedade da América Latina.
Os Estados Unidos da América, no que se refere à sua política externa, à sua política eleitoral interna, à sua relação  com sua própria sociedade, não tem estatura moral para ser modelo de país nenhum. Pense. Leia o texto abaixo.

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Por Darío Pignotti
Da Carta Maior
Fonte: site da revista Caros Amigos - Brasília, 12/09/2014

“Os estrategistas dos Estados Unidos seguramente estão de acordo com as diretrizes da política externa defendida pela candidata Marina Silva. Se ela for eleita, será a vitória de um modelo diplomático similar ao que tivemos nos anos 90”, declarou à Carta Maior o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário-geral do Itamaraty no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Junto do ex-chanceler Celso Amorim e do assessor Marco Aurélio Garcia, Pinheiro Guimarães integrou a troika responsável por planejar de diplomacia com sotaque nas relações Sul-Sul aplicada entre 2003 e 2010. Premissas que “tiveram continuidade a partir de 2011 durante o mandato da presidenta Dilma Rousseff, que adotou medidas muito corretas sobre o Mercosul e contra a Inteligência norte-americana no escândalo da NSA, e resistiu às pressões para a compra de aviões de guerra norte-americanos”, afirmou Pinheiro Guimarães.

No programa de governo apresentado uma semana atrás por Marina, foram formuladas propostas em alguns casos antagônicas às dos governos de Dilma e Lula, além de formular críticas enredadas ao que define como uma diplomacia “ideologizada” e “partidarizada” durante as três gestões petistas.

Embaixador, estamos diante do risco de serem restaurados princípios diplomáticos que dominaram a segunda metade dos anos 90?
Considero que a candidata Marina Silva encarne a anulação do progresso conquistado nestes 12 anos. Ela e os setores que representa buscam outro modelo de inserção internacional. Um pensamento que se traduz no propósito de enfraquecer o Mercosul com o pretexto de torná-lo aberto ao mundo.
Será o fim de qualquer aspiração de uma diplomacia independente?
Até agora, a única vez que escutei Marina falar de independência foi para mencionar a independência do Banco Central (risos).
Washington aposta em Marina ou Aécio?
Não estou em Washington para dizer o que pensam. Agora, há interesses dos Estados Unidos que foram prejudicados durante os governos de Lula e Dilma, e é claro que o candidato de que mais gostavam era o Aécio.
A Embaixada norte-americana adotou um perfil muito discreto nas eleições, mas isso não deve se confundir com o fato de estarem alheios ao que acontece. Quando o Aécio fica fora do jogo, os Estados Unidos se inclinam para a Marina, por pragmatismo e porque ela representa o oposto ao PT. Além disso, é alguém sem quadros próprios e, segundo dizem, tem bons contatos nos Estados Unidos, e que demonstrou estar aberta para desmontar o Estado, reduzir sua capacidade e autonomia internacional. Interessa aos Estados Unidos que o Mercosul sejam desmontado e que projetos da era tucana sejam retomados, não nos enganemos: nestas eleições, está em jogo a retomada do processo privatizador, parcial ou total, da Petrobras, do Banco do Brasil e do BNDES.
Como a Marina implementaria esse desmantelamento do Mercosul?
Avalio que possa começar com a eliminação da cláusula que obriga os países do Mercosul a negociar conjuntamente acordos de livre comércio com outros blocos. Este ponto, que até agora não conseguiram derrubar, é uma cláusula que vem desde o Tratado de Assunção (assinado em 1991, na formação do Mercosul).
E depois de terminada esta limitação, o que aconteceria?
Uma vez eliminada essa cláusula, o caminho estará aberto para a assinatura de acordos do Brasil com a União Europeia, sem a participação dos outros quatro integrantes do Mercosul. Mas se a cláusula continuar em pé, seria igualmente perigoso um pacto entre todo o Mercosul e a União Europeia. E essa negociação, que já se iniciou mas avança lentamente, provavelmente será acelerada durante o governo de Marina.
Quais consequências um acordo com a UE traria?
Muitas, uma delas é a redução considerável das tarifas [de importações] industriais europeias afetando nossas fábricas. Defendo faz tempo que esta aproximação, que agrada os economistas da Marina, é o passo inicial rumo ao fim do Mercosul.
Vou resumir assim: a assinatura de um acordo entre os dois blocos significará uma extraordinária vantagem para empresas europeias que poderão exportar para cá sem que cobremos taxas, enquanto não haverá grandes benefícios para os exportadores sul-americanos.
E acrescento que se este acordo acontecer, afetará outra instituição fundamental do Mercosul, que é a Tarifa Externa Comum, fixada para terceiros países. Se isto acontece, a união aduaneira é pulverizada, qualidade central do Mercosul. E uma vez que chegarmos à hipotética assinatura do pacto de livre comércio com os europeus, os Estados Unidos reaparecerão.
De que maneira?
Os meios e os grupos de interesses brasileiros que se sentirem representados pela Marina só falam de um acordo com a União Europeia por oportunismo, pela boa imagem dos europeus, que seriam maravilhosos, educados, que nos abririam as portas do primeiro mundo. Uma retórica para ocultar que o acordo será prejudicial para nós. Quem quiser saber o que nos espera com esse acordo que pergunte aos gregos e aos espanhóis como a velha Europa é tratada.
Agora tudo isso nos leva ao começo desta conversa, que são os Estados Unidos. Por quê? Porque uma vez assinado o pacto UE-Mercosul, no outro dia, Washington vai querer igualdade de condições comerciais que europeus conquistaram, exigindo de nós um acordo de livre comércio. Os Estados Unidos nunca se esqueceram do espírito da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).
MAR DEL PLATA, NOVEMBRO DE 2005
No começo da década passada, FHC sancionou Pinheiro Guimarães por ter se oposto publicamente à assinatura da ALCA, que seria enterrada durante a Cúpula das Américas, celebrada em novembro de 2005 no balneário argentino de Mar del Plata, graças a uma frente formada pelos presidentes Lula, Néstor Kirchner, Hugo Chávez e Evo Morales, apoiados por outros líderes sul-americanos diante de um atônito George Walker Bush e de seu aliado, o mexicano Vicente Fox, ex-gerente da Coca Cola com um grande bigode.
A tese da ALCA pode ser recriada com outro nome. É possível que a Marina, FHC e a inteligência neoliberal reciclem o projeto?
Tudo me leva a pensar que o projeto norte-americano de integração hemisférica comercial, de eliminação de barreiras, de sanção de um sistema de leis que privilegiam suas multinacionais etc continua em vigor. É preciso prestar atenção na Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile).
Entendo que os Estados Unidos se preparem para retomar essa proposta em caso de a Marina ganhar. Porque suas posições sobre política externa refletem as aspirações se setores empresariais, de banqueiros e grandes meios de comunicação que demonstraram certa saudade da dependência colonial.
Com Marina voltaremos ao passado anterior ao encontro de Mar del Plata?
A candidata parece estar muito aberta a essas ideias. Mas o interessante é que ela não está sozinha.
No seu entorno, se expressa esse espírito anterior à reunião de Mar del Plata. Eu me refiro ao professor André Lara Rasende, ao professor Eduardo Giannetti da Fonseca, à senhora Maria Alice Setúbal (Banco Itaú). Além disso, me parece natural que depois do primeiro turno (5 de outubro) se somem outras pessoas com pensamento similar e que hoje estão junto do candidato Aécio. Estou falando o professor Armínio Fraga, do professor Pedro Malán.
Dilma reeleita
O senhor acredita que, apesar da subida de Dilma, a Marina será a futura presidenta?
Não, pelo contrário, acredito que, apesar de toda esta comoção, a presidenta Dilma será reeleita. Acredito que, ao longo destes dois meses, as ideias da ex-senadora vão ficar em evidência.
Neste caso, quais seriam os objetivos de sua política externa em um segundo mandato?
Em primeiro lugar, deve-se mencionar que sua política externa não teve diferenças coma de Lula, apesar de Dilma não ter o mesmo estilo de fazer política externa. Trabalho para reforçar os BRICS, impulsionou o banco dos BRICS, foi firme a favor da entrada da Venezuela no Mercosul, apesar de os Estados Unidos terem manifestado abertamente seu interesse em substituir o governo venezuelano, postura que encontra eco na grande imprensa brasileira, no FHC e nos dirigentes tucanos
No segundo mandato, a presidenta deveria ter como objetivo reduzir a vulnerabilidade externa do país, a dependência de capitais especulativos para o pagamento da dívida e tudo isto cria um círculo vicioso que aumenta as taxas de juros. É falso, é um mito que as taxas sobem para combater a inflação.
Ou seja, as alianças diplomáticas devem continuar, mas são necessárias mudanças na estratégia econômica internacional?

