sábado, 30 de agosto de 2014

Resumo sobre o Império Bizantino e Islamismo

                                                                    Emblema do Império Bizantino. | Imagem: Reprodução

Fonte: http://www.estudopratico.com.br/resumo-sobre-o-imperio-bizantino/

Um dos impérios mais importantes da história foi o Império Bizantino, que nasceu no século IV quando o Império Romano dava sinais da queda de seu poder, principalmente por conta das invasões bárbaras nas suas fronteiras. Diante de tantos problemas, o Imperador Constantino transferiu a capital do seu império para a cidade do Oriente, Bizâncio, a qual mais tarde passou a ser chamada de Constantinopla. Apesar de essa mudança significar a queda do poder no Ocidente, a localização do novo lugar facilitava bastante o comércio da região, já que ficava entre o Mar Negro e o Mar Mármara, o que favoreceu muito a restauração da cidade e chegou a transformá-la em uma Nova Roma.

O governo de Justiniano

Mesmo com a bonança no comércio, o auge do Império só foi atingido durante o governo do Imperador Justiniano. Ele visava a reconquista do poder do Império Romano que havia sido perdido e acabou sendo um legislador que mandou as leis romanas serem compiladas desde a República até o Império. Justiniano também combateu as heresias, sempre buscando dar unidade ao cristianismo, afinal isso facilitaria a monarquia.

Divisão da sociedade do Império Bizantino

A sociedade bizantina era uma hierarquia. Confira a seguir a sua organização:
  • No topo encontrava-se o Imperador e sua família;
  • Logo abaixo, ficava a nobreza, que era formada pelos assessores do Imperador;
  • Em seguida, o alto clero, que era privilegiado com sua posição hierárquica;
  • Depois vinha a elite, que era composta de fazendeiros, comerciantes e donos de oficinas artesanais;
  • Havia uma camada média da sociedade formada por pequenos agricultores, baixo clero e trabalhadores de oficinas de artesanato;
  • A maior parte era formada pelos pobres camponeses que ganhavam pouco e tinham de pagar altas taxas de impostos.

Religião, crise e tomada de Constantinopla

Os caminhos religiosos do Império Bizantino eram os mesmos da sociedade romana, ou seja, o Cristianismo era a doutrina seguida. Era costume fazer várias manifestações artísticas representando Cristo e os santos para que os fiéis adorassem essas imagens, o que enriquecia os monges e os dava grande poder de manipulação sobre a sociedade. Todo esse poder incomodou o governo, que passou a proibir a veneração de imagens, com exceção da de Jesus, e a pena de morte foi decretada para aqueles que insistissem em adorar os objetos. Isso gerou uma pequena guerra civil conhecida como A Questão Iconoclasta.
Quando Justiniano veio a falecer, o Império Bizantino ficou a mercê de várias invasões que começaram a gerar muitos problemas para a capital, começando assim a sua queda. Com o passar do tempo, Constantinopla se encontrava ainda mais enfraquecida e o império acabou se dividindo em diferentes cidades feudais. A cidade teve sua queda definitiva no ano de 1453, após a invasão dos turcos.
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Islamismo: Princípios e História, Resumo e Curiosidades do Islã


Atualmente, com mais de 7 bilhões de pessoas no mundo, mais de 1 bilhão professa a religião mulçumana. Fundada por Maomé (ou Mohamed) no século VII, no oeste da Arábia, a religião mulçumana espalhou-se inicialmente pela África, Ásia e sul da Europa.
Os ensinamentos de Maomé, obtidos por meio de sinais e testemunhos, foram transmitidos aos fiéis compondo a sua doutrina. Entre os princípios e deveres básicos da nova religião se destacam:
*Professar a fé nos ensinamentos do profeta de que só existe um Deus: 'Só há um Deus, que é Alá, e Maomé é o seu Profeta';
*Todo convertido deve fazer orações cotidianas em honra de Alá e voltado para Meca, onde está a Pedra Negra, símbolo do compromisso e da amizade entre Deus e os homens;
*Todo mulçumano deve peregrinar até Meca pelo menos uma vez na vida;
*A esmola é obrigatória para quem pode dá-la;
*O fiel deve jejuar no mês sagrado de Ramadã, que é o período em que aconteceu a 'iluminação', ou seja, quando o anjo Gabriel falou a Maomé.
O coração é um livro para ser recitado em orações litúrgicas e possui uma estrutura repetitiva que facilita a memorização e a incorporação de regras morais e civis. Essas regras foram compiladas após a morte de Maomé.
Dentre elas destacamos a proibição de bebidas alcoólicas, a necessidade de proeger órfãos e viúvas, o dever de ser hospitaleiro, a possibilidade de praticar a poligamia, a condenação do roubo e sua severa punição.
Islamismo: Princípios e História, Resumo e Curiosidades do Islã islamismo alcorao–> A partir do Corão há uma atualização de regras que são divididas em diferentes categorias:
Fard: os princípios básicos que devem ser cumpridos;
Mandub: ações especiais que são recompensadas por Deus;
Mubah:ações sem referência no Corão e que, portanto, não são punidas nem recompensadas;
Mukruh: ações desencorajadas, mas não punidas;
Haram: ações puníveis por lei.
Curiosidades: Veja o significado de alguns termos associados ao mundo muçulmano:
*Árabe: corresponde a uma denominação geográfica, mas com frequência é usada como se fosse sinônimo de uma religião. O fato de Maomé ter unificado diversas tribos árabes e as convertido ao islamisno não significada que todos os árabes tenham a mesma crença.
*Muçulmano: corresponde ao seguidor de Maomé, portanto, é uma designação religiosa;
*Islamismo: designação da religião do Islã que significa 'Aquele que se submete à vontade de Deus'; é o nome da própria religião pregada por Maomé;
*Mouro: Forma pela qual os habitantes da península ibérica chamaram aos muçulmanos do Norte da África que invadiram a península no século VIII.
Viu só como a civilização do Islã é rica em história e cultura? Então não se esqueça de comentar o que achou desse Post que teve como fonte o livro 'História Geral'!