Sim, e está completo o comentário dizendo que em um segundo governo a presidenta Dilma terá que trabalhar para diversificar nosso comércio exterior, para reduzir nossa vulnerabilidade comercial devido ao crescimento das exportações de produtos primários cujos preços não somos nós quem decidimos. Quando digo diversificar penso em base para reforçar exportações industriais porque o Brasil corre o risco de seguir rumo a uma especialização regressiva na produção agropecuária e mineral, acompanhada de uma contração do setor industrial, aliada a uma atrofia de sua capacidade tecnológica.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Perguntas postas, e as respostas?




"A figura do candidato ou candidata a presidente é emblemática de um projeto político que quer ser governo. O encanto de Marina não oculta sua fragilidade política. Que forças políticas a sustentam ? Se ela vencer, esse condomínio conflituoso entre Rede e PSB será governo? Que base parlamentar vai apoiá-la? Por que Marina passa a defender um dos maiores axiomas da doutrina neoliberal, que é a autonomia do Banco Central? Por que declara agora que não é contra os transgênicos? As indicações de sua equipe e alguns pronunciamentos pessoais desenham um governo igual ao proposto pelo PSDB no que é essencial. E é possivelmente desse partido que ela buscará quadros para governar".

POR TRÁS DO MARKETING POLÍTICO - O peso das pesquisas eleitorais


Utilizadas pelo mercado financeiro para especular e pelas emissoras de rádio e televisão para nortear sua cobertura, as pesquisas têm de fato influência direta e indireta no resultado das eleições. No entanto, a interferência ilegítima e nefasta das manipulações, ainda que possível, não pode ser comprovada
por Cristiano Navarro e Luís Brasilino

Astros. Cartas de tarô. Bola de cristal. Jogo de búzios. As sugestões de um oráculo sobre o que possivelmente vai acontecer podem gerar expectativas e influenciar diretamente o comportamento da pessoa que o consulta. As pesquisas eleitorais também projetam cenários, indicam possibilidades, produzem informação e geram expectativas, porém não adivinham o futuro, ainda que ajudem a definir seus rumos. Contudo, diferentemente da previsão dos videntes, nas hipóteses levantadas junto ao eleitor não há espaço para a interferência do acaso, como uma tragédia.
Para além de toda a comoção gerada pela trágica morte de sete pessoas, a queda do avião que carregava o candidato à Presidência da República pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos, ocorrida na manhã do dia 13 de agosto em Santos (SP), fez desmoronar o esquema de uma disputa que até então se mostrava consolidada pelos institutos de pesquisa.
Cinco dias após o acidente aéreo, com Marina Silva ocupando o lugar de Campos como candidata pelo PSB, o Datafolha indicava que a polarização entre o Partido dos Trabalhadores (PT), da presidente Dilma Rousseff, e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), do senador Aécio Neves, deixava de existir.
Mais ainda, no fechamento desta reportagem, os números do Ibope para a corrida presidencial mostram que o crescimento da candidatura de Marina diminuiu consideravelmente as chances de Aécio chegar ao segundo turno. Divulgada no dia 26 de agosto, a sondagem ratificou a tendência de um segundo turno entre Dilma e Marina, ensaiando assim uma nova polarização do debate.