DICAS PARA FACILITAR A PESQUISA SOBRE "MORADORES" DE RUA NO BRASIL E NO MUNDO

acervo Click Humano

Prezados (as) alunos (as),
Iniciamos uma pesquisa sobre pessoas em situação de rua no Brasil e no mundo; os trabalhos serão apresentados no texto pesquisado e numa cartolina em forma de esquema para apresentação oral na próxima semana para todas as turmas do Projeto Click Humano.
Muitos alunos alegam que não estão encontrando, algumas dicas:
Pesquisem usando:
1. O dicionário - http://www.wordreference.com/ - e pesquisem em inglês e/ou espanhol em sites internacionais.
2. Artigos: People on the streets - indigentes wordwide - 
3. Site da ONU (Nações Unidas).
4. Site Pnud Brasil das Nações UNidas.
5. Site itamaraty.gov.br
6. Site IBGE.

Vamos, para ajudar, entrar nesses sites e postar mais informações e matérias aqui no blog.

abraços

Prof. Gilbert


7 motivos pelos quais Marina Silva não representa a “nova política” Se a sua intenção este ano é votar em uma "nova forma de fazer política", leia este texto antes de encarar a urna eletrônica por Lino Bocchini



É comum eleitores justificarem o voto em Marina Silva para presidente nas Eleições 2014 afirmando que ela representaria uma “nova forma de fazer política”. Abaixo, sete razões pelas quais essa afirmação não faz sentido:
1. Marina Silva virou candidata fazendo uma aliança de ocasião. Marina abandonou o PT para ser candidata a presidente pelo PV. Desentendeu-se também com o novo partido e saiu para fundar a Rede -- e ser novamente candidata a presidente. Não conseguiu apoio suficiente e, no último dia do prazo legal, com a ameaça de ficar de fora da eleição, filiou-se ao PSB. Os dois lados assumem que a aliança é puramente eleitoral e será desfeita assim que a Rede for criada. Ou seja: sua candidatura nasce de uma necessidade clara (ser candidata), sem base alguma em propostas ou ideologia. Velha política em estado puro.
2. A chapa de Marina Silva está coligada com o que de mais atrasado existe na política. Em São Paulo, o PSB apoia a reeleição de Geraldo Alckmin, e é inclusive o partido de seu candidato a vice, Márcio França. No Paraná, apoia o também tucano Beto Richa, famoso por censurar blogs e pesquisas. A estratégia de “preservá-la” de tais palanques nada mais é do que isso, uma estratégia. Seu vice, seu partido, seus apoiadores próximos, seus financiadores e sua equipe estão a serviço de tais candidatos. Seu vice, Beto Albuquerque, aliás, é historicamente ligado ao agronegócio. Tudo normal, necessário até. Mas não é “nova política”.
3. As escolhas econômicas de Marina Silva são ainda mais conservadoras que as de Aécio Neves. A campanha de Marina é a que defende de forma mais contundente a independência do Banco Central. Na prática, isso significa deixar na mão do mercado a função de regular a si próprio. Nesse modelo, a política econômica fica nas mãos dos banqueiros, e não com o governo eleito pela população. Nem Aécio Neves é tão contundente em seu neoliberalismo. Os mentores de sua política econômica (futuros ministros?) são dois nomes ligados a Fernando Henrique: Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Rezende, ex-presidente do BNDES e um dos líderes da política de privatizações de FHC. Algum problema? Para quem gosta, nenhum. Não é, contudo, “uma nova forma de se fazer política”.
4. O plano de governo de Marina Silva é feito por megaempresários bilionários. Sua coordenadora de programa de governo e principal arrecadadora de fundos é Maria Alice Setúbal, filha de Olavo Setúbal e acionista do Itaú. Outro parceiro antigo é Guilherme Leal. O sócio da Natura foi seu candidato a vice e um grande doador financeiro individual em 2010. A proximidade ainda mais explícita no debate da Band desta terça-feira. Para defendê-los, Marina chegou a comparar Neca, herdeira do maior banco do Brasil, com um lucro líquido de mais de R$ 9,3 bilhões no primeiro semestre, ao líder seringueiro Chico Mendes, que morreu pobre, assassinado com tiros de escopeta nos fundos de sua casa em Xapuri (AC) em dezembro de 1988. Devemos ter ojeriza dos muito ricos? Claro que não. Deixar o programa de governo a cargo de bilionários, contudo, não é exatamente algo inovador.
5. Marina Silva tem posições conservadoras em relação a gays, drogas e aborto. O discurso ensaiado vem se sofisticando, mas é grande a coleção de vídeos e entrevistas da ex-senadora nas quais ela se alinha aos mais fundamentalistas dogmas evangélicos. Devota da Assembleia de Deus, Marina já colocou-se diversas vezes contra o casamento gay, contra o aborto mesmo nos casos definidos por lei, contra a pesquisa com células-tronco e contra qualquer flexibilização na legislação das drogas. Nesses temas, a sua posição é a mais conservadora dentre os três principais postulantes à Presidência.
6. Marina Silva usa o marketing político convencional. Como qualquer candidato convencional, Marina tem uma estrutura robusta e profissionalizada de marketing. É defendida por uma assessoria de imprensa forte, age guiada por pesquisas qualitativas, ouve marqueteiros, publicitários e consultores de imagem. A grande diferença é que Marina usa sua equipe de marketing justamente para passar a imagem de não ter uma equipe de marketing.
7. Marina Silva mente ao negar a política. A cada vez que nega qualquer um dos pontos descritos acima, a candidata falta com a verdade. Ou, de forma mais clara: ela mente. E faz isso diariamente, como boa parte dos políticos dos quais diz ser diferente.
Há algum mal no uso de elementos da política tradicional? Nenhum. Dentro do atual sistema político, é assim que as coisas funcionam. E é bom para a democracia que pessoas com ideias diferentes conversem e cheguem a acordos sobre determinados pontos. Isso só vai mudar com uma reforma política para valer, algo que ainda não se sabe quando, como e se de fato será feita no Brasil.
Aécio tem objetivos claros. Quer resgatar as bandeiras históricas do PSDB, fala em enxugamento do Estado, moralização da máquina pública, melhora da economia e o fim do que considera um assistencialismo com a população mais pobre. Dilma também faz política calcada em propósitos claros: manter e aprofundar o conjunto de medidas do governo petista que estão reduzindo a desigualdade social no País.
Se você, entretanto, não gosta da plataforma de Dilma ou da de Aécio e quer fortalecer “uma nova forma de fazer política”, esqueça Marina e ouça Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV) com mais atenção.
De Marina Silva, espere tudo menos a tal “nova forma de fazer política”. Até agora a sua principal e quase que única proposta é negar o que faz diariamente: política.

Marina é a segunda via do PSDB Consagrada Marina Silva como substituta de Eduardo Campos, é hora de dizer algumas verdades e levantar alguns questionamentos por Luciana Genro

Marina Silva vem sendo apontada como aquela que poderia capturar a insatisfação com a velha política, manifestada por milhões que saíram às ruas em junho de 2013. É preciso, entretanto, ir além da simbologia criada em torno de Marina para avaliar o que ela realmente representa. Avaliar cuidadosamente os elementos programáticos, seus aliados, seu modelo de gestão e seu projeto de país. Assim podemos tecer um primeiro diagnóstico da essência da candidatura de Marina.
Apesar do discurso em torno de uma “nova política”, a própria candidata nos fornece elementos para demonstrar que ela não representa nada de novo.
Ela defendeu, desde a campanha de 2010, um “realinhamento” entre PT e PSDB. Disse apoiar a política econômica de FHC e Lula. Sua suposta negação dos partidos tradicionais não a impediu de ingressar no PSB, abrigo de usineiros, oligarquias familiares e até de reacionários notórios como os Bornhausen, de Santa Catarina. Agora, para ser ungida candidata pelo PSB, assumiu os compromissos costurados por Eduardo Campos, dividindo o palanque com o PT no Rio de Janeiro e com PSDB em São Paulo. Isso não tem nada de novo na política. Marina acaba, assim, avalizando as velhas práticas de sempre.
Só se constrói uma nova política a partir da crítica radical aos partidos do sistema e do modelo econômico vigente. Marina não faz nem uma coisa nem outra. Tenta se apresentar como o novo, mas está associada ao velho. Do ponto de vista econômico ela está, inclusive, mais próxima do PSDB.
E a política econômica está na base de tudo. Não há nova política sem mudar as estruturas econômicas que permitem a desigualdade extrema de renda, os lucros indecentes dos bancos e a destinação de 40% do orçamento do Brasil para o pagamento de juros da dívida pública.
Os economistas que orientam Marina são da escola do PSDB. Eduardo Gianetti da Fonseca é o mais próximo de Marina. Em entrevista à Folha de São Paulo, no dia 21 de outubro de 2013, ele afirma que, “no tocante à política macroeconômica, não vamos reinventar a roda. Vamos continuar o que estava funcionando muito bem no Brasil, que é o tripé [superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante].”
Isto significa que, numa eventual vitória de Marina, a política econômica vai ser mantida? Uma política que garante a dominação e o elevado poder econômico e político do setor financeiro. Que faz com que o Estado execute medidas de defesa, consolidação e avanço dos interesses do capital financeiro com altas taxas de juros para controlar a inflação, em detrimento dos salários, das aposentadorias e dos investimentos públicos.
Neste modelo não há espaço para aumentar significativamente o nível de investimento em saúde e educação ou acabar com o fator previdenciário, nem para estancar a sangria de 40% do orçamento do Brasil em favor das 5 mil famílias mais ricas do Brasil e os bancos. Mais da metade da arrecadação de impostos vem de pessoas que ganham até três salários mínimos. É o dinheiro dos pobres garantindo o pagamento dos juros para os ricos. Com Marina a bolsa banqueiro vai continuar?
Este mesmo modelo também está empenhado em atender os interesses dos mercados mesmo dentro das principais empresas públicas brasileiras. O economista de Marina não deixa dúvidas.
“Tornam a Petrobras responsável por pelo menos 30% dos investimentos no Pré-Sal e, ao mesmo tempo, puxam o tapete da Petrobras segurando os preços dos combustíveis. O governo vinha de dois bons momentos de política macroeconômica, durante FHC e o primeiro governo Lula”, afirma ele.
Esta declaração deixa bem clara a intenção de aumentar os preços da gasolina, atendendo ao pleito dos acionistas privados da Petrobras, que pressionam pelo aumento dos seus lucros. Marina vai aumentar a gasolina?
Mas o ataque não para por aí. “Corrigir o salário mínimo pelo crescimento de dois anos atrás e o IPCA do ano anterior não tem o menor sentido. Também é complicado reajustar o benefício previdenciário pelo salário mínimo. Atrelar perpetuamente [as aposentadorias] ao salário mínimo não faz sentido”, acrescenta Gianetti.
A principal reivindicação dos aposentados, que é o reajuste das aposentadorias de acordo com a correção do salário mínimo, é descartada pelo conselheiro de Marina. Então, com ela no governo, continuará valendo a regra que faz com que o cidadão que se aposenta ganhando cinco salários em poucos anos estará ganhando apenas um? E como será o reajuste do salário mínimo?