Contas, informações e influências
Uma parte do eleitorado ignora essas oscilações e, independentemente das posições ocupadas pelos políticos nos gráficos dos institutos de pesquisa, vota de acordo com sua identificação ideológica, programática e histórica. Já a maioria, além das informações colhidas sobre os candidatos, ao tomar contato com as projeções passa a fazer contas escolhendo aquele que tem chances de sair vitorioso ou que tem maior possibilidade de derrotar o concorrente mais rejeitado.
Para os diretores de dois dos principais institutos de pesquisa, as tendências captadas junto à população não são determinantes para o resultado das eleições, mas fazem parte de uma soma complexa de referências que se traduzem no voto.
Mauro Paulino, diretor do Datafolha, enxerga as pesquisas como um dado importante na escolha do eleitor. “Vejo pesquisa eleitoral como informação; ela permite que o eleitor saiba qual é o cenário atual, tomando decisões baseadas nessa informação e em outras dadas pelas campanhas, pelo noticiário e na conversa com amigos e parentes. Esse conjunto faz que o eleitor elabore seu voto. Nesse sentido, a pesquisa entra como um fator de influência.” Na opinião de Paulino, a influência das pesquisas tem pesos diferentes entre os distintos perfis de eleitores. “Há uma pequena parcela que gosta de votar no candidato mais bem colocado. Há outra que prefere votar contra aquele candidato que mais rejeita.”
Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, considera o debate sobre o peso das pesquisas um tema polêmico. “Muito provavelmente não existe uma só resposta a essa questão. O que parece estar mais perto de ser verdade é que ela exerce uma influência em uma parcela do eleitorado. Mas tudo indica que é de tamanho insuficiente para fazer diferença, assim como outras informações”, minimiza. Coimbra acredita que se as pesquisas fossem determinantes para o eleitorado não haveria possibilidade de transformação dos quadros apresentados durante o período de campanha. “A demonstração de que não são determinantes é que as pesquisas mostram mudanças. Se elas influenciassem de maneira tão importante o eleitorado, em princípio elas tenderiam a se reproduzir. Assim, se o leitor viu uma pesquisa e tomou uma decisão, a próxima já estaria igual”, argumenta.
Rudá Ricci, sociólogo e doutor em Ciências Sociais, identifica um impacto indireto das pesquisas no resultado eleitoral. “Converso quase diariamente com todos os tipos de coordenação de campanha, da Rede, do PSB, da Dilma e dos tucanos. Elas fazemtrackingquase diariamente e levam em consideração, de fato, as pesquisas do Ibope e do Datafolha. O que ocorre é que as coordenações ficam numa pressão tão alta que isso transparece tensão para a militância e cria uma cadeia. O eleitor da ponta demora muito mais a perceber essa onda, mas ela chega até ele.” Por um lado, essa “onda” pode estimular uma candidatura em ascensão, como a de Marina, na medida em que eleitores antipetistas enxergam nela a possibilidade de derrotar o governo atual. Por outro, serve para afundar ainda mais a campanha de Aécio, especialmente pelas perspectivas de segundo turno, no qual tem 35% contra 41% de Dilma, diante dos 45% de Marina ante 36% de Dilma, segundo Ibope divulgado em 26 de agosto.
Outra possibilidade de as pesquisas interferirem nas eleições é por meio da manipulação de seus resultados pelos institutos. Contudo, isso não pode ser comprovado antes das eleições e, nas últimas três disputas presidenciais, as estimativas divulgadas pelo Ibope e pelo Datafolha no dia da votação coincidiram com o aferido nas urnas. Ricci, no entanto, afirma que as pesquisas podem, sim, ser manipuladas. Uma das formas é fazer a sondagem por telefone, excluindo da amostra parte da população mais pobre. Um segundo mecanismo é conferir mais peso a uma ou outra região. Segundo Ricci, 60% dos entrevistados do Datafolha e do Ibope moram no Sudeste, que abriga 43% do eleitorado, ao passo que o principal apoio a Dilma vem do Nordeste. O sociólogo retoma também uma antiga teoria de Leonel Brizola. De acordo com ele, os institutos de pesquisa no Brasil sempre usaram a tática da boca do jacaré. “Eles começavam com a boca bem aberta, distante da realidade, mas, à medida que ia chegando perto do dia das urnas, eles iam diminuindo a distância entre a realidade e a boca ia se fechando.” Por fim, Ricci avalia que é possível manipular o resultado variando os índices de cada candidato dentro da margem de erro. “Há várias maneiras metodológicas e técnicas que às vezes não são exatamente má-fé, mas é a pressa de dar o dado que provoca um desvio. Então há problemas, sim”, conclui.
Por outro lado, a regulamentação das pesquisas (que hoje permite a todos os partidos políticos o aferimento de sua metodologia e dos registros dos entrevistados) e seu nível de acerto muito próximo ao das urnas apuradas corroboram a fala dos diretores e diminuem a desconfiança sobre a possibilidade de manipulação por parte dos institutos.

Interpretação
No entanto, se é difícil precisar o peso das pesquisas, alguns elementos concretos apontam para a influência direta dos institutos nas eleições. O principal deles, sem dúvida, é a cobertura da mídia. Entre os diversos veículos de comunicação (rádios, TVs e jornais) que cobrem as eleições, a utilização das pesquisas eleitorais como parâmetro para o nível de exposição das candidaturas é a regra.
Um dos casos mais emblemáticos é o critério adotado para a cobertura e participação em entrevistas e debates da emissora de maior audiência da televisão brasileira, a TV Globo. As regras da emissora, por exemplo, excluem o ex-ministro da Saúde e candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, de sua cobertura diária. O canal exibe, de segunda a sábado, informações apenas de candidatos que têm intenções de voto acima de 6%, de acordo com os institutos Ibope e Datafolha. Os concorrentes com mais de 3% de intenção aparecem nas coberturas duas vezes por semana com veiculações de um minuto cada, que é o caso do petista. A coordenação de campanha de Padilha chegou a entrar com um pedido de liminar no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo para garantir mais tempo de cobertura, mas o pedido foi negado. O mesmo critério foi questionado na Justiça, entre outros, pela candidata do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) à Presidência, Luciana Genro, que tenta garantir seu espaço na cobertura diária do jornalismo da emissora.
Apesar de a legislação que dispõe sobre propaganda e condutas ilícitas em campanha eleitoral nas eleições de 2014 exigir isonomia dos veículos de comunicação em seu trabalho jornalístico, não existem critérios objetivos para julgar uma cobertura equânime.