Numa entrevista mais recente, em 14 de agosto de 2014, o economista de Marina foi ainda mais explícito nos vínculos da candidata com o PSDB e sobre a necessidade de se fazer um ajuste duro, obviamente contra o povo.
Foi durante palestra no 24º Congresso da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), quando ele disse que há “uma forte convergência” entre o PSDB e o PSB para as políticas econômicas necessárias, caso derrotem o atual governo nas eleições. “A oposição vai corrigir os equívocos do atual governo, com a volta do tripé macroeconômico, com um movimento inevitável de correção e ajustes aos desequilíbrios”, disse. “A hipotética vitória da oposição será de ajustes duros que restabeleçam confiança”. Então, vai fazer um ajuste duro? Contra quem?
No mesmo evento, Gianetti defendeu a correção de tarifas dos serviços e produtos administrados, como energia e combustíveis, além da busca por metas fiscais pautadas pela redução dos gastos do governo e ainda ajuste no câmbio e até nos juros no início do governo. “Você limpa horizontes e estabelece cenário de volta à normalidade”, afirmou. Marina vai aumentar as tarifas públicas? Quem vai pagar a conta?
Em recente reportagem do jornal o Globo, Marina levanta a bandeira da austeridade fiscal, e defende a autonomia do Banco Central para elevar os juros com o pretexto de controlar a inflação, independente das políticas do governo. Entre seus assessores circula a notícia que, se eleita, convidaria o presidente da Febraban, Murilo Portugal, para ser parte de sua equipe econômica.
Então, austeridade – isto é, corte de gastos públicos para sobrar dinheiro para o pagamento das dívidas – é bandeira de Marina? Ela vai dar mais autonomia para o Banco Central, já capturado pelos mercados?
Não é casual, também, que Luiz Carlos Mendonça de Barros, um dos principais analistas econômicos do PSDB publicou comentário em uma rede social afirmando que o PSDB se aliaria a ela para “selar a remoção do PT do poder”.
Marina vai governar com o PSDB?
Mas não é só na economia que Marina contraria sua simbologia da nova política.
Na segurança pública o conservadorismo de Marina não lhe permite perceber a necessidade de dar fim à guerra urbana contra os pobres, travestida de guerra às drogas. Defender a descriminalização e regulamentação do uso da maconha nos mesmos patamares de outras drogas legais, como o álcool e o cigarro, é fundamental para avançar neste caminho. De que vale ser uma candidata de origem pobre e negra, se ela vai perpetuar as políticas que permitem o extermínio e encarceramento em massa de jovens pobres e negros?
Da mesma forma, Marina não inova em relação aos direitos da população LGBT. Ela é evangélica, e sua religião não é demérito algum. Entretanto, ela cede às pressões dos setores mais conservadores desta religião, pronunciando-se contra o casamento igualitário. A presidente Dilma também cedeu aos fundamentalistas, suspendendo o programa de combate à homofobia nas escolas por pressão da bancada evangélica da Câmara. Enquanto isso, fruto do preconceito e da falta de educação sexual nas escolas, a AIDS cresceu no Brasil, enquanto no mundo inteiro caiu. Defender a liberdade religiosa significa garantir que nenhuma religião interfira nas políticas públicas. Marina vai garantir o Estado laico?
Então é preciso que os eleitores em busca do novo fiquem muito atentos para não ser enganados por uma simbologia vazia de conteúdo. Se Marina não quer ser mais uma especialista em enganar o povo, tem que se separar claramente dos chefes de seu programa econômico, todos eles formados na escola do neoliberalismo. Infelizmente, não é o que temos visto. Pelo que vemos até agora, está muito claro que Marina não é a terceira via.
Ao contrário, Marina se parece mais com uma “segunda via” do PSDB, a alternativa que a direita está buscando caso não consiga emplacar Aécio Neves. Não que a direita não aceite Dilma. Ela conviveu muito bem com Lula e com Dilma. Mas o PT já não controla o movimento de massas, como se viu em junho de 2013, e este era o grande serviço que a direita cobrava do PT. Então, já que o PT não cumpre mais este papel, eles preferem eliminar os intermediários, governar pelas próprias mãos e não mais terceirizar o poder para grupos oriundos da classe trabalhadora, mas que governam segundo os interesses do capital.
Por isso Aécio é o favorito da direita, seu filho legítimo. Mas Marina pode ser a nova terceirizada confiável a serviço do capital. Se ela seguir iludindo os insatisfeitos com a velha política e conseguir canalizar a insatisfação para sua candidatura, ela pode ser útil para o sistema, dando uma nova cara para o velho de sempre.
Candidata do PSOL à Presidência da República

Programa de Marina tem política econômica "tucana" Documento propõe enxugar o Estado, facilitar lucros, reaproximar-se dos EUA e confirma BC independente. Contra competição, Aécio Neves expõe Armínio Fraga

O que significa cortar gastos e enxugar o Estado?
Será que é diminuir ministérios?
Reduzir salários (o que legalmente não pode ser feito)?
O que significa cortar gastos e enxugar o Estado?
Quando FHC foi eleito para governar entre 1994 e 2002 esse tipo de discurso era a tônica, havia, segundo os "especialistas" tipo Armínio Fraga, a urgência em reduzir gastos, diminuir o tamanho do Estado. O Brasil passou pelo maior desmonte já experimentado na economia mundial. O governo FHC privatizou em grande escala passando aos donos do capital daqui e de fora, empresas estatais poderosas e rentáveis.
A pergunta é: Os recursos arrecadados foram investidos no Social? Não. O governo FHC produziu juntamente com sua política privatista/neoliberal, o maior desmonte nas áreas de educação e saúde do país.
O que significa enxugar e cortar gastos, prometido agora pela neopentecostal candidata Marina?
Vamos diminuir o tamanho do Estado para beneficiar a quem?
O Estado não deveria ser do tamanho das necessidades do Povo?
por José Gilbert A. Martins (Professor)
Fonte: Carta Capital - 30/08/2014
A presidenciável Marina Silva (PSB) lançou seu programa de governo nesta sexta-feira 29 com uma política econômica igual à defendida pelo PSDB nesta eleição e em anteriores. Marina propõe diminuir o tamanho do Estado com o corte de ministérios e gastos públicos, medidas facilitadoras dos lucros empresariais, reduzir a ação dos bancos estatais para que os privados possam fazer mais negócios e a busca de uma reaproximação comercial com os Estados Unidos, entre outras coisas.
Ao contrário dos tucanos, porém, Marina comprometeu-se a com uma ideia polêmica: “Assegurar a independência do Banco Central o mais rapidamente possível, de forma institucional, para que ele possa praticar a política monetária necessária ao controle da inflação” (a íntegra do documento está no link ao lado).
Caso uma lei como a proposta por Marina seja aprovada, o BC não terá mais de se subordinar ao presidente da República ou ao ministro da Fazenda. Terá liberdade para tomar decisões sobre, por exemplo, as taxas de juros. Era uma bandeira de Eduardo Campos, morto em 13 de agosto. Quando Campos e Marina se uniram e começaram a desenhar o programa de governo do PSB, ela discordava da ideia, segundo Maria Alice Setúbal, amiga da ex-ministra, herdeira do banco Itaú e uma das responsáveis pelo programa. Marina acabou, porém, se convencendo a defender a proposta.
Roberto Amaral, presidente do partido pelo qual Marina concorre à Presidência, é contra a proposta. Já tinha essa posição quando o candidato do PSB ainda era Campos, mas foi derrotado em debates internos, pois o falecido ex-governador era o então dirigente máximo da sigla. Amaral também discorda das posições econômicas liberal-conservadoras dos dois principais assessores de Marina no tema, André Lara Resende, um dos idealizadores do Plano Real, e Eduardo Giannetti da Fonseca.
Com a promessa de independência ao BC, Marina tenta conquistar o apoio do sistema financeiro e do alto empresariado, especialmente o paulista. Os dois grupos não querem a reeleição de Dilma Rousseff (PT), mas hesitam em aderir à campanha marinista. Não sabem ao certo que tipo de governo ela faria. Preferiam apoiar o candidato Aécio Neves, do PSDB, partido com quem têm mais afinidade. A entrada de Marina na eleição, contudo, mostrou que ela tem mais chances de vencer Dilma - ao menos conforme se vê nas mais recentes pesquisas.
Na terça-feira 26, assessores marinistas reuniram-se com banqueiros e investidores estrangeiros em São Paulo para tentar mostrar como seria um governo Marina. O encontro foi promovido por Maria Alice, conhecida como Neca, e pelo Itaú BBA, um dos braços do banco Itaú.
Ao encampar a política econômica tucana, Marina forçou Aécio Neves a defender mais abertamente a agenda histórica do PSDB. Desde o início da campanha, o senador mineiro tinha evitado se expor tão abertamente, por receio da propaganda petista. A comparação entre os dados de emprego e renda nos governos Dilma e Lula com os oito anos da gestão Fernando Henrique era o centro da estratégia dilmista. Uma proposta de lei de independência do BC está em discussão no Senado por iniciativa de um tio de Aécio, o senador Francisco Dornelles, do PP do Rio. O tucano preferiu, contudo, evitar o tema, com medo da propaganda do PT, segundo a qual a independência do BC dará mais poder os banqueiros para aumentar os juros e estimular o desemprego.
Principal assessor econômico de Aécio, Armínio Fraga, presidente do BC na gestão FHC, andava sumido desde o início da eleição, em 6 de julho. Com a ameaça representada por Marina a sua candidatura, Aécio liberou Armínio para voltar à cena. Esperava convencer o sistema financeiro e o alto empresariado de que o PSDB ainda seria a melhor aposta contra o PT. Nos últimos dias, Fraga deu entrevista à revista Veja e publicou artigo no jornal Folha de S. Paulo. Ao participar do primeiro debate televisivo entre os presidenciáveis, na terça-feira 26, na Band, Aécio anunciou que Fraga será seu ministro da Fazenda, caso ele seja eleito.
O programa de governo de Marina também propõe uma reaproximação comercial com os Estados Unidos, a exemplo do que consta da agenda econômica do PSDB. A filosofia é a mesma que vinha sendo defendida por Campos. Enquanto esteve na campanha, o falecido candidato dizia defender “negociações maduras” com o governo norte-americano. A relação entre os dois países está em marcha lenta desde a descoberta da espionagem praticada pelos EUA contra Dilma, cidadãos e empresas brasileiros. Quando Campos morreu, a Casa Branca divulgou uma nota lamentando o fato.

Retoque na maquiagem Marina, ex-calvinista mostra as artes sutis das raposas experientes. Ao condenar a “velha política”, não hesita em militar nela