Mercado e política
Outro elemento de influência direta das pesquisas nas eleições ficou evidenciado no final de julho em um caso envolvendo o Santander. Na ocasião, após divulgação de pesquisa do Datafolha que apontava empate técnico no segundo turno entre Dilma e Aécio, o banco espanhol enviou um comunicado a seus clientes da categoria Select, com renda mensal superior a R$ 10 mil, informando que o voto na petista poderia trazer prejuízos financeiros. “Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam a alta e o índice da Bovespa cairia.” A medida foi criticada por políticos de diferentes partidos, e o Santander chegou a pedir desculpas pela correspondência.
Mesmo sem grandes oscilações, antes da entrada de Marina na disputa eleitoral, o mercado financeiro já utilizava as pesquisas para ganhar dinheiro e tentar influir politicamente. Mauro Paulino, do Datafolha, credita essas especulações à determinação da Justiça Eleitoral que ordena o registro das pesquisas cinco dias antes da divulgação de seus resultados. “Isso dá margem a uma série de especulações, especialmente no mercado financeiro, inclusive a realização de pesquisas clones. Quando o Datafolha registra uma sondagem, já há institutos tentando repetir o mesmo método daquela pesquisa registrada para procurar antecipar o número a ser divulgado. Esses resultados são vendidos para instituições financeiras, investidores e especuladores que tentam obter ganho no mercado de ações”, explica.
Na última pesquisa Datafolha divulgada antes da morte de Eduardo Campos, o empate técnico no segundo turno entre Dilma e Aécio levou o índice das ações Ibovespa a subir 3%, e a Petrobras, 4%. Paulino classifica o crescimento dessas ações como “pura especulação”, “algo que se assemelha à jogatina de um cassino”. “Milhões de reais entrando no jogo por conta de números que não justificam esse movimento”, critica.
Exemplo disso é o chamado “efeito Dilma”, calculado pelo instituto Insper. Até 6 de julho, as oscilações da candidata petista haviam rendido em 2014 R$ 10,6 bilhões, segundo índice calculado por meio das oscilações provocadas por pesquisas nas ações da Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobras, Cemig e Cesp.
“Criou-se uma lógica no mercado de que aparentemente um resultado negativo para Dilma provoca aumento nas ações das estatais. O mercado criou essa lógica. Algum fundamento político tem, mas eu acho que o que pesa mais é a especulação, a criação de factoides para ganhar dinheiro”, comenta Paulino.
Marcos Coimbra, do Vox Populi, entende que o problema da especulação está em como os resultados das pesquisas são tratados pelos veículos de comunicação, que “gostam de ter em mãos um resultado espetacular para fazer manchete, criando o ambiente para a especulação”.
Na visão de Coimbra, uma saída para o fim da especulação e da espetacularização dos dados seria a adoção do modelo de divulgação do trackingdiário utilizado em países como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França, Canadá e Japão. “A melhor maneira de evitar a especulação é ter informação diária. Eu acredito que não teria objeção na Justiça Eleitoral, era só chegar e dizer: ‘Olhem, meus amigos, nós vamos acabar com uma coisa meio antiga que ainda existe; vamos passar para algo mais útil para o eleitor, que não vai ter sobressaltos; algo que não vai sair no final no Jornal Nacional, não vai estar cheio de manchetes garrafais, e o eleitor vai estar menos submetido a essa espetacularização’.” 
Cristiano Navarro e Luís Brasilino
Cristiano Navarro e Luís Brasilino são editores do Le Monde Diplomatique Brasil


Ilustração: João Montanaro

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Reforma Política: que fazer, depois do plebiscito?

140907-ReformaPolítica

Um dos coordenadores da consulta que mobilizou sociedade esta semana sustenta: foi apenas primeiro passo – porque não haverá novo país sem nova democracia