Fonte: Conversa Afiada - 30/08/2014
Acontecimentos inesperados, como o que se vê agora com a presidenciável Marina Silva, não são um fenômeno decorrente do acaso ou provocado pela força do destino. A surpreendente ascensão eleitoral dela se dá por razões explicáveis, palpáveis, criadas antes e imediatamente após o acidente fatal com Eduardo Campos.
Não há fenômenos na política como há fenômenos na natureza.
Resgatada do ostracismo, por cálculo político da mídia conservadora, em duas semanas ela deixou de ser a sombra de Campos e desarrumou uma eleição que parecia arrumada. Atropelou a candidatura do tucano Aécio Neves e ameaça ultrapassar a petista Dilma Rousseff, com quem poderá disputar o segundo turno.
Uma parte do sucesso de agora foi plantada após a chegada dela em Brasília, em 1995, já eleita senadora pelo PT do Acre. Foi reeleita em 2003. Sustentou um discurso ambientalista rigoroso. Provocou confrontos internos e externos. Finalmente, rompeu com o governo Lula e com o PT ao se demitir do Ministério do Meio Ambiente.
Marina sempre foi contra a comercialização da soja modificada geneticamente. E reagiu à proposta de transposição das águas do São Francisco. A permissão para a realização das obras só foi dada após ela ter deixado o governo. São apenas dois exemplos.
Ao se despedir do ministério, em 2008, já tinha planos políticos e o olho na disputa da eleição presidencial de 2010. Concorreu pelo PV e perdeu. Recusou-se a apoiar, no segundo turno, a petista Dilma ou o tucano Serra.
Foi uma fuga clara e transparente do processo político-eleitoral.
Marina é, teoricamente, a expressão de uma política que não existe. Prega um comportamento quase calvinista. Nesse ponto ela é um retrocesso social.
A mídia conservadora, antigovernista, fez dela um ícone. E, para sacudir a base de administrações petistas, passou a fazer marcação a aliados de Lula e Dilma.
Além da sucessão de denúncias contra políticos, às vezes com razão e outras vezes sem sustentação, a mídia agia com sinais indiretos de que o Brasil seria melhor se não houvesse o Congresso. Quiçá também os políticos.
O caldo disso foi a fantástica mobilização popular nos meses de junho e julho de 2013. Se o turbilhão de manifestantes formasse um clube, haveria na porta de entrada a divisa: “Político não entra”. Talvez alguém acrescentasse: “Exceto Marina”.
Embalada por essas jornadas, ela passou a pregar uma indefinida “nova política” e, para isso, mobilizou militantes fiéis para criar um partido novo. Fracassou. Juntou-se ao PSB e tornou-se vice na chapa do partido.
A morte de Eduardo Campos promoveu a ascensão dela.
Após isso, ela mudou. Amenizou o discurso político mais agressivo e negou o que chamou de “lendas” sobre posições políticas ambientais.
Nos debates, farejando uma possível vitória, acentua que “em todos os partidos há quadros de qualidade”. Nesse momento é mais ardilosa do que Eduardo Campos, que satanizava nomes já satanizados como os de José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor, entre outros.
A nova Marina age como uma velha raposa. Não dá nome aos bois.
Assim agiam os políticos matreiros nos tempos da “velha política”.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Há 60 anos, Getúlio desbaratava golpe das elites

Multidão toma ruas do Rio, então capital, em protesto contra os que provocaram suicídio de Vargas. Reação popular adiou, por dez anos, golpe que elites tentaram dar já em 1954

Se você sair do senso comum, com certeza irá entender o que a eleição de 2014 coloca em jogo. Ler a entrevista logo abaixo é entrar em contato com um pouco da história do Brasil do século XX. É também enxergar a política do ponto de vista de quem participa, de quem olha e ver os interesses das diversas classes em luta.
Eleição e política é para todos, mas nem todos conseguem ver a profundidade e a importância dela para o país. Concordo que o dia da eleição é festa democrática, realmente precisamos ver dessa forma, mas o que está por dentro da festa é que precisamos perceber.
A festa passa, o dia da escolha também, mas a seriedade de acompanhar, de participar para entender o que está em jogo só poucos fazem.
As elites brasileiras sempre estiveram à frente nesse processo, nunca perderam de vista seus interesses. Todas as vezes que tiveram algum problema, criaram uma crise, interviram, "acabaram" com a crise que ela mesma criou e, saiu vitoriosa com boa parte do Povo acreditando que a solução encontrada foi benéfica para todos. Pura ilusão.
Os trabalhadores e trabalhadoras desde o início do século XX, com as grandes e importantes greves, principalmente em São Paulo, berço da indústria brasileira, nunca se encontraram como corpo, como organismo de luta, sempre tiveram grandes dificuldades de organização, não só por falta de tempo, recursos financeiros etc. mas, por questões de interesses diversos, interesses que, muitas vezes, não eram realmente da classe trabalhadora. Os patrões, quase sempre estavam inseridos no meio da luta, isso foi, historicamente, um grande empecilho à organização dos operários e operárias no país.
As elites, ao contrário, sempre tiveram facilidade para se encontrar, para se reunir, para debater seus interesses. A classe empresarial brasileira é uma das mais ricas e poderosas do mundo. A ingerência nas eleições foram e são fundamentais e decisivas para elas.
Os trabalhadores e o Povo em geral precisa entender esse jogo. A organização da classe trabalhadora precisa sair da mesquinharia de algumas "lideranças" sindicais e partir para um novo tempo. O movimento sindical precisa renascer, precisa ser repensado. As elites evoluíram, é claro que não evoluíram para melhorar ou transformar a vida do Povo ou dos trabalhadores, evoluíram para controlar ainda mais o poder econômico, modernizaram sua forma de gerir as empresas e as relações de classe.
Saia do senso comum, aprofunde sua leitura. Se você é trabalhador/trabalhadora pense nisso. Os trabalhadores e trabalhadoras são a parte mais importante do processo de produção. É fundamental que o trabalhador leia mais, participe mais, entenda mais, não tenha ilusões, apesar das elites e da grande mídia apregoar por aí que luta de classe é coisa do passado, eles, a elite, sabem que não, ela, luta de classes para as elites, existe, faz parte do dia a dia.
Entenda, pense mais.
por José Gilbert A. Martins (Professor)

Autor de biografia do ex-presidente destaca, em entrevista, seu papel contraditório — e “essencial na invenção do Brasil moderno”
Confira a entrevista com Lira Neto, autor de uma trilogia com a biografia de Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954). O recém-lançado “Getúlio – Da volta pela consagração popular ao suicídio (1945-1954)” conta os anos finais do gaúcho de São Borja com os impressionantes detalhes de quem passou cinco anos dedicado à missão de pesquisar a vida do principal político brasileiro do século XX.
Getúlio era um personagem controverso. Essa complexidade ajudou a formar o mito que persiste até hoje?
De fato, Getúlio é um personagem absolutamente complexo, e é nisso que reside a sua importância e fascínio. Ora é identificado como ditador, violento, que fechou o Congresso, mas é o mesmo homem que exerceu um papel de protagonista na invenção do Brasil moderno. Essas facetas é que são fascinantes; um homem que caiu em 1945, como ditador, e volta em 1950, eleito como um grande líder de massas. E, sem dúvida, a forma como ele escolheu para passar à história, dando fim à própria vida, ajudou a consolidar ainda mais a sua permanência no imaginário coletivo.
A pressão em torno de Getúlio era, no momento do suicídio, realmente incontornável?
Sem dúvida. Ao contrário das vezes anteriores em que ele viu o suicídio como resposta a uma situação aparentemente incontornável, daquela vez, em 1954, ele de fato estava numa situação irreversível. Tentando fazer um exercício de “futurologia histórica”, certamente, caso não houvesse apontado o revólver contra o próprio peito, ele teria saído preso do palácio. As lideranças das três Forças Armadas exigiam a saída imediata do presidente. Antevendo o vexame, uma possível prisão, uma provável deportação, ele resolve pôr em ação o plano tão longamente planejado.
O suicídio de Vargas foi o seu mais marcante ato político?