José Antonio Moroni, entrevistado por Antonio Martins
Como se ainda fosse necessário, o divórcio entre o velho jornalismo e as mobilizações e inquietações da sociedade emergiu novamente esta semana. Centenas de milhares de brasileiros votaram, em cédulas impressas ou via internet, num plebiscito informal sobre a necessidade de uma Reforma Política. Capilarizada, a consulta espalhou-se por todo o país. Foi preparada durante meses, por meio de debates, formações de ativistas, vasta distribuição de textos didáticos, cuidadosa preparação logística. Porém, este fato incomum (e capaz de gerar inúmeras histórias saborosas) foi ignorado solenemente pelos jornais e TVs – estes mesmos que tratam política como “caso de polícia”. É como se houvesse um limite de ferro para as críticas ao sistema institucional de poder. Elas devem ser interrompidas sempre que houver risco de surgir uma alternativa democratizante…
Como as informações foram bloqueadas, emergiram dúvidas. O plebiscito desta semana tem valor legal? Será enviado ao Legislativo? Haverá, de fato, uma Constituinte sobre o sistema político? Que fazer em seu favor?
O historiador José Antonio Moroni, um dos coordenadores da Coalizão pela Reforma Política Democrática e do Instituto e Estudos Sócio-Econômicos (Inesc), passou os últimos dias refletindo sobre estas questões. Ele vê a consulta desta semana como um ponto de virada. Agora, a crítica ao atual sistema político ganhou as ruas. Talvez seja possível executar uma estratégia tecida em silêncio, durante anos, pelos que denunciam o sequestro da democracia pelo poder econômico – e a necessidade a necessidade de resgatá-la.
Para não ficar na fachada, a construção de um novo sistema político precisa questionar, no Brasil, interesses muito poderosos. Deve multiplicar as formas de democracia direta, colocando em xeque o poder quase absoluto dos “representantes do povo” para tomar decisões. Precisa cortar a submissão da esmagadora maioria dos parlamentares aos donos do dinheiro. Poderia quebrar a exclusividade dos partidos, estabelecendo o direito a candidaturas avulsas. Não terá sucesso se não enfrentar temas como o elitismo do Judiciário e controle das Comunicações por um pequeno oligopólio de barões.
Tais mudanças não serão feitas pelos membros atuais do Legislativo. Será obrigatório sacudir as instituições – deflagrando, em algum momento, uma mobilização intensa a ponto de obrigar a convocação de uma Assembleia Constituinte sobre o Sistema Político. É sobre isso que centenas de milhares de brasileiros pronunciaram-se, no plebiscito informal da semana passada. Mas quando sua voz será ouvida? E o que fazer, até lá?
É aí que entra uma espécie de fase intermediária da campanha. A consulta de 1º a 7 de setembro deflagrou um processo. Nos próximos meses, ele prosseguirá por meio da pressão social em favor de um Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre o mesmo tema. Embora mais limitado que a Constituinte, ele também é capaz de entusiasmar. Se aprovado, provocará uma pequena revolução. Proibirá, por exemplo, a fonte principal de toda corrupção – a transferência, pelas empresas, de dinheiro aos partidos e políticos. Obrigará a convocação de plebiscitos ou referendos para decisões importantes – entre elas, a alienação (via privatizações e concessões) de bens relevantes da União. Estabelecerá formas de democracia direta via internet (os eleitores poderão aderir eletronicamente a novos projetos de lei de iniciativa popular). Reorganizará o sistema eleitoral.
É claro que se erguerão, também diante desta primeira proposta de mudanças, enormes resistências. O sistema político perdura porque serve aos poderosos. Mas já há, aos que queiram debater o tema e lutar por ele, bem mais que boas intenções genéricas… Graças a anos de esforço de gente como José Antonio Moroni, a Coalizão por uma Reforma Política Democrática desenhou em detalhes o Projeto de Lei de Iniciativa Popular descrito acima. Produziu, além disso, um resumo, uma cartilha, uma agenda de ações, umabiblioteca e um noticiário. Oferece, até mesmo, formulários para quem estiver disposto a colher assinaturas em favor do projeto de iniciativa popular. São necessária 1,5 milhão. Mais de 500 mil já foram coletadas e o plebiscito certamente deflagrará uma nova onda de ações.
Os resultados numéricos da consulta informal desta semana serão anunciados nos próximos dias. Mas o efeito principal, de caráter político, está claro. Voltou à agenda brasileira um tema indispensável para qualquer mudança social profunda. Já há como agir em favor dele. É o que Moroni explica em detalhes, na entrevista a seguir.
140907-Moroni
Moroni: “Chegamos ao limite. Precisamos criar novas institucionalidades processem as demandas populares. Não podemos ter medo – e sim, ousadia”
Em que pé está a articulação da sociedade civil em torno de um a plataforma para a Reforma Política?
Hoje temos duas grandes estrategias politicas em relação a reforma do sistema politico. Uma que a Iniciativa Popular da reforma politica que trata de uma nova regulamentação dos instrumentos de democracia direta e novas normas para o processo eleitoral. Estas mudanças podemos fazer por projeto de lei, não precisam mudanças constitucionais.
Outra estrategia é a convocação de uma Constituinte exclusiva e soberana para o sistema politico. As organizarmos um plebiscito popular, quisemos chamar atenção para a importância de ir mais fundo, alterando também os dispositivos constitucionais que tratam do sistema político.
São duas estrategias distintas, mas que se complementam. Uma tem como objetivo uma incidência a curto prazo; outra, mais a médio e longo prazos.
Vamos por partes, então Que pontos específicos esta Iniciativa Popular pretende? Quem os defende? Em que estágio está? Coleta de assinaturas?
Primeiramente, devemos esclarecer que iniciativa popular não pode propor mudanças constitucionais. Como isso está excluído, nosso projeto concentra-se em dois grandes eixos: ampliar as possibilidades de democracia direta e enfrentar enormes distorções do sistema eleitoral.
Em favor da democracia direta, queremos alterar as leis que regulamentam o artigo 14 da Constituição, ampliando o papel e a força dos plebiscitos, referendo e projetos de iniciativa popular. Algumas decisões centrais para o futuro do país – por exemplo, alienação dos recursos minerais ou das fontes de energia hidráulica da União – só poderiam ser adotadas por meio de plebiscitos ou referendos.
No que trata das iniciativas de lei que partem da sociedade, propomos uma simplificação, com coletas de assinaturas via internet e um rito próprio de tramitação, no Congresso. Estas propostas precisam ter prioridade de tramitação, ao invés de cair na vala comum do processo legislativo, como ocorre hoje. Infelizmente, não podemos, por enquanto, reduzir o número de iniciativas necessárias para propor leis por iniciativa popular. São aproximada 1,5 milhão, mas é algo estabelecido pela Constituição.
O segundo eixo de mudanças estabelecidas no projeto refere-se à democracia representativa. Queremos proibir as empresas de financiar partidos ou candidatos, por sabermos que este é um mecanismo óbvio de corrupção. Em vez disso, propomos um sistema misto, no qual os partidos seriam financiados pelo Estado e por doações de pessoas físicas, com limites máximos.
Esta questão é central, porque não podemos pensar em campanhas caríssimas como as atuais, que tornam imensa a força do poder econômico. Segundo nossa proposta, haverá teto máximo para contribuição dos cidadãos às campanhas e, ao mesmo tempo, limites para gasto global pelos partidos.
O projeto propõe ainda mudanças dos critérios de partillha, entre os partidos, da verbas provenientes do Estado. Não podemos manter regras que fortaleçam os já fortes e que tornam alguns partidos imensamente mais fortes que outros
Outro aspecto é o voto em lista transparente. O voto do eleitor deve favorecer apenas o partido e candidato escolhido por ele – diferente do que o corre hoje. Para tanto, as eleições proporcionais (que elegem deputados federais e estaduais e vereadores) passarão a ser em dois turnos. No primeiro escolhe-se o partido; no segundo vota-se nos candidatos de cada lista partidária. Estas listas devem ter paridade de sexo e critérios de inclusão dos demais grupos subrepresentados – por exemplo, população negra, indígena, homoafetiva, juventude etc.
Em que pé está a coleta de assinaturas e quem procura mobilizar a sociedade em favor do projeto?
O projeto de lei de iniciativa popular foi formulado por uma Coalizão pela Reforma Politica Democrática e Eleições Limpas. É uma frente de mais de cem organizações – sociedade civil e movimentos sociais. A relação completa pode ser encontrada no site da campanha:www.reformapolitica.org.br
A iniciativa foi lançada em setembro de 2013. Já temos mais de 500 mil assinaturas. Estamos convencidos de que o plebiscito vai multiplicar a mobilização em favor da proposta. É possível acessar o texto completo do projeto de lei, uma cartilha explicativa e e formulário para coletar assinaturas no mesmo site.
Se o projeto de iniciativa popular já prevê tantas mudanças, por que é importante uma Constituinte exclusiva e soberana sobre o Sistema Político?
A ideia do plebiscito surgiu o ano passado quando diversos movimentos e organizações se reuniram para discutir o significado das manifestações de junho. Segundo nossa leitura, elas revelam, em essencial, o esgotamento do atual sistema politico – isso é, das formas tradicionais do exercício do poder. Entendemos que, para mudar isso, é necessário um processo mais amplo de reformas estruturais. Para tanto, é necessária uma Constituinte exclusiva e soberana.
O plebiscito de 1º a 7 de setembro não tem valor legal, é claro – não foi organizado pela sociedade como um todo, por meio do Estado, mas pelos grupos que reivindicam Reforma Política. Seu papel é mobilizador e formador. Foi precedido por centenas de cursos de formação de ativistas. O processo durou meses, colocou o tema em pauta, preparou, com conhecimento e argumentos sólidos, milhares de pessoas, que agora darão continuidade à campanha
Que tipo de questões estariam em debate na Constituinte sobre Sistema Político?
Além de todas as questões levantadas no projeto de Iniciativa Popular, o fortalecimento da soberania popular, um nova sistema de representação e temas diretamente relacionados ao poder. Por exemplo precisamos mudar determinadas lógicas presentes na sobre democratização da Justiça, fim do oligopólio que controla as Comunicações, organização e atribuição dos Poderes do Estado, democratização da terra, direito à Cidade. Portanto o plebiscito coloca-se numa perspectiva mais de longo prazo, discutindo questões centrais que o sistema político atual, por sua própria natureza, nunca aceita colocar em debate.
As manifestações de junho de 2013 introduziram um elemento novo no discurso político. Em muitas delas, os que protestam voltaram-se contra “os políticos”, de forma genérica, sem especificar a que partidos ou políticos se referem. É como se as diferenças entre eles estivessem se apagando. Que isso revela sobre crise da representação no Brasil?
Um elemento preocupante da forma de se fazer política no Brasil é justamente é esta falta de diferença entre os diversos partidos e políticos. Isso leva a um descrédito pois se tudo é igual por que vou me mobilizar, apoiar, etc. Isso leva a uma crise de representação, pois se “todos são iguais” e a nossa sociedade é dividida em grupos de interesses, claro que as pessoas não se sentem representadas.
Em junho, a presidente Dilma chegou a falar tanto em plebiscito quanto em Reforma Politica. Ambas as propostas foram sepultadas pelo Congresso Nacional – e ficou tudo por isso mesmo. Como você avalia a atitude de Dilma então e o fato de ela não ter insistido na proposta?
A proposta que hoje levantamos sobre a Constituinte tem diferenças em relação à que foi levantada pela presidenta. Aquela referia-se, basicamente, ao sistema eleitoral. A nossa é sobre o sistema politico – ou seja, diz respeito a todas as relações de poder. Ainda assim, a reação contrária da midia, do STF e da grande parte do Congresso só demonstra o acerto da nossa estratégia de consultar o povo sobre a convocação de uma Constituinte exclusiva e soberana do sistema politico.
Depois de viver, por uma década, um processo modesto de redução da pobreza e certa redistribuição de riquezas, o Brasil parece paralisado politicamente. Há consciência de que necessitamos de um passo adiante na conquista de direitos – mas que não avançamos porque isso exigiria questionar privilégios. De que forma o atual sistema político protege tais privilégios?
O nosso sistema político é ao mesmo tempo reflexo da desigualdade e elemento estruturante das desigualdades. Em outras palavras, estão no topo do sistema político os mesmos que estão no topo da pirâmide social. O modelo de redistribuir sem contrariar interesses chegou a seu limite. Daqui pra frente não tem mais como “governar para todos” até por que numa sociedade baseada na desigualdade como a nossa, quem diz que esta governando para todos esta mentindo pra alguém.
A campanha pela Reforma Política busca sensibilizar a sociedade num ano eleitoral, em que as atenções em geral estão focadas na disputa entre os candidatos. Como abrir espaço, nesse cenário, para um tema que, em teoria, exige elaboração política razoavelmente refinada?
O tema da reforma do sistema político exige, sim, elaboração pois trata de uma questão complexa – e para questões complexas, não existem respostas simples. Nos últimos tempos, os processos eleitorais afastam o povo da discussão política. É um paradoxo, mas nas eleições é onde menos se discute política. Pensamos que o debate sobre a reforma do sistema político pode resgatar o sentido amplo de se fazer política, criando novas formas de se fazer política e com novos sujeitos.
Diversos setores que lutam por um novo sistema político temem a Constituinte por julgar que vivemos um cenário em que as ideias mais conservadoras estão avançando? Temem que entrem em debate, ao contrário, assuntos como a redução da maioridade penal ou a pena de morte. Como isso pode ser evitado?
Avaliamos que a sociedade brasileira está numa encruzilhada e precisa tomar uma decisão sobre que caminho quer seguir. Chegamos ao limite da nossa institucionalidade e precisamos criar novas institucionalidades que tenham condições de processar as demandas populares. Acreditamos que se tivermos uma igualdade maior na disputa politica, principalmente na Constituinte, teremos condições de sair desta encruzilhada e optar para civilidade e não pela barbárie. Não podemos ter medo – e sim, ousadia.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