Em geral, o senso comum costuma associar o suicídio a um ato de desespero ou covardia. Naquele momento, o ato de Getúlio não correspondia a nenhum dos dois. Era, na verdade, um ato político, calculado friamente, do qual ele sabia da eloquência, do significado e dos efeitos sobre a crise política. Ele sabia que o gesto seria tão forte, com efeitos tão intensos, que seus adversários teriam que partir para a defensiva. O suicídio foi o ato político mais incisivo e perene de toda a sua trajetória. Curiosamente, a sua derrota naquele momento, a sua morte, significou uma vitória. Ele conseguiu trocar os sinais de uma equação política que já parecia resolvida: quem era o vitorioso passou a ser o derrotado, e o quase certo derrotado foi o grande vitorioso, não só para aquele momento, mas para a própria história.
Qual o papel da filha Alzira no processo de decisões políticas de Getúlio? Pelo que você pesquisou para a biografia, inclusive centenas de cartas escritas por ela, há alguma chance de o suicídio ter sido articulado não individualmente, por Getúlio, mas em conjunto com outras pessoas?
Alzira tinha, de fato, um diálogo intenso, bastante frequente, toda uma articulação política, entre 1945 e 1950, para a volta do Getúlio ao cenário político. (O período se insere entre o fim da ditadura do Estado Novo e as eleições de 1950). Mas a surpresa foi geral. Ninguém esperava que ele terminasse daquela forma. Tanto que 10 dias antes, lá pelo dia 13, 14 de agosto (de 1954), um dos ajudantes de ordem encontrou um rascunho de uma carta de suicídio e a entregou para Alzira, que foi tomar satisfações como pai. Getúlio desconversou, tentou tranquilizá-la, dizendo que não era nada daquilo.
E o secretario do Getúlio, Maciel Filho, que datilografou a carta-testamento – Getúlio não sabia bater à máquina de datilografia-, nem ele entendia aquilo como uma carta de suicida. Ele afirmou, depois, quando foi cobrado, que achou que se tratasse de uma carta de resistência, não de suicídio. Se você ler a carta-testamento na perspectiva de alguém que está disposto a morrer com a arma na mão, ela tem esse sentido.
Para o Maciel, que redigiu* e datilografou, era o testemunho de um homem disposto a morrer lutando. A própria Alzira propôs a ele (Getúlio) a resistência, peitou o Zenóbio, ministro da Guerra, propondo que nao entregasse os pontos diante das adversidades. Ela conta nas anotações pessoais que estava armada, esperando que o Exército invadisse o Palácio do Catete. Mas Getúlio escolheu poupar os outros e disse, textualmente, que “Se algum sangue for derramado, será o de um homem cansado e enojado de tudo isso”.
Qual o principal legado getulista, hoje?
Algumas das questões suscitadas pelo Getúlio ainda são atualíssimas, ainda permanecem a nos desafiar e, portanto, ele continua a servir como referência. A discussão em torno do tamanho do Estado, se deve ser gestor, interventor na economia, ou se deve deixar para tal tarefa a mão invisível do mercado, na responsabilidade da condução econômica – como querem os liberais-, essa discussão permanece, está atual.
Para ver o legado de Getúlio, basta olhar para o lado. Ele permanece não só na questão da legislação trabalhista, toda a regulamentação desta relação entre capital e trabalho, mas no seu projeto de desenvolvimento, com a criação da Petrobras, do BNDES, do Banco do Nordeste, da Eletrobras. Agora, temos que ter como perspectiva – e foi com isso que me preocupei como biógrafo – a necessidade de fugir do maniqueísmo de tentar vê-lo só por um lado positivo, ou só negativo, do ditador, que perseguiu liberdades democráticas. Ele é fascinante, exatamente, por isso: porque ele é isso e é aquilo. Qualquer tentativa de analisá-lo por um único viés vai cair no pecado original daqueles que simplesmente o amam ou o odeiam. Como diz (o historiador) Boris Fausto, para o bem ou para o mal, ele foi o personagem mais importante da história brasileira.
* A versão da carta-testamento manuscrita por Vargas é mais curta que a oficial, datilografada. O texto adicional, que não altera o sentido desejado por Vargas, tem a autoria atribuída ao jornalista José Soares Maciel Filho, que redigia os discursos de Vargas.