História Enem – O Feudo: a unidade de produção da Idade Média É hora de relembrar o conteúdo sobre o feudo. Ele foi a unidade de produção típica da Idade Média. Cai nos tópicos sobre Idade Média e Feudalismo no Enem e nos vestibulares.


História Enem – Confira o poder da Igreja Católica na Idade Média
feudo é uma palavra de origem germânica e latina que significa “bem dado em troca”. O uso da palavra está ligado à prática germânica de doar terras e poder aos líderes guerreiros. Dentro desta área o sistema social vigente era o Feudalismo.
O nome feudo era dado, geralmente, a uma propriedade territorial, concedida pelo rei a um nobre ou a um clérigo, da qual ele poderia tirar seu sustento, obrigando-se a uma série de deveres para com seu senhor.
Contudo, podia ser também, qualquer outro bem que garantisse a seu possuidor uma renda regular: o direito de cobrar uma taxa pela passagem de uma ponte, pelo uso de um moinho ou ainda um título ou cargo que desse algum privilégio.
Dica 1 – Está achando complicado? Então veja antes aqui uma aula completa sobre a origem do Feudalismo na Idade Média: http://blogdoenem.com.br/historia-idade-media-feudalismo/
Feudalismo cai no Enem e nos vestibulares - Este conteúdo é super importante para você compreender como o feudo tornou-se a unidade de produção do mundo medieval durante a Idade Média.
Você lembra da imagem de um feudo? Então observe o desenho abaixo e veja duas questões importantes para você mandar bem no Enem e nos vestibulares. Veja na ilustração e no texto a seguir como o feudo foi dividido em três partes e o tipo de economia praticada nas terras senhorias:
Feudo
VICENTINO, Cláudio. Projeto Radix: História 7º. ano. 2 ed. São Paulo: Scipione, 2012. p. 29
  • O feudo possuía três partes básicas: o feudo senhorial (compreendia o castelo e as terras de uso exclusivo do senhor), o feudo servil (composto de vários lotes de terra, chamados de tenências, que eram concedidos aos servos em troca de pagamento de tributos) e o feudo comunal (composto de pastos e bosques).
  • A economia do mundo feudal, baseada em atividades agrícolas, era auto-suficiente, ou seja, a produção de suas plantações era voltada para o abastecimento interno e não para vender e obter lucro. Prevalecia a troca de produto por produto.
Dica 2 – Se você quer gabaritar nas questões de História no Enem e nos vestibulares, fique ligado na Idade Média. Sempre cai. É importante você saber que este período foi dividido em duas partes: Baixa Idade Média, e Alta Idade Média. Veja tudo aqui neste post especial: http://blogdoenem.com.br/enem-2013-idade-media-feudalismo/
No feudo senhorial os produtos pertenciam exclusivamente ao senhor. Os servos produziam tudo de que o senhor necessitava para manter a sua família e outros dependentes; no feudo servil, os servos produziam o que era necessário para a sua sobrevivência; no feudo comunal, onde se criavam animais, se colhiam frutos, raízes e extraíam-se a madeira e o mel, os produtos retirados da terra eram de uso tanto dos servos quanto do senhor. Geralmente, havia também no feudo celeiros para armazenar a colheita, moinho para moer os grãos e fornos para assar os pães.
No feudo também encontramos a presença de uma poderosa instituição: a Igreja católica, que marcou profundamente as relações sociais durante a Idade Média. 
Toda a organização do feudo baseou-se em duas tradições: uma de origem germânica, o comitatus, e outra de origem romana, o colonato. Pelo comitatus, os senhores de terra, unidos pelos laços de vassalagem, comprometiam-se a ser fiéis e a honrar uns aos outros. No colonato, o proprietário de terras dava proteção e trabalho aos colonos, que, em troca, entregavam ao senhor parte de sua produção.
O comitatus
feudo

Fonte: RODRIGUEZ, Joelza Ester Domingues. História em documento: imagem e texto, 7º. ano. Ed. renovada. São Paulo: FTD, 2009. p. 27.

Desta tradição originaram-se as relações de suserania vassalagem do mundo medieval.

feudo

Fonte: EDITORA MODERNA. Projeto Araribá: História 7º. ano. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2007. p. 14.

Desta tradição originaram-se as relações servis de produção do mundo medieval.
Dica 3 – Você sabia que o começo da Idade Média coincide com o final do Império Romano? Veja aqui um post especial sobre a civilização criada pelo Império Romano: http://blogdoenem.com.br/enem-2013-historia-roma  
Ainda está com dúvidas? Faça uma revisão sobre o feudo, a unidade de produção do mundo feudal, nesta aula em vídeo do Descomplica. E, não se esqueça: pesquise, estude para o Vestibular e Enem!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Banco Mundial reconhece Educação cubana

Novo relatório vê ilha como notável exceção na América Latina — onde professores seriam desvalorizados; e métodos e conteúdos, envelhecidos
Por Salim Lamrani*, no Opera Mundi - retirado de Outras Palavras - dia 08/09/2014.
O Banco Mundial acaba de publicar um relatório revelador sobre a problemática da educação na América Latina e no Caribe. Intitulado Professores excelentes. Como melhorar a aprendizagem na América Latina e no Caribe, o estudo analisa os sistemas educativos públicos dos países do continente e os principais desafios que enfrentam1.
Na América Latina, os professores de educação básica (pré-escolar, primária e secundária) constituem um capital humano de 7 milhões de pessoas, ou seja, 4% da população ativa da região, e mais de 20% dos trabalhadores técnicos e profissionais. Seus salários absorvem 4% do PIB do continente e suas condições de trabalho variam de uma região para outra, inclusive dentro das fronteiras nacionais. Os professores, mal remunerados, são, em sua maioria, mulheres — uma média de 75% — e pertencem às classes sociais modestas. Além disso, o corpo docente supera os 40 anos de idade e considera-se que esteja “envelhecido”2.
O Banco Mundial lembra que todos os governos do planeta escrutinam com atenção “a qualidade e o desempenho dos professores” no momento em que os objetivos dos sistemas educativos se adaptam às novas realidades. Agora, o foco está na aquisição de competências e não apenas no simples acúmulo de conhecimentos.
As conclusões do relatório são implacáveis. O Banco Mundial enfatiza “a baixa qualidade média dos professores da América Latina e do Caribe”, o que constitui o principal obstáculo para o avanço da educação no continente. Os conteúdos acadêmicos são inadequados e as práticas ineficientes. Pouco e mal formados, os professores consagram apenas 65% do tempo de aula à instrução, “o que equivale a perder um dia completo de instrução por semana”. Por outro lado, o material didático disponível continua sendo pouco utilizado, particularmente as novas tecnologias de informação e comunicação. Além disso, os professores não conseguem impor sua autoridade, manter a atenção dos alunos e estimular a participação3.
De acordo com a instituição financeira internacional, “nenhum corpo docente da região pode ser considerado de alta qualidade em comparação aos parâmetros mundiais”, com a notável exceção de Cuba. O Banco Mundial aponta que “na atualidade, nenhum sistema escolar latino-americano, com a possível exceção de Cuba, está perto de mostrar os parâmetros elevados, o forte talento acadêmico, as remunerações altas ou, ao menos, adequadas e a elevada autonomia profissional que caracteriza os sistemas educativos mais eficazes do mundo, como os da Finlândia, Singapura, Xangai (China), da República da Coreia, dos Países Baixos e do Canadá”. 4

De fato, apenas Cuba, onde a educação tem sido a principal prioridade desde 1959, dispõe de um sistema educativo eficiente e com professores de alto nível. O país antilhano não tem nada para invejar das nações mais desenvolvidas. A ilha do Caribe é, além disso, a nação do mundo que dedica a parte mais elevada do PIB (13%) para a educação. 5
Não é a primeira vez que o Banco Mundial elogia o sistema educacional de Cuba. Em um relatório anterior, a organização lembrava a excelência do sistema social da ilha:
“Cuba é internacionalmente reconhecida por seus êxitos nos campos da educação e da saúde, com um serviço social que supera o da maior parte dos países em vias de desenvolvimento e em certos setores se compara ao dos países desenvolvidos. Desde a Revolução Cubana, em 1959, e do subsequente estabelecimento de um governo comunista com partido único, o país criou um sistema de serviços sociais que garante o acesso universal à educação e à saúde, proporcionado pelo Estado. Esse modelo permitiu a Cuba alcançar a alfabetização universal, erradicar certas doenças, [prover] acesso geral à água potável e salubridade pública de base, [atingir] as taxas mais baixas da região de mortalidade infantil e uma das maiores expectativas de vida. Uma revisão dos indicadores sociais de Cuba revela uma melhora quase contínua de 1960 até 1980. Vários indicadores principais, como a expectativa de vida e a taxa de mortalidade infantil continuaram melhorando durante a crise econômica do país nos anos 90 [...]. Atualmente, os serviços sociais de Cuba são parte dos melhores do mundo em desenvolvimento, como documentam numerosas fontes internacionais, incluindo a Organização Mundial da Saúde, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, além de outras agências da ONU e o Banco Mundial […]. Cuba supera amplamente a América Latina, o Caribe e outros países de renda média nos indicadores principais: educação, saúde e salubridade pública”. 6
O Banco Mundial lembra que a elaboração de bons sistemas educacionais é vital para o futuro da América Latina e do Caribe. Reforça, também, o exemplo de Cuba, que alcançou a excelência nesse setor e é o único país do continente que dispõe de um corpo docente de alta qualidade. Esses resultados são explicados pela vontade política do governo do país caribenho de colocar a juventude no centro do projeto de sociedade, dedicando os recursos necessários para a aquisição de saberes e competências. Apesar dos recursos limitados de uma nação do Terceiro Mundo e do estado de sítio econômico imposto pelos Estados Unidos há mais de meio século, Cuba, baseando-se no adágio de José Martí, seu apóstolo e herói nacional, “ser culto para ser livre”, demonstra que uma educação de qualidade está ao alcance de todas as nações.

1. Barbara Bruns & Javier Luque, Profesores excelentes. Cómo mejorar el aprendizaje en América Latina y el Caribe, Washington, Banco Mundial, 2014. (site consultado no dia 30 de agosto de 2014).
2. Ibid.
3. Ibid.
4. Ibid.
5. Salim Lamrani, Cuba : les médias face au défi de l’impartialité, Paris, Estrella, 2013, p. 40.
6. Ibid., p. 87-88.
* Doctor en Estudios Ibéricos y Latinoamericanos de la Universidad Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani es profesor titular de la Universidad de La Reunión y periodista, especialista de las relaciones entre Cuba y Estados Unidos. Su último libro se titula The Economic War Against Cuba. A Historical and Legal Perspective on the U.S. Blockade, New York, Monthly Review Press, 2013, con un prólogo de Wayne S. Smith y un prefacio de Paul Estrade.