Boaventura: a possível extinção do Estado de Israel - POR BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

8/3/2013: Jovem manifestante palestino foge dos guardas de fronteira israelense, durante confronto contra a expropriação de terras palestinas em Kafr Qaddum.
Fonte: Outras Palavras
Criá-lo foi ato desumano de colonialismo. Extinto, pode dar lugar a Estado plurinacional e secular, onde judeus e palestinos convivam pacífica e dignamente
Por Boaventura de Sousa Santos
Podem simples cidadãos de todo o mundo organizar-se para propor em todas as instâncias de jurisdição universal possíveis uma ação popular contra o Estado de Israel no sentido de ser declarada a sua extinção, enquanto Estado judaico, não apenas por ao longo da sua existência ter cometido reiteradamente crimes contra a humanidade, mas sobretudo por a sua própria constituição, enquanto Estado judaico, constituir um crime contra a humanidade? Podem. E como este tipo de crime não prescreve, estão a tempo de o fazer. Eis os argumentos e as soluções para restituir aos judeus e palestinianos e ao mundo em geral a dignidade que lhes foi roubada por um dos atos mais violentos do colonialismo europeu no século XX, secundado pelo imperialismo norte-americano e pela má consciência europeia desde o fim da segunda guerra mundial.
O termo sionismo designa o movimento que apoia o “regresso” dos judeus à sua suposta pátria de que também supostamente foram expulsos no século V AC. Há, no entanto, que distinguir entre sionismo judaico e sionismo cristão. O sionismo judaico tem origem no antissemitismo que desgraçadamente sempre perseguiu os judeus na Europa e que viria a culminar no holocausto nazi. O sonho de Theodor Herzl, judeu austríaco e grande poponente do sionismo, era a criação, não de um Estado judaico, mas de uma pátria segura para os judeus. O sionismo cristão, por sua vez, é antissemita, e a ideia de um Estado judaico deveu-se a políticos britânicos, sionistas e anglicanos devotos, como Lord Shaftesbury, que, acima de tudo, [1]desejavam ver o seu país livre dos judeus-enquanto-judeus. Eram tolerados os judeus cristianizados (como Benjamin Disraeli, que chegou a ser Primeiro Ministro), mas só esses. Esta tolerância estava de acordo com a profecia cristã de que é destino dos judeus converterem-se ao cristianismo. O mesmo sentimento se encontra hoje entre os evangélicos norte-americanos, que apoiam Israel como Estado judaico, bem como a sua desapiedada expansão colonialista contra os palestinianos, por acreditarem que a redenção total ocorrerá no fim dos tempos, com a conversão dos judeus na Parusia (o regresso de Jesus Cristo).
Terá sido Lord Shaftesbury quem, ainda no século XIX, formulou o pensamento “uma terra sem povo para um povo sem terra” que ajudaria mais tarde a justificar a criação do Estado de Israel na Palestina em 1948. E alguns anos mais tarde, foi outro sionista não judeu (Arthur James Balfour) quem propôs a criação de “uma pátria para os judeus” na Palestina, sem consultar os povos árabes que habitavam esse território há mais de mil anos.
“Os Grandes Poderes” (Áustria, Rússia, França, Inglaterra), lê-se no Memorandum Balfour de 11 de Agosto de 1919, “estão comprometidos com o Sionismo. E o Sionismo, correto ou incorreto, bom ou mau, tem as suas raízes em antiquíssimas tradições, em necessidades atuais e em esperanças futuras, que são bem mais importantes do que os desejos de 700.000 árabes que neste momento habitam aquele antigo território”. Urgia, pois, transformar esses árabes em um não-povo. Em 1948, com o beneplácito dos poderes ocidentais, especialmente da Inglaterra, foi criado o Estado de Israel numa Palestina povoada de árabes e 10% de judeus imigrantes.

Argumentava-se então que havia de se encontrar um espaço para o povo judeu, que ninguém queria receber depois do genocídio alemão. Muito antes dessa catástrofe, os sionistas judeus tinham já pensado em vários locais para[2] o seu futuro Estado. No final do século XIX, a região do Uganda, no que é hoje o Quénia, então colónia inglesa, foi ponderada como um possível local para o futuro Estado de Israel. Um espaço na Argentina chegou também a ser considerado. Mais tarde, auscultado sobre um local no norte de África (no que é hoje a Líbia), o rei da Itália, Victor Emmanuel, terá recusado, respondendo: “Ma è ancora casa di altri”. Mas nenhum europeu, por mais preocupado com a situação dos judeus, jamais pensou num lugar dentro da própria Europa. Havia que inventar-se “uma terra sem povo para um povo sem terra”. Mesmo que fosse necessário obliterar um povo. E assim se vem paulatinamente eliminando um povo da face da terra desde há sessenta e seis anos. A Cisjordânia palestiniana vem sendo desmantelada pelos colonatos ilegais e a Faixa de Gaza transformada em prisão a céu aberto. A extrema-direita israelita é apenas mais estridente do que o governo ao reclamar que os “árabes fedorentos de Gaza sejam lançados ao mar”. O que é espantoso, comenta o historiador judeu israelita, Ilan Pappé em The Ethnic Cleansing of Palestine (2006), é ver como os judeus, em 1948, há tão pouco tempo expulsos das suas casas, espoliados dos seus pertences e por fim exterminados, procederam sem pestanejar à destruição de aldeias palestinianas, com expulsão dos seus habitantes e massacre daqueles que se recusaram a sair. O controverso comentário de José Saramago de há alguns anos de que o espírito de Auschwitz se reproduz em Israel faz hoje mais do que nunca.
Assim foi sacrificada a Palestina, invocadas razões bíblicas e históricas, que a Bíblia não sanciona e a história viria a desmistificar. Muitos judeus, como os que constituem a Jewish Voice for Peace, não são sionistas e consideram que o Estado de Israel, nas condições em que foi criado (um território, um povo, uma língua, uma religião) é uma arcaica aberração [3] colonialista fundada no mito de uma “terra de Israel” e de um “povo judaico”, que a Bíblia nem sequer confirma. Como bem demonstra, entre outros, o historiador judeu israelita, Shlomo Sand, a Palestina como a “terra de Israel” é uma invenção recente (The Invention of the Land of Israel, 2012). Aliás, ainda segundo o mesmo autor, também o conceito de “povo judaico” é uma invenção recente (The Invention of the Jewish People, 2009).
A criação do Estado judaico de Israel configura um crime continuado cujos abismos mais desumanos se revelam nos dias de hoje. Declarada a sua extinção, os cidadãos do mundo propõem a criação na Palestina de um Estado secular, plurinacional e intercultural, onde judeus e palestinianos possam viver pacifica e dignamente. A dignidade do mundo está hoje hipotecada à dignidade da convivência entre palestinianos e judeus.